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MBA EAD FINANÇAS Turma 1 RELATÓRIO TCC 2020

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto FUNDACE

Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia

MBA EAD FINANÇAS

Turma 1

RELATÓRIO TCC 2020

Nome do Aluno: Nilton da Silva Henrique

Título do Trabalho: Arrecadação como fator preponderante na adoção do BEPS: Uma pesquisa qualitativa sobre a percepção dos contribuintes em relação aos países não-signatários da América latina.

Área: 4. Artigo científico

Professor Orientador: Silvio Hiroshi Nakao

Resumo

Dentre os 20 países latino-americanos somente 8 são signatários do BEPS, os demais 12 ainda refutam e seguem como não-signatários deste pacote de 15 princípios promovidos pela OCDE que visa equidade tributária e combate a redução da base tributável do Imposto sobre Rendas por alteração artificial de seus lucros a partir de sua localização geográfica ou transferência de lucro para países com baixa tributação. Na América latina há uma relação entre o receio de perda de arrecadação de impostos pelos governos e a não assinatura do BEPS por estes 12 países não-signatários na percepção dos contribuintes. Esta foi a conclusão da pesquisa aplicada à contribuintes de 19 países de todo o mundo que validou a hipótese da relação entre o receio de perda de arrecadação de impostos pelos governos e a não assinatura, a arrecadação do imposto sobre rendas das companhias é um dos pilares arrecadadores mais influentes dos orçamentos governamentais destes países e isto é fator

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preponderante para a adoção deste pacote, fatores que o coloque em risco de redução será evitado pelos governantes.

1. Introdução

É inegável que arrecadação de imposto sobre rendas das companhias é um dos pilares arrecadadores mais influentes da base de sustentação dos orçamentos governamentais, os tributos sempre foram alicerce fundamental para as despesas governamentais dos países. A máxima das frases difundida do meio tributário e que ganhou notoriedade mundial ao ser proferida por Benjamin Franklin quando da conclusão da Constituição americana dizia: “Nada é mais certo na vida que a morte e os impostos” (Teixeira, 1979 apud Taylor, 1965) e este mantra vem se cumprindo vigorosamente dois séculos depois de discursada, é claro que existem outras convicções na vida, mas o fato que aqui se pretende chegar é que, sempre que possível, os governantes irão salvaguardar sua fonte de receita daquilo que a coloque em risco.

Assim como a proteção da arredação, existem companhias com planejamentos tributários agressivos, reduções dos impostos a pagar por movimentos legais como transferência de matriz para países onde a tributação sobre o seu resultado é substancialmente menor, ou mesmo lançar mão de instrumentos tributários como a Starbucks quando divulgou uma receita de GBP 400 milhões no Reino Unido em 2012, mas não recolhera tributos sobre a relevante renda auferida por anulação de suas bases tributáveis (Gouvêa; Pimentel, 2017).

Planejamentos agressivos como este foi justamente que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) buscou coibir ao introduzir o projeto de Erosão da Base Tributária e Transferência de Lucros (Base Erosion and Profit Shifiting - BEPS) por um conjunto de 15 ações. A implantação do projeto força as multinacionais a alterarem as práticas fiscais utilizadas concebendo um modelo tributário que garanta a geração de uma tributação proporcional à criação de valor econômico (Nunes; Halik; Prieto, 2017).

No entanto, diferente do que se esperaria a priori, o número de países signatários do BEPS ainda é reduzido, restringindo-nos a análise dos países latino-americanos contamos com apenas 8 países signatários dentre os 20 pertencentes à região conforme Figura 1:

Figura 1 - Países latino-americanos signatários e não signatários do BEPS.

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Fonte: adaptado de OCDE (2020), CEPAL (2020) e Wikipédia (2020)

Entretanto, a literatura não é clara quando se busca entender a razão de alguns países deixarem de adotar os princípios propostos, o porquê de ainda existirem países latino-americanos que refutam a adoção e assinatura dos princípios e ações propostas pela OCDE através do BEPS. As pesquisas acadêmicas correntes versam somente sobre a finalidade do projeto BEPS (Tax avoidance), entretanto esta lacuna acerca de quais fatores desestimulam estes não-signatários permanece inexplorada. Diante de tais considerações, parte-se da ideia de que o impacto da redução de arrecadação dos impostos sobre renda das companhias por estes países latino-americanos é o agente determinante da adoção ou não do projeto, todavia, sob a ótica unilateral dos contribuintes, sem a apreciação da tese por representantes dos governos.

Para endosso desta tese, uma pesquisa contou com a contribuição de respondentes de 19 países, latinos e não-latino-americanos, o objetivo foi verificar por meio de entrevista qual é a percepção dos contribuintes no que concerne a estes 12 países manescentes da América latina, como eles enxergam a postura de países não-signatários frente a países signatários é o que este trabalho propôs-se a explorar. O estudo se justifica ainda pelo fato de não haver meios de se obter uma resposta idônea e livre de vieses a partir dos órgãos de governos.

O grupo de contribuintes respondentes do questionário é compreendido por membros de corpos diretivos fiscais de empresas multinacionais sediadas em países da América latina, gerentes e sócios das quatro maiores empresas contábeis especializadas em auditoria e consultoria do mundo (Deloitte, EY, KPMG e PWC), profissionais do meio fisco-contábil, além de membros de grupos de debate especializados em tributação internacional. As faixas etárias variam entre 18 e 70 anos, com predominância de profissionais de idade entre 31 a 50 anos e média de 45 anos no geral.

Este trabalho contribui com a sociedade no sentido de levar aos grandes fóruns internacionais tributários esta discussão que, seguramente, estará nas mesas de debate dos próximos anos, não apenas pelo conteúdo emblemático que comporta mas também pela

SIGNATÁRIOS NÃO-SIGNATÁRIOS

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observação empírica trazida em sua mensagem, evidenciando a ambíguidade das corporações quando deixam de agregar renda aos países que lhe concedem melhores resultados contábeis-financeiros ao mesmo tempo que repelem o desenvolvimento econômico deste mesmo país ao deixar legalmente de recolher impostos.

Também contribuirá com as Câmaras de comércio uma vez imprimirá a visão dos contribuintes acerca do quão alinhado estão seus interesses aos países que comercializam, ou mesmo, ainda nesta celeuma, contribuir com debates sobre políticos e poderes públicos que sofrem pressão de grupos de interesse por influência política para manutenção de interesses privados, também conhecido como Lobby.

2. Referencial da pesquisa

2.1. Economias emergentes altamente dependentes da arrecadação tributária

Nos governos de países de economia desenvolvida ao redor do mundo existe uma baixa dependência dos tributos, no geral já atingiram uma alta maturidade econômica para que o financiamento de sua estrutura dependa mais do curso natural e benefícios da boa desenvoltura do seu Produto Interno Bruto – PIB que da opulência arrecadatória de impostos, em suma, o volumes de negócios gera naturalmente grandes fluxos de receita tributária. Já os mercados emergentes não, os contínuos baixos índices de crescimento do PIB forçam os governos a conceber modelos de sistemas tributários que arrecadem igual ou maior para que haja equilíbrio das contas públicas já que o modelo orgânico de [maior produção = maior arrecadação] está estagnado junto com seus PIBs. O estudo de Moore (2007) corrobora com essa idéia:

A dependência de uma ampla tributação dos cidadãos tem se tornado continuamente uma fonte de receita mais importante para a maioria dos estados nas últimas décadas e séculos. É agora a fonte de renda dominante para os governos, exceto para aqueles que desfrutam da exploração de recursos naturais. (Moore, 2007, p.14 tradução nossa).

Um estudo para a região da ALC - América latina e Caribe da McKinsey Instituto Global de análises de 2017 mostra que “em geral, nos países em desenvolvimento, a produtividade cresceu 3,9% ao ano e o PIB per capita 4,2% entre 2000 e 2015. Na América latina, os números equivalentes foram de apenas 0,6% e 1,6%” (Cadena et al., 2017).

Dependente cada vez mais de uma economia cada vez menos crescente, a submissão à arrecadação de impostos leva a uma hiper-proteção dos índices arrecadatórios. O Gráfico 1 traz a participação do imposto sobre rendas no PIB para 9 países dos quais tinham dados

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disponíveis para o período 1990-2016 sendo eles: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala, Honduras, Panamá, Peru e Uruguai.

Gráfico 1 - América latina: Estrutura e evolução do imposto de renda, 1990-2016

Fonte: OCDE et al. (2018) apud ECLAC/CIAT/IDB, 2018. 2.2. Práticas agressivas de planejamento tributário

Em contrapartida, as companhias - e neste caso quanto maior e mais capilar seus negócios internacionalmente - com maior intensidade buscarão pelo planejamento tributário eficiente. Esta prática elevou as demonstrações financeiras e também os profissionais tributaristas a um nível de eficácia cada vez maior, a redução dos impostos a pagar trouxe ao mercado uma agressividade de planejamento que colocou em alerta a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e a sociedade.

As estimativas mais prudentes indicam que as perdas relacionadas a práticas abusivas de planejamento tributário e à falta de uma maior integração de normas e sistemas tributários se traduzem em perdas globais de arrecadação de impostos corporativos entre 4% e 10%, ou seja, de 100 a 240 bilhões de dólares por ano aproximadamente (OECD, 2015).

Segundo Dyreng, Hanlon, & Maydew os mecanismos de planejamento abusivo possuem mais de uma vertente:

26% das empresas de capital aberto dos Estados Unidos, tiveram pagamento de imposto sobre renda igual ou inferior a 20% durante o período 1995-2004. Além disso, 9% foi capaz de manter a tributação inferior a 10%. Essa evidência sugere que há um subconjunto considerável de empresas que são capazes de evitar o imposto de renda corporativo por longos períodos de tempo. As empresas bem-sucedidas na evasão fiscal de longo prazo são verossímeis, embora não necessariamente, também empresas que são capazes de sustentar grandes diferenças entre a receita GAAP e a receita tributável. A evasão fiscal pode ocorrer de várias formas, incluindo a geração de créditos fiscais e transferência de receita para jurisdições de baixa tributação. (Dyreng; Hanlon; Maydew, 2008, pp. 61-82)

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2.3. O que é BEPS e seu conjunto de ações

Juntando ambos, as companhias que buscam estratégias que reduzam sua base de tributação aproveitando-se das “assimetrias das legislações domésticas e internacionais que criam oportunidades para planejamentos tributários” (Pinto, 2019) e usufruindo das lacunas contidas nas arbitragens dos tribunais de impostos de alguns países, e na outra ponta os governos que se utilizam da redução da taxa tributária para atrair multinacionais para seu desenvolvimento econômico e maior escalada do erário, tem-se o cenário ideal para a desarmonia tributária de mercado e transferência de bases de cálculo para países tributariamente mais atrativos.

Não obstante, os acordos bilaterais fomentam ainda mais a guerra contábil-tributária já que promovem benefícios dedutivos para alguns poucos países em detrimento a outros. Brauner diz que “o atual regime tributário internacional é construído a partir de uma grande rede de tratados tributários, em suas maiorias bilaterais, cerca de 3.000” (Brauner,2014 apud Avi-Yonah, 1999).

Apoiada nestas premissas a OCDE introduziu em 2013 o tratado tributário do BEPS por 15 ações divididas em 3 pilares principais, assim distribuídos: (i) Coerência, (ii) Substância e (iii) Transparência conforme disposto na tabela 1, sendo as ações 1 e 15 participantes simultâneas dos 3 pilares. De acordo com a pesquisa de Molina (2020), a discussão deste projeto culminou na elaboração de um instrumento multilateral assinado por 67 países (Molina, 2020) e na implementação de medidas contra más práticas tributárias, seja no âmbito doméstico, seja por meio de tratados bilaterais, para que os países signatários gozem de isonomia tributária e a adoção dos princípios propostos impeça que as multinacionais alterarem artificialmente seus lucros a partir de sua localização geográfica, por isso traz juízo de conceitos alinhados com a realidade globalizada como transações digitais e alinhados com a cooperação internacional entre economias.

Tabela 1 - Quinze ações propostas pelo BEPS

Coerência Substância Transparência

Reduzir as inconsistências jurídicas conceituais de tratamentos de operações negociais realizadas em âmbito internacional.

Alinhar o reconhecimento do lucro nas jurisdições onde se desenvolveram as funções e atividades de criação de valor, aperfeiçoando o princípio Arm´s Length.

Necessária a previsibilidade e certeza nas regras tributárias internacionais. Exemplos dessa política é a divulgação de informações adicionais para se evitar prejuízos aos fiscos. Ação 2 (instrumentos e

arranjos híbridos),

Ação 6 (Prevenir abusos de tratados), Ação 11 (Metodologia e análise de informações),

Ação 3 (Regras de CFC), Ação 7 (Evitar o status de estabelecimento permanente),

Ação 12 (Regras de disclosure),

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Ação 4 (Dedução de juros), Ação 8 (Regras de preço de transferência sobre ativos intangíveis),

Ação 13 (Documentos de preço de transferência) e

Ação 5 (Prática tributária prejudicial).

Ação 9 (Regras de preço de transferência sobre capital e risco) e

Ação 14 (Resolução de disputas).

Ação 10 (Regras de preço de transferência sobre transações de alto risco).

Ação 1 (Desafios fiscais da economia digital) e a

Ação 15 (Instrumento multilateral e tratados fiscais bilaterais)

Fonte: Autor.

2.4. Países latino-americanos signatários dos princípios BEPS

Dentre os 46 países alcançados pelo continente americano 20 destes abarcam o agrupamento dos chamados países latino-americanos, denominação esta originada “para designar os países e dependências da América que foram colonizados por países latinos, ou seja, Portugal, Espanha e França” (https://www.estudopratico.com.br/quantos-paises-fazem-parte-da-america-latina/, recuperado em 16 de junho, 2020). Dentre estes países latino americanos somente 8 selaram acordo com o pacote BEPS (OCDE, 2020), sendo estes signatários: Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Panamá, Peru e Uruguai, pacote este chamado em sua denominação original de MLI - Signatories and Parties to the Multilateral Convention To Implement Tax Treaty Related Measures to Prevent Base Erosion Profit Shifting.

Já os 12 países não-signatários, aqueles que refutaram e ainda refutam a adoção dos princípios BEPS é constituído por: Bolívia, Brasil, Cuba, El Salvador, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Paraguai, Republica Dominicana e Venezuela, perfazendo o total dos 20 países latino-americanos signatários e não-signatários.

Este trabalho propõe-se a explorar qual é a percepção dos contribuintes em relação aos países latino-americanos que refutaram e ainda refutam a adoção e assinatura dos princípios e ações propostas pela OCDE através do BEPS. Como eles enxergam a postura de países não-signatários frente aos países não-signatários e se está relacionado com a queda de arrecadação do imposto sobre rendas das companhias, qual a implicação desta relação.

3. Metodologia

Para validar a hipótese - relação entre o receio de perda de arrecadação de impostos pelos governos e a não assinatura pelos 12 países não-signatários da América latina - através de um questionário de entrevista inquiri os contribuintes a responderem 10 perguntas de resposta estruturada pela escala Likert de opinião, este método permite conhecer com maior exatidão o

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grau de conformidade do público-alvo a despeito de qualquer tipo de afirmação que seja proposta, obtendo respostas escalonadas por:

(i) concordo totalmente; (ii) concordo parcialmente; (iii)discordo parcialmente, e (iv) discordo totalmente.

A pesquisa foi conduzida entre os dias 06 de Julho e 05 de Agosto de 2020 no formato online através da plataforma Google docs e disponibilizado aos membros pertencentes à rede profissional Linkedin. Contou com a cooperação de contribuintes de 19 diferentes países, latinos e não latinos num total de 106 respondentes aptos/alinhados com o grau de conhecimento requerido.

Participaram os seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Canada, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Estados Unidos da América, Guatemala, Holanda, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, Peru, Singapura, Uruguai e Venezuela conforme Figura 2.

Figura 2 - Países de domicílio profissional aos quais pertencem os respondentes

Fonte: autor.

Dentre os respondentes, 72% são do sexo masculino e 28% do sexo feminino de acordo com a Tabela 2. Os brasileiros foram o que mais contribuíram com a pesquisa com 50% dos respondentes, seguido pelo México (9%) e Uruguai (8%).

Com idade média de 45 anos de idade a faixa etária dos respondentes cobriu desde os mais jovens com idades a partir de 18 anos até aqueles acima de 61 anos com predominância de profissionais entre 31 e 50 anos conforme demonstra a mesma Tabela 2:

Tabela 2 - Faixa etária dos contribuintes respondentes da pesquisa

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Idades Homem Mulher Total Proporção Entre 18 e 30 anos 8 4 12 11% Entre 31 e 40 anos 30 12 42 40% Entre 41 e 50 anos 29 13 42 40% Entre 51 e 60 anos 8 1 9 8% Acima de 61 anos 1 0 1 1% 76 30 106 100%

A capacidade técnica para endosso da relevância nas respostas é consubstanciada pelas profissões dos contribuintes respondentes, composta por diretores tributários de empresas multinacionais sediadas em países da América latina, membros de corpos diretivos fiscais, gerentes fiscais, especialistas tributários, contadores, assessores tributários, sócios das quatro maiores empresas contábeis especializadas em auditoria e consultoria do mundo (Deloitte, EY, KPMG e PWC), profissionais do meio fisco-contábil, além de membros de grupos de debate especializados em tributação internacional, alguns deles sendo: Transfer pricing expert, Tributación, International fiscal Association, e Planejamento tributário, “o que denota um resultado de qualidade e livre de qualquer influência frente aos milhões de internautas que utilizam a rede tornando-os respondentes em potencial” (Henrique, 2012). Este alto nível técnico possibilitou legitimar a conclusão de que o Imposto de renda determina a adoção do BEPS nos países não-signatários da América latina.

4. Resultados e Conclusão

O estudo conclui que, na percepção dos contribuintes, há uma forte relação entre o receio de perda de arrecadação de impostos pelos governos e a não assinatura do projeto BEPS por estes 12 países não-signatários da América latina, esta percepção está na resposta de 68% dos respondentes distribuído conforme Figura 3.

No que diz respeito aos 12 países discordes aos princípios BEPS, há uma expressiva concordância dos respondentes em relação aos impactos econômicos negativos que a adoção das 15 ações BEPS levariam aos cofres públicos, o resultado da pesquisa mostra que a percepção sobre estes governos é de que eles tendecionam a um pujante interesse de proteção da arrecadação. Quando interpelados sobre perda de arrecadação 68% concordam (48,1% parcialmente e 19,8% totalmente) com a afirmação de que a perda de arrecadação pelos governos a médio e longo prazo pode justificar a não assinatura por estes 12 países.

Figura 3 - Percepção sobre a perda de arrecadação

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Fonte: Autor.

Ainda que esse fato fosse superado e os países decidissem adotar o BEPS, eles estão fortemente dependentes de políticas internas onde a burocracia e a falta de velocidade na adoção de medidas legais para as adequações aos princípios BEPS os mantém fora do grupo dos signatários. 74% concordam com a afirmação: A burocracia e a falta de velocidade na adoção de políticas internas para as adequações aos princípios BEPS pode justificar a não assinatura por estes 12 países da América latina.

Figura 4 - Percepção sobre a burocracia e falta de velocidade na adoção de políticas internas

Fonte: Autor.

Tal qual em relação a vulnerabilidade legal, foram enfáticos quando afirmado: A insegurança jurídica trazida pela sobreposição dos princípios BEPS sobre as atuais regras locais pode justificar a não assinatura pelos 12 países restantes da América latina? Nada menos que 75% corroboraram com esta afirmação

Figura 5 - Percepção sobre a insegurança jurídica

Fonte: Autor.

Três questões não produziram consenso levando a um quase equilíbrio entre concordantes e discordantes. No tocante a: (i) fuga de empresas multinacionais para outros países “mais liberais” como um motivador para não assinarem; (ii) o alto nível de vigilância e fiscalização por parte da OCDE e de outros países; e (iii) Não pertencer a um grupo homogêneo de políticas tributárias internacionais é uma vantagem competitiva na região. O que mostra que o contribuinte - se tomador da decisão - não teria receio de seguir com os princípios indicados pelo BEPS e que a estes países se buscam negócios e não redução tributária por meio de elisão conforme denota a Figura 6:

Figura 6 - Percepção sobre comportamento do contribuinte Concordo parcialmente 48% Concordo totalmente 20% Discordo parcialmente 19% Discordo totalmente 13% [CATEGORY NAME] [PERCENTAGE] [CATEGORY NAME] [PERCENTAGE] Discordo parcialmente 19% Discordo totalmente 7% Concordo parcialmente 43% Concordo totalmente 32% Discordo parcialmente 16% Discordo totalmente 9% 10

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CONCORDO DISCORDO

Afirmação parcialmente Concordo totalmente Total Concordo parcialmente Discordo totalmente Total Discordo

Afirmação: A fuga de multinacionais para outros países "mais liberais" pode justificar a não assinatura pelos 12

países restantes da América latina. 28% 25% 54% 30% 17% 46%

Afirmação: O alto nível de vigilância e fiscalização por parte da OCDE e de outros países pode justificar a não

assinatura pelos 12 países restantes da América latina. 32% 15% 47% 31% 22% 53% Não pertencer a um grupo homogêneo de políticas

tributárias internacionais é uma vantagem competitiva na região e isso pode justificar a não assinatura pelos 12 países restantes da América latina.

31% 18% 49% 31% 20% 51%

Fonte: Autor.

No tocante à inserção de novas companhias multinacionais na América latina, 7 em cada 10 contribuintes (72,6%) concordaram com a afirmação e que a ação BEPS 3 (criar regras exclusivas para às multinacionais estrangeiras) dificultaria ainda mais a já complexa introdução de novas empresas nestes países emergentes, e que poderia justificar a não assinatura pelos 12 países não signatários latino-americanos.

Nesta mesma perspectiva, para 69% dos respondentes, as ações BEPS 8 a 10 (regras para transfer princing) representam um forte agente desestimulador para os governos não signatários da América latina, no ponto de vista dos contribuintes prejudicariam a arrecadação federal de impostos, uma vez que "não seguir" o padrão OCDE de calculo poderia ser intencional pelos governos de alguns destes 12 países.

Sobre a afirmação: A ação BEPS 12 (comunicação prévia sobre planejamentos tributários) fere a liberdade das corporações em buscar aumento de rentabilidade pela redução de custos por impostos pode justificar a não assinatura pelos 12 países restantes da América latina? Para 69% dos contribuintes/respondentes a resposta foi sim sendo 1/3 concordando totalmente com a afirmação: 30,2% concordam totalmente, 38,7% concordam parcialmente, 9,4% discordam totalmente e 21,7% discordam parcialmente.

4.1. Limitações do estudo

Um disclosure como importante ressalva precisa ser disposto a este trabalho, é cógnito que não cabe aos contribuintes e os mesmos também não possuem influência sobre a decisão de seus governos, estes são soberanos e por tal deliberam as políticas – tributárias e congêneres – da forma que melhor atendem aos seus anseios e conveniências. O que este trabalho se propôs a descortinar foi a percepção do ponto de vista conjectural como proposto por Hermann v.Helmholtz onde “não podemos reconhecer a opinião realista como sendo mais

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do que uma hipótese eminentemente funcional. Não nos é permitido atribuir uma verdade necessária a ela, uma vez que são possíveis hipóteses idealistas não refutáveis” (Von Helmholtz, 1977, tradução nossa).

Segundo, em virtude da especificidade do tema e da sobrepuja territorial que a questão supera há uma natural inacessibilidade a novos respondentes, muitos profissionais da área que poderiam responder são especialistas em partes limitadas da estrutura tributária de seus países, portanto não estão inseridos nas questões ligadas a tributação internacional, e conseguinte, reduzindo a potencialidade de alcance da pesquisa. Contudo, isto não implicou um menor valor ao trabalho frente a pluralidade de nações que ele logrou.

4.2. Conclusões

A pesquisa acadêmica concluiu que há uma hesitação dos governos na adoção dos princípios BEPS, os contribuintes percebem, mesmo que sem mecanismos de ratificação, que dentre os emergentes o imposto sobre rendas das companhias é um dos pilares arrecadadores mais influentes da base de sustentação dos orçamentos nacionais, por conseguinte, qualquer ação ou política internacional que o afete será indubitavelmente olhado com receio pelos governos devido a sua natureza de trazer riscos ao erário e aos volumes arrecadatórios, estas entidades tem nos impostos a origem das receitas e dado que instituições publicas quanto instrumentos de poder público não possuem essência de produção de renda, eles sempre irão empenhar-se em protegê-lo ou refutar medidas que venham a ser discutidas em reformas tributárias propostas. Além disso, concordam que para fins de nivelamento e justiça tributária o BEPS seria mais eficiente se adotado por todos ou maioria dos países, e sobretudo, que os não-signatários gozam de vantangens que aos signatários não é dada, e essa dualidade poderia ser dissipada se os que refutam tais princípios se esforçassem para fazer parte do projeto.

O projeto BEPS quando olhado para a América latina, na percepção dos contribuintes, influi justamente este risco ao aludir em seus princípios temas como a criação de regras para alinhamento/submissão das maiores pagadoras de IRPJ que são as empresas multinacionais (ação 3), regular métodos de calculo do Transfer Price (ação 10 a 12) ou mesmo sobrepor tratados bilaterais já celebrados por novos acordos multilaterais (ação 15).

Os países latino-americanos não signatários dos princípios BEPS são conhecidamente subdesenvolvidos e a pesquisa demonstrou que isso estimula a aplicação arbitrária das regras locais para aumentar a arrecadação, a não-assinatura permite uma abordagem fiscal mais arbitrária e autoritária por parte das autoridades locais, especialmente em níveis de déficits fiscais enfrentados. Os países envolvidos apresentam diferentes níveis de desenvolvimento e

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alguns acordos bilaterais existentes hoje são fundamentais para manter o equilíbrio econômico.

Para finalizar, ainda que haja um desejo tácito destes 12 países de serem signatários, levar-se-iam anos para aprovar uma reforma tributária que deveria ocorrer por meio de alterações legislativas precedidas de amplo debate com o setor privado visando a segurança jurídica e a competitividade das empresas no contexto global, sem reduzir a arrecadação tributária. Na mesma medida, suplantar os lobbys promovidos pelos grupos de interesse que pressionam o poder público e os políticos para que tenham seus interesses privados mantidos, mesmo que em contraposição aos que deseja a sociedade e das boas práticas internacionais de compliance.

Para estudos futuros sugere-se investigar a evolução econômico-financeira e o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH dos países signatários frente aos não signatários, como a curva de crescimento se comportou a partir do ano em que países optaram por ser signatários dos princípios BEPS se relacionados ao Produto Interno Bruto – PIB? Bem como os seus níveis de arrecadação do imposto sobre rendas das companhias, tal qual o cálculo do tempo de aplicação de reformas tributárias.

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Referências

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