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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Academic year: 2021

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0000.20.491238-0/001

Número do Númeração

5002193-Des.(a) Shirley Fenzi Bertão Relator:

Des.(a) Shirley Fenzi Bertão Relator do Acordão:

14/10/0020 Data do Julgamento:

14/10/2020 Data da Publicação:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - SEGURO DE VEÍCULO - CARRO EXTRA - COBERTURA CONTRATADA - SEGURADO PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS VEÍCULO AUTOMÁTICO -DISPONIBILIZAÇÃO - AUSÊNCIA - DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL VERIFICADO - DANO MORAL CARACTERIZADO.

- Conquanto a falha na prestação de serviços, em regra, traduza mero aborrecimento do cotidiano, a contratação de seguro veículo por portador de necessidades especiais, sendo-lhe ofertada a cobertura de carro reserva, em caso de sinistro, todavia, não cumprida pela seguradora, traduz ofensa moral passível de ser indenizada, porquanto conduta que atenta ao princípio da boa fé contratual, marginalizando o consumidor deficiente físico.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.20.4912380/001 COMARCA DE BETIM -APELANTE(S): JOAQUIM PEREIRA GONCALVES REPRESENTADO(A)(S) POR . - APELADO(A)(S): PORTO SEGURO COMPANHIA DE SEGUROS GERAIS

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DESA. SHIRLEY FENZI BERTÃO RELATORA.

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DESA. SHIRLEY FENZI BERTÃO (RELATORA)

V O T O

Cuida-se de apelação interposta por JOAQUIM PEREIRA GONCALVES contra a sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito Robert Lopes de Almeida da 5ª Vara Cível da Comarca de Betim, que, nos autos da ação indenizatória ajuizada contra PORTO SEGURO COMPANHIA DE SEGUROS GERAIS, resolveu a lide nos seguintes termos:

"Isso posto, julgo improcedentes os pedidos formulados por Joaquim Pereira Gonçalves em face de Itaú Seguro Auto, Marca licenciada para uso da Porto Seguro Companhia de Seguros Gerais com a resolução do mérito, nos moldes do art. 487, I, CPC.

Condeno o autor nas custas e honorários advocatícios, que fixo em 10% do valor atualizado da causa, suspensa cobrança. (doc. ordem 49)

Embargos declaratórios foram opostos, conhecidos e rejeitados. (docs. ordem 51-55)

Em suas razões recursais insiste na tese lançada na exordial no sentido de que o descumprimento contratual levado a efeito pela apelada importou em danos morais passiveis de serem indenizados. Argumenta, com este propósito, que contratou apólice de seguro veicular com previsão de cobertura de carro extra, em caso de sinistro, todavia, não havia veículo adaptado capaz de lhe atender, porquanto portador de necessidades especiais. Disse que, ademais, não lhe foi oferecido o desconto de 25% no valor da franquia, em razão da não utilização do carro extra. (doc. ordem 59)

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Ausente preparo, por litigar amparado pela assistência judiciária gratuita. O apelado ofertou contrarrazões, batendo-se pelo desprovimento do apelo. (doc. ordem 61)

Relatados na essência.

Conheço do recurso, porque presentes os pressupostos de admissibilidade.

Cuidam os autos de ação ordinária movida por Joaquim Pereira Gonçalves em face de Itaú Seguro Auto Porto Seguro, em que o autor, denunciando a falha na prestação dos serviços de seguro contratados do requerido, buscou a recomposição dos prejuízos morais à vista do ocorrido suportados.

Narrou, com esse propósito, que diante da sua condição de deficiente físico utiliza para locomoção um carro automático que é segurado pela ré, possuindo cobertura de 20 dias de carro extra ou 25% de desconto na franquia, em caso de sinistro.

Afirmou que "na contramão do que fora contratado pelo Autor mediante a Apólice nº 0531 28 2260656, em anexo, a Ré não autorizou o carro reserva ao Autor por tratar-se de carro automático - condição imprescindível ao Autor, em razão da sua deficiência física preexistente à contratação do seguro.".

Sustentou que sua grave deficiência física "não pode ser ignorada para efeitos de compensação, eis que, por não possuir qualquer dos antebraços e mãos, não possui meios de acionar, por si próprio, serviços de transporte público e até mesmo particular, como táxi e Uber), o que agravou ainda mais o seu sofrimento, desamparo, humilhação e vergonha perante toda a coletividade, tendo seu direito moral violado de todas as sortes, restando notório o dever de reparação.".

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Tentada, a conciliação restou frustrada. (doc. ordem 30)

A ré contestou defendendo a regularidade de sua atuação fazendo-o ao argumento de que a previsão contratual é no sentido de que, no que pertine à cobertura de carro extra, é de disponibilização de um veículo nacional, modelo básico e sem qualquer adaptação, não havendo falar-se em ato ilícito ensejador de danos morais passíveis de serem indenizados. (doc. ordem 32) Em impugnação o autor insistiu na pretensão inicial rebatendo a tese defensiva, inclusive sustentando desconhecer a cláusula invocada pela demandada, por não ter recebido as cláusulas gerais no ato da contratação. (doc. ordem 43)

Por ocasião da decisão saneadora, o juízo afastou o requerimento de inversão do ônus da prova e fixou os pontos controvertidos. (doc. ordem 45) A isto sobreveio o desfecho de improcedência, alvo da presente insurgência recursal.

Cinge-se o mérito recursal à análise do cabimento de indenização por danos morais em decorrência da falha na prestação dos serviços perpetrada pela ré, aqui apelada, em prejuízo do autor, ora apelante.

Como cediço, a responsabilidade civil encontra suas diretrizes no artigo 186 do Código Civil, que preconiza que todo "aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito".

Da análise de tal norma, depreende-se que o ato voluntário é o primeiro pressuposto da responsabilidade civil. O ato de vontade no campo da responsabilidade, contudo, deve revestir-se de ilicitude, que diz respeito à infringência de norma legal ou à violação de um dever de conduta, que tenha como resultado prejuízo de outrem.

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A respeito do dano, a doutrina é unânime em afirmar que não há responsabilidade sem prejuízo. Ou seja, a ilegitimidade ou irregularidade da ação, sem dano algum a terceiros, não é suficiente para gerar responsabilidade, mas tão-somente, quando for o caso, a invalidade do ato. Todavia, para a responsabilização, não basta que o agente haja procedido conscientemente contra a norma jurídica, nem que a vítima sofra um dano, que é o elemento objetivo do dever de indenizar. É necessário que se estabeleça uma relação de causalidade entre a injuricidade da ação e o mal causado. É preciso ter certeza de que, sem a contravenção, o dano não ocorreria. O nexo causal, assim, se torna indispensável, sendo fundamental que o dano tenha sido causado pela ação ou omissão culposa do sujeito. A propósito, Silvio Rodrigues ensina:

[...] para a configuração da responsabilidade civil, é necessária a composição dos seguintes pressupostos: I) ação ou omissão do agente; II) culpa do agente; III) relação de causalidade; IV) dano experimentado pela vítima". (Direito civil: responsabilidade civil. 32.ed.,São Paulo: Saraiva, 2002, p. 13).

Dito isso, observa-se que, como regra geral, a caracterização da exigibilidade de pretensão indenizatória está condicionada à presença de três requisitos, quais sejam, ato ilícito, dano e nexo de causalidade entre um e outro. Ausente algum deles, o direito à indenização é de ser negado.

No que tange aos danos morais decorrentes de descumprimento contratual, leciona Sérgio Cavalieri Filho:

"Outra conclusão que se tira desse novo enfoque constitucional é a de que mero inadimplemento contratual, mora ou prejuízo econômico não configuram, por si sós, dano moral porque não agridem a dignidade humana. Os aborrecimentos deles decorrentes ficam

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subsumidos pelo dano material, salvo se os efeitos do inadimplemento contratual, por sua natureza ou gravidade, exorbitarem o aborrecimento normal decorrente de uma perda patrimonial e também repercutirem na esfera da dignidade da vítima, quando, então, configurarão o dano moral. (...) importante, destarte, para a configuração do dano moral não é o ilícito em si mesmo, mas sim a repercussão que ele possa ter." (in "Programa de responsabilidade civil" , 3ª ed, São Paulo, Malheiros, 2002, p. 89-90). Bem se vê que o mero transtorno, originado de descumprimento contratual, ainda que de significativa proporção, não pode ser classificado como um legítimo dano moral, sobretudo em uma sociedade tão complexa como a atual, em que inúmeros eventos do cotidiano já são aptos a gerar aborrecimentos de toda ordem, sendo necessária grande prudência para diferenciar aqueles que se enquadram na categoria dos dissabores e os que se enquadram na dos danos morais, sendo esta última à hipótese dos autos. Em que pese o esforço de argumentação da demandada, a essa altura encampado pelo juízo de origem, tenho que a previsão de carro extra, realizada de modo genérica e sem qualquer atenção à condição física de cada contratante, distancia-se do princípio da probidade e boa fé que devem nortear as relações contratuais, mormente quando não demonstrado nos autos ter sido o autor alertado a este respeito.

Com efeito, ao permitir a contratação de seguro veicular por pessoa portadora de necessidades especiais, deveria a seguradora certificar-se de que todas as coberturas que compõem a apólice serão, de fato, disponibilizadas, em caso de sinistro, não podendo incluir benefício que dele o segurado não poderia se valer, representando, em verdade, um plus apenas a ela favorável.

Vale dizer, a previsão de carro extra para segurado deficiente não poderia ter sido admitida e, se o foi, não é dado à seguradora ré invocar cláusula contratual genérica, a fim de se furtar da obrigação de fornecer, em caso de sinistro, um veículo capaz de atender ao fim a que se destina.

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Admitir o contrário seria prestigiar o cumprimento do contrato segundo a conveniência da seguradora, o que não pode ser admitido, mormente quando considerado o direito à paridade que assiste a todos os consumidores, inclusive àqueles portadores de necessidades especiais.

É de se acrescer que a busca por uma sociedade inclusiva é dever de todos os partícipes impondo ao fornecedor de serviços que envide esforços a fim de atender a demanda de deficientes físicos, sendo vedada sua marginalização.

Bem por isso, quando a seguradora se propôs a realizar a apólice de seguros, ciente da condição do autor e da especificidade do seu veículo, era sua obrigação adaptar seu serviço para satisfazer o consumidor que confiou nela para um momento de necessidade.

Neste particular cenário restam caracterizados os danos morais já que o autor é deficiente físico e o descumprimento contratual não lhe gerou apenas simples inconveniente, mas sim grande sofrimento e frustração, por saber que embora tenha pago por um serviço que deveria lhe resguardar em um momento de sinistro, teve que se submeter a ajuda de terceiros e utilizar meios alternativos de transporte.

Dessa forma, tenho que a falha na prestação dos serviços, infligiu ao autor dor e o sofrimento, ao perceber que a seguradora, ao qual depositou sua confiança, não foi capaz de cumprir com as condições firmadas no ato da contratação, disto resultando danos morais passíveis de serem indenizados.

Em situação análoga a dos autos já se manifestou o e. Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

AÇÃO REPARATÓRIA. CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL. SINISTRO NO BEM. SEGURADO DEFICIENTE FÍSICO. PREVISÃO CONTRATUAL DE CARRO RESERVA. OFERTA DE VEÍCULO MANUAL.

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INUTILIDADE PARA O CONSUMIDOR. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO ADEQUADA ACERCA DOS LIMITES DO SEGURO. DISPOSIÇÃO CONTRATUAL DUVIDOSA. INADIMPLEMENTO CARACTERIZADO. RESTITUIÇÃO DO VALOR COBRADO PELO BENEFÍCIO. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. É dever do fornecedor dar informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem (art. 6º, III, do CDC). Em caso de dúvidas, outrossim, as cláusulas serão interpretadas da forma mais favorável ao aderente (art. 47 do CDC). Destarte, tendo o segurado deficiente físico celebrado contrato de seguro prevendo carro reserva, sem que em momento algum lhe tenha sido explicitado de maneira clara (art. 6º, VIII, do CDC) que o veículo seria manual, incompatível com sua condição de deficiente físico, a qual, aliás, foi devidamente observada pelo corretor credenciado, está caracterizado inadimplemento por parte da seguradora. Pertinente, nesse contexto, a devolução do quantum a maior cobrado em razão do benefício não utilizado, bem como a indenização por danos morais ao consumidor privado de meio de locomoção durante o reparo do seu carro original. (TJSC, Apelação Cível n. 2014.001278-5, de Rio do Sul, rel. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 11-03-2014).

Relativamente ao quantum indenizatório, como se sabe, não existe forma objetiva de aferir e quantificar o constrangimento e o abalo psíquico decorrente de danos que afligem a esfera moral. Todavia, doutrina e jurisprudência estão conjugando esforços para estabelecimento de parâmetros.

Com relação à fixação dos danos morais, CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA leciona:

"O problema de sua reparação deve ser posto em termos de que a reparação do dano moral, a par do caráter punitivo imposto ao agente, tem de assumir sentido compensatório. Sem a noção de equivalência, que é própria da indenização do dano material, corresponderá à

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função compensatória pelo que tiver sofrido. Somente assumindo uma concepção desta ordem é que se compreenderá que o direito positivo estabelece o princípio da reparação do dano moral. A isso é de se acrescer que na reparação do dano moral insere-se uma atitude de solidariedade à vítima" (Responsabilidade Civil, 6ª ed., Forense, 1995, p. 60).

Em casos desta natureza, recomenda-se que o julgador se paute pelo juízo da equidade, levando em conta as circunstâncias de cada caso, devendo o quantum da indenização corresponder à lesão e não a ela ser equivalente, porquanto impossível, materialmente, nesta seara, alcançar essa equivalência.

Portanto, o ressarcimento pelo dano moral, decorrente de ato ilícito, é uma forma de compensar a dor causada e não deve ser usado como fonte de enriquecimento ou abusos. A sua fixação deve levar em conta o estado de quem o recebe e as condições de quem paga.

Nesse sentido, entendo que o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), é razoável para fazer jus às funções compensatórias e punitivas da indenização por dano moral, mostrando-se suficiente para proporcionar satisfação econômica na justa medida do abalo sofrido.

No tocante aos juros de mora, entendo que, por se tratar de responsabilidade de ordem contratual, fluem a partir da citação, nos termos do art. 405 do Código Civil.

A correção monetária, por seu turno, incide a partir da fixação da verba indenizatória.

Ao abrigo de tais fundamentos, DOU PROVIMENTO ao recurso para, em reforma, julgar procedente o pedido inicial e condenar a ré ao pagamento de compensação por danos morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) corrigidos monetariamente desde o presente arbitramento e acrescido de juros de mora, desde a citação.

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julgamento, condeno o apelado ao pagamento das custas e despesas processuais, inclusive os recursais, bem como honorários advocatícios que, nos termos do artigo 85, §§1º, 2º e 11º do CPC, majoro de 10% para 12% sobre o valor da condenação.

DES. ADRIANO DE MESQUITA CARNEIRO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. FABIANO RUBINGER DE QUEIROZ - De acordo com o(a) Relator(a).

Referências

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