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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ GABINETE DA 2ª VARA DO TRIBUNAL POPULAR DO JÚRI DA COMARCA DE TERESINA

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ

GABINETE DA 2ª VARA DO TRIBUNAL POPULAR DO JÚRI DA COMARCA DE TERESINA

RUA GOV. TIBÉRIO NUNES, S/N, CABRAL, TERESINA-PI

0003113-54.2020.8.18.0140 PROCESSO Nº:

Ação Penal de Competência do Júri CLASSE:

15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA Autor:

JOÃO PAULO NORÕES DE LIMA MENEZES Réu:

ANNY KALINY BARBOSA LIMA Vítima:

DECISÃO-MANDADO

Vistos, etc.

O Ministério Público do Estado do Piauí, com base no inquérito policial 3455/2020 oriundo da Delegacia do Núcleo de Investigação de Feminicídio desta Capital (fls. 01/92), ofereceu denúncia no dia 27 de julho de 2020, em face de JOÃO PAULO NORÕES DE LIMA MENEZES, nos autos já qualificado, dando-o como incurso nas sanções do art. 121, § 2º, II, III, IV e VI, c/c art. 121, § 2º-A, I e art. 14, II, todos do Código Penal, observados os artigos 5º, III e 7º, I da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), sob as diretrizes da Lei nº 8.072/90 (Lei de Crime Hediondo), pela prática do crime de feminicídio em sua forma tentada contra a vítima ANA KALINY BARBOSA LIMA.

Narra a denúncia que:

“[…] no dia 02.07.2020, por volta das 20h, na quadra 142, casa 11, Residencial Jacinta Andrade, Bairro Santa Maria, nesta capital, a vítima, ANNY KALINY BARBOSA LIMA, foi sufocada e agredida pelo acusado JOÃO PAULO NORÕES DE LIMA MENEZES, conforme se observa do Laudo Preliminar – Lesão Corporal às fls. 08 e Laudo Médico às fls. 13.

2. Apurada a motivação do homicídio, conclui-se que a conduta criminosa do acusado restou motivada pelo fato da vítima ter laborado ao longo de todo o dia, sem dar atenção a ele, agressor, inclusive não o deixando participar da vida financeira dela.

3. Em resumo, verificou-se que vítima e acusado mantiveram relacionamento amoroso por um ano. Nesse ínterim, o acusado envolveu a vítima em um ciclo de violência, despontada em suas cinco vertentes (psicológica, física, patrimonial, sexual e moral), o que é possível de ser extraído dos relatos das testemunhas e, especialmente, da vítima, quando sustenta que o acusado almejava interferir nos seus negócios, insistia para juntarem as rendas e assinarem documento de união estável, instou a vítima no sentido de que fizesse tratamento para engravidar, além de controlar o celular e a vida privada da vítima, visando verificar as conversas que a mesma mantinha em redes socias e chats. Ademais, reclamava do cumprimento das roupas da vítima e implicava quando esta conversava com homens.

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4. No dia do crime, o acusado, de forma deliberada, discutiu com a vítima por meio de aplicativo de mensagens (whatsapp), retirou as placas do seu veículo automotivo e aguardou a chegada da vítima na residência dessa (utilizada pelo casal), fazendo ingestão de bebida alcoólica (embriaguez preordenada).

5. Logo que adentrou ao imóvel, a vítima foi segura por um dos seus braços, momento em que o investigado passou a agredi-la moral (chamando-a de “ordinária”, “cretina” e “vagabunda”) e psicologicamente (ameaça de morte, chantagem, insultos e restrição de liberdade), culminando com violência física (puxão de cabelo), tudo sob o manto de que o fazia em razão da vítima não ter dado atenção a ele, agressor, ao longo do dia, bem assim não o deixar participar da vida financeira da vítima (violência patrimonial). O acusado arrastou a vítima para o quarto do casal, onde, utilizando as mãos, tentou esganar e sufocar a vítima, afirmando que ceifaria sua vida naquela data. Nesse ínterim, a vítima chegou a “perder as forças” quando tentava se defender, momento em que o investigado a soltou e saiu em busca da sua arma de fogo para concluir o feminicídio, a todo tempo xingando a vítima e asseverando que a mataria (ameaça), de modo que, durante toda a ação delitiva, o acusado reiterava a sua certeza que ninguém ouviria as rogativas da vítima, em virtude da distância do imóvel em relação aos vizinhos.

6. Durante o lapso temporal supradito, em um ato de destreza, a vítima conseguiu evadir-se para o banheiro, trancando a porta e impedindo que investigado adentrasse ao cômodo. Todavia, o agressor passou a forçar sua entrada, mesmo diante das rogativas da vítima, instante em que afirmou que não a deixaria voltar para o seu ex-marido, pois ela jamais “se deitaria” com homem algum (violência sexual na modalidade limitação ao exercício de direito sexual). Contudo, o agressor conseguiu arrombar a porta do banheiro, retirando a vítima, pelos cabelos, e levando-a para o carro, o qual já havia subtraído as placas [...]

Recebida a denúncia no dia 30 de julho de 2020 (fls. 102). O acusado foi devidamente citado e apresentou resposta à denúncia e rol de testemunhas.

Deu-se prosseguimento à instrução do feito com oitiva da vítima ANA KALINY BARBOSA LIMA, das testemunhas LUCILENE DE SOUSA LIMA, ANA LISBELA BARBOSA DANTAS, ELIETH RODRIGUES DOS SANTOS e PLÁCIDA LAISE LEITE DIAS e interrogatório do acusado JOÃO PAULO NORÕES DE LIMA MENEZES.

Concluída a instrução, o Ministério Público apresentou alegações finais em forma de memoriais, requerendo a pronúncia do acusado, para que seja submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, pelo cometimento da conduta tipificada no art. 121, § 2º, II, III, IV e VI, c/c art. 121, § 2º-A, I e art. 14, II, todos do Código Penal, e observados os arts. 5º, III e 7º, I da Lei nº 11.340/2006 e sob diretrizes da Lei nº 8.072/90, contra a vítima ANA KALINY BARBOSA LIMA, alegando para tanto, que a materialidade do fato se encontra comprovada nos autos e que existem indícios suficientes que apontam para o acusado a autoria da conduta descrita na denúncia, bem como há lastro probatório que ampara a manutenção das qualificadoras do motivo fútil, asfixia e tortura, traição e meio que impossibilitou a defesa da vítima em situação de violência doméstica e familiar.

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Já a defesa, pediu que o delito denunciado como feminicídio tentado seja desclassificado para outro não doloso contra a vida, mediante violência doméstica e via de consequência, sejam estes autos remetidos ao Juízo competente para o seu julgamento. Pediu ainda o desentranhamento do laudo pericial acostado aos autos às fls. 122, alegando nulidade do laudo por não ter sido este assinado por dois peritos. Por fim, pediu a impronúncia do acusado, alegando que o lastro probatório acostado aos autos deixar dúvidas quanto ao envolvimento do acusado no fato narrado na denúncia.

Tudo visto, lido e examinado. Decido.

Conforme relatado, o Ministério Público imputa ao acusado JOÃO PAULO NORÕES DE LIMA MENEZES a autoria do crime de feminicídio em sua forma tentada, praticado contra a vítima ANA KALINY BARBOSA LIMA.

Aprecio inicialmente o pedido de desentranhamento dos autos do laudo pericial de fls. 122 e o faço para indeferi-lo, isto porque, considero que se aplica ao caso a regra contida no art. 159 do CPP, que admite que o exame pericial pode ser realizado por um perito oficial.

Acrescente-se que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal está sedimentada no sentido de entender válida a perícia quando realizada por um único perito oficial. A exigência de dois peritos pressupõe a hipótese prevista no parágrafo 1º do artigo 159 do Código de Processo Penal.

Passo a apreciação dos elementos probatórios constantes dos autos e verifico que a materialidade das lesões sofridas pela vítima se encontra comprovada através do Laudo Preliminar – Lesão Corporal (fls. 08) e Laudo Médico de fls. 13.

Existem também indícios que apontam para o acusado a autoria das lesões sofridas pela vítima e sessou a agressão porque a vítima correu e se abrigou na casa de uma vizinha.

Vejamos:

A vítima ANA KALINY BARBOSA LIMA, declarou em juízo que conviveu com o acusado aproximadamente 1 (um) ano e nesse tempo não ocorreram agressões; que fora alertada por seu irmão sobre seu relacionamento com o acusado, porque teria ele agredido uma ex namorada; que no dia do fato o acusado a deixou na loja e lá passou o dia inteiro; quando chegou em casa colocou as sacolas na cozinha e João Paulo saiu do quarto e a segurou pelo braço e começou a xingar; que a arremessou na parede; que durante a agressão o acusado apertava sua garganta com a mão e colocava a outra mão no seu nariz; que ele esperou ela voltar para casa e levou-a para o quarto e a enforcou; que o acusado dizia que ia matá-la; que conseguiu se trancar no banheiro mas João arrebentou a porta, a pegou e saiu arrastando-a pelos cabelos para o carro; que conseguiu sair correndo do carro; que só sobreviveu porque conseguiu fugir, que a intenção do acusado era matá-la; que conseguiu se esconder debaixo da mesa da casa de Eliete;

ELIETH RODRIGUES DOS SANTOS disse que a vítima correu para sua casa e que estava sangrando pela boca; que a vítima tinha o braço ralado e o pescoço roxo; que o acusado ainda subiu no muro da casa da depoente, que não sabe de ciúmes do acusado, que não viu o acusado apontando a arma para o Kleydson, mas soube que isso aconteceu; que a vítima relatou à depoente que o acusado queria matá-la; que não sabe o que motivou o crime; que a vítima ficou na sala e depois foi para o banheiro, que depois se abrigou debaixo da mesa. Que foi até o carro para tentar pegar a bolsa da vítima e o acusado disse que a testemunha não encostasse; que só entregaria a bolsa para a vítima, que o acusado parecia estar tranquilo; que quando puxou a vítima para entrar e já fechou o portão, o acusado não bateu no portão para entrar; que Lúcia viu o acusado em cima do muro da depoente.

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LUCILENE DE SOUSA LIMA disse que estava na cozinha de casa quando ouviu gritos, que quando saiu, avistou o acusado em cima do muro da casa de Elieth; que não viu arma com o acusado; que ouviu falar que o irmão da vítima chegou ao local e o acusado apontou a arma para ele; que ouviu também que o acusado tinha agredido a vítima e que não tem conhecimento de ciúmes do acusado.

ANA LISBELA BARBOSA DANTAS mencionou que não presenciou o ocorrido; que quando soube do fato foi até a casa da sua filha, que sua filha estava lesionada, muito nervosa e sangrava pela boca e tinha várias escoriações; que na casa viu sangue e cabelos espalhados; que ficou sabendo que sua filha teria sido enforcada pelo acusado; que no dia do fato a Ana passou em sua casa para pegar a chave da sua casa e nessa oportunidade relatou que tinha discutido com o acusado por causa de um consórcio; que no início do relacionamento da sua filha com o acusado, a depoente foi alertada pela mãe de Plácida, ex namorada do acusado, que ela teria sido agredida por ele. Que algumas vezes sua filha falou sobre os ciúmes do acusado.

O acusado JOÃO PAULO NORÕES DE LIMA MENEZES em seu interrogatório prestado em Juízo, negou a ocorrência do delito; que não sabe quem lesionou Ana naquele dia; que convivia com a vítima e nada tem a alegar contra a mesma. Disse que no dia do fato estava em casa; que morava na mesma casa com a Ana; que não tinha ninguém além dos dois àquele dia, mas que não a enforcou e nem a arrastou pelo cabelo; que não tinha ciúmes da Ana; que nunca falou sobre as roupas que Ana usava; que seu carro não estava sem placa, que não xingou a vítima nem foi agredido por ela.

Como se pode constatar existem duas versões para o fato narrado na denúncia. Aversão apresentada pela vítima dando conta de que o acusado a agrediu e tentou ceifar-lhe a vida, sem que tenha logrado êxito na sua empreitada porque conseguiu correr e se abrigar na casa de Elieth e a versão apresentada pelo acusado de que não agrediu a vítima e também não tentou ceifar-lhe a vida.

A versão apresentada pela vítima de que buscou abrigo na casa de Elieth foi esta confirmado e a testemunha Ana Lisbela Barbosa Dantas sua vez disse ter visto o acusado encima do muro da casa de Elieth.

Neste contexto probatório não se pode excluir do Tribunal do Júri a competência para o julgamento do feito, pois, a materialidade das lesões sofridas pela vítima está comprovada nos autos, existem indícios que apontam para o acusado a respectiva e a alegada ausência de animus necandi não restou incontroversa nos autos, o que afasta o acolhimento, nesta fase, do pleito desclassificatório.

A prova judicializada respalda também a sustentação em Plenário do Júri, das qualificadoras elencadas na denúncia. Os depoimentos colhidos durante a instrução processual dão conta do relacionamento amoroso do acusado com a vítima.

A vitima confirmou o realionamento amoroso que manteve com o acusado e acrescentou que o acusado a surpreendeu com a agressão e que tentou asfixiá-la. Disse mais, que a falta de atenção sua para com o acusado, durante o dia, além de outros motivos financeiros constituíram o móvel da sua conduta, de modo que cabe ao Conselho de Sentença analisar e decidir se tais fatos caracterizam as circunstâncias qualificadoras descritas na denúncia, quais sejam: motivo fútil; asfixia/tortura; surpresa e contra mulher, mediante violência doméstica.

Isto posto e com base no art. 413 do Código de Processo Penal, PRONUNCIO o acusado JOÃO PAULO NORÕES DE LIMA MENEZES para que seja submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, pela prática do delito tipificado no art. 121, § 2º, incisos II, III, IV e VI, c/c art. 121, § 2º-A, I e art. 14, inciso II, todos do Código Penal, contra a vítima ANA KALINY BARBOSA LIMA, o que faço com base no art. 413 do Código de Processo Penal.

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É inquestionável que a prisão provisória é medida excepcional. É, pois, ato jurisdicional de inegável magnitude; e como tal, com seriedade deve ser tratado. Os regramentos constitucional e processual penal, no que tratam do tema, determinam que a prisão provisória, somente persistirá se presentes os requisitos do artigo 312 do CPP . No caso dos autos, além da gravidade do delito imputado ao acusado, verifica-se que estão presentes os requisitos previstos no art. 312 do CPP, para a manutenção de sua prisão preventiva.

Com efeito, ao término da instrução criminal na primeira fase deste procedimento, restou comprovada a materialidade do delito e a presença de indícios da autoria atribuída ao acusado, tanto que restou pronunciado. Além do mais, a periculosidade do acusado está demonstrada pelo modus operandi em tese, empregado no cometimento da já mencionada conduta, de modo a recomendar a manutenção de sua segregação cautelar como medida necessária ao resguardo da ordem pública e em especial para assegurar a integridade física da vítima, que outras medidas cautelares diversas do encarceramento não atingirão os mesmos objetivos.

Assim sendo e com base no art. 312 do Códio de Processo Penal, mantenho a prisão preventiva do acusado

Após a fluência do prazo para a interposição de recursos, intimem-se o representante do Ministério Público e a defesa do acusado, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem os róis de testemunhas que irão depor em plenário do Júri, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligências (art. 422, do CPP).

DETERMINO QUE O PRESENTE DOCUMENTO SIRVA, AO MESMO TEMPO, COMO DECISÃO, devendo ser expedido, para tanto, em três vias: (a) uma ficará no processo, servindo como decisão judicial de pronúncia; e (b) as outras duas servirão como mandado, para cumprimento pelo Oficial de Justiça. Além disso, deve a Secretaria lançar, no sistema processual, as movimentações de decisão e de expedição de mandado, em seqüência.

Por este documento, fica o Oficial de Justiça que o portar autorizado a requisitar força policial para o cumprimento da diligência nele determinada. CUMPRA-SE, NA FORMA E SOB AS PENAS DA LEI. Poderá o Oficial de Justiça, para o cumprimento da diligência do mandado, proceder conforme o disposto no § 2º do art. 212 do CPC.

Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se.

TERESINA, 26 de novembro de 2020 MARIA ZILNAR COUTINHO LEAL

Referências

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