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Piscicultura alimentada com águas servidas na periferia de Kolkata

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Academic year: 2021

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Piscicultura alimentada com águas servidas na periferia de Kolkata

Madhumita Mukherjee - madmita@cal.vsnl.net.in / madhukol@rediffmail.com Departamento de Pesca, Governo de Bengala Ocidental, Índia

Foto: De Borhegyi (FAO) - colheita de peixes em um tanque piscícola na periferia de Kolkata Na Índia, a

reutilização das fezes humanas e das águas servidas na agricultura é uma prática tradicional de adubação e irrigação que existe há séculos. O estado de Bengala Ocidental é pioneiro no uso das águas servidas dos

sistemas de esgoto na piscicultura, com 279 unidades de produção que somam 4.000 ha, produzindo mais de 13.000 toneladas de pescado por ano, consumido

principalmente na cidade de Kolkata (antiga Calcutá).

O uso das águas servidas da cidade para alimentar peixes criados em grandes tanques começou nos anos 30 do século 20. Hoje é a base do talvez maior sistema de piscicultura baseada no uso de águas servidas no mundo (Nair, 1944; Jhingran, 1991). Kolkata é uma metrópole que abriga 14 milhões de habitantes. Especialmente a área periurbana da cidade, onde essa piscicultura com águas servidas é praticada, abriga e sustenta um imenso número de pessoas dedicadas à reciclagem de resíduos e ao uso econômico dos recursos naturais. Toda a região está se beneficiando das conquistas baseadas no uso produtivo das águas servidas na piscicultura e na agricultura. O esgoto urbano passa por processos de

biotratamento ao mesmo tempo em que produz proteínas indispensáveis, despolui o ambiente e gera emprego e renda.

A grande área baixa ao longo dos limites à leste da cidade é conhecida popularmente como Alagados de Kolkata Oriental (AKO). Porém a tradição agrícola local, baseada na agricultura com resíduos urbanos, está agora ameaçada, sendo crescentemente expulsa pelo processo crescente de urbanização. Os mangues de Kolkata formam um ecossistema complexo, delicado, e insuficientemente estudado, que exige atenções por seu impacto na sobrevivência a longo prazo da cidade. Os três principais sistemas produtivos, nessa área, são a piscicultura com águas servidas, a horticultura adubada com lixo orgânico reciclado, e a produção de arroz irrigado.

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A piscicultura em Kolkata é basicamente um sistema composto que usa diversas espécies de peixes que utilizam nichos ecológicos diferentes coexistentes nos ecossistemas dos grandes tanques onde são criados. As práticas da policultura são observadas na produção combinada de peixes locais, como as carpas indianas (L. rohita, C. catla e C. mrigala), e carpas e tilápias exóticas. Em alguns tanques estão sendo introduzidos a mourala (Amblipharyngodon mola) e o “prawn” gigante de água doce (Macrobrachium rosenbergii). Nos tanques alimentados com o esgoto de Kalyani, estão sendo introduzidas outras duas carpas indianas (Labeo bata e Labeo calbasu), e uma carpa exótica (H. nobilis).

Em experiência para avaliar o uso de águas servidas na produção de tilápia em larga escala, Ghosh e outros (1980) observaram que essa produção não era afetada pela ocorrência de níveis de concentração de nitrogênio-amoníaco tão altos quanto 5,13 miligramas por litro. (a concentração máxima permitida de amônia é 0,1 miligrama por litro). Entretanto, as altas taxas de pH (8,4) e a presença de oxigênio diluído (4,4 miligramas) beneficiaram claramente a produção, que alcançou volumes variando entre 8.100 e 9.400 kg/ha/ano.

Do mesmo modo, em Titagarh a produção de “prawns” gigantes de água doce em tanques alimentados com águas servidas (na proporção de 1:3), produziu cerca de 500 kg/ha/8 meses em testes semelhantes (Ghosh e outros, 1985). No geral, a produção de peixes nos tanques alimentados com águas servidas supera entre 2 e 4 vezes a produção da piscicultura

convencional. Resultados e perspectivas

A produção de peixes alimentados com águas servidas, juntamente com outras atividades com ela relacionadas, oferece emprego a mais de 30.000 pessoas em tempo integral. Existem treze cooperativas de piscicultores e 38 grupos de produção apoiados pelo Departamento de Piscicultura de Kolkata – uma das cooperativas foi criada há 75 anos, enquanto que outra, de mulheres envolvidas no processamento de outros derivados da piscicultura, está sendo criada agora. Além disso, existem vários programas e iniciativas na área do ecoturismo, como por exemplo o Nalban Boating Complex e o Mudiali Nature Park (gerenciado por uma cooperativa de piscicultores e que chega a abrigar mais de 10.000 aves migratórias anualmente).

O Departamento de Piscicultura está tentando obter fundos para realizar melhoramentos na região dos Alagados de Kolkata Ocidental. Esses recursos serão utilizados para aumentar em um metro, em média, a profundidade dos tanques, implantar instalações para receber melhor os ecoturistas, substituir os casebres 'kuchcha', feitos de bambu e barro, por casas 'pakka', de alvenaria, desenvolver o mercado de peixes, e apoiar o cultivo de plantas medicinais

importantes.

Já foi calculado que apenas 30% das águas servidas de Kolkata são utilizadas em atividades produtivas, alimentando tanques piscícolas ou irrigando campos agrícolas. Os demais 70% são despejados diretamente na Baia de Bengala, poluindo o estuário local, reduzindo a biodiversidade aquática e a vida marinha em geral. Portanto, se houvesse mais produtores utilizando-se de mais águas servidas para sua piscicultura, esse grave problema ambiental

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estaria sendo reduzido.

Os recentes avanços nas tecnologias de processamento de dados aumentaram

significativamente a capacidade de se analisarem as opções complexas ligadas aos múltiplos usos que os mesmos recursos podem oferecer, e de se envolver uma quantidade crescente de pessoas em estruturas mais integradas de tomada de decisões. Tem também havido novas pesquisas na área de ecologia industrial, onde o resíduo de um processo é usado como insumo para outros. Um gerenciamento mais aperfeiçoado nas indústrias de Kolkata, de acordo com o modelo da ecologia industrial, asseguraria a utilização dos resíduos de um setor por outros setores, melhorando a qualidade ambiental, aumentando a segurança alimentar e garantindo mais empregos.

Sugestão de um modelo

Ao longo dos canais onde correm as águas servidas oriundas da cidade, os densos plantios fornecem alguma estabilidade ambiental. Eles controlam a erosão do solo das margens e podem absorver e fixar poluentes, e liberar água mais limpa e rica em nutrientes para as atividades da aquacultura. São usadas plantas capazes de sobreviver em solos mais úmidos, como as “mangrove” (“Neem”, “Banyan”, “Kadom” etc.), e também manga e goiaba, que, além de ajudarem a despoluir as águas servidas, permitem aos moradores locais gerarem alguma renda com a comercialização de seus frutos.

Em Kolkata, as árvores frutíferas maiores são cultivadas nas margens dos canais de águas servidas, principalmente no início de seus cursos (onde os solos ainda não estão salinizados). As árvores e arbustos são cultivados ao longo de ambas as margens dos canais. Mais a jusante, onde os solos são mais salinizados, outras plantas aptas a sobreviverem em solos muito úmidos são usadas (“Sundari”, "Garan”, “Kankara”, “Keya” etc.). Essas plantas são capazes de controlar a erosão do solo e manter a estabilidade ecológica da faixa de terra por onde corre o canal.

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Onde as

margens do canal não são próprias para acomodarem plantios mais densos, pode-se às vezes cultivar gramíneas e forragens para abastecer os criadores de animais. São escolhidas espécies mais resistentes, que exigem poucos tratos e criam oportunidades de geração de renda para os moradores locais. A atividade por sua vez estimula a criação de animais na região. A produção de forragem é capaz de retirar quantidades significativas de poluentes das águas, agregando ainda mais interesse a seu cultivo.

Os produtores deveriam ser mais encorajados a cultivarem diversos vegetais nas margens elevadas (diques) dos tanques de criação de peixes. O plantio em diques caracteriza-se pelo cultivo na lama de plantas resistentes à umidade como a “drumstick”, a mostarda e o girassol, e pode ajudar a controlar a erosão, aumentar a biodiversidade, manter o equilíbrio ecológico da área alagada, e gerar ocupação e renda. As cooperativas de piscicultores devem estimular o cultivo de lótus nas águas dos tanques de produção de peixe. Esse cultivo atrai insetos aquáticos, que servem de alimento para os peixes e aves, e ajudam na polinização. Além disso, a flor do lótus tem alto valor comercial e é considerada a “flor nacional” da Índia. Aquacultura integrada

Nas regiões de Kolkata para onde são destinados os resíduos urbanos, novos sistemas produtivos integrados devem ser implantados para melhorar a utilização dos espaços

disponíveis e otimizar a reutilização dos resíduos disponíveis. Essa iniciativa trará benefícios tanto econômicos quanto ecológicos. Patos, galinhas, porcos e cabras podem ser criados nessas regiões, paralelamente à produção de pescado. Os cultivos em diques são parte importante nesse sistema integrado de agricultura.

O envolvimento das mulheres pertencentes às comunidades de piscicultores deve ser encorajado no sentido de aumentar a integração das atividades produtivas. Elas também

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devem ser apoiadas na criação de novas oportunidades de processamento de derivados de pescado, como a produção de peixes secos, por exemplo. Isso lhes traria mais segurança econômica, dignidade e status social.

O autor também recomenda que toda cooperativa mantenha um tanque cheio de água limpa (não poluída por águas servidas), onde os peixes colhidos fiquem nadando por pelo menos 24 horas antes de serem vendidos, para eliminar qualquer cheiro de esgoto e quaisquer

patógenos que possam estar entre suas escamas.

Essa abordagem holística só será possível se os planejadores sociais, que têm papel

fundamental nesse processo, adotarem uma atitude mais sensível no planejamento do uso do solo. Esse sistema ecológico que está sendo implantado em Kolkata elimina ou reduz

sensivelmente o fluxo de resíduos da sociedade para a natureza e, ao mesmo tempo, estimula a participação dos produtores e moradores locais, gerando renda e fortalecimento econômico e promovendo a sustentabilidade ambiental.

Referências

● Ghosh, A., L.H. Rao and S.K. Saha, 1980. Culture prospects of Sarotherodon

mossambicus in small ponds fertilized with domestic wastewater. J. Inland Fish. Soc., Índia, 12: pp. 74 - 80.

● Ghosh, A., G.N. Chattopadhyay and A.B. Mukherjee. 1990. A modular project for recycling sewage effluents through aquaculture and its economic validity. In: P. Edwards and R.S.V. Pullin (eds.), wastewater-fed aquaculture, Proc. Int. Sem. Wastewater reclamation and reuse for aquaculture, Kolkata, Índia, pp. 111 - 118. ● Jhingran, V. G., 1991. Fish and Fisheries of India. Hindustan publishing corporation

(India) 3rd ed., Nova Déli, Índia.

● Nair, K. K., 1944. Calcutta Sewage irrigation fisheries. Proc. Nat. Inst. Sci. Índia, 10: pp. 459-462.

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