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Curso de DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

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Academic year: 2021

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2019

José Cairo Jr

Curso de

DIREITO

PROCESSUAL

DO TRABALHO

13ª

edição revista, atualizada e ampliada

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Parte I

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

AO DIREITO PROCESSUAL

DO TRABALHO

SUMÁRIO • 1. Conceito de direito processual: 1.1. Especialização do direito processual; 1.2. Direito material e processual do trabalho – 2. Classificação dos processos trabalhistas – 3. Autonomia: 3.1. Autonomia legislativa; 3.2. Autonomia judicial; 3.3. Autonomia cientifica e didática – 4. Princípios: 4.1. Princípios constitucionais do processo: A. Princípio da igualdade de tratamento versus princípio protetivo ou tutelar; B. Princípio do devido processo legal; 4.2. Princípios do processo civil e do trabalho: A. Princípio da conciliação; B. Princípio da imediatidade; C. Princípio da oralidade e da es-crituração; D. Princípio da publicidade; E. Princípio da concentração dos atos processuais; F. Princípio da identidade física do juiz; G. Princípio da celeridade – duração razoável do processo; H. Princípio da ultrapetição; I. Princípio do impulso oficial ou inquisitivo e o princípio dispositivo; J. Princípio do duplo grau de jurisdição; K. Princípio da lealdade processual; L. Princípio da jurisdição normativa; M. Princípio da informalidade ou da instrumentalidade das formas; N. Princípio da eventualidade; O. Princípio da concisão; P. Princípio da cooperação – 5. Natureza jurídica do direito processual do tra-balho – 6. Fontes: 6.1. Constituição; 6.2. Leis; 6.3. Decretos e portarias; 6.4. Atos normativos dos tribunais e dos juízes; 6.5. Costume; 6.6. Jurisprudência: A. Precedente judicial; B. Jurisprudência; C. Súmula e Orientação Jurisprudencial; D. Súmula vinculante; 6.7. Hierarquia das fontes – 7. Interpretação, Aplicação e integração das normas processuais traba-lhistas: 7.1. Interpretação; 7.2. Aplicação; 7.3. Integração; 7.4. Vigência no tempo; 7.5. Irretroatividade; 7.6. Vigência no espaço – 8. Informativos do TST sobre a matéria. 9. Quadro sinóptico – 10. Questões. 10.1. Questões objetivas; 10.2. Questões discursivas. 11. Gabarito: 11.1. Gabarito das questões objetivas; 11.2. Gabarito das questões discursivas.

1. CONCEITO DE DIREITO PROCESSUAL

Para que o Estado preste a tutela jurisdicional e exercite o seu Poder/Dever de dizer o direito (dicere ius), é necessário, em regra, que haja uma provocação pelo interessado.

A partir dessa provocação, que decorre do exercício do direito de ação, nasce o processo judicial, que é formado por uma série de atos pré-ordenados, praticados pelas partes, pelo juiz, pelos auxiliares, por terceiros e pelo representante do Ministério Público. Tem como objetivo efetivar as regras de direito material e, consequentemente, solucionar o litígio.

Assim, o Direito Processual nada mais é do que o ramo do Direito Público, formado pelo conjunto de regras de natureza processual, somadas aos princípios que lhe são pecu-liares, destinados a regular as relações existentes entre o juiz e as partes, bem como em relação àqueles que, de qualquer forma, intervêm no processo, no sentido de criá-las, modificá-las ou extingui-las, para possibilitar a prestação da tutela jurisdicional.

1.1. Especialização do direito processual

A depender da espécie de conflito, de acordo com o bem da vida disputado ou a categoria de pessoas dissidentes, incidem regras processuais distintas. Quando estão envolvidas em

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CURSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO – José Cairo Júnior

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um conflito o empregado e o empregador, e em alguns casos do trabalhador e do respec-tivo tomador dos serviços, devem ser observadas as regras contidas no Direito Processual do Trabalho.1

O Direito Processual divide-se, primeiramente, em dois grandes grupos: o Direito Processual Civil e o Direito Processual Penal. Em relação a este último, justifica-se a exis-tência de um ramo autônomo do Direito Processual, uma vez que a violação do Direito não atinge apenas as pessoas envolvidas no conflito, mas também a própria sociedade. Assim, há necessidade da existência de um conjunto de regras processuais para que se aplique a sanção penal àquele que praticou os atos considerados como antijurídicos.

Com o Direito Processual do Trabalho ocorre idêntico fenômeno. O legislador, ao perceber a importância da proteção conferida pelo Direito Material do Trabalho a certas espécies de trabalhadores, instituiu um conjunto de normas destinadas a promover, de forma mais eficiente, a sua tutela jurisdicional.

Conclui-se, assim, que o Direito Processual do Trabalho representa uma especialização da jurisdição não-penal.

1.2. Direito material e processual do trabalho

As regras de Direito Processual são necessárias para regulamentar a atividade dos juízes, dos seus auxiliares, das partes e dos terceiros que intervêm no processo, quando uma pretensão resistida é deduzida em juízo.

A simples existência dessas espécies de normas, com aplicabilidade em potencial, já inibe a ação daqueles que pretendem violar as regras de Direito material, circunstância que revela o caráter coercitivo do próprio Direito.

O ideal seria que todos respeitassem os preceitos contidos nas regras de Direito material. Mas, como isso não acontece, tanto pela própria natureza contestatória e conflituosa do ser humano, quanto pela possibilidade de imprimirem-se várias interpretações para a mesma norma, é imperioso estabelecer um sistema composto por regras e princípios destinado a fazer prevalecer a vontade do direito objetivo, por meio do exercício do direito público e subjetivo de ação, que se materializa mediante o processo judicial.

O Direito material do trabalho, em seu aspecto objetivo e individual, é formado por normas destinadas a reger as relações entre o prestador de serviços subordinados

(empregado) e o empregador.2

Já o Direito Processual do Trabalho é composto por regras e princípios que regulam a atividade de todos aqueles que participam de uma relação jurídico-processual específica e tem como objetivo a prestação da tutela jurisdicional com a aplicação, ao caso concreto, das normas de Direito material trabalhista.

1. Para os demais conflitos de natureza civil, que derivam da relação de trabalho, são aplicadas as normas do processo civil.

2. Ressalte-se, entretanto, que o Direito material do trabalho, progressivamente, caminha no sentido de abarcar determinadas relações de trabalho, caracterizada pela ausência de uma subordinação completa do empregado. São denominadas de relações parassubordinadas, como já acontece na Itália ou caracterizadas pela subordinação estrutural.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 49

Percebe-se, assim, que o processo judicial faz criar uma relação jurídica entre as partes (empregado e empregador)3 e entre esses e o Estado-juiz, diversa da relação jurídica de Direito

material que deu origem ao conflito de interesse. Essa relação tem natureza complexa e atribui aos seus sujeitos poderes, direitos, faculdades, deveres, obrigações, sujeições e ônus, tudo regulado pelo Direito processual do trabalho.

Basicamente, são duas as características que revelam a distinção entre a relação jurídica processual e a relação jurídica substancial trabalhista. A primeira é encontrada nos sujeitos principais das referidas relações. Na relação processual são três, em regra: o juiz, o reclamante e o reclamado,4 enquanto que na relação de Direito material do trabalho,

ordinariamente, são duas: o credor e o devedor da obrigação (empregado ou empregador). A segunda diz respeito ao objeto. Na relação processual, o objeto é a prestação jurisdicional, ao passo que na relação de direito material, é o bem da vida pretendido pelo interessado.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS TRABALHISTAS

Os processos da competência da Justiça do Trabalho são divididos em dois grandes grupos: processo de dissídio individual do trabalho e processo de dissídio coletivo do trabalho.

Nos processos de dissídios individuais, o juiz aplica a norma ao caso concreto (subsunção), em uma ação proposta por uma ou várias pessoas individualmente consideradas. A sentença que reconhece ou não a pretensão do reclamante corresponde ao tradicional processo indi-vidual regulado pelo Direito processual civil.

O processo de dissídio coletivo nada mais é do que um processo judicial, no qual as entidades sindicais representativas dos empregados e dos empregadores (ou uma ou várias empresas) figuram no polo ativo e passivo da relação processual.

O processo de dissídio coletivo pode ser de duas espécies: processo de dissídio coletivo de

natureza econômica e processo de dissídio coletivo de natureza jurídica. No primeiro caso, o conflito nasce em decorrência da divergência entre os interessados durante as negociações coletivas, necessárias à conclusão de uma convenção ou acordo coletivo. A segunda espécie é representada pela desavença acerca da interpretação jurídica de uma regra pré-existente inserida em um instrumento normativo negociado ou em sentença normativa.

Acrescente-se ainda, uma terceira categoria de dissídio coletivo, admitido pela doutrina processual trabalhista clássica. Trata-se do dissídio coletivo de greve, que consiste em uma espécie do dissídio coletivo de natureza jurídica, utilizado pelo interessado para obter a declaração de abusividade do movimento paredista.

3. O TST entende de forma diversa, conforme se observa do teor da Instrução Normativa nº 27, de 16.02.2005, que determina a aplicação das normas processuais trabalhistas para todo e qualquer conflito derivado da relação de trabalho e não apenas da relação de emprego (art. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão pelo rito ordinário ou sumaríssimo, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, excepcionando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurança, Habeas Corpus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação).

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As diferenças entre os dois institutos encontram-se resumidas na seguinte transcrição:

O típico dissídio coletivo é aquele de natureza econômica, ou seja, quando não há consenso entre os interessados sobre as novas condições de trabalho a serem implantadas no âmbito das relações individuais de labor. Nesse caso, devido a sua importância e por ser sui generis, a lei exige que haja uma autorização expressa dos empregados envolvidos no conflito, através de uma assembleia geral especialmente convocada para esse fim. O dissídio coletivo de natureza jurídica se assemelha a uma ação judicial clássica, ou seja, nele se pretende adequar os fatos a uma norma jurídica profissional pré-existente. Nesta hipótese existem dúvidas quanto à aplicação e ao alcance de um acordo coletivo, convenção coletiva ou mesmo de uma sentença normativa.5

O CNJ instituiu uma tabela processual unificada na qual inseriu, de forma sistematizada, todas as classes processuais dos diversos ramos do Poder Judiciário.

No processo trabalhista estão previstas, de forma específica, a seguintes classes com os respectivos códigos: ação trabalhista rito ordinário (985), ação trabalhista rito sumarís-simo (1125), ação trabalhista rito sumário – alçada (1126), dissídio coletivo (987), dissídio coletivo de greve (988), inquérito para apuração de falta grave (986), reclamação (1202), ação anulatória de cláusulas convencionais (976), ação de cumprimento (980), execução de certidão de crédito judicial (993), execução de termo de ajuste de conduta (991), execução de termo de conciliação de CCP (992), execução de título extrajudicial (990), execução provisória em autos suplementares (994), conflito de competência (1145), pedido de revisão do valor da causa (1072).

3. AUTONOMIA

A doutrina não é pacífica quando se trata de determinar a autonomia do Direito proces-sual do trabalho ou mesmo do Direito procesproces-sual civil. Assim, há adeptos tanto da teoria monista, também denominada de unitarista, quanto da teoria dualista.

Segundo Renato Saraiva:

A teoria monista, minoritária, preconiza que o direito processual é unitário, formado por normas que não diferem substancialmente a ponto de justificar a divisão e autonomia do direito processual do trabalho, no direito processual civil e do direito processual penal. [...] A teoria dualista, significativamente majoritária, sustenta a autonomia do direito processual do trabalho perante o direito processual comum, uma vez que o direito instrumental laboral possui regulamentação própria na Consolidação das Leis do Trabalho, sendo inclusive dotados de princípios e peculiaridades que o diferenciam, substancialmente, do processo civil. 6

Para que determinado ramo do direito adquira o status de “autônomo” é necessário, dentre outros requisitos, que possua princípios próprios ou que sejam aplicados com maior ou menor intensidade.

Além da necessidade de princípios próprios, deve-se verificar existência de uma auto-nomia legislativa, judicial e científica.

5. CAIRO JR. José. Direito do Trabalho: relações coletivas de trabalho. Salvador: JusPODIVM, 2006. p. 30-31. 6. SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. 4 ed. São Paulo: Método, 2008. p. 28.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 51

Como será analisado a seguir, o grau de dependência do processo do trabalho em relação ao processo civil, em diversos aspectos, é muito intenso, razão pela qual não há como reco-nhecer a sua plena autonomia.

3.1. Autonomia legislativa

A fonte formal do Direito diz respeito ao modo como as regras exteriorizam-se e materializam-se de forma obrigatória e coercitiva. A Consolidação das Leis do Trabalho é a principal fonte formal do Direito processual do trabalho.

Trata-se de um Diploma misto, pois contém regras de Direito material, Direito proces-sual e Direito administrativo do trabalho. No que se refere ao Processo do trabalho lato

sensu, a Consolidação das Leis do Trabalho reserva três títulos, do total de onze, a saber:

Título VIII – Da Justiça do Trabalho; Título IX – Do Ministério Público do Trabalho; e Título X – Do Processo Judiciário do Trabalho, este último considerado no seu caráter estrito, de acordo com o disposto no art. 763 da norma consolidada.7

Em caso de omissão da norma consolidada, aplica-se subsidiariamente s regras contidas no Código de Processo Civil, no que se refere ao processo de conhecimento, desde que não contrarie os princípios do processo laboral, de acordo com o que determina o art. 769 da Consolidação das Leis do Trabalho: “Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título”.

O CPC também possui regra semelhante. Trata-se do art. 15: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente”.

Observe que a regra do CPC é mais ampla do que aquela prevista pela CLT, pois a primeira fala em aplicação supletiva e subsidiária, enquanto que a segunda só faz referência ao uso subsidiário da norma processual comum.

Isso significa que o CPC é aplicável ao processo do trabalho de forma supletiva, ainda que a CLT não seja totalmente omissa, principalmente nos casos em que os dispositivos celetistas são mais genéricos e simplistas, como ocorre por exemplo com as hipóteses de suspeição e impedimento do juiz. A inaplicabilidade das regras do processo comum só se efetiva nos casos em que as duas normas são expressamente antagônicas.

No mesmo sentido, o art. 1º da Instrução Normativa nº 39/16 do TST:

Art. 1° Aplica-se o Código de Processo Civil, subsidiária e supletivamente, ao Processo do Trabalho, em caso de omissão e desde que haja compatibilidade com as normas e princípios do Direito Processual do Trabalho, na forma dos arts. 769 e 889 da CLT e do art. 15 da Lei nº 13.105, de 17.03.2015.

Inclusive, essa importante regra procedimental foi toda elaborada tendo como norte a aplicabilidade subsidiaria e supletiva do CPC de 2015, mas somente nos casos de inexistir incompatibilidade com os princípios do processo laboral, conforme se observa de sua breve exposição de motivos:

7. CLT. Art. 763. O processo da Justiça do Trabalho, no que concerne aos dissídios individuais e coletivos e à apli-cação de penalidades, reger-se-á, em todo o território nacional, pelas normas estabelecidas neste Título.

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Daí que a tônica central e fio condutor da Instrução Normativa é somente permitir a invocação subsidiária ou supletiva do NCPC caso haja omissão e também compatibilidade com as normas e princípios do Direito Processual do Trabalho. Entendemos que a norma do art. 15 do NCPC não constitui sinal verde para a transposição de qualquer instituto do processo civil para o processo do trabalho, ante a mera constatação de omissão, sob pena de desfigurar-se todo o especial arcabouço principiológico e axiológico que norteia e fundamenta o Direito Processual do Trabalho.

Já no caso do processo de execução, a norma processual subsidiária a ser utilizada em caso de omissão da CLT é aquela que rege a execução fiscal, qual seja, a Lei nº 6.830/1980, conforme preceito contido no art. 889:

Art. 889. Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal.

O socorro às regras sobre execução contidas no CPC só é possível quando a referida lei de executivos fiscais for omissa.

Por fim, essa espécie de autonomia não é comum a todo ordenamento jurídico. Na Itália, por exemplo, o processo trabalhista encontra-se inserido no Código de Processo Civil, no seu Título IV.8

3.2. Autonomia judicial

O Brasil faz parte do seleto grupo de países do mundo que possui uma Justiça Espe-cializada em solução de conflitos sociais, mais precisamente, de conflitos trabalhistas, na qual se aplica, com maior incidência, o processo do trabalho.

A Justiça do Trabalho originou-se com a criação das Juntas de Conciliação e Julga-mento, em 1932. Eram órgãos colegiados e de natureza administrativa formados por dois Juízes Classistas, um representante do empregado e outro do empregador, e um Juiz Presidente.

Paralelamente, foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação, às quais competia solucionar os conflitos coletivos de trabalho, já que as Juntas de Conciliação e Julgamento tinham competência limitada aos conflitos individuais do trabalho provocados por traba-lhadores sindicalizados.

Como esses órgãos encontravam-se destituídos de caráter judicial, os seus integrantes não gozavam das prerrogativas atribuídas aos magistrados. O Juiz Presidente não ingressava por meio de concurso público, mas sim por indicação do Ministro do Trabalho, dentre advogados, magistrados ou funcionários públicos e eram destituídos a qualquer momento e sem necessidade de qualquer justificativa. Além disso, a qualquer momento as demandas sob sua jurisdição poderiam ser avocadas por ato do Ministro do Trabalho.

Somente na Constituição Federal de 1934 foi que primeiro se fez referência à Justiça do Trabalho, mas ainda atrelada ao Poder Executivo, fato que se repetiu na Constituição Federal de 1937.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 53

Finalmente, em 1939 a estrutura da Justiça do Trabalho foi disciplinada por meio do Decreto-lei nº 1.237. Já com a edição da CLT, em 1943, as Juntas de Conciliação e Julgamento passaram a ter competência para executar suas decisões, que até então eram executadas pela Justiça Comum.

Contudo, somente a Constituição Federal de 1946 inseriu a Justiça do Trabalho no âmbito do Poder Judiciário brasileiro, o que se efetivou por meio do Decreto-Lei nº 9.797/46.

Atualmente, a Justiça do Trabalho é toda estruturada de forma a permitir que a parte inconformada com a decisão de primeiro grau provoque um novo julgamento pelo Tribunal Regional do Trabalho. Inclusive, em determinadas situações, é possível que a demanda seja novamente examinada pelo Tribunal Superior do Trabalho, desde que preenchidos os requisitos legais.9

Observe-se, contudo, que a Justiça do Trabalho, após a EC nº 45/2004, deixou de ter a competência exclusiva para solucionar os litígios derivados da relação de emprego. Passou a abarcar, também, a competência para apreciar os dissídios decorrentes das relações de trabalho, dentre outros.

Exemplo de questão sobre o tema

(TRT 15 – Juiz do Trabalho Substituto 15ª região/ 2013) Sobre a história da Justiça do trabalho é incorreto dizer:

a) em 1932, foram criadas as Juntas de Conciliação e Julgamento, voltadas aos conflitos individuais, e as Comissões Mistas de Conciliação, direcionadas aos conflitos coletivos, como órgãos administrativos. Apenas os trabalhadores sindicalizados podiam pleitear perante as Juntas de Conciliação e julgamento. Os demais deviam se socorrer da Justiça Comum;

b) os juízes presidentes das Juntas de Conciliação e Julgamento eram nomeados pelo Ministro do Trabalho, dentre advogados, magistrados ou funcionários públicos; não gozavam de independência, vez que eram demissíveis “ad nutum” e qualquer processo poderia ser subtraído ao conhecimento das Juntas pelo Ministro do Trabalho, que chamava para si a função decisória, através de cartas chamadas “avocatórias”; c) somente em 1943, com a publicação da CLT, as Juntas de Conciliação e Julgamento passaram a ter

competência para executar suas próprias decisões, mantendo-se a possibilidade de “avocatórias”, que foram extintas com a Constituição de 1946;

d) somente a partir da Constituição de 1946, a Justiça do Trabalho foi integrada, de forma inconteste, aos órgãos do Poder Judiciário, com organização da carreira de Juiz do Trabalho e ingresso mediante concurso público de provas e títulos, promoções pelos critérios de antiguidade e merecimento e as garantias inerentes à magistratura;

e) fora do âmbito da 1ª e da 2ª Regiões, o Suplente de Presidente de Junta, até alteração havida em 1984, era nomeado pelo Presidente da República, dentre advogados militantes no foro trabalhista, para substituírem’ os Presidentes em seus afastamentos e impedimentos, para um mandato com tempo determinado, e se fossem reconduzidos eram integrados ao quadro de magistrados de forma definitiva, mesmo sem concurso público.

Resposta: C

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3.3. Autonomia científica e didática

A autonomia científica é representada pela existência de um número considerável de obras de pesquisa científica que tenham o mesmo objeto de determinado ramo do Direito. Nesse particular, a autonomia do processo do trabalho é inegável, pois o Brasil conta com um grande acervo de manuais e trabalhos monográficos que tratam da matéria.

Grande parte dos cursos de graduação em Direito também reservam uma ou duas cadeiras para o estudo do processo do trabalho. Isso sem falar no crescente número de cursos de pós--graduação lato sensu, que se dedicam, estritamente, a esse ramo do Direito.

As diretrizes curriculares nacionais para o curso de Direito, aprovadas pelo Ministério da Educação,10 só incluem o Direito material do trabalho como matéria obrigatória do eixo

de formação profissional.11 Entretanto, admite-se o desdobramento da referida matéria em

uma ou mais disciplinas, inclusive o processo do trabalho, na forma como dispuserem os currículos plenos dos cursos.

4. PRINCÍPIOS

Os princípios, em Direito, têm quatro funções básicas. A primeira seria no sentido do princípio funcionar como norma de conduta, denominado de princípio-regra. Servem, também, para orientar a atuação do legislador ordinário, no processo de criação da norma jurídica. Também funcionam como guia para o intérprete e aplicador da norma ao caso concreto e é considerado um meio de integração das lacunas legais. Em relação à segunda função, é fácil perceber que os princípios revelam de forma clara a fonte material de deter-minado ramo do Direito.

A seguir serão examinados alguns dos princípios comuns ao processo civil e ao processo laboral e aqueles que são aplicados com maior intensidade nesse último.12

A Consolidação das Leis do Trabalho não explicita quais os princípios aplicáveis ao processo do trabalho. Mas, a simples leitura de alguns dos seus dispositivos deixa clara a intenção do legislador de orientar a atuação do intérprete e do aplicador do direito.

Tal omissão não ocorre em alguns Diplomas processuais alienígenas, a exemplo da Lei de Procedimento Laboral da Espanha, que relaciona os princípios informadores do processo do trabalho naquele país: “Art. 74.1. Os juízes e tribunais da ordem jurisdicional social interpretarão e aplicarão as normas reguladoras do processo laboral ordinário, segundo os princípios de imediação, oralidade, concentração e celeridade”.

10. Resolução CES/CNE nº 09/2004, de 29 de setembro de 2004. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/ arquivos/pdf/rces09_04.pdf >. Acesso em 02.11.2015.

11. As demais disciplinas são: Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Civil, Direito Empresarial, Direito Internacional e Direito Processual.

12. Quando o princípio é aplicado tanto ao processo civil quanto ao processo do trabalho, mas com diferenças de intensidade, os doutrinadores classificam como peculiaridades do processo laboral.

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Cap. I • INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 55

Todos os princípios processuais que adiante serão analisados13 também se aplicam, em

menor ou maior intensidade, ao processo civil, salvo aquele relativo à jurisdição normativa, que foi severamente limitado após a promulgação da EC nº 45/04, com a exigência do mútuo consentimento para o ajuizamento do dissídio coletivo.14

Ressalte-se que as experiências bem sucedidas do processo do trabalho foram incorpo-radas ao processo civil, principalmente no que diz respeito à simplificação dos procedimentos e à celeridade.

Tal circunstância, aliada a inexistência de autonomia legislativa plena, conforme foi analisado no item 3.1, induz à conclusão de que o processo do trabalho não representa

um ramo autônomo do direito processual, mas apenas uma de suas especializações,

vinculado a uma teoria geral do processo única.

O Quadro doutrinário seguinte revela a preferência dos doutrinadores pela teoria monista ou dualista, com predomínio dessa última:

Quadro Doutrinário – Autonomia do processo laboral

Teorias Doutrinadores Exemplo

Dualista

Coqueijo Costa, Rodrigues Pinto, Délio Maranhão, Renato Saraiva, Sérgio Pinto Martins, Wagner Giglio, Tostes Malta,

Amauri Mascaro e Mozart. Russomano

[...] Embora seja verdade que a legislação instrumental trabalhista ainda é modesta, carecendo de um Código de Processo do trabalho, definindo mais detalhadamente os contornos do processo laboral, não há dúvida que o Direito Processual do Trabalho é autônomo em relação ao processo civil, uma vez que possui matéria legislativa es-pecífica regulamentada na Consolidação das Leis do Trabalho, sendo dotado de institutos, princípios e peculiaridades próprios, além de independência didática e jurisdicional (Renato Saraiva).*

Monista

Francisco Neto e Jouberto Cavalcante; e

Valentin Carrion

Conclui-se, portanto, que o direito processual do trabalho, didatica-mente, é um ramo do Direito Processual, contudo, pertence à teoria geral do direito processual, como reflexo instrumental dos princípios e normas para o exercício da jurisdição, atuando na solução dos conflitos individuais, coletivos e difusos do trabalho (Francisco Neto e Jouberto Cavalcante).**

*.SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. 4 ed. São Paulo: Método, 2008. p. 28

**. JORGE NETO, Francisco Ferreira e CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito processual do trabalho. 3 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. p. 38

Antes de passar à análise dos princípios aplicáveis ao processo comum e do trabalho, é necessário tecer ligeiras considerações sobre os princípios constitucionais do processo, sem a profundidade que o tema exige, em face dos objetivos desta obra:

13. Alguns dos princípios analisados são classificados pela doutrina e jurisprudência como peculiaridades, princípios peculiares ou técnicas do direito processual do trabalho.

14. CF/88. Art. 114. § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho deci-dir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

Referências

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