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Brasília, 29 de agosto de 2001 O BRASIL E OS ACORDOS INTERNACIONAIS

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IV REUNIÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL DOS ORGAOS GESTORES DE SAÚDE AMBIENTAL DOS MINISTÉRIOS DA SAÚDE E

I FÓRUM DE SAÚDE E AMBIENTE DA REGIÃO DAS AMÉRICAS

Brasília, 29 de agosto de 2001

“O BRASIL E OS ACORDOS INTERNACIONAIS”

Gostaria, em primeiro lugar, de saudar os organizadores deste evento que tem-se revelado ser de grande relevância para as pessoas que dele participam. É para mim um privilégio ter sido convidada para participar desta Reunião para o Desenvolvimento Institucional dos Órgãos Gestores de Saúde Ambiental dos Ministérios da Saúde e do I Fórum de Saúde e Ambiente da Região das Américas.

Como representante do Ministério das Relações Exteriores, venho expor, em poucas palavras a posição do Brasil no que tange a certos acordos internacionais na área ambiental. Nesse sentido, é minha intenção fazer um rápido apanhado geral das atividades que a Divisão do Meio Ambiente do Itamaraty vem desempenhando no exterior, no âmbito de suas diferentes negociações internacionais, para depois contextualizar mais detalhadamente as 3 convenções que me foram indicadas como sendo aquelas relevantes para as discussões sendo levadas a cabo neste evento.

A Divisão do Meio Ambiente do Itamaraty é setor encarregado de coordenar internamente e acompanhar as negociações internacionais relativas ao Meio Ambiente. Para esse fim, contamos com a valiosa colaboração dos diferentes Ministérios, tais como por exemplo, o Ministério do Meio Ambiente, da Saúde, da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, da Agricultura e outros, dependendo da abrangência dos assuntos tratados. Um pouco antes de cada reunião internacional da qual o Brasil participa, são convocadas reuniões de coordenação com esses Ministérios, a fim de que cada um possa oferecer os subsídios necessários à conformação das instruções que nortearão a atuação da delegação do Brasil em cada evento ou reunião internacional.

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O Itamaraty também busca a participação ampla de outros atores, tais como as indústrias, as organizações-não-governamentais e representantes da sociedade civil em uma coordenação que eu poderia chamar de multidisciplinar, pois a sociedade civil e as indústrias também têm prementes interesses comerciais e ou ambientais no âmbito do desenvolvimento sustentável.

A Divisão do Meio Ambiente coordena as posições que são defendidas pelo Brasil nas negociações sobre a Convenção sobre Diversidade Biológica, a Convenção Ramsar sobre áreas úmidas, o Protocolo de Cartagena sobre organismos geneticamente modificados; a Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas, o Fórum Internacional de Florestas, o Compromisso Internacional sobre Acesso a Recursos Fitogenéticos, a Convenção CITES sobre tráfico ilegal de espécies ameaçadas de extinção, a Convenção de Combate à Desertificação, só para mencionar alguns, além de acompanhar as discussões internacionais no que tange ao uso sustentável dos recursos naturais e da biodiversidade do país.

Não poderia esquecer de mencionar a atuação do Itamaraty no que tange exatamente às 3 Convenções sobre as quais estou aqui para falar: a Convenção PIC, a Convenção POP’s e a Convenção da Basiléia.

A chamada Convenção PIC é Convenção de Rotterdam sobre Conhecimento Prévio Informado para Certas Substâncias Químicas e Agrotóxicos no Comércio Internacional. A sigla PIC se refere a consentimento prévio informado em inglês (previous informed consent). A Convenção de Rotterdam que institui o consentimento prévio informado constitui mecanismo de cooperação internacional pelo qual as Partes, de posse de informações sobre periculosidade de determinadas substâncias químicas e pesticidas, podem estabelecer políticas de importação, caso assim o desejem, e políticas de uso e ou manuseio seguras. Atualmente o procedimento PIC abrange 32 substâncias químicas.

Em 1989 a FAO e o PNUMA introduziram em conjunto o procedimento do consentimento prévio informado, utilizado por alguns governos para a obtenção de informações sobre substâncias químicas perigosas, informações essas necessárias à avaliação dos riscos e à tomada de decisão sobre a importação desses produtos químicos. A adoção de um instrumento legal juridicamente vinculado sobre o

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procedimento PIC, conforme preconizado no Capítulo 19 da Agenda 21, ocorreu após 5 sessões do Comitê Intergovernamental de Negociação. As negociações tiveram início em março de 1996 e foram concluídas em março de 1998, quando a redação final da Convenção ficou finalmente acordada. Dando seguimento ao processo negociador, o Diretor Geral da FAO e o Diretor Executivo do PNUMA convocaram, em conjunto, uma reunião diplomática para a adoção e assinatura da Convenção, que ocorreu em Rotterdam em setembro de 1998. Representantes do Brasil e de outros 86 governos participaram da primeira Conferência de Plenipotenciários.

A Convenção foi assinada em setembro daquele ano por 61 países e entrará em vigor quando da submissão do 50o instrumento de ratificação, aceitação aprovação ou acessão for depositado.

A Convenção PIC, como é comumente conhecida, ou a Convenção de Rotterdam se aplica apenas a produtos químicos proibidos ou severamente perigosos e a formulações agrotóxicas severamente perigosas. Estão fora do alcance da Convenção os seguintes materiais: drogas narcóticas ou substâncias psicotrópicas, materiais radioativos, resíduos, armas químicas, produtos farmacêuticos, inclusive medicamentos, alimentos, produtos químicos usados como aditivos de alimentos, e produtos químicos em quantidades que não afetem a saúde humana ou o meio ambiente (para uso em pesquisa, análises ou para usos pessoais.

Cabe lembrar entretanto que a Convenção de Rotterdam ainda não entrou em vigor. Até o momento apenas 14 países a ratificaram, faltando portanto 36 países para que a Convenção entre finalmente em vigor. Tem sido reiterado um apelo para que a comunidade internacional envide esforços para que a Convenção de Rotterdam entre em vigor antes da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10 que, como já mencionei, deverá ocorrer no próximo ano. O Brasil é um dos países que ainda não ratificou a Convenção e, nesse sentido, eventual decisão do Governo de enviar o texto da Convenção para a apreciação do Congresso teria repercussões das mais positivas para o país.

Enquanto a Convenção não entra em vigor internacionalmente, foi adotada uma resolução estabelecendo medidas interinas para a Convenção, de modo a alterar o

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procedimento voluntário do PIC, existente antes da Convenção, para deixá-lo em conformidade com esta última que passou a ser vinculante.

Existem 29 substâncias que integram a lista do Anexo III que contém a lista de substâncias químicas elegidas para submissão ao procedimento de informação e consentimento prévios da Convenção. Dessas 29 substâncias, 24 são usadas como agrotóxicos e 5 são de uso corrente na indústria. Das 24 substâncias usadas como agrotóxico somente duas (Binapacril e Toxafeno) foram incluídas após a adoção da Convenção. As demais são anteriores àquele instrumento internacional e já se encontravam submetidas ao consentimento prévio voluntário, regime que precedeu o período anterior à finalização da negociação da Convenção de Rotterdam.

POP’s

A Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, os chamados POP’s, iniciou-se em 1998, com base em estudos técnicos elaborados a partir de 1996. A Convenção de Estocolmo, como o nome indica, foi assinado em Estocolmo, durante conferência internacional especialmente convocada para o evento em maio do corrente ano, depois de dois anos de difíceis negociações. O texto da futura Convenção POP’s resultou equilibrado, o que permitiu atender de forma realista as posições, às vezes diametralmente opostas, dos diferentes governos. Sua implementação assim permitirá atender aos imperativos da proteção do meio ambiente e de proteção à saúde humana.

O acordo reconhece níveis diferenciados de responsabilidades e de capacidades entre países e vincula o cumprimento do acordo, por parte dos países em desenvolvimento, ao acesso à assistência técnica e financeira que se fizer necessária. Dessa forma, assegura que o esforço de proteção leve em consideração as condições socio-econômicas de cada país e as prioridades nacionalmente definidas. O acordo consagra, assim, o princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas na proteção ao meio ambiente, plasmado na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 (a Rio 92).

Os POP’s são definidos como substâncias tóxicas de alta periculosidade, as quais, por suas características fisico-químicas, não se decompõem facilmente, mantendo-se

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inalteradas por longos períodos de tempo. Além disso, podem ser transportadas pelo ar, pelos rios, ou oceanos, a longas distâncias a partir do local onde originaram. O transporte e deposição dessas substâncias podem causar danos à saúde humana, além de graves prejuízos ao meio ambiente, exigindo medidas de reparação que podem ter significativo custo financeiro. A Convenção de Estocolmo, assim, passará a constituir um importante instrumento do ponto de vista do reforço da segurança química internacional, em consonância com as metas preconizadas na Agenda 21. Sua adoção representa uma medida de precaução para evitar que o uso indiscriminado desses produtos possa causar danos cuja resolução se mostre irreversível ou muito difícil no futuro.

Foram identificados inicialmente 12 POP’s sobre os quais a comunidade internacional adotará ações com vistas à sua eliminação ( ou restrição, nos casos em que tal meta não for factível, pelo menos no curto prazo). Entre os 12 POP’s constam 8 pesticidas, entre eles o DDT, aldrin, heptacloro e outros, 2 produtos industriais ( os HCB’s e as PCB’s) e 2 sub-produtos não intencionais, gerados pela combustão de matéria orgânica (dioxinas e furanos).

O acordo POP’s exigirá o estabelecimento de planos de ação nacionais para lidar com as substâncias identificadas. Esse aspecto entretanto, o chamado processo de internalização das convenções e acordos internacionais, será abordado pelo próximo palestrante. Nesse sentido, limitar-me-ei a dizer que foi criado um Grupo Técnico Interministerial, sob a coordenação o Ministério do Meio Ambiente, para preparar a implementação do Acordo internamente no Brasil. Esse Grupo Técnico conta com a colaboração do governo, das indústrias e da sociedade civil, cujas contribuições imprescindíveis para o bom andamento do processo de internalização da Convenção de Estocolmo.

Convenção da Basiléia

O Brasil é parte da Convenção da Basiléia sobre o Controle do Movimento Transfronteiriço de Resíduos Perigosos e seu Depósito. A Convenção, datada de 1989, procura responder às reivindicações de países em desenvolvimento, principalmente

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africanos, cujos territórios transformavam-se, crescentemente, em depósito final de resíduos perigosos cuja origem encontrava-se nos países desenvolvidos.

A Convenção estabelece procedimentos para controlar os movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos. De acordo com tais procedimentos de consentimento prévio informado (“PIC procedures”, em inglês), o país que exporta os resíduos perigosos deve notificar o país importador, bem como os países de trânsito, sobre a operação, que devem expressar sua concordância para que o transporte seja efetuado. São resíduos perigosos aqueles listados no Anexo I e recebem tratamento semelhante os chamados “outros resíduos”, basicamente resíduos resultantes de atividades domésticas, enumerados no Anexo II. Essas listas são “complementadas” pelas notificações de cada Estado parte, relativas aos resíduos que sua legislação nacional considere perigosos. E também serão perigosos aqueles resíduos que exibam as chamadas características de periculosidade contidas no Anexo III da Convenção.

Alguns grandes objetivos da Convenção podem ser identificados: a minimização da geração de resíduos, a diminuição do fluxo transfronteiriço de tais resíduos e o incentivo a que os resíduos sejam depositados no Estado em que foram gerados. Além disso, é de crucial importância para a implementação da Convenção o tema do manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos, e nesse sentido, foi adotada, na última Reunião da Conferência das Partes (1999 – V COP), a Declaração de Basiléia sobre o Manejo Ambientalmente Saudável (ESM, sigla em inglês). O ESM é considerado o grande desafio para a Convenção em sua segunda década (1999-2009), durante a qual também serão considerados temas como o tráfico ilegal de resíduos, a utilização de tecnologias de produção mais limpa, a capacitação dos países em desenvolvimento e das economias em transição e o estímulo às atividades dos centros regionais e sub-regionais de treinamento e de transferência de tecnologias (vale mencionar que o centro regional para a América Latina e o Caribe localiza-se em Montevidéu).

A Convenção também deverá dedicar-se a outros temas nesse novo período, relativos ao cumprimento e à aplicação efetiva de seus dispositivos. Para isso, discute-se atualmente o estabelecimento de um mecanismo de monitoramento da implementação e do cumprimento das obrigações da Convenção (o chamado mecanismo de “compliance”).

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Outros temas têm dominado a agenda. Entre eles, deve -se destacar as negociações para desenvolver diretrizes técnicas para o manejo ambientalmente saudável de alguns resíduos, tais como o manejo de resíduos de baterias de chumbo, e vale destacar que o Brasil é o país que lidera esses trabalhos. É importante notar que, não apenas na elaboração das diretrizes sobre chumbo, como na elaboração de outras “guidelines”, como são geralmente chamadas, as considerações relativas à saúde, principalmente do trabalhador, são de importância crucial. Como exemplo, pode-se citar o tema, cada vez mais discutido no âmbito da Convenção, do desmantelamento de navios, atividade em que certos resíduos perigosos resultantes afetam diretamente a saúde dos trabalhadores, antes mesmo de afetar o meio ambiente.

Também têm sido estudadas as características de periculosidade. Uma delas ora em análise, é a chamada característica H6.2, relacionada a “substâncias infecciosas”. Nesse estudo, sem dúvida, os profissionais de saúde muito poderão contribuir e, por isso, o Itamaraty tem buscado informações do Ministério da Saúde, cuja colaboração é de grande importância na elaboração da posição a ser defendida pelo Brasil nas reuniões relativas à Convenção.

O comércio de resíduos e sua utilização através de processos de reciclagem pelos setores industriais são de grande importância para a economia de um país como o Brasil, que já domina técnicas de reciclagem e de tratamento final de resíduos que não prejudicam o meio ambiente e que, ao mesmo tempo, gera empregos e recursos financeiros para o país. Nesse sentido, pode-se dizer que, em conformidade com o espírito da Rio 92, o Brasil procura conciliar meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

Procura assim formas de proteção do meio ambiente que levem em consideração também as necessidades de desenvolvimento econômico e de superação das desigualdades no chamado “mundo globalizado”. Por esse motivo, é possível dizer que a atuação do Governo brasileiro nos diversos foros internacionais relativos à defesa do meio ambiente está fundamentada nos subsídios oferecidos nas consultas periódicas pelos demais órgãos governamentais e pelos diferentes setores interessados para o tratamento de uma larga gama de aspectos cujo tratamento dentro e fora do país é de grande rlevância para garantir o desenvolvimento sustentável do Brasil.

Referências

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