Militantes e Ativismo
nos Partidos Políticos
Portugal em Perspetiva
Comparada
Marco Lisi
Paula do Espírito Santo
(organizadores)
Capa e concepção gráfica: João Segurado Revisão: Levi Condinho
Impressão e acabamento: Gráfica Manuel Barbosa & Filhos, Lda. Depósito legal: 426870/17
1.ª edição: Junho de 2017
Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na Publicação
Militantes e ativismo nos partidos políticos : Portugal em perspetiva comparada / org., Marco Lisi, Paula do Espírito Santo. - Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2017. -
ISBN 978-972-671-395-1 CDU 329
© Instituto de Ciências Sociais, 2017
Imprensa de Ciências Sociais
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lis
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Índice
Os autores . . . 13 Introdução . . . 17
Marco Lisi e Paula do Espírito Santo
Capítulo 1
A evolução da militância em Portugal: enquadramento legal
e tendências longitudinais . . . 29
Sérgio de Almeida Correia
Capítulo 2
O declínio da filiação partidária em Portugal: respostas
e estratégias das lideranças partidárias . . . 69
Júlio Fazendeiro
Capítulo 3
Filiados e ativismo partidário em Portugal: enquadramento
teórico e características do inquérito . . . 99
Marco Lisi, Paula do Espírito Santo e Bruno Ferreira Costa
Capítulo 4
Ativismo e participação nos partidos portugueses . . . 125
Marco Lisi e João Cancela
Capítulo 5
Ideologia, cultura política e posições programáticas:
as preferências dos filiados . . . 155
Capítulo 6
A democracia intrapartidária em Portugal: uma análise comparada das perceções dos filiados do BE, CDS-PP,
LIVRE, PS e PSD . . . 187
Edalina Sanches e Isabella Razzuoli
Capítulo 7
Padrões de comunicação interna nos partidos políticos
portugueses: o caso do PSD, PS e CDS-PP . . . 213
Rita Figueiras e Jaime R. S. Fonseca
Capítulo 8
Filiados e ativistas partidários em perspetiva comparada . . . 247
Anika Gauja e Emilie Van Haute
Capítulo 9
Filiação partidária: desafios e notas finais . . . 271
Índice de quadros e figuras
Quadros
1.1 Quadro-resumo estatutário dos membros dos partidos com assento parlamentar . . . 52 1.2 Taxas de militância na Europa com base em inquéritos 2002-2010 (%) 54 1.3 Evolução da militância (números absolutos) 1974-2014 . . . 59 2.1 Evolução da densidade da filiação (números absolutos), 2000-2014 71 2.2 Congressos/Convenções realizados . . . 77 2.3 Estratégias organizacionais (número absoluto e percentagem
dos documentos analisados) . . . 79 3.1 Critérios e condições da filiação partidária em Portugal (2015) . . . . 109 3.2 Direitos dos filiados nos estatutos dos partidos portugueses
com representação parlamentar . . . 109 3.3 Amostra dos filiados partidários nos inquéritos aos partidos
portugueses . . . 112 3.4 Perfil dos filiados partidários em Portugal (%) . . . 113 3.5 Perfil dos filiados e dos delegados dos partidos portugueses (%) . . . 116 4.1 Motivações da adesão nos partidos portugueses . . . 133 4.2 Perceção do ativismo nos partidos portugueses (%) . . . 134 4.3 Intensidade de participação por partido e tipo de estrutura (%) . . . . 135 4.4 Ativismo nos partidos portugueses . . . 137 4.5 Análise de componentes principais (variável «índice de participação») 140 4.6 Caracterização das variáveis em análise . . . 142 4.7 Resultados de regressão linear para a variável dependente
«índice de participação» . . . 143 4.8 Determinantes de diferentes tipos de participação partidária . . . 145 4.9 Análises de componentes principais (ACP) das atividades
conduzidas no quadro do partido . . . 151 5.1 Temas socioeconómicos e socioculturais: inquérito aos filiados . . . 166
5.2 Diferenças no posicionamento ideológico dos filiados: comparações
múltiplas . . . 172
5.3 Coesão intrapartidária nos temas socioeconómicos e culturais (desvio-padrão) . . . 172
5.4. Determinação de autoposicionamento na escala esquerda-direita: análise multivariada . . . 176
5.5 Codificação das variáveis . . . 181
5.6 Características da escala esquerda-direita socioeconómica . . . 181
5.7 Características da escala GALTAN . . . 182
6.1 Grau de inclusividade do selectorate . . . 198
6.2 Experiência partidária dos militantes (% que concorda ou discorda de cada uma das afirmações) . . . 201
6.3 Índice de participação em atividades político-partidárias, por partido . 204 6.4 Índice de participação em atividades político-partidárias, de acordo com a experiência partidária dos militantes . . . 206
7.1 Perfis do conjunto dos filiados (PS, PSD e CDS-PP) . . . 222
7.2 Perfis dos filiados (covariáveis) . . . 225
7.3 Perfis dos filiados – PS . . . 228
7.4 Perfis dos delegados – PSD . . . 230
7.5 Perfis dos delegados – CDS-PP . . . 232
7.6 Estimativas dos parâmetros do modelo com duas componentes (PS, PSD, CDS-PP) . . . 239
7.7 Estimativas dos parâmetros do modelo com duas componentes (covariáveis) . . . 243
8.1 Critérios/condicionamentos à filiação partidária – visão geral comparativa (N = 77) . . . 251
8.2 Direitos e obrigações dos filiados – visão geral comparativa . . . 253
8.3 Perfil social dos filiados – visão geral comparativa (N = 57) . . . 258
Figuras
1.1 Evolução da militância em Portugal 1974-2014 . . . 602.2 Evolução do rácio F/E, 2000-2014 . . . 72 2.3 Classificação da resposta dos partidos políticos . . . 73 4.1 Distribuição da variável «índice de participação» . . . 140 5.1 Posicionamento na escala esquerda-direita: congruência entre
filiados e partidos . . . 165 5.2 Diferenças entre as posições dos filiados face a questões
socioeconómicas . . . 168 5.3 Diferenças entre as posições dos filiados face a questões socioculturais 169 5.4 Posicionamento dos militantes nos eixos esquerda-direita
socioeconómica e GALTAN . . . 171 6.1 Procedimento para a escolha do líder (%) . . . 203 6.2 Satisfação com a influência exercida no partido (%) . . . 203
Os autores
Anika Gauja é professora no Departamento de Governo e Relações
Internacionais, na Universidade de Sydney. A sua investigação incide sobre a transformação organizacional de partidos políticos em resposta a mudanças sociais. Tem várias publicações sobre partidos políticos na Austrália e no Reino Unido.
Bruno Ferreira Costa é doutorado em Ciências Sociais, na
especiali-dade de Ciência Política, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), e tem desenvol-vido investigação na área da qualidade da democracia, sistemas políticos e eleitorais e participação política. Atualmente é professor auxiliar da Universidade da Beira Interior (UBI) e diretor do mestrado em Ciência Política nesta Universidade.
Edalina Rodrigues Sanches é investigadora de pós-doutoramento em
Ciência Política no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lis-boa (ICS-UL) e no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI--UNL). É ainda professora auxiliar convidada no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Recebeu o prémio de melhor tese de doutoramento da As-sociação Portuguesa de Ciência Política (2014-2016) pela investigação
Ex-plaining Party System Institutionalization in Africa: From a Broad Comparison to a Focus on Mozambique and Zambia. Os seus interesses de pesquisa
in-cluem democratização, instituições e atitudes políticas em novas demo-cracias, com foco em África.
Ekaterina Gorbunova é doutoranda em Política Comparada no
Ins-tituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e bolseira de investigação no Instituto Português das Relações Internacio-nais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). A sua investigação
tem-se centrado na democratização e qualidade da democracia, atitudes políticas e cultura política, estudos europeus, governação global e desen-volvimento das políticas de educação. Recentemente, publicou «Portu-guese citizens support for democracy 40 years after the carnation revo-lution» (South European Society and Politics), em coautoria.
Emilie van Haute é professora na Université Libre de Bruxelles (ULB)
e membro do Centre d’étude de la vie politique (Cevipol). É doutorada pela ULB (2008) e foi bolseira de pósdoutoramento pela fundação Fran -cqui (Universiteit Antwerpen) e FNRS (University of British Columbia). As suas áreas de investigação incluem a militância partidária, dinâmicas intrapartidárias, participação, eleições e comportamento eleitoral.
Isabella Razzuoli é doutoranda em Política Comparada pelo Instituto
de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). Na sua disser-tação analisa o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD) do ponto de vista da distribuição do poder interno e da relação entre a estrutura nacional e as estruturas no território. Os seus principais inte-resses de investigação incluem partidos políticos, democracia intraparti-dária, financiamento da política e relação partidos-grupos de interesses.
Jaime R. S. Fonseca é doutorado em métodos quantitativos (Statistics
and Data Analysis) pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE-Business School-IUL). Atualmente éprofessor auxiliar com agregação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), docente nos três ciclos de es-tudos da área das Ciências da Comunicação e investigador no Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP/Ulisboa), onde coordena o grupo de investigação «Sociedade, Comunicação e Cultura». Os seus interesses incluem a aplicação dos métodos mistos de investigação às Ciências Sociais, nomeadamente aos aspetos da comu-nicação.
João Cancela é doutorando em Ciência Política na Faculdade de
Ciên-cias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Atualmente é também docente assistente convidado na FCSH-UNL e na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (EEG-UM). As suas áreas de interesse são a participação eleitoral, o envolvimento político, os partidos e a democracia.
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
Júlio Fazendeiro é licenciado em Ciência Política e Relações
Interna-cionais pela Universidade da Beira Interior (UBI). Atualmente é douto-rando em Política Comparada no Instituto de Ciências Sociais da Uni-versidade de Lisboa (ICS-ULisboa) onde desenvolve uma investigação sobre a filiação partidária. Os seus interesses de investigação incluem par-tidos políticos, eleições e atitudes políticas.
Marco Lisi é professor auxiliar no Departamento de Estudos Políticos
da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e investigador no Instituto Português das Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). Os seus principais interesses de investigação são partidos políticos, eleições, re-presentação política e campanhas eleitorais, sobre os quais tem publicado vários livros e artigos em revistas nacionais e internacionais.
Paula do Espírito Santo é professora auxiliar com agregação no
Ins-tituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), e investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP-ULisboa). Colabora ainda como docente em ou-tras universidades nacionais e no estrangeiro. As suas áreas de investiga-ção e interesse centram-se no estudo da cultura política e filiainvestiga-ção parti-dária, para além da comunicação política e metodologia das ciências sociais. Entre as últimas contribuições de Paula do Espírito Santo está a obra com edição conjunta de Rita Figueiras (2016), Beyond Internet –
Un-plugging the Protest Movement Wave, Routledge.
Rita Figueiras é doutorada em Ciências da Comunicação pela
Uni-versidade Católica Portuguesa (UCP), onde é coordenadora do programa de doutoramento em Ciências da Comunicação e docente nos três ciclos de estudos da área das Ciências da Comunicação. É Membro da Direção do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Ca-tólica Portuguesa (CECC-UCP).
Sérgio de Almeida Correia é licenciado em Direito, na menção de
Ciências Jurídico-Políticas, da Universidade de Lisboa (FDL-ULisboa) (1985), e mestre em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE--IUL) (2003), onde é atualmente doutorando de Ciência Política. Advo-gado de profissão, é colaborador regular da imprensa de Macau e um dos membros permanentes do programa de análise política internacional
Os autores
da TDM-Rádio Macau. É autor do blogue «Visto de Macau» e coautor do blogue «Delito de Opinião».
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
Júlio Fazendeiro
Capítulo 2
O declínio da filiação partidária
em Portugal: respostas e estratégias
das lideranças partidárias
Introdução
O declínio da densidade da filiação nos partidos políticos nas diferen-tes democracias europeias1é, hoje em dia, um facto inegável. Os
dife-rentes estudos mostraram isso mesmo: a era dos partidos de massas, se é que alguma vez existiu, terminou (Katz et al. 1992; Mair e Van Biezen 2001; Delwit 2011; Van Biezen, Mair e Poguntke 2012). Apesar de a Lei Fundamental portuguesa oferecer aos partidos políticos a organização e a expressão da vontade popular,2Portugal não é exceção neste cenário
(Lopes e Freire 2002, 56-61; Martins 2004, 561-600; Jalali 2007, 84; Lisi 2011, 85-86) e segue a tendência de declínio nos seus números de filiados nas organizações partidárias.
Esta perda de filiados pode não causar estranheza e até foi colocada sob estudo logo no início deste século (Dalton e Wattenberg 2000),3no
entanto a problemática reside na própria definição de partido político. À pergunta «O que é um partido político?» vislumbra-se uma resposta de simples alcance, no entanto, quando se tenta materializá-la, a mesma não é simples, não existe uma definição clara e consensual do que é um partido. Esta definição não é una nem atomizada, ela é sim um tructo. Apenas pela junção de diversas partes individuais é possível cons-truir uma definição, sendo que esta não pode, nem deve ser, única, mas
69
1Existem algumas exceções, tais como as democracias espanhola, grega e algumas das
novas democracias de leste.
2N.º 2 do artigo 10.º da Constituição da República Portuguesa.
3Ver em especial o capítulo 5, da autoria de Susan Scarrow (2000), Parties Without
sim uma definição evolutiva. Não obstante, há um mínimo denomina-dor comum que se pode utilizar: um partido político é um conjunto de diversas partes as quais partilham o objetivo de captura e exercício do poder.4É nestas partes que o declínio da filiação pode apresentar
pro-blemas para as organizações partidárias, onde a perda de filiados pode colocar em causa as suas funções e consequentemente o seu objetivo. Particularmente e no caso português, onde a forma como a lei condiciona a atuação dos partidos políticos desde a sua formação, impondo o seu modo de organização, constringindo a sua vida interna e indicando a forma de competição interna e externa, comporta uma necessidade ab-soluta de membros. Tal perda de filiação pode, agora, colocar em causa o papel que a Constituição portuguesa reserva aos partidos políticos, o da organização e veículo da vontade popular.
Assim reveste-se de absoluta importância averiguar se, e de que forma, os partidos políticos portugueses têm respondido a este declínio.
O declínio em Portugal
Para medir a densidade da filiação, o indicador mais apropriado será o rácio entre os filiados e o eleitorado (F/E), aquilo que Morlino (1998) indica como a capacidade que as organizações partidárias têm para «en-capsular» parte do eleitorado. Este indicador, ao utilizar um rácio que apenas depende do eleitorado, não sofre qualquer viés em consequência dos resultados eleitorais que os partidos obtêm nas diferentes eleições a que se submetem.
Desde a sua transição para a democracia, Portugal apresenta baixos ní-veis de filiação partidária quando comparado com os restantes países eu-ropeus,5no entanto, em 1999 o seu F/E assistiu a uma quebra que o
co-locou em valores idênticos aos do início da sua democracia.
Analisando a evolução do número total de filiados dos partidos6(ver
o quadro 2.1 e a figura 2.1) que observam representação parlamentar, de imediato se constata que entre os anos 2000 e 2014 há uma quebra de cerca de 18% no número total de membros. O número total passou de 356 229 para 293 485, ou seja, em 14 anos estes partidos perderam 62 814
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
70
4Ver mais em John Kenneth White (2006).
5Não obstante, até aos anos 90 Portugal era aquele que entre as democracias do Sul
da Europa apresentava o maior F/E – para mais, consultar Lisi (2011, 76-86).
6Não se inclui o Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV) porque o mesmo apenas
for-neceu dados sobre a densidade da sua filiação em janeiro de 2013, onde indicou um total de 5300 membros, o que torna a sua análise ineficaz.
filiados. Apesar de ser conhecido o problema que acompanha todos os estudos que envolvem dados quantitativos de filiação partidária,7este
re-sultado significa que há um efetivo declínio da filiação partidária em Por-tugal. A mesma conclusão se pode retirar da análise do rácio F/E onde em 2000, e recorde-se após uma quebra que colocou este valor ao nível dos registados no início da democracia portuguesa, o rácio registado em 2000 era de 4,08% e em 2014 era de apenas 3,10% (ver a figura 2.2).
Esta realidade não será desconhecida para as lideranças das organiza-ções partidárias, logo, será de esperar que as mesmas aquando das suas reuniões se debrucem sobre esta questão. Mais, é expectável que a sua resposta e a sua estratégia estejam vertidas nos textos de orientação do partido. Assim os congressos realizados deverão receber uma atenção es-pecial, já que é aí que se desenvolve toda a discussão interna entre as elites partidárias e onde são aprovados os documentos que sustentam a estratégia de ação da organização.
O declínio da filiação partidária em Portugal
71
7No caso português já Martins (2004, 562-565) tinha alertado para a falta de qualidade
de rigor nos dados que os partidos fornecem.
Quadro 2.1 – Evolução da densidade da filiação (números absolutos), 2000-2014
Ano Eleitores Filiados FlE BE CDS-PP PCP PS PSD
2000 8 725 614 356 299 4,08% 1000 11 894 131 504 124 611 87 290 2001 8 718 382 348 394 4,00% 2000 12 843 118 003 122 548 93 000 2002 8 693 838 292 979 3,37% 3000 14 112 104 502 66 917 104 448 2003 8 712 895 302 350 3,47% 5035 15 470 91 001 74 949 115 895 2004 8 776 703 296 343 3,38% 5118 16 356 77 500 75 949 121 420 2005 8 819 168 301 771 3,42% 5200 17 067 72 875 90 629 116 000 2006 8 820 899 323 402 3,67% 5900 17 579 68 250 89 000 142 673 2007 8 814 262 300 214 3,41% 7000 18 844 63 625 70 745 140 000 2008 9 489 839 290 877 3,07% 6700 19 686 59 000 52 491 153 000 2009 9 398 585 297 098 3,16% 7350 21 129 59 371 55 887 153 361 2010 9 454 651 284 358 3,01% 8000 23 464 59 742 61 664 131 488 2011 9 481 597 286 479 3,02% 8311 27 665 60 113 68 065 122 325 2012 9 491 787 295 621 3,11% 8025 29 555 60 484 84 396 113 161 2013 9 498 652 296 002 3,12% 8645 31 885 58 933 88 652 107 887 2014 9 475 539 293 485 3,10% 9264 33 490 57 382 90 736 102 613 Fontes: Dados dos partidos; Mair e Van Biezen 2001; Martins 2004; Jalali 2007; Lisi 2009a; 2011; Van Biezen, Mair e Poguntke 2012. Os valores em itálico significam que nesses anos e nessas organi-zações partidárias não existiu qualquer informação acerca do seu número de filiados. Para efeitos de compreensão da tendência longitudinal, foram preenchidos esses valores atendendo aos dados for-necidos em ano anterior e posterior, atribuindo a diferença entre esses valores aos dados em falta. No caso do PCP e para os anos 2013 e 2014, a mesma operação foi realizando tendo em conta o número de filiados apresentado em 2016 no seu XX Congresso (54 280 filiados). Os valores do número de eleitores dizem respeito ao recenseamento eleitoral realizado e publicado em Diário da República com data de referência a 31 de dezembro de cada ano, exceto os valores respeitantes aos anos 2000, 2001 e 2002 com datas de referência 20-11-2000, 21-1-2002 e 30-12-2002, respetivamente.
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
72
Figura 2.1 – Evolução da densidade da filiação (números absolutos), 2000-2014
Fontes: Dados dos partidos; Mair e Van Biezen 2001; Martins 2004; Jalali 2007; Lisi 2009a e 2011; Van Biezen, Mair e Poguntke 2012.
180 000 160 000 140 000 120 000 100 000 80 000 60 000 40 000 20 000 0 2000 2001 1002 2003 2004 2005 2006 200 7 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 BE PCP PS PSD CDS
Figura 2.2 – Evolução do rácio F/E, 2000-2014
Fontes: Fontes: Dados dos partidos; Mair e Van Biezen 2001; Martins 2004; Jalali 2007; Lisi 2009a e 2011; Van Biezen, Mair e Poguntke 2012.
% 4,50 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0 2000 2001 1002 2003 2004 2005 2006 200 7 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Quadro analítico
Para aferir a resposta e a estratégia das organizações partidárias, recorre--se ao quadro analítico de Hilmar Mjelde (2013). Assim, as respostas dos partidos políticos serão classificadas perante três categorias: (i) Apatia; (ii) Consolidação; e (iii) Inovação. As categorias representam o que os
par-tidos fazem quando confrontados com o problema do declínio. Não fazem nada e enquadram-se na primeira categoria, se alguma ação é rea-lizada, consideram-se as outras duas categorias (ver a figura 2.3).
Apatia
Na categoria «apatia» não existe qualquer ação para deter a perda dos membros por parte da organização, seja esta ação deliberada ou não. Caso não seja deliberada, estará de acordo com a ideia que os últimos estudos acerca da filiação apresentam onde, «a maioria dos partidos, aquando da recolha de dados sobre a densidade da filiação, não se mos-tram preocupados com os seus números, ao invés estão mais focados em chegar ao público através de campanhas e técnicas de marketing profis-sionais»8(Van Biezen, Mair e Poguntke 2012, 40).
Já Kirchheimer (1966) previa que a modernização das campanhas, onde estas se tornam mais centradas nos media e com menos necessi-dade de mão de obra voluntária, conduziria os partidos ao abandono das suas bases organizacionais, o que levaria à centralização das decisões no líder. Neste sentido, diversos estudos mostraram a alteração que as campanhas sofreram no que concerne à mediatização e
profissionaliza-O declínio da filiação partidária em Portugal
73
8Tradução livre do autor, no original: «Nonetheless, as is evident when one tries to
gather data on membership levels, the large majority of parties seem relatively uncon-cerned about their memberships and are instead much more focused on reaching out to the wider public through professional campaigning and marketing techniques.»
Figura 2.3 – Classificação da resposta dos partidos políticos
Resposta da organização partidária
Fonte: Adaptado de Mjelde (2013).
Apatia
Consolidação
ção (Blumen thal 1982; Mair 1998; Farrel e Webb 2000; Norris 2000; Ornstein e Mann 2000; Schmitt-Beck e Farrell 2002; Farrel 2006; Se-metko 2006). Desta forma, a organização local onde reside a força dos membros é suplantada (Mancini e Swanson 1996). Acresce que os sub-sídios estatais também alavancaram esta transformação (Nassmacher 1989; Fogg, Molutsi e Tjernström 2003; Casas-Zamora 2005). Pode afir-mar-se, em linha com as investigações de Robert Harmel e Kenneth Janda (1994) e de Robert Goodin (1996), que os partidos são organiza-ções muito pesadas que apenas alteram o seu comportamento se algum evento exógeno o precipitar.
Neste contexto, será correto afirmar que nesta categoria a perda de fi-liados pode ser encarada por parte da liderança como marginal e sem im-portância, já que a organização terá outras formas de desenvolver a sua ação na arena política.
Consolidação
Nesta categoria existe a intenção, por parte da liderança, de deter, ou mesmo reverter, a perda de filiados. Para tal recorrem aos meios tradicio-nais associados aos partidos políticos, nomeadamente a campanhas de recrutamento, e aumentam os procedimentos de manutenção da filiação. Ou seja, observar-se-á um líder que, alarmado com as perdas, decide atuar para recrutar filiados sem descurar a manutenção dos existentes.
Nesta dimensão prevalece, em primeiro lugar, a ideia de que os filiados assumem funções muito valiosas para os partidos: mão de obra para as campanhas; difusores da mensagem distribuindo flyers e programas; ba-tendo às portas em representação do partido, etc. (Duverger 1970; Katz 1990, 149-151; Scarrow 1996, 44). Em segundo lugar, existe recrutamento de membros para cargos internos ou políticos (públicos) (Katz 1987; Sundberg 1987). Na maioria das democracias parlamentares os partidos políticos detêm o monopólio no acesso ao cargo político (Marsh e Gal-lagher 1988; Norris 1997, 192), Portugal, através da sua Constituição, está em linha com este cenário. Acresce que nos EUA e nalgumas democra-cias semipresidenciais, observa-se muitas vezes o recrutamento de não--membros para o cargo político (Von Beyme 1985, 368; Strøm 2000). Também a patronagem partidária alavanca este comportamento, onde o partido encontra uma agenda que extravasa as posições políticas da so-ciedade civil ou de empresas sobre o controlo político (Katz e Mair 1994), embora haja cada vez mais esforços para reduzir este aspeto (Strøm 2000). Uma terceira ideia é a de que são os militantes os responsáveis pelo
fi-Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
nanciamento (Nassmacher 2003). Em quarto lugar, os filiados alavancam o voto nos partidos, sendo que estes são mais fiéis, votam com mais re-gularidade e com maior consistência, que aqueles que não são membros (Verba, Kim e Nie 1978, 153-156). Logo, a filiação correlaciona-se clara-mente com a estabilidade eleitoral (Poguntke 2002, 58). Para além disto, os membros dos partidos fornecem aos seus partidos benefícios que vão para além da sua existência, onde, como Scarrow (1996, 43) indica, podem ser verdadeiros embaixadores do partido na sua comunidade onde se transformam em multiplicadores de voto. Para determinadas ca-racterísticas sociais poderá servir para atrair determinados segmentos da sociedade, por exemplo os jovens, as mulheres, os pensionistas ou mi-norias étnicas (Scarrow 1996, 42; 2002, 84). Finalmente, em quinto lugar, existirá o entendimento de que os filiados servem de indicador para as raízes que os partidos apresentam em determinada sociedade, sendo que a filiação será a âncora ou a ligação (Beer 1969; Katz 1990, 152). A este respeito, Susan Scarrow (1996, 46) indica que uma densidade de filiação de tamanho apresentável servirá para atrair um apoio popular alargado. Sendo que a autora indica que no cenário de declínio é a ligação à socie-dade que mais preocupa o partido (1996, 83).
Ou seja, a «consolidação» acontece quando os líderes partidários con-sideram os filiados como peça fundamental na competição eleitoral, ou numa das outras formas descritas anteriormente.
Inovação
A «inovação» incluirá as estratégias que envolvem os cidadãos sem os transformar em filiados. Esta visão partilha da pouca necessidade de fi-liados na organização, que a perspetiva de «apatia» organizacional apre-senta. No entanto, difere no sentido em que considera que os membros devem ser substituídos por ligações alternativas à sociedade civil, ou, dito de outra forma, ao ambiente externo.
Esta ideia de seduzir a sociedade civil sem que seja considerada a ideia de filiação poderá significar que os membros ideologicamente orientados são uma ameaça para os líderes que apenas procuram os votos (May 1973; Katz 1990). No entanto, esta hipótese não foi, até hoje, corrobo-rada pelos estudos empíricos já realizados.9Outros chegam a indicar que
são os membros os mais programáticos (Kitschelt 1994) e os líderes
aque-O declínio da filiação partidária em Portugal
75
9Ver por exemplo o trabalho de Herbert Kitschelt (1989) ou o de Paul Whiteley et al.
les mais fanáticos (Norris 1995). De outra perspetiva os líderes estarão mais conscientes da ideia de que os cidadãos não querem filiar-se num partido político (Scarrow 1996, 8; Dalton e Wattenberg 2000, 3-16).
Perante este cenário, há um novo modelo de organização partidária que mistura o de massas com o de quadros, um desenvolvimento reali-zado a partir do «Partido Moderno de Quadros» de Koole (1994) que levou Knut Heidar a apresentar o seu «Partido em Rede» (Heidar 2001 in Heidar e Saglie 2003, 221-224). Neste «Partido em Rede» (Network Party) a liderança é profissional e funciona numa estrutura de um partido de fi-liados. Os membros ainda são necessários para fornecerem o aparelho da organização, mas o rácio membro/eleitor é menor. A novidade do mo-delo é que o desenvolvimento da política e o recrutamento do líder são realizados em redes informais paralelas à organização de filiados.
Ou seja, a «inovação» é tudo aquilo que seja desenvolvido para criar novas arenas de interação com a sociedade civil sem que seja considerada a qualidade de filiação.
Resposta dos partidos
Para aferir a resposta das organizações partidárias portuguesas, foram selecionados os documentos que os partidos aprovam nos seus congres-sos.10Estes documentos são apelidados de Moções Globais, Documentos
de Estratégia Global ou ainda de Resolução Política. Na realidade, são documentos que indicam o plano de ação, a estratégia, da organização partidária para o seu futuro.
O período de análise inicia-se no ano 2000 e termina em 2014, pois foi aqui que os resultados do rácio F/E voltaram a apresentar valores idênticos aos do início desta jovem democracia. É neste período que o declínio na filiação partidária se acentua chegando a níveis recorde. Os partidos sob análise são aqueles que obtiveram representação na Assem-bleia da República durante este período:11Bloco de Esquerda (BE),
CDS--Partido Popular (CDS-PP), Partido Comunista Português (PCP), Partido Socialista (PS) e Partido Social Democrata (PSD).
Nos cinco partidos que neste período de tempo obtiveram presença na Assembleia da República foi possível analisar 44 documentos, número equivalente à quantidade de congressos realizados por estes partidos (ver
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
76
10No caso do BE, convenções. 11Ver a nota 6.
o quadro 2.2). Nos casos do BE,12CDS-PP13e PS14foram analisados
nove documentos, já do PCP15apenas quatro foram alvo de estudo, e
finalmente e com o maior número, o PSD16viu 13 documentos serem
O declínio da filiação partidária em Portugal
77
122000 – I Convenção; Moção «Novos Tempos, Nova Esquerda»; 2001 – II
Conven-ção: Moção «Para a clarificação política do país»; 2003 – III ConvenConven-ção: Moção «Da po-lítica da crise à popo-lítica do socialismo»; 2005 – IV Convenção: Moção «O Bloco como Alternativa Socialista»; 2007 – V Convenção: Moção «A Esquerda Socialista como Al-ternativa ao Governo Sócrates»; 2009 – VI Convenção: Moção «Toda a Luta da Esquerda Socialista para 2009»; 2011 – VII Convenção: Moção «Juntar forças pelo emprego e con-tra a bancarrota»; 2012 – VIII Convenção: Moção «A esquerda concon-tra a dívida»; 2014 – IX Convenção: Moção «Moção Unitária em Construção».
132000 – XVII Congresso: Moção «Um Partido de causas, uma política de resultados»;
2002 – XVIII Congresso: Moção «Portugal quer mudar: unir para vencer»; 2003 – XIX Congresso: Moção «Ao serviço de Portugal»; 2005 – XX Congresso: Moção «2009»; 2006 – XXI Congresso: Moção «2009b»; 2007 – XXII Congresso: Moção «Directos ao Futuro»; 2009 – XXIII Congresso: Proposta de Organização do Partido e de Revisão dos Estatutos; 2011 – XXIV Congresso: Moção «Mudar de Vida»; 2014 – XXV Congresso: Moção «Res-ponsabilidade e Identidade».
142001 – XII Congresso: Moção «PS – Uma aposta de futuro. Um PS aberto e
reno-vado. Um Portugal ganhador, moderno e solidário»; 2002 – XIII Congresso: Moção «Fazer bem pelo futuro»; 2004 – XIV Congresso: Moção «Uma esquerda moderna para os desafios do nosso tempo»; 2006 – XV Congresso: Moção «O Rumo do PS: Moderni-zar Portugal»; 2009 – XVI Congresso: Moção «PS: A Força da Mudança»; 2011 – XVII Congresso: Moção «Defender Portugal, Construir o Futuro»; 2011 – XVIII Congresso: Moção «O Novo Ciclo para Cumprir Portugal»; 2013 – XIX Congresso: Moção «Portugal tem futuro»; 2014 – XX Congresso: Moção «Mobilizar Portugal».
152000 – XVI Congresso: Resolução Política; 2004 – XVII Congresso: Resolução
Po-lítica; 2008 – XVIII Congresso: Resolução PoPo-lítica; 2012 – XIX Congresso: Resolução Política.
162000 – XXIII Congresso: Moção «Linha de Rumo»; 2002 – XXIV Congresso: Moção
«Em nome do futuro»; 2004 – XXV Congresso: Moção «Portugal: verdade e mudança»; 2004 – XXVI Congresso: Moção «Tempo Novo»; 2005 – XXVII Congresso: Moção «Por-tugal quer um PSD forte»; 2006 – XXVIII Congresso: Proposta de alteração dos estatutos «Letra A – Comissão Política Nacional»; 2006 – XXIX Congresso: Proposta de Estratégia Global «Credibilidade para vencer»; 2007 – XXX Congresso: Moção «Ganhar Portugal»; 2008 – XXXI Congresso: Moção «Reafirmar os princípios, Ganhar Portugal!»; 2010 – XXXII Congresso: Moção de alteração de estatutos de Pedro Santana Lopes; 2010 – XXXIII Congresso: Moção «Portugal Primeiro»; 2012 – XXXIV Congresso: Proposta de Estratégia Global «Governar para a mudança e abrir o horizonte do futuro»; 2014 – XXXV Congresso: Moção «Portugal acima de tudo».
Quadro 2.2 – Congressos/Convenções realizados
Partido Congressos (anos em que se realizaram) Total BE 2000 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2012 2014 9 CDS-PP 2000 2002 2003 2005 2006 2007 2009 2011 2014 9 PCP 2000 2004 2008 2012 4 PS 2001 2002 2004 2006 2009 2011 2011 2013 2014 9 PSD 2000 2002 2004 2004 2005 2006 2006 2007 2008 2010 2010 2012 2014 13
sujeitos a análise. A análise de conteúdo foi utilizada de forma a classi-ficá--los conforme o quadro analítico descrito anteriormente. A classifi-cação é realizada de forma binária e exclusiva, onde cada documento apenas pode pertencer a uma categoria («apatia», «consolidação» ou «ino-vação»). Neste sentido, os documentos que não mencionem a perda de filiados ou a necessidade de recrutamento de novos são considerados como uma estratégia de «apatia» organizacional. Por outro lado, caso a filiação seja mencionada e se alguma estratégia de recrutamento ou ma-nutenção for considerada, sendo que a estratégia passe por recorrer a algum método clássico de operação, como são as campanhas de recruta-mento em jantares, palestras, em contacto pessoal, etc., estes docurecruta-mentos são entendidos como uma estratégia de «consolidação» organizacional por parte da liderança partidária. Finalmente, se os documentos analisa-dos apresentarem métoanalisa-dos inovadores de envolver os cidadãos na ativi-dade da organização partidária sem que seja necessária a sua filiação, assim como a existência de preocupação por parte da liderança em criar novos ambientes de participação sem colocar a condição de filiado como fator de inclusão ou exclusão, os documentos são entendidos como es-tratégias de «inovação» organizacional.
Resultados
Dos documentos analisados, 44 no total, 15 estão orientados para a «apatia» organizacional, 14 para a «consolidação» e 15 para a «inovação» (ver o quadro 2.3). A primeira conclusão que se pode retirar é que as or-ganizações partidárias sob estudo optaram na sua maioria neste período por um tipo de ação, onde 72,8% das orientações emanadas visam a «consolidação» ou a «inovação». Em minoria, mas com um resultado que se pode considerar bastante expressivo, 27,2%, a «apatia» foi a orien-tação dada (ver o quadro 2.3). No entanto, os partidos analisados mos-traram distintos comportamentos.
Bloco de Esquerda
O BE nasceu na Assembleia Fundadora de 28 de fevereiro de 1999 e viu autorizada pelo Tribunal Constitucional (TC) a sua inscrição como partido político a 24 de março de 1999,17e ainda nesse mesmo ano
con-correu a dois atos eleitorais, as eleições europeias decorridas em junho e
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
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as legislativas de outubro, tendo nas últimas conseguido uma represen-tação parlamentar de 2 deputados com um resultado de 2,46%. Quando realizou a sua primeira Convenção Nacional, no final de janeiro de 2000, já o partido ocupava lugar na Assembleia da República. Assim, a sua I Convenção serviu basicamente para aprovar os estatutos definitivos, já que os provisórios entregues no TC previam a realização da Convenção até um ano após a legalização do partido.18Nesta reunião, para além da
aprovação dos estatutos, foi apresentada e aprovada a Resolução Política intitulada «Novos Tempos, Nova Esquerda» da autoria da Comissão Pro-motora eleita na Assembleia Fundadora. Este documento estava orien-tado para uma «apatia» organizacional, onde a preocupação com a filia-ção não existia, apenas estando latentes preocupações de natureza organizativa que consistiam em «privilegiar o papel do ativismo político e social não profissionalizado» e a indicação de que o partido teria «ati-vistas profissionalizados na equipa central» e que estes deveriam «estar em minoria nos Órgãos de decisão». Ou seja, a preocupação era em or-ganizar e manter o equilíbrio de poderes dentro do partido.
No entanto, as outras convenções que se seguiram, mais oito, todas elas observaram nos documentos finais aprovados uma orientação para a «consolidação» organizacional. Poder-se-á afirmar que tal não constitui uma surpresa para um partido que acaba de nascer e que logo no seu se-gundo documento aprovado o texto não deixava dúvidas para o futuro: «O aumento do número de aderentes ao Bloco é fundamental para o crescimento desta esquerda, para a maturação da capacidade de alterna-tiva e para o reforço da movimentação social.»19Esta posição era também
O declínio da filiação partidária em Portugal
79
18Nos estatutos provisórios entregues no TC a designação é «movimento», pois o BE
sempre se assumiu como um movimento e não como um partido político (instituição que não consideravam adequada para representar os interesses dos cidadãos), no entanto e devido às exigências do normativo legal, o termo «partido» teve de ser obrigatoriamente incluído (para mais, consultar Lisi 2009b, 132-133).
Quadro 2.3 – Estratégias organizacionais (número absoluto e percentagem dos documentos analisados)
Partido Documentos Apatia Consolidação Inovação
BE 9 1 (11,1%) 8 (88,9%) CDS-PP 9 5 (55,6%) 2 (22,3%) 2 (22,2%) PCP 4 4 (100%) PS 9 9 (100%) PSD 13 9 (66,7%) 4 (33,3%) Total 44 15 (34,1%) 14 (31,8%) 15 (34,1%) Média % 27,2% 42,2% 30,6%
reveladora do crescimento que o BE estava a experimentar, pois embora não estivesse no governo viu muitas das suas exigências serem satisfeitas, já que durante a legislatura do XIV Governo Constitucional, o BE utili-zou a sua posição para negociar diversas exigências, fazendo assim que muitas delas fossem atendidas.20 Porém, a II Convenção21 era clara
quanto à forma como os filiados22obtinham os seus direitos de
partici-pação e que, apesar da génese do BE e do discurso que tinha sido pro-palado, as regras de participação não eram assim tão distintas dos outros partidos políticos, onde a eleição dos 622 delegados à Convenção tinha sido realizada mediante votação em 31 assembleias eleitorais «de acordo com cadernos eleitorais elaborados centralmente onde constavam todos os inscritos no Bloco, ganhando cada um dos aderentes capacidade elei-toral cativa após ter sido cumprida a exigência estatutária do pagamento da contribuição anual».23
Após obter nas eleições autárquicas de 2001 um resultado assinalável24
e de ver reforçada nas eleições legislativas de 2002 a sua posição na As-sembleia da República, passando de 2 para 3 deputados, o BE realizou a sua III Convenção. O partido contava em 2003 com 5035 filiados, um crescimento extraordinário tendo em conta que em 2000 o número de-clarado era de 1000 filiados. Foi em 2003 que surgiram pela primeira vez duas listas candidatas aos órgãos, espelho das divisões internas que o par-tido experimentava. Nesta convenção foi dada uma atenção especial, ainda que num quadro de «consolidação», para a qualidade da filiação: «reforço do papel das assembleias e coordenadoras distritais, para pode-rem ser base da democracia, da informação de proximidade e da partici-pação direta dos aderentes nos debates e nas decisões, e dos grupos de trabalho que auto-organizam os aderentes para determinadas atividades e para interesses específicos».25
Este discurso manteve-se. Apelava sobretudo ao diálogo e à necessi-dade de crescer. Esta necessinecessi-dade desembocou no reforço das
competên-Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
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19Moção «Para a clarificação política do país».
20Durante a legislatura do XIV Governo Constitucional, o BE ajudou o governo de
António Guterres na aprovação de diversas leis tendo, em contrapartida, influenciado a agenda política (para mais, consultar Freire e Lobo 2002, 226).
21Esta Convenção já foi realizada com os dados dos membros centralizados numa
base de dados criada em 2001 para melhorar a comunicação.
22No caso do BE o termo aplicado é «aderente».
23Acta do II Congresso presente no Processo n.º 37-PP do TC.
24O BE candidatou-se a 70 concelhos e conseguiu 6 mandatos (a presidência em
maio-ria absoluta da câmara de Salvaterra de Magos).
cias das assembleias e das coordenadoras distritais, e aquando da sua IV Convenção, em maio de 2005, após um resultado de 4,92% nas elei-ções europeias de 2004 que se traduziu na eleição de um deputado e de um resultado nas legislativas de 2005 que quase triplicou a sua presença no Parlamento, passando a deter 8 lugares, o desígnio mantinha-se e pas-sava por «criar uma nova cultura de organização, uma estrutura de tra-balho descentralizada e eficiente que responda à participação de milhares de aderentes, como reforço das estruturas distritais e concelhias democraticamente eleitas, que respondam à participação de milhares de ade -rentes».26Ainda nesta convenção foi aprovada a constituição de um novo
órgão, a Comissão Política, eleita pela Mesa Nacional, a qual teria um coordenador, na prática o líder do partido. De referir que entre as duas convenções e de forma a responder às exigências da III Convenção, o BE criou uma publicação mensal – o Esquerda – e apostou nas ferramen-tas de comunicação via internet. Tais ações não refletiram a tendência de crescimento na filiação que até aqui se verificava, tendo apesar de tudo crescido nos números, apresentando em 2005 5200 membros. A V Convenção decorreu em junho de 2007 e, apesar do bom resultado no refendo ao aborto,27a reunião magna do BE decorreu num ambiente
pautado pela fragmentação e pela crítica ao funcionamento interno da organização (concorreram quatro listas aos órgãos) e na moção política aprovada era notória a mensagem de apelo ao crescimento, mas sempre com a condição de filiado inscrita: «O Bloco deve estar aberto a milhares de aderentes, que sejam parte importante da parte ativa dessa força social, e é assim que se alargará e rejuvenescerá.»28Neste ano os números de
membros continuavam em crescente, e o BE tinha chegado aos 7000 membros.
A VI Convenção realizou-se em 2009 e o BE continuou a apresentar um crescimento, embora menor, nos números da filiação: detinha agora 7350 membros. Esta convenção antecedia três atos eleitorais, as Europeias em junho, as Legislativas em setembro e as Autárquicas em outubro. Por-tanto a preparação dos atos eleitorais foi o assunto dominante da Con-venção. A «consolidação» continuou a ser o caminho escolhido onde se reforçava a necessidade de continuar a realizar a organização de «mais aderentes e melhor[ar] os instrumentos de informação, de debate e de formação»29porque o BE necessitava «de ter muitos mais protagonistas
O declínio da filiação partidária em Portugal
81
26Moção «O Bloco como Alternativa Socialista».
27O BE defendia o «Sim» que acabou por vencer com 59,24% dos votos. 28Moção «A Esquerda Socialista como Alternativa ao Governo Sócrates». 29Moção «Toda a Luta da Esquerda Socialista para 2009».
da luta social e de mais capacidade de ação em movimentos, através dos seus eleitos, através dos coletivos concelhios e distritais e da intervenção juvenil».30O resultado dos três atos eleitorais de 2009 foi favorável às
as-pirações desta organização partidária. Nas Europeias conseguiu eleger três deputados, nas legislativas tornou-se no quarto partido mais votado com 9,82% e 16 deputados, já nas autárquicas atingiu os nove mandatos com uma presidência de câmara em maioria. Tais resultados não se tor-naram o foco da VII Convenção que se realizou em maio de 2011, pois, o BE juntamente com os outros partidos representados na Assembleia da República (CDS, PCP, PEV e PSD) tinham chumbado o PEC 4, o que levou à demissão em março desse ano do governo minoritário de José Sócrates. A organização contava agora com 8311 membros confir-mando a sua tendência de crescimento. Pela primeira vez surge nos do-cumentos a expressão «partido de massas»: a moção aprovada nesta Con-venção continua a apelar a uma estratégia de «consolidação» onde «só um movimento com muitos milhares de ativistas e dirigentes, capazes de animar uma campanha, de se candidatar a uma eleição, de organizar uma luta social, de apresentar proposta política, de estimular uma direção coletiva a todos os níveis, só com essa força será possível construir um partido de massas».31
A VIII Convenção teve lugar em novembro de 2012, e o partido apre-sentou pela primeira vez uma descida no seu número de filiados, ci-frando-se na altura pelos 8025, descida que não será imune ao resultado eleitoral obtido pelo BE no qual perdeu 8 deputados. Esta Convenção ficou marcada, com a eleição de João Semedo e de Catarina Martins, pela inauguração de uma liderança bicéfala que tinha sido proposta por Francisco Louçã na hora da sua despedida,32o que provocou uma lista
que se opunha a este cenário. Na moção aprovada na Convenção, o ca-minho apontado continua a passar pela «consolidação», apela-se aos re-cursos tradicionais das organizações auxiliares onde se pretende recrutar mais membros:
[...] impõe-se maior empenho coletivo e individual, respeitando sempre a autonomia dos movimentos. No movimento das comissões de trabalha-dores (CT), aponta-se para a necessidade de uma rede nacional de CT. No sindical, que mais ativistas se candidatem a dirigentes e a delegado/as
sindi-Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
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30Ver a nota 28.
31Moção «Juntar forças pelo emprego e contra a bancarrota». 32Ver jornal Público de 17 de agosto de 2012.
cais. Incentivaremos a participação ativa e intervenção política dos/as ade-rentes na constituição destas redes, determinante para o alargamento do Bloco como partido de massas.33
Na última convenção sob análise, a IX, que decorreu nos dias 22 e 23 de novembro de 2014, o partido voltou a apresentar um crescimento nos seus números de filiados, apresentando 9264 membros. Nesta IX Con-venção a Mesa Nacional realiza, pela primeira vez, um relatório34no
qual faz uma resenha das atividades realizadas e indica o crescimento de 1239 no número de militantes. Na moção aprovada a estratégia organi-zacional continuou a ser a de «consolidação», onde se apela ao cresci-mento da organização através do recrutacresci-mento de mais membros:
O Bloco continua a ter pouca implantação local e autárquica. Tem hoje centenas de eleitos locais, mas organizações com níveis desiguais de estrutu-ração. [...] É necessário corrigir o desequilíbrio de género na base do Bloco, estudando formas de aumentar a filiação de mulheres, bem como modos de organização (horários das reuniões, guarda das crianças, etc.) e integra -ção de novas militantes.35
Partido do Centro Democrático e Social
No caso do CDS-PP, este partido realizou nove congressos no período em análise. Em 2000, aquando da realização do seu XVII Congresso, o CDS-PP apresentava 11 894 membros.36No XVII Congresso a moção
política aprovada estava orientada para uma «consolidação» organizacio-nal onde se instigava um voltar a uma cultura de militância que, aparen-temente, o partido já tinha tido no passado: «Há, como se disse, uma condição prévia para enfrentar esses combates eleitorais: a nossa própria organização, que tem de mudar, desde a direção do Partido até à conce-lhia mais interior, desde o testemunho dos dirigentes até à cultura de mi-litância a que temos de regressar.»37
O declínio da filiação partidária em Portugal
83
33Moção «A esquerda contra a dívida».
34Relatório da Mesa nacional sobre o seu Mandato (2012–2014). 35Moção «Moção Unitária em Construção».
36A filiação no CDS-PP não está sujeita a qualquer pagamento de quota mensal, ou
de outro tipo. Este facto fará, provavelmente, que os números apresentados pelo partido sigam, desde sempre, uma tendência de aumento. Por outro lado, a atualização de dados realizada em 2008 (ver a nota 42) refez os totais anuais do número total de militantes do partido, sendo que o partido forneceu os dados para todos os anos sob análise.
Nas quatro seguintes é a «apatia» organizacional que se verifica. Du-rante este período esta organização parece mais preocupada com os seus problemas internos de liderança e com a sua identidade, do que com os números da sua filiação. Durante quatro congressos, as mensagens ver-tidas nas moções aprovadas seguem todas no sentido teórico do que é um partido, em vez de determinar tarefas a realizar. Em 2002, no seu XVIII Congresso, a discussão girou em volta da preparação das legislati-vas após a demissão do governo de António Guterres e, sobretudo, no diferendo que opunha Manuel Monteiro a Paulo Portas.38A preocupação
era em «consolidar o CDS-PP no campo da direita democrática e do cen-tro-direita, segundo o modelo de ‘um Partido credível, fiel aos princípios e moderado nas soluções’, como ‘o partido que, na área não socialista, recruta os melhores quadros e oferece a mais vasta qualificação’».39Não
existiu qualquer referência à filiação nem a qualquer estratégia para atrair mais membros, a «apatia» organizacional era a estratégia. Esta posição é esperada num partido como o CDS-PP, que conta com «indeterminação ideológica, importância da liderança, faccionalismo, juntamente com um enraizamento social e bases organizacionais fracas» (Jalali 2007, 130). Após este congresso o CDS-PP voltou, passados 20 anos, ao poder inte-grando o XV Governo Constitucional numa coligação com o PSD. O XIX Congresso, que se realizou com o CDS-PP no governo, não trouxe qualquer alteração quanto à estratégia; no entanto, o partido apre-sentava um crescimento bastante assinalável, contando já com 15 470 membros. O partido e o agilizar da sua organização ainda eram a preo-cupação: «Entrando em velocidade de cruzeiro como Partido de Go-verno, o CDS deve esforçar-se, do topo à base, para melhorar o funcio-namento dos seus órgãos internos, cuja regularidade no desempenho das respetivas competências é indispensável.»40
O XX Congresso realizou-se em 2005, numa altura em que o partido apresentava um crescimento para os 17 067 membros. Paulo Portas tinha abandonado a liderança41e Ribeiro e Castro com a sua Moção «2009»
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
84
38No CDS-PP a luta entre Monteiro e Portas marcou o final da década de 90 e o início
dos anos 2000. O último desafio aconteceu no XVIII Congresso quando Monteiro, pe-rante o mau resultado do CDS-PP nas eleições autárquicas de dezembro de 2001, desa-fiou a liderança de Portas e perdeu, tendo, em consequência, abandonado o CDS-PP.
39Moção «Portugal quer mudar: unir para vencer». 40Moção «Ao Serviço de Portugal».
41Paulo Portas tinha colocado o objetivo de 10% para as legislativas de 2005. O
CDS--PP apenas conseguiu 7,26%, o que se traduziu em 12 mandatos de deputado (nas eleições de 2002 o CDS-PP obteve 8,75% e 14 mandatos de deputado). Perante este resultado Paulo Portas apresentou a sua demissão na noite eleitoral de 20 de fevereiro.
conseguiu ganhar o Congresso. Esta sua moção focava-se essencialmente em questões organizativas e nada referia quanto à filiação. Em 2006 rea-liza-se o XXI Congresso, e Ribeiro e Castro que, entretanto, tinha sido eleito em eleições diretas, apresentou uma moção intitulada «2009b» que pouco aduziu à anterior, não se debruçando sobre a questão da filiação e mais preocupado com «novas tarefas internas de reorganização, de dina-mização de meios, de construção de novas estruturas de reflexão, debate e proposta política, novos espaços de relacionamento com a sociedade civil». Porém, em 2007, no seu XXII Congresso, Paulo Portas decide voltar a candidatar-se à Comissão Política Nacional com a Moção «Directos ao Futuro». Há uma alteração na orientação e encontra-se o apelo à «inova-ção». Paulo Portas abre as portas do partido indicando que «os militantes querem um Partido atual e não datado, aberto à sociedade e não fechado sobre si próprio, disponível para novos temas, e novas expectativas» e lança de imediato repto para novas adesões e especifica que «o Partido aproveitará todas as oportunidades de informação e discussão política através da internet. [...] Em paralelo com o trabalho organizativo, o Par-tido vai maximizar o recrutamento de quadros – verdadeiro penhor da sua credibilidade e prestigio na sociedade portuguesa». Esta viragem de-semboca em diversas alterações na forma de atuar do partido, nomeada-mente foi aprovado no Conselho Nacional de 24 de novembro de 2007 o «Regulamento da Actualização do Ficheiro de Militantes», esta ação conhecida por «Projecto Militância Activa»42que tinha terminus no final
do primeiro semestre de 2008.43Em 2009, no XXIII Congresso, o partido
conta com «mais de 18 000 militantes com dados actualizados»44e a
es-tratégia organizacional mantém-se na «inovação» onde é pretendido «aprofundar a iniciativa ‘Partido Aberto’, através do sítio do CDS-PP na internet. [...] Por outro lado o CDS-PP tem de organizar espaços de de-bate interno com abertura a independentes, que se possam aproximar do Partido. Para tal devem contribuir as acções de formação política, os
O declínio da filiação partidária em Portugal
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42O «Projecto Militância Activa» consistia em verificar e atualizar os dados de todos
os militantes presentes na base de dados central. Basicamente o processo resumia-se a que todos aqueles que respondessem ao contacto por parte da organização fossem con-siderados «Militantes activos», todos os outros seriam concon-siderados «Militantes não ac-tivos», ficando os últimos com os seus direitos e deveres suspensos. A qualidade de «Mi-litante activo» poderia ser recuperada a qualquer momento mediante comunicação escrita à Secretaria-Geral.
43Em resposta ao TC, numa carta datada de 4 de janeiro de 2008, o CDS-PP indicava
que possuía 45 239 militantes. Este número seria reduzido para cerca de 18 000 militantes após a atualização da base de dados de militantes.
gabinetes de estudos e os grupos de missão».45Nas eleições legislativas
de 2009 o CDS obteve uma votação de 10,43%, conseguindo 21 man-datos de deputado, o melhor resultado alguma vez conseguido.
O XXIV Congresso ocorreu no fim de semana após o chumbo PEC 4 e ainda sem ser conhecida a demissão do governo de José Sócrates, e tal-vez por isso não tenha existido muito debate acerca da preparação das eleições, que não eram esperadas. Debateu-se sobretudo o estado do país e não existiu qualquer referência quanto ao ganho ou à perda de filiação. Assim a estratégia inscrita na moção46ganhadora foi de «apatia». O facto
mais marcante deste congresso foi a vitória da proposta de alteração aos estatutos, apresentada pela Juventude Popular, que previa a eliminação do método de eleição do líder, eliminando o método de eleição direta.47
Nas eleições legislativas de 2011, o CDS-PP voltou a obter um resultado recorde com 11,70%, conseguindo aumentar o seu grupo parlamentar para 24 deputados. No final de 2011 o partido apresentava 27 665 mili-tantes.
Em 2014 o partido já tinha ultrapassado os 30 000 filiados,48e no seu
XXV Congresso, último sob análise, aprovou uma moção49que volta a
apontar a «consolidação» como o caminho a tomar.
Partido Comunista Português
Já pelo lado do PCP a «consolidação» foi sempre a orientação indicada nas suas Resoluções Políticas aprovadas nos quatro congressos que reali-zou. Esta coerência50aconteceu desde o XVI Congresso até ao XIX
Con-gresso, onde os documentos aprovados, para além de realizarem um ba-lanço da atividade desenvolvida pela organização, indicam todos um caminho de continuidade no recrutamento tradicional com a indicação de diversas atividades a realizar. Por meio, a organização, fruto de uma verificação da base de dados dos seus filiados, onde assistiu a um declínio nos seus números, manteve sempre a orientação para a «consolidação» da organização incentivando o aumento das ações ditas tradicionais de recrutamento de filiados, tendo em especial atenção os jovens.
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
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45Ver a nota 44.
46Moção «Mudar de Vida».
47Esta proposta foi aprovada numa votação que aconteceu de madrugada, quando a
maior parte dos congressistas já se tinha ausentado da sala onde decorria o congresso.
48No final de 2014 contava com 33 490 filiados. 49Moção «Responsabilidade e Identidade».
As orientações que se encontram na sua Resolução Política de 2000, aquando do XVI Congresso, tinham atenção especial ao rejuvenesci-mento da organização e indicavam que a «criação de novas células e o rejuvenescimento da organização partidária de sectores em que o Partido está organizado só são possíveis com o recrutamento de novos membros, em particular de jovens».51Para tal eram propostos métodos clássicos de
recrutamento, tais como «campanhas nacionais, regionais e sectoriais e outras formas de contacto com os trabalhadores [....] que tem como ob-jetivo central construir e reforçar a organização e intervenção partidárias nas empresas e locais de trabalho (criar novas células e fortalecer as exis-tentes, assegurar a presença do Partido nem que seja apenas com um mi-litante)»52e impunham esta ambição de reforço da organização partidária
como o objetivo do Congresso. À data, o PCP informava que possuía 131 504 filiados, sendo que a organização tinha sido reforçada em 5000 militantes desde o seu último congresso. Em 2004, o PCP encontrava-se numa situação distinta do último congresso, onde de terceira força polí-tica com 17 deputados tinha passado, após as eleições legislativas de 2002, para quarta força política com 12 deputados. O texto político apro-vado no congresso confirmava a estratégia organizacional de «consoli-dação», onde as preocupações com o reforço da organização indicavam que desde 2002, e no seguimento das diretrizes aprovadas no congresso anterior, estava a ser levada a cabo uma atualização de dados do ficheiro de militantes e que à data o partido contaria com 75 000 a 80 000 mem-bros. Este caminho teria de ser continuado e era imprescindível continuar e «intensificar o recrutamento de novos militantes (em particular operá-rios e outros trabalhadores, nomeadamente nos grandes sectores nacio-nais, jovens e mulheres), garantindo a sua integração».53
Após as eleições legislativas de 2005, o PCP voltou a ser a terceira força política com 14 deputados. Viu também o seu poder reforçado nas elei-ções autárquicas onde passou de 28 presidências de câmara, conseguidas em 2001, para 32 nas eleições autárquicas de 2005. No XVIII Congresso, realizado em 2008, a organização contava com cerca de 59 000 membros e estava ainda por esclarecer a situação de 44 000 inscritos. No do -cumento aprovado a estratégia de «consolidação» continuou a ser recei-tada, e além de fazer um resumo das ações realizadas que tinham levado ao recrutamento de mais de 7000 novos membros, apelava ao
«prosse-O declínio da filiação partidária em Portugal
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51Resolução Política aprovada no XVI Congresso. 52Ver a nota 51.
guimento do recrutamento de novos militantes, na base do trabalho re-gular e geral e de ações especiais (aos vários níveis), com prioridade para operários, jovens e mulheres, bem como dos ativistas que se destacam em movimentos de massas e a adoção de medidas para assegurar a sua integração partidária».54Em 2009, o partido, embora com mais um
de-putado eleito (15), tornou-se na quinta força mais votada e foi ultrapas-sada pelo BE. Não obstante, no último congresso em análise, o XIX, rea-lizado em 2012, é reafirmada a estratégia de «consolidação» e emana «orientações para o reforço da organização partidária».55Nesta data, o
partido indicava ter 60 484 membros, um aumento relativamente a 2008, o primeiro da década. Na Resolução Política é inscrito o recrutamento de 5800 novos membros e existe uma insistência na necessidade da «pro-moção do recrutamento de novos militantes como uma tarefa regular de todas as organizações e militantes»56através de ações tradicionais no PCP.
Partido Socialista
O PS realizou nove congressos e de todos os partidos sob análise foi, a par com o PCP, um dos mais coerentes,57quanto às orientações inscritas
nas moções aprovadas. Desde o XII Congresso realizado em 2001 até ao XX Congresso que teve lugar em 2014, as moções aprovadas indicam a «inovação» organizacional como o caminho a seguir. Seja pela abertura à sociedade criando diversas ferramentas para tal desígnio, seja pelo re-conhecimento dos simpatizantes, seja pela possibilidade de participação em atividades partidárias de não-filiados, este partido sempre defendeu a abertura à sociedade como forma de adaptação a esta.
Logo em 2001, no seu XII Congresso, a moção de António Guterres sinalizava a estratégia organizacional de «inovação», defendendo um par-tido aberto «fiel ao espírito dos Estados Gerais – aberto e não sectário – no qual convergem e têm de continuar a convergir cidadãos com os mais diversos percursos políticos, com a única condição de reconhecerem no Partido Socialista e na sua identidade um projeto positivo, mobilizador e de mudança para Portugal».58Este congresso extraordinário tinha sido
convocado por António Guterres de forma a responder aos seus críticos
Militantes e Ativismo nos Partidos Políticos
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54Resolução política aprovada no XVIII Congresso. 55Resolução política aprovada no XIX Congresso. 56Ver a nota 55.
57Ver a nota 50.
58Moção «PS – Uma aposta de futuro. Um PS aberto e renovado. Um Portugal
internos, que após o resultado das legislativas de 1999, que tinha vencido conseguindo exatamente metade dos deputados, um resultado aquém do esperado, e perante o agravamento da crise económica, eram cada vez mais e colocavam em causa a sua liderança. Apesar de ter ganho o congresso, depois dos resultados das autárquicas de 2001, ele apresentaria a sua demissão de primeiro-ministro e de secretário-geral do PS. Neste ano o PS indicava que a sua organização detinha 122 548 membros. No ano seguinte, Eduardo Ferro Rodrigues (que levou a cabo uma refiliação) inscrevia na sua moção que era «igualmente fundamental renovar e abrir o PS, porque a história demonstra que, quando o PS inova e se abre ao exterior ganha, e quando se fecha sobre si próprio perde».59No final do
ano e fruto da refiliação realizada o partido apresentava 66 917 filiados (sensivelmente metade do declarado em 2001) e o novo secretário-geral insistia que estava «na hora de o PS se voltar a abrir ao exterior»60e que
havia «necessidade de institucionalizar fórmulas que permitam enquadrar e fomentar a participação, no trabalho político do PS, quer de não mili-tantes que se identifiquem com os nossos valores e com a nossa acção política».61O mandato de Ferro Rodrigues terminaria em 2004; apesar
da derrota tangencial na legislativas de 2002 e da vitória nas eleições eu-ropeias de 2004, a eclosão do «Processo Casa Pia» veio perturbar a sua li-derança e criar anticorpos à sua pessoa. Porém, muito trabalho organiza-tivo foi realizado nomeadamente e como já referenciado anteriormente a refiliação, mas também a alteração das normas de quotização, as quotas, a limitação de mandatos ou ainda as incompatibilidades de acumula-ção.62
Esta orientação organizacional de «inovação», não se perdeu com a ascensão de José Sócrates à liderança em 2004. Sócrates foi eleito por 28 984 militantes num universo de 75 628 militantes e a sua moção vol-tava a sublinhar a importância de «uma abertura à sociedade: o PS não pode funcionar em ‘circuito fechado’, devendo empenhar-se em atrair a participação dos melhores [...] restabelecendo as pontes com os sectores mais dinâmicos da sociedade portuguesa».63O PS vence as legislativas
de 2005 com maioria absoluta, resultado nunca antes alcançado. No con-gresso seguinte, em 2006, ano em que a organização apresentava um
au-O declínio da filiação partidária em Portugal
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59Moção «Fazer bem pelo futuro». 60Ver a nota 59.
61Ver a nota 59.
62Para mais, consultar o «Relatório do Secretário-Geral, Eduardo Ferro Rodrigues, ao
XIV Congresso do PS».