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A simbolização em Psicossomática. Guilherme Borges Valente * Avelino Luiz Rodrigues. Universidade de São Paulo Resumo

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Academic year: 2021

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A simbolização em Psicossomática

Guilherme Borges Valente * Avelino Luiz Rodrigues Universidade de São Paulo - 2013

Resumo

Desde Alexander até os teóricos de orientação psicanalítica mais atuais, a somatização é associada a um comprometimento da capacidade de simbolização. Da mesma forma esta característica é destacada nas neuroses atuais. Os objetivos deste trabalho são verificar se esse comprometimento, na capacidade de simbolização, está presente em sujeitos com somatização e em sujeitos com neurose atual e como elas se manifestam. Foram eleitos dois transtornos que são representantes das categorias acima citadas: nas

somatizações, a Síndrome do Intestino Irritável e nas Neuroses Atuais, o Transtorno de Pânico. A pesquisa foi feita a partir de psicodiagnóstico, com entrevista semi-dirigida, aplicação de pranchas do TAT, escalas de alexitimia e entrevista para Personalidade tipo A. Foram utilizados três sujeitos com Síndrome do Intestino Irritável e dois com Transtorno de Pânico. Observamos que o comprometimento da capacidade de simbolização em tais pacientes apresentam variações significativas e nem todos evidenciaram tal dificuldade. O que remete a reflexões sobre o funcionamento mental do tipo operatório. Compreendendo a configuração da dinâmica psíquica das

somatizações estaremos mais aptos em estabelecer métodos de abordagens e técnicas psicoterápicas mais efetivas.

Palavras-chave: medicina psicossomática, capacidade de simbolização, transtorno somatoforme, síndrome do intestino irritável, transtorno do pânico.

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Abstract

From Alexander to the theoretical psychotherapy most current somatization is associated with an impaired ability to symbolization. Likewise this feature is highlighted at actual neurosis. The objectives of this work is to verify whether this impairment in the ability of symbolization is present in subjects with somatization and in subjects with actual neurosis and how they manifest themselves. Were elected two disorders which are representatives of the categories mentioned above: at somatization, the Irritable Bowel Syndrome and the actual neurosis, Panic Disorder. The research was done from psychodiagnostic, with semi-structured interview, application of TAT cards, scales of alexithymia and interview for Personality type A. We used three subjects with irritable bowel syndrome and two with panic disorder. We observed that the impaired ability of symbolization in such patients differ significantly and not all showed such difficulty. What refers to reflections on the mental functioning of the type operative. Understanding the configuration of the psychic dynamics of somatization will be better able to establish methods of psychotherapeutic approaches and techniques more

effective.

Keywords: psychosomatic medicine, capacity for symbolization, somatoform disorder, irritable bowel syndrome, panic disorder

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A simbolização em Psicossomática

Desde Alexander (1950) até os teóricos em Psicossomática de orientação psicanalítica mais atuais (Nemiah & Sifneos, 1970; Marty, 1993; McDougall, 1996), a dinâmica psíquica da somatização vem sendo associado a uma dificuldade do psiquismo em lidar com situações geradoras de tensão emocional. Contudo, estamos submetidos cotidianamente a tais situações sem desenvolver algum sintoma somático mais significativo. Alguns pesquisadores acreditam que em função da cronificação dessa tensão emocional e da consequente ativação vegetativa emergem sintomas orgânicos, o que nos instiga a pensar nos fatores psicológicos que mantém, através do tempo, determinados estados emocionais.

Alexander (1950) enuncia que em função da impossibilidade de elaboração de determinados conflitos, as tensões resultantes permaneceriam acumuladas no organismo e ao não encontrarem uma saída pela via simbólica, escoariam pela via somática. Marty (1993) remete a estruturas psíquicas deficitárias na capacidade de representação e elaboração simbólica o que causaria uma desorganização no organismo. Nemiah e Sifneos (1970) acreditam que essas pessoas apresentam dificuldades na capacidade de representar simbolicamente suas emoções, o que contribuiria para o surgimento de sintomas físicos. Já McDougall (1984) afirma que as somatizações decorrem de mecanismos defesivos que ejetam do psiquismo percepções, pensamentos e fantasias capazes de suscitar afetos insuportáveis, que sem saída psíquica hiperfunciona a tensão no corpo.

Tais correntes na Psicossomática se assemelham ao que Freud (1986)

denominava de neurose atual: o aumento da excitação somática sem o trabalho psíquico necessário pode gerar sintomas somáticos. Elas parecem se inspirar desse conceito

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freudiano para pensar as somatizações, conceito esse caracterizado por deficiencias no processo de simbolização (Dejours 1998; Laplanche e Pontalis, 1996; Ferraz, 2005; Valente, 2012).

Entendemos a simbolização como a percepção psicológica dos estímulos sensoriais, quando um estímulo, um objeto, um evento, alguma coisa deixa de ser unicamente ela mesma para ganhar um sentido psicológico e se ligar a outras representações mentais (Mijolla, 2005).

Seja o comprometimento da capacidade de simbolização em função de estruturas ou defesas psíquicas, o trabalho psíquico necessário para a elaboração das situações emocionais a elas relacionadas não ocorre, cronificando este estado, o que aumenta a vulnerabilidade para as enfermidades.

Adotamos a definição de Lipowski (1986) de somatizações, ou seja, fatores psicológicos e psicossociais desempenham um papel importante na etiologia deste transtorno, onde o sofrimento emocional ou situações de vida estressantes são experimentados como sintomas físicos.

Como exemplo de somatizações, tem destaque os distúrbios gastrointestinais funcionais (DGFs). Drossman (2009) afirma: a) o estresse psicológico exacerba os sintomas gastrointestinais, tanto em sujeitos saudáveis como em pacientes com DGFs, mas ocorrem com mais frequência em tais pacientes; b) fatores psicossociais modificam a experiência e o comportamento da doença. A Síndrome do Intestino Irritável (SII), uma DGF, destaca-se pela prevalência, chegando a ser responsável por 50% das

consultas na área de gastroenterologia (Farthing, 1995). São alterações para as quais não demonstra qualquer mudança estrutural das vísceras, assim como irregularidades

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digestivo é alterada, caracterizada clinicamente por anormalidades do hábito intestinal e dor abdominal, na ausência de patologia orgânica demonstrável.

Tendo em vista que características das somatizações – ausência de simbolização, sintomatologia somática, etiologia atual – reproduzem-se no mecanismo de formação dos sintomas nas neuroses atuais, foi realizada uma pesquisa (Valente, 2012) para verificar se esse comprometimento na capacidade de simbolização está presente nestes sujeitos e como elas se manifestam.

Para se realizar o estudo, foram eleitos dois transtornos que são representantes das categorias acima citadas: nas somatizações, a Síndrome do Intestino Irritável; e nas Neuroses Atuais, o Transtorno de Pânico, forma moderna da neurose de angústia.

A investigação, com o intuito psicodiagnóstico, foi realizada com três sujeitos com Síndrome do Intestino Irritável e dois com Transtorno de Pânico, estruturada em três encontros, com duração de aproximadamente sessenta minutos, assim

administrados: 1º. Encontro – entrevista semiestruturada, entrevista para Personalidade tipo A, escalas de alexitimia; 2º. Encontro - teste projetivo (Teste de Apercepção Temática, aplicação reduzida); 3º. Encontro – devolutiva.

Os resultados mostraram que pensar o comprometimento da capacidade de simbolização em tais pacientes faz sentido, embora apresentem variações significativas na intensidade e frequência. Há pacientes em que o comprometimento na capacidade de simbolização funciona como defesa psíquica, diante de situações que remontam

conflitos psicológicos significativos, contudo para as demais situações de vida que não remontam a tais conflitos, a simbolização permanece sem comprometimento; e há os sujeitos que esse comprometimento é característico do funcionamento mental, ou seja, ele tende a sempre ter dificuldades em simbolizar suas experiências e sensações.

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A somatização não implica necessariamente em funcionamento mental caracterizado pelo pensamento operatório. Afirmar que o paciente com somatização possui por definição uma estrutura psíquica deficitária na capacidade de simbolização é insuficiente. Pacientes com somatização podem apresentar boa capacidade de

simbolização, ocorrendo o comprometimento em determinados momentos, como função defensiva do psiquismo diante de condições de vida e sentimentos angustiantes.

Compreendendo a configuração da dinâmica psíquica das somatizações estaremos mais aptos em estabelecer métodos de abordagens e técnicas psicoterápicas mais efetivas.

Referências

Alexander, F. (1950) Psychosomatic Medicine. New York: Norton.

Dejours, C. (1998) Biologia, psicanálise e somatização. Psicossoma II. Psicossomática

Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Drossman, D. A. (2009) Os distúrbios gastrointestinais funcionais e o processo ROMA III.

Capítulos selecionados dos critérios de ROMA III: os distúrbios gastrointestinais funcionais.

São Paulo: Segmento Farma.

Farthing, M. J. G. (1995) Irritable bowel, irritable body or irritable brain?. BMJ, 310:171-5. Ferraz, F.C. (2005) Das neuroses atuais à Psicossomática. Psicossoma I – Psicanálise e

Psicossomática, São Paulo: Casa do Psicólogo.

Freud, S. (1896) Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa. Edição Standard

Brasileira da Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Laplanche, J; Pontalis, J. B. (1996) Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes. Lipowski, Z.J. (1986) Psychosomatic medicine: past and present. Current state. Am. Journal

Psychiatry, 38.

Marty, P. (1993) A Psicossomática do adulto. Porto Alegre: Artes Médicas.

Mcdougall, J. (1984) The "dis-affected" patient: reflections on affect pathology. Psychoanalytic

Quarterly, 53, 386-409.

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Mijolla, A. (2005) Dicionário Internacional de Psicanálise: conceitos, noções, biografias, eventos e instituições. Rio de Janeiro: Imago.

Miszputen SJ, André Ea, Francisconi CF. (2002) Síndrome do Intestino Irritável - SII. São Paulo: Lemos Editorial.

Nemiah, J. Sifneos, P. (1970) Affect and fantasy in patients with psychosomatic disorders.

Modern trends in psychosomatic medicine, 2. Londres: Butterworth press.

Valente, G. B. (2012) A questão da simbolização na Psicossomática: estudo com pacientes portadores de transtorno neurovegetativo somatoforme e de transtorno de pânico.

Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Referências

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