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Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio

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PROJECTO POCTI/36332/AGR/2000

Gestão de Ecossistemas: Integração de Escalas Temporais, Biodiversidade e Sustentabilidade

Ecológica, Económica e Social

Relatório Final relativo à Tarefa 4

Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio

Lívia Madureira

(Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)

Luís Catela Nunes

(Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Economia)

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio i

Índice

1. Introdução... 1

2. Opções de gestão florestal e sua apresentação ao público...

3

3. Construção e implementação dos mercados contingentes ...

8

3.1. Cenários de Valoração... 9

3.2. A selecção do público para o mercado contingente... 14

3.3. Elaboração do questionário e implementação do mercado contingente ... 16

4. Informação obtida no inquérito para a valoração contingente ... 20

4.1. Características sócio-demográficas e estrato sócio-económico dos inquiridos... 20

4.2. Familiaridade e preferências em relação à Serra da Lousã e ao Cantão das Hortas... 24

4.2.1. Familiaridade e preferências em relação à Serra da Lousã ... 24

4.2.2. Familiaridade e preferências em relação ao Cantão das Hortas... 33

4.3. Percepções e atitudes dos inquiridos em relação à floresta... 35

4.4. Resultados da valoração das opções de gestão da floresta ... 40

4.4.1. Resultados da valoração das opções de gestão da floresta para o Cantão das Hortas... 40

4.4.2. Resultados da valoração das opções de gestão da floresta para a Serra da Lousã ... 52

4.4.3. Agregação dos benefícios individuais para a população residente na Grande Coimbra... 57

5. Conclusões... 59

Referências Bibliográficas... 63

Anexos... 64

Anexo 1 – Séries de imagens utilizadas no questionário ... 64

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 3

O presente relatório está organizado em 5 secções. Na Secção 2, que se segue à introdução, apresentam-se as opções de gestão da floresta e a forma como foram apresentadas aos indivíduos inquiridos. De seguida, a Secção 3 descreve a construção dos mercados contingentes e sua administração junto da população da cidade de Coimbra. Nesta Secção é explicada a escolha da população considerada na valoração económica. Na Secção 4 são apresentados os resultados da valoração económica, precedidos pela apresentação de informação qualitativa relativa: ao conhecimento e familiaridade dos inquiridos com a Serra da Lousã e Cantão das Hortas, aos seus potenciais substitutos; às atitudes em relação à floresta e à sua conservação e às características sócio-económicas e hábitos de recreio e lazer dos inquiridos. Para finalizar o relatório, apresentam-se as principais conclusões relativamente à comparação das alternativas de gestão da floresta em termos dos respectivos benefícios económicos, que são extrapolados para a população considerada – residentes na cidade de Coimbra. Estes benefícios são também confrontados com as perdas de rendimento que implicam ao nível da extracção da madeira.

2. Opções de gestão florestal e sua apresentação ao público

A valoração económica dos serviços ambientais e de recreio foi feita para três cenários alternativos de gestão florestal, desenvolvidos com informação relativa ao Cantão das Hortas, no âmbito de outras componentes do projecto. Um destes cenários, aqui designado por alternativa A, traduz a evolução da floresta do Cantão das Hortas, gerida com o objectivo de se assegurar a sua conservação nos moldes actuais. A alternativa B corresponde a um cenário de gestão sustentada do fluxo madeira, o qual implica que a extracção deste recurso permita a regeneração natural do coberto florestal. O terceiro cenário, designado por alternativa C, retrata uma situação em que a exploração florestal é orientada pela maximização do rendimento gerado na extracção de madeira, consubstanciando, portanto, um modelo de utilização intensiva da floresta.

As estratégias propostas para a gestão da floresta do Cantão das Hortas distinguem-se com base num leque de cinco atributos: densidade, diversidade, risco de erosão, risco de fogo e custo de oportunidade. O nível de cada um destes atributos configura uma diferente evolução para o estado da paisagem e para o fluxo de serviços ambientais e de recreio. A perspectiva temporal foi contemplada na apresentação destas alternativas de gestão da floresta junto do público. Optou-se por concebe-las como cenários para um intervalo de 30 anos, informando-se o público das alterações no nível dos atributos referidos e no estado da paisagem, no decurso do período considerado.

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 4

A alternativa A corresponde a um cenário em que se procura preservar a situação actual. Há de facto intervenções, mas estas têm por único objectivo garantir o sucesso da regeneração natural e a manutenção dos níveis de densidade e de diversidade existentes neste momento. Na paisagem surgem apenas áreas desbastadas – áreas em que se removem somente algumas árvores –, de modo a evitar alterações significativas na densidade e diversidade do coberto florestal actual. Não há, portanto, abertura de clareiras: espaços desarborizados pelo meio da floresta. Este cenário traduz uma gestão dos recursos florestais orientada para a sustentabilidade ecológica, à qual está associada a provisão de serviços ambientais. Corresponde, pois, a uma política de preservação da paisagem e do espaço florestal actual no caso do Cantão das Hortas.

A estratégia de gestão subjacente à alternativa B tem por objectivo salvaguardar a sustentabilidade do fluxo de madeira. Os cortes de madeira são regulares ao longo do tempo e dão origem a clareiras. Nestes espaços cresce primeiro o mato, ocorrendo mais tarde a regeneração natural do coberto florestal. Este cenário reflecte uma perspectiva de gestão florestal centrada no produto: a madeira. Aproxima-se, assim, de uma política tradicional de utilização do espaço florestal português, voltada para extracção sustentada do recurso madeira. Note-se, no entanto, que esta opção comporta também a oferta de serviços ambientais e de recreio. O fluxo destes serviços tenderá a ser menor que o proporcionado pela estratégia de conservação, mas no caso do recreio poderá até ser eventualmente maior. A presença de clareiras surge em alguns estudos como um atributo valorizado pelo público, nomeadamente ao nível do uso da floresta para actividades de recreio e lazer (Hanley e Ruffel, 1993).

A terceira alternativa considerada consiste numa estratégia centrada na maximização do rendimento financeiro resultante da extracção da madeira. Não há, por isso, a preocupação de salvaguardar a sustentabilidade do fluxo de madeira, e ainda menos a do fluxo de serviços ambientais e de recreio. Esta não é, obviamente uma opção compatível com o objectivo da sustentabilidade tripartida, pois deixa completamente de fora da gestão a dimensão ambiental da floresta.

Relativamente aos níveis dos atributos que distinguem as três estratégias propostas para a gestão do Cantão das Hortas, respectivamente, alternativa A – “conservar a floresta tal como ela está”; alternativa B – “extrair madeira de forma compatível com a regeneração natural da floresta”, e alternativa C – “extrair madeira para maximizar o rendimento financeiro”, considerou-se:

1. A densidade permanece elevada e constante no espaço e ao longo do tempo no caso da alternativa A. Já na alternativa B, o nível deste atributo é variável no espaço e no tempo, devido à abertura regular de clareiras ao longo do período contemplado. Na alternativa C

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dá-Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 5

se uma alteração radical da densidade logo no início, na sequência dos cortes rasos que se efectuam nessa altura.

2. Os níveis de diversidade são médio, alto e baixo, respectivamente para as alternativas A, B e C. A maior diversidade associada à alternativa B decorre da maior heterogeneidade espacial a que esta estratégia de gestão dá origem: combinação de clareiras, manchas de árvores adultas,... – Esta combinação oferece uma grande diversidade de habitat para a fauna: espécies especialistas preferirão a protecção das manchas de árvore adultas, outras preferirão as zonas de transição (orlas) entre essas manchas e as clareiras.

3. Risco de erosão: reduzido na alternativa A; médio no caso da alternativa B e elevado na alternativa C. O risco de erosão será tanto maior quanto maiores forem as clareiras abertas nas encostas.

4. Risco de fogo: elevado na alternativa A; médio no caso da alternativa B, apresentado a

alternativa C uma variação grande deste risco no decurso do período de tempo considerado: o risco de fogo é reduzido nos primeiros anos após o corte e elevado nos últimos anos, devido ao crescimento dos matos nas áreas entretanto desflorestadas. O risco de fogo tenderá a ser maior quando mais densa for a floresta. Note-se que no caso da alternativa A a densidade é elevada e não se altera significativamente, quer no espaço quer no tempo. Pelo contrário, na alternativa B os cortes de madeira criam regularmente espaços com muito pouco material combustível, diminuindo desse modo o risco de fogo. A abertura de enormes clareiras na alternativa C minimiza o risco de fogo nos primeiros anos, para o potenciar mais tarde devido às grandes áreas de mato em que, entretanto, se convertem os espaços desflorestados. 5. O custo de oportunidade associado às alternativas A e B foi estimado em relação à alternativa

C e é, respectivamente de 2783,6 e 741,2 milhares de euros. Este custo corresponde a perdas de rendimento que decorrem da moderação dos cortes de madeira e da não valorização do acréscimo no fluxo de serviços ambientais e de recreio. A estimação dos benefícios correspondentes a este fluxo em termos monetários, para as duas opções de gestão, alternativas A e B, permitirá a sua comparação directa com o custo de oportunidade que estas estratégias implicam, relativamente à alternativa C.

O facto de ambas as alternativas A e B comportarem um fluxo importante de benefícios ambientais e de recreio, comparativamente à opção de gestão C, implica que as duas representam, à partida, bens no sentido económico. Elas correspondem a níveis objectivo para variações na qualidade ambiental e de recreio relativamente a um nível base, a alternativa C. A valoração económica foi,

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 6

assim, delineada para fornecer estimativas para o valor dos benefícios que o público percebe nas Alternativas A e B, relativamente à situação configurada pela alternativa C.

A descrição destas opções de gestão florestal junto do público foi feita nos questionários que serviram de suporte ao mercado contingente. Usou-se para isso informação transmitida oralmente (cf. Caixa 1), coadjuvada pela visualização das alterações no aspecto da paisagem ao longo dos 30 anos considerados. Os suportes visuais utilizados para mostrar a variação no estado da paisagem são constituídos por uma sequência de três imagens, que mostram o seu aspecto em três momentos (cf. Anexo 1). A primeira mostra o aspecto actual da paisagem, a segunda o seu aspecto dentro de 15 anos e a última retrata a paisagem observável decorridos cerca de 30 anos.

A hipótese subjacente à inclusão da imagem que mostra a paisagem num período intermédio é a de que a variação no aspecto desta, da paisagem, constitui um atributo determinante para os benefícios percebidos pelo público em cada uma das alternativas consideradas.

Caixa 1 – Descrição das estratégias alternativas para a gestão do Cantão das Hortas (Inquérito Piloto)

Opções para a gestão da mata do Cantão das Hortas

O Cantão das Hortas é uma floresta com cerca de 400 hectares, o que representa mais ou menos 5 por cento da mancha florestal da Serra da Lousã. A floresta, no Cantão das Hortas, é constituída maioritariamente por pinheiros e castanheiros, havendo também alguns carvalhos e outras espécies. A maior parte das árvores foi plantada em 1940, ou seja, há cerca de 60 anos. Esta área nunca foi atingida por incêndios florestais.

As três alternativas de gestão da floresta do Cantão das Hortas de que lhe falei, são as seguintes: ALTERNATIVA A – corresponde à opção de conservar a floresta actual e a paisagem tal como ela está agora.

Neste caso é efectuada a limpeza de toda a mata. Esta operação permite que se mantenha a actual densidade das árvores e a proporção em que as diferentes espécies florestais.

Se esta for a alternativa escolhida para gerir a floresta o aspecto da paisagem será mais ou menos o mesmo ao longo do tempo, como pode ver nestas imagens, que representam a evolução do Cantão das Hortas nos próximos 30 anos. (⇒MOSTRAR SEQUÊNCIA 1 AO INQUIRIDO)

Note que estas imagens foram construídas em computador a partir da informação recolhida no Cantão das Hortas. Elas representam aquilo que de facto existe, mas de uma forma esquemática. Assim, por exemplo estas áreas esverdeadas (APONTAR ÁREAS) correspondem a áreas em volta do Cantão das Hortas para as quais não se obteve informação.

ALTERNATIVA B – gere-se a floresta para extrair madeira de forma compatível com a sua regeneração natural.

A madeira é cortada de forma regular ao longo do tempo, cerca de 50 hectares a cada 5 anos. As áreas cortadas são espaços abertos na floresta, “clareiras”, onde acaba por crescer mato e ocorrer a regeneração natural das árvores cortadas.

A abertura das “clareiras” reduz o risco de incêndio comparativamente à alternativa anterior (a opção de preservar a mata tal como ela está), mas não protege tanto o solo da erosão.

Nesta alternativa a paisagem altera-se ao longo do tempo. A abertura das “clareiras” faz variar a densidade e a composição da floresta ao longo do tempo. Estas alterações no aspecto da paisagem podem ser vistas nestas imagens, que representam a evolução do Cantão das Hortas nos próximos 30 anos. (⇒MOSTRAR SEQUÊNCIA 2 AO INQUIRIDO)

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 7 Volto a lembrá-lo que as estas áreas esverdeadas (APONTAR ÁREAS) correspondem a áreas em volta do Cantão das Hortas para as quais não se obteve informação.

ALTERNATIVA C – gere-se a floresta para extrair madeira de forma intensiva.

A floresta é praticamente toda cortada nos próximos 10 anos. O corte de quase toda a floresta reduz o risco de incêndio nos 10 a 15 anos que se seguem, mas o crescimento dos matos torna a área muito vulnerável ao fogo depois desse período.

A protecção do solo em relação à erosão é bastante reduzida por comparação com as duas alternativas anteriores. O corte maciço das árvores reduz também apreciavelmente a diversidade de espécies presentes na paisagem ao longo do tempo e impede a sua regeneração natural. As alterações no aspecto da paisagem são bastantes significativas ao longo do tempo, como pode ver nestas imagens, que representam a evolução do Cantão das Hortas nos próximos 30 anos. (⇒MOSTRAR SEQUÊNCIA 3 AO INQUIRIDO)

As imagens incorporadas nos suportes visuais, usados para apoiar a descrição das estratégias alternativas para a gestão do Cantão das Hortas, foram construídas com base em informação de inventário florestal (recolhida no projecto), por intermédio da técnica de visualização de ecossistemas florestais desenvolvida no projecto. Estas imagens foram construídas de forma a permitir visualizar o aspecto do Cantão das Hortas a partir de quatro pontos de observação3.

Destes, seleccionaram-se apenas três, uma vez que o quarto não se revelou suficientemente perceptível para os indivíduos4. Esta selecção foi feita com base nos resultados de um pré-teste

realizado em Setembro de 2002, junto de uma amostra de conveniência, com o objectivo de testar se as imagens obtidas pela técnica de visualização desenvolvida no âmbito do projecto eram perceptíveis para o público. Os resultados deste pré-teste serviram para modificar as imagens inicialmente produzidas no sentido de tornar mais perceptíveis, para o “cidadão comum”, as alterações que se pretendia mostrar na evolução do estado da paisagem, no decurso dos 30 anos considerados.

A descrição das alternativas através do texto presente na Caixa 1, complementada pela visualização das sequências de imagens referidas, permitiu a construção de “objectos de escolha” perceptíveis para os indivíduos. Os resultados obtidos no inquérito piloto (cf. Secção 3) mostram que os Cenários de Valoração são perceptíveis para os inquiridos (cf. Quadro 1.1).

3 Estes 4 pontos de observação correspondem a vistas do Cantão das Hortas: (1) “junto à estrada

de alcatrão” – Sudeste; (2) “vista de Oeste pata Sudeste”; (3) “a Sul da Lousã a olhar para Sudoeste”; (4) “Terreiro das Bruxas”.

4 O ponto de observação abandonado é o correspondente à vista, de perto, do “Terreiro das

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 8

Quadro 1.1. – Avaliação feita pelos entrevistadores da perceptibilidade e plausibilidade dos Cenários de Valoração para os inquiridos

Atenção Compreensão Plausibilidade

Bom 91 95 93

Razoável 9 5 6

Mau 0 0 1

Total 100 100 100

A perceptibilidade das variações na qualidade ambiental que se pretende valorar através de mercados contingentes é um elemento chave no delineamento dos Cenários de Valoração. Nestes descrevem-se as variações na qualidade ambiental e/ou disponibilidade de serviços de recreio, apresenta-se o contexto que lhes está subjacente e as circunstâncias que viabilizam a sua concretização. Pretendia-se, no caso do projecto, assegurar uma descrição perceptível do acréscimo na disponibilidade de serviços ambientais e de recreio associado às alternativas A e B relativamente à alternativa C (nível base).

A compreensão e plausibilidade reveladas pelas estratégias de gestão florestal apresentadas nos Cenários de Valoração junto do público, mostra que é possível formatar os termos técnicos usados pelos especialistas florestais em linguagem acessível ao “cidadão comum”. Esta situação atesta, por seu turno, que foi bem sucedida uma primeira etapa da construção dos mercados contingentes: a definição de objectos de escolha compreensíveis para os indivíduos. Mas, ela mostra também, que sendo a linguagem técnica dos especialistas descodificável para o cidadão comum, esse argumento deixa de ser válido para justificar a não consideração explícita das preferências do público na avaliação de opções alternativas para a gestão do ambiente e da paisagem.

3. Construção e implementação dos mercados contingentes

A principal contribuição da tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio, para o projecto é a obtenção de estimativas para o valor económico destes serviços para diferentes alternativas de gestão da mata do Cantão das Hortas. A expectativa de uma componente significativa de Valor de Uso Passivo, associado ao fluxo de serviços ambientais desta área florestal, conduziu à opção de valorá-los recorrendo-se à construção de mercados contingentes. O Valor de Uso Passivo corresponde, recorde-se, aos ganhos de bem-estar não directamente relacionáveis com o uso do bem a valorar.

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 9

Os mercados contingentes são construídos com base em três peças chave: os Cenários de Valoração (“o bem”), um público (“os clientes”) e um questionário (“as condições da oferta do bem”). Estas peças são apresentadas nesta secção, juntamente com as orientações metodológicas que foram seguidas na sua definição e os procedimentos utilizados ao nível da implementação do mercado contingente delas resultante.

3.1. Cenários de Valoração

O delineamento dos Cenários de Valoração não obedece a requisitos pré-estabelecidos, mas tem como “regra de ouro” assegurar a perceptibilidade, relevância e plausibilidade do objecto a valorar e da forma em que a valoração é efectuada. Para garantir o respeito por essa “regra” Fischhoff e Furby (1988) sugerem a definição substantiva e formal do bem a valorar e das transacções utilizadas na sua valoração. A definição substantiva do objecto de escolha valorado nos mercados contingentes implica a identificação dos seus atributos relevantes, a definição do contexto que justifica a valoração e as circunstâncias que possibilitam a variação na qualidade ambiental. Estas variações têm, depois, de ser especificadas, precisando-se os níveis base e objectivo, a sua delimitação no espaço e no tempo e o grau de certeza associado à sua concretização.

A escolha dos atributos, e respectivos níveis, utilizados para definir as variações na provisão de serviços ambientais e de recreio, objecto da valoração realizada no âmbito do projecto, encontra-se descrita na Secção 1. Nela é, também, explicada a delimitação destas variações no espaço e no tempo. Por isso, nesta secção explicita-se apenas o contexto que justifica a sua valoração e as circunstâncias que viabilizam a concretização das variações na provisão de serviços ambientais e de recreio valoradas.

A “oferta” de diferentes alternativas para a evolução futura da paisagem e do espaço florestal do Cantão das Hortas foi feita assumindo-se um regime de gestão privada. Esta opção visava conferir relevância e plausibilidade aos pagamentos solicitados ao público para viabilizar os cenários configurados pelas alternativas A e B. Foi dito aos indivíduos que a concretização destes cenários dependia de uma política de conservação da floresta que previsse a concessão de contrapartidas financeiras aos produtores florestais, que abandonassem a estratégia de extracção intensiva de madeira (cf. Caixa 2).

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 10

Caixa 2 – Contexto e circunstâncias que viabilizam estratégias de gestão alternativas à extracção intensiva de madeira

A alternativa C (apontar Alternativa C) corresponde a uma estratégia de gerir a floresta com vista a maximizar a rentabilidade da extracção de madeira. Por isso, os proprietários florestais vão optar por ela, a menos que sejam compensados pelas perdas de rendimento que as outras duas alternativas implicam (apontar Alternativas A e B).

Recorde-se que na alternativa A (apontar Alternativa A) faz-se apenas a limpeza da mata, e por isso retira-se muito menos madeira do que nas alternativas B e C. E que na alternativa B (apontar Alternativa B) a floresta é gerida para extrair madeira, mas de modo a permitir a sua regeneração natural, o que impede que se façam cortes maciços de árvores. Por isso corta-se bastante menos madeira que na alternativa C (apontar Alternativa C).

Assim, “conservar a floresta tal como ela está” (apontar Alternativa A) ou “extrair madeira de forma compatível com a regeneração natural da floresta” (apontar Alternativa B), dependem da existência de uma política de conservação da floresta. Esta política terá de incluir medidas de compensação financeira aos produtores florestais pelas suas perdas de rendimento.

Descritas as alternativas de gestão florestal para o Cantão das Hortas, e explicitado o contexto e as circunstâncias que viabilizam a sua concretização, definiram-se as transacções através das quais se obteve o valor económico das alternativas A e B, valoradas pelo público como opções à alternativa C. Estas transacções foram especificadas na forma de escolhas dicotómicas, nos moldes propostos pela técnica de Valoração Contingente no seu formato referendo (Mitchell e Carson, 1989). Nestas escolhas é pedido aos indivíduos que decidam se pagam ou não um determinado preço para obter uma alternativa de nível objectivo, sabendo que na ausência deste pagamento se quedam com a alternativa correspondente ao nível base. O mercado contingente utilizado para quantificar os benefícios associados pelo público às alternativas A e B escorou-se, assim, na necessidade da contribuição financeira dos indivíduos para uma política de conservação da floresta. O pagamento da quantia pedida constituía uma condição necessária para a concretização das alternativas referidas e a única forma de o indivíduo evitar o cenário de gestão intensiva da floresta, orientada pela maximização do rendimento financeiro dos produtores florestais.

A opção por um formato de valoração fechado obriga à escolha dos preços a afixar às alternativas correspondentes ao nível objectivo da variação na qualidade ambiental. Por isso, um dos objectivos da realização do inquérito piloto (realizado em Maio de 2003) era precisamente a obtenção de informação sobre a disposição a pagar do público pelas alternativas de gestão A e B. As transacções realizados no inquérito piloto foram feitas com base numa pergunta de valoração aberta. Esta pergunta foi especificada para uma série de veículos de pagamento alternativos, para se testar qual deles se demonstrava mais eficaz, face ao bem a valorar e ao público que valorou (a população de Coimbra). A escolha do veículo de pagamento é um aspecto incontornável da especificação das transacções hipotéticas que são feitas nos mercados contingentes.

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 11

Os veículos de pagamento experimentados no inquérito piloto foram: (1) acréscimo anual de IRS; (2) imposto municipal criado para financiar política florestal, pago anualmente; (3) doação anual para um fundo de conservação da floresta gerido por uma ONG local. Além disso, permitiu-se ainda a escolha de um veículo alternativo aos indivíduos que recusaram fazer o pagamento em qualquer das modalidades anteriores. Na Caixa 3 apresentam-se duas das perguntas feitas no inquérito piloto com o objectivo de se identificar o veículo de pagamento mais adequado à valoração das opções de gestão alternativas para o Cantão das Hortas.

Caixa 3 – Perguntas de valoração para veículos de pagamento alternativos (Questionário para o Inquérito Piloto)

Estaria disposto(a) a pagar um acréscimo adicional de imposto sobre o rendimento do seu agregado doméstico (IRS) para garantir a conservação do Cantão das Hortas? Note que caso não esteja disposto(a) a pagar a floresta será gerida de forma intensiva (com cortes maciços de árvores incompatíveis com a conservação da floresta actual).

Estaria disposto(a) a pagar um imposto municipal criado para assegurar a conservação do Cantão das Hortas? Note que caso não esteja disposto(a) a pagar a floresta será gerida de forma intensiva (com cortes maciços de árvores incompatíveis com a conservação da floresta actual).

O inquérito piloto foi realizado a uma amostra de 100 indivíduos, seleccionados aleatoriamente a partir do universo das famílias residentes na cidade de Coimbra (cf. Secção 3.2). Destes, são 45, menos de metade do total de inquiridos, aqueles que se mostram dispostos a contribuir financeiramente para a conservação do Cantão das Hortas. Estes mostram-se, na sua maioria (70 por cento), disponíveis para canalizar o seu pagamento através de um acréscimo de IRS. Os inquiridos que recusam pagar o acréscimo de IRS também não se mostram, na sua maioria (cerca de 80 por cento), disponíveis para equacionar veículos de pagamento alternativos. Apenas 13 inquiridos manifestam uma disposição a pagar positiva quando esta é canalizada por intermédio de veículos alternativos ao imposto sobre o rendimento. Há, ainda, 14 inquiridos que se mostraram indecisos relativamente a estarem dispostos a pagar pela conservação da floresta independentemente do veículo de pagamento (cf. Quadro 3.1). Os indivíduos que escolhem pagar por intermédio dum veículo de pagamento alternativo aos que são propostos sugerem um “bilhete de acesso” e a “contribuição para um fundo gerido por uma associação local”.

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 12

Quadro 3.1 – Disposição para pagar pela conservação do Cantão das Hortas em função do veículo do pagamento

Veículo de pagamento Sim Não NS/NR Total de

inquiridos

Aumento IRS 32 60 8 100

Imposto Municipal 5 53 10 68

Doação para fundo 4 51 8 63

Outra forma 4 41 14 59

Total de respostas 45 41 14 100

Estes resultados mostram que a utilização de formas de pagamento alternativas ao acréscimo de IRS não parecem experimentar grande receptividade entre os inquiridos. E confirmam a maior eficácia desta forma de pagamento, à partida mais adequada para a valoração de bens públicos, sobretudo quando estes proporcionam benefícios significativos não directamente relacionados com o seu consumo. Optou-se, assim, no delineamento do questionário para o inquérito principal, pela apresentação dos preços para as alternativas A e B apenas na forma de um acréscimo anual de IRS.

A selecção dos preços atribuídos às alternativas de gestão A e B foi feita com base nos resultados obtidos no inquérito piloto. A proximidade registada na distribuição dos valores da DAP para as duas alternativas (cf. Figuras 3.1 e 3.2) levou a que se optasse por um conjunto de preços idêntico nos dois casos. Note-se que embora a disposição a pagar (DAP) pela alternativa A apresente um valor médio mais elevado relativamente à opção de gestão B, a diferença entre estas duas médias não se mostra estatisticamente significativa.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 0 2 5 10 15 20 25 30 50 60 100 250 DAP (€) Nº de inq uiridos

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Tarefa 4 – Valoração Económica de Serviços Ambientais e de Recreio 13 0 2 4 6 8 10 12 0 1 5 10 12 15 20 25 30 40 50 100 125 DAP (€) Nº d einq uiridos

Fig.3.2 – Distribuição dos inquiridos pelos valores expressos para a DAP pela Alternativa B

Face à concentração dos valores para a DAP média registados no inquérito piloto no intervalo entre zero e 50 euros, optou-se por um leque de preços dentro desta gama de valores. Seguiu-se também aqui uma “regra de ouro” para a escolha dos preços a utilizar no formato de valoração das escolhas dicotómicas contingentes (Alberini, 1995; Kanninen, 1995). Esta regra consiste em distribuir os preços em torno da DAP média estimada a partir de observações obtidas num inquérito piloto. Aqui não de dispunha destas estimativas5, razão pela qual se seleccionou um conjunto de

preços em redor do valor médio observado para a DAP. O conjunto de preços para as alternativas A e B ficou assim constituído pelos valores: 5, 10, 15, 20, 25 e 50 euros. Estes valores foram aleatoriamente afectados aos questionários administrados aos inquiridos. E representam, tal como já foi referido, um acréscimo anual no IRS do agregado doméstico do inquirido.

No inquérito principal, para além da valoração dos benefícios das estratégias de gestão alternativas à utilização intensiva da floresta do Cantão das Hortas, procurou-se obter também este valor quando aquelas estratégias são estendidas a toda a área florestal da Serra da Lousã. Neste caso a valoração foi feita por intermédio de uma pergunta aberta, uma vez que não se dispunha de informação sobre a DAP dos indivíduos para esta situação, não contemplada ao nível do inquérito piloto. O principal objectivo de se valorar os benefícios destas estratégias para toda a Serra da Lousã era testar a hipótese da presença de “efeito de inclusão” nas respostas dos inquiridos. O “efeito de inclusão” é um enviesamento observado com alguma frequência em aplicações da Valoração Contingente (Kahneman e Knetsch, 1992), que consiste numa percepção incorrecta, por parte dos inquiridos, da escala a que são valoradas as variações na qualidade ambiental. Tal pode

5 O número de observações relevou-se insuficiente para modelar a DAP com base numa

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traduzir-se na expressão de valores para a DAP mais elevados para variações inclusivas quando estas são valoradas isoladamente comparativamente aos valores obtidos quando são valoradas sequencialmente a seguir a uma variação de escala superior. O Cantão das Hortas constitui neste caso uma variação que pode ser valorada como uma parte de uma variação a uma escala maior: o perímetro florestal da Serra da Lousã. Note-se, no entanto, que a relação de valores referida, para a valoração respectivamente isolada e inclusiva, é consistente com a teoria, desde que compatível com a possibilidade de ser justificada com base nos efeitos de substituição que se verificam quando se fazem valorações sequenciais de variações inclusivas (Randall e Hoehn, 1996).

Para concluir este tópico, dedicado à explanação dos Cenários de Valoração utilizados neste exercício de valoração económica de serviços ambientais e de recreio, importa sublinhar que a sua realização foi avalizada pelos resultados obtidos no inquérito piloto. Estes mostram que os Cenários de Valoração – que contêm a descrição do “bem” e do contexto em que se dá a sua oferta, e que formatam a sua transacção – são perceptíveis, relevantes e plausíveis, pelo menos para a população considerada: os indivíduos residentes na cidade de Coimbra. Isto, apesar de a maior dos indivíduos entrevistados não conhecer o Cantão das Hortas (94 por cento dos indivíduos entrevistados no inquérito piloto) e da relativamente pequena área que este ocupa no perímetro florestal da Serra da Lousã, apenas cerca de 5 por cento. Note-se, que esta informação, relativa à área e peso relativo do Cantão das Hortas na mancha florestal da Serra da Lousã, foi transmitida aos inquiridos antes da descrição das estratégias alternativas propostas para a sua gestão. Além disso, dois em cada cinco inquiridos formularam um valor para a sua DAP pela conservação deste espaço florestal (alternativa A). São apenas três os inquiridos que consideraram a área insuficiente relevante para merecer a sua contribuição financeira, havendo outros três que acharam que só faria sentido pagar se a conservação do Cantão das Hortas fizesse parte de uma política aplicada a uma escala maior: por exemplo, a toda a Serra da Lousã.

Os resultados do inquérito piloto foram determinantes para a realização da valoração junto de uma amostra representativa da população seleccionada: as famílias residentes na cidade de Coimbra. A escolha deste “público” para valorar as estratégias de gestão alternativas à utilização intensiva da floresta, respectivamente do Cantão das Hortas e da Serra da Lousã, é explicada em seguida.

3.2. A selecção do público para o mercado contingente

O critério para escolher o “público” para valorar uma determinada variação na qualidade ambiental (do recreio ou da paisagem) depende do objectivo da valoração. Quando esta se destina à avaliação de medidas de política alternativas, como acontece neste caso, devem valorar-se os

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respectivos benefícios para todos os potenciais beneficiários. Neste contexto, sendo o Cantão das Hortas uma floresta com estatuto de “mata pública”, é expectável que entre os potenciais beneficiados com a sua conservação se incluam pessoas da população portuguesa em geral. No entanto, o desconhecimento que a população da cidade de Coimbra revelou em relação a esta mata mostra que a sua valoração para o público em geral não seria um exercício fácil. E a solicitação de uma contribuição financeira dos indivíduos para conservar esta “pequena mata” suscitaria, como os resultados do inquérito piloto permitem antever, muitas respostas de protesto por discordância com a escala da valoração. Por isso, a população considerada na valoração restringiu-se aos indivíduos residentes na cidade de Coimbra, mais familiarizados e principais utilizadores da Serra da Lousã para actividades de recreio e lazer.

Porém, o valor económico atribuído aos benefícios proporcionados pelas alternativas A e B, relativamente à alternativa C, foi obtido através de escolhas individuais condicionadas pelo respectivo rendimento familiar. A valoração económica foi solicitada aos indivíduos pedindo-se-lhe para considerar o rendimento e despesas familiares. Deste modo a unidade de amostragem corresponde ao agregado doméstico, embora a valoração tenha sido efectuada apenas por um dos seus elementos (dentre os responsáveis pela gestão do orçamento familiar), e os seus resultados traduzam, por conseguinte, preferências individuais.

O “público” seleccionado corresponde, assim, às 43 425 famílias residentes na cidade de Coimbra (INE, 2001), na área correspondente às freguesias Almedina, S. António dos Olivais, S. Bartolomeu, S. Martinho do Bispo, Santa Cruz, Santa Clara e Sé Nova. A extracção da amostra para inquirição foi feita de acordo com peso das famílias residentes em cada uma das freguesias no universo de amostragem (cf. Quadro 3.2).

Quadro 3.2 – Distribuição dos inquiridos pelas freguesias da Grande Coimbra

Inquérito principal Freguesias Nº % da amostra Peso percentual no universo de amostragem Almedina 27 3,0 3,7

S. António dos Olivais 429 47,7 47,6

S. Bartolomeu 12 1,3 1,3 S. Martinho do Bispo 113 12,6 12,6 Santa Cruz 86 9,6 9,6 Santa Clara 80 8,9 8,9 Sé Nova 153 17,0 17,0 Total 900 100,0 100,0

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O inquérito principal foi realizado junto de uma amostra de 900 famílias seleccionadas a partir do universo das 43 425 famílias residentes na área urbana da cidade de Coimbra (INE, 2001). Esta amostra permite uma extrapolação dos resultados para o respectivo universo com uma margem de confiança de 95 por cento e tem associado um erro amostral de 3,2 por cento6.

3.3. Elaboração do questionário e implementação do mercado contingente

A implementação dos mercados contingentes é feita por intermédio da administração dum questionário. A respectiva elaboração e definição de procedimentos para a sua administração são tarefas chave na construção destes mercados. O objectivo central dos questionários é fornecer informação sobre o ”bem” (ou “bens”) que se pretende valorar e viabilizar a sua transacção. Mas, para além de servirem para apresentar e concretizar os Cenários de Valoração, são geralmente utilizados para recolher informação extra. Esta refere-se às variáveis que constituem os potenciais determinantes da DAP individual, neste caso pelo fluxo de serviços ambientais e de recreio proporcionados pela floresta. Entre estas, contam-se as características sócio-demográficas dos indivíduos, o seu estrato sócio-económico, e variáveis indicador da familiaridade, percepções e preferências do indivíduo em relação ao objecto da valoração. Mas, é importante recolher também informação sobre as percepções e atitudes dos indivíduos em relação ao contexto de valoração e às circunstâncias que viabilizam a concretização das variações na qualidade ambiental que lhe são propostas. Elas são igualmente determinantes para a DAP expressa pelos indivíduos e, sobretudo, para a fiabilidade das suas respostas.

No seguimento daquilo que foi exposto no parágrafo anterior organizou-se um questionário (cf. Anexo 2) em cinco partes. A primeira visa obter informação sobre a familiaridade dos inquiridos com a Serra da Lousã e com o Cantão das Hortas e as suas percepções e preferências em relação às respectivas paisagens: conhecimento, frequência de visitas, actividades realizadas, aspectos preferidos na sua paisagem. Juntou-se ainda um grupo de questões destinadas a averiguar quais os substitutos que se apresentam aos inquiridos para a Serra da Lousã, particularmente para a realização de actividades de recreio e lazer. O questionário contém, numa segunda parte, uma série de afirmações em relação às quais se pretende obter o grau de concordância dos inquiridos. Estas afirmações procuram avaliar, por um lado, as percepções dos indivíduos em relação aos atributos da floresta que foram utilizados para definir as alternativas de gestão e, por outro, as suas atitudes em relação à conservação da floresta e a formas alternativas de o fazer.

6 A selecção da amostra, inquirição e gravação das entrevistas foi realizada pela empresa GBN –

Gabinete de Campo de Estudos de Mercado, Lda – em colaboração com os elementos da equipa do projecto responsáveis pela Tarefa 4.

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A valoração económica constitui a terceira parte do questionário. Nesta são apresentadas as estratégias alternativas para a gestão do Cantão das Hortas e formuladas as respectivas perguntas de valoração na forma de escolhas dicotómicas. Além disso, os indivíduos são também questionados relativamente às razões porque decidem pagar ou porque recusam fazer o pagamento por cada uma das duas opções de gestão do Cantão das Hortas: “conservar a paisagem e o espaço florestal actual” e “extrair madeira de forma compatível com a regeneração natural da floresta”, respectivamente alternativas A e B. As razões invocadas pelos inquiridos para recusar pagar o valor pedido pela concretização das opções de nível objectivo são particularmente importantes na valoração contingente. Elas permitem identificar as “respostas de protesto”, que correspondem a recusas que decorrem da rejeição de alguma(s) componente(s) do mercado contingente, que leva os inquiridos a recusarem fornecer informação sobre a sua DAP pelo objecto de valoração. Estas respostas não contêm, por isso, informação útil sobre a DAP individual, devendo ser excluídas dos modelos estatísticos utilizados depois para obter estimativas para as médias condicionadas da DAP na amostra.

A componente de valoração económica contempla também a obtenção da DAP individual, num formato de valoração aberto, pelas opções de gestão da floresta, configuradas pelas alternativas A e B, para o caso da Serra da Lousã. No entanto, neste caso apenas uma destas alternativas é apresentada aos inquiridos. O questionário desdobra-se, assim, em duas versões: numa delas os indivíduos valoram a opção A e na outra a alternativa B. Este desdobramento foi feito para limitar a duração e complexidade da administração dos questionários. Pré-testes efectuados a uma primeira versão do questionário, contendo estas duas situações em paralelo com a valoração do Cantão das Hortas revelaram que era excessivo o esforço demandado aos inquiridos. Para salvaguardar a qualidade das respostas dos indivíduos às perguntas de valoração, optou-se por perder a possibilidade de avaliar a verificação do “efeito de inclusão” nos dois sentidos: variação isolada valorada primeiro que a inclusiva e vice-versa, tal como se pretendia na fase de concepção do mercado continente.

A seguir à valoração económica o questionário inclui uma série de perguntas sobre as características sócio-demográficas dos indivíduos e nível de rendimento dos respectivos agregados domésticos. A última parte do questionário é reservada ao preenchimento pelos entrevistadores e visa registar a duração e condições em que foi realizada a entrevista, bem como a sua avaliação por parte do entrevistador. Estes devem avaliar designadamente a percepção e plausibilidade que os inquiridos conferiram aos Cenários de Valoração.

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Para testar o impacte da visualização das imagens que mostram a evolução da paisagem associada às alternativas de gestão para o Cantão das Hortas desdobram-se, ainda, as duas versões do questionário em mais duas: numa delas as imagens são mostradas e na outra não. A versão onde as imagens não são mostradas aos inquiridos foi utilizada apenas para um quarto dos inquiridos.

A inquirição foi efectuada por meio de entrevistas pessoais e confidenciais. Os entrevistados foram seleccionados em duas etapas. Na primeira seleccionou-se a residência dos indivíduos a inquirir. Esta selecção foi feita por intermédio do método Random Route. Este permite seleccionar aleatoriamente uma amostra dos indivíduos considerados no universo de amostragem quando a unidade de inquirição é o agregado doméstico, ou alguns elementos deste. Num segundo passo escolheu-se de forma aleatória o inquirido entre os principais responsáveis pelo pagamento das despesas do agregado doméstico, por intermédio da aplicação da tabela de Kish.

Os entrevistados seleccionados, uma vez contactados pelo entrevistador, mostraram-se, regra geral, receptivos e disponíveis para a realização da entrevista. A taxa média de recusas é de 20 por cento, verificando-se alguma variação entre as diversas freguesias inquiridas. A duração média das entrevistas foi de 28 minutos.

A maior parte das entrevistas (87,2 por cento) foram realizadas à porta da casa do inquirido. Apenas 16 por cento das entrevistas foram realizadas no interior da residência do entrevistado. Por outro lado, embora a maior das entrevistas tenha sido realizada apenas com o entrevistado (e entrevistador), verificou-se nalguns casos a presença e mesmo participação de outros elementos do agregado doméstico (cf. Quadros 3.3 e 3.4).

Quadro 3.3 – Local onde se realizou a entrevista

Local Nº % Dentro de casa 108 12,0 À porta de casa 639 71,0 No hall do prédio 146 16,2 Outra 7 0,8 Total 900 100,0

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Quadro 3.4 – Presença de outras pessoas

Presença de outras pessoas %

Só o entrevistado 776 86,2

Outras pessoas 97 10,8

Intervenção de outros membros da

família 27 3,0

Total 900 100,0

A atenção dos inquiridos e a sua compreensão do questionário e Cenários de Valoração foi avaliada positivamente pelos entrevistadores. Esta avaliação coloca reservas à utilização de apenas 13 entrevistas, sugerindo a validade das restantes 887 (cerca de 98,5% do total de entrevistas). Por outro lado, de acordo com a avaliação efectuada pelos entrevistadores, os Cenários de Valoração apresentam-se pouco plausíveis para 68 inquiridos (cf. Quadro 3.5).

Quadro 3.5 – Avaliação dos entrevistadores ao comportamento dos inquiridos

Avaliação Atenção Compreensão Plausibilidade

Bom 707 669 542

Razoável 181 218 290

Mau 12 13 68

Total 900 900 900

A nota negativa dada pelos entrevistadores à plausibilidade dos Cenários de Valoração para estes 68 inquiridos é confirmada pela sua indisponibilidade para pagar o montante pedido pelas opções de gestão da floresta alternativas à sua exploração intensiva. Deste grupo, apenas seis indivíduos se mostram disponíveis para pagar o preço pedido pela alternativa A para o Cantão das Hortas, e apenas dois pagam o preço pedido pela alternativa B. Estes resultados mostram que a falta de plausibilidade dos Cenários de Valoração se traduz, coerentemente, em “respostas de protesto”. Eles revelam também uma apreciação correcta deste aspecto por parte dos entrevistadores.

Em seguida, a Secção 4, apresenta a informação recolhida através dos questionários administrados nos moldes referidos. A familiaridade, percepções e preferências dos inquiridos em relação à Serra da Lousã e ao Cantão das Hortas são analisadas e discutidas em primeiro lugar. Segue-se à análise e discussão da informação obtida relativamente às atitudes inquiridos face à conservação da floresta. O potencial explicativo em relação à DAP individual é discutido depois, ao nível da

Referências

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