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Armindo Ribeiro Mendes

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Academic year: 2021

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Armindo Ribeiro Mendes Armindo Ribeiro Mendes Armindo Ribeiro Mendes Armindo Ribeiro Mendes

1.º O Relatório elaborado em Maio de 2005 por técnicos ligados ao GPLP sobre a avaliação de recursos em processo civil e em processo penal é um estudo muito valioso para a preparação de eventuais alterações legislativas na matéria, pelo que não posso deixar de endereçar as minhas felicitações aos responsáveis pelo GPLP, em especial à sua Ilustre directora Prof.ª Doutora Assunção Cristas, bem como aos seus Autores.

2.º Numa apreciação perfunctória das duas partes do Relatório, afigura-se que a respeitante ao processo civil é a mais completa, com maior riqueza de informação e debate aprofundado dos contributos da doutrina e da jurisprudência na interpretação e aplicação das normas do Código de Processo Civil, na versão da Reforma de 1995-1996 (Decretos – Leis nos 329-A/95, de 12 de Dezembro, e 180/96, de 25 de

Setembro), com as alterações subsequentes introduzidas pelos Decretos – Leis nos

375-A/99, de 20 de Setembro e 38/2003, de 8 de Março.

3.º De facto, e no que toca à parte do Relatório sobre recursos em processo penal, o desenvolvimento dado nele à evolução histórica não dá o devido destaque à evolução da jurisprudência constitucional sobre recursos em processo penal, sobretudo à jurisprudência numerosa e não consensual sobre a exigência do duplo grau de jurisdição em processo penal. Destaca-se o Acórdão de 1989 sobre o Processo designado como OTELO/FUP em que, pela primeira vez e já no domínio de vigência do CP Penal de 1987, foi julgado inconstitucional o art. 665.º do Código de Processo

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Penal de 1929. Na sequência deste Acórdão, começaram a ser analisados vários recursos de constitucionalidade em que se punha em causa a revista alargada do Código de 1987 (arts. 410.º e 433.º); embora não fossem julgados inconstitucionais essas normas, os votos de vencido punham em destaque a proximidade de soluções entre os diplomas de 1929 e de 1987 a falta de registo da prova nos processos que decorriam perante tribunal colectivo ou de júri. A publicação do Decreto-Lei n.º 39/95, de 15 de Fevereiro, sobre o registo de prova em processo civil pôs em causa a bondade de solução maioritária do Tribunal Constitucional, visto se ter chegado a um absurdo de conferir maiores garantias, em sede de duplo grau de jurisdição, aos processos civis por comparação com os processos penais.

A Reforma de 1998 do Código de Processo Penal levou em conta, nesta matéria e em outras (acesso aos autos em segredo de justiça, por exemplo), a evolução jurisprudencial do Tribunal Constitucional e a dialéctica interna entre maioria e minoria, reformulando o sistema e impondo sempre o recurso para o tribunal da Relação quando esteja em causa o recurso sobre matéria de facto (com a especialidade conhecida do recurso directo para o Supremo Tribunal de Justiça das decisões dos tribunais de júri).

Compreendendo que se tenha tido a preocupação de não sobrecarregar a descrição da evolução histórica em matéria de recursos em processo penal, creio que teria enriquecido o Relatório alguma atenção à influência da jurisprudência constitucional sobre as soluções acolhidas em 1998.

Trata-se, como é evidente, de um puro juízo pessoal.

4.º Especificamente e no que toca ao processo civil, o relatório contém numerosos dados estatísticos que confirmam as convicções baseadas em experiências pessoais de quem está habituado a lidar com a problemática de recursos.

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5.º Não obstante o Ministro da Justiça ANTÓNIO COSTA ter “inaugurado” a orientação de politica legislativa no sentido de que os recursos cíveis deveriam ser, após a acção executiva, uma área de intervenção prioritária do legislador na reforma do processo civil (orientação que se manteve nas preocupações dos Ministros CELESTE CARDONA e AGUIAR BRANCO), a verdade é que as conclusões do Relatório apontam para que se trata de uma área que não carece, à partida, de grandes alterações legislativas, devendo as que forem introduzidas revestir-se de carácter pontual.

De facto, a duração média dos recursos nas Relações e no Supremo é perfeitamente aceitável, colocando-nos numa posição privilegiada em termos europeus. Não obstante afirmações em contrário de altos responsáveis dos tribunais superiores, não se afigura que a distribuição, apesar das subidas em anos recentes, penalize de forma incomportável os Juízes dos Tribunais Superiores, dado o carácter repetitivo de muitas questões. A carga processual parece ser bastante maior em numerosos tribunais de 1.ª instância.

6.º Na opinião do signatário, os problemas dos recursos cíveis situam-se mais no plano de organização e funcionamento dos Tribunais superiores do que no plano da reforma legislativa.

De facto, a leitura de jurisprudência e o número das decisões tiradas consensualmente indicia que o funcionamento de colegialidade é, de um modo geral, deficiente. Afigura-se ao signatário que não se tiraram ainda as virtualidades plenas da possibilidade de discussão dos projectos de acórdão utilizando o correio electrónico e a ligação em rede dos Desembargadores e Conselheiros que formam as diferentes conferências.

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Tal problema não é susceptível de solução legislativa, por se tratar antes de um problema organizacional das Relações e do Supremo Tribunal de Justiça.

Por outro lado, há uma certa relutância em utilizar o mecanismo da decisão sumária, o qual visava diminuir o trabalho nos Tribunais Superiores, apesar do risco de reclamações para a conferência.

7.º Outro problema organizacional de certa gravidade é a aparente falta de coordenação interna nos Tribunal Superiores, ao nível das presidências de secção, permitindo a assinatura de acórdãos de sentido contrário sobre as mesmas questões, às vezes na mesma sessão.

Sobretudo no STJ, a existência de correntes jurisprudenciais divergentes não é, de um modo geral, combatida através do mecanismo de revista alargada, sendo raros, segundo crê o signatário – os casos em que os relatores suscitaram de motu proprio a necessidade de se recorrer ao disposto nos arts. 732.º-A e 732.º B do CPC.

8.º Na questão das alçadas, parece-me substancialmente correcta a orientação acolhida no relatório.

Deve incentivar-se a possibilidade de recurso das decisões de 1.ª instância, sobretudo quando, em processo civil, se generalizou o sistema de juiz singular, passando a ser a intervenção de tribunal colectivo verdadeiramente residual. Daí que a actualização do valor da alçada de 1.ª instância tenha que ser muito moderada (em especial, atendendo à existência do requisito de sucumbência).

No que toca à alçada dos tribunais da Relação, pode encarar-se uma ampliação mais acentuada desse valor, não sendo claro que não haja resistências na Assembleia da República para se lograr tal objectivo (bastará recordar o que sucedeu

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em 1998 quando foi discutida a proposta do Governo sobre a nova Lei de Organização e Fornecimentos dos Tribunais Judiciais).

Por outro lado, importa ponderar a concatenação dos valores das alçadas com as formas de processo e as competências dos tribunais especializados.

9.º As restrições no acesso ao Supremo nos recursos de revista terão de ser cuidadosamente ponderadas. A acolher-se o princípio da dupla conforme, seria razoável que se criasse, apesar de tudo, uma válvula de escape de carácter relativamente discricionário (por ex. um sistema de permissão de autorização para recorrer, com a última palavra no próprio STJ, baseado em conceitos relativamente indeterminados mas susceptíveis de uma densificação jurisprudencial consensual).

10.º Importa evitar a transposição acrítica para o processo civil das soluções do novo Código de Processo nos Tribunais Administrativos sobre o acesso a um terceiro grau de jurisdição. De facto na jurisdição administrativa permite-se agora, em termos cautelosos, o acesso a um “terceiro grau”, o que constitui um plus em relação à solução da anterior LPTA.

Já no processo civil, a existência de três graus de jurisdição remonta ao direito anterior à Constituição de 1822 e está fortemente arreigado na prática forense, pelo que a sua limitação drástica é susceptível de encontrar resistências nos meios forenses.

11.º Impõe-se adoptar medidas de racionalização que importem a melhoria do sistema e a sua maior eficácia. Exigir que a alegação conste do requerimento de interposição do recurso cível – ainda que com alargamento do prazo – parece ser altamente gravosa para a advocacia e sem reais vantagens para a celeridade da fase de recursos.

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Em contrapartida, uma utilização plena das virtualidades do art. 720.º CPC – à semelhança do que vem ocorrendo nos Tribunal Constitucional – parece altamente desejável para sancionar atitudes de incompreensível chicana.

12.º A sugestão feita a págs. 123 do Relatório sobre a “racionalização” do momento das alegações nos agravos retidos e que devam subir com a apelação não parece de acolher. De facto, a alegação imediata impõe ao Advogado do Agravante uma maior ponderação sobre a utilidade do agravo.

A prolixidade das alegações e conclusões – em recursos de apelação e, sobretudo, de agravo – é sintoma de uma deficiente preparação técnica de muitos advogados. Pode dar origem a arguições de nulidade por omissão de pronúncia. Todavia, parece que imposição de 1995/96 (Reforma do CPC) de que as alegações nos agravos retidos devam ser apresentadas imediatamente após a admissão devem ser mantida. É uma norma disciplinadora, fundada em boas razões de ordem pragmática.

13.º Não me parece que a taxa de insucesso dos recursos deva ser utilizada para condicionar o regime de admissão dos recursos. Terá de se encarar plenamente a regra de que quem decai no recurso terá de suportar as despesas de honorários do recorrido causadas pela interposição do recurso que não teve sucesso.

14.º No que toca às propostas de Comissão GALVÃO TELLES referidas na pág. 173 do Relatório, tenho as maiores dúvidas sobre a distinção de patamares de valores processuais, no domínio de revista e eventualmente do agravo em 2.ª instância de decisões finais (que hoje é um recurso residual) para aí introduzir o sistema de dupla conforme. O critério de patamares de valores é “cego” e permite sempre manipulações temerárias por parte da advocacia, sobretudo quando o recorrente

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litiga com apoio judiciário. Tais patamares são dificilmente compatíveis com o sistema de sucumbência, a meu ver.

15.º Manifesto o meu acordo às judiciosas considerações sobre a revitalização de recurso per saltum a pág. 176 a 177 do Relatório.

16.º Por último, seja-me permitido dizer que os grandes problemas do processo civil residem no processo em 1.ª instância, seja no processo declarativo (recorde-se a comunicação de J.M. JÚDICE e JOÃO CORREIA ao congresso dos Advogados, “Morra Alberto dos Reis”) seja na acção executiva.

A Reforma de 1995 sobre a fase de condensação acabou por sofrer a “contra reforma” de 1996 (além de base instrutória, os factos assentes têm de constar do despacho judicial). Importaria, por isso, repensar o modo de acelerar o processo declarativo, criando eventualmente tramitações alternativas no processo ordinário, à semelhança do que sucede ao processo sumário.

No que toca aos recursos, a diminuição das impugnações em matéria de facto está dependente da melhoria da decisão da primeira instância, havendo que monitorizar cuidadosamente o impacto de medidas de simplificação processual já tomadas recentemente (alargamento do âmbito do processo de injunção nos termos do Decreto-Lei n.º 32/2003, de 17 de Fevereiro) na diminuição da carga processual dos tribunais da 1.ª instância.

Referências

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