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Folha Trimestral de Conjuntura

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Academic year: 2021

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Folha Trimestral de Conjuntura

Nº 65 (ano XVII) – 2º trimestre de 2021

Lisboa, 7 de julho de 2021

(Análise concluída com base nos dados disponíveis até 6 de julho de 2021)

(2)

Conteúdo

Sumário Executivo ... 2

Evolução da economia portuguesa no 2º trimestre de 2021 ... 3

Perspetivas e projeções de crescimento em 2021-2023 ... 16

Elementos complementares ... 21

A economia portuguesa no 1º trimestre de 2021 ... 21

Finanças públicas ... 26

Enquadramento externo ... 29

(3)

Sumário Executivo

Tudo indica que o nível de atividade da economia portuguesa terá sido, no 2º trimestre, o maior desde o início da pandemia e das políticas de confinamento introduzidas em março de 2020. No entanto, a incerteza deste cálculo é grande tendo em conta as alterações frequentes de condições a que as empresas e as famílias estão sujeitas e que obrigam a mudanças bruscas no seu comportamento. Assim, no 2º trimestre de 2021, a economia deverá ter crescido 5% em cadeia ou 15.5% em termos homólogos dado que os dois trimestres base para este cálculo foram aqueles em que os confinamentos foram mais severos. Desta forma, a economia portuguesa deverá estar a operar a cerca de 95.5% do nível do 4º trimestre de 2019, o último sem efeitos da pandemia e dos confinamentos, pelo que o período findo terá sido o melhor trimestre pós-COVID em

termos de atividade económica.

O primeiro semestre termina com sinais de maiores restrições à atividade económica oriundas do Governo, como forma de dar resposta ao aumento do número de casos de COVID reportados diariamente pela DGS. O resto do ano deverá ser influenciado pelo efeito combinado da intensidade dessas restrições e da recuperação do turismo. O cenário central de crescimento em 2021 é agora de 3.5%, uma revisão de +2.5 pontos percentuais (pp) que colocaria a economia portuguesa a operar a cerca de 95.7% do nível de 2019. Trata-se de uma revisão em forte alta que é explicada, por um lado, pela queda amortecida do 1º trimestre e, por outro lado, pelo ressalto estimado para o 2º trimestre.

A incerteza é ainda elevada pelo que o crescimento este ano poderá vir a oscilar entre 2% e 5% em função da intensidade das limitações à atividade económica e da dimensão do apoio orçamental às empresas e famílias. Em todo o caso, o intervalo de previsão para 2021 tem agora uma amplitude de 3 pp em vez dos anteriores 6 pp, sendo também de assinalar uma subida de 4 pp no seu limite inferior, de -2% para +2%. Já o limite superior passou de 4% para 5% por via de fatores que podem amplificar o crescimento este ano, como a «reserva de consumo» implícita na elevada taxa de poupança das famílias que voltou a aumentar no 1º trimestre.

Em traços gerais, a evolução da economia e do desemprego continuará a ser muito influenciada pelas políticas

sanitárias e orçamentais heterodoxas, o que cria riscos invulgarmente elevados para o défice orçamental,

não sendo de descartar a necessidade de um orçamento retificativo ainda este ano. Subsistem, ainda, os riscos relacionados com o fim das moratórias, o seu potencial impacto nas necessidades de capital do sistema financeiro e, em última instância, nas contas públicas.

A incerteza para os anos de 2022 e 2023 continua muito elevada, mas parece ser agora mais provável que se atinja em 2022 um nível de atividade económica semelhante ao de 2019. Tal só deverá acontecer no caso da

ausência de medidas de confinamento e normalização da fileira do turismo. Para 2022, o cenário central

mantém um crescimento de 4.5% que refletirá, ainda, um efeito base assinalável devido ao primeiro trimestre deste ano. E no caso de 2023, o cenário central é agora de um crescimento de apenas 2.0% tendo em conta que a recuperação dos patamares pré-crise já no próximo ano e um previsível regresso a medidas de

consolidação orçamental como forma de reduzir a dívida pública para níveis sustentáveis a partir desse ano.

A economia da zona euro também deverá recuperar até 2023, talvez mais depressa do que em Portugal e caso a situação sanitária não implique novos confinamentos, o que poderá contribuir para uma mais rápida normalização da política monetária na zona euro e do regresso gradual das regras orçamentais da união europeia em 2022 e 2023. Estando Portugal integrado na zona euro, a respetiva recuperação poderá ajudar as

exportações de bens, compensando parcialmente as perdas oriundas do turismo e das demais atividades de serviços transacionáveis.

Previsões do Católica Lisbon Forecasting Lab – NECEP

Região Indicador 2021 1T a) 2021 2T 2020 Cenários 2021 (var. anual %) Pessimista Central Otimista

Portugal PIB (variação em cadeia) -3.2 5.0 - - - - PIB (variação homóloga/anual) -5.3 15.5 -7.6 2.0 3.5 5.0 Taxa de desemprego (%) 7.1 6.9 7.0 7.4 7.2 6.9 Taxa de inflação (%) 0.0 b) 0.2 b) 0.0 0.7

Zona PIB (variação em cadeia) -0.3 2.5 - - - - Euro PIB (variação homóloga/anual) -1.3 14.3 -6.6 3.0 4.5 6.0

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Evolução da economia portuguesa no 2º trimestre de 2021

Após a queda sem paralelo da atividade económica no segundo trimestre de 2020 seguida de um ressalto significativo no segundo semestre desse ano e nova queda forte no primeiro trimestre de 2021, o 2º trimestre deverá ter sido o melhor

desde o início da pandemia e das políticas de confinamento, com uma compensação das perdas acumuladas nos últimos meses.

De facto, a generalidade dos indicadores de alta frequência sinaliza um

crescimento em cadeia acima da queda de 3.2% do PIB registada no 1º trimestre, e para um nível de 95.5% face ao 4º trimestre de 2019, o último que pode ser

considerado normal. Este diagnóstico é algo surpreendente porque Portugal permanece numa situação de algum confinamento de acordo com o indicador sintético da Universidade de Oxford, contrastando com países como Espanha, França, Itália, Suécia ou mesmo Alemanha que estão já numa fase mais adiantada desse processo. Esta diferença sugere que a dimensão das perdas de atividade económica reflete, também, a estrutura anterior da economia, com um peso relativo superior da fileira das viagens e turismo no caso de Portugal.

Gráfico 1: Evolução do índice de rigor das medidas governamentais de resposta à COVID-19 tomadas em Portugal e num conjunto selecionado de países da zona euro (por data de calendário)

Fonte: Oxford Coronavirus Government Response Tracker (OxCGRT), com tratamento NECEP.

Na prática, as famílias e as empresas parecem estar mais adaptadas às exigências impostas pela pandemia, pelo que a perturbação da atividade produtiva terá sido menor face ao «Grande Confinamento» de 2020, especialmente após meados de abril com a normalização do funcionamento das atividades mais afetadas pelo confinamento, como eram os casos dos centros comerciais ou da restauração. A recente travagem no processo de desconfinamento, justificada pelo agudizar da

0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0 70.0 80.0 90.0 100.0

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após o aparente pico alcançado em maio, com sinais de moderação já visíveis em junho.

Assim, o volume de negócios do comércio a retalho regressou ao nível anterior à pandemia (fevereiro de 2020) em maio, o último dado disponível, pelo que parece possível a plena recuperação num cenário de regularização da situação sanitária. As variações homólogas elevadas registadas nos últimos meses,

especialmente em abril, refletem o efeito da atividade anormalmente baixa do ano passado, não devendo ser confundidas com uma retoma pujante que ainda não terá ocorrido, designadamente, ao nível do consumo de bens duradouros.

Gráfico 2: Vendas do comércio a retalho (base 2015 = 100, deflacionado e corrigido de sazonalidade)

Fonte: INE, com cálculos NECEP.

De facto, as vendas de veículos ligeiros de passageiros foram relativamente fracas em maio e junho, sem evidenciarem uma compensação após o período de encerramento dos pontos de venda e, por conseguinte, de adiamento de decisões de compra ou troca de veículo. De facto, abstraindo os efeitos sazonais, as vendas de veículos ligeiros estão estagnadas desde abril, um fenómeno que se observa também no caso dos veículos comerciais, comprometendo a evolução do

investimento, para além do consumo privado, no limiar do 3º trimestre do ano. Naturalmente, estes dados podem refletir alterações nos hábitos e padrões de mobilidade no sentido da sustentabilidade, bem como menores necessidades de deslocação com o aumento do teletrabalho.

Gráfico 3: Vendas de veículos ligeiros de passageiros (quantidades mensais corrigidas de sazonalidade)

Fonte: ACAP/AutoInforma, com cálculos NECEP.

As operações na rede Multibanco tiveram um comportamento hesitante em abril, mas depois recuperaram intensamente em maio, com um registo anormalmente elevado dada a média histórica mensal. Corrigidas de efeitos nominais e sazonais, os pagamentos e levantamentos com cartão bancário alcançaram um nível acima dos 101% de dezembro de 2019, mas com a média do 2º trimestre a ficar-se pelos 95.3% do nível do 4º trimestre de 2019. A questão pertinente neste âmbito é em

80 90 100 110 120 130 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 IVNCR (deflacionado) Tendência

0 5000 10000 15000 20000 25000

jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21 Vendas de ligeiros de passageiros Tendência

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que medida este nível se manterá nos próximos meses, passada que seja a fase das compras adiadas durante o confinamento do último inverno.

Gráfico 4: Evolução recente das operações através da rede Multibanco (valores mensais deflacionados e corrigidos de sazonalidade, em milhões de euros, e taxa de variação homóloga em %)

Fonte: Banco de Portugal, INE e SIBS Analytics, com cálculos NECEP.

A recuperação apenas parcial do consumo é sinalizada igualmente pelas vendas de

gasolina, um indicador que tem apresentado alguma aderência face à evolução da

atividade económica durante a pandemia. A hipótese da alteração dos hábitos de mobilidade, nomeadamente, entre casa e o trabalho continua a ser suportada pela sua evolução recente, nomeadamente em maio, o último mês disponível.

Gráfico 5: Consumo de gasolina (volumes mensais corrigidos de sazonalidade, em toneladas)

Fonte: Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE), com cálculos NECEP.

Outro indicador, que tem sido informativo sobre a evolução do PIB na atual

conjuntura, é o índice do volume de negócios dos serviços, na medida em que se refere ao setor mais afetado pelos confinamentos. Com dados apenas até abril, apresentou uma evolução sofrível neste mês, muito aquém do seria de esperar em pleno desconfinamento. De facto, este indicador limitou-se a regressar ao nível registado em outubro último, com a variação homóloga em média móvel de 12 meses a manter próxima dos -13%, um sinal da crise instalada em diversas atividades económicas, sociais e culturais.

Gráfico 6: Volume de negócios dos serviços (base 2015 = 100, deflacionado e corrigido de sazonalidade) 3000 4000 5000 6000 7000 8000

jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21 Levantamentos e compras (MB) Tendência

20000 40000 60000 80000 100000

jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21 Consumo de Gasolina (ton) Tendência

70 80 90 100 110 120

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Gráfico 7: Volume de negócios dos serviços (variação homóloga em média móvel de 12 meses, %)

Fonte: INE, com cálculos NECEP.

Sem a plena recuperação do Setor Terciário dificilmente a economia portuguesa poderá regressar ao nível de atividade de 2019. Neste âmbito, o principal

problema parece residir no subsetor alojamento e restauração que mantinha, em abril, níveis de atividade próximos dos 43% do final de 2019. Outro sinal

preocupante é oriundo dos serviços de consultoria cujo volume de negócios voltou a recuar em abril, o que indicia a ocorrência de efeitos de segunda ordem como resultado do encerramento de empresas e atividades. Melhor parece estar a

informação e comunicação que foi o único subsetor dos serviços que recuperou

de acordo com expetável após um confinamento prolongado e severo como o ocorrido no inverno.

Gráfico 8: Evolução recente do índice de volume de negócios dos serviços por subsetor (dados mensais corrigidos de sazonalidade, com a base 100 a corresponder a dezembro de 2019)

Fonte: INE, com cálculos NECEP.

O conhecimento da evolução do volume de negócios dos serviços após abril teria sido importante para avaliar o desempenho recente da economia portuguesa. É que dados complementares apontam para baixos níveis de atividade em maio, nomeadamente, em termos de dormidas nos estabelecimentos turísticos que alcançaram um nível sofrível correspondente a 29.5% de dezembro de 2019 e semelhante a julho do ano passado. Entretanto, esta situação poder-se-á ter

agudizado com as restrições à mobilidade interna e às viagens impostas por vários -20.0 -16.0 -12.0 -8.0 -4.0 0.0 4.0 8.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0 140.0

dez/19 fev/20 abr/20 jun/20 ago/20 out/20 dez/20 fev/21 abr/21

Comércio por grosso e reparação Transportes e armazenagem Alojamento e restauração Informação e comunicação

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Gráfico 9: Dormidas em estabelecimentos turísticos (volumes mensais corrigidos de sazonalidade com o método TRAMO-SEATS, em milhares de dormidas)

Fonte: INE, com cálculos NECEP.

Aliás, o tráfego aéreo tem aumentado de forma lenta e com sucessivos avanços e recuos na sequência do levantamento ou imposição de restrições à mobilidade por parte dos países emissores, com junho a terminar com perdas próximas dos 45% em termos homólogos. Nos últimos dias registou-se uma ligeira melhoria, com o hiato a ficar-se pelos 38% em média móvel de sete dias. Para além dos efeitos quantitativo na procura turística, o prolongar desta situação gera uma grande incerteza nos operadores turísticos e investidores e pode conduzir a uma degradação da qualidade geral do destino.

Gráfico 10: Evolução do tráfego aéreo com origem ou destino a Portugal (dados diários em número de voos e variação face a 2019 em percentagem)

Fonte: EUROCONTROL (https://www.eurocontrol.int/Economics/DailyTrafficVariation-States.html).

A produção industrial praticamente não acusou qualquer perda durante o confinamento do 1º trimestre – estando, aliás, estagnada no nível de 2015 (base 100) há vários anos, com a exceção extraordinária da primavera de 2020. A evolução recente evidencia uma correção em baixa em maio, com a produção média de abril e maio a ficar 1.5% abaixo do registo de janeiro a março. A

perturbação das cadeias de fornecimento de bens industriais, nomeadamente com origem na China, pode explicar esta evolução recente da indústria, num contexto, como se verá mais abaixo, de forte recuperação das exportações de bens até abril. De alguma forma, o dado de maio do IPI antecipa uma correção também em baixa das exportações. Em todo o caso, a produção industrial voltou a crescer (1.9%) em média móvel de 12 meses, sendo beneficiada pelo efeito da base de 2020.

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000

jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21 Dormidas (corrigidas de sazonalidade com TRAMO-SEATS) Tendência

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Gráfico 11: Índice de produção industrial (IPI, dados mensais corrigidos de efeitos de calendário e sazonalidade, base 2015 = 100)

Fonte: INE, com cálculos NECEP.

Esta crise tem sido pautada pela resiliência algo surpreendente da atividade da

construção que parece estar a ser beneficiada por efeitos temporários

relacionados com as eleições autárquicas, se bem que com alguma pressão sobre os preços dos materiais num contexto de perturbação dos fornecimentos.

Em todo o caso, as vendas de cimento apresentaram um crescimento

anormalmente elevado logo em março, mantendo depois variações homólogas substantivas. Ao contrário da generalidade dos indicadores, as vendas de cimento caíram pouco durante o «Grande Confinamento» de 2020, pelo que o crescimento homólogo não parece dever-se ao efeito de base, mas à dinâmica instalada no setor que se reflete, também, na subida dos preços da habitação que tanto preocupa o Governador do Banco de Portugal. Esta evolução parece estar relacionada com o aumento da procura de casas melhor adaptadas ao teletrabalho e ao acumular de poupança. Do lado da oferta, há um desvio de habitações anteriormente dedicadas ao Alojamento Local para a oferta de arrendamento convencional, o que pode levar à queda no valor das rendas, particularmente nas grandes cidades.

Gráfico 12: Índice de preços da habitação (dados trimestrais, base 100 = 2015)

Fonte: INE.

Em média móvel de 12 meses, as vendas de cimento crescem a uma taxa de 12% já com cinco meses de dados relativos a 2021. Tal deverá consubstanciar-se, não apenas no aumento do valor acrescentado pela construção, mas também num expressivo crescimento do investimento como, aliás, os dados das contas nacionais do 1º trimestre já sugerem (cf. secção sobre as contas nacionais trimestrais, mais abaixo).

60 70 80 90 100 110 120

jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21 Índice de Produção Industrial (IPI) Tendência

90 100 110 120 130 140 150 160 170 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 IPHab (base 100 = 2015)

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Gráfico 13: Vendas de cimento (variação homóloga em média móvel de 12 meses, %)

Fonte: INE, com cálculos NECEP.

De facto, o último dado disponível do Indicador de Síntese de Investimento do INE, relativo ao trimestre móvel terminado em abril, confirma a possibilidade de uma acentuada recuperação do investimento com uma variação homóloga de 14.1%, se bem que parcialmente amplificada pelo efeito da base de 2020.

Gráfico 14: Indicador de síntese de investimento do INE (variações homólogas trimestrais, %)

Nota: o valor do indicador de investimento no 2º trimestre de 2021 corresponde à variação homóloga da média móvel de três meses terminada em abril, o último dado disponível.

Fonte: INE.

Os dados acima apresentados suportam uma evolução diferenciada entre atividades económicas, a comummente designada «recuperação em K». No entanto, esta recuperação é fortemente assimétrica. Por um lado, os setores que evidenciam alguma recuperação, como o comércio a retalho, fazem-no de forma moderada e sem evidência de um ressalto após o confinamento do início do ano. Por outro lado, os setores em perda, especialmente o alojamento e restauração, apresentam ainda um forte queda face a 2019, evidenciando uma preocupante dificuldade em descolar. Existem ainda setores estagnados ou em ligeira perda, como é o caso da indústria.

Não obstante, a generalidade dos indicadores aponta para que o 2º trimestre deverá ter sido o melhor desde o início da pandemia, suplantando o nível de atividade do 3º trimestre de 2020 que foi equivalente a 93.7% do 4º trimestre de 2019. Tal reflete uma quebra no 1º trimestre para um patamar muito superior ao da primavera de 2020 e o subsequente ressalto da generalidade dos setores, se bem que de forma parcial e ainda com diferenças substantivas face a 2019 em determinados casos, de acordo com o referido.

-40.0 -30.0 -20.0 -10.0 0.0 10.0 20.0 30.0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 -25.0 -20.0 -15.0 -10.0 -5.0 0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Taxa de variação homóloga da FBCF Indicador de FBCF do INE

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Gráfico 15: Indicadores-chave de conjuntura para a economia portuguesa (dados mensais corrigidos de sazonalidade, com a base 100 a corresponder a dezembro de 2019)

Fonte: INE, Banco de Portugal, GPEARI, Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE) e ACAP/ AutoInforma, com cálculos NECEP.

A evolução diferenciada dos indicadores de alta frequência introduz uma

complexidade adicional na estimação do PIB trimestral que, em todo o caso, deverá apresentar um crescimento robusto na sequência do desconfinamento após um período relativamente longo de fortes limitações ao funcionamento das atividades económicas e à mobilidade de trabalhadores e consumidores.

Neste contexto de incerteza e heterogeneidade dos sinais transmitidos pelos dados mais recentes, os indicadores qualitativos fornecem uma importante perspetiva complementar, já que não foram desenhados a pensar no contexto atual de

pandemia e alteração em continuo de regras económicas e sociais. A recuperação destes indicadores pode ser vista como a gradual redução do medo num número crescente de cidadãos e empresas. O medo ainda está presente, mas já não é tão intenso como em março do ano passado, nem partilhado por tantos agentes económicos, políticos e sociais.

Assim, o Indicador de Sentimento Económico (ESI) da Comissão Europeia registou ganhos mensais historicamente elevados, quer em abril (+10.9 pontos, máximo absoluto desde o início da série em 1987), quer em maio (+7.4 pontos). Desta forma, o ESI que já ultrapassou o patamar 110 e fechou o trimestre com uma

média de 108.7, a melhor desde o início de 2019, o que em condições normais

assinalaria um crescimento do PIB cerca de um desvio padrão acima da média histórica, mas deve interpretado com muita cautela na conjuntura atual.

0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0 140.0

dez/19 mar/20 jun/20 set/20 dez/20 mar/21 jun/21

Produção industrial (IPI) Vendas de cimento IVN comércio a retalho Consumo de gasolina Consumo de gasóleo Operações Multibanco Vendas ligeiros de passageiros IVN serviços Dormidas estab. turísticos

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Gráfico 16: Indicador de Sentimento Económico (ESI) – Portugal (média histórica = 100)

Fonte: Comissão Europeia (DG ECFIN) – Economic Sentiment Indicator (ESI), com cálculos NECEP.

Paralelamente, os indicadores coincidentes do INE apontam para uma variação homóloga expressiva do PIB no 2º trimestre. Tal acontece com o Indicador de Clima Económico (ICE), que regressou ao terreno positivo (2.2% em junho), e também com o Indicador de Atividade Económica (IAE), que apresentou uma variação homóloga de 12.5% no trimestre móvel terminado em abril.

Gráfico 17: Indicadores de clima económico (ICE) e atividade económica (IAE) (valores trimestrais)

Nota: o valor do indicador de atividade económica (IAE) no 1º trimestre de 2021 corresponde à variação homóloga em janeiro, o último dado disponível.

Fonte: INE.

O Banco de Portugal tem divulgado, numa base semanal, um indicador diário de

atividade económica (DEI). De modo a evitar o efeito de base que tem

amplificado as variações homólogas do DEI desde meados de março, o NECEP apresenta este indicador em nível com a base 100 a corresponder a dezembro de 2019. Assim, o DEI assinalou o retorno a esse nível em maio último, estabilizando desde então. Se a economia portuguesa estiver a laborar agora a cerca de 99% do final de 2019, como sugere o DEI, seria uma ótima notícia.

60 70 80 90 100 110 120 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Recessões Indicador de Sentimento Económico - ESI (média histórica = 100)

-20.0 -10.0 0.0 10.0 20.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Taxa de variação homóloga do PIB ICE IAE

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Gráfico 18: Indicador diário de atividade económica – DEI (base 100 = dezembro 2019)

Fonte: Banco de Portugal e NECEP.

Já o Composite Leading Indicator (CLI) da OCDE melhorou ligeiramente em abril e maio após ter sinalizado, no outono, a interrupção da retoma efémera que seguiu ao confinamento do ano passado. Desta forma, o CLI parece refletir, de forma mais rápida face ao IBP, as alterações de conjuntura e as perspetivas de crescimento a médio prazo, validando também a hipótese de que não foi ainda possível recuperar o nível de atividade anterior à pandemia.

Gráfico 19: Composite Leading Indicator (CLI) de Portugal (média histórica = 100)

Fonte: OCDE, com cálculos NECEP.

No caso da zona euro, os indicadores coincidentes sinalizaram um inusitado clima de otimismo, ou mesmo de euforia, logo em março que foi, entretanto, confirmado pelos dados do 2º trimestre. Assim, em junho, o ESI da zona euro (e da UE) atingiu o valor máximo dos últimos 21 anos, acima do patamar 117. Os indicadores produzidos pela IHS Markit e pelo IFO Institute, este último relativo à Alemanha, confirmam uma melhoria transversal do ambiente económico, agora de forma mais evidente nos serviços como resultado da fase mais adiantada dos processos de vacinação e de desconfinamento nos diversos países europeus. Assim, o PIB da zona euro deverá ter crescido cerca de 2.5% em cadeia no 2º trimestre.

75.0 80.0 85.0 90.0 95.0 100.0 105.0

dez/19 mar/20 jun/20 set/20 dez/20 mar/21 jun/21

Indicador diário de atividade económica (Base 100 = Dezembro 2019)

88 90 92 94 96 98 100 102 104 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020

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Gráfico 20: Indicadores qualitativos de conjuntura para Portugal, Zona Euro e Alemanha (diferença face ao valor em dezembro de 2019)

Fonte: Comissão Europeia (DG ECFIN), IHS Markit e IFO Institute, com cálculos NECEP.

Neste contexto externo muito favorável, as exportações de bens produzidos em Portugal registaram um volume anormalmente elevado em março e abril, tendo regressado a níveis pré-pandémicos. Este aparente efeito de overshooting também se observou nas importações, se bem que de forma menos intensa. Uma das dúvidas que se coloca na presente conjuntura reside na persistência, ou não, destes movimentos ascendentes que podem ter sido temporários, na medida em que parece estar em causa a compensação de alguns meses de menor atividade e com restrições à circulação de pessoas e bens. De facto, com a correção em baixa da produção industrial em maio, o aumento extraordinário das exportações em março e abril parece ter resultado, antes, do escoamento de stocks acumulados durante o inverno. É que a variação de existências tinha contribuído de forma muito significativa para o andamento do PIB no 1º trimestre, contrabalançando as perdas decorrentes do confinamento (cf. secção sobre as contas nacionais

trimestrais, mais abaixo).

Gráfico 21: Exportações nominais de bens (dados mensais corrigidos de sazonalidade)

-50.0 -40.0 -30.0 -20.0 -10.0 0.0 10.0 20.0

dez/19 mar/20 jun/20 set/20 dez/20 mar/21 jun/21

Indicador IHS Markit (PMI) - Zona Euro Clima Económico (IFO) - Alemanha Sentimento Económico (ESI) - Zona euro Sentimento Económico (ESI) - Portugal

2500 3500 4500 5500 6500

jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21 Exportações de bens (INE) Tendência

(15)

Gráfico 22: Nível de encomendas do exterior (EOB; saldo de respostas extremas com média histórica de cerca de -15 pontos percentuais)

Fonte: Comissão Europeia (DG ECFIN) – Industry / Business Climate Indicator (BCI), com cálculos NECEP.

Ponderando os vários indicadores disponíveis, o NECEP estima que a economia portuguesa terá operado, no 2º trimestre de 2021, a 95.5% do nível do 4º

trimestre de 2019, o que se traduziria num crescimento do PIB de 5% em cadeia após a contração de 3.2% observada no trimestre anterior. Desta forma, o

produto poderá ter crescido cerca de 15.5% em termos homólogos, um registo muito elevado que resulta da base anormalmente baixa do 2º trimestre de 2020. Seria assim, em nível, o melhor trimestre da economia portuguesa pós-pandemia e confinamentos. Os crescimentos em cadeia e homólogos anormalmente elevados resultam de efeitos base.

Como vem sendo hábito nas últimas edições, esta estimativa está envolta num

extraordinário grau de incerteza, desde logo, porque o 2º trimestre foi ainda

pautado por medidas de confinamento que foram sendo retiradas de forma paulatina e assimétrica entre setores e regiões e com recuos já no final de junho e início de julho. Desta forma, não é de descartar a possibilidade de um crescimento mais robusto, na linha do indicado pelo indicador diário de atividade económica (DEI) do Banco de Portugal (acima dos 7%), ou mais próximo, em valor absoluto, da queda operada no início do ano, isto é, dos 3% a 4% como sugerem outros indicadores já disponíveis para junho. Por isso, o segundo semestre arrancou com sinais redobrados de preocupação, fruto do agravamento parcial do confinamento justificado pela degradação da situação sanitária e também das restrições às viagens aplicadas por diversos países a Portugal.

Gráfico 23: Taxa de variação homóloga e em cadeia do PIB (%, dados trimestrais – Base 2016)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com cálculos NECEP.

-75 -60 -45 -30 -15 0 15

jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21

Nível de Encomendas do Exterior (EOB) Tendência

-20.0 -15.0 -10.0 -5.0 0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Taxa de variação homóloga Estimativa NECEP Taxa de variação (em cadeia)

(16)

O quadro seguinte sintetiza as estimativas trimestrais do NECEP para os diferentes agregados, com dados complementares já disponibilizados pelo INE para o 2º trimestre de 2021. É de assinalar a estimativa de uma taxa de desemprego de

6.9% após 7.1 no 1º trimestre de 2021, associado a um crescimento de 1.0% do emprego.

Quadro 1: Estimativas do NECEP para o 2º trimestre de 2021

Região Indicador Fonte 2T 2021

Portugal

PIB (variação em cadeia, %) NECEP 5.0 Consumo privado (variação em cadeia, %) NECEP 4.9 Taxa de desemprego (%) NECEP 6.9 Emprego (variação em cadeia, %) (*) INE 1.0 Taxa de inflação média (%) INE/NECEP 0.2 Zona Euro PIB (variação em cadeia, %) NECEP 2.5

(*) Crescimento da população empregada na faixa etária dos 15 aos 74 anos ajustada de sazonalidade (estimativa provisória do INE)

A prevista correção em baixa de 0.2 pontos percentuais na taxa de desemprego é devida apenas a efeitos sazonais. É que os dados do INE ajustados de

sazonalidade sugerem um aumento da taxa desemprego entre os trimestres móveis centrados em fevereiro (6.8%) e maio (7.2%).

Gráfico 24: Taxa de desemprego 16-74 ajustada de sazonalidade (trimestres móveis centrados)

Fonte: INE, com cálculos NECEP.

Tal como em 2020, o desemprego deverá voltar a aumentar passado o período de confinamento com a transição de muitos inativos para o estado de desemprego, como os últimos dados do INE de alguma forma já antecipam. Em todo o caso, a evolução recente do desemprego registado pelo IEFP aponta para uma ligeira descida, pelo menos até maio, numa conjuntura ainda marcada pelas políticas

ativas de emprego de natureza temporária e extraordinária.

Gráfico 25: Desemprego no fim do mês (dados mensais IEFP corrigidos de sazonalidade pelo NECEP)

4 6 8 10 12 14 16 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Taxa de Desemprego (mm3m centrada) Tendência

500000 600000 700000 800000

(17)

Perspetivas e projeções de crescimento em 2021-2023

A generalidade das entidades que acompanham a economia portuguesa preveem um crescimento do PIB no limiar dos 4% em 2021. Apenas o Banco de Portugal conjetura um crescimento mais próximo dos 5% como resultado, por um lado, de uma dinâmica favorável do investimento corroborada pelos dados do 1º trimestre e, por outro lado, de uma recuperação das exportações mais próxima dos 15% em detrimento dos cerca de 10% previstos pela Comissão Europeia, FMI e OCDE. Desta forma, o Banco de Portugal antecipa um crescimento acima da média da zona euro já este ano – um resultado que, a confirmar-se, seria notável na medida em que o confinamento do 1º trimestre afetou de forma mais aguda a economia portuguesa, com o 3º trimestre a iniciar-se, também, com um maior rigor de confinamento face aos seus pares (cf. ainda Gráfico 1).

Quadro 2: Perspetivas de crescimento para Portugal (2021-2023, %)

Entidade PIB Investimento Exportações

2021 2022 2023 2021 2022 2023 2021 2022 2023 Banco de Portugal 4.8 5.6 2.4 7.6 8.2 5.8 14.5 13.1 4.8 Governo 4.0 4.9 2.8 4.0 8.0 8.6 8.7 7.9 5.1 Comissão Europeia 3.9 5.1 - 4.6 6.9 - 10.3 8.9 - FMI 3.9 4.8 2.5 - - - 10.8 14.3 6.6 OCDE 3.7 4.9 - 3.7 6.9 - 10.4 9.4 - FocusEconomics 3.7 4.9 2.5 4.0 6.8 4.9 11.7 9.4 4.7 NECEP 3.5 4.5 2.0 12.6 6.8 4.2 10.0 5.2 2.7

Fonte: Banco de Portugal – Boletim Económico (junho 2021), Ministério das Finanças – Programa de Estabilidade 2021-2025 (abril 2021), Comissão Europeia – European Economic Forecast (maio 2021), FMI – World Economic Outlook (abril 2021), OCDE – Economic Outlook (maio 2021) e FocusEconomics Consensus Forecast: Euro Area (julho 2021) e NECEP.

Por um lado, o segundo semestre do ano dificilmente será pior, em nível, que o do ano passado. Por outro lado, num cenário otimista, a normalização da economia, incluindo a fileira das viagens e turismo, poderá ocorrer de forma relativamente rápida de acordo com o observado, por exemplo, nos EUA. O cenário central do NECEP é intermédio entre estes dois casos e centrado num crescimento de 3.5%

no corrente ano, a que corresponderia a um nível de atividade equivalente a

97.6% de 2019. Trata-se de uma forte revisão em alta (+2.5 pontos percentuais) face ao cenário central avançado na anterior folha (1.0%), em parte explicada pelo impacto mitigado do confinamento do início do ano na economia portuguesa, de que resultou uma queda do PIB abaixo do esperado pelo NECEP, bem como de uma nova estimativa do crescimento do PIB para o 2º trimestre.

Este novo cenário central espelha alguma moderação de expetativas em

resultado da possibilidade de novos confinamentos ainda este ano na sequência do recente agravamento da situação sanitária, nomeadamente, na região de Lisboa. O NECEP incorporou, ainda, a aparente estagnação do indicador diário de

(18)

Dada a elevada incerteza, inclusive face ao modo como o Governo e os agentes económicos reagem à informação que vai sendo revelada sobre a eficácia da vacinação e surgimento de novas variantes do coronavírus, os intervalos de previsão são grandes e oscilam entre 2% e 5% em 2021. De notar que o novo intervalo não inclui o anterior cenário central do NECEP (um crescimento de 1%), o que significa que o primeiro semestre terá corrido muito melhor que o esperado por via de três efeitos: (1) uma maior adaptação dos agentes económicos às condicionantes da pandemia e confinamentos, (2) um menor medo e rigidez no cumprimento das regras e (3) uma política orçamental de apoios ao emprego e às empresas mais expedita e intensa junto dos setores mais afetados.

Em todo o caso, o intervalo de previsão para 2021 tem agora uma amplitude de 3 pontos percentuais (pp) em vez dos anteriores 6 pp, sendo também de assinalar uma subida de 4 pp no seu limite inferior, de -2% para +2%. Já o limite superior passou de 4% para 5% por via de fatores que podem amplificar o crescimento este ano, como a «reserva de consumo» implícita na elevada taxa de poupança das

famílias que voltou a aumentar no 1º trimestre, de acordo com o referido abaixo. Quadro 3: Projeções atualizadas do NECEP (2021-2023)

Região Indicador Cenário 2021 2022 2023

%

Portugal

PIB (variação anual, %)

Pessimista 2.0 2.5 0.0

Central 3.5 4.5 2.0

Otimista 5.0 6.5 4.0 PIB (variação acumulada desde 2019, %)

Pessimista -5.7 -3.4 -3.4 Central -4.3 0.0 2.0 Otimista -2.9 3.4 7.5 Taxa de desemprego (%) Pessimista 7.4 7.2 7.5 Central 7.2 6.5 6.4 Otimista 6.9 5.8 5.2 Taxa de inflação média (%)

Pessimista 0.2 0.3 0.4

Central 0.7 1.0 1.1

Otimista 1.0 1.4 1.6 Zona Euro PIB (variação anual, %)

Pessimista 3.0 2.5 0.0

Central 4.5 4.5 2.0

Otimista 6.0 6.5 4.0

Fonte: NECEP.

Naturalmente, um novo confinamento geral poderia colocar a economia

portuguesa no patamar dos 95% do nível de 2019. Este cenário pessimista, que corresponde a um crescimento de apenas 2% este ano, poderia acarretar um

(19)

Pelo contrário, caso a presente crise sanitária venha a ser resolvida com celeridade e eficácia, não seria impossível um cenário otimista mais alinhado com o Banco de Portugal e com a plena recuperação, já este ano, do nível de atividade de 2019. Não é o cenário mais provável à luz dos desenvolvimentos recentes da pandemia e da informação contida nos indicadores de alta frequência, mas também não é um cenário impossível. É que a recuperação na zona euro configura-se historicamente muito intensa, podendo arrastar consigo a economia portuguesa via exportações, se bem que com os riscos que decorrem das novas variantes do coronavírus. Em termos de componentes da procura (cf. Quadro 4), o NECEP antecipa uma

forte recuperação do investimento em 2021 (+12.6%) que decorre da

resiliência evidenciada por este agregado no ano passado, do crescimento em contraciclo (+4.1%) observado no 1º trimestre do corrente ano e dos indicadores de alta frequência disponíveis, nomeadamente, as vendas de cimento e o indicador do INE de FBCF no 2º trimestre, referidos mais acima.

Quadro 4: Projeções atualizadas por componente da procura no Cenário Central (2020-2023) Componente da despesa Dados (variação anual, %) Projeções (variação anual, %)

2019 2020 2021 2022 2023 PIB 2.5 -7.6 3.5 4.5 2.0 Consumo privado 2.6 -5.8 1.9 4.1 1.6 Consumo público 0.7 0.4 3.0 1.4 0.5 Investimento (FBCF) 8.0 -0.5 12.6 6.8 4.2 Procura interna 2.8 -4.6 5.4 4.6 2.0 Exportações 3.9 -18.6 10.0 5.2 2.7 Importações 4.7 -11.9 14.3 5.4 2.6

Fonte: INE e NECEP.

Paralelamente, o consumo público também deverá aumentar este ano de forma expressiva, com um consenso entre entidades que ronda os 3.0%. Porém, o

consumo privado deverá crescer de forma mais comedida (1.9%) na sequência da

queda de 3.5% do rendimento disponível no 1º trimestre (cf. mais abaixo), bem como dos sinais de hesitação observados em diversos indicadores, nomeadamente, de venda de bens duradouros. A manutenção da taxa de desemprego no patamar dos 7% também poderá contribuir para uma maior dificuldade da recuperação do consumo privado face às demais componentes da procura interna que poderá crescer acima dos 5% já este ano.

Relativamente às exportações é de esperar uma recuperação em torno dos 10% dada a evolução recente da componente de bens e a recuperação robusta da zona euro, se bem que com um risco descendente relacionado com a disseminação das novas variantes do coronavírus e potenciais confinamentos. Um cenário próximo dos 15%, como antecipa o Banco de Portugal, afigura-se arriscado nesta fase dado o ambiente nebuloso que paira sobre o turismo, com as restrições impostas pelo Reino Unido aos turistas que visitam Portugal, para além das questões em torno da mobilidade interna no quadro da paragem do processo de desconfinamento. Já as

(20)

importações poderão crescer em torno dos 14% na sequência da evolução

esperada para o investimento.

Gráfico 26: Cenários de crescimento do PIB em volume em 2021 (%) em Portugal e na zona euro

Fonte: NECEP.

Relativamente ao ano de 2022, as perspetivas mantêm-se genericamente

benignas, sendo fundadas nos efeitos da campanha de vacinação em curso que, em

princípio, ajudarão a combater o medo e o regresso à normalidade no próximo ano, mas sem descartar a possibilidade de novos confinamentos, como a recente

degradação da situação sanitária configura de algum modo. Assim, a incerteza reside, sobretudo, na grandeza do crescimento e não tanto no sinal que deverá ser positivo, com um ponto central de 4.5% e um intervalo de previsão alargado entre 2.5% e 6.5%.

Para 2023, o NECEP antecipa agora um crescimento de 2.0% em vez dos

anteriores 3.5%, também com um intervalo alargado entre 0% e 4%. A razão para esta revisão em baixa prende-se com a possibilidade de ser alcançado, já em 2022, o nível de atividade de 2019, de acordo com o indicado no Quadro 3 (mais acima) para o cenário central. É que, alcançado esse patamar, é de esperar um

crescimento mais próximo do crescimento potencial da economia portuguesa ou mesmo inferior tendo em conta o elevado endividamento público e do país, bem como da destruição de parte da respetiva capacidade produtiva durante

confinamentos tão prolongados no tempo no rescaldo da pandemia.

O Gráfico 27 sintetiza os resultados apresentados ao longo da presente secção, descrevendo os cenários possíveis de evolução do PIB no horizonte de 2023, aferidos em percentagem do nível de 2019. O progressivo afastamento entre os cenários pessimista e otimista espelha a elevada incerteza presente neste exercício. O cenário central é de retorno ao nível de 2019 no próximo ano

(2022). Porém, não é de descartar um cenário de manutenção do PIB num 3.0 6.0 4.5 3.0 1.0 5.0 3.5 2.0 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0

Central (FTC 34) Otimista Central Pessimista

(21)

Gráfico 27: Cenários alternativos de evolução do PIB no horizonte de 2023 (% PIB 2019)

Fonte: INE e NECEP. 85.0 90.0 95.0 100.0 105.0 110.0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023

(22)

Elementos complementares

O presente capítulo condensa um conjunto de elementos de enquadramento da atual conjuntura que continua a ser pautada pela imprevisibilidade em torno da evolução da pandemia, da atividade económica e do mercado de trabalho.

Começa-se por descrever a evolução da economia portuguesa no 1º trimestre de 2021 que ficou pautado por uma contração severa da atividade económica na sequência do confinamento, mitigada pelo crescimento do investimento. Em termos sanitários, tratou-se do trimestre com maior número de casos e óbitos por COVID-19, mas não o mais castigado em termos económicos que foi o 2º trimestre de 2020. Desta forma, comprova-se que a relação entre a evolução da pandemia e da economia não é linear, sendo mais complexa face ao que aparenta ser.

Aborda-se, a seguir, o tema das finanças públicas com enfoque na situação no 1º trimestre do ano e na evolução recente e muito preocupante da dívida pública. Por último, são abordados vários aspetos do enquadramento externo, com destaque para as perspetivas de crescimento a médio prazo dos principais parceiros comerciais de Portugal e para as tensões inflacionistas e a sua relação com a política monetária.

A economia portuguesa no 1º trimestre de 2021

No 1º trimestre de 2021, o último com dados disponíveis nas Contas Nacionais, o

Produto Interno Bruto (PIB) contraiu 3.2% em cadeia. Tratou-se da maior

queda reportada nas séries longas do PIB (desde 1977), excluindo as variações do 1º e 2º trimestres de 2020 (respetivamente, -4.0% e -14.0%), pelo que se confirma a severidade dos efeitos económicos resultantes do confinamento do início do ano.

Gráfico 28: Dinâmica do PIB e da procura interna (variação homóloga em volume, %)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com cálculos NECEP.

A variação homóloga do PIB foi de -5.3% em ligeira melhoria face ao 4º trimestre de 2020 (-6.1%) por via do efeito base. Em nível, o PIB fixou-se em

90.9% do registo do 4º trimestre de 2019, o último sem efeitos da pandemia e

do confinamento, bem melhor que os 82.6% observados no segundo trimestre do ano passado quando o choque na economia foi sentido com grande severidade.

-18.0 -15.0 -12.0 -9.0 -6.0 -3.0 0.0 3.0 6.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 PIB Procura interna

(23)

facto, este agregado aumentou 4.1% em cadeia e 5.3% em termos homólogos. Esta melhoria foi transversal às diversas componentes do investimento, com destaque para a construção (+5.3%), mas também para as máquinas e equipamentos (+4.6% em cadeia) e material de transporte (+2.0%).

Gráfico 29: Evolução real do investimento por tipo de ativo (milhões de euros, dados trimestrais)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com dados não publicados e cálculos NECEP.

Na prática, a formação bruta de capital fixo (FBCF) contribuiu em +0.8 pontos percentuais (pp) para o andamento em cadeia do PIB, sendo ainda de assinalar o contributo de +0.4 pp da variação de existências. Tal permitiu amortecer o contributo negativo do consumo privado para o PIB (-2.7 pp) decorrente de uma contração de 4.1% em cadeia e de 6.6% na variação homóloga.

Gráfico 30: Contributo para o crescimento em cadeia do PIB (pontos percentuais, dados trimestrais)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com cálculos NECEP.

De facto, nunca o consumo privado tinha caído tanto nas séries trimestrais atuais do INE (desde 1995), excluindo a situação excecional do 2º trimestre de 2020, pelo que o comportamento do investimento foi determinante para evitar um impacto global do confinamento de 2021 mais alinhado com o sucedido no ano passado.

0 500 1 000 1 500 2 000 2 500 3 000 3 500 4 000 4 500 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Recessões Máquinas e equipamentos

Material de transporte I&D

Habitação Outra construção

-20.0 -15.0 -10.0-5.0 0.0 5.0 10.0 15.0 Consumo Privado Consumo Público FBCF (Construção) FBCF (extra-construção) Variação Existências Procura Interna

Exportações Importações Procura Externa Líq. 2T2020 3T2020 4T2020 1T2021

(24)

Gráfico 31: Evolução do consumo privado (milhões de euros, dados trimestrais a preços de 2011)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com cálculos NECEP.

Paralelamente, o PIB foi penalizado em 1.0 pp pela evolução das exportações que contraíram 2.6% em cadeia e 9.6% face ao 1º trimestre de 2020. Tal deveu-se ao comportamento da componente de serviços, onde se inclui o turismo, dado que as exportações de bens cresceram 1.4% em cadeia e 2.7% em termos homólogos por via do efeito de base. O contributo da procura externa líquida para o andamento do PIB foi também negativo (-2.1 pp), com as importações a crescerem uns parcos 0.1% para uma variação homóloga negativa de 4.3%.

Gráfico 32: Contas nacionais na ótica da despesa (1º trimestre de 2021)

Indicador

Dados do

1º trimestre de 2021 performance recente Avaliação de 2º trimestre de 2021 Benchmarks para o

Taxa de variação em cadeia Taxa de variação homóloga 4º trim. 2020 1º trim. 2021 Taxa de variação em cadeia Taxa de variação homóloga PIB – Portugal -3.2 -5.3 ↔ ↓↓ -0.4 9.4 Procura interna -2.1 -3.1 ↓↓ 0.0 9.1 Consumo privado -4.1 -6.6 ↓↓ -0.6 7.6 Investimento (FBCF) 4.1 5.3 ↑↑ 1.9 17.2 Exportações -2.6 -9.6 ↑↑ ↓↓ -1.6 39.9 Importações 0.1 -4.3 ↑↑ -0.5 34.8

Notas: A avaliação da performance recente é baseada em 5 padrões diferentes: ↓ (valor moderadamente abaixo do benchmark); ↓↓ (valor significativamente abaixo do benchmark); ↔ (valor em linha com o benchmark); ↑ (valor moderadamente acima do benchmark); ↑↑ (valor significativamente acima do benchmark).

Com as exportações em queda e as importações quase estagnadas, o saldo da

balança de bens e serviços deteriorou-se no 1º trimestre, arrastando consigo o

saldo da balança corrente e de capital. Em ano móvel acabado no trimestre, o saldo desta balança regressou ao terreno negativo (-0.4% do PIB), o que já não acontecia desde 2012. Tal comprova a fragilidade das contas externas portuguesas na presente conjuntura, bem como a sua dependência face à evolução do turismo e, por conseguinte, face às restrições de mobilidade impostas por outros países, nomeadamente, pelo Reino Unido.

20000 22000 24000 26000 28000 30000 32000 34000 1995 1997 1999 2001 2003 2004 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

(25)

Gráfico 33: Evolução dos saldos das balanças de bens e serviços, corrente e corrente e de capital (% PIB nominal, ano móvel acabado no trimestre)

Fonte: Banco de Portugal, com cálculos NECEP.

O valor acrescentado bruto (VAB) contraiu 2.9% em cadeia e 3.2% na variação homóloga. Em termos setoriais, é de assinalar o bom momento da agricultura (crescimento de 2.8% em cadeia) e também da construção (+1.9%). Tal sugere que o Setor Público manteve os seus planos de investimento inalterados e pode mesmo ter permitido o respetivo reforço temporário em ano de eleições autárquicas. É que este incremento da atividade construtiva foi determinante para acomodar as perdas de produção observadas, quer na indústria (-1.9%), quer sobretudo no comércio e serviços (-3.8%).

Quadro 5: Contas Nacionais na ótica da produção (valor acrescentado bruto) – Retrato setorial

Setor de atividade

Dados do

1º trimestre de 2020 performance recente Avaliação de 2º trimestre de 2021 Benchmarks para o Taxa de variação em cadeia Taxa de variação homóloga 4º trim. 2020 1º trim. 2021 Taxa de variação em cadeia Taxa de variação homóloga VAB -2.9 -4.0 ↑ ↓↓ -0.3 9.6

Agric., Silv. e Pescas 2.8 -0.7 ↑ ↑↑ -0.4 1.9 Indústria & Utilities -1.2 -1.3 ↔ ↓ -0.5 19.4

Indústria -1.4 -1.3 ↔ ↓ -0.4 23.3

Construção 1.9 4.8 ↔ ↔ 0.9 4.3

Comércio & Serviços -3.8 -5.3 ↑ ↓↓ -0.3 8.0

Notas: A performance recente é avaliada em 5 níveis: ↓ (valor ligeiramente abaixo do benchmark); ↓↓ (valor

significativamente abaixo do benchmark); ↔ (valor em linha com o benchmark); ↑ (valor ligeiramente acima do benchmark); ↑↑ (valor muito acima do benchmark); o subsetor das Utilities inclui as atividades de Produção e Distribuição de Energia (Eletricidade e Gás), Água e Saneamento.

O rendimento disponível das famílias, deflacionado e corrigido de sazonalidade, caiu 3.5% em cadeia no 1º trimestre. Este dado é contraditório face à evolução do mercado de trabalho no início do ano na medida em que a taxa de desemprego baixou de 7.3% para 7.1%. Assim, o rendimento disponível apresenta, ainda, uma perda de 5.1% face ao período homólogo, um sinal evidente da profundidade e

gravidade da crise instalada no país, com o desemprego a manter-se em níveis

moderados, ou mesmo em recuo, como resultado das políticas atípicas de

emprego que «mascaram» a situação difícil em que se encontram muitas famílias e

trabalhadores. -12.0 -10.0 -8.0 -6.0 -4.0 -2.0 0.0 2.0 4.0 6.0 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Balança de bens e serviços

Balança corrente Balança corrente e de capital

(26)

Gráfico 34: Evolução do Rendimento Disponível Líquido (RDL) deflacionado (milhões de euros, dados trimestrais a preços constantes de 2011)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional, com cálculos NECEP. Gráfico 35: Taxa de desemprego corrigida da sazonalidade (% população ativa)

Fonte: Banco de Portugal e INE, com cálculos NECEP.

Paralelamente, a poupança das famílias voltou a aumentar de forma muito expressiva, tendo atingido os 14.2% do rendimento disponível, um máximo da série iniciada no 4º trimestre de 1999. De acordo com o INE, este fenómeno resultou da redução da despesa de consumo que foi mais intensa face à quebra do rendimento disponível. O aumento da taxa de poupança tem sido observado em outras crises, como a de 2008-2009, estando relacionada com o motivo de

precaução e, no presente caso, com o confinamento e encerramento de atividades que limitou as possibilidades de consumo pelo lado da oferta.

Gráfico 36: Evolução da taxa de poupança por setor institucional (% do rendimento disponível bruto, ano terminado no trimestre)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional, com cálculos NECEP.

Esta «reserva de consumo», caso venha a consubstanciar-se num aumento da procura nos próximos meses, pode vir a constituir-se como um importante fator de

28000 30000 32000 34000 36000 38000 40000 42000 44000 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 RDL deflacionado e corrigido de sazonalidade Tendência

-1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Variação em cadeia (p.p.) - Escala da direita Taxa de desemprego - Escala da esquerda

0 5 10 15 20 25 30 35 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Total Empresas Famílias

(27)

Finanças públicas

A necessidade de financiamento, isto é, o défice das administrações públicas, alcançou os 6.8% do PIB nominal no ano móvel terminado no 1º trimestre. Trata-se do valor mais elevado desde o 1º trimestre de 2015, inclusive face aos 5.7% relativos a 2020, após o superavit pontual de 0.1% em 2019.

Gráfico 37: Evolução da capacidade (+) / Necessidade (-) líquida de financiamento por setor institucional (% PIB nominal, ano móvel terminado no trimestre)

Fonte: INE – Contas Nacionais por Setor Institucional, com cálculos NECEP.

Considerando o 1º trimestre de forma isolada, o défice ascendeu a cerca de 2.5 mil milhões de euros, o equivalente a 5.7% do PIB, mais 4.6 pontos percentuais face ao período homólogo que foi, recorde-se, ainda pouco afetado pela pandemia. De facto, as contas públicas do 1º trimestre de 2021 evidenciam um forte aumento da despesa de 11.2% na variação homóloga como resultado, nomeadamente, do reforço dos subsídios (+6.6 pp) e das prestações sociais (+2.1 pp) no quadro do combate à pandemia. São, ainda, de assinalar os contributos das despesas com pessoal (+1.1 pp), do consumo intermédio (+1.0 pp) e do investimento (0.3 pp).

Gráfico 38: Evolução da despesa das Administrações Públicas na ótica da contabilidade nacional no 1º trimestre de 2021 (contributo para a variação homóloga, pp)

Fonte: INE – Contas Nacionais por Setor Institucional, com cálculos do NECEP.

Apesar do confinamento do último inverno, a receita fiscal surpreendeu com um aumento de 0.3% na variação homóloga, porventura, já favorecido pelo efeito de base. Em todo o caso, a outra receita corrente (+3.1 pp) permitiu compensar a

perda de receita fiscal (-3.3 pp), especialmente ao nível dos impostos indiretos

(-3.1 pp) onde se inclui o IVA. O contributo positivo das prestações sociais (+1.1 pp) talvez reflita os fortes apoios públicos ao emprego e o papel dos mesmos na

-15 -10 -5 0 5 10 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Recessões Total Empresas Sociedades financeiras Administrações públicas Famílias

1.1 1.0 2.1 6.6 -0.5 1.0 0.3 11.2 -2 0 2 4 6 8 10 12 Despesas com pessoal Consumo intermédio Prestações sociais

Subsídios Juros Outra despesa corrente

Investimento Despesa total

C o n tr ib u to ( p p )

(28)

Gráfico 39: Evolução da receita das Administrações Públicas na ótica da contabilidade nacional no 1º trimestre de 2021 (contributo para a variação homóloga, pp)

Fonte: INE – Contas Nacionais por Setor Institucional, com cálculos do NECEP.

Fruto desta evolução desfavorável das finanças públicas no 1º trimestre, o NECEP reviu em baixa a estimativa de défice apresentada no último relatório temático (RT 29, dezembro de 2020) de 5.4% para 5.6% do PIB. Na prática, foi incorporada a revisão em 0.2 pp indicada pelo Ministério da Finanças no Programa de

Estabilidade de abril último, sendo evidente a desatualização da meta do Governo (4.5%) indicada nesse mesmo documento para 2021.

Gráfico 40: Atualização da estimativa do saldo orçamental para 2021 (% PIB nominal)

(*) Ano terminado no trimestre.

Fonte: INE, Ministério das Finanças e NECEP.

No final de março, o stock de dívida pública atingiu um valor facial de 275.3 mil milhões de euros, um máximo histórico absoluto equivalente a 137.2% do PIB. A dívida líquida de depósitos ultrapassou a fasquia dos 250 mil milhões de euros, aproximando-se dos 125% do PIB. Os dados mais recentes evidenciam uma ligeira redução da dívida bruta em abril, mas que se revelou temporária fruto de um novo aumento em maio. Pior tem sido a evolução da dívida líquida de depósitos que alcançou, em maio, um novo máximo histórico absoluto de 254.2 mil milhões de

-3.1 -0.2 1.1 -0.6 3.1 0.0 0.3 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 Impostos indiretos Impostos diretos Contribuições sociais

Vendas Outra receita corrente Receita de capital Receita total C o n tr ib u to ( p p ) 0.1 -5.7 -6.8 -4.3 -5.4 -4.5 -5.6 -8.0 -7.0 -6.0 -5.0 -4.0 -3.0 -2.0 -1.0 0.0 1.0 2019 2020 2020T1* OE 2021 RT 29 PE 2021-2025 FTC 65

(29)

Gráfico 41: Evolução recente da dívida pública bruta e líquida de depósitos (dados mensais nominais em milhões de euros)

Fonte: Banco de Portugal.

Esta evolução recente da dívida pública é muito preocupante. Em particular, as metas inscritas no Programa de Estabilidade de 128% e 120% do PIB para os rácios, respetivamente, bruto e líquido tornaram-se manifestamente otimistas. Tal como avançado pelo NECEP em dezembro último no Relatório Temático sobre o Orçamento do Estado para 2020, o mais provável é o ano terminar com um rácio bruto próximo dos 135%, mas com o sério risco de alcançar, ou mesmo

ultrapassar, os 140% do PIB, especialmente num cenário de prolongamento dos apoios extraordinários à economia e às empresas.

Os riscos decorrentes desta situação de elevado endividamento foram, aliás, apontados pela Comissão Europeia no âmbito do Semestre Europeu, aconselhando Portugal a adotar medidas que visem reduzir o peso relativo da dívida pública. A estes riscos juntam-se os decorrentes das políticas sanitárias e orçamentais

heterodoxas e associados défices orçamentais elevados, incluindo as moratórias,

pelo que a necessidade de um orçamento retificativo não deve ser descartada ainda este ano.

190 000 200 000 210 000 220 000 230 000 240 000 250 000 260 000 270 000 280 000

jan/13 jul/13 jan/14 jul/14 jan/15 jul/15 jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21 Dívida bruta Dívida líquida

(30)

Enquadramento externo

Passados cerca de um ano e três meses desde o início da pandemia, é possível afirmar que os seus efeitos foram fortemente sentidos na economia mundial. O 1º trimestre do corrente ano ainda não foi suficiente para colmatar as perdas

acumuladas do PIB durante o ano passado visto que a generalidade das economias contraiu em cadeia, fruto do acentuar da crise sanitária e das medidas de

confinamento. Uma das poucas exceções foi a China que, apesar de não ter contraído, apresentou uma taxa de crescimento (2.3%) bastante inferior face à média dos últimos anos. Os efeitos positivos do processo de vacinação em curso, nomeadamente, nas economias avançadas e os decorrentes processos de

desconfinamento foram ainda algo tímidos no 1º trimestre, mas tudo indica que terão sido um pouco mais fortes no 2º trimestre.

De um modo geral, os governos estão a sentir uma certa dificuldade em ultrapassar o ambiente de medo que se vive na sociedade e hesitantes entre dar prioridade ao combate às novas variantes da COVID-19 ou acelerar o processo de normalização, reduzindo as restrições da vida social ao mínimo essencial. No campo estritamente económico, as pressões inflacionistas, particularmente nos EUA, são uma nova preocupação, que abrem o debate sobre a velocidade, o início e a intensidade da normalização da política monetária e das suas consequências na recuperação da atividade económica, emprego e salários.

Quadro 6: Sumário de enquadramento externo: principais economias (2021-2022, %)

Indicador Espanha Alemanha França Unido Reino Itália EUA Japão China

Crescimento do PIB – 1ºT

2021 (taxa em cadeia) -0.5 -1.8 -0.1 -1.5 0.1 1.6 -1.0 0.6 Crescimento do PIB – 1ºT

2021 (taxa homóloga) -4.3 -3.1 1.2 -6.1 -0.8 0.4 -1.5 18.3 Crescimento do PIB 2020

(taxa de variação anual) * -10.8 -4.9 -8.1 -9.8 -8.9 -3.5 -4.8 2.3 Crescimento do PIB 2021:

estimativa (tva) * 5.9 3.4 5.7 5.0 4.2 6.3 3.1 8.4 Crescimento do PIB 2022:

estimativa (tva) * 6.8 4.1 4.2 5.3 4.4 3.8 2.5 5.6 Taxa de crescimento das

exportações de bens

portuguesas ** 23.8 13.9 25.2 10.7 26.2 12.4 143.6 58.5 Peso nas exportações de

bens portuguesas (2020) 25.4 11.8 13.5 5.7 4.4 5.0 0.5 1.1

* Comissão Europeia – European Economic Forecast (primavera 2021) e FMI – World Economic Outlook (abril 2021). ** Dados do INE relativos ao acumulado de janeiro a abril de 2021.

Na zona euro, o ambiente geral é de recuperação da atividade embora haja dúvidas sobre o momento em que se regressará aos níveis de atividade anteriores à

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o país europeu que registou uma contração do PIB mais substancial em 2020 (-10.8%). A ritmo semelhante poderá crescer a França (5.7%), com perspetivas mais moderadas para Itália (4.2%) e Alemanha (3.4%). Estas previsões da Comissão Europeia são mais conservadoras face às do FMI e ainda poderão vir a ser revistas nos próximos meses, fruto do ambiente de elevada incerteza associado à presente conjuntura.

O Reino Unido pode crescer cerca de 5% após uma queda de quase 10% em 2020, fruto do estado avançado do seu processo de vacinação e do anunciado

«desconfinamento total» anunciado para 19 de julho. Por seu turno, os EUA poderão crescer acima dos 6% já em 2021, caso se confirme a elevada eficácia do pacote de estímulos económicos de 1.9 mil milhões de dólares da administração Biden e da política monetária. Entre as economias desenvolvidas, os EUA foi a economia com menor contração em 2020, com a menor intensidade de

confinamento ao longo do período e a que mais depressa deu sinais claros de regresso rápido aos níveis de produção anteriores. O debate interno é se a inflação é essencialmente transitória, o que seria favorável ao prolongamento dos

estímulos orçamentais e monetários; ou, se pelo contrário, poderá ser permanente e, nesse caso, os estímulos orçamentais poderão não ser eficazes, com a Reserva Federal (FED) a poder ser obrigada a normalizar política monetária mais depressa face ao que atualmente se antecipa.

Relativamente ao conjunto da zona euro, o crescimento deverá ser próximo dos 4.5% em 2021 e também em 2022 (cf. Quadro 7), embora a incerteza se mantenha elevada. As políticas de confinamento ainda não foram ultrapassadas e há ainda restrições à mobilidade interna de pessoas, mesmo no espaço Schengen.

Adicionalmente, a dimensão e composição das cicatrizes deixadas pela recessão do «Grande Confinamento» ainda não são claras e começam a surgir vozes no sentido do regresso às regras do Pacto de Estabilidade num horizonte curto, com uma normalização mais rápida da política monetária da zona euro.

Quadro 7: Perspetivas de crescimento para a zona euro (2021-2022, %)

Entidade PIB Investimento Exportações Importações

2020 2021 2022 2021 2022 2021 2022 2021 2022

Comissão Europeia

-6.7

4.3 4.4 6.7 5.3 8.7 6.5 8.0 6.9 Banco Central Europeu 4.6 4.7 7.3 5.5 9.0 6.5 8.3 7.0

FMI 4.4 3.8 - - 7.9 6.5 5.7 7.1 OCDE 4.3 4.4 5.7 5.6 - - - - FocusEconomics: mínimo 3.5 2.9 3.7 2.1 6.7 3.5 5.2 3.5 FocusEconomics: máximo 5.4 5.3 9.4 7.5 11.3 7.7 10.0 7.3 FocusEconomics: consenso 4.3 4.3 5.7 4.8 9.0 5.4 7.7 5.5 NECEP 4.5 4.5 - - - -

Fonte: Comissão Europeia – European Economic Forecast (primavera 2021), Banco Central Europeu – Eurosystem Macroeconomic Projections (junho 2021), FMI – World Economic Outlook (abril 2021), OCDE – Economic Outlook (maio 2021), FocusEconomics Consensus Forecast: Euro Area (julho 2021) e NECEP.

(32)

Assim, o NECEP reviu em +1 ponto percentual a sua anterior estimativa de crescimento da zona euro em 2021 para 4% devido ao crescimento de 2.5% estimado para o 2º trimestre, usando com diversos indicadores de alta frequência, como o PMI Markit ou do €-coin do Banco de Itália/CEPR.

Gráfico 42: Indicador €-coin (média histórica: 0.27)

Fonte: Banco de Itália/CEPR.

Já as perspetivas para a economia mundial são mais favoráveis face à zona euro, com um crescimento em torno dos 6% em 2021 após uma queda de 3.3% em 2020 de acordo com o FMI. O crescimento deverá permanecer robusto, isto é, em torno dos 3% em 2022 e 2023, apesar de ter sido revisto em baixa recentemente. A eventual evolução desfavorável da pandemia e/ou as dificuldades em assegurar uma vacinação universal poderão, naturalmente, condicionar estas previsões a médio prazo, se bem que prevaleça um clima genericamente otimista em torno da recuperação da economia mundial nos próximos anos. As divisas dos países em desenvolvimento poderão ser penalizadas no período pós-COVID, criando dificuldades ao financiamento da recuperação e dos programas sanitários.

Gráfico 43: Perspetivas de crescimento da economia mundial (2020-2026, %)

Fonte: FMI – World Economic Outlook, April 2021 e OCDE – Economic Outlook, May 2021. -2.5 -2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Indicador Euro-coin -3.3 6.0 4.4 3.5 3.4 3.3 3.3 -3.5 5.8 4.4 -6.0 -4.0 -2.0 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 FMI OCDE

(33)

parece haver agora uma estabilização do crescimento. A média móvel em 12 meses é já positiva (3.2%) e o gráfico abaixo sugere mesmo que as perdas do comércio internacional durante 2020 estão já a ser compensadas, na medida em que os valores observados são superiores à respetiva tendência.

Gráfico 44: Evolução do comércio mundial (base 2010 = 100)

Fonte: CPB - Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis, World Trade Monitor.

Os dados do FMI apontam para o aumento generalizado dos preços das

matérias-primas em dólares americanos, com um ganho de 23.8% face ao final de 2020,

70.1% face a junho do mesmo ano (variação homóloga do último dado disponível) e 10.5% crescimento em cadeia. Neste âmbito, merecem destaque os metais que apreciaram 88.8% face ao mesmo período de 2020 (variação homóloga),

designadamente, o cobre (94%), o minério de ferro (122.1%) e o estanho

(109.6%), os bens energéticos (132%) bem como alguns bens alimentares como o milho (111.3%) ou a soja (86.5%), à semelhança do trimestre passado.

Gráfico 45: Evolução dos principais índices de matérias-primas (base 2005=100; dados mensais)

Fonte: FMI.

Relativamente aos bens energéticos, é importante referir a constante subida do preço do petróleo que, apesar de ter abrandado face ao período passado, fez com que o preço médio desta matéria se tivesse fixado acima dos 73 dólares por barril em junho de 2021, com uma apreciação de 30.7% face ao final do ano passado. Entre os metais preciosos, o ouro apreciou não só em termos homólogos (5.9%) como ao longo dos últimos 3 meses (6.7%), continuando a funcionar como um ativo de refúgio face à volatilidade dos mercados nos últimos meses.

80 85 90 95 100 105 110

jan/17 abr/17 jul/17 out/17 jan/18 abr/18 jul/18 out/18 jan/19 abr/19 jul/19 out/19 jan/20 abr/20 jul/20 out/20 jan/21 abr/21 CPB World Trade Monitor Tendência

50 100 150 200 250 300 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Bens não energéticos Alimentação e bebidas Matérias-primas agrícolas Metais

Referências

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