EMÍLIA AMARAL
MAURO FERREIRA
RICARDO LEITE
SEVERINO ANTÔNIO
COMPONENTE CURRICULAR LÍNGUA PORTUGUESA
ENSINO MÉDIO COMPONENTE CURRICULAR LÍNGUA PORTUGUESA ENSINO MÉDIO
MANUAL DO PROFESSOR
HINO NACIONAL
Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
9 7 8 8 5 3 2 2 8 4 8 0 8
EMÍLIA AMARAL
Doutora em Educação e Mestre em Letras (área: Teoria Literária) pela Unicamp.
Professora do Ensino Médio e do Ensino Superior e consultora nas áreas de literatura, leitura e produção de textos há mais de 20 anos.
MAURO FERREIRA DO PATROCÍNIO
Especialização em Metodologia de Ensino pela Unicamp. Professor do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e de cursos pré-vestibulares durante 22 anos. Dedica-se à realização de palestras para professores e à criação de obras didáticas.
RICARDO SILVA LEITE
Mestre em Letras (área: Teoria Literária) pela Unicamp. Professor do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e de cursos pré-vestibulares há mais de 30 anos.
SEVERINO ANTÔNIO MOREIRA BARBOSA
Doutor em Educação (área: Filosofia e História da Educação) pela Unicamp.Professor do Ensino Médio e do Ensino Superior há 40 anos e autor de vários livros.
COMPONENTE CURRICULAR LÍNGUA PORTUGUESA
ENSINO MÉDIO
2.ª edição
São Paulo – 2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Novas palavras : 2.o ano / Emília Amaral... [et al.].
– 2. ed. – São Paulo : FTD, 2013.
Outros autores : Mauro Ferreira do Patrocínio, Ricardo Silva Leite, Severino Antônio Moreira Barbosa
Componente curricular: Língua portuguesa ISBN 978-85-322-8479-2 (aluno) ISBN 978-85-322-8480-8 (professor) 1. Português (Ensino médio) I. Amaral, Emília. II. Patrocínio, Mauro Ferreira do. III. Leite, Ricardo Silva. IV. Barbosa, Severino Antônio Moreira.
13-03931 CDD-469.07
Índices para catálogo sistemático: 1. Português : Ensino médio 469.07 NOVAS PALAVRAS
Copyright © Emília Amaral, Mauro Ferreira do Patrocínio, Ricardo Silva Leite, Severino Antônio Moreira Barbosa, 2013 Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD S.A.
Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 — Bela Vista — São Paulo — SP CEP 01326-010 Tel. (0-XX-11) 3598-6000
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Tratamento de imagens
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Sumário
Literatura
1
O Romantismo em Portugal ...9
Primeira leitura: Texto 1 – Soneto – Bocage... 9
Texto 2 – Ideal – Antero de Quental ... 9
E mais... ...11
Leitura de imagem ... 12
Um pouco de História ... 13
As revoluções do século XVIII – As origens do Romantismo... 13
Leitura: “Prefácio” – Victor Hugo ... 14
Características do Romantismo ... 15
Leitura de imagem ... 17
As gerações românticas ... 18
O Romantismo em Portugal ... 18
Um pouco de História ... 19
Primeira geração romântica portuguesa ... 20
Almeida Garrett ... 20
Leitura: Viagens na minha terra (fragmento) – Almeida Garrett ... 21
Leitura: Memórias póstumas de Brás Cubas (fragmento) – Machado de Assis ... 21
Leitura: A vida e as opiniões do Cavalheiro Tristam Shandy (fragmento) – Laurence Sterne ... 22
Leitura: Anjo és – Almeida Garrett ... 24
Alexandre Herculano ... 25
Segunda geração romântica portuguesa ... 26
Camilo Castelo Branco ... 26
Leitura: Amor de perdição (fragmento) – Camilo Castelo Branco ... 27
Terceira geração romântica portuguesa ... 29
João de Deus ... 29
Júlio Dinis ... 29
Leitura: Guida e Daniel (fragmento) – Júlio Dinis ... 30
Resumindo o que você estudou ... 32
Atividades ... 33
2
O Romantismo no Brasil ...35A poesia romântica brasileira ... 35
Primeira leitura: Canção do exílio – Gonçalves Dias ... 35
E mais... ... 38
Um pouco de História ... 38
O Romantismo no Brasil ... 40
Leitura: Fragmentos – Gonçalves de Magalhães ... 40
Leitura de imagem ... 42
Primeira geração romântica brasileira ... 44
Gonçalves Dias ... 44
Leitura: Autopsicografia – Fernando Pessoa ... 45
Isto – Fernando Pessoa ... 45
Leitura: Leito de folhas verdes – Gonçalves Dias ... 46
Leitura: Texto 1 – O canto do piaga – Gonçalves Dias ... 47
Texto 2 – O deslocamento da população ... 48
Segunda geração romântica brasileira ... 49
Junqueira Freire ... 49
Casimiro de Abreu ... 50
Álvares de Azevedo ... 51
Leitura: Soneto – Álvares de Azevedo ... 51
Terceira geração romântica brasileira ... 52
Leitura: Texto 1 – Perseverando – Castro Alves ... 52
Texto 2 – O povo ao poder – Castro Alves ... 52
Fagundes Varela ... 53
Castro Alves ... 53
Leitura: O navio negreiro (fragmento) – Castro Alves ... 55
Resumindo o que você estudou ... 57
Atividades ... 58
3
A prosa romântica brasileira ...61Primeira leitura: XIV – Pedilúvio sentimental – Joaquim Manuel de Macedo ... 61
Um pouco de História ... 65
A prosa romântica ... 65
Joaquim Manuel de Macedo ... 66
José de Alencar ... 66
Leitura: Texto 1 – Iracema – José de Alencar ... 68
Texto 2 – Senhora – José de Alencar ... 68
Manuel Antônio de Almeida ... 70
Leitura: O nascimento do herói – Manuel Antônio de Almeida ... 71
A prosa romântica regionalista ... 72
O teatro romântico ... 73
Martins Pena ... 73
Leitura: O noviço – Martins Pena ... 74
E mais... ... 75
Resumindo o que você estudou ... 76
Atividades ... 76
4
O Realismo e o Naturalismo em Portugal ...79Primeira leitura: Quadro 1 – O enterro de Atala – Anne-Louis Girodet ... 79
Quadro 2 – Enterro em Ornans – Gustave Coubert .. 80
Leitura: Mais luz! – Antero de Quental ... 81
Um pouco de História ... 83
A Europa na segunda metade do século XIX ... 83
A Geração Materialista ... 84
E mais... ... 86
Leitura: O primo Basílio (fragmentos) – Eça de Queirós ... 86
Um pouco de História ... 88
A segunda metade do século XIX em Portugal ... 88
A Questão Coimbrã e as Conferências do Cassino Lisbonense ... 89
Como se deu a Questão Coimbrã? ... 89
A poesia realista portuguesa ... 89
Antero de Quental ... 90
Outros poetas realistas ... 90
Guerra Junqueiro ... 91
Gomes Leal ... 91
Cesário Verde ... 91
Leitura: O sentimento dum ocidental (fragmento) – Cesário Verde ... 91
A prosa do Realismo-Naturalismo português ... 93
Eça de Queirós ... 93
Leitura: Texto 1 – Opinião de Machado de Assis sobre O crime do padre Amaro ... 94
Texto 2 – O crime do padre Amaro (fragmento) – Eça de Queirós ... 94
Resumindo o que você estudou ... 96
Atividades ... 96
5
O Realismo e o Naturalismo no Brasil ...98Primeira leitura: Quadro – Vagão de terceira classe – Honoré Daumier... 98
Leitura: O cortiço – Aluísio Azevedo ... 99
Um pouco de História ... 102
O Realismo e o Naturalismo no Brasil ... 103
Aluísio Azevedo: o maior escritor naturalista brasileiro ... 103
Leitura: O mulato (fragmentos) – Aluísio Azevedo ... 104
Leitura: O cortiço (fragmentos) – Aluísio Azevedo ... 106
E mais... ... 107
Outros autores e obras naturalistas ... 108
Raul Pompeia e O Ateneu: romance memorialista .. 108
Leitura: O Ateneu (fragmentos) – Raul Pompeia ... 109
A ficção regionalista ... 111
Resumindo o que você estudou ... 111
Atividades ... 111
6
O Realismo psicológico de Machado de Assis ...114Primeira leitura: Texto 1 – Olhos de ressaca – Machado de Assis ... 114
Texto 2: O penteado – Machado de Assis ... 115
O Realismo machadiano ... 118
Estudo dos principais romances machadianos ... 119
Leitura: Virgília? – Machado de Assis ... 120
Leitura: Quincas Borba – Machado de Assis ... 123
Os contos de Machado de Assis ... 125
Os recursos estilísticos ... 126
E mais... ... 127
Resumindo o que você estudou ... 127
Atividades ... 127
7
O Parnasianismo no Brasil...132Primeira leitura: Nel mezzo del camin... – Olavo Bilac ... 132
As Escolas Realistas e o Parnasianismo ... 135
Características do Parnasianismo ... 136
Leitura de imagem ... 137
O Parnasianismo no Brasil ... 139
Estudo dos principais autores e obras ... 139
Olavo Bilac ... 139
Leitura: Satânia – Olavo Bilac ... 140
Alberto de Oliveira ... 141
Raimundo Correia... 141
Leitura: Texto 1 – Vaso chinês – Alberto de Oliveira ... 142
Texto 2 – A cavalgada – Raimundo Correia ... 143
E mais... ... 143
Resumindo o que você estudou ... 144
Atividades ... 145
8
O Simbolismo em Portugal ...148Primeira leitura: Ao longe os barcos de flores – Camilo Pessanha ... 148
Um pouco de História ... 149
A virada do século XIX para o século XX ... 149
O estilo simbolista: origens francesas ... 149
Leitura de imagem ... 151
Características do Simbolismo ... 152
O Simbolismo em Portugal ... 153
Um pouco de História ... 153
Fim de século em Portugal ... 153
Estudo dos principais autores e obras ... 153
Eugênio de Castro ... 154
Antônio Nobre ... 154
Leitura: Soneto – Antônio Nobre ... 154
Camilo Pessanha ... 155
Leitura: Interrogação – Camilo Pessanha ... 156
E mais... ... 157
Resumindo o que você estudou ... 158
Atividades ... 159
9
O Simbolismo no Brasil ...162Primeira leitura: Antífona – Cruz e Sousa ... 162
Simbolismo brasileiro ... 163
E mais... ... 164
Estudo dos principais autores e obras ... 165
Cruz e Sousa ... 165
Leitura: Dor negra – Cruz e Sousa ... 166
Alphonsus de Guimaraens ... 167
Leitura: Hão de chorar por ela os cinamomos... – Alphonsus de Guimaraens ... 168
Resumindo o que você estudou ... 169
Gramática
1
Pronome (1.ª parte) ...174
Conceito de pronome ... 174
Classificação dos pronomes ... 175
Pronomes pessoais ... 175
Pronomes possessivos ... 181
Resumindo o que você estudou ... 182
Atividades ... 183
Da teoria à prática ... 186
Agora é sua vez ... 187
E mais... ... 189
2
Pronome (2.ª parte) ...191Classificação dos pronomes (continuação) ... 191
Pronomes demonstrativos ... 191
Pronomes indefinidos ... 194
Pronomes relativos ... 196
Pronomes interrogativos ... 199
Resumindo o que você estudou ... 199
Atividades ... 200
Da teoria à prática ... 202
Agora é sua vez ... 202
E mais... ... 204
3
Verbo (1.ª parte) ...205Conceito ... 206
Estudo geral do verbo ... 206
Conjugações verbais ... 206
Flexões do verbo ... 207
Classificações dos verbos ... 213
Resumindo o que você estudou ... 214
Atividades ... 215
Da teoria à prática ... 217
Agora é sua vez ... 217
4
Verbo (2.ª parte) ...220Composição dos modos verbais e empregos de seus tempos simples ... 220
Composição do modo indicativo ... 220
Principais empregos dos tempos do modo indicativo ... 222
Composição do modo subjuntivo ... 224
Principais empregos dos tempos do modo subjuntivo ... 225
Composição do modo imperativo ... 226
Aspecto verbal – as diferentes durações do tempo ... 228
Correlação entre os tempos verbais ... 228
Conjugação de alguns verbos ... 229
Resumindo o que você estudou ... 231
Atividades ... 232
Da teoria à prática ... 235
Agora é sua vez ... 236
E mais... ... 239
5
Palavras invariáveis ...240Palavras invariáveis (1.a parte) ... 240
Advérbio ... 240
Resumindo o que você estudou ... 243
Atividades ... 244
Palavras invariáveis (2.a parte) ... 245
Preposição ... 245
Resumindo o que você estudou ... 247
Atividades ... 248
Palavras invariáveis (3.a parte) ... 249
Conjunção ... 249
Interjeição ... 250
Resumindo o que você estudou ... 251
Atividades ... 251
Da teoria à prática ... 253
Agora é sua vez ... 254
6
A sintaxe • Sujeito e predicado ...258Sintaxe – a organização dos enunciados ... 258
Seleção, ordenação e combinação das palavras ... 258
Análise sintática ... 259
Sujeito e predicado ... 261
Conceitos ... 261
Características do sujeito ... 262
Classificação do sujeito ... 265
Oração sem sujeito ... 267
Resumindo o que você estudou ... 268
Atividades ... 269
Da teoria à prática ... 271
Agora é sua vez ... 272
E mais... ... 274
7
Os verbos no predicado • Termos associados ao verbo ...275Tipos de verbo no predicado ... 276
Verbo de ligação ... 276
Verbo significativo ... 277
Termos associados ao verbo (1.a parte) ... 278
Objeto direto e objeto indireto ... 279
Resumindo o que você estudou ... 282
Atividades ... 283
Termos associados ao verbo (2.a parte) ... 285
Agente da passiva ... 285
Adjunto adverbial ... 287
Resumindo o que você estudou ... 288
Atividades ... 289
Da teoria à prática ... 291
8
Termos associados a nomes • Vocativo ...294
Termos associados a nomes (1.a parte) ... 294
Adjunto adnominal ... 294
Predicativo ... 296
Resumindo o que você estudou ... 299
Atividades ... 300
Termos associados a nomes (2.a parte) ... 301
Complemento nominal... 301
Aposto ... 302
Vocativo... 304
Resumindo o que você estudou ... 305
Atividades ... 305
Da teoria à prática ... 308
Agora é sua vez ... 309
Redação e leitura
1
Linguagens: entre textos, entre linhas ...312Atividades ... 312
Elementos contextuais... 316
E mais... ... 317
Atividades ... 317
Resumindo o que você estudou ... 319
Critérios de avaliação e reelaboração ... 320
2
O diário pessoal ...321 Atividade ... 322 O predomínio da narração ... 322 Atividade ... 322 E mais... ... 324Resumindo o que você estudou ... 328
Critérios de avaliação e reelaboração ... 328
3
O relatório ...330Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios – Graciliano Ramos ... 330
E mais... ... 335
Atividades ... 335
Resumindo o que você estudou ... 337
Critérios de avaliação e reelaboração ... 338
4
A resenha ...341 Resumo e resenha ... 341 Atividades ... 343 E mais... ... 344 Atividades ... 346Resumindo o que você estudou ... 350
Critérios de avaliação e reelaboração ... 350
5
Do relato à narrativa ficcional: modos de apresentação de personagens ...351Atividades ... 352
E mais... ... 352
Atividades ... 358
Resumindo o que você estudou ... 360
Critérios de avaliação e reelaboração ... 361
6
Enredo linear e enredo não linear ...362O enredo linear ... 363
Enredo não linear ... 367
Atividades ... 369
E mais... ... 371
Resumindo o que você estudou ... 371
Critérios de avaliação e reelaboração ... 372
7
Narrador: a voz que conta a história ...373Tantas mulheres – Dalton Trevisan ... 373
Atividades ... 374 O conto ... 375 Atividades ... 375 Atividades ... 377 Atividades ... 378 E mais... ... 381
Resumindo o que você estudou ... 381
Critérios de avaliação e reelaboração ... 382
8
A dissertação ...385Atividades ... 387
E mais... ... 389
Resumindo o que você estudou ... 390
Critérios de avaliação e reelaboração ... 390
Referências ...392
Para aprender mais ...395
Lista de siglas ...400
Ícones de material digital complementar. Acione cada um deles no livro digital para ter acesso.
+
Vídeo/áudio Texto Imagens enriquecidas Objetos educacionais
Professor, a descrição de cada ícone encontra-se nas
Literatura
LITERA
TURA POR
TUGUESA
E
raM
Edi Ev alE
raC
lássi C aE
rar
o M ânti C a Tr ov ador ismo Humanismo Renascimento Bar roco Neoc lassicismo Romantismo Realismo Natur alismo Simbolismo Moder nismoSéculos XII a XIV Século XV Século XVI Séculos XVII/XVIII Século XVIII Século XIX Século XIX Século XIX Século XX • Cancioneir os • P oesia trov ador esca (cantigas) • Cancioneir o Geral • F er não Lopes • Gil V icente • Sá de Mir anda • Camões • Cultismo • Conceptismo • P e. Antônio V ieir a • Ar cádia Lusitana • No va Ar cádia • Boca ge • Almeida Gar rett • Ale xandr e Her culano • Camilo Castelo Br anco • Júlio Dinis
• Questão Coimbrã • Anter
o de Quental • Eça de Queirós • Eugênio de Castr o • Antônio Nobr e • Camilo Pessanha • Re vista Orpheu • F er nando Pessoa • Re vista Pr esença
LITERA
TURA BRASILEIRA
E
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olonialE
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a C ion al Quinhentismo Bar roco Neoc lassicismo Romantismo Realismo Natur alismo Simbolismo Pré-Moder nismo Moder nismo Século XVI Séculos XVII/XVIII Século XVIII Século XIX Século XIX Século XIX Século XX Século XX • Descobr imento • Liter atur a inf or mativ a • Liter atur a catequética • J osé de Anc hieta • Bahia • Gr egór io de Matos • Minas Ger ais • Cláudio Man uel da Costa • Tomás Antônio Gonza ga• Basílio da Gama • Santa Rita Durão • Independência • Gonçalv es Dias • Álv ar es de Aze vedo • Castr o Alv es • J oaquim Man uel de Macedo • J osé de Alencar • Mac hado de Assis • Aluísio Aze vedo • Raul P ompeia P ar nasianismo • Ola vo Bilac • Cr uz e Sousa • Alphonsus de Guimar aens • A
ugusto dos Anjos
• Euc lides da Cunha • Lima Bar reto • Monteir o Lobato • Gr aça Ar anha • Semana de 22 • Már io e Os w ald de Andr ade • Ger ação de 30 • Ger ação de 45
• Guimarães Rosa • Clar
ice Lispector
QUADRO GERAL DAS LITERA
TU
RAS
O Romantismo em Portugal
•
9
1
c
a
pí
tulo
LITE RA TU RAO Romantismo
em Portugal
Vênus saindo do banho.Christophe-Gabriel Allegrain. 1767. Museu do Louvr
e, Paris.
Foto: Hervé Lewandowski/RMN/Otherimages
Primeira leitura
Texto
Soneto
Ó tranças, de que Amor prisão me tece, Ó mãos de neve, que regeis meu fado! Ó tesouro! ó mistério! ó par sagrado, Onde o menino alígero adormece. Ó ledos olhos, cuja luz parece Tênue raio do sol! Ó gesto amado, De rosas e açucenas semeado
Por quem morrera esta alma, se pudesse! Ó lábios, cujo riso a paz me tira,
E por cujos dulcíssimos favores Talvez o próprio Júpiter suspira! Ó perfeições! Ó dons encantadores!
De quem sois?... Sois de Vênus? – É mentira; Sois de Marília, sois de meus amores.
BOCAGE. In: ALMEIDA, Fernando Mendes de (Sel.). Sonetos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993. p. 53.
Texto
Ideal
Aquela, que eu adoro, não é feita De lírios nem de rosas purpurinas, Não tem as formas lânguidas, divinas, Da antiga Vênus de cintura estreita... Não é a Circe, cuja mão suspeita Compõe filtros mortais entre ruínas, Nem a Amazona, que se agarra às crinas Dum corcel e combate satisfeita... A mim mesmo pergunto, e não atino Com o nome que dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino... É como uma miragem que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidão,
Nuvem, sonho impalpável do Desejo...
QUENTAL, Antero de. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 1985. p. 307-308.
fado – destino, sorte
menino alígero (ligeiro, veloz) – Cupido, símbolo do amor, filho de Vênus ledo – alegre gesto – rosto, fisionomia açucena – lírio
A palavra
no texto
A palavra
no texto
Circe (mitologia grega) – feiticeira que morava na ilha de Ea, onde fabricava poções mágicas
Amazona (mitologia grega) – mulher de uma antiga nação de guerreiras da Capadócia (na atual Turquia). Em sua cidade (Temiscira) os homens só eram admitidos uma vez por ano. Os filhos nascidos dessa união eram mortos ou entregues aos pais; as filhas eram educadas como guerreiras e caçadoras
Professor, a atividade da seção “E mais...” da p. 11 requer preparação antecipada.
10
Em tom de
conversa
Antes de fazer as atividades de releitura, para interpretar e comparar os dois textos, ajude seus cole-gas a responder às seguintes questões sobre o texto 1.
1. A quem se dirige o eu lírico do texto 1?
2. Qual o significado da oração “de que Amor prisão me tece”?
3. A que termo anterior se refere a expressão “ó par sagrado”, da primeira estrofe?
4. Em que tempo está o verbo morrer no verso 8? Com qual valor esse tempo verbal foi empregado? 5. Como se pode interpretar o substantivo favores na terceira estrofe?
6. Nos dois últimos versos há uma comparação implícita. Explique-a.
Re
leitura
1. Explique por que o soneto de Bocage, ao fazer a descrição da mulher amada, deve ser considerado
neoclássico.
2. Releia o segundo soneto. Que imagens o sujeito lírico recusa, nas duas primeiras estrofes, para re-presentar a mulher amada?
Ele recusa as imagens retiradas da mitologia: Vênus, a deusa do amor; Circe, a feiticeira; as guerreiras Amazonas.
3. Mesmo negando as idealizações tradicionais, o sujeito lírico descreve uma imagem idealizada da
mulher.
Já na primeira estrofe há um verbo que indica a idealização da mulher como um ser sublime, divino. Qual é esse verbo? É o verbo adorar: “Aquela, que eu adoro”.
4. Existem várias formas de idealização:
• pode-se criar um ideal de mulher, de modo puramente racional – nesse caso, tem-se um conceito de mulher, uma abstração;
• pode-se idealizar uma mulher real, exagerando suas qualidades – nesse caso, tem-se a deformação da realidade pelos sentimentos (“quem ama o feio, bonito lhe parece”);
• pode-se, ainda, apenas criar a mulher pela imaginação – nesse caso, a mulher não é apenas um
conceito, mas também não é real; é um ser imaginário, que existe na fantasia de um sonhador.
a) Em qual desses três casos se pode incluir a mulher ideal descrita pelo soneto neoclássico (texto 1)? Justifique sua resposta.
b) E a mulher ideal descrita pelo segundo soneto? Justifique sua resposta.
c) Copie do poema quatro expressões que comprovem a resposta anterior.
Comentário
Nesses sonetos podemos perceber a oposição entre as duas atitudes estéticas que separam a história moderna da literatura ocidental em dois grandes blocos: o clássico e o romântico.
O Classicismo, em sentido amplo (do século XVI ao XVIII, abrangendo o Renascimento, o Barroco e o Neoclassicismo), idealiza a realidade pela percepção racional. A representação da Mulher, por exemplo, busca concretizar, na linguagem poética, um ideal abstrato de perfeição, por meio de convenções, como a da pastora Marília, e de imagens retiradas da mitologia greco-latina, como Vênus, Circe, as Amazonas.
1. Ele se dirige a partes do corpo da mulher amada: tranças, mãos, olhos, rosto (gesto), lábios.
Professor: fazer observar que o verso 12 resume, nas expressões “perfeições” e “dons encantadores”, a lista de invocações semeadas ao longo do soneto.
O Amor prende, subjuga o eu lírico com as tranças da mulher amada. O eu lírico é fascinado pela beleza dos cabelos da amada. “mãos de neve”
No pretérito mais-que-perfeito do indicativo. Foi empregado com valor de futuro do pretérito: “morreria”.
“Favor” significa obséquio, algo que se concede sem obrigação. No contexto, significa a dádiva que Júpiter gostaria de receber dos lábios da mulher amada: beijos muito doces.
O eu lírico pergunta se todos os atributos de perfeição descritos ao longo do poema pertencem a Vênus. Responde dizendo que eles são de Marília. Portanto, Marília se compara à deusa da
beleza e do amor.
O sujeito lírico idealiza a amada, descrevendo-a como um ser perfeito, de beleza inigualável. Para isso utiliza figuras da mitologia greco-latina, que inserem a mulher na esfera dos deuses: Cupido dorme em seus braços (ou em seus seios: “par sagrado”); seus lábios provocam o desejo do próprio Júpiter; seus dons confundem-se com os de Vênus. Além disso, a amada recebe o nome de Marília, comum às pastoras do Arcadismo.
No primeiro caso. No Classicismo a descrição cria um ser ideal, genérico, não individualizado. Assim, Marília, a bela pastora da Arcádia, é uma criação tipificada e padronizada, não correspondendo às experiências concretas e individuais do poeta ou dos leitores.
Pode ser incluída no terceiro caso. A mulher descrita é apenas fruto da imaginação, do sonho. “visão”, “miragem”, “nuvem”, “sonho impalpável”.
O Romantismo em Portugal
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O Romantismo, que, em sentido amplo, é a tendência estética predominante do século XIX aos dias atuais, não procura representar a realidade conceitualmente – o Bem, a Beleza, a Mulher. Recusa, do mesmo modo, as representações simbólicas eruditas da mitologia clássica. Ele também idealiza a realida-de, mas por meio da emoção e da imaginação.
Ao autor romântico interessa sobretudo a expressão das emoções que a realidade provoca. Nem a Mulher (ideia) nem a mulher real o interessam, mas o sonho, a fantasia, a imagem provocada pelo desejo.
Significados da palavra “romantismo”
O substantivo romantismo e o adjetivo romântico podem ser empregados com diferentes significados, para os quais devemos estar atentos:
• Na história da literatura e na crítica literária podem se referir:
- em sentido restrito, à escola literária que dominou a primeira metade do século XIX (substantivo) e às obras e autores que pertencem a essa escola (adjetivo). Exemplos: “O Romantismo teve início na Inglaterra e na Alemanha”; “José de Alencar é um autor romântico”;
- em sentido amplo, a toda uma era da história da literatura – a Era Romântica – que abrange as escolas literárias dos séculos XIX e XX e as tendências atuais.
• Na linguagem comum, referem-se a qualquer atitude muito sentimental, sonhadora, fantasiosa, desprovida de senso prático. Exemplos: “Você precisa encarar a vida com menos romantismo”; “Como você é romântico!”.
Com esse significado, utilizam-se também essas palavras em referência a artistas e obras que possuem algumas das características típicas do Romantismo (emocionalismo, sentimentalismo, fantasia etc.), sobretudo quando desenvolvem temas amorosos. Exemplos: “Pixinguinha é um compositor romântico”; “Gosto mais de filmes românticos”.
E mais...
Apresentação
Seja o amor como o tempo – não se gaste e, se gasto, renasça, noite clara
que acolhe a treva, e é clara novamente.
IVO, Lêdo. Soneto puro. In: ______. Poesia completa: 1940-2004. Rio de Janeiro: Topbooks, 2004. p. 206.
Você acha que a temática amorosa envelheceu ou continua viva na poesia de nossa época? Junte-se aos colegas para realizar uma atividade que os ajudará a responder a essa pergunta.
1. Preparação
Com a ajuda de seus colegas de grupo:
• pesquise e escolha alguns poemas que desenvolvem o tema do amor (podem ser poemas de qual-quer época, mas não deixe de considerar obras dos séculos XX e XXI);
• pesquise e escolha algumas letras de canções populares de temática amorosa;
• escreva um pequeno texto com comentários a respeito dos poemas e letras escolhidos e que sirva de roteiro para a apresentação.
2. Apresentação
Os membros do grupo devem se alternar na leitura do texto-roteiro e dos poemas escolhidos. Organizem uma apresentação bem dinâmica, com fundo musical e projeção de vídeos e slides. Se houver músicos no grupo, podem colaborar com a interpretação das canções escolhidas.
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Leitura de
imagem
François Boucher (1703-1770), pintor francês tornou-se muito conhecido por suas figuras idílicas, plenas de volume, geralmen-te retratadas em poses sensuais.
Esse quadro não pretende represen-tar uma mulher, mas sim a Mulher ideal, a Beleza ideal.
Por isso o artista utiliza figuras mitológi-cas, cujos significados são conhecidos pelo observador do quadro: Vênus, deusa da beleza e do amor, e os Cupidos (meninos alados; no soneto de Bocage, “menino alí-gero”), que fazem a toalete da deusa.
A toalete é alegoria da beleza e da sen-sualidade.
Eugène Delacr
oix. 1827. Óleo sobr
e tela. Museu de Belas Artes, L
yon
François Boucher
. 1751. Óleo sobr
e tela. Museu Metr
opolitano, Nova Y
ork
A toalete de Vênus (1751), de François Boucher.
Mulher com papagaio (1827), de Eugène Delacroix.
Eugène Delacroix (1798-1863) é o maior pintor romântico francês. O quadro Mulher com papagaio não é uma alegoria.
O ambiente desarrumado, as roupas, o relaxamento do corpo, a luz matinal, tudo indica um fim de festa. É como se a mulher estivesse sendo espreitada em sua intimidade e o observador do quadro par-ticipasse desse olhar indiscreto.
O Romantismo em Portugal
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13
LITE RA TU RAUm pouco de História
Ao estudarmos o Neoclassicismo, vimos que muitos autores abandonaram parcialmente as convenções do Arcadismo e imprimiram em suas obras um tom mais pessoal e emocional. Essa tendência pré-român-tica mostra que o Romantismo não surgiu repentinamente, no início do século XIX. Suas origens estão ligadas às grandes transformações políticas, sociais e ideológicas ocorridas na Europa ao longo da segunda metade do século XVIII – transformações tão profundas, que mudaram toda a história subsequente.
As revoluções do século XVIII –
As origens do Romantismo
A burguesia, classe social que iniciara sua trajetória ascendente na última fase da Idade Média, já reunira, no século XVIII, as condições necessárias para tornar-se a classe hegemônica, em substituição à aristocracia. Alguns acontecimentos marcam esse processo:
• Já no século anterior, na Inglaterra, a Revolução Gloriosa (1688-1689) instituíra a Declaração de Direitos (Bill of Rights), que limitava os poderes do rei, submetendo-os ao Parlamento. Era o fim da monarquia absoluta na Inglaterra.
• Por volta de 1750 iniciou-se na Inglaterra a chamada Revolução Industrial, que se alastraria pela Europa ao longo do século XIX. A substituição da produção artesanal pela industrial teve como conse-quência, além da formação de uma nova classe – o proletariado –, a radical mudança do estilo de vida. • A Revolução Francesa (1789-1799) representa a tomada do poder político pela burguesia. Os ideais
revolucionários de liberdade espalharam-se pela Europa e pelas Américas, inspirando outros movi-mentos.
As grandes mudanças políticas, econômicas e sociais iniciadas por essas revoluções seriam consoli-dadas ao longo do século seguinte e deveriam, forçosamente, afetar toda a produção cultural, as artes e a literatura. O Classicismo era a arte do mundo aristocrático; o Romantismo, lentamente gestado no século XVIII, foi a primeira manifestação artística do mundo burguês.
No prefácio da peça Hernani, estreada em 1830, Victor Hugo escreveu:
“O Romantismo, tantas vezes mal definido, é apenas, e esta é sua definição verdadeira, o liberalismo em literatura”.
Quadro retratando a Tomada da Bastilha.
Escola Francesa. Séc. XVIII. Óleo sobr
e tela. Museu do Palácio de V
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Leitura
Victor Hugo é um dos maiores autores do Romantismo francês. O texto a seguir é um fragmento do prefácio, escrito para a edição de
Cromwell, drama publicado em 1827. Leia-o atentamente e responda
às questões.
Digamo-lo, pois, ousadamente. Chegou o tempo disso, e seria estranho que nesta época, a liberdade, como a luz, penetrasse por toda a parte, exceto no que há de mais nativamente livre no mundo, nas coisas do pensamento. Destruamos as teorias, as poéticas e os sistemas. Derrubemos este velho gesso que mascara a fachada da arte! Não há regras nem modelos; ou antes, não há
outras regras senão as leis gerais da natureza que plainam sobre toda a arte, e as leis especiais que, para cada composição, resultam das condições de existência próprias para cada assunto. Umas são eternas, interiores, e permanecem; as outras, variáveis, exteriores, e não servem se-não uma vez. As primeiras são o madeiramento que sustenta a casa; as segundas, os andaimes que servem para construí-la e que se refazem para cada edifício. [...] O gênio, que adivinha antes de aprender, extrai, para cada obra, as primeiras da ordem geral das coisas, as segundas do conjunto isolado do assunto que trata. Não à maneira do químico que acende seu foga-reiro, sopra seu fogo, esquenta seu cadinho, analisa e destrói; mas à maneira da abelha, que voa com suas asas de ouro, pousa sobre cada flor, e tira o mel, sem que o cálice nada perca de seu brilho, a corola nada de seu perfume.
O poeta, insistamos neste ponto, não deve, pois, pedir conselho senão à natureza, à
verda-de, e à inspiração, que é também uma verdade e uma natureza. Diz Lope de Vega*:
Cuando he de escribir una comedia,
Encierro los preceptos con seis llaves.
HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime: tradução do prefácio de Cromwell. Trad. Celia Berretini. São Paulo: Perspectiva, [s.d.]. p. 56-57.
* Lope de Vega (1562-1635) – dramaturgo barroco espanhol. Tradução dos versos de Lope de Vega: “Quando tenho de escrever uma comédia / Encerro os preceitos (as regras) com seis chaves”.
Re
leitura
1. Considerando o que você estudou sobre a relação entre o Romantismo e a história europeia dos séculos XVIII e XIX, explique a frase “[...] seria estranho que nesta época, a liberdade, como a luz, penetrasse por toda a parte, exceto no que há de mais nativamente livre no mundo, nas coisas do pensamento”.
2. Quais são as duas características do Classicismo contra as quais um autor romântico deve se insurgir? As duas características são a obediência às regras e a imitação dos modelos clássicos.
3. Mesmo assim, Victor Hugo reconhece dois tipos de leis que devem presidir a criação artística.
a) Quais são essas leis? São as leis gerais da natureza e as leis especiais para cada composição.
b) A que se referem, no texto, os pronomes indefinidos umas/outras e os numerais ordinais primeiras/
segundas?
Umas e primeiras referem-se às leis gerais da natureza. Outras e segundas, às leis especiais para cada composição.
c. 1870-1885. Biblioteca do Congr
esso, W
ashington
Fotografia de Victor Hugo.
1. Com as revoluções do século XVIII, a burguesia substituiu a aristocracia
no poder político e tornou-se a classe hegemônica. O liberalismo burguês passou a ser a ideologia dominante, penetrando em todos os setores da vida social e política. Victor Hugo afirma que seria contraditório se as “coisas do pensamento” – a literatura – não fossem também penetradas pelo ideal burguês de liberdade. O Romantismo seria a realização desse ideal.
O Romantismo em Portugal
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4. Pelo que se depreende do texto, a primeira coisa que se exige de uma obra romântica é a originali-dade. Por que os dois tipos de leis que presidem a criação não contradizem essa exigência?
5. Separe, em duas colunas, as palavras e expressões abaixo, conforme indiquem características do
Classicismo e do Romantismo, na opinião de Victor Hugo:
liberdade – obediência a regras – originalidade – imitação – gênio criador – inspiração – preceitos Classicismo: obediência a regras; imitação; preceitos.
Romantismo: liberdade; originalidade; gênio criador; inspiração.
Características do Romantismo
A afirmação de Victor Hugo de que, em sua época, a liberdade, como a luz, penetrava por toda a parte, traduz a crença do século XIX nas doutrinas liberais da burguesia: o liberalismo econômico (livre concorrência entre os indivíduos, sem a intervenção do Estado) e o liberalismo político (oportunida-des iguais para todos, independente da classe social; garantia dos direitos do indivíduo em relação ao Estado). Refletindo essas doutrinas, o Romantismo proclama a liberdade de criação e de expressão: “Não há regras nem modelos”, diz Victor Hugo.
Vejamos as principais características e tendências do Romantismo:
• Subjetivismo, emocionalismo, confessionalismo – Estas características já serviram para assinalar as obras de tendência pré-romântica, quando estudamos o Neoclassicismo. Os autores clássicos pro-curam refletir sobre os sentimentos (generalização, idealização, racionalização) ou exprimi-los indire-tamente, recorrendo às alegorias mitológicas; os românticos, ao contrário, buscam a expressão direta das emoções. Camões diz “Amor é...”; os românticos, “eu amo...”. Rompendo o decoro clássico, pretendem que a poesia seja a confissão sincera de estados de alma do poeta. A exacerbação dos sentimentos leva a uma dicção exaltada, pontuada de exclamações, interrogações, reticências, e cheia de interjeições:
4. As leis gerais da natureza não contradizem a exigência de originalidade porque são comuns a toda a arte. Não é, portanto, na natureza
que reside a originalidade. As leis especiais também não a contradizem, porque “resultam das condições de existência próprias para cada assunto”, servindo, portanto, só uma vez. “Não servir senão uma vez” é o mesmo que ter originalidade.
Camille Cor
ot. c. 1868. Óleo sobr
e tela.
W
allraf-Richartz-Museum, Colônia. Foto: AKG Images/Latinstock
Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma. E eu n’alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo. Ai! não te amo, não. [...]
E quero-te, e não te amo, que é forçado, De mau feitiço azado
Este indigno furor. Mas oh! não te amo, não. E infame sou, porque te quero; Que de mim tenho espanto, De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
GARRETT, Almeida. Não te amo. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix. p. 244.
A poesia (1868), de Jean-Baptiste Camille Corot.
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• Pessimismo – Frequentemente as obras românticas exprimem atitudes negativas em relação à vida. O individualismo e o egocentrismo adquirem traços doentios de inadaptação. O spleen (melancolia) do poeta inglês Lord Byron fez escola em todas as literaturas, sobretudo na segunda geração romântica.
Dizem que há gozos no correr da vida... Só eu não sei em que o prazer consiste! – No amor, na glória, na mundana lida, Foram-se as flores – a minh’alma é triste!
ABREU, Casimiro de. Minh’alma é triste. In: MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1984. p. 161-162.
• Escapismo – O tédio de viver, também chamado “mal do século”, conduz às diversas formas de fuga da realidade. Essa fuga passa a ser expressa em narrativas de aventuras ambientadas em lugares exó-ticos ou em um passado misterioso; em narrativas fantásticas, envolvendo o sobrenatural; no culto da imaginação (o devaneio, o sonho, o delírio), tendo como pano de fundo os ambientes noturnos e o desejo da morte como última solução para o indivíduo.
Era uma noite – eu dormia E nos meus sonhos revia As ilusões que sonhei! E no meu lado senti...
Meu Deus! por que não morri? Por que do sono acordei?
AZEVEDO, Álvares de. O poeta. In: . Lira dos vinte anos. Rio de Janeiro: Garnier, 1994. p. 27.
Não se deve pensar, entretanto, que o Ro mantismo se limitou ao egocentrismo, ao escapismo e à visão negativa da vida. Uma de suas vertentes é afirmativa e engajada nas grandes questões sociais e políticas do século XIX.
• Nacionalismo, historicismo e medievalismo – Exaltando os valores e os heróis nacionais, alguns autores ambientam suas obras no passado histó-rico, sobretudo no período medieval. O roman-ce histórico tem início na Inglaterra, na obra de Walter Scott.
• Valorização das fontes populares – o folclore – Além das pesquisas e do trabalho de registro das narrativas orais e das canções populares, os autores buscam nessas fontes inspiração para suas próprias obras. Essa utilização literária da tradição popular é também uma das manifestações do na-cionalismo romântico.
• Crítica social – Muitos autores românticos as-sumem uma posição combativa, opondo-se aos valores burgueses e denunciando as injustiças so-ciais. Esse engajamento ocorre principalmente na
última fase do Romantismo. Iluminura do Grande livro das canções (1305-1340), de Walther von Klingen.
W
alther von Klingen. 1305-1340. Iluminura. Biblioteca Palatina, Heidelber
O Romantismo em Portugal
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LITE RA TU RALeitura de
imagem
Espírito inquieto, Eugène Delacroix participou, em julho de 1830, das barricadas de Paris, levante popular espontâneo contra a dissolução do Parlamento pelo rei Carlos X.
O quadro A Liberdade conduzindo o povo, pintado no mesmo ano, tem como tema esse aconte-cimento parisiense.
Eugène Delacr
oix. 1830. Óleo sobr
e tela. Museu do Louvr
e, Paris
O ideal dos românticos: “A liberdade na arte, a liberdade na sociedade, eis a dupla finalidade para a qual todos os espíritos consequentes e lógicos devem contribuir”. (Victor Hugo)
Observe as figuras: em primeiro plano, parte inferior, os cadáveres, acentuando as linhas horizontais. Na parte central destaca-se a figura da mulher liderando os revoltosos e predominam as linhas verticais.
Observe a vivacidade das cores, a luminosidade e os contrastes que acentuam o tom emocional do quadro.
A mulher representa a Liberdade liderando o povo na conquista da liberdade. Representa também a República. Os seios expostos simbolizam suas virtudes; a bandeira tricolor, os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa.
Mesmo na pintura, o
confessionalismo romântico se manifesta: o homem com o fuzil é o autorretrato de Delacroix.
Observe a postura e os gestos dramáticos das personagens, traduzindo suas emoções.
Delacroix muitas vezes se inspirava na literatura. No caso deste quadro, entretanto, acredita-se que o menino tenha inspirado Victor Hugo na criação de Gavroche, personagem do romance Os Miseráveis.
A composição e a distribuição da luz forma uma pirâmide cuja base são os cadáveres, e o vértice, a cabeça da Liberdade e a bandeira.
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As gerações românticas
Como você percebeu na descrição das características do movimento, não se deve pensar que o Romantismo é uniforme em suas manifestações. Pelo contrário, possui tendências tão diversas, que po-deríamos falar de romantismos.
Embora as características estudadas possam ser observadas em qualquer momento da história do Romantismo, os historiadores apontam uma nítida evolução representada por três gerações de autores, cada uma marcada pela predominância de certos traços e temas.
• Primeira geração
Os primeiros autores românticos ainda conservam características clássicas, sobretudo no que se refere às regras da criação literária. Os temas que marcam essa fase estão ligados ao nacionalismo: em Portugal, o romance histórico e o medievalismo; no Brasil, o indianismo.
• Segunda geração
Chamada de Ultrarromantismo, caracteriza-se pelo exage-ro do subjetivismo e do emocionalismo: o tédio, a melanco-lia, o devaneio, o sonho, o desejo da morte – um mal-estar profundo, que reflete a impossibilidade de viver dignamente em um mundo corrompido pelos valores burgueses. Essa ati-tude pessimista generalizada – muitas vezes piegas, outras, francamente cínica – foi considerada o mal do século pelo ultrarromântico francês Alfred de Musset, cuja obra, com a do poeta inglês Lord Byron, exerceu grande influência sobre os autores dessa geração.
• Terceira geração
É caracterizada principalmente pelo engajamento dos autores nas questões sociais e políticas da época. Como você estudará em capítulos posteriores, esses temas serão também uma das marcas do Realismo e do Naturalismo da segunda metade do século XIX. Mas, diferentemente dessas escolas, a terceira geração romântica manteve o sentimentalismo e o tom emocional, exaltado, por vezes gran-diloquente, característicos do Romantismo. A obra do francês Victor Hugo foi a que maior influência exerceu sobre os autores dessa geração.
O Romantismo em Portugal
O início do Romantismo em Portugal foi um tanto tardio em relação a outros países europeus. Nas primeiras décadas do século XIX, à exceção da poesia pré-romântica de Bocage, perdura um neoclassicismo convencional e pouco significativo, dominado pela influência do escritor Felinto Elísio.
Em 1825, Almeida Garrett, vivendo no exílio, onde teve contato com as obras dos autores românticos ingleses, publica o poema narrati-vo “Camões”, considerado pelos historiadores como marco inicial do Romantismo português.
Em 1865 uma polêmica que ficou conhecida como Questão Coimbrã marcará o término do Romantismo e o início do Realismo em Portugal.
Sally and Richard Gr
eenhill/Alamy/Otherimages
Estátua de Lord Byron.
Questão Coimbrã – polêmica estética e ideológica envolvendo, de um lado, os mais reconhecidos autores românticos, e, de outro, uma geração de estudantes das várias faculdades de Coimbra, liderada por Antero de Quental e Teófilo Braga, que seria responsável pela introdução do Realismo em Portugal.
O Romantismo em Portugal
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LITE RA TU RA Os historiadores reconhecem mudanças de estilo e de temas ao longo das quatro décadas de du-ração do Romantismo na literatura portuguesa, e apontam uma evo-lução em três momentos, confor-me se sucederam as gerações dos autores. Devemos, no entanto, relativizar esses agrupamentos te-mático-estilísticos, lembrando que alguns autores tiveram longa vida produtiva e ultrapassaram os limites das gerações em que são incluídos. É o caso de Almeida Garrett e de Camilo Castelo Branco.Francisco Metrass. 1856. Óleo sobr
e tela. Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Lisboa
Só Deus (1856), do artista português Francisco Metrass.
Um pouco de História
No início do século, Portugal, historicamente aliado à Inglaterra, viu-se envolvido numa sucessão de guerras contra a França. Em 1807, Napoleão Bonaparte, aliado à Espanha, invadiu Portugal para ga-rantir o bloqueio continental à Inglaterra. As consequências foram a fuga da família real para o Brasil e uma longa guerra, só terminada em 1811. Entretanto, após a retirada dos franceses, o país continuou sofrendo a intervenção inglesa em seu governo, o que provocou a revolução militar de 1818 e a revolta do Porto, em 1820. A partir de então e até os meados do século, Portugal seria constantemente abalado pelas lutas políticas e pela guerra civil entre conservadores (absolutistas) e liberais (favoráveis a uma mo-narquia constitucional). Principais acontecimentos do período:
• A Constituição de 1822, elaborada a partir da vitoriosa revolução liberal do Porto, instituiu a liberdade de imprensa, a separação dos poderes, com a atribuição do Poder Legislativo a representantes eleitos (cortes). • Em 7 de setembro de 1822, o Brasil tornava-se independente. Apesar disso, as cortes reconheciam,
em 1825, D. Pedro I como herdeiro do trono português.
• Em 1828, o infante D. Miguel, irmão de D. Pedro, liderou a revolta de Vila Franca (Vilafrancada), que restabeleceu o absolutismo.
• Entre 1828 e 1834 ocorria a guerra civil opondo os absolutistas, lidera-dos por D. Miguel, e os liberais, lideralidera-dos por D. Pedro (I do Brasil e IV de Portugal), com a vitória final destes últimos. Segue-se ainda, entretanto, um longo período de agitações políticas, alternando-se a vigência da Constituição liberal de 1822 e a da Carta Constitucional de D. Pedro, de 1824. A conciliação política só se estabelece a partir de 1851, no período chamado Regeneração.
Portugal na primeira metade do século XIX
• Invasão napoleônica – bloqueio continental (1807-1811).• Interferência inglesa.
• Independência do Brasil (1822).
• Guerra civil entre absolutistas e liberais (1828-1834).
• Regeneração (1851). Regeneração – período da história de Portugal (1851-1908) que aglutinou o apoio de liberais e conservadores em torno de um programa de governo visando implementar, além do ensino técnico, a industrialização, a construção de ferrovias e rodovias, e mais tarde a colonização das possessões portuguesas na África.
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Primeira geração romântica portuguesa
Duas características principais singularizam os autores da primeira geração no conjunto do Romantismo português:
1. formados na época anterior, não se libertam facilmente das características do Neoclassicismo, que transparecem sobretudo numa certa contenção racional, impeditiva da plena expansão das emoções; 2. em razão do envolvimento nos embates ideológicos e políticos que marcaram a história portugue-sa da primeira metade do século XIX, alguns autores alinham-se com os conservadores, outros, com os liberais. No entanto, há em todos um acentuado nacionalismo, manifesto sobretudo na preocupação de resgatar a história da formação do país (historicismo, medievalismo) e as tradições populares (folclore).
Os principais autores dessa geração foram Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Antônio Feliciano de Castilho.
Almeida Garrett (1799-1854)
O introdutor do Romantismo em Portugal foi uma das figuras públicas mais notáveis e atuantes de sua época. Além de participar ativamente na política (revolucionário liberal, deputado em várias legislaturas, ministro de Estado), João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett foi um grande agitador cultural. Dedicou-se ao jornalismo, à crítica e à história literária, à poesia, à prosa de ficção e ao teatro.
Em sua vasta obra destacam-se: Viagens na minha terra (prosa), Folhas caídas (poesia) e Frei Luís de Sousa (teatro).
Principais obras de Almeida Garrett
• Poesia: Camões (1825); Dona Branca (1826); Lírica de João Mínimo (1829);
Flores sem fruto (1845); Folhas caídas (1853).
• Prosa: Viagens na minha terra (1843-45); O arco de Santana (1845-50).
• Teatro: Catão (1822); Mérope (1841); Um auto de Gil Vicente (1842); O
alfageme de Santarém (1842); Frei Luís de Sousa (1844); D. Filipa de Vilhena
(1846).
• Ensaio e história literária: Bosquejo da história da poesia e língua portuguesa (1826); Da educação (1829); Portugal na balança da Europa (1830).
Viagens na minha terra
Obra de difícil classificação, mistura características do relato de viagens, do diário íntimo, do en-saio, da reportagem jornalística e do romance (não nos esqueçamos de que o Romantismo prega a mistura dos gêneros, como forma de liberdade de criação). O núcleo da narrativa é o relato de uma viagem de Lisboa a Santarém (baseado numa experiência real do autor, em 1843). Mas o narrador faz, ao longo dos 49 capítulos, digressões de todo tipo e a qualquer propósito: comentários sobre política e administração pública, o clero, o amor, a arte e a literatura, mantendo sempre um tom leve, jornalístico e irônico. No capítulo X, estando já o narrador no vale de Santarém, toma conhecimento da história amorosa de Joaninha, a menina dos rouxinóis, e seu primo Carlos. Desse ponto em diante, o autor entremeia na narrativa os lances dessa novela sentimental, que possui todos os ingredientes românticos: paixão e ciúme, mistérios e reconhecimentos... e um final trágico, com o distanciamento do herói e a morte da heroína.
O Romantismo em Portugal
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LITE RA TU RALeitura
Viagens na minha terra exerceu grande e duradoura influência sobre as literaturas de Portugal e Brasil. No final do século XIX, Machado de Assis reconhece essa influência no prefácio da terceira edi-ção de Memórias póstumas de Brás Cubas. De fato, como estudaremos mais adiante, no capítulo 6, esse primeiro romance realista brasileiro possui algumas características semelhantes às das Viagens de Garrett: tom irônico, quebra da linearidade narrativa por constantes digressões, metalinguagem, con-versas com o leitor. Tanto Almeida Garrett quanto Machado de Assis tiveram como precursor o irlandês Laurence Sterne (1713-1768), cujo romance A vida e as opiniões do cavalheiro Tristam Shandy, de modo ainda mais radical, apresenta as mesmas características.
Leia, a seguir, os três fragmentos dessas obras.
Texto
Viagens na minha terra
Capítulo XXXII
(fragmento)
Escuta! disse eu ao leitor benévolo no fim do último capítulo. Mas não basta que escute, é preciso que tenha a bondade de se recordar do que ouviu no capítulo XXV e da situação em que aí deixamos os dois primos, Carlos e Joaninha.
Neste despropositado e inclassificável livro das minhas Viagens, não é que se quebre, mas enreda-se o fio das histórias e das observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode deslindar e seguir em tão embaraçada meada.
Vamos pois com paciência, caro leitor; farei por ser breve e ir direito quanto eu puder.
GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. Porto: Livraria Simões Lopes, 1949. p. 235.
Texto
Memórias póstumas de Brás Cubas
Capítulo LXXIII
(fragmento)
O despropósito fez-me perder outro capítulo. Que melhor não era dizer as coisas lisamente, sem todos estes solavancos! Já comparei o meu estilo ao andar dos ébrios. Se a ideia vos parece indecorosa, direi
que ele é o que eram as minhas refeições com Virgília, na casinha da Gamboa, onde às vezes fa-zíamos a nossa patuscada, o nosso luncheon. Vinho, fruta, compotas. Comíamos, é verdade, mas era um comer virgulado de palavrinhas doces, de olhares ternos, de criancices, uma infinidade desses apartes do coração, aliás o verdadeiro, o ininterrupto discurso do amor. Às vezes vinha o arrufo temperar o nímio adocicado da situação. Ela deixava-me, refugiava-se num canto do canapé, ou ia para o interior ouvir as denguices de Dona Plácida. Cinco ou dez minutos depois, reatávamos a palestra, como eu reato a narração, para desatá-la outra vez. Note-se que, longe de termos horror ao método, era nosso costume convidá-lo, na pessoa de D. Plácida, a sentar-se conosco à mesa; mas D. Plácida não aceitava nunca.
ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. I, p. 584.
luncheon – (inglês) m. q. lunch; lanche, refeição leve
A palavra
no texto
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Texto
A vida e as opiniões do cavalheiro Tristam Shandy
Capítulo XLI
(fragmento)
Essas foram as quatro linhas que segui no meu primeiro, segundo, terceiro e quarto volumes. – No quinto, fui muito bem, – sendo esta a linha precisa que nele descrevi:
Por ela se evidencia que, exceto na curva assinalada A, onde dei um pulo até Navarra, – e na curva denteada B, que corresponde ao breve passeio ao ar livre em que acompanhei a Dama Baussiere e seu pajem, – não fiz nenhuma cabriola digressiva, até os demônios de João de la Casse me compelirem à volta que vedes assinalada com um D – pois quanto aos c c c c c, são apenas parênteses [...]
Se eu continuar a corrigir-me nesse passo, não é impossível [...] que eu possa chegar doravan-te à perfeição de prosseguir assim:
o que é a linha mais reta que pude traçar com uma régua de mestre de caligrafia, (que tomei emprestada para tal fim), sem curvas nem para a direita nem para a esquerda.
[...]
– A melhor linha! dizem os plantadores de couve – é a mais curta, diz Arquimedes, que possa ser traçada de um a outro ponto dado. –
Quisera que vós, senhoras, tomassem esta questão a peito em vos-sos próximos trajes para uma festa de aniversário!
– Que viagem!
STERNE, Laurence. A vida e as opiniões do cavalheiro Tristam Shandy. Trad. José Paulo Paes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 461-462.
sementes frias – sementes de pepino, abóbora etc. que se acreditava terem efeito refrescante e calmante sobre as paixões [nota de José Paulo Paes]
A palavra
no texto
Ilustrações: Laur
ence Ster
ne. Séc. XVIII. Coleção particular
Começo agora a avançar bastante na minha obra; e com a ajuda de uma dieta vegetariana, acompanhada de umas sementes frias, não tenho dúvida de que conseguirei ir adiante com a história do meu tio Toby, e com a minha própria, seguindo uma linha razoavelmente reta. Assim,
O Romantismo em Portugal
•
23
LITE RA TU RARe
leitura
Depois de reler os três fragmentos, destaque e comente com os colegas exemplos das características peculiares que aproximam o estilo dos três autores:
• metalinguagem; • digressão;
• conversa com o leitor; • tom irônico.
Frei Luís de Sousa
Obra-prima da dramaturgia romântica e uma das principais de todo o teatro português, Frei Luís de Sousa é uma tragédia em três atos. Almeida Garrett aproveitou um fato histórico – a vida do escritor quinhentista Manuel de Sousa Coutinho, cujo nome religioso dá título à obra – para desenvolver os eixos temáticos da peça:
• nacionalista e histórico – a resistência da nobreza lusitana ao domínio es-panhol (1580-1640); o mito sebastianista (na peça, D. João de Portugal, que desaparecera com D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, retorna a Portugal e encontra sua esposa, D. Madalena de Vilhena, casada com Manuel de Sousa Coutinho);
• moral e psicológico – o conflito entre os sentimentos e a honra (o casa-mento, validado pelo amor e pela ignorância do verdadeiro estado civil de Madalena, e invalidado pelo retorno do primeiro marido); a vergonha da filha, Maria de Noronha, ao conhecer a verdade e seu desespero diante da decisão dos pais de se entregarem à vida religiosa. O drama, assim consti-tuído pelas forças do destino, torna-se tragédia, pois a única saída para os personagens é a morte – simbólica para Manuel Coutinho e Madalena, que se retiram da vida social, entrando para o convento, e real para Maria, que, doente e debilitada pelo sofrimento, vem a falecer na última cena.
A cena XV, que encerra o segundo ato, embora muito curta, é uma das mais conhecidas e citadas. Na cena anterior, um romeiro, que voltava da Terra Santa e se dizia sobrevivente da batalha de Alcácer Quibir, aparecera na casa de Sousa Coutinho e conversara com Jorge, irmão de Sousa Coutinho, e com D. Madalena. Retirando-se esta, Jorge fica ainda um tempo a sós com o romeiro. É o momento culmi-nante em que se dá o reconhecimento. Leia a cena e observe o efeito dramático da resposta do romeiro e da reação de Jorge.
Cena XV
JORGE e o ROMEIRO, que seguiu MADALENA com os olhos e está alçado no meio da casa, com aspecto severo e tremendo.
JORGE: Romeiro, romeiro, quem és tu?
ROMEIRO (apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal): Ninguém!
(Frei Jorge cai prostrado no chão, com os braços
estendidos diante da tribuna. O pano desce lentamente.)
GARRET, Almeida. Frei Luís de Sousa. 5. ed. Mira-Sintra/ Mem Martins: Publicações Europa-América, 1975. p. 99.
Sebastianismo – é o mito segundo o qual o rei D. Sebastião, desaparecido em 1578 na batalha de Alcácer Quibir, voltaria para redimir Portugal. O mito sobreviveria por muito tempo, mas como expressão do anseio popular pelo aparecimento de um redentor, que se denominou “O Encoberto”. Na peça de Almeida Garrett, não é o rei que retorna, mas o nobre D. João de Portugal.
Gravura de 1629 representando a Batalha de Alcácer Quibir.
1629. Gravura. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa
Os três se referem ao estilo em que são escritos e ao modo como a narração se desenvolve.
Entre as referências metalinguísticas, a principal é a digressão que torna sinuosa a narrativa. No texto 1: “enreda-se o fio das histórias e das observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode deslindar e seguir em tão embaraçada meada”; no texto 2: “Já comparei o meu estilo ao andar dos ébrios”; no texto 3:“cabriola digressiva” – e todos os desenhos e comentários sobre a conformação das linhas que representam o curso das narrativas do autor.
Nos três textos, identificam-se os leitores como interlocutores do narrador: “caro leitor” (texto 1); “Se a ideia vos parece indecorosa” (texto 2); “senhoras” (texto 3).
A ironia se exerce sobre o leitor e sobre o próprio autor/narrador e seu texto – autoironia. Em Viagens, o narrador chama o leitor de “benévolo” e pede-lhe “paciência” para continuar lendo esse livro “despropositado e inclassificável”, prometendo “ser breve e ir direito” (e o leitor sabe que o livro continuará lento e entrecortado por digressões); em Memórias, o narrador supõe que o leitor considera indecorosa a comparação de seu estilo com o andar dos ébrios e se justifica dizendo que seu estilo se parece com seus encontros com Virgília, entrecortado pelos arrufos amorosos. Os comentários mais irônicos são os do narrador de
Tristam Shandy, que representa em desenhos sinuosos a linha da narrativa. Ele considera que fez grande progresso,
no quinto livro, na tentativa de construir uma narrativa em linha reta, mas o desenho que representa esse capítulo é ainda mais sinuoso que os anteriores. O fragmento se encerra com uma exclamação muito irônica – “Que viagem!”.
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Folhas caídas
A poesia de Almeida Garrett está presa, em sua primeira fase, à estética neoclássica. Folhas caídas, obra da maturidade poética do autor, reúne sua melhor produção lírica e, para muitos críticos, a melhor poesia romântica portuguesa. Os poemas foram inspirados na paixão do autor por Rosa de Montúfar, a Viscondessa da Luz.
Leitura
Anjo és
Anjo és tu, que esse poderJamais o teve mulher, Jamais o há-de ter em mim. Anjo és, que me domina Teu ser o meu ser sem fim; Minha razão insolente Ao teu capricho se inclina, E minha alma forte, ardente, Que nenhum jugo respeita, Covardemente sujeita Anda humilde a teu poder. Anjo és tu, não és mulher. Anjo és. Mas que anjo és tu? Em tua frente anuviada Não vejo a c’roa nevada Das alvas rosas do céu. Em teu seio ardente e nu Não vejo ondear o véu Com que o sôfrego pudor Vela os mistérios d’amor. Teus olhos têm negra a cor, Cor de noite sem estrela; A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não tem. – Que anjo és tu? Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?
Não respondes – e em teus braços Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito!... Isto que me cai no peito
Que foi?... Lágrima? – Escaldou-me Queima, abrasa, ulcera... Dou-me, Dou-me a ti, anjo maldito,
Que este ardor que me devora É já fogo de precito,
Fogo eterno, que em má hora Trouxeste de lá... De donde? Em que mistérios se esconde Teu fatal, estranho ser! Anjo és tu ou és mulher?
sujeita – subjugada,
sujeitada
precito – aquele que
está condenado previamente; réprobo, maldito
A palavra
no texto
GARRETT, Almeida. Folhas caídas. Pará de Minas (MG): Virtual Books, 2002. Disponível em: <http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/folhas_
caidas.htm>. Acesso em: 1.º fev. 2013.
Re
leitura
Na poesia romântica é grande o predomínio da temática amorosa e a figura da mulher reina absoluta. Para o escritor romântico francês François-René Chateaubriand, a mulher é responsável pelo amolecimento do caráter viril, que se rende ao sentimentalismo: “Elas têm no seu modo de ser um certo abandono que transferem para o nosso; tornam menos decidido nosso caráter mascu-lino e as nossas paixões, amolecidas pelo contágio das delas, ganham qualquer coisa de inseguro e terno”. (CHATEAUBRIAND, François-René. Le génie du Christianisme. In: Oeuvres complètes de