• Nenhum resultado encontrado

INTRODUÇÃO À LEITURA DOS PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DO DIREITO DE GEORGE WILHELM FRIEDRICH HEGEL. A. Prefácio. (XXIII-XL).

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "INTRODUÇÃO À LEITURA DOS PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DO DIREITO DE GEORGE WILHELM FRIEDRICH HEGEL. A. Prefácio. (XXIII-XL)."

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

INTRODUÇÃO À LEITURA DOS PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DO DIREITO DE GEORGE WILHELM FRIEDRICH HEGEL.

Murilo Duarte Costa Corrêa1

* Notas de leitura sobre o prefácio (XXIII-XL), a introdução (1-34) e o plano da obra (35-37), In: HEGEL, George Wilhelm Friedrich. Princípios da

filosofia do direito. Tradução de Orlando

Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 1997, 329p.

A. Prefácio. (XXIII-XL).

1. Contexto da obra: trata-se de desenvolvimento mais completo e sistemático das idéias fundamentais sobre o direito, expostas na Enciclopédia das Ciências Filosóficas, dedicada, igualmente, ao ensino.

2. Do caráter não-definitivo ou inacabado de um esboço filosófico: a filosofia como “manto de Penélope, que à noite se desfia e todos os dias recomeça desde o princípio”. (XXIV).

3. Método (XXIV/XXV): fundado no espírito lógico: “na ciência o conteúdo encontra-se essencialmente ligado à forma”. (XXV) Critica a arbitrariedade de dissertar com base no sentimento e ao sabor das intuições [e, portanto, alheia ao universal e confundida com o contingente]2; Hegel critica, ainda, a filosofia como descobrimento de verdades que formam um turbilhão permanente (nem velho, nem novo – e, portanto, desligados da História, p. XXVI). Filosofia [degenerada] que tende a opiniões e convicções subjetivas com pretensão de verdade. (XXXIV) 4. No Direito, na moralidade, no Estado: “a verdade é tão antiga como seu aparecimento e reconhecimento nas leis, na moral pública e na religião. O espírito

1

Advogado, professor universitário. Mestrando em Filosofia e Teoria do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (CPGD/UFSC). Graduado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

2

Os textos entre colchetes constituem esclarecimentos pessoais realizados no corpo do texto, ou sínteses explicativas sobre algumas categorias hegelianas.

(2)

que pensa não se limita a possuir “a verdade” segundo suas formas exteriores,

imediatas; “só pode ter para com ela a atitude de a conceber e de encontrar uma forma racional para um conteúdo que já o é [racional] em si”. (XXVI).

5. Isso nos conduz à justificação do conteúdo para o pensamento livre: [aquele] “que ao invés de se encerrar no que é dado (...) só a si mesmo toma como princípio e por isso tem de estar intimamente unido à verdade”. (XXVI).

6. Incompatível [o pensamento livre] com a atitude do sentimento ingênuo, “de se limitar à verdade publicamente reconhecida, com uma confiante convicção, e de, sobre esta firme base, estabelecer a sua conduta e a sua posição na vida”. Dificuldade: a infinita diversidade de opiniões não permite distinguir e determinar o que nelas pode haver de universalmente válido, oriunda [a dificuldade] de um obstáculo que eles mesmos [os que julgam tirar partido dessa dificuldade] ergueram. [Lembrar da metáfora que Hegel utiliza: daquele que não consegue enxergar a floresta porque tem uma árvore a atrapalhar sua visão].

7. É preciso lembrar que o homem pensa: “e é no pensamento que procura a sua liberdade e o princípio de sua moralidade” (XXVII) – mas não pode afastar-se dos valores universalmente reconhecidos, de modo que o pensamento só se reconheça como livre ao imaginar descobrir algo que lhe seja próprio.

8. Filosofia e Natureza: a natureza contém em si a razão [imanente]: “razão que a natureza deve conceber, não nas formas contingentes que à superfície se mostram [sentimento imediato e imaginação contingente (XXX)], mas na sua harmonia eterna [o universal, o válido]”. (XXVIII). Porque “a filosofia é a inteligência do presente [historicidade] e do real [racional], não a construção de um além [ideal vazio3] (...)”. (XXXV).

9. O que é racional é real [efetuado] e o que é real [efetuado] é racional. Fórmula platônica (de A República). Apresentada como a convicção de toda consciência livre de preconceitos, dela parte a filosofia (XXXVI). A Idéia não constitui a representação da opinião, mas é real: trata-se de “reconhecer na aparência do

3

Aqui Hegel apresenta crítica a filosofia transcendental kantiana. A respeito, confira-se KANT, Emannuel. Introduction a la doctrine du droit. In: Metaphysique des moers. Oevres Philosophiques.

(3)

temporal e do transitório [contingente, marca de historicidade] a substância que é imanente e o eterno que é presente [o racional é real e o real é racional]”. (XXXVI). 10. Diante dessa concepção sobre a Idéia é que se tentará conceber o Estado

como algo de racional em si (XXXVII) – [não se trata da construção ideal de um

Estado – ele como deve ser –, mas de pensar o Estado filosoficamente; ou seja: realizar a inteligência do Estado no presente e no real, para além de suas formas contingentes, centrando-se em analisar o que, no Estado, o constitui como algo de racional em si, vale dizer, de real [racional] e presente [histórico]].

11. Mesmo porque a missão da filosofia, para Hegel, “está em conceber o que é,

porque o que é é a razão”. (XXXVII). Em Hegel, cada um é filho de seu tempo, e

pensa seu tempo [por isso, a filosofia como inteligência do presente, essa nota de historicidade], sob pena de se transformar em um mundo que existe, mas na mera opinião [um mundo que deve ser – e que, se deve ser (como expressão de

potentia), é porque não é (como algo de atual efetuado, concreto, real em Hegel)].

12. Assim, deve haver, logicamente, algo entre a razão como espírito consciente

de si e a razão como realidade dada: isso se deve ao fato de ela [a razão] estar

enleada na abstração sem que se liberte para atingir o conceito (XXXVIII). Isso a impede de se realizar [de se efetuar como real, de vir-a-ser real, permanecendo, pois, como pura abstração; existente, mas como mera opinião, embora não como algo capaz de realizar-se, de fazer sua passagem ao real]. [Aqui, Hegel aponta que a mera abstração não é suficiente para atualizar o real, realizar-se no devir histórico. Logo, a razão consciente de si deve atingir o conceito, superando a mera abstração (libertando-se dela), para atingir a razão como realidade dada]. Visão racional, medianeira e conciliadora com a realidade.

13. A Idéia filosófica, pois, é a identidade consciente do conteúdo [que, em sua concreta significação, é a razão como essência substancial da realidade moral e também natural] e forma [que, em sua concreta significação, é a razão como conhecimento conceitual]. (XXXVIII). [A idéia filosófica é atingida, então, no momento em que se identifica conscientemente o conteúdo, como essência substancial da realidade, com a forma – razão como conhecimento conceitual. A essa identificação consciente dá-se um aspecto de concretude, por conta da

(4)

própria definição de Idéia; vejamos: fosse a Idéia apenas forma, estaríamos diante de uma pura abstração incapaz de atualizar-se, porque lhe faltaria a essência substancial da realidade moral e natural (o conteúdo) sobre a qual conceituar de forma conciliadora como real (pois real inexistiria); se fosse apenas conteúdo, estaríamos diante de uma razão como essência substancial da realidade moral e natural, dissociada das possibilidades de um conhecimento conceitual sobre ela e, portanto, seria impossível identificar em uma tal realidade qualquer coisa de universal ou válida, ou de ali determinar o que há de contingente e o que há de universal e válido – seria impossível efetuar essa distinção, para a qual é requerida a forma, razão como conhecimento conceitual].

14. Diante disso, para Hegel, o único método adequado para se falar de um assunto é o científico e o objetivo. As críticas que não comportem refutação, escreve Hegel, serão consideradas mera opinião (subjetiva). (XL). [Isso se deve ao conceito de Idéia Filosófica (que liga o conceito (forma) à essência substancial (conteúdo)) e ao conceito de Pensamento Livre].

B. Introdução. (1-34).

1. Tópico que Hegel inicia por tratar do objeto da ciência filosófica do direito: diz sê-lo a Idéia do direito: o conceito do direito (forma, razão como conhecimento conceitual = o racional é real) e a sua realização / efetuação (conteúdo, razão como existência substancial = o real é racional).4 Da identidade consciente entre forma e conteúdo [do direito] nasce a idéia filosófica [do direito], objeto da ciência filosófica [do direito]. Vê-se, pois, que a filosofia não se ocupa com conceitos [em sentido estrito], mas com Idéias, das quais os conceitos fazem parte [eles as

4

“O Racional é real e o real é racional” explica, enfim, a natureza da Idéia Filosófica como razão conciliadora com o real, como identidade consciente entre forma como conhecimento conceitual e conteúdo como essência substancial da natureza e da moral, então a fórmula deve ser entendida na simultaneidade atual de seus termos; quer dizer: o racional é real ao mesmo tempo e em igual proporção em que o real é racional. Isso corresponde ao concreto e, também, à verdade [concreta] em Hegel.

(5)

integram em seu aspecto formal]. Por isso, o conhecimento a respeito apenas do conceito seria parcial e inadequado. O conceito dá a si mesmo forma concreta ao realizar [ao se tornar real, atualizado], distinguindo-se de sua forma inicial de puro conceito [abstração, potentia não-atualizável / realizável / efetuável] (1).5

2. A ciência do direito integra a filosofia, como uma parte sua; tem por objeto desenvolver, a partir do conceito [por isso, o capítulo que se segue à introdução é o Direito Abstrato] a Idéia [a razão do objeto], ou, [o que é o mesmo] observar a evolução [nota historicista] imanente [a razão que o objeto dá a si realizando-se, tornando-se real ou atual] própria da matéria.

2 -A. A ciência positiva do direito não procura, como o método formal, antes de tudo a definição; o que lhe importa, ao contrário, é formular o que é de direito, formular as disposições legais particulares. A dedução da definição, muitas vezes seria feita a partir dos casos particulares, fundando-se no sentimento e na representação dos homens.(2) Consciência imediata e o sentimento – transformam em princípios o que é contingente, subjetivo e arbitrário.6

2-B. Injustiça: condiz com a crueza da contradição oriunda da incoerência entre o conteúdo das regras de um direito, que acarretam a impossibilidade de definições que possam conter as regras gerais. (cf. nota n. 6).

3. O direito é positivo em geral:

a. pelo caráter formal de ser válido num Estado, validade legal que serve de princípio ao seu estudo: a ciência positiva do direito;

5

Eis o ponto em que Karl Marx não apreendera adequadamente a filosofia hegeliana; embora Hegel seja idealista, apenas o é na medida em que seu sistema explicativo gira em torno da idéia filosófica. Desde Kojève, é possível, pois, perceber que a filosofia hegeliana demanda, por princípio, uma mediação concreta; vale dizer: a idéia, caracterizada como identidade consciente entre conteúdo e forma, não constitiu um mero ideal vazio [ideologia], como Marx define a idéia em Hegel. Apesar disso, Marx desperta-nos, em seu Crítica à filosofia do direito de Hegel, a necessi dade de um retorno às pulsações da realidade, já esquecida, àquele tempo, pelos chamados hegelianos de direita; nesse ponto, verifica-se a crítica a uma corrente filosófico-política que tomava conceitos hegelianos e os moldava de acordo com suas conveniências – e, nisso, é que reside a grande avalia da crítica marxiana. Marx, ao afirmar que o direito não é outro senão o que existe, porém, finda por provocar uma redução do direito, que nem mesmo Hegel permitiria com sua idéia filsófica. A respeito, cf. MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Tradução de Rubens Enderle e Leonardo de Deus. São Paulo: Boitempo, 2005; e, ainda, KOJÈVE, Alexandre. Introduction à la lecture de Hegel. Paris: Gallimard, 1947.

6 Atualmente, o problema do decisionismo, que tende a transformar decisões particulares e contingentes em princípios universais, o que tornaria o direito injustiça, segundo Hegel, pois despidas do sentido da universalidade. (v. prefácio, XXVII.)

(6)

b. quanto ao conteúdo: um elemento positivo.

b1. pelo caráter nacional particular de um povo, o nível de seu desenvolvimento e o conjunto de condições que dependem da necessidade natural;

b2. pela obrigação que todo sistema de leis tem de ampliar a aplicação de um conceito geral à natureza particular dos objetos e das causas, que é dada de fora [absorção do intelecto = aplicação].

b3. pelas últimas disposições necessárias para decidir na realidade (4).

3-A. Fatores históricos do direito positivo [definição relativa ao b1]: (Montesquieu, ponto de vista filosófico) = “não considerar isolada e abstratamente a legislação geral e suas determinações, mas vê-las como elemento condicionado de uma totalidade e correlacionadas com as outras determinações que constituem o caráter de um povo e de uma época; nesse conjunto elas adquirem seu verdadeiro significado e nisso encontram portanto a sua justificação.” (5).

3-B. A investigação filosófica, desenvolvida sobre bases históricas, não pode ser confundida com o desenvolvimento a partir do conceito [=forma, razão conceitual]; a legitimação e a explicação históricas não representam nunca uma

justificação em si e para si. Uma determinação jurídica, embora adequada ao

desenvolvimento histórico, pode apresentar-se como injusta e irracional em si e para si. Exemplos: regras de direito privado romano consequentes das instituições do poder paternal [direito de vida e morte do pater familias] e o direito conjugal. A demonstração, para Hegel, de que se tratariam de regras justas, dar-se-ia pelo conceito, sem descurar de sua origem e da história das particularidades que a determinaram. [Desse modo, exsurge como essencial o conceito da coisa: isso dirá sobre sua racionalidade e justiça (e universalidade!); a visão particular de suas justificações históricas, meramente, nada apontam sobre tais aspectos de racionalidade e justiça – apenas com o conceito é capaz de tanto]. [A verdadeira legitimação de um conceito, em si e para si, com justo e racional, em Hegel, não se confunde com a justificação histórica, portanto]. (6).

(7)

4. O domínio do direito é o espírito em geral. Ponto de partida: na vontade livre: a liberdade constitui sua substância [conteúdo] e o seu destino [devir]; o sistema do

direito é o império da liberdade realizada, o mundo do espírito produzido como uma segunda natureza a partir de si mesmo. [Espírito: de início, inteligência que

efetua o seu desenvolvimento [devir, historicidade] desde o sentimento [como sentimento de si, império das necessidades insatisfeitas/passíveis de satisfação no âmbito de uma consciência de si para cujo atingimento não necessito de um outro a reconhecer-me como um valor em mim, desejando meu valor e, por isso, reconhecendo-o (dialética do senhor e do escravo, Hegel. Fenomenologia do

espírito)] até o pensamento (como modo de forjar uma consciência para si em

relação com o desejo de um outro e pelo reconhecimento de meu valor [desejado] por esse outro)]. [Jornadas para alcançar produzir-se como vontade que, enquanto espírito prático em geral, é a verdade próxima da inteligência]. (12). [A segunda natureza [produzida] a partir de si mesmo: a natureza humana, dialeticamente produzida a partir da consciência de si que atinge, também, a consciência para si]. (12).

5. A vontade, o puro pensamento em si mesmo: trata-se da consciência reflexa de cada um – pode cada um encontrar em si o poder de abstrair de tudo o que cada um é, bem como o de se determinar [realizar ou atualizar] a si mesmo, e por si mesmo, não importa que conteúdo [forma de si como razão conceitual de si] e ter, portanto, na sua consciência de si, um exemplo das determinações que vamos apresentar. (13).

De modo que contém a vontade:

a. elemento da pura indeterminação ou da pura reflexão do eu em si mesmo; a infinitude ilimitada da abstração e da generalidade absolutas, o puro pensamento de si mesmo; [Trata-se da liberdade do vazio: pode manifestar-se como uma figura real [= paixão], manter-se teórica [= fanatismo da contemplação], ou, voltada à ação [= o fanatismo de destruição de toda ordem social existente, já que toda ação, em Hegel, é negadora]]: “Só na destruição esta vontade negativa encontra o sentimento de sua existência.” / “É negando esta especificação e esta determinação objetiva [da realidade, que implica uma certa ordem qualquer, que

(8)

não se pode querer, justamente por que é a realidade] que a liberdade negativa se torna consciente de si.” (14).

6. O Eu: passagem da indeterminação indiferenciada á diferenciação que caracterizará um objeto e um conteúdo, o qual pode ser dado pela natureza [=sentimento de si animal] ou produzido a partir do conceito do espírito [consciência de si que se realiza humana ao atingir uma consciência também para si, ao fazer a passagem do plano subjetivo ao objetivo]. (14/15). Determinado, o Eu entra na existência em geral [momento absoluto do finito e do particular no Eu, como abolição de uma primeira negatividade abstrata]. [U (C) P; P (C) U; P = determinação (finita e particular) de U]; Esse primeiro universal é abstração de

toda determinação e, portanto, não pode ser confundido com o universal concreto [o conceito realizado]. O que lhe coloca como finito e unilateral é, justamente, o

seu ser abstrato, que constitui sua específica determinação como tal. (15).

7. A autodeterminação do Eu: consiste em situar-se a si mesmo num estado que é a negação do Eu, pois que determinado e limitado [como abstração impossível de qualquer determinação], e não deixar de ser ele mesmo – não deixa de estar ligado senão a si mesmo na determinação. “O Eu determina-se enquanto é relação de negatividade consigo mesmo, e é o próprio caráter [negativo/negador] de tal relação que o torna indiferente a essa determinação específica [de ser abstrato], pois sabe que é sua e ideal”.

7-A. Toda consciência se concebe como universal, como possibilidade de se abstrair de todo o conteúdo, e como um particular que tem um certo objeto, um certo conteúdo, um certo fim. Esse universal e particular [segundo os quais toda consciência se concebe], contudo, são apenas abstrações; tudo o que é concreto e verdadeiro são o universal que tem no particular o seu oposto, mas num particular que, graças a sua reflexão que em si mesmo faz, está em concordância com o universal. [volta à idéia de um particular como determinação (atualizada) e particularidade (concreta) de um universal no qual está contido = estar em concordância com o universal, como expressão de uma razão conciliadora.]

(9)

7-B. A individualidade: a respectiva unidade [entre esse universal e particular concretamente considerados] – não em sua imediateidade [conteúdo extrínseco], mas em seu conceito [forma = razão conceitual].

7-C. A verdade: só pode ser pensada especulativamente, como terceiro momento de dois abstratos, anteriores [dialética: (1) a vontade pode se abstrair; (2) é determinada por si mesma ou por algo de alheio; (3) momento da verdade que o intelecto se recusa a penetrar = o conceito]. (17, medium).

7-D. A vontade é universal, a vontade se determina, se exprime como sujeito

abstrato já suposto. Não é acabada ou universal antes da determinação, pois só é

vontade como atividade que se estabelece sobre si mesma uma mediação a fim de regressar a si [fazendo concordar particular e universal e conceber-se como conceito (verdade)].

9. Determinações da vontade: produtos próprios da vontade, particularização refletida em si, pertencente ao conteúdo [que é a razão como essência substancial da realidade]. Esse conteúdo é um fim: subjetivo e interior na vontade que imagina; fim, também, realizado por intermédio da ação [negadora] que transpõe o sujeito no objeto.

10-A. Determinações da vontade (2ª parte): conteúdo = determinações que iniciam por serem imediatas. Tomada em si, a vontade é livre; quer dizer, só no seu conceito é vontade; passa a ser para si o que é em si [a vontade] a partir do momento em que toma a si mesma por objeto. (18).

10-B. Ser em si e ser para si: algo concebido apenas em si, ainda não é capaz de conter sua verdade. Ser em si = conceitual: tem existência, mas essa existência é apenas um de seus aspectos. (19). Separação entre o ser em si e para si: constitui-se no finito [ou seja, na determinação, no plano ainda abstrato] sua existência bruta e sua aparência. Se o intelecto assim o toma, limita-se ao que há de abstrato [não atinge a verdade que é a idéia (18, in fine)].

11. A vontade que ainda só em si é vontade livre é a vontade imediata ou natural. As determinações diferenciadoras que o conceito, ao determinar-se a si mesmo, situa na vontade surgem na vontade imediata como conteúdo imediato: são os

(10)

por sua natureza [ou seja: a vontade imediata, determinada pelo conceito ao determinar-se a si mesmo, é constituída ainda segundo um plano meramente subjetivo (a vontade que ainda só em si é vontade livre); está, portanto, num plano anterior à humanidade – plano objetivo: daí chamar-se vontade imediata ou natural]. Trata-se de uma vontade de conteúdo racional, mas racional apenas na medida de sua forma imediata – racional em si, dirá Hegel – não lhe sendo possível adquirir a forma da racionalidade. Trata-se de vontade finita em si mesma, uma vez que tal conteúdo não se encontra identificado [Idéia: identidade consciente de forma e conteúdo] com a forma.

12. A vontade real: é a decisão, assim tornada vontade decisiva quando a vontade dá-se a si mesma, sob a forma da individualidade, calcada sobre uma dupla indeterminação da estrutura do conteúdo daquela vontade [n. 11]: consistente no fato de que aquela vontade é apenas “(...) um conjunto e uma diversidade de instintos; cada um deles é absolutamente o meu ao lado de outros, e é ao mesmo tempo geral de indeterminado [dupla indeterminação], dispondo de toda a espécie de meios para se satisfazer”. (20). É pela decisão que há: afirmação da vontade como de um indivíduo determinado e diferenciação em relação a outrem.

13. A vontade é finita: “quando o Eu, embora infinito, não se reflete sobre si mesmo e só formalmente está junto a si”. (21) Mantém-se acima do conteúdo, dos diferentes instintos e de todas as espécies de realização e satisfação. Vontade que, embora formalmente infinita, se encontra presa a conteúdo que constitui as determinações de sua vontade e de sua realidade exterior. [Não atinge a forma como razão conceitual; presa ao conteúdo, tem-se uma vontade limitada porque apegada aos caracteres de sua contingência e particularidade. Por isso, trata-se de um Eu que não se reflete sobre si mesmo: pois se refletisse, veria aquele conteúdo como apenas um dentre as possíveis determinações de sua vontade – trata-se do Eu ainda incapaz da consciência de si, já que as determinações não lhe aparecem como algo de exterior, e é impossível diferenciá-las de seu interior (consciente de si)].

14. A liberdade da vontade é o livre-arbítrio: onde se reúnem dois aspectos: (1) a reflexão livre, que vai se separando de tudo, e (2) a subordinação ao conteúdo e à

(11)

matéria dados interior ou exteriormente. Porque o conteúdo se define como simples possibilidade para a reflexão, o livre-arbítrio é a contingência na vontade (22).

15. Esse livre-arbítrio nada tem a ver com a vulgar representação da liberdade: a concepção da liberdade como possibilidade de fazer o que se queira demonstra uma total “falta de cultura do espírito”, para Hegel (22), pois não se vêem quaisquer concepções do que seja a vontade livre em si e para si [que pressupõe o outro], o direito, a moralidade etc..

16. “Longe de constituir a liberdade em sua verdade, o livre-arbítrio é antes a vontade em sua contradição” (23). [Isso porque, se o livre-arbítrio faz com que o conteúdo se defina como simples possibilidade para reflexão, e a vontade (finita) toma esse conteúdo como limite à reflexão do Eu sobre si mesmo, impõe-se que a vontade se contradiga, pois o livre-arbítrio, como escolha entre possibilidades de determinações, constitui, como se viu (n. 14) a “liberdade da vontade”, liberdade de escolher entre determinações possíveis, sendo, por isso, a contingência na vontade].

16-A. “Mas esta possibilidade de ultrapassar (...) qualquer outro conteúdo que se substitua ao primeiro e de assim continuar indefinidamente não liberta a vontade do seu caráter finito, pois cada um daqueles conteúdos é algo diferente da forma, portanto finito (...)” (23).

17. Livre-arbítrio: contradição implícita – manifesta-se na dialética dos instintos e das tendências: destroem-se reciprocamente: a satisfação de um arrasta a subordinação e o sacrifício de outro. O instinto não tem outra direção que não seja seu próprio determinismo7; logo, seu sacrifício e sua subordinação só se dão como decisão contingente do livre-arbítrio. (24).

18. Determinações naturais [instinto] = opostas à liberdade e ao conceito de espírito.

19. Conteúdo da ciência do direito: a apreensão conceitual dos instintos reconhecendo a si mesmos como sistema racional de determinação voluntária, baseado em uma purificação dos instintos – a qual os liberta de sua forma de

7

(12)

determinismo natural imediato, da subjetividade e da contingência de seu conteúdo, para referir à essência que lhes é substancial.

19-A. Por natureza, tem o homem o instinto do direito: o homem descobre em si, como dado da consciência, que quer o direito, a sociedade, o Estado etc. Mais tarde [devir histórico], outra forma do mesmo conteúdo: passagem do aspecto do instinto ao do dever. [Ou seja: o Estado, a sociedade e o direito apresentam-se ao homem, num primeiro momento, como conteúdos necessários, mas dispostos segundo a forma de instintos: motivo pelo qual o homem tem, por natureza, o instinto do direito; num segundo momento, haverá, para Hegel, uma modificação na forma de estabelecer o mesmo conteúdo: o dever, e não mais o instinto – quando o homem faz a passagem do racional em si ao racional em si e para si]. 20. Instintos, reflexão: a reflexão aplicada aos instintos traz a forma da generalidade, também com suas condições e consequências e ainda com a satisfação total deles [dos instintos] (=felicidade). Ao produzir-se esta universalidade do pensamento, a cultura adquire um valor absoluto.

21. O universal que a si mesmo se determina, a vontade, a liberdade: a verdade deste universal formal, que é indeterminado para si e só na matéria encontra a sua específica determinação, é o universal que a si mesmo se determina, liberdade, vontade. (25).

21-A. A Idéia em sua verdade: a partir do momento em que o conteúdo, o objeto e o fim do querer passam a ser ele mesmo, o universal, como forma infinita, o querer deixa de ser apenas a vontade livre em si, para ser também a vontade livre para si = é a Idéia em sua verdade [a identidade consciente entre conteúdo (substância essencial) e forma (razão como conhecimento conceitual)].

21-B. O princípio do direito: a consciência de si que se apreende como essência pelo pensamento e assim se separa do que é contingente e falso. “A consciência de si que purifica seu objeto [o direito], o seu conteúdo e seu fim, e o ergue àquela universalidade atua como pensamento que se estabelece na vontade”. (26).

22. Na vontade livre, o verdadeiro infinito é real e presente. Ela mesma [a vontade livre] é essa Idéia em si mesma. (27).

(13)

23. Vontade livre: quando consegue ser na sua existência o que o seu conceito é – se referencia a si mesma. (27). [Lembrar a idéia de conciliação do conceito (forma) com a realidade material (conteúdo)].

24. Conceito de vontade livre como universal: porque nela, toda limitação e singularidade individual ficam suprimidas; consistem estas [toda limitação e singularidade individual] na diferença do conceito e do seu objeto ou conteúdo, isto é, na diversidade do seu objetivo ser para si [razão conceitual] e do seu ser em si [conteúdo], da sua individualidade que decide [ou determina] e exclui e da sua universalidade (28). [que não a constitui como Idéia].

25. Subjetivo: o aspecto da consciência de si, da sua individualidade, na diferença que apresenta como o conceito em si dela mesma. [representação de si =/= representação para si].

25-A. A subjetividade designa (28/29):

a. A pura forma da unidade absoluta da consciência de si consigo mesma. Só em si mesma se funda, na sua interioridade e na sua abstração; é a

pura certeza de si mesma, que é diferente da verdade.

b. A particularidade da vontade como livre-arbítrio e conteúdo contingente de quaisquer fins;

c. O aspecto unilateral, no sentido de que aquilo que se quer começa por

ser apenas um conteúdo que pertence à consciência de si e um fim por realizar.

26. A vontade (29):

a. É simplesmente vontade objetiva no sentido se que se tem a si mesma como destino e está, portanto, conforme com o seu conceito.

b. A vontade objetiva, desprovida da consciência de si, é também a vontade mergulhada no seu objetivo e no seu estado [crianças, escravos etc.];

c. A objetividade é uma forma unilateral que se opõe à determinação subjetiva da vontade; é a imediateidade da existência como realidade exterior; a vontade só se torna objetiva no momento de realizar seus fins.

(14)

26-A. A vontade, enquanto liberdade (30) que existe em si mesma, é a própria subjetividade. Esta [a própria subjetividade] é, ao mesmo tempo, o seu conceito (da vontade) e, portanto, a sua objetividade. [Ou seja: subjetividade = vontade enquanto liberdade que existe em si mesma; a subjetividade, por ser o conceito da vontade é, por isso, sua objetividade]. A subjetividade, enquanto oposta à objetividade, é limitação: a vontade, ao invés de permanecer em si mesma, compromete-se no objeto [que é a própria subjetividade] e sua limitação consiste também em não ser subjetiva etc.

27. O destino absoluto = instinto absoluto do espírito livre [que é o de ter sua liberdade como objeto – duplamente, como sistema racional de si mesma e realidade imediata = idéia filosófica de liberdade], a fim de ser para si, como Idéia, o que a vontade em si é em geral, a vontade livre [conceitual] que quer a vontade livre [substancial ou material, como conteúdo determinado na realidade em harmonia com seu conceito].

29. Direito: é a liberdade em geral como Idéia. “O fato de uma existência em geral ser a existência da vontade livre constitui o direito.” (31).

30. Direito: “Só porque é a existência do conceito absoluto da liberdade consciente de si, só por isso o direito é algo de sagrado”. Diferentes formas de direito e dever: origem nas diferentes fases [históricas] que há no desenvolvimento do conceito de liberdade. (32) Cada fase do desenvolvimento da idéia de liberdade tem o seu direito particular porque é a existência da liberdade numa das determinações que lhe são próprias. (32)

30-A. Direito como espírito do mundo: absoluto e sem limites; o conflito entre direitos é algo limitado, porque se subordina a outro elemento.

31. Dialética: princípio motor do conceito: “a dialética superior do conceito consiste em produzir a determinação, não como um puro limite e um contrário, mas tirando dela, e concebendo-o, o conteúdo positivo e o resultado; só assim a dialética é desenvolvimento e progresso imanente”. (33). (Aufhebung = superar conservando).

31-A. O objeto é para si mesmo racional. O espírito em sua liberdade é a mais alta afirmação da razão consciente de si, que a si mesma se dá realidade [torna-se

(15)

idéia] e se produz como mundo existente. A ciência: traz à consciência esse trabalho próprio da razão da coisa [por meio do conceito].

C. Plano da Obra (35-37).

1. Tópico em que Hegel delimitará os domínios do direito abstrato, moralidade subjetiva e moralidade objetiva – partes um, dois e três, respectivamente, da obra

Grundlinien der philosophie der rechts [Traduzida, entre nós, como princípios da

filosofia do direito de Hegel].

2. Vontade: (fases do desenvolvimento da idéia de vontade em si e para si): (33, 35)

a. Imediata: seu conceito é abstrato: a personalidade. Sua existência empírica é uma coisa de exterior imediata – domínio do direito abstrato ou formal.

b. Individualidade subjetiva em face do universal: vontade que da existência exterior regressa a si. É a idéia dividida na sua essência particular: o direito da vontade subjetiva em face do direito do universo e o direito da idéia que só em si existe ainda – é o domínio da moralidade subjetiva.

c. Unidade e verdade desses dois fatores abstratos: é a idéia na sua existência universal em si e para si – a moralidade objetiva.

2-A. Substância: é simultaneamente: o espírito natural, a família; espírito dividido e fenomênico, a sociedade civil; o Estado como liberdade que, na livre autonomia de sua vontade particular, tem tanto de universal como de objetiva. Do espírito orgânico e real (de um povo) torna-se real [a substância], revela-se por meio de diferentes espíritos nacionais na história universal como espírito do mundo cujo direito é o que há de supremo. (33, 36).

Referências

Documentos relacionados

[r]

 Cumprir sua jornada de serviço pré-determinada pelo superior imediato e manter-se no local de trabalho até que haja a devida substituição, para a manutenção da prestação

Conclui-se portanto que, devido à apresentação clínica pleomórfica, que a forma espinhal da cisticercose deve ser considerada como diagnóstico diferencial de muitas

Dos docentes respondentes, 62,5% conhe- cem e se sentem atendidos pelo plano de carreira docente e pelo programa de capacitação docente da instituição (que oferece bolsas de

Taking into account the theoretical framework we have presented as relevant for understanding the organization, expression and social impact of these civic movements, grounded on

Neste estágio, assisti a diversas consultas de cariz mais subespecializado, como as que elenquei anteriormente, bem como Imunoalergologia e Pneumologia; frequentei o berçário

As análises serão aplicadas em chapas de aços de alta resistência (22MnB5) de 1 mm de espessura e não esperados são a realização de um mapeamento do processo

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o