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Giovanni Reale, Dario Antiseri - Historia Da Filosofia. Volume 3.

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Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Reale, Giovanni.

História da filosofia: Do romantismo até nossos dias I Giovanni Reale, Dario Antiseri; -São Paulo: PAULUS, 1991.- (Coleção filosofia)

Conteúdo: v. 1. Antigüidade e Idade Média.- v. 2. Do Humanismo a Kant.- v. 3. Do Romantismo até nossos dias.

ISBN 85-05-01076-0 (obra completa)

1. Filosofia 2. Filosofia- História L Antiseri, Dario. 11. Título. 111. Série.

CDD-109 90-0515

Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia 100

2. Filosofia: História 109

Coleção FILOSOFIA

-100

• O homem. Quem é ele? Elementos de antropologia filosófica, B. Mondin • Introdução à filosofia. Problemas, sistemas, autores, obras, ld.

• Curso de filosofia, 3 vols., Id.

-• História da filosofia, 3 vols., Giovanni Reale/Dario Antiseri • Filosofia da religião, Urbano Zilles

GIOV ANNI REALE/DARIO ANTISERI

HISTÓRIA

DA FILOSOFIA

Do Romantismo até nossos dias

VOLUME3

2ª edição

(3)

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Reale, Giovanni.

História da filosofia: Do romantismo até nossos dias I Giovanni Reale, Dario Antiseri; -São Paulo: PAULUS, 1991.- (Coleção filosofia)

Conteúdo: v. 1. Antigüidade e Idade Média.- v. 2. Do Humanismo a Kant.- v. 3. Do Romantismo até nossos dias.

ISBN 85-05-01076-0 (obra completa)

1. Filosofia 2. Filosofia- História L Antiseri, Dario. 11. Título. 111. Série.

CDD-109 90-0515

Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia 100

2. Filosofia: História 109

Coleção FILOSOFIA

-100

• O homem. Quem é ele? Elementos de antropologia filosófica, B. Mondin • Introdução à filosofia. Problemas, sistemas, autores, obras, ld.

• Curso de filosofia, 3 vols., Id.

-• História da filosofia, 3 vols., Giovanni Reale/Dario Antiseri • Filosofia da religião, Urbano Zilles

GIOV ANNI REALE/DARIO ANTISERI

HISTÓRIA

DA FILOSOFIA

Do Romantismo até nossos dias

VOLUME3

2ª edição

(4)

Título original

11 pensiero occidentale dalle origini ad oggi © Editrice La Scuola, Bréscia, 8a ed., 1986

Ilustrações . . .

Arborio Mella, Ballarin Bild, Costa, Farabola, Garzanti, Lores Rtva, Lotte Mettner, Grafe Tomsich

Tradução Álvaro Cunha Revisores

L. Costa e H. Dalbosco

© PAULUS- 1991

Rua Dr. Pinto Ferraz, 183 04117-040 São Paulo (Brasil) Fax (011) 575-7403

Tel. (011) 572-2362

ISBN 88-350-7271-9 (ed. original) ISBN 85-05-01076-0 (obra completa) ISBN 85-349-0142-2 (Vol. III)

PREFÁCIO

"Nenhum sistema filosófico é definitivo, porque a própria vida não é definitiva. Um sistema filosófico resolve um grupo de pro-blemas historicamente dado e prepara as condições para a proposição de outros pro-blemas, isto é, de novos sistemas. Sempre foi e sempre será assim".

Benedetto Croce Como se justifica um tratado tão vasto da história do pensa-mento filosófico e científico? Observando o tamanho dos três volu-mes, talvez se pergunte o professor: como é possível nas poucas horas semanais à disposição, enfrentar e desenvolver programa tão rico e conseguir levar o estudante a dominá-lo?

Naturalmente, se medirmos este livro pelo número de páginas, pode-se dizer que é livro longo. Mas seria o caso de recordar a bela sentença do abade Terrasson, citada por Kant no prefácio à Crítica da Razão Pura: "Se rhedirmos o tamanho do livro não pelo número de páginas, e sim pelo tempo necessário para entendê-lo, de muitos livros poder-se-ia dizer que seriam muito mais breves se não fossem tão breves."

E em muitos casos, verdadeiramente, os manuais de filosofia demandariam muito menos esforços se tivessem algumas páginas mais sobre uma série de assuntos. Com efeito, na exposição da problemática filosófica, a brevidade não simplifica as coisas, e sim as complica e, por vezes, as torna pouco compreensíveis, quando não até incompreensíveis. Em todo caso, em manual de filosofia, a brevidade leva fatalmente ao nocionismo, ao relacionamento de opiniões, ao mero panorama do "que" disseram sucessivamente os vários filósofos -instrutiva, se assim se quiser, mas pouco formativa. Pois bem, esta história do pensamento filosófico e científico pretende chegar pelo menos a três níveis além do simples "o que" disseram os filósofos, ou seja, além do nível que os antigos chama-vam de "doxográfico" (nível da comparação de opiniões), procuran-do explicar o "por que" os filósofos disseram o que disf~ram, buscando ademais dar sentido adequado de "como" o disseram e, por fim, indicando alguns dos "efeitos" provocados pelas teorias filosóficas e científicas.

O "por que" das afirmações dos filósofos nunca é algo simples, visto que motivos sociais, econômicos e culturais freqüentemente se

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Título original

11 pensiero occidentale dalle origini ad oggi © Editrice La Scuola, Bréscia, 8a ed., 1986

Ilustrações . . .

Arborio Mella, Ballarin Bild, Costa, Farabola, Garzanti, Lores Rtva, Lotte Mettner, Grafe Tomsich

Tradução Álvaro Cunha Revisores

L. Costa e H. Dalbosco

© PAULUS- 1991

Rua Dr. Pinto Ferraz, 183 04117-040 São Paulo (Brasil) Fax (011) 575-7403

Tel. (011) 572-2362

ISBN 88-350-7271-9 (ed. original) ISBN 85-05-01076-0 (obra completa) ISBN 85-349-0142-2 (Vol. III)

PREFÁCIO

"Nenhum sistema filosófico é definitivo, porque a própria vida não é definitiva. Um sistema filosófico resolve um grupo de pro-blemas historicamente dado e prepara as condições para a proposição de outros pro-blemas, isto é, de novos sistemas. Sempre foi e sempre será assim".

Benedetto Croce Como se justifica um tratado tão vasto da história do pensa-mento filosófico e científico? Observando o tamanho dos três volu-mes, talvez se pergunte o professor: como é possível nas poucas horas semanais à disposição, enfrentar e desenvolver programa tão rico e conseguir levar o estudante a dominá-lo?

Naturalmente, se medirmos este livro pelo número de páginas, pode-se dizer que é livro longo. Mas seria o caso de recordar a bela sentença do abade Terrasson, citada por Kant no prefácio à Crítica da Razão Pura: "Se rhedirmos o tamanho do livro não pelo número de páginas, e sim pelo tempo necessário para entendê-lo, de muitos livros poder-se-ia dizer que seriam muito mais breves se não fossem tão breves."

E em muitos casos, verdadeiramente, os manuais de filosofia demandariam muito menos esforços se tivessem algumas páginas mais sobre uma série de assuntos. Com efeito, na exposição da problemática filosófica, a brevidade não simplifica as coisas, e sim as complica e, por vezes, as torna pouco compreensíveis, quando não até incompreensíveis. Em todo caso, em manual de filosofia, a brevidade leva fatalmente ao nocionismo, ao relacionamento de opiniões, ao mero panorama do "que" disseram sucessivamente os vários filósofos -instrutiva, se assim se quiser, mas pouco formativa. Pois bem, esta história do pensamento filosófico e científico pretende chegar pelo menos a três níveis além do simples "o que" disseram os filósofos, ou seja, além do nível que os antigos chama-vam de "doxográfico" (nível da comparação de opiniões), procuran-do explicar o "por que" os filósofos disseram o que disf~ram, buscando ademais dar sentido adequado de "como" o disseram e, por fim, indicando alguns dos "efeitos" provocados pelas teorias filosóficas e científicas.

O "por que" das afirmações dos filósofos nunca é algo simples, visto que motivos sociais, econômicos e culturais freqüentemente se

(6)

6 Prefácio entrelaçam com motivos teóricos e especulativos. Pouco a pouco, fomos mostrando o fundo do qual emergiram as teorias dos filóso-fos, mas evitando os perigos das reduções sociologistas, psicologistas e historicistas (que nos últimos anos chegaram a excessos hiperbólicos, quase a ponto de anular a identidade específica do discurso filosófico) e evidenciando as concatenações dos problemas teóricos e dos nexos conceituais e, portanto, as motivações lógicas, racionais e críticas que, em última análise, constituem a substância das idéias filosóficas e científicas.

Também procuramos dar o sentido do "como" os pensadores e cientistas propuseram suas doutrinas, fazendo amplo uso de suas próprias palavras. Por vezes, quando se trata de textos fáceis, a palavra viva dos pensadores foi utilizada no mesmo marco expositivo original, ao passo que, outras vezes, são citados trechos de vários autores (os mais complexos e difíceis) à maneira de reforço da exposição e, como tal (conforme o nível de conhecimento do autor que se pretende alcançar), podem ser saltados sem prejuízo da com-preensão do conjunto.

As citações dos textos dos autores foram dosadas de modo a respeitar a parábola didática do leitor que, no início, entra em contato com discurso completamente novo e, por isso, necessita da maior simplicidade e, pouco a pouco, adquire as categorias do pensamento filosófico, aumenta sua capacidade e assim pode se defrontar com tipo mais complexo de exposição e, portanto, compre-ender os teores diversos da linguagem com que falaram os filósofos. Ademais, como não é possível ter idéia do modo de sentir e imaginar de um poeta sem ler alguns fragmentos de sua obra, analoga-mente, também não é possível ter idéia do modo de pensar de um filósofo ignorando totalmente o modo como expressava seus pensa-mentos.

Por fim, os filósofos são importantes não somente pelo que dizem, mas também pelas tradições que geram e lançam em mo-vimento: algumas de suas posições favorecem o nascimento de idéias, mas, ao mesmo tempo, impedem a gênese de outras. Assim, os filósofos são importantes, quer pelo que disseram, quer pelo que impediram de dizer. Esse é um dos aspectos sobre os quais as histórias da filosofia freqüentemente silenciam, mas que quisemos evidenciar, sobretudo na explicação das complexas relações entre as idéias filosóficas e as idéias científicas, religiosas, estéticas e sociopolíticas.

O ponto de partida do ensino de filosofia está nos problemas que ela propôs e propõe. Por isso, procuramos particularmente dar à exposição a ordenação por problemas. E muitas vezes privilegia-mos o método sincrônico em relação ao diacrônico, embora respei-tando este último nos limites do possível.

Prefácio 7

O ponto de chegada do ensino de filosofia está na formação de mentes ricas em teoria, destras no método e capazes de propor e desenvolver de modo metódico os problemas e de ler de modo crítico a realidade complexa que os circunda. E é precisamente esse o objetivo a que visam os quatro níveis indicados acima, segundo os quais concebemos e realizamos toda a obra: criar uma razão aberta, capaz dt.: se defender em relação às múltiplas solicitações contempo-râneas de fuga para o irracional ou de fechamento em estreitas posições pragmatistas e cientificistas. E a razão aberta é razão que sabe ter em si mesma o corretivo para todos os erros que ao avançar c~mete (enquanto razão humana) e a força para recomeçar itinerá-nos sempre novos.

Este terceiro volume se desdobra em catorze partes e examina os desdobramentos do pensamento filosófico desde Hegel até nossos dias. E, longe de nos colocarmos na perspectiva de filosofia pressu-posta como verdadeiramente "válida" ou de "ideologia científica" usada como tribunal para condenar ou absolver os filósofos do passado, os autores deste livro, no mais firme respeito pelos pen-sadores examinados, pretenderam reconstruir as situações proble-máticas, as teorias, as argumentações, os contrastes, as polêmicas e os efeitos sociais e teoricos das diversas construções filosóficas que, entrelaçando-se ou, talvez, ignorando-se ou até criticando-se mu-tuamente, desenvolvem-se a partir dos românticos para chegar até o debate filosófico dos dias de hoje.

Por razões óbvias, foi dedicado amplo espaço às figuras proe-minentes: Fichte, Schelling, Hegel, Feuerbach, Marx, Engels, Schopenhauer, Kierkegaard, Comte, Stuart Mill, Spencer, Ardigõ, Nietzsche, Weber, James, Dewey, Croce, Gentile, Husserl, Heidegger, Jaspers, Sartre, Bergson, Russell, Wittgenstein, Freud, Popper e outros. Entretanto, como esses pensadores geraram tradição filosó-fica ou se inserem em movimento filosófico com contribuição origi-nal, cremos oportuno apresentá-los no quadro de ou, de qualquer modo, relacionados com tais tradições de pensamento ou movimentos filosóficos, dos quais delineamos as características histórico-sociais, especialmente as características teóricas que os tipificam. Assim seja dito para o romantismo, o positivismo, o marxismo, o existencialismo, a fenomenologia, o neomarxismo, o estruturalismo, a escola de Francoforte, o espiritualismo, as novas teologias, o neopositivismo, o personalismo etc. Desse modo, as diversas partes se configuram como unidades didáticas (ordenadas cronológica e

I

ou logicamente) de grande utilidade para os estudantes e para as turmas que, tendo que fazer opção, possuem pelo menos um instrumento para conhecer em que ambiente histórico e teórico se situa determinado pensador. As características mais destacadas deste terceiro volume se podem resumir nos seguintes seis pontos:

(7)

6 Prefácio entrelaçam com motivos teóricos e especulativos. Pouco a pouco, fomos mostrando o fundo do qual emergiram as teorias dos filóso-fos, mas evitando os perigos das reduções sociologistas, psicologistas e historicistas (que nos últimos anos chegaram a excessos hiperbólicos, quase a ponto de anular a identidade específica do discurso filosófico) e evidenciando as concatenações dos problemas teóricos e dos nexos conceituais e, portanto, as motivações lógicas, racionais e críticas que, em última análise, constituem a substância das idéias filosóficas e científicas.

Também procuramos dar o sentido do "como" os pensadores e cientistas propuseram suas doutrinas, fazendo amplo uso de suas próprias palavras. Por vezes, quando se trata de textos fáceis, a palavra viva dos pensadores foi utilizada no mesmo marco expositivo original, ao passo que, outras vezes, são citados trechos de vários autores (os mais complexos e difíceis) à maneira de reforço da exposição e, como tal (conforme o nível de conhecimento do autor que se pretende alcançar), podem ser saltados sem prejuízo da com-preensão do conjunto.

As citações dos textos dos autores foram dosadas de modo a respeitar a parábola didática do leitor que, no início, entra em contato com discurso completamente novo e, por isso, necessita da maior simplicidade e, pouco a pouco, adquire as categorias do pensamento filosófico, aumenta sua capacidade e assim pode se defrontar com tipo mais complexo de exposição e, portanto, compre-ender os teores diversos da linguagem com que falaram os filósofos. Ademais, como não é possível ter idéia do modo de sentir e imaginar de um poeta sem ler alguns fragmentos de sua obra, analoga-mente, também não é possível ter idéia do modo de pensar de um filósofo ignorando totalmente o modo como expressava seus pensa-mentos.

Por fim, os filósofos são importantes não somente pelo que dizem, mas também pelas tradições que geram e lançam em mo-vimento: algumas de suas posições favorecem o nascimento de idéias, mas, ao mesmo tempo, impedem a gênese de outras. Assim, os filósofos são importantes, quer pelo que disseram, quer pelo que impediram de dizer. Esse é um dos aspectos sobre os quais as histórias da filosofia freqüentemente silenciam, mas que quisemos evidenciar, sobretudo na explicação das complexas relações entre as idéias filosóficas e as idéias científicas, religiosas, estéticas e sociopolíticas.

O ponto de partida do ensino de filosofia está nos problemas que ela propôs e propõe. Por isso, procuramos particularmente dar à exposição a ordenação por problemas. E muitas vezes privilegia-mos o método sincrônico em relação ao diacrônico, embora respei-tando este último nos limites do possível.

Prefácio 7

O ponto de chegada do ensino de filosofia está na formação de mentes ricas em teoria, destras no método e capazes de propor e desenvolver de modo metódico os problemas e de ler de modo crítico a realidade complexa que os circunda. E é precisamente esse o objetivo a que visam os quatro níveis indicados acima, segundo os quais concebemos e realizamos toda a obra: criar uma razão aberta, capaz dt.: se defender em relação às múltiplas solicitações contempo-râneas de fuga para o irracional ou de fechamento em estreitas posições pragmatistas e cientificistas. E a razão aberta é razão que sabe ter em si mesma o corretivo para todos os erros que ao avançar c~mete (enquanto razão humana) e a força para recomeçar itinerá-nos sempre novos.

Este terceiro volume se desdobra em catorze partes e examina os desdobramentos do pensamento filosófico desde Hegel até nossos dias. E, longe de nos colocarmos na perspectiva de filosofia pressu-posta como verdadeiramente "válida" ou de "ideologia científica" usada como tribunal para condenar ou absolver os filósofos do passado, os autores deste livro, no mais firme respeito pelos pen-sadores examinados, pretenderam reconstruir as situações proble-máticas, as teorias, as argumentações, os contrastes, as polêmicas e os efeitos sociais e teoricos das diversas construções filosóficas que, entrelaçando-se ou, talvez, ignorando-se ou até criticando-se mu-tuamente, desenvolvem-se a partir dos românticos para chegar até o debate filosófico dos dias de hoje.

Por razões óbvias, foi dedicado amplo espaço às figuras proe-minentes: Fichte, Schelling, Hegel, Feuerbach, Marx, Engels, Schopenhauer, Kierkegaard, Comte, Stuart Mill, Spencer, Ardigõ, Nietzsche, Weber, James, Dewey, Croce, Gentile, Husserl, Heidegger, Jaspers, Sartre, Bergson, Russell, Wittgenstein, Freud, Popper e outros. Entretanto, como esses pensadores geraram tradição filosó-fica ou se inserem em movimento filosófico com contribuição origi-nal, cremos oportuno apresentá-los no quadro de ou, de qualquer modo, relacionados com tais tradições de pensamento ou movimentos filosóficos, dos quais delineamos as características histórico-sociais, especialmente as características teóricas que os tipificam. Assim seja dito para o romantismo, o positivismo, o marxismo, o existencialismo, a fenomenologia, o neomarxismo, o estruturalismo, a escola de Francoforte, o espiritualismo, as novas teologias, o neopositivismo, o personalismo etc. Desse modo, as diversas partes se configuram como unidades didáticas (ordenadas cronológica e

I

ou logicamente) de grande utilidade para os estudantes e para as turmas que, tendo que fazer opção, possuem pelo menos um instrumento para conhecer em que ambiente histórico e teórico se situa determinado pensador. As características mais destacadas deste terceiro volume se podem resumir nos seguintes seis pontos:

(8)

8 Prefácio 1) No tratado dos diversos pensadores e c!-as várias cor~er:t:s, foram constantemente levadas em conta as mazs recentes aquzszçoes historiográficas.

2) Não se prescindiu de pen~ad~res (Trendelenburlf, Cattano, Scheler, Hartmann, Peirce, Vazlatz, Dzlthey, Avenarzus, Ma_ch, Duhen Poincaré, Merleau-Ponty, Marcel, Blondel, Mounzer, Bridg,;,an, Piaget) ou círculos intei:o.s de pen_sam~nto (como

?

personalismo, a fenomenologia da relzgzão, ~ soczo~ogza do

conhecz-mento, a teoria da argumentação, a pszcolog_za da [or'!"a, a epistemologia genética, o marginalismo _ou as teorzas economzc_as de Keynes) que habitualmente são subestzmados,_ mas ?'os quazs, ao contrário os autores deste curso de filosofia dao mazor destaque.

3) A historiografia mais recente evidenciou as relações con:zple-xas que, pouco a pouco, foram ligando o desenvolvi"!'ento das ciências matemáticas, biológicas e físicas ao desenvolvzmento do pensamento filosófico. Conseqüent~me11;t~, pode-se en~o~trar ,n~ste volume tratado articulado das teorzas logwas, matematzcas, fiszcas e biológicas que se entrelaçaram de formas variad~s com o p~ns~­ mento filosófico no século passado e no nosso. E se _exzs.te uma czer:cza dos filósofos, também existe uma filosofia dos czen_tlstc;-s. Por_zsso~ nos capítulos relativos à históri:a do pe_nsa~ento ~zentifico,_ nao ha longas e mudas relações de nomes de czentzstas, tltulos de lzvro~ ou nomes de teorias científicas: ao invés disso, procurou-se seguzr o surgimento e a afirmação dos resultados técnicos que. (~orno as geometrias não-euclideanas, a teoria da evolução, a relatwzdade de Einstein as descobertas dos paradoxos de Russell, dos teoremas de Godel

et~.)

mostraram força capaz de derrubar teorias científicas nas quais se apoiavam importantes, influentes e freqüentemente

veneráveis teorias filosóficas. .

4) Este último ponto ficará ainda mais _claro. nas págzn?'s dedicadas à história das ciências humanas (pszcologza, soczologza, economia, lingüística, teoria da historiografia, psiquiatri_a, ant~o­ pologia, psicanálise etc.). Em suma, dedzcamos atençao muz!o particular ao desenvolvimento das ciências: t~ata-se d; atençao motivada por certos desdobramentos das teorzas filosoficas,. en-quanto algumas teorias filosóficas para serem compreendz~as requerem a compreensão do desenvolvimento de algumas teorzas

científicas. , .

5)

A

história da ciência nos séculos XIX e XX est?' rel~c.zo_nada à história das teorias epistemológicas: empirzo-c~ztzcz~mo, convencionalismo, neopositivismo, operacionismo, . raczonal~smo aberto (de Bachelard), falibilismo (de Popper) e a epzstemologza de pós-popperianos como Thomas S. Kuhn, Imre Lakatos, Paul

K_.

Feyerabend, Larry Laudan, William W. Bartley ~11, J~seph~a.ssz, J. Watkins ou H. Albert. O extenso tratado das teorzas epzstemologzcas

Prefácio 9

deve-se ao fato de que sempre mais se percebeu não ser possível enfrentar as questões teóricas de maior importância (E possível racionalidade diversa e talvez superior à das ciências? As ciências humanas são verdadeiramente ciências? O que existe de científico no marxismo? Como- se isso for possível- pode ser científica a historiografia? Podemos fundamentar racionalmente as normas e os valores? - e assim por diante.) sem teoria adequada da racionalidade.

6) Havendo-nos detido difusamente nas teorias lógico-mate-máticas, físico-naturalistas, psicológicas e histórico-sociais, dedi-camos também não menor consideração, neste volume, a autores e movimentos de pensamento contemporâneos portadores de idéias e teorias que já constituem instrumentos conceituais indispensáveis para a formação de mente bem aparelhada e vivaz. Trata-se de pensadores como Wertheimer e Piaget, Freud, Jung, Adler e Rogers, Menger e Keynes, De Saussure e Clomsky, Malinowski, Perelman ou de movimentos filosóficos como o neomarxismo (russo e alemão, francês e italiano), a escola de Francoforte, as novas teologias (protestante e católica), a filosofia da linguagem de Cambridge e de Oxford, o estruturalismo ou a hermenêutica de Gadamer.

O volume conclui com apêndice que contém, qual complemento indispensável, os quadros cronológicos sinóticos, e o índice dos nomes. Esse apêndice foi elaborado pelo professor Claudio Mazzarelli (cf fim do volume), que, unindo a dupla competência de professor de longa data e de pesquisador científico, procurou apresentar o instrumento mais rico e mais funcional ao mesmo tempo. Também devemos ao professor Mazzarelli as páginas sobre Hartmann.

Os autores desejam destacar de modo especial os colegas que gentilmente aceitaram ler algumas partes deste volume e nos dar alguns conselhos: Pietro Omodeo, professor de Zoologia na Univer-sidade de Pádua, leu as partes relativas à história da biologia; Giovanni Prodi, professor de Matemáticas Complementares na Universidade de Pisa, leu as páginas dedicadas à história de matemática; Salvo d'Agostino, docente de História da Física na Universidade de Roma, leu as partes relativas à hi~tória das idéias físicas; Vittorio Somenzi, professor de Filosofia da Ciência também na Universidade de Roma, leu todos os capítulos sobre as teorias epistemológicas; Fabio Metelli, professor de Psicologia na Univer-sidade de Pádua, revisou as páginas relativas à psicologia da forma; Guido Petter, professor de Psicologia da Idade Evolutiva na Universidade de Pádua, leu as páginas dedicadas à epistemologia genética de Jean Piaget; Luciano Pellicani, professor de Sociologia da Política na Universidade de Nápoles, leu as seções relativas ao desenvolvimento da sociologia e da economia. Expressamos nosso agradecimento ao professor Franco Blezza (Universidade de Pádua)

(9)

8 Prefácio 1) No tratado dos diversos pensadores e c!-as várias cor~er:t:s, foram constantemente levadas em conta as mazs recentes aquzszçoes historiográficas.

2) Não se prescindiu de pen~ad~res (Trendelenburlf, Cattano, Scheler, Hartmann, Peirce, Vazlatz, Dzlthey, Avenarzus, Ma_ch, Duhen Poincaré, Merleau-Ponty, Marcel, Blondel, Mounzer, Bridg,;,an, Piaget) ou círculos intei:o.s de pen_sam~nto (como

?

personalismo, a fenomenologia da relzgzão, ~ soczo~ogza do conhecz-mento, a teoria da argumentação, a pszcolog_za da [or'!"a, a epistemologia genética, o marginalismo _ou as teorzas economzc_as de Keynes) que habitualmente são subestzmados,_ mas ?'os quazs, ao contrário os autores deste curso de filosofia dao mazor destaque.

3) A historiografia mais recente evidenciou as relações con:zple-xas que, pouco a pouco, foram ligando o desenvolvi"!'ento das ciências matemáticas, biológicas e físicas ao desenvolvzmento do pensamento filosófico. Conseqüent~me11;t~, pode-se en~o~trar ,n~ste volume tratado articulado das teorzas logwas, matematzcas, fiszcas e biológicas que se entrelaçaram de formas variad~s com o p~ns~­ mento filosófico no século passado e no nosso. E se _exzs.te uma czer:cza dos filósofos, também existe uma filosofia dos czen_tlstc;-s. Por_zsso~ nos capítulos relativos à históri:a do pe_nsa~ento ~zentifico,_ nao ha longas e mudas relações de nomes de czentzstas, tltulos de lzvro~ ou nomes de teorias científicas: ao invés disso, procurou-se seguzr o surgimento e a afirmação dos resultados técnicos que. (~orno as geometrias não-euclideanas, a teoria da evolução, a relatwzdade de Einstein as descobertas dos paradoxos de Russell, dos teoremas de Godel

et~.)

mostraram força capaz de derrubar teorias científicas nas quais se apoiavam importantes, influentes e freqüentemente

veneráveis teorias filosóficas. .

4) Este último ponto ficará ainda mais _claro. nas págzn?'s dedicadas à história das ciências humanas (pszcologza, soczologza, economia, lingüística, teoria da historiografia, psiquiatri_a, ant~o­ pologia, psicanálise etc.). Em suma, dedzcamos atençao muz!o particular ao desenvolvimento das ciências: t~ata-se d; atençao motivada por certos desdobramentos das teorzas filosoficas,. en-quanto algumas teorias filosóficas para serem compreendz~as requerem a compreensão do desenvolvimento de algumas teorzas

científicas. , .

5)

A

história da ciência nos séculos XIX e XX est?' rel~c.zo_nada à história das teorias epistemológicas: empirzo-c~ztzcz~mo, convencionalismo, neopositivismo, operacionismo, . raczonal~smo aberto (de Bachelard), falibilismo (de Popper) e a epzstemologza de pós-popperianos como Thomas S. Kuhn, Imre Lakatos, Paul

K_.

Feyerabend, Larry Laudan, William W. Bartley ~11, J~seph~a.ssz, J. Watkins ou H. Albert. O extenso tratado das teorzas epzstemologzcas

Prefácio 9

deve-se ao fato de que sempre mais se percebeu não ser possível enfrentar as questões teóricas de maior importância (E possível racionalidade diversa e talvez superior à das ciências? As ciências humanas são verdadeiramente ciências? O que existe de científico no marxismo? Como- se isso for possível- pode ser científica a historiografia? Podemos fundamentar racionalmente as normas e os valores? - e assim por diante.) sem teoria adequada da racionalidade.

6) Havendo-nos detido difusamente nas teorias lógico-mate-máticas, físico-naturalistas, psicológicas e histórico-sociais, dedi-camos também não menor consideração, neste volume, a autores e movimentos de pensamento contemporâneos portadores de idéias e teorias que já constituem instrumentos conceituais indispensáveis para a formação de mente bem aparelhada e vivaz. Trata-se de pensadores como Wertheimer e Piaget, Freud, Jung, Adler e Rogers, Menger e Keynes, De Saussure e Clomsky, Malinowski, Perelman ou de movimentos filosóficos como o neomarxismo (russo e alemão, francês e italiano), a escola de Francoforte, as novas teologias (protestante e católica), a filosofia da linguagem de Cambridge e de Oxford, o estruturalismo ou a hermenêutica de Gadamer.

O volume conclui com apêndice que contém, qual complemento indispensável, os quadros cronológicos sinóticos, e o índice dos nomes. Esse apêndice foi elaborado pelo professor Claudio Mazzarelli (cf fim do volume), que, unindo a dupla competência de professor de longa data e de pesquisador científico, procurou apresentar o instrumento mais rico e mais funcional ao mesmo tempo. Também devemos ao professor Mazzarelli as páginas sobre Hartmann.

Os autores desejam destacar de modo especial os colegas que gentilmente aceitaram ler algumas partes deste volume e nos dar alguns conselhos: Pietro Omodeo, professor de Zoologia na Univer-sidade de Pádua, leu as partes relativas à história da biologia; Giovanni Prodi, professor de Matemáticas Complementares na Universidade de Pisa, leu as páginas dedicadas à história de matemática; Salvo d'Agostino, docente de História da Física na Universidade de Roma, leu as partes relativas à hi~tória das idéias físicas; Vittorio Somenzi, professor de Filosofia da Ciência também na Universidade de Roma, leu todos os capítulos sobre as teorias epistemológicas; Fabio Metelli, professor de Psicologia na Univer-sidade de Pádua, revisou as páginas relativas à psicologia da forma; Guido Petter, professor de Psicologia da Idade Evolutiva na Universidade de Pádua, leu as páginas dedicadas à epistemologia genética de Jean Piaget; Luciano Pellicani, professor de Sociologia da Política na Universidade de Nápoles, leu as seções relativas ao desenvolvimento da sociologia e da economia. Expressamos nosso agradecimento ao professor Franco Blezza (Universidade de Pádua)

(10)

10 Prefácio pela ajuda prestada no tratado da física contemporânea e a Lauro Galzigna, professor de Bioquímica na Universidade de Pádua, que teve a cortesia de elaborar, para este livro, o trecho sobre o código genético.

Com suas sugestões de críticas, esses ilustres colegas certamen-te contribuíram para melhorar nossa obra.

Naturalmente, a responsabilidade pelas eventuais deficiên-cias só pode ser atribuível aos autores do texto.

Os autores expressam grata recordação à memória do profes-sor Francesco Brunelli, por ter idealizado e promovido a iniciativa desta obra. Pouco antes de seu imprevisto desaparecimento, já havia chegado a preparar a execução gráfica do projeto.

Também dirigem vivo agradecimento ao doutor Remo Bernacchia, por ter favorecido e tornado realizável a concepção inteiramente nova em que se inspira a presente obra e por ter organizado uma estrutura técnica que nos permitirá, pouco a pouco, providenciar eventuais atualizações oportunas. Por fim, expressam particular sentimento de gratidão à doutora Clara Fortina, que, na qualidade de redatora, dedicou-se ao maior êxito da obra muito além dos seus deveres profission-ais, com dedicação e paixão.

Os autores desejam assumir em comum a responsabilidade pelo conjunto desta obra, por terem trabalhado juntos (cada qual segundo sua própria competência, sua própria sensibilidade e seus próprios interesses), em plena unidade de espírito e intenções, para o maior êxito de cada um dos três volumes.

Os Autores

Primeira parte

MOVIMENTO ROMÂNTICO

E FORMAÇÃO DO IDEALISMO

"Um deus é o homem quando sonha e mendigo quando reflete."

Friedrich Hõlderlin "Aconteceu de um deles levantar o véu da deusa de Saís. Pois bem, o que viu ele? Maravilha das maravilhas, viu-se a si mesmo."

Novalis (Friedrich von Hardenberg) "Em tudo está presente o eterno."

\Volfgang Goethe "Só pode ser artista quem tem religião própria, ou seja, intuição do infinito."

(11)

10 Prefácio pela ajuda prestada no tratado da física contemporânea e a Lauro Galzigna, professor de Bioquímica na Universidade de Pádua, que teve a cortesia de elaborar, para este livro, o trecho sobre o código genético.

Com suas sugestões de críticas, esses ilustres colegas certamen-te contribuíram para melhorar nossa obra.

Naturalmente, a responsabilidade pelas eventuais deficiên-cias só pode ser atribuível aos autores do texto.

Os autores expressam grata recordação à memória do profes-sor Francesco Brunelli, por ter idealizado e promovido a iniciativa desta obra. Pouco antes de seu imprevisto desaparecimento, já havia chegado a preparar a execução gráfica do projeto.

Também dirigem vivo agradecimento ao doutor Remo Bernacchia, por ter favorecido e tornado realizável a concepção inteiramente nova em que se inspira a presente obra e por ter organizado uma estrutura técnica que nos permitirá, pouco a pouco, providenciar eventuais atualizações oportunas. Por fim, expressam particular sentimento de gratidão à doutora Clara Fortina, que, na qualidade de redatora, dedicou-se ao maior êxito da obra muito além dos seus deveres profission-ais, com dedicação e paixão.

Os autores desejam assumir em comum a responsabilidade pelo conjunto desta obra, por terem trabalhado juntos (cada qual segundo sua própria competência, sua própria sensibilidade e seus próprios interesses), em plena unidade de espírito e intenções, para o maior êxito de cada um dos três volumes.

Os Autores

Primeira parte

MOVIMENTO ROMÂNTICO

E FORMAÇÃO DO IDEALISMO

"Um deus é o homem quando sonha e mendigo quando reflete."

Friedrich Hõlderlin "Aconteceu de um deles levantar o véu da deusa de Saís. Pois bem, o que viu ele? Maravilha das maravilhas, viu-se a si mesmo."

Novalis (Friedrich von Hardenberg) "Em tudo está presente o eterno."

\Volfgang Goethe "Só pode ser artista quem tem religião própria, ou seja, intuição do infinito."

(12)

Goethe (1749-1832) foi o grande dominador da época romântica, com sua poesia, seu estilo de vida e seu pensamento. Também exerceu extraordinária influência sobre a política cultural de sua época.

Capítulo I

ROMANTISMO

E SUPERAÇÃO DO ILUMINISMO

1. O movimento romântico e

seus

expoentes

1.1.

Um antecedente do

fenômeno romântico:

o•Sturm und

Drang

Talvez nunca tenha acontecido de o fim de um século e o infcio de outro serem marcados por mudanças tão radicais e tão claras como as mudanças que caracterizam os últimos anos do século XVIII e os primeiros anos do século

XIX.

No campo sociopolítico, tivemos acontecimentos destinados a imprimir novo rumo à história. Em 1789, explodiu a Revolução Francesa, por entre o entusiasmo dos intelectuais mais iluminados de todas as nações européias. Rapidamente, porém, a revolução apresentou reviravolta que colheu todos de surpresa. Em 1792, foi derrubada a monarquia na França e proclamada a República.

Em

1793, o rei foi condenado ao patíbulo. A partir de agosto de 1793, teve infcio o grande Terror, que produziu centenas de vitimas. A guilhotina (antigo instrumento de execução capital, oportunamen-te modificado pelo médico Guillotin, membro da Constituinoportunamen-te, a fnn de torná-lo mais rápido e funcional) tornou-se símbolo sinistro de morte, que punha fim às grandes esperanças filantrópicas, humanitárias e pacifistas acesas pelo século das "luzes". A ascen-são napoleônica, que culminou em 1804 com a proclamação do Império, e as campanhas militares, que puseram a Europa sob ferro e fogo e subverteram toda a estrutura política e social do Antigo Continente, instaurando novo despotismo,fizeram ruir por

(13)

Goethe (1749-1832) foi o grande dominador da época romântica, com sua poesia, seu estilo de vida e seu pensamento. Também exerceu extraordinária influência sobre a política cultural de sua época.

Capítulo I

ROMANTISMO

E SUPERAÇÃO DO ILUMINISMO

1. O movimento romântico e

seus

expoentes

1.1.

Um antecedente do fenômeno romântico:

o•Sturm und

Drang

Talvez nunca tenha acontecido de o fim de um século e o infcio de outro serem marcados por mudanças tão radicais e tão claras como as mudanças que caracterizam os últimos anos do século XVIII e os primeiros anos do século

XIX.

No campo sociopolítico, tivemos acontecimentos destinados a imprimir novo rumo à história. Em 1789, explodiu a Revolução Francesa, por entre o entusiasmo dos intelectuais mais iluminados de todas as nações européias. Rapidamente, porém, a revolução apresentou reviravolta que colheu todos de surpresa. Em 1792, foi derrubada a monarquia na França e proclamada a República.

Em

1793, o rei foi condenado ao patíbulo. A partir de agosto de 1793, teve infcio o grande Terror, que produziu centenas de vitimas. A guilhotina (antigo instrumento de execução capital, oportunamen-te modificado pelo médico Guillotin, membro da Constituinoportunamen-te, a fnn de torná-lo mais rápido e funcional) tornou-se símbolo sinistro de morte, que punha fim às grandes esperanças filantrópicas, humanitárias e pacifistas acesas pelo século das "luzes". A ascen-são napoleônica, que culminou em 1804 com a proclamação do Império, e as campanhas militares, que puseram a Europa sob ferro e fogo e subverteram toda a estrutura política e social do Antigo Continente, instaurando novo despotismo,fizeram ruir por

(14)

14 O romantismo terra todos os resíduos de esperanças iluministas que. ainda restavam.

Mas antes mesmo que explodisse a Revolução na França, na década

t~anscorrida

entre 1770 ·e 1780, a intempérie cultural registrava na Alemanha as pri~eiras mo~ificações de ~to que, a prazo médio, na passagem de seculo, levanam à s-qperaçao total do iluminismo. O movimento que produziu tais modificações nessa década ficou conhecido sob o nome de Sturm und Drang, que sig-nifica "Tempestade e Assalto" ou, melhor ainda, "Tempestade e Ímpetd'. A denominação deriva do título de drama escrito em 1776 por u.m dos expoentes do movimento, Friedrich Maximilian Klinger (1752-1831), e parece ter sido usada pela primeira vez para desig-nar todo o movimento, por A. Sch ;_.~gel, no início do século XIX. Os dois termos provavelmente devem ser entendidos como hendíadis, ou seja, como dois tennos que expressam conceito único com duas palavras: assim, o sentido deveria ser "ímpeto tempestuoso", "tem-pestade de sentimentos", "efervescência caótica de sentimentos". (O título original dado por Klinger ao seu drama era Wirrwarr, ou

seja, "confusão caótica".) .

São as seguintes as posições e as idéias de fundo desse moVI-mento: a) A natureza é redescoberta, exaltada como força onip8ten-te e criadora de vida. b) Relaciona-se estreitamenonip8ten-te com a natureza o "gênio", entendido como força originária: o gênio cria analogamente à natureza e, portan~o, não extrai suas normas do exterior, mas é ele próprio norma. c) A concepção deísta da Divindade como Intelecto ou Razão Suprema, própria do iluminismo, começa a se contrapor o panteísmo, ao passo que a religiosidade assume novas formas que, em seus pontos extremos, se expressa no titanismo paganizante do Prometeu de Goethe ou no titanismo cristão da santidade e do martírio de certas personagens de Michel Reinhold Lenz ( 17 51-1792). d) O sentimento pátrio se expressa no ódi:i ao tirano, na exaltação da liberdade e no desejo de infringir convenções e leis externas. e) Apreciam-se os sentimentos fortes e as paixões calorosas e impetuosas, bem como os caracteres francos e abertos.

Esse movimento foi influenciado por alguns poetas ingleses, como James Macpherson (1738-1796), que publicara Fragmentos de poesia antiga,- atribuindo-os a Ossian, bardo antigo. Além da poesia ossiânica, também houve influência da redescoberta de Shakespeare, autor sobre o qual Lessing já chamara a atenção dos al~mães. E Rousseau também causara grande impressão, seja com seu novo sentimento da natureza, seja com sua nova pedagogia, seja ainda com suas idéias políticas (o Estado como "contrato social"). Dentre os escritores de língua alemã, além do já citado Lessing, influenciou osStürmer sobretudo o poeta Friedrich Gottlieb Klopstock (1724-1803), com sua valorização do sentimento.

Romantismo e classicismo 15

O "Sturm und Drang'' teria apresentado influência bastante escassa se houvesse sido constituído apenas por figuras como a de Kl.inger (que terminou sua vida aventurosa como general do exér-cito russo) ou a de Lenz (que morreu louco na Rússia, em plena miséria), que deixaram herança literária de parco valor. Quem deu sentido e relevância histórica e supranacional ao Sturm foram ninguém mais que Goethe, Schiller e os filósofos J acobi e Herder, com sua primeira produção poética e literária. Pode-se dizer, inclusive, que as fases mais significativas do movimento têm exatamente Goethe por protagonista, primeiro em Estrasburgo e depois em Francoforte. Com a transferência de Goethe para Weimar (1775), começa a fase de declínio do movimento.

1.2. O papel desempenhado pelo classicismo

em relação ao Sturm und Drang e ao romantismo O Sturm und Drang foi comparado por alguns estudiosos a uma espécie de revolução que antecipou verbalmente em terras germânicas aquilo que, pouco depois, seria a Revolução Francesa no campo político. Por outros estudiosos, ao contrário, foi conside-rado como uma espécie de reação antecipada à própria Revolução, enquanto se apresenta como reação contra o iluminismo, do qual a Revolução Francesa foi o coroamento. Com efeito, como já se observou, trata-se de redespertar do espírito alemão depois de séculos de torpor e de ressurgimento de algumas atitudes peculia-res à alma germânica.

Portanto, encontramo-nos diante de prelúdio ao romantismo, ainda que desalinhado e imaturo. O historiador da filosofia G. de Ruggiero expressou essa visão de modo particularmente feliz: "As manifestações do Sturm und Drang apresentam, em estado fluido e incandescente, o metal bruto que seria forjado pela arte e a filosofia alemãs." E continua ele: "Com efeito, a importância do Sturm não é a de episódio isolado e circunscrito, e sim a de expressão espiritual coletiva de todo um povo. Não apenas os Kl.inger e os Lenz, mas também os Herder, os Schiller e os Goethe (aos quais se poderia acrescentar o próprio Jacobi), passaram através do Sturm: os primeiros se detiveram nele e, por isso, logo foram ultrapassa-dos; os outros, ao contrário, conseguiram dar forma ao informe, ordem e disciplina ao conteúdo caótico de sua própria natureza. Para nós, a experiência destes últimos é particularmente impor-tante, porque nos permite estudar nos próprios indivíduos duas fases sucessivas e opostas do mesmo processo histórico. Não se trata apenas de modo figurado o dizer que o Sturm representa a juventude desordenada e o classicismo a composta e serena matu-ridade da alma alemã: o Sturm é realmente a juventude de Herder

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14 O romantismo terra todos os resíduos de esperanças iluministas que. ainda restavam.

Mas antes mesmo que explodisse a Revolução na França, na década

t~anscorrida

entre 1770 ·e 1780, a intempérie cultural registrava na Alemanha as pri~eiras mo~ificações de ~to que, a prazo médio, na passagem de seculo, levanam à s-qperaçao total do iluminismo. O movimento que produziu tais modificações nessa década ficou conhecido sob o nome de Sturm und Drang, que sig-nifica "Tempestade e Assalto" ou, melhor ainda, "Tempestade e Ímpetd'. A denominação deriva do título de drama escrito em 1776 por u.m dos expoentes do movimento, Friedrich Maximilian Klinger (1752-1831), e parece ter sido usada pela primeira vez para desig-nar todo o movimento, por A. Sch ;_.~gel, no início do século XIX. Os dois termos provavelmente devem ser entendidos como hendíadis, ou seja, como dois tennos que expressam conceito único com duas palavras: assim, o sentido deveria ser "ímpeto tempestuoso", "tem-pestade de sentimentos", "efervescência caótica de sentimentos". (O título original dado por Klinger ao seu drama era Wirrwarr, ou

seja, "confusão caótica".) .

São as seguintes as posições e as idéias de fundo desse moVI-mento: a) A natureza é redescoberta, exaltada como força onip8ten-te e criadora de vida. b) Relaciona-se estreitamenonip8ten-te com a natureza o "gênio", entendido como força originária: o gênio cria analogamente à natureza e, portan~o, não extrai suas normas do exterior, mas é ele próprio norma. c) A concepção deísta da Divindade como Intelecto ou Razão Suprema, própria do iluminismo, começa a se contrapor o panteísmo, ao passo que a religiosidade assume novas formas que, em seus pontos extremos, se expressa no titanismo paganizante do Prometeu de Goethe ou no titanismo cristão da santidade e do martírio de certas personagens de Michel Reinhold Lenz ( 17 51-1792). d) O sentimento pátrio se expressa no ódi:i ao tirano, na exaltação da liberdade e no desejo de infringir convenções e leis externas. e) Apreciam-se os sentimentos fortes e as paixões calorosas e impetuosas, bem como os caracteres francos e abertos.

Esse movimento foi influenciado por alguns poetas ingleses, como James Macpherson (1738-1796), que publicara Fragmentos de poesia antiga,- atribuindo-os a Ossian, bardo antigo. Além da poesia ossiânica, também houve influência da redescoberta de Shakespeare, autor sobre o qual Lessing já chamara a atenção dos al~mães. E Rousseau também causara grande impressão, seja com seu novo sentimento da natureza, seja com sua nova pedagogia, seja ainda com suas idéias políticas (o Estado como "contrato social"). Dentre os escritores de língua alemã, além do já citado Lessing, influenciou osStürmer sobretudo o poeta Friedrich Gottlieb Klopstock (1724-1803), com sua valorização do sentimento.

Romantismo e classicismo 15

O "Sturm und Drang'' teria apresentado influência bastante escassa se houvesse sido constituído apenas por figuras como a de Kl.inger (que terminou sua vida aventurosa como general do exér-cito russo) ou a de Lenz (que morreu louco na Rússia, em plena miséria), que deixaram herança literária de parco valor. Quem deu sentido e relevância histórica e supranacional ao Sturm foram ninguém mais que Goethe, Schiller e os filósofos J acobi e Herder, com sua primeira produção poética e literária. Pode-se dizer, inclusive, que as fases mais significativas do movimento têm exatamente Goethe por protagonista, primeiro em Estrasburgo e depois em Francoforte. Com a transferência de Goethe para Weimar (1775), começa a fase de declínio do movimento.

1.2. O papel desempenhado pelo classicismo

em relação ao Sturm und Drang e ao romantismo O Sturm und Drang foi comparado por alguns estudiosos a uma espécie de revolução que antecipou verbalmente em terras germânicas aquilo que, pouco depois, seria a Revolução Francesa no campo político. Por outros estudiosos, ao contrário, foi conside-rado como uma espécie de reação antecipada à própria Revolução, enquanto se apresenta como reação contra o iluminismo, do qual a Revolução Francesa foi o coroamento. Com efeito, como já se observou, trata-se de redespertar do espírito alemão depois de séculos de torpor e de ressurgimento de algumas atitudes peculia-res à alma germânica.

Portanto, encontramo-nos diante de prelúdio ao romantismo, ainda que desalinhado e imaturo. O historiador da filosofia G. de Ruggiero expressou essa visão de modo particularmente feliz: "As manifestações do Sturm und Drang apresentam, em estado fluido e incandescente, o metal bruto que seria forjado pela arte e a filosofia alemãs." E continua ele: "Com efeito, a importância do Sturm não é a de episódio isolado e circunscrito, e sim a de expressão espiritual coletiva de todo um povo. Não apenas os Kl.inger e os Lenz, mas também os Herder, os Schiller e os Goethe (aos quais se poderia acrescentar o próprio Jacobi), passaram através do Sturm: os primeiros se detiveram nele e, por isso, logo foram ultrapassa-dos; os outros, ao contrário, conseguiram dar forma ao informe, ordem e disciplina ao conteúdo caótico de sua própria natureza. Para nós, a experiência destes últimos é particularmente impor-tante, porque nos permite estudar nos próprios indivíduos duas fases sucessivas e opostas do mesmo processo histórico. Não se trata apenas de modo figurado o dizer que o Sturm representa a juventude desordenada e o classicismo a composta e serena

(16)

16 O romantismo e de Goethe, que se ergue qual símbolo da juventude de todo o povo - e a vitória sobre ele tem significado pessoal que dá fundamento mais íntimo e sólido à crise da alma coletiva."

Esse trecho acena ao classicismo, que agiu como corretivo da descompostura e do caos dos Stürmer. Com efeito, o classicismo tem grande importância na formação do espírito da época que começa-mos a estudar e, pouco a pouco, se impõe não apenas como an-tecedente, mas até como componente do próprio romantismo ou até como um de seus pólos dialéticos. Por isso, devemos falar dele, ainda que de modo sucinto.

É claro que o culto ao clássico não era estranho ao iluminista século XVIII. Mas tratava-se de "clássico" de modismo, ou seja, de clássico repetitivo e, portanto, privado de alma e de vida. Mas, ~m seus escritos sobre a arte antiga, publicados entre 1755 e 1767, Johann Winckelmann (1717-1768)já lançava as premissas para a superação dos limites do classicismo como mera repetiçã.o passiva do antigo.

Na realidade, à primeira vista, uma de suas máximas parece até afirmar o contrário: "Para nós, o único caminho para nos tornarmos grandes e, se possível, inimitáveis, é a imitação dos antigos." Mas essa "imitação" que nos torna "inimitáveis" consiste em readquirir o olhar dos antigos, aquela visão que Michelangelo e Rafael souberam readquirir e que lhes permitiu buscar "o bom gosto em sua fonte" e redescobrir "a norma perfeita da arte". Está claro, então, que para Winckelmann a "imitação" do clássico, entendida nesse sentido, leva não apenas à natureza, mas também além da própria natureza, ou seja, à Idéia: "Os conhecedores e os imitadores das obras gregas encontram nessas obras-primas não somente o mais belo aspecto da natureza, como também mais do que a natureza, isto é, certas belezas ideais da natureza ... compos-tas por figuras criadas somente no intelecto." Essa Idéia é "uma natureza superior", ou seja, é a verdadeira natureza.

Sendo assim, pode-se compreender muito bem estas impor-tantes conclusões de Winckelmann: "Se o artista baseia-se em tais fundamentos e faz com que sua mão e seu sentimento se guiem pelas normas gregas da beleza, encontra-se no caminho que o levará sem falta à imitação da natureza. Os conceitos de unidade e de perfeição da natureza dos antigos purificarão suas idéias sobre a essência, desligada da nossa natureza, e as tornarão mais sensíveis. Descobrindo as belezas da nossa natureza, ele saberá relacioná-las com o belo perfeito e, com a ajuda das formas subli-mes, sempre presentes para ele, o artista tornar-se-á norma para si mesmo."

Esse é o ponto de partida do neoclassicismo romântico. Como explica muito bem L. Mittner (insigne historiador da literatura

Romantismo e classicismo 17

alemã), ele "deveria ter-se formado organicamente da cultura alemã, como, segundo Winckelmann, se formara organicamente o classicismo grego; ou seja, havia a aspiração a um classicismo que não fosse cópia e repetição, e sim misteriosa e miraculosa palingênese dos valores supremos da Antigüidade". O "renascimento do clássi-co" no espírito alemão e do espírito alemão, graças à perene juven-tude da natureza e do espírito: essa seria a suprema aspiração de muitos escritores.

Como escreve ainda Mittner: "Excetuando-se pouquíssimas de suas supremas realizações, todo o classicismo alemão oscilaria entre duas tendências opostas: imitação mecânica da arte grega, isto é, mais arte classicista do que arte substancialmente clássica, e aspiração a novo e genuíno classicismo, inspirado pelo espírito grego, mas surgido de evolução orgânica do espírito alemão." Assim, o neoclassicismo aspirava a transformar a natureza em forma e a vida em arte, não repetindo, mas renovancf:o o que os gregos haviam feito.

Ainda há dois pontos muito importantes a destacar.

Em primeiro lugar, deve-se notar o tipo de influência que o classicismo exerceu sobre os melhores representantes do Sturm, influência a que já acenamos. A marca do clássico é a "medida", o "limite", o "equilíbrio". E Herder, Schiller e Goethe procuraram precisamente organizar as decompostas forças do Sturm undDrang em função dessa ordem e dessa medida. E foi precisamente desse impacto entre a tempestuosidade e impetuosidade do Sturm e o "limite" que é elemento característico do clássico que nasceu o momento especificamente romântico.

Em segundo lugar, deve-se notar que o renascimento dos gregos, além da arte, também seria essencial na filosofia: Schleiermacher traduziria os diálogos platônicos e os reintroduziria no âmago do discurso filosófico; Schelling retomaria de Platão conceitos fundamentais como a teoria das Idéias e a concepção da alma do mundo; Hegel elaboraria grandioso sistema precisamente graças à redescoberta do antigo sentido clássico da "dialética", com o acréscimo da novidade do elemento que ele chama "especulativo", como veremos. E muito obteria do seu constante colóquio com os filósofos gregos, não apenas do colóquio com os grandes pensadores consagrados por tradição bimilenar, mas também do diálogo com os pré-socráticos, particularmente, por exemplo, com Heráclito, do qual utilizou quase todos os fragmentos em sua Lógica.

Sem o componente clássico, portanto, não se explicariam a poesia nem a filosofia da nova época.

Com o que dissemos, já dispomos dos elementos que nos permitem determinar os traços essenciais do romantismo.

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16 O romantismo e de Goethe, que se ergue qual símbolo da juventude de todo o povo - e a vitória sobre ele tem significado pessoal que dá fundamento mais íntimo e sólido à crise da alma coletiva."

Esse trecho acena ao classicismo, que agiu como corretivo da descompostura e do caos dos Stürmer. Com efeito, o classicismo tem grande importância na formação do espírito da época que começa-mos a estudar e, pouco a pouco, se impõe não apenas como an-tecedente, mas até como componente do próprio romantismo ou até como um de seus pólos dialéticos. Por isso, devemos falar dele, ainda que de modo sucinto.

É claro que o culto ao clássico não era estranho ao iluminista século XVIII. Mas tratava-se de "clássico" de modismo, ou seja, de clássico repetitivo e, portanto, privado de alma e de vida. Mas, ~m seus escritos sobre a arte antiga, publicados entre 1755 e 1767, Johann Winckelmann (1717-1768)já lançava as premissas para a superação dos limites do classicismo como mera repetiçã.o passiva do antigo.

Na realidade, à primeira vista, uma de suas máximas parece até afirmar o contrário: "Para nós, o único caminho para nos tornarmos grandes e, se possível, inimitáveis, é a imitação dos antigos." Mas essa "imitação" que nos torna "inimitáveis" consiste em readquirir o olhar dos antigos, aquela visão que Michelangelo e Rafael souberam readquirir e que lhes permitiu buscar "o bom gosto em sua fonte" e redescobrir "a norma perfeita da arte". Está claro, então, que para Winckelmann a "imitação" do clássico, entendida nesse sentido, leva não apenas à natureza, mas também além da própria natureza, ou seja, à Idéia: "Os conhecedores e os imitadores das obras gregas encontram nessas obras-primas não somente o mais belo aspecto da natureza, como também mais do que a natureza, isto é, certas belezas ideais da natureza ... compos-tas por figuras criadas somente no intelecto." Essa Idéia é "uma natureza superior", ou seja, é a verdadeira natureza.

Sendo assim, pode-se compreender muito bem estas impor-tantes conclusões de Winckelmann: "Se o artista baseia-se em tais fundamentos e faz com que sua mão e seu sentimento se guiem pelas normas gregas da beleza, encontra-se no caminho que o levará sem falta à imitação da natureza. Os conceitos de unidade e de perfeição da natureza dos antigos purificarão suas idéias sobre a essência, desligada da nossa natureza, e as tornarão mais sensíveis. Descobrindo as belezas da nossa natureza, ele saberá relacioná-las com o belo perfeito e, com a ajuda das formas subli-mes, sempre presentes para ele, o artista tornar-se-á norma para si mesmo."

Esse é o ponto de partida do neoclassicismo romântico. Como explica muito bem L. Mittner (insigne historiador da literatura

Romantismo e classicismo 17

alemã), ele "deveria ter-se formado organicamente da cultura alemã, como, segundo Winckelmann, se formara organicamente o classicismo grego; ou seja, havia a aspiração a um classicismo que não fosse cópia e repetição, e sim misteriosa e miraculosa palingênese dos valores supremos da Antigüidade". O "renascimento do clássi-co" no espírito alemão e do espírito alemão, graças à perene juven-tude da natureza e do espírito: essa seria a suprema aspiração de muitos escritores.

Como escreve ainda Mittner: "Excetuando-se pouquíssimas de suas supremas realizações, todo o classicismo alemão oscilaria entre duas tendências opostas: imitação mecânica da arte grega, isto é, mais arte classicista do que arte substancialmente clássica, e aspiração a novo e genuíno classicismo, inspirado pelo espírito grego, mas surgido de evolução orgânica do espírito alemão." Assim, o neoclassicismo aspirava a transformar a natureza em forma e a vida em arte, não repetindo, mas renovancf:o o que os gregos haviam feito.

Ainda há dois pontos muito importantes a destacar.

Em primeiro lugar, deve-se notar o tipo de influência que o classicismo exerceu sobre os melhores representantes do Sturm, influência a que já acenamos. A marca do clássico é a "medida", o "limite", o "equilíbrio". E Herder, Schiller e Goethe procuraram precisamente organizar as decompostas forças do Sturm undDrang em função dessa ordem e dessa medida. E foi precisamente desse impacto entre a tempestuosidade e impetuosidade do Sturm e o "limite" que é elemento característico do clássico que nasceu o momento especificamente romântico.

Em segundo lugar, deve-se notar que o renascimento dos gregos, além da arte, também seria essencial na filosofia: Schleiermacher traduziria os diálogos platônicos e os reintroduziria no âmago do discurso filosófico; Schelling retomaria de Platão conceitos fundamentais como a teoria das Idéias e a concepção da alma do mundo; Hegel elaboraria grandioso sistema precisamente graças à redescoberta do antigo sentido clássico da "dialética", com o acréscimo da novidade do elemento que ele chama "especulativo", como veremos. E muito obteria do seu constante colóquio com os filósofos gregos, não apenas do colóquio com os grandes pensadores consagrados por tradição bimilenar, mas também do diálogo com os pré-socráticos, particularmente, por exemplo, com Heráclito, do qual utilizou quase todos os fragmentos em sua Lógica.

Sem o componente clássico, portanto, não se explicariam a poesia nem a filosofia da nova época.

Com o que dissemos, já dispomos dos elementos que nos permitem determinar os traços essenciais do romantismo.

(18)

18

1.3. A complexidade do fenômeno romântico e as suas características essenciais

O romantismo

Definir o romantismo é tarefa deveras difícil, havendo até quem diga ser ela impossível. Alguém chegou a calcular terem sido dadas mais de cento e cinqüenta definições diferentes desse fenô-meno. Mittner recorda que o próprio F. Schlegel, o fundador do círculo dos românticos, escreveu ao seu irmão que não poderia enviar-lhe a sua própria definição da palavra "romântico" porque tinha "125 folhas de extensão"!

Prescindindo dos paradoxos, podemos nos orientar com facili-dade na intrincadíssima questão, distinguindo uma série de pers-pectivas e de categorias capazes de determinar os traços essenciais do fenômeno do romantismo: a) em primeiro lugar, seria bo'm explicar a gênese etimológica do termo, do ponto de vista filosófico-lexicográfico; b) depois, devem-se determinar os limites cronológicos e geográficos do fenômeno; c) então, será preciso procurar determinar sua categoria psicológica ou moral, como foi chamada, vale dizer, o modo peculiar de sentir e as características psicológicas próprias do homem romântico; d) depois, é mister determinar que conteúdo ou que conteúdos conceituais o romântico faz seus; e) em seguida, cumpre determinar a forma de arte em que tudo isso se expressa;

D

por fim, devemos nos perguntar em que sentido se pode falar e se fala de filosofia romântica, o que assume grand.e importância neste estudo.

Vejamos a solução desses problemas, seguindo a ordem em que os propomos.

a) A palavra "romântico" tem longa e complexa história, que se inicia em período anterior ao que estudamos, no qual se torna técnica.

A.

C. Baugh (autor de conhecida história da literatura inglesa) a resume do seguinte modo: "O adjetivo 'romântico' apare-ce pela primeira vez na Inglaterra por volta de meados do século XVII como termo usado para indicar o fabuloso, o extravagante, o fantástico e o irreal (como é encontrado, por exemplo, em certos romances de ca · claria). Foi resgatado dessa conotação negativa no decorrer do século seguinte, no qual passou a ser usado para indicar cenas e situações agradáveis, do tipo das que apareciam na narrativa e na poesia 'romântica' (no sentido acima indicado). Gradativamente, o termo 'romantismo' passou a indicar o renas-cimento do instinto e da emoção, que o racionalismo predominante no século XVIII não conseguiu suprimir inteiramente." F. Schlegel relacionou o "romântico" com o romance e com aquilo que ele pouco a pouco viera a significar nas expressões épicas e líricas medi-vais, ao romance psicológico, autobiográfico e histórico moderno. Assim, para Schlegel, "romântica" era a moderna forma de arte

Aspectos fundamentais do romantismo 19

que, ~orno evoluç~o _orgân~ca _da Ida~e Média até a sua época, possma ~a:ca p~opna, essencia peculiar própria, beleza e veraci-dad? propnas, diferentes das que caracterizavam a grega. Isso, po::em, nos leva a outros problemas, dos quais devemos falar adiante.

. b) Como c_ategoria historiográfica (e geográfica), o romantismo designa o movimento espiritual que envolveu não somente a poesia e a filosofia, mas também as artes figurativas e a música, que se desenvolveu ,na Europa entre fins do século XVIII e a primeira metade do seculo XIX. Embora possam ser identificados certos pródromos desse movimento na Inglaterra, o certo é que 0 movi-ment? apresenta fo~te marca sobretudo do espírito e do sentimento germamco. O movimento se expandiu por toda a Europa· na França, na Itália, na Espanha e, naturalmente, na Inglaterra.· Em cada .um desses países, o romantismo assumiu características peculia::es e ~ofreu transformações. O momento paradigmático do romantismo e o que se coloca a cavaleiro entre os séculos XVIII e XIX, na Aleman_ha, nos cír?ulos constituídos pelos irmãos Schlegel em Jena e depms em Berhm, como já veremos melhor.

, c) No fenômeno que se verifica nesse arco de tempo e nesses paises, ma~ sobretudo na Alemanha, é possível identificar, embora com as devidas, c~utelas ,c~ticas, algumas "constantes" que consti-tuem uma especie de mmtmo denominador comum. Em primeiro lugar, pode ser ap?nt~d? o que constitui o "estado de espírito", 0 com:po~amento P~IcologiCo, o ethos ou marca espiritual do homem :oma_ntico. T~l atitude romântica consiste na condição de conflito mtenor, na dilaceração do sentimento que nunca se sente satisfei-to, 9ue se encontra em contraste com a realidade e aspira a algo mais, qu_e, no entanto, se lhe escapa continuamente. A mais eficaz caractenzaç~o do romantismo como categoria psicológica foi da-da por L. Mlttner e, portanto, a registramos em suas próprias pala_:vr~s: "E!ltendido como fato psicológico, o sentimento românti-~o na? e .s~ntlmento que se afirma acima da razão ou sentimento de I~edia!Ici,dade, intensidade ou violência particulares, como tam-bem, nao e o

c~am~do s~ntime!ltal,

isto é, o sentimento melancóli-co-contemplativo: e mu_tto mats um dado de sensibilidade, preci-samente o fato puro e Simples da sensibilidade, quando ela se

tra-~u: em.e~tado

de

exce~s~va

ou até permanente impressionabilidade Lr~LtabLltdade e rec:twtdade. Na sensibilidade romântica, predo~ m~n~ o ~mor pela Lrresolução e pelas ambivalências, a inquietude e trnqutetude que se comprazem de si mesmas e se exaurem em si '!Le~mas." O termo que se tornou mais típico e quase técnico para mdicar esses estados de espírito é "Sehnsucht", que pode se ex-press~~.me~hor como ."ansiedade" (os sinônimos "desejo ardente",

Referências

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