• Nenhum resultado encontrado

Elementos complementares

No documento Folha Trimestral de Conjuntura (páginas 22-43)

O presente capítulo condensa um conjunto de elementos de enquadramento da atual conjuntura que continua a ser pautada pela imprevisibilidade em torno da evolução da pandemia, da atividade económica e do mercado de trabalho.

Começa-se por descrever a evolução da economia portuguesa no 1º trimestre de 2021 que ficou pautado por uma contração severa da atividade económica na sequência do confinamento, mitigada pelo crescimento do investimento. Em termos sanitários, tratou-se do trimestre com maior número de casos e óbitos por COVID-19, mas não o mais castigado em termos económicos que foi o 2º trimestre de 2020. Desta forma, comprova-se que a relação entre a evolução da pandemia e da economia não é linear, sendo mais complexa face ao que aparenta ser.

Aborda-se, a seguir, o tema das finanças públicas com enfoque na situação no 1º trimestre do ano e na evolução recente e muito preocupante da dívida pública. Por último, são abordados vários aspetos do enquadramento externo, com destaque para as perspetivas de crescimento a médio prazo dos principais parceiros comerciais de Portugal e para as tensões inflacionistas e a sua relação com a política monetária.

A economia portuguesa no 1º trimestre de 2021

No 1º trimestre de 2021, o último com dados disponíveis nas Contas Nacionais, o

Produto Interno Bruto (PIB) contraiu 3.2% em cadeia. Tratou-se da maior

queda reportada nas séries longas do PIB (desde 1977), excluindo as variações do 1º e 2º trimestres de 2020 (respetivamente, -4.0% e -14.0%), pelo que se confirma a severidade dos efeitos económicos resultantes do confinamento do início do ano.

Gráfico 28: Dinâmica do PIB e da procura interna (variação homóloga em volume, %)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com cálculos NECEP.

A variação homóloga do PIB foi de -5.3% em ligeira melhoria face ao 4º trimestre de 2020 (-6.1%) por via do efeito base. Em nível, o PIB fixou-se em

90.9% do registo do 4º trimestre de 2019, o último sem efeitos da pandemia e

do confinamento, bem melhor que os 82.6% observados no segundo trimestre do ano passado quando o choque na economia foi sentido com grande severidade.

-18.0 -15.0 -12.0 -9.0 -6.0 -3.0 0.0 3.0 6.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 PIB Procura interna

facto, este agregado aumentou 4.1% em cadeia e 5.3% em termos homólogos. Esta melhoria foi transversal às diversas componentes do investimento, com destaque para a construção (+5.3%), mas também para as máquinas e equipamentos (+4.6% em cadeia) e material de transporte (+2.0%).

Gráfico 29: Evolução real do investimento por tipo de ativo (milhões de euros, dados trimestrais)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com dados não publicados e cálculos NECEP.

Na prática, a formação bruta de capital fixo (FBCF) contribuiu em +0.8 pontos percentuais (pp) para o andamento em cadeia do PIB, sendo ainda de assinalar o contributo de +0.4 pp da variação de existências. Tal permitiu amortecer o contributo negativo do consumo privado para o PIB (-2.7 pp) decorrente de uma contração de 4.1% em cadeia e de 6.6% na variação homóloga.

Gráfico 30: Contributo para o crescimento em cadeia do PIB (pontos percentuais, dados trimestrais)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com cálculos NECEP.

De facto, nunca o consumo privado tinha caído tanto nas séries trimestrais atuais do INE (desde 1995), excluindo a situação excecional do 2º trimestre de 2020, pelo que o comportamento do investimento foi determinante para evitar um impacto global do confinamento de 2021 mais alinhado com o sucedido no ano passado.

0 500 1 000 1 500 2 000 2 500 3 000 3 500 4 000 4 500 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Recessões Máquinas e equipamentos

Material de transporte I&D

Habitação Outra construção

-20.0 -15.0 -10.0-5.0 0.0 5.0 10.0 15.0 Consumo Privado Consumo Público FBCF (Construção) FBCF (extra-construção) Variação Existências Procura Interna

Exportações Importações Procura Externa Líq. 2T2020 3T2020 4T2020 1T2021

Gráfico 31: Evolução do consumo privado (milhões de euros, dados trimestrais a preços de 2011)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais, com cálculos NECEP.

Paralelamente, o PIB foi penalizado em 1.0 pp pela evolução das exportações que contraíram 2.6% em cadeia e 9.6% face ao 1º trimestre de 2020. Tal deveu-se ao comportamento da componente de serviços, onde se inclui o turismo, dado que as exportações de bens cresceram 1.4% em cadeia e 2.7% em termos homólogos por via do efeito de base. O contributo da procura externa líquida para o andamento do PIB foi também negativo (-2.1 pp), com as importações a crescerem uns parcos 0.1% para uma variação homóloga negativa de 4.3%.

Gráfico 32: Contas nacionais na ótica da despesa (1º trimestre de 2021)

Indicador

Dados do

1º trimestre de 2021 performance recente Avaliação de 2º trimestre de 2021 Benchmarks para o

Taxa de variação em cadeia Taxa de variação homóloga 4º trim. 2020 1º trim. 2021 Taxa de variação em cadeia Taxa de variação homóloga PIB – Portugal -3.2 -5.3 ↓↓ -0.4 9.4 Procura interna -2.1 -3.1 ↓↓ 0.0 9.1 Consumo privado -4.1 -6.6 ↓↓ -0.6 7.6 Investimento (FBCF) 4.1 5.3 ↑↑ 1.9 17.2 Exportações -2.6 -9.6 ↑↑ ↓↓ -1.6 39.9 Importações 0.1 -4.3 ↑↑ -0.5 34.8

Notas: A avaliação da performance recente é baseada em 5 padrões diferentes: ↓ (valor moderadamente abaixo do benchmark); ↓↓ (valor significativamente abaixo do benchmark); ↔ (valor em linha com o benchmark); ↑ (valor moderadamente acima do benchmark); ↑↑ (valor significativamente acima do benchmark).

Com as exportações em queda e as importações quase estagnadas, o saldo da

balança de bens e serviços deteriorou-se no 1º trimestre, arrastando consigo o

saldo da balança corrente e de capital. Em ano móvel acabado no trimestre, o saldo desta balança regressou ao terreno negativo (-0.4% do PIB), o que já não acontecia desde 2012. Tal comprova a fragilidade das contas externas portuguesas na presente conjuntura, bem como a sua dependência face à evolução do turismo e, por conseguinte, face às restrições de mobilidade impostas por outros países, nomeadamente, pelo Reino Unido.

20000 22000 24000 26000 28000 30000 32000 34000 1995 1997 1999 2001 2003 2004 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

Gráfico 33: Evolução dos saldos das balanças de bens e serviços, corrente e corrente e de capital (% PIB nominal, ano móvel acabado no trimestre)

Fonte: Banco de Portugal, com cálculos NECEP.

O valor acrescentado bruto (VAB) contraiu 2.9% em cadeia e 3.2% na variação homóloga. Em termos setoriais, é de assinalar o bom momento da agricultura (crescimento de 2.8% em cadeia) e também da construção (+1.9%). Tal sugere que o Setor Público manteve os seus planos de investimento inalterados e pode mesmo ter permitido o respetivo reforço temporário em ano de eleições autárquicas. É que este incremento da atividade construtiva foi determinante para acomodar as perdas de produção observadas, quer na indústria (-1.9%), quer sobretudo no comércio e serviços (-3.8%).

Quadro 5: Contas Nacionais na ótica da produção (valor acrescentado bruto) – Retrato setorial

Setor de atividade

Dados do

1º trimestre de 2020 performance recente Avaliação de 2º trimestre de 2021 Benchmarks para o Taxa de variação em cadeia Taxa de variação homóloga 4º trim. 2020 1º trim. 2021 Taxa de variação em cadeia Taxa de variação homóloga VAB -2.9 -4.0 ↓↓ -0.3 9.6

Agric., Silv. e Pescas 2.8 -0.7 ↑↑ -0.4 1.9 Indústria & Utilities -1.2 -1.3 -0.5 19.4

Indústria -1.4 -1.3 -0.4 23.3

Construção 1.9 4.8 0.9 4.3

Comércio & Serviços -3.8 -5.3 ↓↓ -0.3 8.0

Notas: A performance recente é avaliada em 5 níveis: ↓ (valor ligeiramente abaixo do benchmark); ↓↓ (valor

significativamente abaixo do benchmark); ↔ (valor em linha com o benchmark); ↑ (valor ligeiramente acima do benchmark); ↑↑ (valor muito acima do benchmark); o subsetor das Utilities inclui as atividades de Produção e Distribuição de Energia (Eletricidade e Gás), Água e Saneamento.

O rendimento disponível das famílias, deflacionado e corrigido de sazonalidade, caiu 3.5% em cadeia no 1º trimestre. Este dado é contraditório face à evolução do mercado de trabalho no início do ano na medida em que a taxa de desemprego baixou de 7.3% para 7.1%. Assim, o rendimento disponível apresenta, ainda, uma perda de 5.1% face ao período homólogo, um sinal evidente da profundidade e

gravidade da crise instalada no país, com o desemprego a manter-se em níveis

moderados, ou mesmo em recuo, como resultado das políticas atípicas de

emprego que «mascaram» a situação difícil em que se encontram muitas famílias e

trabalhadores. -12.0 -10.0 -8.0 -6.0 -4.0 -2.0 0.0 2.0 4.0 6.0 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Balança de bens e serviços

Balança corrente Balança corrente e de capital

Gráfico 34: Evolução do Rendimento Disponível Líquido (RDL) deflacionado (milhões de euros, dados trimestrais a preços constantes de 2011)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional, com cálculos NECEP. Gráfico 35: Taxa de desemprego corrigida da sazonalidade (% população ativa)

Fonte: Banco de Portugal e INE, com cálculos NECEP.

Paralelamente, a poupança das famílias voltou a aumentar de forma muito expressiva, tendo atingido os 14.2% do rendimento disponível, um máximo da série iniciada no 4º trimestre de 1999. De acordo com o INE, este fenómeno resultou da redução da despesa de consumo que foi mais intensa face à quebra do rendimento disponível. O aumento da taxa de poupança tem sido observado em outras crises, como a de 2008-2009, estando relacionada com o motivo de

precaução e, no presente caso, com o confinamento e encerramento de atividades que limitou as possibilidades de consumo pelo lado da oferta.

Gráfico 36: Evolução da taxa de poupança por setor institucional (% do rendimento disponível bruto, ano terminado no trimestre)

Fonte: INE – Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional, com cálculos NECEP.

Esta «reserva de consumo», caso venha a consubstanciar-se num aumento da procura nos próximos meses, pode vir a constituir-se como um importante fator de

28000 30000 32000 34000 36000 38000 40000 42000 44000 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 RDL deflacionado e corrigido de sazonalidade Tendência

-1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Variação em cadeia (p.p.) - Escala da direita Taxa de desemprego - Escala da esquerda

0 5 10 15 20 25 30 35 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Total Empresas Famílias

Finanças públicas

A necessidade de financiamento, isto é, o défice das administrações públicas, alcançou os 6.8% do PIB nominal no ano móvel terminado no 1º trimestre. Trata-se do valor mais elevado desde o 1º trimestre de 2015, inclusive face aos 5.7% relativos a 2020, após o superavit pontual de 0.1% em 2019.

Gráfico 37: Evolução da capacidade (+) / Necessidade (-) líquida de financiamento por setor institucional (% PIB nominal, ano móvel terminado no trimestre)

Fonte: INE – Contas Nacionais por Setor Institucional, com cálculos NECEP.

Considerando o 1º trimestre de forma isolada, o défice ascendeu a cerca de 2.5 mil milhões de euros, o equivalente a 5.7% do PIB, mais 4.6 pontos percentuais face ao período homólogo que foi, recorde-se, ainda pouco afetado pela pandemia. De facto, as contas públicas do 1º trimestre de 2021 evidenciam um forte aumento da despesa de 11.2% na variação homóloga como resultado, nomeadamente, do reforço dos subsídios (+6.6 pp) e das prestações sociais (+2.1 pp) no quadro do combate à pandemia. São, ainda, de assinalar os contributos das despesas com pessoal (+1.1 pp), do consumo intermédio (+1.0 pp) e do investimento (0.3 pp).

Gráfico 38: Evolução da despesa das Administrações Públicas na ótica da contabilidade nacional no 1º trimestre de 2021 (contributo para a variação homóloga, pp)

Fonte: INE – Contas Nacionais por Setor Institucional, com cálculos do NECEP.

Apesar do confinamento do último inverno, a receita fiscal surpreendeu com um aumento de 0.3% na variação homóloga, porventura, já favorecido pelo efeito de base. Em todo o caso, a outra receita corrente (+3.1 pp) permitiu compensar a

perda de receita fiscal (-3.3 pp), especialmente ao nível dos impostos indiretos

(-3.1 pp) onde se inclui o IVA. O contributo positivo das prestações sociais (+1.1 pp) talvez reflita os fortes apoios públicos ao emprego e o papel dos mesmos na

-15 -10 -5 0 5 10 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Recessões Total Empresas Sociedades financeiras Administrações públicas Famílias

1.1 1.0 2.1 6.6 -0.5 1.0 0.3 11.2 -2 0 2 4 6 8 10 12 Despesas com pessoal Consumo intermédio Prestações sociais

Subsídios Juros Outra despesa corrente

Investimento Despesa total

C o n tr ib u to ( p p )

Gráfico 39: Evolução da receita das Administrações Públicas na ótica da contabilidade nacional no 1º trimestre de 2021 (contributo para a variação homóloga, pp)

Fonte: INE – Contas Nacionais por Setor Institucional, com cálculos do NECEP.

Fruto desta evolução desfavorável das finanças públicas no 1º trimestre, o NECEP reviu em baixa a estimativa de défice apresentada no último relatório temático (RT 29, dezembro de 2020) de 5.4% para 5.6% do PIB. Na prática, foi incorporada a revisão em 0.2 pp indicada pelo Ministério da Finanças no Programa de

Estabilidade de abril último, sendo evidente a desatualização da meta do Governo (4.5%) indicada nesse mesmo documento para 2021.

Gráfico 40: Atualização da estimativa do saldo orçamental para 2021 (% PIB nominal)

(*) Ano terminado no trimestre.

Fonte: INE, Ministério das Finanças e NECEP.

No final de março, o stock de dívida pública atingiu um valor facial de 275.3 mil milhões de euros, um máximo histórico absoluto equivalente a 137.2% do PIB. A dívida líquida de depósitos ultrapassou a fasquia dos 250 mil milhões de euros, aproximando-se dos 125% do PIB. Os dados mais recentes evidenciam uma ligeira redução da dívida bruta em abril, mas que se revelou temporária fruto de um novo aumento em maio. Pior tem sido a evolução da dívida líquida de depósitos que alcançou, em maio, um novo máximo histórico absoluto de 254.2 mil milhões de

-3.1 -0.2 1.1 -0.6 3.1 0.0 0.3 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 Impostos indiretos Impostos diretos Contribuições sociais

Vendas Outra receita corrente Receita de capital Receita total C o n tr ib u to ( p p ) 0.1 -5.7 -6.8 -4.3 -5.4 -4.5 -5.6 -8.0 -7.0 -6.0 -5.0 -4.0 -3.0 -2.0 -1.0 0.0 1.0 2019 2020 2020T1* OE 2021 RT 29 PE 2021-2025 FTC 65

Gráfico 41: Evolução recente da dívida pública bruta e líquida de depósitos (dados mensais nominais em milhões de euros)

Fonte: Banco de Portugal.

Esta evolução recente da dívida pública é muito preocupante. Em particular, as metas inscritas no Programa de Estabilidade de 128% e 120% do PIB para os rácios, respetivamente, bruto e líquido tornaram-se manifestamente otimistas. Tal como avançado pelo NECEP em dezembro último no Relatório Temático sobre o Orçamento do Estado para 2020, o mais provável é o ano terminar com um rácio bruto próximo dos 135%, mas com o sério risco de alcançar, ou mesmo

ultrapassar, os 140% do PIB, especialmente num cenário de prolongamento dos apoios extraordinários à economia e às empresas.

Os riscos decorrentes desta situação de elevado endividamento foram, aliás, apontados pela Comissão Europeia no âmbito do Semestre Europeu, aconselhando Portugal a adotar medidas que visem reduzir o peso relativo da dívida pública. A estes riscos juntam-se os decorrentes das políticas sanitárias e orçamentais

heterodoxas e associados défices orçamentais elevados, incluindo as moratórias,

pelo que a necessidade de um orçamento retificativo não deve ser descartada ainda este ano.

190 000 200 000 210 000 220 000 230 000 240 000 250 000 260 000 270 000 280 000

jan/13 jul/13 jan/14 jul/14 jan/15 jul/15 jan/16 jul/16 jan/17 jul/17 jan/18 jul/18 jan/19 jul/19 jan/20 jul/20 jan/21 Dívida bruta Dívida líquida

Enquadramento externo

Passados cerca de um ano e três meses desde o início da pandemia, é possível afirmar que os seus efeitos foram fortemente sentidos na economia mundial. O 1º trimestre do corrente ano ainda não foi suficiente para colmatar as perdas

acumuladas do PIB durante o ano passado visto que a generalidade das economias contraiu em cadeia, fruto do acentuar da crise sanitária e das medidas de

confinamento. Uma das poucas exceções foi a China que, apesar de não ter contraído, apresentou uma taxa de crescimento (2.3%) bastante inferior face à média dos últimos anos. Os efeitos positivos do processo de vacinação em curso, nomeadamente, nas economias avançadas e os decorrentes processos de

desconfinamento foram ainda algo tímidos no 1º trimestre, mas tudo indica que terão sido um pouco mais fortes no 2º trimestre.

De um modo geral, os governos estão a sentir uma certa dificuldade em ultrapassar o ambiente de medo que se vive na sociedade e hesitantes entre dar prioridade ao combate às novas variantes da COVID-19 ou acelerar o processo de normalização, reduzindo as restrições da vida social ao mínimo essencial. No campo estritamente económico, as pressões inflacionistas, particularmente nos EUA, são uma nova preocupação, que abrem o debate sobre a velocidade, o início e a intensidade da normalização da política monetária e das suas consequências na recuperação da atividade económica, emprego e salários.

Quadro 6: Sumário de enquadramento externo: principais economias (2021-2022, %)

Indicador Espanha Alemanha França Unido Reino Itália EUA Japão China

Crescimento do PIB – 1ºT

2021 (taxa em cadeia) -0.5 -1.8 -0.1 -1.5 0.1 1.6 -1.0 0.6 Crescimento do PIB – 1ºT

2021 (taxa homóloga) -4.3 -3.1 1.2 -6.1 -0.8 0.4 -1.5 18.3 Crescimento do PIB 2020

(taxa de variação anual) * -10.8 -4.9 -8.1 -9.8 -8.9 -3.5 -4.8 2.3 Crescimento do PIB 2021:

estimativa (tva) * 5.9 3.4 5.7 5.0 4.2 6.3 3.1 8.4 Crescimento do PIB 2022:

estimativa (tva) * 6.8 4.1 4.2 5.3 4.4 3.8 2.5 5.6 Taxa de crescimento das

exportações de bens

portuguesas ** 23.8 13.9 25.2 10.7 26.2 12.4 143.6 58.5 Peso nas exportações de

bens portuguesas (2020) 25.4 11.8 13.5 5.7 4.4 5.0 0.5 1.1

* Comissão Europeia – European Economic Forecast (primavera 2021) e FMI – World Economic Outlook (abril 2021). ** Dados do INE relativos ao acumulado de janeiro a abril de 2021.

Na zona euro, o ambiente geral é de recuperação da atividade embora haja dúvidas sobre o momento em que se regressará aos níveis de atividade anteriores à

o país europeu que registou uma contração do PIB mais substancial em 2020 (-10.8%). A ritmo semelhante poderá crescer a França (5.7%), com perspetivas mais moderadas para Itália (4.2%) e Alemanha (3.4%). Estas previsões da Comissão Europeia são mais conservadoras face às do FMI e ainda poderão vir a ser revistas nos próximos meses, fruto do ambiente de elevada incerteza associado à presente conjuntura.

O Reino Unido pode crescer cerca de 5% após uma queda de quase 10% em 2020, fruto do estado avançado do seu processo de vacinação e do anunciado

«desconfinamento total» anunciado para 19 de julho. Por seu turno, os EUA poderão crescer acima dos 6% já em 2021, caso se confirme a elevada eficácia do pacote de estímulos económicos de 1.9 mil milhões de dólares da administração Biden e da política monetária. Entre as economias desenvolvidas, os EUA foi a economia com menor contração em 2020, com a menor intensidade de

confinamento ao longo do período e a que mais depressa deu sinais claros de regresso rápido aos níveis de produção anteriores. O debate interno é se a inflação é essencialmente transitória, o que seria favorável ao prolongamento dos

estímulos orçamentais e monetários; ou, se pelo contrário, poderá ser permanente e, nesse caso, os estímulos orçamentais poderão não ser eficazes, com a Reserva Federal (FED) a poder ser obrigada a normalizar política monetária mais depressa face ao que atualmente se antecipa.

Relativamente ao conjunto da zona euro, o crescimento deverá ser próximo dos 4.5% em 2021 e também em 2022 (cf. Quadro 7), embora a incerteza se mantenha elevada. As políticas de confinamento ainda não foram ultrapassadas e há ainda restrições à mobilidade interna de pessoas, mesmo no espaço Schengen.

Adicionalmente, a dimensão e composição das cicatrizes deixadas pela recessão do «Grande Confinamento» ainda não são claras e começam a surgir vozes no sentido do regresso às regras do Pacto de Estabilidade num horizonte curto, com uma normalização mais rápida da política monetária da zona euro.

Quadro 7: Perspetivas de crescimento para a zona euro (2021-2022, %)

Entidade PIB Investimento Exportações Importações

2020 2021 2022 2021 2022 2021 2022 2021 2022

Comissão Europeia

-6.7

4.3 4.4 6.7 5.3 8.7 6.5 8.0 6.9 Banco Central Europeu 4.6 4.7 7.3 5.5 9.0 6.5 8.3 7.0

FMI 4.4 3.8 - - 7.9 6.5 5.7 7.1 OCDE 4.3 4.4 5.7 5.6 - - - - FocusEconomics: mínimo 3.5 2.9 3.7 2.1 6.7 3.5 5.2 3.5 FocusEconomics: máximo 5.4 5.3 9.4 7.5 11.3 7.7 10.0 7.3 FocusEconomics: consenso 4.3 4.3 5.7 4.8 9.0 5.4 7.7 5.5 NECEP 4.5 4.5 - - - - - -

Fonte: Comissão Europeia – European Economic Forecast (primavera 2021), Banco Central Europeu – Eurosystem Macroeconomic Projections (junho 2021), FMI – World Economic Outlook (abril 2021), OCDE – Economic Outlook (maio 2021), FocusEconomics Consensus Forecast: Euro Area (julho 2021) e NECEP.

Assim, o NECEP reviu em +1 ponto percentual a sua anterior estimativa de crescimento da zona euro em 2021 para 4% devido ao crescimento de 2.5% estimado para o 2º trimestre, usando com diversos indicadores de alta frequência, como o PMI Markit ou do €-coin do Banco de Itália/CEPR.

Gráfico 42: Indicador €-coin (média histórica: 0.27)

Fonte: Banco de Itália/CEPR.

Já as perspetivas para a economia mundial são mais favoráveis face à zona euro, com um crescimento em torno dos 6% em 2021 após uma queda de 3.3% em 2020 de acordo com o FMI. O crescimento deverá permanecer robusto, isto é, em torno dos 3% em 2022 e 2023, apesar de ter sido revisto em baixa recentemente. A eventual evolução desfavorável da pandemia e/ou as dificuldades em assegurar uma vacinação universal poderão, naturalmente, condicionar estas previsões a médio prazo, se bem que prevaleça um clima genericamente otimista em torno da recuperação da economia mundial nos próximos anos. As divisas dos países em desenvolvimento poderão ser penalizadas no período pós-COVID, criando dificuldades ao financiamento da recuperação e dos programas sanitários.

Gráfico 43: Perspetivas de crescimento da economia mundial (2020-2026, %)

Fonte: FMI – World Economic Outlook, April 2021 e OCDE – Economic Outlook, May 2021. -2.5 -2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Indicador Euro-coin -3.3 6.0 4.4 3.5 3.4 3.3 3.3 -3.5 5.8 4.4 -6.0 -4.0 -2.0 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 FMI OCDE

parece haver agora uma estabilização do crescimento. A média móvel em 12 meses é já positiva (3.2%) e o gráfico abaixo sugere mesmo que as perdas do comércio internacional durante 2020 estão já a ser compensadas, na medida em que os valores observados são superiores à respetiva tendência.

Gráfico 44: Evolução do comércio mundial (base 2010 = 100)

Fonte: CPB - Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis, World Trade Monitor.

Os dados do FMI apontam para o aumento generalizado dos preços das

matérias-primas em dólares americanos, com um ganho de 23.8% face ao final de 2020,

70.1% face a junho do mesmo ano (variação homóloga do último dado disponível) e 10.5% crescimento em cadeia. Neste âmbito, merecem destaque os metais que apreciaram 88.8% face ao mesmo período de 2020 (variação homóloga),

designadamente, o cobre (94%), o minério de ferro (122.1%) e o estanho

(109.6%), os bens energéticos (132%) bem como alguns bens alimentares como o milho (111.3%) ou a soja (86.5%), à semelhança do trimestre passado.

Gráfico 45: Evolução dos principais índices de matérias-primas (base 2005=100; dados mensais)

Fonte: FMI.

Relativamente aos bens energéticos, é importante referir a constante subida do preço do petróleo que, apesar de ter abrandado face ao período passado, fez com que o preço médio desta matéria se tivesse fixado acima dos 73 dólares por barril em junho de 2021, com uma apreciação de 30.7% face ao final do ano passado. Entre os metais preciosos, o ouro apreciou não só em termos homólogos (5.9%) como ao longo dos últimos 3 meses (6.7%), continuando a funcionar como um ativo de refúgio face à volatilidade dos mercados nos últimos meses.

80 85 90 95 100 105 110

jan/17 abr/17 jul/17 out/17 jan/18 abr/18 jul/18 out/18 jan/19 abr/19 jul/19 out/19 jan/20 abr/20 jul/20 out/20 jan/21 abr/21 CPB World Trade Monitor Tendência

50 100 150 200 250 300 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Bens não energéticos Alimentação e bebidas Matérias-primas agrícolas Metais

Quadro 8: Preços das matérias-primas (indicadores calculados a partir de índices ou médias mensais) Matéria-prima Valor em maio de

No documento Folha Trimestral de Conjuntura (páginas 22-43)

Documentos relacionados