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UM CORDEL A PARTIR DE ILUSTRAÇÕES: FRANKLIN MAXADO E O FOLHETO É PIADA PROIBIR CONTAR OU FAZER TAIS ANEDOTAS

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Academic year: 2021

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UM CORDEL A PARTIR DE ILUSTRAÇÕES: FRANKLIN

MAXADO E O FOLHETO É PIADA PROIBIR CONTAR OU FAZER

TAIS ANEDOTAS

Érica Azevedo Santos

UEFS, DLA

erica.azevedo@yahoo.com.br

Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz

UEFS, DLA rcrqueiroz@uol.com.br

Resumo

Franklin Maxado é um artista que se apropria dos mais diversos acontecimentos da sociedade e das criações artísticas para produzir seus folhetos. O cordelista registra em sua arte as manifestações culturais de seu tempo. No folheto É piada proibir contar ou fazer tais anedotas (2011) o autor, a partir das questões “do politicamente correto” em ampla discussão na sociedade brasileira e da ilustração de Willian Hussar, não somente ironiza a imposição do politicamente correto como leva o leitor a refletir sobre temáticas relacionadas ao fato, como o preconceito e a livre criação artística, por exemplo. Objetiva-se neste trabalho analisar o processo de escritura do referido folheto a partir da ilustração de Hussar, bem como de outras referências observadas no estudo de seus manuscritos.

Palavras-chave: cordel, ilustração, piada, Franklin Maxado.

Resumen

Franklin Maxado es un artista que se apropia de los diversos acontecimentos de la sociedade y de las creaciones artísticas para producir sus folletos. El cordelista registra en su arte las manifestaciones culturales de su tempo. En el folleto “É piada proibir contar ou fazer tais anedotas (2011)” el autor, a partir de los temas del “politicamente correcto”, en amplia discussión en la sociedade brasileña y de la ilustración de William Hussar, no sólo ironiza la imposición del politicamente correcto, como lleva el lector a reflexionar sobre cuestiones relativas a el hecho, como prejuicio y la creación artística libre, por ejemplo. El objetivo de este estudio es analisar el proceso de escritura del folleto referido a partir de la ilustración de Hussar, asi como de otras referencias observadas en el estudio de los manuscritos del autor.

Palabras llave: folleto, ilustración, chiste, Franklin Maxado.

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1 Introdução

“Franklin Machado é um ator-camaleão da cultura brasileira. Múltiplo em suas artes e apartes no cotidiano da nação [...]” (SEIXAS, 2005, p.231).

Franklin de Cerqueira Machado veio ao mundo em 15 de março de 1945 em Feira Santana, Bahia, cidade em que viveu toda a sua infância. Ainda em sua menor idade, em 1960, o jovem Franklin viaja para o Rio de Janeiro, mas sua estadia na cidade maravilhosa não dura muito e ele retorna no ano seguinte à sua cidade natal. Nessa mesma década, começou seus estudos universitários. Cursou Direito na Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e Jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 1966, já bacharel em Direito e jornalista, retorna para Feira de Santana. Esse mesmo ano marcou o início de sua carreira como escritor, visto que publicou seu primeiro livro: Álbum de Feira de Santana. No ano seguinte Franklin Machado começa a trabalhar no “Jornal da Bahia”, precisamente na primeira sucursal de um jornal no interior do estado.

Ainda na década de sessenta do século XX, Franklin Machado se junta a outros artistas e intelectuais de Feira de Santana para agitar a vida cultural da cidade. Assim, o artista começa a se destacar também pelas apresentações teatrais, em que não somente encenava, mas também escrevia. Poeta, professor, advogado, jornalista, ator, Franklin Machado defendia os aspectos culturais da cidade. Em 1971 apresentou o espetáculo músico-teatral “Terra de Lucas”, como uma maneira de se despedir de sua cidade, pois havia decidido partir para São Paulo. Nesta cidade, trabalhou nos jornais “Folha de S. Paulo”, “Diário do Grande ABC”, “Diário Popular” e na Sucursal de “A Tribuna”, de Santos.

Na capital paulista o escritor também se dedicou às questões artísticas, participando de apresentações e recitais, conheceu inúmeros outros artistas em início de carreira, como, por exemplo, Torquato Neto, Belchior, Gilberto Gil, Caetano Veloso. Mas foi em seu estado de origem que encontrou um artista, o poeta Rodolfo Cavalcante, que, segundo o próprio autor, foi quem o fez ver a possibilidade de se tornar um poeta de cordel. Então, Franklin Machado começou a dedicar-se ao cordel e passou a assinar sua obra como Maxado Nordestino ou Franklin Maxado. Devido à sua atuação em diversos aspectos da vida cultural, a obra de Maxado é vasta, uma

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vez que, além de suas centenas de folhetos, publicou também poemas (eruditos) e textos teóricos sobre cordel.

Maxado escreveu folhetos sobre os mais distintos temas, produzindo inúmeros títulos que versam, entre outras coisas, sobre questões históricas, amorosas, políticas, religiosas, artísticas como, por exemplo, A diferente peleija do criolo doido com

Coronel Ludujero (1976), A bela história de Jaci, a prostituta virgem e santa (1978), Testamento de Judas pela Semana Santa (1980), Metrô-Jabuti só anda quando Exu receber o seu despacho devidamente na Bahia. Laroiê! (2009), Confusão no ônibus entre uma idosa e um estudante (2011), O carro de boi malassombrado do tomba da Feira (2012), entre tantos outros.

2 Análise de um Folheto Criado a Partir de Ilustrações: É piada proibir

contar ou fazer tais anedotas

Observar os manuscritos é uma tarefa que não cessa de nos mostrar informações novas, novos rastros do processo de criação. Através do olhar para o manuscrito, este nos induz a perguntas, para algumas das quais não encontramos respostas, mas são estas que nos encaminham para uma compreensão do ato criador e, consequentemente, do texto, visto que tais perguntas nos instigam a aprofundar nosso olhar diante do labirinto que se torna o manuscrito, quando analisado numa perspectiva genética, isto é, quando se estuda o processo de criação.

No folheto É piada proibir contar ou fazer tais anedotas (2011), Maxado ironiza a “censura do politicamente correto”. O artista apropria-se desse fato e o transforma em cordel. Os manuscritos a seguir mostram os movimentos da escritura através dos riscos, das substituições de palavras, das alterações de algumas estrofes. Através do estudo do manuscrito é possível acompanhar o percurso do escritor (que revela o

scriptor), verificando o processo de seleção e de organização da linguagem.

A primeira informação já se encontra no título do manuscrito, a qual revela que Maxado pensou em usar o verbo brincar, mas não o manteve na versão impressa do texto. As alterações das ordens das estrofes mostram as idas e voltas do autor no momento da criação até considerar o texto pronto. Na primeira página ele anota informações a respeito de autores que deseja citar (Luiz Roberto Zanotti, Caetano Veloso, Gandhi). Assim, o manuscrito de Maxado nos revela que suas referências foram conscientes. Assim, mais uma vez, salientamos a importância do manuscrito

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para a compreensão do texto, das relações históricas, culturais e intertextuais que o envolvem.

As informações gerais de como será o folheto estão anotadas no início do manuscrito, como pode ser observado na imagem que se segue:

Figura 1: Fac-símile da folha 1do manuscrito É proibido contar piada ou fazer tais anedotas

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O escritor deixa claro não somente no manuscrito, mas também na capa do folheto, que seu texto recebeu influência do artigo de Luiz Roberto Zanotti (2011), intitulado “Entre a rigidez da razão e a leveza do riso. Caráter abjeto e comédia

stand-up”. Texto em que o articulista discute sobre o riso na comédia stand-up, ilustrado

pelo desenhista Willian Hussar. A capa do folheto possui a mesma ilustração que introduz o texto de Zanotti. É a partir do tom irônico das ilustrações de Hussar que Maxado começa seu texto, como pode ser observado na figura que se segue:

Figura 2: Ilustrações de Willian Hussar que introduzem o artigo de Roberto Zanotti

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Fonte: Revista aParte XXI, n. 4, p. 136-137, 2011.

Figura 3: Fac-símile da capa do folheto É proibido contar piada ou fazer tais anedotas.

Fonte: Acervo pessoal do escritor Franklin Maxado

Figura 4: Fac-símile da capa do folheto É proibido contar piada ou fazer tais anedotas.

Fonte: Acervo pessoal do escritor Franklin Maxado

A figura 3 mostra a primeira versão da capa pensada pelo escritor. Na figura 4, segunda versão, é acrescentado à caneta um quadrado e um endereço de e-mail é rasurado, não mais aparecendo nas outras versões da capa, como se vê nas figuras a seguir:

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311 Figura 5: Fac-símile da capa do folheto É proibido contar piada ou fazer tais anedotas.

Fonte: Acervo pessoal do escritor Franklin Maxado

Na figura 5, conhecemos a versão final da capa do folheto, aquela que chegou às mãos do leitor que desconhece os caminhos traçados pelo artista até seu cordel ficar pronto. Assim, o leitor não percebe como as ilustrações de Hussar estão presentes no folheto. Maxado deixa clara essa influência não só nos manuscritos mas também no folheto impresso ao citar Zanotti na capa de seu cordel, como se pode verificar na próxima figura:

Figura 6: Fac-símile da capa do folheto É proibido contar piada ou fazer tais anedotas.

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3 Conclusão

Ao observar os manuscritos do folheto É proibido contar piada ou fazer tais anedotas, verificamos que a literatura de cordel, como qualquer outra manifestação artística, exige uma capacidade de percepção e seleção de seu criador. Não se escolhe as palavras ao acaso. O processo de criação é conduzido pelo conhecimento e pelo objetivo do artista, bem como pelas regras que regem a sua produção.

O processo de criação na literatura de cordel, assim como na literatura canônica, é realizado a partir do labor, embora cada sistema possua suas regras específicas. O trabalho de escritura é direcionado pelas regras que regem cada sistema – podendo o artista seguir ou não. O folheto que chega até às mãos do leitor, aparentemente simples, oculta todo o trabalho realizado por Maxado até que ele considere os versos prontos, bem como as referências intertextuais, culturais, uma vez que nomes de outros artistas são anotados, para, posteriormente, serem citados ou inferidos. Só se tornou possível acompanhar esse processo através da análise dos manuscritos deixados pelo autor, bem como das ilustrações que foram usadas como inspiração, as quais registraram esses movimentos.

A relação entre literatura de cordel e ilustrações não é nenhuma novidade. Contudo, no que tange ao folheto analisado, a ilustração não somente apresenta, numa outra linguagem, aspectos da narrativa: ela revela aspectos do processo de criação.

Destarte, foi possível apresentar aqui, como toda e qualquer manifestação artística recebe influências de outras e, no caso específico do cordel de Franklin Maxado intitulado É proibido contar piada ou fazer tais anedotas, que contou com o desenho, ou seja, com as ilustrações feitas pelo desenhista Willian Hussar já utilizadas por Luiz Roberto Zanotti em seu artigo. Isso só corrobora o caráter transtextual que a arte possui, a qual manifesta a cultura do povo que a produz.

4 Referências

MAXADO, Franklin. É piada proibir contar ou fazer tais anedotas. Manuscrito. 2011. ______. É piada proibir contar ou fazer tais anedotas. São Paulo, 2011.

SEIXAS, Cid. Maxado Nordestino e o cordel em Feira de Santana. Légua & meia: Revista de Literatura e Diversidade Cultural, Feira de Santana: Programa de Pós-graduação em Literatura e Diversidade Cultural da Universidade Estadual de Feira de Santana, ano 4, n. 3, p. 231, 2005.

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ZANOTTI, Luiz Roberto. Entre a rigidez da razão e a leveza do riso. Caráter abjeto e comédia stand-up. aParte XXI: Revista de teatro da Universidade de São Paulo, São Paulo, n. 4, p. 136-144, 2.sem. 2011.

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