DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE TRECHOS DO CÓRREGO PALMITAL QUE CORTAM O INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
GOIANO – CAMPUS URUTAÍ
Lara Bernardes da Silva1, Danielle Cipriano de Souza1, Guilherme Malafaia2, Aline
Sueli de Lima Rodrigues3
1Tecnóloga em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Goiano – Campus Urutaí.
2Professor do Departamento de Ciências Biológicas do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Urutaí e Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Ciências Ambientais e Biológicas (NPCAB). Urutaí, GO – Brasil.
E-mail: guilhermebioufop@yahoo.com.br.
3Professora do Departamento de Gestão Ambiental do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Urutaí e Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Ciências Ambientais e Biológicas (NPCAB). Urutaí, GO – Brasil.
Autora para correspondência. E-mail: rodriguesasl@yahoo.com.br.
Data de recebimento: 02/05/2011 - Data de aprovação: 31/05/2011
RESUMO
A poluição das águas é a adição de substâncias ou de formas de energia que, direta ou indiretamente, alteram a natureza do corpo d’água prejudicando seus usos. Este trabalho buscou realizar um diagnóstico ambiente de trechos do córrego Palmital que cortam o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Urutaí, de forma a contribuir com levantamentos e avaliação das condições da micro-bacia Palmital. Foi utilizado pesquisa de campo, onde os dados levantados mostraram as seguintes fontes de poluição: degradação da vegetação do leito, degradação do solo, barreiras que afetam o curso natural do córrego, moradias ribeirinhas, criações de animais ao longo das margens, lagoa de estabilização do esgoto, e lixos domésticos. Conclui-se que é necessário que o município de Urutaí, juntamente com órgãos/agências relacionadas ao meio ambiente e aos recursos hídricos, promova a adoção de medidas que diminuam os processos degradativos observados, de modo a promover a preservação e o uso sustentável do córrego Palmital.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação ambiental; Recursos hídricos; Integridade ambiental; Poluição hídrica.
ENVIRONMENTAL DIAGNOSTIC OF SEGMENTS FROM PALMITAL RIVER WHICH CUTS THE INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA GOIANO – CAMPUS URUTAÍ ABSTRACT
Water pollution is the addition of substances or energy forms that directly or indirectly, alters the nature of the water body harming their uses. This paper attempts to make a environment diagnostic of segments from Palmital river which cuts the
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Urutaí, to contribute to surveys and assessment of the micro-catchment Palmital. We used field research, where the survey was obtained from the following sources of pollution: breaking down the bed of vegetation, soil degradation, barriers that affect the natural course of the stream, river houses, farm animals along the banks, stabilization pond sewage and household waste. We conclude that it is necessary that the municipal and state agencies/organs related to environment and water resources promote the adoption of measures that will halt the degradation processes observed, in order the preservation and sustainable use of Palmital river.
KEYWORDS: Environmental assessment, water resources, environmental integrity, water pollution.
INTRODUÇÃO
Ao longo da história os recursos hídricos sempre determinaram a existência humana, a instalação ou a migração das populações em diversas áreas do planeta, bem como o surgimento ou o desaparecimento de civilizações. O uso dos recursos hídricos permitiu que civilizações se abastecessem de alimentos e exportassem o excedente, criando riquezas e associando a água à melhor qualidade de vida das pessoas. Entretanto, o crescimento da população e da degradação dos corpos de água existentes, as quantidades de água doce disponíveis para o uso humano vêm diminuindo intensa e drasticamente (TUNDISI, 2003). Conforme discutido por RODRIGUES & MALAFAIA (2009), à medida que as populações e as atividades econômicas crescem, muitos países atingem rapidamente condições de escassez de água ou se defrontam com limites para o desenvolvimento econômico.
Para CORGOSINHO et al. (2004), com o crescimento constante das demandas urbana, agrícola e industrial, é possível perceber que o uso descontrolado dos ambientes aquáticos tem provocado a aceleração de processos de degradação dos sistemas lóticos e da qualidade ambiental dos mesmos. Múltiplos impactos humanos têm sido percebidos em bacias hidrográficas importantes no território brasileiro (CALLISTO et al., 2001; RODRIGUES, 2008).
Em vista deste cenário, tem se observado a crescente necessidade de se avaliar e monitorar as alterações ambientais e seus efeitos sobre os recursos hídricos, a fim de identificar possíveis fontes de poluição e seus efeitos e, posteriormente, adotar medidas mitigadoras de contenção desses efeitos. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo realizar um diagnóstico da atual condição ambiental de trechos do córrego Palmital que cortam o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Urutaí. O referido córrego é um importante curso d’água para a comunidade da cidade de Urutaí, o qual garante o abastecimento da população urbana, da população ribeirinha e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano) – Campus Urutaí. Além disso, o córrego Palmital garante a dessedentação dos animais, a irrigação do pomar, da horta e irrigação de diversos experimentos conduzidos no referido campus do IF Goiano.
METODOLOGIA Área de estudo
O presente estudo foi realizado em um trecho do córrego Palmital (3600 m de extensão – Figura 1) localizado no município de Urutaí, GO. Urutaí pertence à
mesorregião de Pires do Rio que tem uma área aproximada de 400km2. Em termos
populacionais, Urutaí possui atualmente 2.700 habitantes e uma densidade populacional de 5,3 habitantes/km2 (IBGE, 2009), tido como um município de
pequeno porte.
FIGURA 1. Vista aérea do trecho do córrego Palmital avaliado. FONTE: Google Earth (2010).
O município tem como via de acesso a rodovia GO-330 e dista 178 km de Goiânia (capital do Estado de Goiás), estando localizado entre os municípios de Ipameri e Pires do Rio, na região correspondente ao sudeste goiano. Ainda em relação a sua localização, pode-se destacar sua inserção na região denominada maciço goiano, com predominância das chapadas, contendo uma topografia variada ente 685 a 988m de altitude, se encontrando irregularmente distribuído entre áreas acima de 800m, ocupando uma estreita faixa a Leste e a Sul do município e áreas abaixo de 800m (SILVA, 2003).
Com relação ao clima da região, predomina-se o tropical úmido, típico das áreas de ocorrência do cerrado, havendo uma oscilação térmica de 18ºC a 23ºC e uma temperatura média anual em torno de 23ºC no período de setembro a outubro, podendo chegar até a máxima de 30ºC. Entre os meses de junho e julho a mínima é inferior a 15ºC. Pode-se dizer que se trata de uma região que apresenta duas estações bem chuvosas e inverno seco, correspondendo a uma precipitação pluviométrica anual de 1000 a 1500 mm (MELO, 1995).
Em termos econômicos, o município de Urutaí foi um importante instrumento da economia agrária e expansão das atividades comerciais no estado de Goiás. Destacam-se as atividades agropecuárias que foram as principais atividades econômicas do Estado nas primeiras décadas do século XIX. Essas atividades passaram por um processo de modernização, que se desenvolveu por influência da construção da ferrovia, no estado, sendo que consequentemente foram se formando
novas estações ferroviárias, transformando-se em núcleos de colonização e centros de exportação de produtos agropecuários.
Procedimentos de campo
Ao longo do curso d’água, vários pontos foram visitados, considerando como critério para seleção a facilidade de acesso aos mesmos. In situ, utilizou-se um formulário que continha campos específicos nos quais foram registrados os impactos ambientais observados. Além disso, foi utilizada uma câmara fotográfica para registro das condições verificadas.
Vale salientar que o presente estudo foi realizado no mês de abril de 2010, com a permissão da direção do IF Goiano – Campus Urutaí para acesso às propriedades ribeirinhas do córrego Palmital.
Análise dos dados
Os dados foram analisados qualitativamente, com base em consultas bibliográficas, disponíveis em banco de dados científicos na rede mundial de computadores (internet).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No fragmento do córrego Palmital avaliado, foram observados variados impactos ambientais. Dentre esses impactos, destaca-se a degradação da mata ciliar observada em vários trechos visitados, conforme exemplificado na Figura 2. Conforme demonstrado por diversos autores, formas agressivas da exploração humana têm provocado em diferentes cursos d’água brasileiros a retirada da vegetação nativa (COSTA, 2004; LIBOS & FILHO, 2003; MARCHITO, 2005; RODRIGUES, et al.; 2008). Conforme discutido recentemente por VOGEL et al. (2009), o ecossistema ripário que inclui a dinâmica da zona ripária, sua vegetação e suas interações, desempenha funções relacionadas à geração do escoamento direto em microbacias, à contribuição ao aumento da capacidade de armazenamento da água, à manutenção da qualidade da água na bacia (por meio da filtragem superficial de sedimentos) e à retenção, pelo sistema radicular da mata ripária, de nutrientes liberados dos ecossistemas terrestres (efeito tampão), além de proporcionar estabilidade das margens, equilíbrio térmico da água e formação de corredores ecológicos. Infelizmente, muitos dos trechos visitados apresentam-se em “péssima” condição para tal parâmetro.
ausência de vegetação ripária.
Outro problema identificado no percurso do córrego Palmital refere-se à erosão. Ao longo do córrego foram identificados alguns processos erosivos decorrentes diretamente da interferência do homem no uso do solo às suas margens. Erosão, de acordo com BERTONI & LOMBARDI-NETO (2005), é o processo de desprendimento e carregamento das partículas do solo, causada por alguns agentes naturais, como o vento, chuvas, infiltrações, topografia e a natureza do solo. Contudo, o desmatamento, a derrubada e a queima das matas têm contribuído com a aceleração dos processos erosivos. Tais práticas deixam o solo exposto à ação da chuva e do vento, além de destruir a matéria orgânica, principal responsável pela agregação de suas partículas, fertilidade e vida (CAPECHE, 2005). Para RODRIGUES et al. (2010), o desmatamento nas cabeceiras dos cursos d’água também contribui para o aumento e aceleração de processos erosivos. Muitos trechos visitados, conforme exemplificado na Figura 3, apresentaram sinais de erosão que podem incluir margens desnudas ou sem vegetação, desmoronamentos, raízes e solos expostos.
FIGURA 3. Trecho do córrego Palmital com ausência de vegetação ripária.
No fragmento estudado também foi verificado a presença de um dique de captação de água da Companhia de Saneamento de Goiás (SANEAGO), unidade de Urutaí, duas represas e um desvio para um canal de alimentação da irrigação e abastecimento das lagoas de piscicultura do IF Goiano – Campus Urutaí - Campus Urutaí (Figura 4). Salienta-se que a represa localizada na área de estudo é utilizada tanto para a dessedentação animal, quanto para o abastecimento doméstico. Certamente, a presença desse desvio, bem como a captação de água do curso d’água pode afetar a integridade ambiental do referido córrego, haja vista que, tanto a biota aquática, quanto suas características físicas, como por exemplo, a sua vazão, podem ser alteradas.
FIGURA 4. Uma das represas de captação de água do IF Goiano – Campus Urutaí (A) e dique da Companhia de Saneamento de Goiás (SANEAGO) observado em um trecho do córrego Palmital (B).
Com relação à população ribeirinha, foi observado que muitos moradores possuem criações de animais, lavouras para própria subsistência e dispõem seus resíduos de forma inadequada às margens do córrego. Além disso, verificou-se grande número de residências construídas próximas às margens do córrego Palmital (invadindo toda a planície de inundação do mesmo), bem como a supressão das áreas de mata nativa para a criação de áreas de pastagem, como pode ser observado na Figura 5. Pode-se dizer que essas práticas também contribuem, diretamente, com a diminuição da qualidade ambiental do córrego Palmital.
FIGURA 5. Presença de animais às margens do córrego (A) e residência próxima ao referido curso d’água, com evidente área de pastagem ao seu redor (B).
Além dos impactos descritos acima, foi verificado que instalações que estão presentes em localidades próximas do córrego Palmital são responsáveis pela percolação e lixiviação de poluentes, provocando o comprometimento da qualidade da sua água. Em adição, nota-se que a pocilga (Figura 6), localizada especificamente a 17 m de uma das represas do IF Goiano – Campus Urutaí e do córrego Palmital, acaba por descarregar no córrego Palmital uma quantidade considerável de dejetos orgânicos, quando ocorre a sua limpeza.
FIGURA 6. Pocilga localizada próxima ao córrego Palmital e a uma das represas do IF Goiano – Campus Urutaí (A) e resíduos provenientes da limpeza da pocilga (B).
Outra fonte de poluição refere-se à lagoa de decantação do IF Goiano – Campus Urutaí (Figura 7), que se encontra a 175 m do córrego Palmital. Foi possível notar que a referida lagoa não possui estrutura adequada, de modo que ocorrem frequentemente lixiviação e percolação dos contaminantes.
FIGURA 7. Imagens da lagoa de decantação do IF Goiano – Campus Urutaí. CONCLUSÃO
Baseado no que foi exposto, pôde-se detectar prejuízos na integridade ambiental de vários pontos do fragmento do córrego Palmital localizado no município de Urutaí. Tais alterações dizem respeito à degradação do referido curso d’água e ao seu entorno por diversas atividades humanas, sobretudo pelo acúmulo de lixo, construção de residências nas planícies de inundação e o desmatamento para a obtenção de áreas de pastagens.
Pode-se dizer que estes dados servem de alerta, sendo necessário, portanto, que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente do município de Urutaí, juntamente
com Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Goiás e com a Agência Ambiental de Goiás, tome providências no sentido de realizarem atividades e/ou estimularem a adoção de medidas que venham interromper os processos de degradação observados. Assim, dada à importância do córrego Palmital no contexto ecológico, ambiental, sócio-econômico e cultural da região estudada, sugere-se que: i) seja implantado um plano de gestão ambiental visando à preservação dos cursos d’água da região e a interrupção dos processos de degradação observados; ii) que seja estimulada a criação de projetos de educação ambiental que tenham o intuito de promover o uso sustentável dos rios (nesse caso, o IF Goiano – Campus Urutaí teria essencial participação) e iii) que sejam criados programas de monitoramento ambiental dos rios da região, nos quais haja a integração da comunidade.
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