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A PRODUÇÃO DA CIDADE: REFLEXÕES SOBRE A AÇÃO DO ESTADO ATRAVÉS DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS 1

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A PRODUÇÃO DA CIDADE: REFLEXÕES SOBRE A AÇÃO DO ESTADO

ATRAVÉS DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS1

Lenize Rodrigues Ferreira IFFarroupilha Campus São Vicente do Sul lenize.ferreira@iffarroupilha.edu.br

INTRODUÇÃO

Entre 1950 e 2000, segundo o IBGE, a população brasileira deixou de ser predominantemente rural. Em virtude da mecanização do campo e do histórico processo de concentração de terras, assistiu-se, até meados dos anos 1990, a uma verdadeira expulsão dos trabalhadores rurais, que buscaram as cidades. Esse fato implica no aparecimento de grandes concentrações urbanas e consequentemente, esvaziamento das áreas rurais e pequenos centros. Essas transformações no espaço urbano podem ser analisadas a partir da questão habitacional.

A habitação é um elemento específico de diferenciação social em vários aspectos: na diferença de preços no mercado, na capacidade de escolha da habitação mais adequada, no conjunto de investimentos em infraestrutura, como transporte, relacionado à sua localização, e na relação dos habitantes com as características físicas da habitação. A distribuição espacial dos habitantes no interior da cidade, a necessidade de residir está associada ao preço do lote e à capacidade financeira de seu pagamento pelo indivíduo. Partindo dessas questões, a proposta do texto é fomentar reflexões sobre a questão da moradia e a atuação do Estado através das políticas habitacionais na produção de moradias para atender à demanda. O objetivo proposto ao longo do texto é verificar a questão da moradia na produção do espaço urbano na cidade de Santa Rosa, situada na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Buscamos estabelecer uma relação entre a política habitacional, as mudanças nas relações sociais do município e de como esses processos aparecem materializados no espaço urbano. Este trabalho

1 Este texto é uma reflexão a partir de projetos de pesquisa desenvolvidos no IFFarroupilha Campus Santa Rosa, vinculado ao Grupo de Pesquisa Políticas Habitacionais e Desenvolvimento Urbano.

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consiste, portanto, na análise do último e mais significativo projeto de habitação social desenvolvido no Brasil, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), em que o viés da produção capitalista do espaço, novamente se sobressai em relação à função social do espaço urbano. A construção do texto será através da revisão bibliográfica para aprofundamento e elaboração teórico-conceitual.

A questão da habitação, da forma como se coloca atualmente no país, deve ser entendida como produto de uma sociedade de classes em que o processo histórico desencadeou a intensa divisão social do trabalho, acompanhada de um excedente populacional urbano. Apenas uma pequena parcela da população tem condições de acesso, através do mercado, a uma moradia de nível adequado, consequência das condições materiais de vida dessa população e da extrema desigualdade social do país: o homem vive onde ele pode morar e o onde pode morar será determinado pela renda que recebe e privações de consumo a que se submete. Assim, entre as alternativas possíveis estão: a ocupação ilegal de áreas públicas ou privadas, a locação de cômodos, a aquisição de terrenos em loteamentos clandestinos e a posterior autoconstrução, e o acesso às habitações produzidas pelo Estado.

A AÇÃO DO ESTADO ATRAVÉS DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS

Quais motivos levam o Estado a intervir na produção de habitação voltada para a população de menor renda? Segundo Azevedo (1982), pode-se elencar diferentes justificativas para essa intervenção: como forma de “sanear” os bairros populares, para modificar o comportamento político-ideológico do adquirente da casa própria, que se tornaria dessa forma mais conservador e ajustado ao status quo. O argumento mais utilizado diz respeito à conquista ao direito de cidadania, que alcança assim sua dimensão social. A habitação constitui, ainda, um elemento essencial que garante as condições reais de reprodução da força de trabalho, pois leva a uma redução dos gastos da força de trabalho e, consequentemente, a uma redução real do salário. A casa própria teria também, o objetivo de “domesticar” as classes populares. Portanto, a política habitacional constituiria um elemento de reprodução da hegemonia da classe dominante.

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“A maioria desses programas [habitacionais] teria uma importância mais simbólica – mostrar a preocupação do governo com os pobres – do que propriamente uma busca de maior eficiência na construção de casas populares” (AZEVEDO, 1982, p. 100).

Segundo Silva (1989), até 1937 a intervenção do Estado no setor habitacional se fez indiretamente pela adoção de medidas legais de cunho sanitarista. A construção dos primeiros conjuntos teve início em 1938 e, em 1946, foi criada a Fundação Casa Popular (FCP), que desenvolveu, até 1964, uma política habitacional fragmentária e clientelista, visando diminuir as pressões sociais sobre o Estado.

Uma política pública capaz de intervir no problema da habitação só ocorreu de fato durante a Ditadura Militar. Através da lei nº. 4. 380 de 21, de agosto de 1964, foram criados o Banco Nacional de Habitação – BNH –, o Sistema Financeiro da Habitação – SFH –, e o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo – SERFHAU (BERNARDELLI, 2004). A problemática habitacional passou a sofrer intervenção do Governo Federal, que se propunha a coordenar a ação dos órgãos públicos e privados no sentido de estimular a produção de habitações e oferecer financiamento para a aquisição de moradias, especialmente para as faixas populares. Nessa fase inicial, a política nacional de habitação contou com base financeira extremamente limitada e fragmentada.

De 1964 a 1982, a política habitacional no país caracterizou-se pela extrema centralização na definição da mesma. A partir de 1983, o Estado passa a incorporar, de forma institucional, sistemas de produção de moradias e/ou infraestrutura designada por autoconstrução ou mutirão (BERNARDELLI, 2004), com o objetivo de equacionar o problema de moradia das camadas de baixa renda, ou seja, de um a três salários mínimos. Em 1984, o BNH lançou o Programa Nacional de Autoconstrução.

A partir de 1986, com a extinção do BNH, suas atribuições são transferidas para a Caixa Econômica Federal. Entre 1986, ano de extinção do BNH, e 1995, data do início de uma reestruturação mais consistente do setor, a política habitacional brasileira foi administrada por diferentes órgãos. De acordo com Bernardelli (2004), após 1995, define-se pela descentralização da política habitacional no país devido à incapacidade operacional do sistema e pela escassez de recursos do Governo Federal, decorrente da nova orientação político-econômica adotada, o que redundou no repasse de funções aos

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estados e municípios. A política social de habitação deixou de ser dominantemente produzida por intermédio de companhias estatais de habitação e passou a operar segundo linhas de crédito ao mutuário final.

Até o ano de 1998, a distribuição dos recursos revelou uma forte regressividade, pois apenas os municípios mais ricos puderam ter acesso aos recursos. A importância do voto levou a um aumento do comprometimento das novas administrações no plano local com a implementação de políticas sociais, entre elas a provisão de moradias para as camadas de baixa renda.

As sucessivas políticas nacionais de habitação implantadas pelo Estado não produziram impactos redistributivos. Em geral, elas se mostraram inacessíveis às famílias situadas nas classes de rendimento mensal familiar inferior a três salários mínimos. Segundo Fagnani (2006, p. 1) “o principal fator responsável por essa permanente incapacidade governamental de enfrentar a questão da moradia popular repousa no caráter regressivo das fontes de financiamento das políticas implantadas”.

Em 2003, o Governo Federal criou o Ministério das Cidades, com o intuito de buscar soluções para o crescimento desordenado das cidades. Programas habitacionais existentes foram reformulados e novos foram criados para canalizar recursos, prioritariamente, à faixa de renda de até cinco salários mínimos, na qual, segundo o Ministério das Cidades, concentra-se 92% do déficit habitacional brasileiro. A Política Nacional de Habitação2 tem a concepção de desenvolvimento urbano integrado, na qual a habitação não se restringe ao imóvel, mas incorpora o direito à infraestrutura, saneamento ambiental, equipamentos e serviços urbanos e sociais, buscando garantir o direito à cidade.

Em março de 2009, o governo anuncia o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), com o objetivo de criar condições de ampliação do mercado habitacional para atendimento das famílias com renda de até 10 salários mínimos. Segundo CARDOSO (2013, p. 37) “este Programa busca claramente impactar a economia através dos efeitos multiplicadores gerados pela indústria da construção”. O programa foi

2 Baseado no Guia Básico dos Programas Habitacionais: direito à moradia, dez./2007, do Ministério das Cidades.

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aprovado pela Medida Provisória nº 459 (25/03/2009) e posteriormente convertida na Lei n.º 11.977 (07/07/2009). Tinha como meta a construção de 1 milhão de moradias em curto prazo na 1ª Fase; 2,75 milhões de moradias na 2ª Fase e 3 milhões de moradias na 3ª Fase (a partir do 2º Semestre de 2015)3.

SOBRE SANTA ROSA…

A cidade de Santa Rosa, situada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, nosso objeto de estudo, surgiu a partir dos interesses das autoridades da região e do Estado cuja motivação principal foi assentar os nacionais (caboclos)4 em terras públicas da região. Assim, quando da criação da Colônia Santa Rosa, um dos objetivos principais do governo era regularizar e apoiar os nacionais no acesso à terra. Para tal empreitada, a Comissão de Colonização de Terras pretendia, nos moldes de antigas colônias europeias fundadas em várias regiões do RS, organizar um sistema de distribuição e financiamento de pequenos lotes de terras públicas a esse grupo.

O núcleo urbano de Santa Rosa surgiu inicialmente a partir da venda, da capela, da escola e do poder municipal que foram os elementos fundamentais na vida da comunidade santa-rosense. Tornou-se rapidamente o ponto de convergência dos interesses políticos, comerciais e religiosos. De acordo com dados do Censo 2010, divulgado pelo IBGE, o município possuí 68.587 habitantes, a população urbana compreende 60.366 habitantes (88%). A cidade de Santa Rosa abrange 60.148 habitantes, ou seja, 87,7% da população urbana do município5.

O espaço da cidade constitui-se em um conjunto de diferentes usos da terra, que definem áreas como o centro (local de comércio, dos serviços, do centro de gestão), a periferia, o bairro residencial (diferentes em relação a sua forma), a área industrial, etc.

3 http://www.minhacasaminhavida.gov.br/. Acesso em 01/07/2016.

4 Os caboclos eram mestiços nascidos das relações entre homens brancos e mulheres indígenas. A partir, sobretudo, da Lei de Terras (1850) os caboclos passaram ocupar “irregularmente” florestas do Planalto, utilizando pequenos lotes de terra para a prática da agricultura de subsistência. Destaca-se ainda, que o conceito sociológico de caboclo carregava socialmente uma carga conceitual bastante pejorativa.

5 De acordo com o IBGE, a população estimada para 2015 é de 72.240 habitantes, um incremento de 5,33% na população total do município.

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Esse complexo conjunto de usos da terra é definido segundo Corrêa (1989) como espaço urbano, ou seja, a organização espacial da cidade, que aparece como um espaço fragmentado e articulado simultaneamente.

As funções urbanas se materializam nas formas espaciais, formas essas que são socialmente produzidas por agentes sociais concretos. Os processos sociais e as atitudes dos agentes sociais permitem sistematizar e entender melhor aquilo que vemos cotidianamente.

Segundo dados da Prefeitura Municipal, a cidade de Santa Rosa apresenta uma distribuição rarefeita da população urbana. O tecido urbano apresenta-se “retalhado” do ponto de vista da ocupação urbana e grande parte constituído de glebas de uso rural. A área urbana total atual é de 45 km², sendo que a área efetivamente ocupada é de 21,49 km², ou seja, 47,76%, e a área urbana subutilizada correspondem a 23,51 km² (52,24%). De acordo com o Plano Diretor do município (Lei Complementar nº 33, de 11 de outubro de 2006), Artigo 42:

§1º, “Considera-se solo urbano não utilizado as áreas localizadas na zona urbana de ocupação prioritária de Santa Rosa, quando o índice de aproveitamento utilizado for igual a zero. §2o Considera-se solo urbano subutilizado todo tipo de edificação que tenha, no mínimo, 80% (oitenta por cento) de sua área construída desocupada há mais de 2 (dois)anos, ressalvados os casos em que a mesma decorra de impossibilidades jurídicas ou pendências judiciais incidentes sobre o imóvel (PLANO DIRETOR, 2006, p.14)

A área legal da cidade apresenta existência ou ausência de malha urbana, áreas efetivamente ocupadas ou parcamente utilizadas e a presença de grandes vazios urbanos. As áreas da cidade com maior intensidade de ocupação são aquelas onde estão localizados os produtos de intervenção pública para equacionar o problema da moradia, ou seja, os loteamentos de baixa renda. Através de saídas de campo6 (observação empírica), foi possível observar em dois bairros da cidade (Cruzeiro e Auxiliadora) a existência de diferentes conjuntos habitacionais, como as antigas COHABs e loteamentos mais recentes construídos, através do PMCMV. Conforme a Prefeitura

6 Saídas de campo realizadas com alunos dos cursos: Edificações Integrado (disciplina de Geografia 2015) e com o curso Bacharelado em Arquitetura (disciplina Estudos de Geografia Urbana-2º semestre de 2015).

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Municipal (Lei Complementar nº33, de 11/10/2006), ambos dispõem de áreas aprovadas para implementação de loteamentos populares.

Situado mais distante do centro da cidade, o bairro Auxiliadora é constituído pela população de mais baixa renda no município. Há carência de saneamento básico em alguns locais, pois ainda escorre esgoto a céu aberto, falta água encanada e chuveiro elétrico em algumas residências. A vegetação nativa foi bastante comprometida por moradores, que passaram a construir suas moradias nas proximidades do rio, jogar lixo (embora possua coleta de lixo no bairro) e esgoto em suas águas.

A construção de moradias para a parcela da população formada pelas classes menos favorecidas torna-se rentável quando o Estado intervém, possibilitando a produção de residências para satisfazer a demanda não solvável. No quadro abaixo (Quadro 1), listamos os programas habitacionais desenvolvidos no município, desde 2009:

Quadro 1 - Programas Habitacionais desenvolvidos no Município a partir de 2009

Ano Descrição Unidades

construídas

Localização Observações

2009

Programa Morar Melhor 2-PAC

27 casas Vila Ibanês/Loteamento

Nova Esperança. Bairro Cruzeiro

Famílias que moravam em área de preservação permanente

PMCMV 96 casas Bairro Cruzeiro Conjunto Residencial A e

B 2010 Programa Imóvel na

Planta

40 casas Bairro Cruzeiro

2011

Programa More Bem 3 – PMCMV

40 casas e 128 aptos

Famílias com renda até R$1.395,00

96 aptos Residencial Harmonia

Bairro Cruzeiro 32 aptos Residencial Bela Vista

Bairro Cruzeiro

PMCMV

32 aptos Bairro Bela Vista Conjunto Habitacional

Cerejeiras 96 aptos Bairro Cruzeiro

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2012 48 aptos Vila Balneária

PAC 1 – Projeto

Intervenção em Favelas

27 casas Vila Nova Esperança Famílias que moravam

em área de preservação permanente e/ou áreas de risco 2013 PAC 2 – Projeto Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários

140 casas Loteamento Nova

Auxiliadora II

Projeto Pró-Município/ Recursos de Enchentes

35 casas Loteamento Nova

Auxiliadora II

Recursos do PAC

Projeto Intervenção em Favelas

110 casas Loteamento Nossa

Senhora Aparecida

Famílias que moravam em área de preservação permanente e/ou áreas de risco

2014

PMCMV PAC II 140 casas Bairro Nova

Auxiliadora PMCMV

175 casas Bairro Auxiliadora II 140 famílias do MCMV e 35 famílias em área de risco

48 aptos Vila Balneária Famílias com renda bruta

de até R$1.600,00 Fonte: Informações obtidas através da Prefeitura Municipal de Santa Rosa-RS. Dados organizados pela autora.

A “produção” do espaço urbano se dá, em geral, pela incorporação à cidade de glebas que antes eram agrícolas. Na medida em que a cidade vai crescendo, centros secundários de serviços vão surgindo em bairros, que acabam formando novos focos de valorização do espaço urbano, reestruturando as áreas já ocupadas. Dessa forma, os serviços urbanos são utilizados por aquela parcela da população que pode “pagar” por eles, preço esse incluído na renda do solo que dá acesso a eles. Os terrenos dotados de infraestrutura acabam “expulsando” a população mais pobre, que migra para áreas mais distantes. O Estado desempenha importante papel na determinação das demandas pelo uso de cada área específica do solo urbano e, portanto, do seu preço.

Nesse sentido, percebemos que o asfalto estabelece um divisor dos valores territoriais na cidade. Os bairros que dispõem de usos coletivos, como calçamento, assim como a proximidade aos serviços, são habitados pela população que pode pagar por isso, enquanto a parcela de menor renda habita áreas cada vez mais distantes, na

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qual essa infraestrutura ainda não está disponível. Consequentemente, os terrenos ali localizados possuem preços mais baixos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do texto buscamos trazer algumas reflexões sobre a produção da cidade e a ação do Estado através das políticas habitacionais na cidade de Santa Rosa - RS. A questão da habitação da forma como se coloca hoje no país deve ser entendida como gerada no âmbito de uma sociedade de classes, nas quais o processo histórico que desencadeou a divisão social do trabalho produziu uma população excedente em número alarmante. O Estado desempenha um papel de destaque na reprodução do espaço urbano, viabilizando grandes projetos habitacionais ou de infraestrutura, redefinindo a localização intraurbana, o uso da terra e provocando alterações no preço do solo urbano.

A política habitacional no Brasil, ao longo da sua trajetória, foi definida pela forte presença do Estado, através do Sistema Financeiro de Habitação e do Banco Nacional de Habitação, que estruturou uma rede de agentes financeiros privados, fortaleceu o mercado imobiliário e a indústria da construção, viabilizando a provisão de moradias para as classes médias e altas, fundamentalmente.

Apenas uma pequena parcela da população tem condições de acesso, através do mercado, a uma moradia de nível adequado, consequência das condições materiais de vida dessa população e da extrema desigualdade social do país: o homem vive onde ele pode morar e o onde pode morar será determinado pela renda que recebe e pelos sacrifícios que pode fazer. Assim, entre as alternativas encontradas estão: a ocupação de áreas públicas ou privadas, a locação de cômodos, a aquisição de terrenos em loteamentos clandestinos ou informais e a posterior autoconstrução e o acesso às habitações produzidas pelo Estado.

Na cidade de Santa Rosa-RS percebemos uma extensão do tecido urbano através da periferização das moradias financiadas pelo Estado, ou seja, essas moradias são construídas em loteamentos afastados, levando à exclusão socioespacial dessa

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população aí residente. A população de maior renda habita as melhores áreas, sejam as mais centrais, ou onde o centro torna-se o lugar da insegurança, do barulho, da poluição; as mais distantes. Esses modos de ocupação do espaço pela sociedade são indicados pelo processo de reprodução do capital, baseados nos mecanismos de apropriação privada, ou seja, a ocupação do solo urbano é condicionada pelas classes sociais que atuam nesse espaço.

Percebemos que o preço do solo tem impacto determinante na forma como se verifica o crescimento e a transformação das cidades, sobre cuja dinâmica o Estado exerce papel relevante, assumindo o solo urbano um caráter estratificado. A produção espacial é desigual, na medida em que o espaço é consequência da produção social capitalista que se realiza e se reproduz desigualmente.

A cidade não pode ser pensada como algo acabado, pronto, mas como algo não definido, sempre sujeito a mudanças, pois a própria segregação espacial é dinâmica, áreas antes consideradas periferia, hoje podem ganhar uma nova configuração, da mesma forma, áreas antes consideradas nobres, hoje podem estar totalmente degradadas. O espaço urbano estrutura-se de acordo com a atuação dos diferentes agentes neste local, assim, a paisagem reflete a segregação espacial existente na sociedade.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, S. Política de habitação popular e subdesenvolvimento: dilemas, desafios e perspectivas. In: DINIZ, E. (Org.). Políticas públicas para áreas urbanas: dilemas e alternativas. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. p.67-114.

BERNADELLI, M.L.F da H. Pequenas cidades na região de Catanduva-SP: papéis urbanos, reprodução social e produção de moradias. 2004 348 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004.

BRASIL. Secretaria Nacional de Habitação – Guia Básico dos Programas

Habitacionais: direito à moradia, dez./2007. Brasília: Ministério das Cidades.

Disponível em: http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/secretaria-de-habitacao/biblioteca/publicacoes/GuiaBasicodosProgramasHabitacionais.pdf. Acesso em 20 jun. 2011.

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territoriais. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013.

CARDOSO, A.L. Política habitacional: a descentralização perversa. In: Planejamento e

território: ensaios sobre a desigualdade. Cadernos IPPUR/UFRJ; DP&A, 2001/02.

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CHRISTENSEN, T. N. de S. Santa Rosa: Histórias e Memórias. (1876-2004). Porto Alegre: Ed. Palloti, 2008.

CORREA, R.L. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 1989.

FAGNANI, E. População e bem-estar social no Brasil: 40 anos de ausência de política nacional de habitação popular (1964-2002). Multiciência, Campinas, n. 6, p.1-24, maio 2006.

IBGE. Banco de dados agregados. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br Acesso em 01 jul. 2016

MINHA CASA MINHA VIDA. Disponível em:

http://www.minhacasaminhavida.gov.br/. Acesso em 01/07/2016.

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