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XI CONGRESSO ESTADUAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO TEMA O MINISTÉRIO PÚBLICO DO AMANHÃ: AINDA DEFENSOR DOS DIREITOS HUMANOS?

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XI CONGRESSO ESTADUAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

TEMA – “O MINISTÉRIO PÚBLICO DO AMANHÃ: AINDA DEFENSOR DOS DIREITOS HUMANOS?”

ÁREA DE INTERESSE: CÍVEL E ESPECIALIZADAS

TESE: “O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO GUARDIÃO SUPREMO DO DIREITO DOS ANIMAIS”

SALOMÃO ISMAIL FILHO1

SUMÁRIO. 1. Introdução. 2. Justificativa 3. Conclusões. 4. Referências.

I-INTRODUÇÃO

A proteção jurídica dos animais apresenta-se, em nosso sentir, como importante corolário do direito humano ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, nos termos do art. 225, caput, da Magna Carta de 1988.

Nesse sentido, torna-se imprescindível a defesa dos animais, máxime as espécies mais desenvolvidas, de práticas abusivas e destrutivas, as quais possam lhes causar sofrimentos desnecessários ou mesmo a morte.

Apresentar o Ministério Público como guardião supremo do nascente direito dos animais, em razão da sua condição de defensor dos direitos sociais e individuais indisponíveis, é o objetivo principal desta tese jurídica.

II-JUSTIFICATIVA

Primeiramente, é importante aduzir, a Magna Carta de 1988 (arts. 5º, § 2º, c/c 225, caput) trata o meio ambiente como um direito humano fundamental, dispondo que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do Povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Nesse passo, o art. 225, § 1º, inciso VII, da CF/88, dispõe que a proteção à fauna e à flora é um instrumento para dar efetividade ao direito ao meio ambiente, sendo vedadas práticas que coloquem em risco a função ecológica; provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldades.

O Código Civil de 2002 trata os animais como coisa, que pode ser apropriada pelo ser humano e objeto de penhor (arts. 82, 936; 1.313-II e 1.442-V).

Ou seja, no ordenamento brasileiro, em princípio, os animais não são sujeitos de direito, mas objeto do direito de outrem.

1 Promotor de Justiça do Ministério Público de Pernambuco. MBA em Gestão do Ministério Público pela UPE. Especialista e Mestre em

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Parece-nos relevante, neste ponto, que se comece a pensar, em determinadas relações jurídicas, os animais sejam vistos não como objeto, mas como sujeitos de direito. Afinal, o direito à vida não pode ser reservado somente à espécie humana, pois há animais capazes de expressar sentimentos, de sofrer inclusive danos psíquicos e não apenas físicos.2

Quando se proíbe o sofrimento gratuito de determinas espécies de animais, máxime os mamíferos, dado o seu desenvolvimento cerebral e medular, o principal beneficiado do ato é o próprio animal e não o seu proprietário.

Exatamente por isso, o Parlamento da França, em 28.01.2015, alterou o Código Civil daquele país europeu e passou a considerar os animais como seres sencientes (capazes de sentir) e não como mera coisa, objeto ou propriedade de outrem. Por corolário, os animais não mais são definidos pelo seu valor de mercado, mas sim por um valor próprio, intrínseco, tal como sujeitos de direito.3

Por isso, a importância de um maior controle no abate animal, evitando práticas que causem às espécies sofrimentos inúteis e desnecessários, como muitas vezes ocorre em matadouros, onde se matam bovinos ou caprinos a marretadas, com vários golpes em suas cabeças, por exemplo. O consumo da carne de determinados filhotes de mamíferos, como leitões e bezerros, apenas para deleite do paladar humano, também precisa ser repensado.

Apenas para exemplificar a proteção jurídica outorgada aos animais, no Brasil, o art. 32 da Lei 9.605, de 12.02.1998, considera como crime o ato de abusar, maltratar, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. A pena é detenção, de três meses a um ano, além de multa. Poderá ser aumentada de um sexto a um terço, acaso ocorra morte do animal.

Demais, incorre na mesma pena quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, mesmo que para fins didáticos ou científicos, quando se comprova que havia recursos alternativos os quais poderiam evitar tal experimentação (art. 32, § 1º, da Lei 9.605/1998).

Nesse sentido, importante fazer menção à Lei nº 11.794, de 08.10.2008, que regulamentou o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais.

Em tal norma jurídica, ficou definido que a utilização de animais em atividades educacionais deve se restringir a estabelecimentos do ensino superior e estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica (art. 1º, § 1º).

Além disso, nos termos do art. 14, o animal somente poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos protocolos dos experimentos que constituem pesquisa ou programa de aprendizado quando, antes, durante e após o experimento, receber cuidados especiais, conforme estabelecido pelo CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal).

2 Nesse sentido, o entendimento de DIAS, Edna Cardoso Dias. Os animais como sujeitos de direito. Revista Brasileira de Direito Animal.

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7 A lei parte do pressuposto de que se deve evitar o sofrimento desnecessário do animal, devendo práticas ou experimentos que causem dor ou angústia no animal desenvolver-se sob sedação, analgesia ou anestesia.

O número de animais utilizados em tais experimentos deve ser o mínimo possível e a repetição de experimentos traumáticos deve ser evitada (art. 14, §§ 3º ao 5º).

No mais, impende arguir que a Resolução nº 1027, de 18.06.2013, do Conselho Federal de Medicina Veterinária, proíbe o corte de cauda e orelhas de cães para fins estéticos, além de vedar a amputação de unhas de gato e a cirurgia para a retirada das cordas vocais dos cães.

A respeito da prática da eutanásia, é importante reiterar que os animais submetidos a ela são seres sencientes, portanto, capazes de sentir, interpretar e responder a estímulos dolorosos e ao sofrimento.

Deveras, em nosso sentir, a destruição/sacrifício de um animal não pode ultrapassar os limites de necessidade e segurança, pois, do contrário, passa a ser bestialidade.

A propósito, a Lei 11.794/2008, no art. 14, § 1o, dispõe que, no caso de experiências científicas, o animal deve ser submetido a eutanásia, sob estrita obediência às prescrições pertinentes a cada espécie, conforme as diretrizes do Ministério da Ciência e Tecnologia, sempre que, encerrado o experimento ou em qualquer de suas fases, apresente-se como tecnicamente recomendado aquele procedimento ou estiver a ocorrer intenso sofrimento para o ser.

Se não for o caso de eutanásia, o animal, após a conclusão do experimento científico, poderá, mediante a observância de determinados critérios, ser destinado a pessoas idôneas ou a entidades protetoras de animais devidamente legalizadas, que por eles queiram responsabilizar-se (§ 2o do art. 14 da Lei 11.794/2008).

Para o Conselho Federal de Medicina Veterinária, a eutanásia somente pode ser indicada no animal mediante a observância das seguintes condições:

1) o bem-estar do animal estiver comprometido de forma irreversível, sendo um meio de eliminar a dor ou o sofrimento, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos, de sedativos ou de outros tratamentos;

2) o animal constituir ameaça à saúde pública;

3) o animal constituir risco à fauna nativa ou ao meio ambiente; 4) o animal for objeto de ensino ou pesquisa.

E como fica a questão do sacrifício de animais para fins religiosos?

No ordenamento jurídico brasileiro, tem-se tolerado tal prática, bastante frequente em religiões de matriz africana, invocando-se o direito fundamental à liberdade de crença, nos termos do art. 5o, inciso VI, da CF/88.

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Não obstante, é preciso que se entenda que direito fundamental algum é absoluto, sendo necessário que o seu exercício seja harmonizado com outros direitos fundamentais, também válidos e existindo simultaneamente no mesmo sistema jurídico.

É fato que o art. 5o, inciso VIII, da Magna Carta, determina que ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa, mas a 2a parte da mesma norma jurídica ressalva que tal direito não pode ser utilizado para se eximir de obrigações a todos imposta.

E o respeito à vida e à integridade física dos animais é uma obrigação que todos devem observar, ex vi do art. 225, § 1º, inciso VII, da CF/1988, que veda práticas as quais submetam os animais a crueldades!

Nesse passo, o sacrifício gratuito de espécie animais, como mamíferos e aves, sem qualquer aproveitamento útil (para fins de saúde, alimentares ou de segurança), deve ser, gradativamente, combatido pelos órgãos públicos, máxime o Ministério Público, guardião da ordem jurídica e defensor dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput, da CF/1988).

Pregamos aqui não a mera repressão, mas o debate construtivo a respeito do tema, através de audiências públicas e campanhas de conscientização, propondo-se, por exemplo, que, em vez do sacrifício, o animal seja doado para instituições de defesa animal ou de caridade.

O papel do Ministério Público, portanto, na defesa dos animais, é de extrema relevância. É preciso que os Promotores de Justiça, em determinados fatos jurídicos, passem a compreender os animais como seres sencientes, vindo, assim, a tomar as providências necessárias para prevenir ou vedar práticas que estejam a causar sofrimentos desnecessários nas espécies animais mais desenvolvidas.

Destarte, compreendendo-se o animal não como mera coisa, mas como um ser passível de expressar sentimentos e que, em tese, possui o direito de não ser molestado desnecessária e abusivamente, há que se admitir que possuem eles direitos, em determinadas situações fáticas.

E o principal órgão que deve invocar e defender tais direitos, conforme o art. 127, caput, da Magna Carta de 1988, é o Ministério Público, o qual atua, judicial e extrajudicialmente, em nome do indisponível direito dos animais, os quais não podem expressar a sua vontade no sistema jurídico brasileiro.

III-CONCLUSÕES

1. O art. 225, § 1º, inciso VII, da CF/88, dispõe que a proteção à fauna e à flora é um instrumento para dar efetividade ao direito humano ao meio ambiente, sendo vedadas práticas que coloquem em risco a função ecológica; provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldades. Por corolário, devem ser vedadas práticas que submetam os animais a crueldades ou à morte física, somente para o deleite de prazeres humanos, sem vinculação aos termos necessidade ou sobrevivência.

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9 2. Embora o Código Civil brasileiro trate os animais como objeto e não como sujeitos de direito, é importante que se comece a pensar, em determinadas relações jurídicas, os animais sejam vistos não como objeto, mas como sujeitos de direito. Quando se proíbe o sofrimento gratuito de determinas espécies de animais, máxime os mamíferos, dado o seu desenvolvimento cerebral e medular, o principal beneficiado do ato é o próprio animal e não o seu proprietário.

3. O sacrifício gratuito de espécie animais, como mamíferos e aves, sem qualquer aproveitamento útil (para fins de saúde, alimentares ou de segurança), deve ser, gradativamente, combatido pelos órgãos públicos, máxime o Ministério Público, guardião da ordem jurídica e defensor dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput, da CF/1988).

4. Nos termos do arts. 5o, § 2o, 127, caput, e 225, § 1º, inciso VII, todos da CF/1988, ao Ministério Público cabe atuar, judicial e extrajudicialmente, em defesa do indisponível direito dos animais, os quais não podem expressar a sua vontade no sistema jurídico brasileiro.

REFERÊNCIAS

AVANCINI, Alex. Em decisão histórica, França altera Código Civil e reconhece animais como seres sencientes. ANDA: agência de notícias de direitos animais. São Paulo, 03 fev. 2015. Disponível em:

<http://www.anda.jor.br/03/02/2015/decisao-historica-franca-altera-codigo-civil-reconhece-animais-seres-sencientes>. Acesso em: 10.02.2015.

DIAS, Edna Cardoso Dias. Os animais como sujeitos de direito. Revista Brasileira de Direito Animal. Salvador, Instituto de Abolicionismo Animal, ano 1, nº 1, p. 119-121, 2006.

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