RELAÇÕES ENTRE COMUNIDADES E TURISMO: OS
MUSEUS COMUNITÁRIOS COMO MEDIADORES DA
CONSTRUÇÃO PARTICIPATIVA
Cláudia Feijó da Silva
Argenta, 2014.
O bairro Lomba do Pinheiro
•Constitui uma parcela do município de Porto Alegre, e se destaca pela presença de vasta área verde;
•Bairro da periferia;
• É densamente povoado por mais de 120.000 habitantes, (conforme censo IBGE de 2003= 67.000 habitantes);
• Organizado em mais de 30 vilas, com muitos assentamentos irregulares e saneamento básico precário;
O Bairro Lomba do Pinheiro
Bairro rural até a década de 1960;
A diversidade étnica cultural presente no bairro Lomba do
Pinheiro se constitui como grande atrativo para o olhar
externo.
Estão presentes no bairro 5 comunidades indígenas compostas
por 3 etnias: M’Bya Guarani, Kaingangue, Charrua.
Além disso, estão presentes no bairro referências culturais de
origem lusitana e africana, ambas as culturas formam um
mosaico que dá origem ao patrimônio imaterial refletido nas
comunidades.
O Museu Comunitário contempla a diversidade através do
inventariamento participativo dos diversos saberes e festas
indicados pelos diferentes grupos
Cavalgada dos Centros de Tradições Gaúchas Festa Comunidade Indígena Kaingangue
Carnaval de Rua
A administração do Museu: Conselho Gestor e
Conselho Consultivo
Composto por membros da comunidade escolhidos por votação em Seminário Local a cada 3 anos
Conselho Consultivo – reunião em associação para levantamento de demandas comunitárias
Formação de Educadores e Professores LombaTur Educação para o patrimônio Exposições temporárias, Museus de Rua Inventário Participativo Rodas de Memória – História Oral
Atividades desenvolvidas
Museu Comunidade
Inventário Participativo
•
O que é?
•
Por que?
•
Para que?
•
Desafios
•
Metodologias possíveis
O que é?
Operação permanente, dinâmica e sistemática de
levantamento, organização e descrição do acervo
museológico e das manifestações humanas de uma região.
Esse levantamento é participativo por que conta com a
definição prévia da comunidade envolvida sobre as
possibilidades de acervo, qual será o recorte temático, a
metodologia aplicada e os usos dos resultados obtidos.
“[...] a concepção de Inventário
Participativo tem por trás de si o debate
sobre o direito de decidir o que é e o
que não é possível de preservação [...]”
(ORTIZ, 1999:01).
Por que?
Pelo direito de decidir o que será preservado, com
quais objetivos e valores, por quais interesses e com
quais resultados.
Para que?
• Colaborar para uma percepção global do acervo e
das potencialidades culturais da comunidade envolvida
• Elaborar uma primeira listagem de referências
culturais
•Desenvolver
itinerários
culturais
para
o
desenvolvimento do turismo comunitário
Desafios
•Captar o sentido do que é definido como acervo
museológico. Foco menor nos objetos e maior na sua
significação/ relação com a comunidade
•Tornar esse conjunto de informações úteis para as
necessidades da comunidade.
•
Necessidade definida pela comunidade Lomba
do Pinheiro: desenvolvimento local a partir do
turismo comunitário
Estabelecimento de metodologia (definições do
grupo)
• Objeto de investigação
• Valor do conjunto/valor individual
• Forma de coleta das informações
• Instrumentos de levantamento
Sugestão de conteúdo informativo
• Desenhos
• Mapas
• Plantas
• Documentos
• Registros áudio visuais
• Dados levantados
Estabelecimento de metodologia (definições do
grupo)
• Objeto de investigação
• Forma de coleta das informações
• Instrumentos de levantamento
Como aconteceu o inventariamento (metodologia)
Formação da equipe de trabalho;
Divisão geográfica em 4 faces (1,2,3 e 4);
24 Vilas, 2 Comunidades Indígenas;
32 grupos de trabalho (184 pessoas);
12 Escolas Ensino Fundamental e Médio;
526 questionários respondidos;
Reuniões participativas em Fóruns (Conselho de Saúde, Conselho
Popular, Comissão de Cultura, Fórum de Justiça e Segurança);
Registros dos saberes populares em Rodas de Memórias;
Seminários locais
Metodologia adotada para Inventário Participativo
Museu Comunitário Lomba do Pinheiro
Primeiros elementos do patrimônio: 1 – Pinheiro (araucária ou pinus) 2 – Figueiras
3 – Bugio Ruivo 4 – Nascentes
5 – Paradas de ônibus 6 - Vilas
Entrevistas com moradores reunidos em associações
Registros dos saberes populares
Encontro culinária – comidas típicas – troca e registros de receitas
Cia do Fuxico – Grupo de artesãs local que desenvolvem trabalho relacionado ao patrimônio local.
Promovem sua sustentabilidade a partir da venda do artesanato.
Foto ao lado: comemoração das artesãs pela exposição Retalhos da Memória
“A ideia desta forma de inventariar,
buscando a participação direta do
cidadão, e não apenas a opinião
técnica, não está simplesmente na
concepção obvia de que as ações
públicas devem ser participativas para
alcançarem ampla representatividade
social” (ORTIZ, 1999:01).
Estrutura do mapa com Inventário e locais de visitação turística – material reúne a história do bairro e o patrimônio local transformado em itinerário do LombaTur.
O inventário participativo desencadeou ações
de Formação de Guias de Turismo local
Jovens (entre 13 e 24 anos) moradores da Comunidade
realizam formação de 120 horas.
A formação é composta pelas seguintes áreas:
•
Conhecimentos sobre turismo comunitário;
•
Receptividade aos visitantes;
•
Geografia e História do bairro Lomba do Pinheiro;
•
Cidadania e desenvolvimento local;
•
Saídas de campo para reconhecimento do patrimônio
local;
•
Rodas de Conversa com moradores mais experientes
LombaTur
Ponto Sítio Arqueológico Fazenda do Boqueirão
LombaTur
LombaTur
• Um dos pontos positivos é a apropriação e o uso dos conceitos, que envolvem as práticas museais – Ex.: Patrimônio Material e Imaterial/ Coletivo e Individual;
•O Documento passou a ter um valor histórico, sendo que as pessoas envolvidas perceberam o quanto as atas, imagens e registros deixaram de ser apenas uma prova documental, para auxiliar na (re)construção da memória e história do bairro, são reconhecidos como lugares de memória;
•Valorização dos saberes e fazeres, ampliando a dinâmica e o espaço de atuação de todos os envolvidos no projeto;
• Desenvolvimento da auto-estima, empoderamento e reconhecimento dos potenciais tanto individuais, quanto coletivos dentro da comunidade.
•Envolvimento dos antigos moradores, dos familiares e professores nas práticas sociais comunitárias.
•Envolvimento dos jovens no desenvolvimento sustentável da comunidade.
[…] el único camino posible para nosotros es el que nos decidamos a construir entre todos a partir de nuestra propia experiencia, de nuestras propias preguntas, de nuestras necesidades y de nuestros sueños. Tenemos que ser tan radicales como nos sea posible, es decir, capaces de desentrañar, sin miedo y sin falsas suposiciones las raíces de nuestros problemas y el modo en que en cada época, con las fuerzas y capacidades de que dispongamos, podamos empeñarnos a remontarlos. Tenemos que aprender a mirarnos con otros ojos, nuestros ojos, para rehacer el amor a
nuestra tierra, a nuestros saberes, al color y al olor de nuestra piel. Las sociedades latinoamericanas deben constantemente reinventarse a sí mismas, toda vez que a cada experiencia de estallido de la libertad siguen golpes de los viejos y nuevos conquistadores. (Sosa Elízaga, 2011)
RELAÇÕES ENTRE COMUNIDADES E TURISMO: OS
MUSEUS COMUNITÁRIOS COMO MEDIADORES DA
CONSTRUÇÃO PARTICIPATIVA
Cláudia Feijó da Silva
Argenta, 2014.
Contatos:
claudyafds@hotmail.com