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A PRESENÇA DE PROFESSORAS NO ENSINO PROFISSIONAL PRIMÁRIO EM NATAL/RN ( )

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A PRESENÇA DE PROFESSORAS NO ENSINO PROFISSIONAL PRIMÁRIO EM NATAL/RN (1909-1942)

Luisa de Marilac de Castro Silva Maria Arisnete Câmara de Morais

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Resumo

O presente trabalho trata das professoras que atuaram no curso primário da Escola de Aprendizes Artífices (1909-1937) e no Liceu Industrial (1937-1942) em Natal/RN. O objetivo é investigar a presença dessas professoras no exercício da docência. Para tanto, realizamos a coleta de dados em documentos encontrados no arquivo da instituição (hoje IFRN), no jornal A República e nas Leis e Decretos federais. Utilizando-nos do método indiciário, buscamos indícios da ocupação dos espaços por essas professoras, diante de um quadro docente predominantemente masculino e uma clientela formada exclusivamente por meninos. Os dados foram analisados à luz da História Cultural – que norteia sua atenção para a história de homens e de mulheres comuns, preocupando-se com suas práticas culturais e experiências de vida. A pesquisa realizada até o momento evidencia que a presença das professoras contribuiu para o fortalecimento da instituição que viria a ser referência na educação profissional do estado potiguar.

PALAVRAS-CHAVE: presença de professoras, história cultural, educação profissional.

Os primórdios do ensino profissional primário

O ensino profissional primário foi instituído pelo Presidente da República, Nilo Peçanha, através do Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, que criou em 19 capitais brasileiras as Escolas de Aprendizes Artífices. Essas Escolas, vinculadas ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, tinham como objetivo primeiro o reordenamento social, tornado urgente diante da urbanização acelerada, especialmente nas grandes cidades. De acordo com o Decreto, as Escolas de Aprendizes Artífices deveriam preparar seus alunos técnica e intelectualmente, contribuindo para que adquirissem hábitos de trabalho que os afastasse do ócio, do vício e da criminalidade (BRASIL, 1909).

As 19 Escolas, cujas datas de inauguração vão de 1º de janeiro a 1º de setembro de 1910, tinham por finalidade a formação de operários e contramestres,

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mediante ensino prático e conhecimentos técnicos, em oficinas de trabalho manual ou mecânico, buscando atender às necessidades do estado onde a escola estava localizada, privilegiando, quando possível, as especialidades das indústrias locais.

Outras instituições1 de ensino profissional antecederam e até inspiraram2 a criação as Escolas de Aprendizes Artífices visto que, mesmo diferindo em diversos aspectos3, tinham como guia a formação da força de trabalho industrial em termos técnicos e ideológicos (CUNHA, 2005).

Devem-se considerar ainda, entre os antecedentes das Escolas de Aprendizes Artífices, as recomendações do Congresso de Instrução, realizado no Rio de Janeiro em dezembro de 1906 e que foram encaminhadas ao Congresso Nacional na forma de anteprojeto de lei (SOARES, 1981).

Conforme afirmação de Cunha (2005, p.65)

O anteprojeto do Congresso de Instrução foi esquecido nos arquivos da Câmara dos Deputados, mas, três anos depois do evento, foi baixado o decreto presidencial que criava as escolas de aprendizes artífices que, sem a amplitude daquela proposta, convergia com ela em diversos pontos.

Porém, observa-se que não houve um critério explícito de localização das Escolas em razão da produção, antes, vê-se um critério implícito, de caráter político. Cada estado4 da federação recebeu uma dessas escolas, sempre na capital5, independente de ser ela a cidade mais populosa, de sua taxa de urbanização ou da intensidade de sua produção manufatureira (CUNHA, 2005).

As Escolas de Aprendizes Artífices eram associadas pela população aos “asilos para crianças desamparadas” ou às “casas de correção para menores”, provavelmente porque se destinava a atender aos “desvalidos da fortuna” e também porque nos primeiros tempos de funcionamento dessas Escolas, foram instaladas em dependências policiais e até mesmo em casas de detenção nos diversos Estados (MELO; KULESZA, 2011).

Em Natal, a Escola de Aprendizes Artífices foi Instalada em janeiro de 1910 no antigo edifício do Hospital da Caridade Jovino Barreto, situado à Rua Presidente

1

Instituto Profissional Masculino (DF), Escolas profissionais para o ensino de ofícios manufatureiros (Campos, Petrópolis e Niterói), Escola profissional para o ensino agrícola (Paraíba do Sul e Resende). 2 A inspiração de Nilo Peçanha no Liceu de Artes e Ofícios Santa Rosa é admitida por Vianna (1970, p.87). 3 Regime de internato ou externato, idade de ingresso, rigidez da disciplina, currículo, etc.

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Exceto o Rio Grande do Sul, onde já funcionava o Instituto Técnico Profissional da Escola de Engenharia de Porto Alegre, cuja natureza era a mesma das Escolas de Aprendizes Artífices.

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Passos no bairro Cidade Alta. Em 1914, a instituição transfere-se para o edifício n.º 743 da Avenida Rio Branco (anteriormente ocupado pelo Quartel da Polícia Militar). A Escola funcionou neste local durante 53 anos. Entre os anos de 1936 e 1937, porém, o prédio foi transformado em presídio de guerra para os revoltosos da Intentona Comunista de 1935. Por um ano foram abrigados ali 50 presos políticos, enquanto as aulas aconteciam “normalmente”.

Apesar da insuficiência de produção acadêmica que confirme o estigma de “asilo” ou “casa de correção” em nosso Estado, mas visto que a Escola funcionou por muito tempo em locais reformados e adaptados para este fim, acreditamos que se tratava de uma realidade semelhante às demais Escolas de Aprendizes Artífices do restante do país.

Desde a sua criação essas Escolas buscaram acompanhar o movimento socioeconômico do Estado brasileiro. No contexto do modelo agroexportador e por ser considerado de caráter terminal, o ensino profissional permaneceu em uma situação de isolamento em relação aos outros níveis de ensino até o final dos anos 1920.

Com a mudança do modelo de desenvolvimento, que passou a ser pautado pela industrialização a partir dos anos 1930, o grupo político que chegou ao poder no Brasil defendia um ensino profissional de caráter não assistencialista ou para a disciplinarização dos ociosos, porém voltado para a formação de mão-de-obra qualificada para a indústria. No ano de 1937, o texto constitucional mencionou pela primeira vez o ensino profissional, embora permanecesse sua destinação às classes menos favorecidas. O Estado atendia assim a um determinado projeto social dirigido a uma sociedade que tomava contorno urbano industrial. Neste mesmo ano foi implementada a Reforma Capanema que, entre outras inovações, alterou a denominação das Escolas de Aprendizes Artífices, que passaram a ser conhecidas como Liceus Industriais (GURGEL, 2007).

A Escola de Aprendizes Artífices se propunha a formar operários e contra mestres ministrando o ensino prático (em oficinas) durante o dia e o curso primário à noite, para os que não sabiam ler, escrever e contar.

A presença de professoras no ensino profissional primário

Quando decidimos pesquisar sobre as professoras que atuaram no ensino primário profissional no Rio Grande do Norte o recorte temporal já se impusera:

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partiríamos do ano de 1909, quando foi criada a Escola de Aprendizes Artífices. Restava-nos decidir quanto ao período a ser abrangido pela pesquisa. Assim, decidimos estender nossos estudos até 1942, visto que através do Decreto-lei nº 4.073, de 30 de janeiro de 1942, o ensino profissional sofreu mudanças significativas dentre as quais, a transição ocorrida do ensino primário para a implantação do nível secundário.

Para lecionar no ensino primário da Escola de Aprendizes Artífices (1909-1937) e do Liceu Industrial (1937-1942), de acordo com o registro no livro de assentamentos de pessoal da instituição, foi contratado um grupo de nove professoras.

Os documentos não deixam claros os critérios para contratação dessas professoras. O Decreto de criação das Escolas só menciona que o curso primário ficará a cargo do diretor, sem qualquer menção quanto aos requisitos exigidos para a nomeação das professoras.

Todavia, sabe-se que para o exercício da docência, de acordo com Portaria do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, com data de 1910, o requisito é que a professora fosse normalista.

A primeira professora a ser contratada foi Maria do Carmo Torres Navarro. Ela foi nomeada em 24 de dezembro de 1909 e entrou em exercício no dia 15 de janeiro de 1910. A professora tinha 21 anos na data de sua nomeação e era solteira.

Somente após dois anos da posse da primeira professora, em 1912, foi nomeada Maria Abigail Furtado de Mendonça, aos 18 anos, solteira, como adjunta de professora.

As contratações prosseguem no espaço de tempo que insere a Escola de Aprendizes Artífices e o Liceu Industrial. A professora Celina Torres Navarro, solteira, foi nomeada para o cargo de Adjunta de Professora no dia 25 de maio de 1923. Três anos depois é nomeada para o cargo de Adjunta de Professora, no dia 26 de junho de 1926, a professora Maria do Carmo Cavalcanti, solteira, 22 anos.

Na década seguinte foram contratadas quatro professoras: Maria Rosa Ribas Marinho, solteira foi nomeada no dia 24 de abril de 1933. Angelita Marinho, 24 anos, em 1934 foi nomeada como Adjunta (posteriormente ela se firmou como professora de Geografia e História do Brasil). Ruth Marinho Souto, viúva, 34 anos, foi nomeada como Adjunta no dia 09 de fevereiro de 1935 (posteriormente tornou-se professora de Português). Maria de Lourdes Torres, solteira, foi nomeada em 1º de abril de 1936 para o cargo de adjunta.

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A última contratação registrada no Livro de Assentamento de Pessoal, dentro do recorte temporal proposto no presente trabalho é a de Djanira Dalva de Farias em 1940.

Considerações aproximativas

Diante de um quadro docente predominantemente masculino e uma clientela formada exclusivamente por meninos, utilizamo-nos do método indiciário, buscando indícios da ocupação dos espaços por essas professoras,.

A análise dos dados – coletados em documentos institucionais, Leis, Decretos, etc. – foram analisados à luz da História Cultural, referencial que norteia sua atenção para a história de pessoas comuns, preocupando-se com suas práticas culturais e experiências de vida (CHARTIER, 1990).

Até o momento, a pesquisa empreendida evidencia que a presença das professoras no curso primário da Escola de Aprendizes Artífices e do Liceu Industrial, contribuiu para o fortalecimento da instituição que viria a ser referência na educação profissional do Rio Grande do Norte.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Leis, Decretos. Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909. Disponível em

http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf. Acesso em 28 de outubro de 2010.

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.

CUNHA, Luiz Antonio. O ensino de ofícios nos primórdios da industrialização. 2 ed. São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: FLACSO, 2005. Disponível em

http://books.google.com.br/books?id=x_HbCi9HPQcC&pg=PA63&hl=pt-BR&source=gbs_toc_r&cad=4#v=onepage&q&f=false. Acesso em 29/03/2013.

GURGEL, Rita Diana de Freitas. A trajetória da Escola de Aprendizes Artífices de

Natal: República, trabalho e educação (1909-1942). 230 p. Tese (Doutorado em

Educação) – Departamento de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007.

MELO, Inayara Elida Aquino de. KULESZA, Wojciech Andrzej. Os aprendizes e os

ofícios: reflexos do mundo do trabalho na educação profissional. Disponível em

www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/individuais-coautorais/eixo02/Wojciech%20Andrzej%20Kulesza%20%20Inayara%20Elida% 20Aquino%20de%Melo%20-%20Te.pdf. Acesso em 06 de novembro de 2011.

SOARES, Manoel de Jesus. As Escolas de Aprendizes Artífices e suas fontes inspiradoras. Fórum Educacional. Rio de Janeiro, v.5, n.4, p. 69-77. Out/dez, 1981.

Referências

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