• Nenhum resultado encontrado

Entrevista com Paisagista

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Entrevista com Paisagista"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Ainda durante o curso de Agronomia, transformei um sonho em realidade: aprendi a “falar a linguagem” das plantas, flores e jardins. Isso aconteceu no estágio de três anos que fiz na antiga reflorestadora Banestado, quando eu atuava diretamente no viveiro de plantas que, na época, abastecia os parques e jardins públicos da cidade. Esse período foi maravilhoso e decisivo para a escolha da minha carreira, pois foi quando aprendi muito sobre flores, frutos e raízes.

Entrevista com Paisagista

Meu nome é Mauro Tessler. Sou curitibano, tenho 44 anos e sou engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Paraná.

Desde criança, sempre amei a natureza. Fui criado em meio a muitas árvores, numa casa com imensos jardins, e tive uma infância saudável e feliz. Não fui uma criança “de apartamento”, que fica trancada vendo televisão... E foi o tipo de vida que tive na infância que me levou à profissão que exerço hoje com muita satisfação.

Depois de concluir o curso, passei uma temporada em Israel, onde trabalhei com produção de flores, que eram vendidas para vários países europeus. E, a partir de então, nunca mais parei de trabalhar com plantas. Para ser um paisagista, é preciso gostar muito da natureza, da simplicidade e da informalidade e ter um grande respeito pelo meio ambiente e por tudo o que não é artificial.

(2)

Como foi ver seu primeiro arranjo em exposição?

Foi muito bom e emocionante, pois é uma forma de democratizar um trabalho. Muitas vezes, quando se faz um trabalho particular, na casa de alguém, só a família que mora lá o vê. Mas, quando ele é apresentado em uma exposição, todo mundo pode vê-lo, e é esse o objetivo.

Para fazer seus arranjos, você necessita de um lugar específico?

Não. Apesar de eu ter meu local de trabalho (onde tenho mais facilidades), posso trabalhar em qualquer lugar, basta que nele haja uma mesa.

Você oferece cursos para quem deseja aprender essa profissão?

Não, porque não tenho habilidade para dar aulas, mas posso indicar vários cursos, como os do Senac, de hortos municipais... Há também alguns cursos de jardinagem, paisagismo, florista, mas, por geralmente serem ofertados por pequenas iniciativas, eles são meio raros.

É possível saber o número de espécies de flores que existem?

Eu teria de pesquisar, mas deve haver mais de mil.

Nas decorações que você faz, quais são as plantas e flores mais utilizadas?

Palmeiras, ficos, gérberas, rosas, plantas tropicais e de nossa vegetação nativa, que é exuberante.

Você já fez arranjos florais para pessoas famosas?

O mais famoso trabalho que fiz foi para o imperador Akihito, do Japão, que esteve em Curitiba. Fizemos um arranjo com pinhão, representando o Paraná, e flores vermelhas e brancas, representando o Japão.

Em sua ficha técnica, você diz que aprendeu a falar a língua das plantas. O que quer dizer com isso?

Foi uma forma de falar; eu não converso com plantas nem pretendo fazer isso. Foi só uma maneira de dizer que gosto muito das plantas e da natureza.

As pessoas a quem você presta serviço têm preferência por determinados tipos de plantas e flores e indicam quais delas você deve usar ou é você quem decide isso?

Na maioria das vezes, sou eu quem decide. Mas as pessoas têm muito acesso a revistas, Internet, TV e, às vezes, acabam pedindo arranjos parecidos com os que vêem na novela, por exemplo.

Das paisagens que você já fez, qual gerou mais dinheiro para você e onde ela foi feita?

Não pelo dinheiro, mas o paisagismo que eu mais gostei de fazer foi na fábrica da empresa O Boticário (em São José dos Pinhais/PR), que demorou cerca de 4 anos para ficar pronto... O empresário Miguel Krigsner

(proprietário) tem uma visão muito especial: como há franquias da empresa no mundo inteiro, ele recebe muitos estrangeiros na fábrica, e muitos deles ficam impressionados com o jardim e comentam que não sabiam que existe paisagismo tão elaborado no Brasil. Aquele jardim vai estar lá por mais uns 50 anos, e isso é que é legal, a longevidade.

(3)

Que flores, por exemplo, as pessoas podem ter dentro de casa? Quais se adaptam melhor a esse tipo de ambiente?

Lírio-da-paz e aspidistra.

E as plantas carnívoras? Elas existem? Você já usou alguma delas em suas decorações?

Elas existem, sim, e são insetívoras, ou seja, comem insetos. Eu não costumo usá-las muito porque são pequenas. É por isso também que elas dificilmente são utilizadas em decoração.

Você acha que, para ser um paisagista, é preciso ter vocação?

Acredito que não. Qualquer pessoa pode se tornar paisagista, desde que tenha interesse e seja boa observadora. Por isso, acho que todo mundo tem um paisagista dentro de si.

Em sua profissão, o que mais deixa você realizado?

A satisfação do cliente e a beleza e longevidade de um trabalho saber que, depois que eu morrer, alguns dos jardins que fiz ainda vão estar lá, vivos.

Das muitas paisagens que você fez, qual lhe deixou muito satisfeito?

O trabalho feito na fábrica da empresa O Boticário.

Que tipo de paisagem você gostaria de fazer, mas ainda não conseguiu?

Paisagens tropicais de modo geral, pois, apesar de vivermos em um país tropical, eu moro em uma cidade fria e não consigo usar muitas espécies de clima tropical.

Que motivo especial o levou a escolher essa profissão?

O amor pela natureza.

O que você mais gosta em seu trabalho e do que não gosta?

O que mais gosto é deixar as pessoas felizes e satisfeitas. O que menos gosto é quando um trabalho não dá certo e resulta em reclamações.

Você sempre quis ser paisagista? Como você descobriu seu talento para essa atividade?

Quando era mais novo, não tinha idéia do que queria ser na vida. As coisas foram acontecendo naturalmente e, quando vi, já estava envolvido com essa profissão e percebi que o trabalho era prazeroso, não estressante. Lidar com flores e plantas nos aproxima da paz!

Quantas paisagens você já fez?

Aproximadamente cem.

Quais são os conhecimentos e habilidades que você usa na profissão?

Observação, estudo e informações da Psicologia, Química, Biologia, Agronomia, Bioquímica... é uma profissão multidisciplinar.

(4)

Como você consegue cuidar de todo o seu trabalho e o que mais chama sua atenção nessa atividade?

Para realizar bem meu trabalho, preciso estar sempre cercado de profissionais competentes. Sem a ajuda de pessoas capacitadas, a gente não faz nada.

O que mais chama a minha atenção nessa carreira é o eterno desafio: pensar sempre que o melhor trabalho vai ser o próximo. Além disso, não é repetitivo nem uma ciência exata; cada trabalho é diferente e um novo

desafio a ser vencido.

Há quanto tempo você está nessa profissão e o que ela significa para você?

Faz 25 anos. Para mim, ela é tudo! É a forma que tenho de me expressar.

É difícil decorar um jardim? Quanto tempo demora?

Não, é muito fácil. Pode demorar um dia, um mês ou vários anos, pois esse trabalho não tem começo, meio e fim.

Onde você busca inspiração para suas criações?

Em casa, nas ruas, nas revistas, em viagens... em minha eterna observação. A inspiração está a nossa frente!

Que cursos podem dar formação a quem pretende ser paisagista?

Agronomia, Engenharia Florestal, Arquitetura, Biologia... Essa é uma profissão multidisciplinar: só com

Agronomia, por exemplo, não se faz nada. Mas se pode fazer de início um curso como esse e, depois, mestrado ou doutorado em outros. Esses cursos são relativamente novos no Brasil, mas já existem há muito tempo na Europa.

Quando você desenvolve algum trabalho, desenha antes um projeto de como ele deve ficar?

Eu o desenho mentalmente e faço apenas um esboço dele no papel, pois sou um péssimo desenhista.

As crianças de hoje trocaram as atividades saudáveis em meio à natureza por passeios em shoppings. Isso preocupa você? Como reverter essa situação?

Claro, preocupa. Mas eu acho que hoje as crianças têm uma educação ambiental e uma consciência ecológica muito maiores do que antigamente, quando havia recursos naturais em abundância e ninguém se importava com preservação. Como hoje a natureza está extinguindo-se, as crianças sabem que no futuro vão faltar recursos como água e plantas; por isso, a consciência é muito maior.

O inverno é uma estação fria e na qual, em muitos lugares, ocorrem geadas fortes. Quais são as plantas ou flores mais resistentes a essa estação?

Azaléia, plátano, amor-perfeito, camélia e coníferas de modo geral.

Após todo o tempo em que você é paisagista, nunca sentiu vontade de trabalhar em outras áreas?

Não, jamais.

(5)

Durante o período em que esteve em Israel, você conheceu muitos paisagistas?

Não.

Você trabalha com plantas, flores e com o meio ambiente; portanto, deve estar muito triste com o que está acontecendo com a natureza. Fale um pouco sobre isso.

Apesar de estar triste, tenho visto que a toda ação corresponde uma reação e que tudo isso está gerando uma conscientização nas crianças que, daqui a 50, 100 anos, deve produzir resultados. Os adultos não vão mais mudar, mas as crianças podem modificar tudo isso. Esse é o lado positivo.

Como é o seu trabalho diariamente?

É saudável, bom, alegre. Eu trabalho com coisas boas, bonitas, com a alegria das pessoas e não com a tristeza. É um trabalho que enche o coração.

Você já fez uma linda decoração de fim de ano?

Sim. No réveillon deste ano, em uma festa no estilo tropical: com araras, peixes, outros animais e algumas plantas tropicais.

Referências

Documentos relacionados

I have the honour to state that, in accordance with arrangements between the Shell International Petroleum Company Limited (acting on its own behalf and also on behalf of

Com base nos fatores considerados durante a pesquisa, pôde-se observar que o grupo Algar (através da universidade corporativa – UniAlgar), em seus 20 anos de

Considerando a revisão bibliográfica levantada bem como os resultados obtidos com o trabalho de desenvolvimento do controle por gap na roller press da usina 3 na

Período Unidade de Ensino Professor aplicador Dia Horário Sala.. Filosofia do

Placas para exterior Glasroc H ou Aquaroc e acabamento com membrana elastomérica Placotherm Primer ou argamassa de regularização weber.therm base, segundo o tipo de placa

Por vezes, o localizador necessita de alterar não só o texto como também possíveis imagens ou a forma como estas são apresentadas, sendo o exemplo mais óbvio o caso de

Em 1981 esse grupo de enfermeiros elaborou um documento com atribuições do enfermeiro, oficializado pela direção da Secretaria (Porto Alegre, 1981) que definia aos chefes de

Extintores com carga de pó para extinção de incêndio ABC - indiretos Extintores com carga de espuma mecânica - pressurização direta e indireta Extintores com carga de água