• Nenhum resultado encontrado

Miséria e a nova classe média na década da igualdade

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Miséria e a nova classe média na década da igualdade"

Copied!
95
0
0

Texto

(1)

(2) Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade* (*leia-se: Processo de Equalização Recente da Renda). www.fgv.br/cps/desigualdade Rio de Janeiro, 26 de Setembro de 2008 - Versão 2.0 Versão Original - 19 de Setembro de 2008 as 11:00 horas. Centro de Políticas Sociais Instituto Brasileiro de Economia Fundação Getulio Vargas. Coordenação: Marcelo Cortes Neri - mcneri@fgv.br Luisa Carvalhaes Coutinho de Melo. Equipe do CPS: Samanta dos Reis S. Monte André Luiz Neri Carolina Marques Bastos Célio Pontes Ana Lucia Calcada Celso Fonseca. 2.

(3) Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Fundação Getulio Vargas.. Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade/ Coordenação Marcelo Côrtes Neri e Luisa Carvalhaes. - Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2008. [95] p.. 1. Pobreza 2. Economia 3. Renda 4. Desigualdade 5. Classes Econômicas 6. Classe Média 7. Trabalho 8. Bem-estar Social 9. Metas do Milênio 10. Brasil I. Neri, M.C.; Carvalhaes, L II. Fundação Getulio Vargas, Instituto Brasileiro de Economia. Centro de Políticas Sociais. www.fgv.br/cps Apoio: SAS Institute www.sas.com ©Marcelo Neri 2008. 3.

(4) Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade Sumário Executivo O Hino Nacional entoa: “se o penhor desta igualdade conseguimos conquistar com braço forte.” É um desígnio condicional. Agora não devemos descartar a possibilidade de começarmos a realiza-lo, não individual mas coletivamente. Se um historiador do futuro fosse nomear as principais mudanças ocorridas na sociedade brasileira na primeira década do terceiro milênio, poderia chamá-la de década da redução da desigualdade de renda, ou da equalização de resultados. Da mesma forma que a década de 90 foi a da conquista da estabilidade e a de 80, a da redemocratização1. Não há na História brasileira, estatisticamente documentada (desde 1960), nada similar à redução da desigualdade observada desde 2001. A queda acumulada é comparável, em magnitude, ao famoso aumento da desigualdade dos anos 60 que colocou o Brasil no imaginário internacional como a terra da iniqüidade inercial. Segundo dados do Banco Mundial, os dados de 2005 já colocavam o Brasil como o 10º país em desigualdade do mundo - antes éramos 3º. Ou seja, a má notícia é que ainda somos muito desiguais, a boa é que há muita desigualdade a ser reduzida e consequentemente muito crescimento de renda a ser gerado na base da pirâmide de renda. Mal comparando, é como se o Brasil tivesse descoberto - apenas neste século -estas reservas de crescimento pró-pobre. Por exemplo, a Índia um país igualitariamente pobre com um índice de desigualdade que é metade do nosso tem como alternativa básica para combater a pobreza apenas o crescimento da renda da sociedade. Similarmente, a Bélgica, um país igualitariamente rico, não tem em termos substantivos alternativa adicional para melhorar o bem-estar da população além do crescer. Já na chamada Belíndia brasileira, além do crescimento que é uma fonte sem limites de melhora de bem-estar, temos a opção de reduzir a desigualdade como forma de atenuar a pobreza e o bem-estar. Obviamente, a equidade tem um piso inferior, é finita como, por exemplo, as reservas de petróleo também o são, mas estamos muito distantes deste limite da exaustão. Nenhum país do mundo pode reduzir a pobreza através de redistribuição em alta escala que o Brasil. Obviamente, como se diz o combate à desigualdade é o colesterol. Há o bom e o mal combate com conseqüências diversas para o organismo econômico. É preciso além de se preservar os incentivos para o crescimento da renda de todos, chegar às causas mais fundamentais da desigualdade, abordando as diferenças intergeracionais de oportunidades. Estamos nos últimos anos apenas começando a explorar a superfície da desigualdade de resultados.. 1. Outra característica desta década é a geração de emprego formal, a anterior além da estabilização foi de aumento da escolaridade. Seguindo nesta linha de identificar os avanços as décadas de 60 e 70 foram do milagre, leia-se crescimento econômico.. 4.

(5) A bandeira brasileira é a única que retrata de maneira literal o céu do país, o que talvez reflita um hábito de olharmos muito para cima. A alta desigualdade brasileira é por sua vez sinal de que olhamos pouco para as pessoas ao nosso lado. Ela reflete - por preferência revelada - a nossa incapacidade de enxergar as distancias estelares entre as pessoas ao redor. O estudo da desigualdade mede a distancia transversal entre pessoas, projetando para cima e para o alto é um ação similar à medição da distancia entre as estrelas. Se o estudo da desigualdade brasileira for como a análise do movimento de corpos celestes, a PNAD seria o anteparo recebendo e difundindo a luz vinda dos céus brasileiros um ano após. A PNAD permite aos caçadores de estrelas mirar em atmosfera razoavelmente límpida e observar os principais movimentos relativos dentro da sociedade brasileira do ano que passou. Olhamos aqui como se usando o foco de uma luneta, os deslocamentos relativos ocorridos na renda das diferentes classes de brasileiros. De todas as mudanças observadas a partir do recente lançamento da PNAD 2007 do IBGE a que mais chama a atenção é a redução da desigualdade de renda. Apesar de um pouco inferior às maiores redistribuições observadas na série histórica como as de 1986, 1990 e 2004, a de 2007 dá seqüência à tendência de desconcentração iniciada na virada deste século. A desigualdade de renda brasileira, que ficou estagnada entre 1970 e 2000, sofre sucessivas quedas, ano após ano, desde 2001, comparável, em magnitude, ao único deslocamento conhecido: o aumento da desigualdade dos anos 60. A desigualdade de renda domiciliar per capita medida pelo Gini cai em 2007 cerca de 0,0074 pontos que é 10% superior ao ritmo de queda assumido de 2001 a 2006 (0,0067). Entre todas as mudanças observadas, a redistribuição de renda é, na nossa opinião, o destaque em 2007, até porque o crescimento da média de renda per capita de 2,3% foi, surpreendentemente, baixo tanto à luz do PIB per capita de 2007 (cerca de 4%) como das PNADs dos anos anteriores (9,16% em 2006 e 6,63% em 2005 ). É na desigualdade que residiu a força motriz de continuidade de redução da miséria que passa de 19,18% da população em 2006 para 18,11% em 2007, ou seja, cerca de 1,5 milhões de pessoas cruzaram a linha de renda abaixo de 135 reais/mês por pessoa. O número correspondente de miseráveis atinge pela nova PNAD 33,68 milhões de pessoas. A proporção de miseráveis cai 5,6% em 2007 inferior, portanto, à queda de 15% de 2006, a de 10,33% de 2005 e a de 9,85% de 2004. Por outro lado, o ritmo de redução da miséria em 2007 está mais de duas vezes mais rápida que o requerido para atender às metas de redução de extrema pobreza da primeira das metas do milênio da ONU (2,73% ao ano) e um pouco superior ao ritmo observado desde 1993 no Brasil (4,3% ao ano). O ano de 2007 se apresenta como a melhor síntese do acontecido com os principais indicadores sociais agregados ao longo desta década. Em primeiro lugar, o crescimento da renda per capita de 2,26% é o mais próximo da média dos últimos sete anos (2,5% ao ano). A miséria enquanto insuficiência de renda cai 5,59% em 2007 contra 6,7% ao ano do período, mais uma vez, o ano isolado mais próximo da média da década (6,72% ao ano). Finalmente, como vimos, o ritmo de queda de desigualdade medida pelo índice de Gini de renda per capita também é o mais próximo da média da década, cerca de 10% acima desta - que é uma marca histórica.. 5.

(6) 514,6. 526,3 2007. 471,4. 2006. 442,1. 455,1. 428,7. 471,7 1998. 453,8. 464,3 1997. 2002. 460,6 1996. 2001. 453,3 1995. 2005. 2004. 2003. 2000. 1999. 344,9. 363,3 1994. 1993. 1992. 18,11 2007. 22,66. 19,18 2006. 2005. 28,03. 25,27 2004. 2002. 2003. 27,50. 26,59. 2001. 28,14 2000. 26,88. 1997. 1999. 28,82. 28,37. 1996. 1998. 28,65 1995. 35,03 1993. 1994. 34,96 1992. 445,0. Renda - Brasil. Miséria - % da População - Brasil. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. A desigualdade de renda brasileira é resultado da interação de causas diversas, e também tem seus impactos em campos diversos da nossa vida social começando pelo crime, passando pela saúde, chegando à atividade dos mercados consumidores. Há uma camada mais profunda de fontes de distribuição de renda que afloram hoje, como as políticas educacionais e reformas estruturais pregressas. Há também as mudanças das políticas de renda do passado mais recente com destaque aos impactos dos reajustes do salário mínimo e da expansão do Bolsa Família. Em 2007, talvez por não ser ano eleitoral, não há colheita de efeitos da expansão das transferências públicas mas um desempenho trabalhista diferenciado frente aos anos anteriores. A geração líquida de postos de trabalho foi mais de 50% inferior a dos três anos anteriores com destruição líquida dos postos de trabalho de menor qualidade, mas com recorde na geração de emprego formal. O mercado de trabalho brasileiro ficou mais fordista e formal. Há sinais de que o chamado apagão de mão-de-obra começa a se refletir na atração trabalhista e evasão de jovens dos bancos escolares o que tende a agravar mais o problema no futuro. Isto em plena vingencia do Pro-Uni que busca aumentar o acesso a universidade. A escolarização de jovens de 18 a 24 anos caiu 4,5%, enquanto o contingente nesta faixa etária cai apenas 1,8%. As estatísticas educacionais para estudantes mais jovens também demonstra saturação nos avanços da cobertura – a não ser aqueles de 5 e 6 anos impactados pela introdução do ensino de 9 anos. Este cenário demonstra a importância de medidas e metas de aumento da qualidade de educação como aquelas embutidas no chamado PAC educacional do Governo Federal e no movimento Todos pela Educação da sociedade civil. Educação e trabalho, nesta ordem, são os determinantes mais fundamentais do nível e desigualdade futura de renda do país. De forma mais geral, 2007 mostra que avanços e/ou desafios não estão na quantidade, mas mais na qualidade seja de renda, de trabalho e da educação. Na educação temos de aproveitar a redução do número de crianças e adolescentes para aumentar a jornada escolar e melhorar o aprendizado e desempenho escolar dos filhos deste solo. No trabalho temos de entender as causas da crescente formalização para incentivá-la através da colheita de frutos de educação de maior qualidade pela força de trabalho e de mudanças para melhor - das instituições trabalhistas. Finalmente, o crescimento pífio da renda média da PNAD destes anos tem seu impacto alavancado também por upgrades qualitativos: a maior equidade de renda combinada com sua maior sustentabilidade desse movimento fruto da expansão trabalhista, ora em curso. Senão vejamos: 2007 assim como a década até agora vista como um todo, destaca-se menos pelo crescimento generalizado de renda para todos os. 6.

(7) estratos da população, do que pela redução da desigualdade observada, A desigualdade medida pelo índice de Gini cai 1,32% um valor superior a quatro dos cinco anos da década da redução da desigualdade: -1,2%, em 2002, 1%, em 2003, -1,9% em 2004, -0,6% em 2005 e -1,06% em 2006. Conforme o primeiro gráfico a seguir, com o ganho acumulado de renda entre 2001 e 2007 por cada décimo da população, a taxa de crescimento é decrescente à medida que caminhamos do primeiro (49,25%) ao último décimo (6,70%) - este caráter progressivo não é tão bem traduzido pelas, aparentemente, pequenas mudanças das séries do índice de Gini. Destacando em seguida, o último ano da pesquisa de 2007, percebemos reduções de renda nos dois extremos da distribuição de renda, em particular entre os 10% mais pobres de -5,3% o que parece indicar um aumento de pessoas com renda nula revertendo a tendência dos últimos anos, Observamos uma virtual estagnação da renda per capita em 2007 -0,1% entre os 10% mais ricos. Os décimos que mais ganham em 2007 são o 5º, o 6º e o 7º décimo - o que acarretará redução da polarização da distribuição que, redundará no crescimento relativo da parcela da chamada nova classe média, como veremos a frente. Variação Acumulada da Renda Média - Brasil (2007/2001) 49,25% 43,41% 38,03%. 34,79% 31,98% 30,28%. 24,75%. 19,65%. 14,37% 6,70%. 10. 20. 30. 40. 50. 60. 70. 80. 90. 100. Variação Acumulada da Renda Média - Brasil (2007/2006). 3,52%. 4,25%. 4,88%. 5,64%. 5,96%. 5,27%. 4,03%. 2,52% -0,13%. -5,22% 10. 20. 30. 40. 50. 60. 70. 80. 90. 100. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. Os dados da PNAD revelam uma redução expressiva da renda do resíduo da PNAD onde entra o chamado efeito Bolsa-Família. Uma queda de renda do primeiro décimo de mais de 5% fruto de um aumento de rendas nulas de 50% entre 2006 e 2007. Em função disto andamos para tráz nas metas do milenio de 1U$S, retrocedemos nas rendas de transferências sociais e ficamos todos mais confusos. Conforme anunciamos no ano passado, o Brasil já havia cumprido a primeira, e talvez mais conhecida, das 8 Metas do Milênio da ONU, referente à redução da miséria extrema em 50% em 25 anos. Enquanto a queda acumulada entre 1992 e 2005 havia sido de 54,61%, ao acrescentarmos. 7.

(8) 2007. 2006. 2005. 2004. 2003. 2002. 2001. 1999. 1997. 1996. 1995. 1993 - 3,58%. 4. -25,9 2%. 4,9. 4,6 9. 6,1. 5,3 2. 5. 7,3 6. 6,6 3. 7 ,9 2. 0. 7,5 8. 8 ,0 4. 7,5. 8,6 9 7 ,7 7. 1998. Va riação Acumulada da Pobreza Extrema em Relação às Metas do Milênio - Brasil. Pobreza Extrema US$ 1 PPP Bras il 11 ,31. 11 ,73. 2006 à serie, temos uma redução acumulada de 60,03%. Nossa percepção é que o Suplemento de Programas Sociais introduzidos nas PNADs de 2006 e de 2004 parecem estar introduzindo esta distorção. Os anos de suplemento 2004 e 2006 foram excepcionais em termos de colheita de indicadores de renda: 2004 pela desigualdade em queda, 2006 pela punjança generalizada. Estes anos seriam melhores que os anteriores inclusive em precisão estatística pois o suplemento incita aos respondentes do questionário da PNAD a reportarem a sua renda e especialmente a de seus demais familiares de maneira mais forte que a usual. Falo de perguntas sos suplementos 2004 e 2006 do tipo voce tem Bolsa Família?; Você recebe o benefício de Prestação Continuada (BPC)?; Quantas pessoas percebem estes benefícios em sua casa etc. Isto geraria mudanças no bolo e na distribuição entre rúbricas percebido diretamente nos dados. Sendo menos nilista, eu proporia comparar 2007 com 2005 ou anos pré 2004 apenas. Isto resolveria o problema, pois a diferença de instrumentos de coleta similares em anos diferentes tende a eliminar as distorções.. -33 ,76%. -31,46%. -36,06% -35,3 8%. -32,48% -43,48%. - 37,25% -54,61%. 2007. 200 6. 2 005. 2004. 2003. 20 02. 2001. 1999. 199 8. 1 997. 1996. 1995. 19 93. 1992. -47,57% -60,0 3% -57,92%. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. Uma outra palavra de cuidado de preparação culinária pnadiana. Fruto do efeito-suplemento, a proporção de zeros, sobe de 1,2% em 2006 para 1,8% em 2007, medidas que se baseiam apenas em rendas positivas como essas indicam uma melhora maior na desigualdade e da média do que deveria ser observado este ano mas gera o efeito inverso nos demais anos (fora talvez 2004). O problema é combinar o efeito-suplemento com estatísticas parciais que não consideram os com renda zero, como divulgado nas publicações oficiais com tabulações da PNAD. Nas PNADs sem suplemento especial os sem renda crescem. Nossa sugestão é calcular estatísticas com todos os brasileiros e não apenas aqueles com renda positiva. Uma outra sugestão com algum interesse de corpo de usuário a fim de aumentar o grau de precisão estatística a PNAD deveria ter suplemento todos os anos. Voltando à linha de miséria proposta pelo Centro de Políticas Sociais (CPS/IBRE/FGV) – mais elevada do que a ONU – observamos, portanto, uma queda acumulada de 48,5% da respectiva insuficiência no período 1992 a 2006. Ainda não chegamos, mas estamos próximos da meia vida da miséria de acordo com os dados da nova PNAD e a linha da FGV. A taxa média anual de redução de miséria de 1992 a 2006 foi de -4,43% ao ano, que é quase o dobro da taxa necessária para reduzir a extrema pobreza à metade em 25 anos - que seria de 2,73% ao ano.. 8.

(9) Dadas diferenças de horizontes de tempo envolvidas, vamos comparar as estatísticas em termos de taxa de crescimento média anual, o que permitirá uma comparação direta com os resultados obtidos no último ano. Os 5,59% de redução de miséria obtidos em 2007 sugerem, por exemplo, que na aritmética das metas do milênio, avançamos no último ano o que, pelo acordo, deveríamos avançar em 5,1 anos. Já a queda de miséria observada desde o fim da recessão de 2003, atinge em média 11,8% ao ano, ou seja, cada ano do período que chamamos aqui de Real do Lula, corresponde a 4,1 anos de cumprimento do compromisso do milênio, enquanto no período do boom do Real original (1993 a 1995) reduzimos a miséria em média, a 10,74% a cada ano, o que corrobora o paralelismo dos dois episódios aqui explorados. Dando seqüência ao estudo anterior que colocou no mapa de pesquisas sociais brasileiras "A Nova Classe Média", mostramos aqui como se deu a evolução deste grupo desde o início dos anos 90. Apontamos, a partir dos microdados da PNAD, recém-disponibilizados, que a emergência da Nova Classe Média é um fenômeno nacional que já vem desde antes do lançamento do plano Real. A mesma atingia 30,9% da população brasileira em 1993, passa a 47,1% em 2007 com crescimento de 2,5% ao ano no período. No último ano, apesar do bolo dos brasileiros não ter crescido muito, há mais fermento na fatia da Nova Classe Média que sobe 4,4%. Se projetarmos, ao nível de abrangência nacional, o crescimento de 6,2% dos últimos 12 meses apontados na última pesquisa, exatamente 50% da população brasileira está agora na Nova Classe Média, ou seja, 93,8 milhões de brasileiros hoje. Medida como aquela entre os imediatamente acima dos 50% mais pobres e os 10% mais ricos na virada do século, a nova classe média aufere em média a renda média da sociedade, ou seja, é classe média no sentido estatístico. Heuristicamente, os limites da classe C seriam as fronteiras para o lado indiano e para o lado belga da nossa Belíndia. Compreendida entre R$ 1064 e os R$ 4561, a preços de hoje na grande São Paulo, é a imagem mais próxima da média da sociedade brasileira. 47,06. 45,08. 4 1,96. 39,8 5. 38,69. 37,64. 38,11. 37,39 1998. 2 002. 37,01 1997. 2001. 36,74 1996. 36,37. 36,52 1995. Definição das Classes Economicas Renda Domiciliar Total de T odas as Fontes Por Mes Limites. Classe E Classe - D Classe - C Classes – A e B. 2007. 2 006. 2 005. 2004. 2003. 2000. 1999. 1994. 30,98 1993. 1992. 32,52. Classe C - % da População - Brasil. Inferior* Superior 0 768 768 1064 1064 4591 4591. * inclusive - calculada a partir da renda per capita e convertida. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. 9.

(10) Fontes - Entre os determinantes imediatos da distribuição de renda brasileira, temos o nível e a desigualdade de diferentes fontes de renda, indo desde os rendimentos privados ganhos através do trabalho, das transferências familiares ou da posse de ativos até as rendas transferidas pelo estado como aposentadorias, pensões e programas sociais, como seguro-desemprego, a previdência rural e o Bolsa Família. Decompomos aqui o crescimento da renda domiciliar per capita média em diferentes fontes. Partimos da relação entre a evolução anual per capita de cada tipo de renda, e ponderamos pelo seu peso relativo de cada uma na composição de renda total. Repartimos a renda dos indivíduos em cinco pedaços, -incluindo a separação dos benefícios previdenciários em até e acima do pis, seguindo nossa sugestão metodológica e de política pública feita em 1998 - conforme a tabela. Começamos a análise pelo período coberto pela nova PNAD de 1992 a 2007. Houve um aumento da renda per capita média auferida individualmente por cada pessoa que passa de R$ 344,93 para R$ 526,27, um aumento de 2,86% ao ano (a.a.) por pessoa, ou 52,65% no acumulado deste período. Agora o que explica esta variação de renda. Em primeiro lugar e mais importante os fatores trabalhistas com 71,16% de contribuição relativa no crescimento da renda. Com 18,85%, a previdência (pó-piso), ou seja, renda previdenciária acima de 1 Salário Mínimo. O segundo tipo de renda da previdência (aquelas até 1 Salário Mínimo) vem em seguida com 6,73%. Outras fontes como renda de bolsas e outras rendas privadas contribuem relativamente com 0,93% e 2,34%, respectivamente. Ano 2007 1992 Taxa Crescimento Anual (%). Renda todas as fonts 526,27 344,93 2,86%. Renda todos os trabalhos 404,13 282,17 2,42%. Contribuição Relativa 100% 71,16% Crescimento Renda (%) Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. Outras Transferências rendas Pública – BF privadas 10,46 9,05 6,06 7,6 3,71% 1,17% 2,34%. 0,93%. Piso Previdencia – SM 25,67 10,24 6,32%. Previdencia Pós-piso > SM 76,96 38,86 4,66%. 6,73%. 18,85%. A análise da última PNAD em relação a anterior apresenta resultados ainda mais expressivos com relação à variação da renda por vias trabalhistas. Rendas provenientes do trabalho e da previdência foram as que impulsionaram o crescimento da renda total que alcançou 2,26% na média, compensando as quedas apresentadas pelas rendas de bolsas e outras transferências privadas. Em termos de contribuição relativa, ou seja, levando em conta a participação de cada renda no total, a renda do trabalho alcançou o maior índice com patamar de 120,24%, enquanto que outras rendas privadas contribuíram de forma negativa com o crescimento da renda total (-18,61%) e o conceito de transferências públicas cai os pouco críveis -17,75%.. 2007 2006. Renda todas as fontes 526,27 514,62. Renda todos os trabalhos 404,13 390,11. Taxa Crescimento Anual (%). 2,26%. 3,59%. -17,18%. -18,62%. 7,72%. 0,05%. Contribuição Relativa Crescimento Renda (%). 100%. 120,24%. -18,61%. -17,75%. 15,78%. 0,34%. Ano. Outras Piso Transferências rendas Previdencia Pública - BF privadas SM 10,46 9,05 25,67 12,63 11,12 23,83. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. 10. Previdencia Pós-piso > SM 76,96 76,92.

(11) Seguindo a tradição de mais de uma década da equipe que compõe hoje o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas buscamos prover as informações de indicadores sociais baseados em renda. A pesquisa que deu origem a este artigo foi realizada em intervalo recorde. A defasagem entre a liberação física do microdado da PNAD no IBGE e a sua difusão foi de uma hora e quarenta minutos. A estatística de pobreza do CPS foi ao ar ao vivo no jornal de meio dia da GloboNews. A pesquisa foi lançada oficialmente na sextafeira às 11h, 24 horas depois da liberação dos microdados, com banco de dados interativo, vídeo e texto. O sítio da pesquisa www.fgv.br/cps/desigualdade disponibiliza um banco de dados interativo que permite a cada um decompor e analisar os níveis e as mudanças de indicadores sociais baseados em renda desde uma perspectiva própria. É como a escotilha de uma nave permite observar na PNAD até onde ninguém –ou o coletivo de brasileiro - foi antes, como diz o seriado Star Trek.. 11.

(12) Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade. 1. Introdução. De todas as mudanças observadas a partir do lançamento da PNAD 2007 do IBGE a que mais chama a atenção é a redução da desigualdade de renda. Apesar de um pouco inferior às maiores redistribuições observadas na série histórica como as de 1986, 1990 e 2004, a de 2007 dá seqüência à tendência de desconcentração iniciada na virada deste século. A desigualdade de renda brasileira, que ficou estagnada entre 1970 e 2000, sofre sucessivas quedas, ano após ano, desde 2001. A queda acumulada é comparável, em magnitude, ao famoso aumento da desigualdade dos anos 60 que colocou o Brasil no imaginário internacional como a terra da iniqüidade inercial. A desigualdade de renda domiciliar per capita medida pelo Gini cai em 2007 cerca de 0,0074 pontos que é 10% superior ao ritmo de queda assumido de 2001 a 2006 (0,0067). Não há na História brasileira, estatisticamente documentada (desde 1960), nada similar à redução da desigualdade observada desde 2001. Entre todas as mudanças observadas, a redistribuição de renda é, na nossa opinião, o destaque em 2007, até porque o crescimento da média de renda per capita de 2,3% foi, surpreendentemente, baixo tanto à luz do PIB per capita de 2007 (cerca de 4%) como das PNADs dos anos anteriores (9,16% em 2006 e 6,63% em 2005 ). É na desigualdade que residiu a força motriz de continuidade de redução da miséria que passa de 19,18% da população em 2006 para 18,11% em 2007, ou seja, cerca de 1,5 milhões de pessoas cruzaram a linha de renda abaixo de 135 reais/mês por pessoa. O número correspondente de miseráveis atinge pela nova PNAD 33,68 milhões de pessoas. A proporção de miseráveis cai 5,6% em 2007 inferior, portanto, à queda de 15% de 2006, a de 10,33% de 2005 e a de 9,85% de 2004. Por outro lado, o ritmo de redução da miséria em 2007 está mais de duas vezes mais rápida que o requerido para atender às metas de redução de extrema pobreza. 12.

(13) da primeira das metas do milênio da ONU (2,73% ao ano) e um pouco superior ao ritmo observado desde 1993 no Brasil (4,3% ao ano).. O ano de 2007 se apresenta como a melhor síntese do acontecido com os principais indicadores sociais agregados ao longo desta década. Em primeiro lugar, o crescimento da renda per capita de 2,26% é o mais próximo da média dos últimos sete anos (2,5% ao ano). A miséria enquanto insuficiência de renda cai 5,59% em 2007 contra 6,7% ao ano do período, mais uma vez, o ano isolado mais próximo da média da década (6,72% ao ano). Finalmente, como vimos, o ritmo de queda de desigualdade medida pelo índice de Gini de Renda per capita também é o mais próximo da média da década, cerca de 10% acima desta - que é uma marca atípica.. Se no futuro um historiador fosse nomear as principais mudanças ocorridas na sociedade brasileira na primeira década do terceiro milênio no Brasil, poderia chamá-la de década da redução da desigualdade de renda, ou da equalização de resultados. Da mesma forma que a década de 90 foi a da conquista da estabilidade e a de 80, a da redemocratização2. Segundo dados do Banco Mundial, os dados de 2005 já colocavam o Brasil como o 10º país em desigualdade do mundo - antes éramos 3º. Ou seja, a má notícia é que ainda somos muito desiguais, a boa é que há muita desigualdade a ser reduzida e muito crescimento de renda a ser gerado na base da distribuição de renda. Mal comparando, é como se o Brasil tivesse descoberto apenas neste século estas reservas de crescimento pró-pobre. Por exemplo, a Índia um país igualitariamente pobre com um índice de desigualdade que é metade do nosso tem como alternativa básica para combater a pobreza apenas o crescimento da renda da sociedade. Similarmente, a Bélgica, um país igualitariamente rico, não tem em termos substantivos alternativa adicional para melhorar o bemestar da população do que crescer. Já na chamada Belíndia brasileira, além do crescimento que é uma fonte sem limites de melhora de bem-estar, temos a opção de reduzir a desigualdade como forma de atenuar a pobreza e o bem2. Outra característica desta década é a geração de emprego formal, a anterior além da estabilização foi de aumento da escolaridade. Seguindo nesta linha de identificar os avanços as décadas de 60 e 70 foram do milagre, leia-se crescimento econômico.. 13.

(14) estar. Obviamente, a equidade tem um piso inferior, é finita como, por exemplo, as reservas de petróleo também o são, mas estamos distantes deste limite da exaustão. Obviamente, como se diz o combate à desigualdade é como a luta contra o colesterol. Há o bom e o mal combate em termos de suas conseqüências para o organismo econômico. É preciso chegar às causas mais fundamentais da desigualdade, abordando as diferenças intergeracionais de oportunidades. Estamos apenas começando a explorar a superfície da desigualdade de resultados.. A desigualdade de renda brasileira é resultado da interação de causas diversas, e também tem seus impactos em campos diversos da nossa vida social começando pelo crime, passando pela saúde, chegando à atividade dos mercados consumidores. Entre os determinantes imediatos da distribuição de renda brasileira, temos o nível e a desigualdade de diferentes fontes de renda, indo desde os rendimentos privados ganhos através do trabalho, das transferências familiares ou da posse de ativos até as rendas transferidas pelo estado como aposentadorias, pensões e programas sociais, como segurodesemprego, a previdência rural e o Bolsa Família.. Há uma camada mais profunda de fontes de distribuição de renda que afloram hoje, como as políticas educacionais e reformas estruturais pregressas. Há também as mudanças das políticas de renda do passado mais recente com destaque aos impactos dos reajustes do salário mínimo e da expansão do Bolsa Família. Em 2007, talvez por não ser ano eleitoral, não há colheita de efeitos da expansão das transferências públicas mas um desempenho trabalhista diferenciado frente aos anos anteriores. A geração líquida de postos de trabalho foi mais de 50% inferior a dos três anos anteriores com destruição líquida dos postos de trabalho de menor qualidade, mas com recorde na geração de emprego formal. O mercado de trabalho brasileiro ficou mais fordista e formal. Há sinais de que o chamado apagão de mão-de-obra começa a se refletir na atração e evasão de jovens dos bancos escolares o que tende a agravar mais o problema no futuro. Em plena vingencia do Pro-Uni que busca aumentar o acesso a universidade, a escolarização de jovens de 18 a 24 anos caiu 4,5%, enquanto o contingente nesta faixa etária cai apenas 1,8%. As 14.

(15) estatísticas educacionais para estudantes mais jovens também demonstra saturação nos avanços da cobertura – a não ser aqueles de 5 e 6 anos impactados pela introdução do ensino de 9 anos. Este cenário demonstra a importância de medidas e metas de aumento da qualidade de educação como aquelas embutidas no chamado PAC educacional do Governo Federal e no movimento Todos pela Educação da sociedade civil. Educação e trabalho, nesta ordem, são os determinantes mais fundamentais do nível e desigualdade futura de renda do país.. De forma mais geral, 2007 mostra que avanços e/ou desafios não estão na quantidade, mas mais na qualidade seja de renda, de trabalho e da educação. Na educação temos de aproveitar a redução do número de crianças e adolescentes para aumentar a jornada escolar e melhorar o aprendizado e desempenho escolar dos filhos deste solo. No trabalho temos de entender as causas da crescente formalização para incentivá-la através da colheita de frutos de educação de maior qualidade pela força de trabalho e de mudanças para melhor - das instituições trabalhistas. Finalmente, o crescimento pífio da renda média da PNAD destes anos tem seu impacto alavancado também por upgrades qualitativos: a maior equidade de renda combinada com sua maior sustentabilidade desse movimento fruto da expansão trabalhista, ora em curso.. Plano do Trabalho. Se a desigualdade fosse um corpo celeste, a PNAD seria o anteparo recebendo a luz vinda dos ceus um ano após sua emissão. A PNAD permite aos caçadores de estrelas mirar em atmosfera razoavelmente límpida e observar os principais movimentos relativos da sociedade brasileira.. Este. estudo funciona como uma luneta focada na análise das mudanças ocorridas na renda dos brasileiros. Seguindo a tradição de mais de uma década da equipe que compõe hoje o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas buscamos prover as informações de indicadores sociais baseados em renda. A presente pesquisa foi realizada em intervalo recorde. A defasagem entre a liberação fisica do microdado da PNAD no IBGE e a sua difusão foi de uma hora e quarenta minutos. A estatística de pobreza do CPS foi ao ar ao 15.

(16) vivo no jornal de meio dia da GloboNews. A pesquisa foi lançada oficialmente na sexta-feira às 11h, 24 horas depois da liberação dos microdados, com sítio composto de banco de dados interativo, vídeo e uma primeira versão do presente texto3.. Oferecemos um acervo de banco de dados no sítio da pesquisa, que permite a cada um ver as respectivas estatísticas do seu grupo social de interesse como jovens, mulheres, rurais, maranhenses etc. separadamente (panoramas), ou de maneira conjunta (simulador de modelos estatísticos estimados ou espelho). A intenção é não só dar a nossa interpretação para os principais mudanças de renda, como permitir a cada um contar a estória social de interesse a partir da riqueza de dados propiciada pelas PNADs.. Além de descrever Quanto mudou o bolso dos brasileiros? Quando mudou? (últimos 15 anos até a PNAD 2007). E de quem mudou a renda? (no exemplo da jovem maranhense acima), a pesquisa procura identificar: O que mudou no bolso dos brasileiros? Por exemplo, a renda do trabalho pode cair para o desempregado mais e aumentar a renda de seguro-desemprego? O nosso objetivo último como pesquisadores é através do Por que mudou? chegar ao como mudar - para melhor - a condição econômica dos brasileiros a começar pelos mais pobres dos pobres. Este trajeto implica identificar os determinantes. das. mudanças. do. bolo. distributivo.. Oferecemos. uma. decomposição da evolução das diferentes fontes de renda e do seu impacto no bolso dos brasileiros de diferentes estratos sociais abertos pelos atributos individuais e demográficos. Analisamos também o custo-benefício das transferências públicas em termos de redução de miséria. Além do tradicional mergulho da equipe do CPS nas séries frescas dos microdados nacionais da PNAD de desigualdade e de miséria enquanto insuficiência de renda, o trabalho dedicará especial atenção à expansão do segmento da chamada Nova Classe Média aí incluindo o acesso a bens de consumo e a ativos produtivos. Os dados indicam que 2007 é o ano da Nova Classe Média. As seções do trabalho abordam em seqüência os temas: desigualdade, miséria, a nova 3. A diferença mais fundamental desta versão está neste plano preliminar e no anexo sobre informações regionais.. 16.

(17) classe média e as mudanças nas fontes de rendas. O anexo no fim do trabalho permite observar as principais mudanças de dados regionais na PNAD.. O sítio da presente pesquisa disponibiliza um banco de dados interativo que permite a cada um decompor e analisar os níveis e as mudanças de indicadores sociais baseados em renda desde uma perspectiva própria como uma escotilha de uma nave permite observar na PNAD até onde ninguem foi antes, como dizia o seriado Star Trek.. Todas as combinações podem ser analisadas para o conjunto geral da população ou por subgrupos abertos: i) características demográficas como sexo, idade, anos de estudo, raça, a posição na família; ii) características sócio-econômicas como maternidade, posição na ocupação; iii) espaciais como local de moradia, área (metropolitana, urbana não metropolitana e rural), estados.. 17.

(18) 2. A Década da Redução da Desigualdade de Renda O estudo complementa as estatísticas divulgadas pelo IBGE que trabalham com renda domiciliar total excluindo no cálculo da média e da desigualdade de renda os valores nulos. Trabalhamos aqui com renda domiciliar per capita dos membros efetivos do domicílio mas incluindo as rendas nulas tal como captado com maestria pela PNAD do IBGE através de nove perguntas de renda distintas feitas, diretamente, às pessoas em suas casas. Descrevemos a evolução dos indicadores sociais baseados em renda como desigualdade, pobreza e bem estar, analisando seus determinantes próximos e algumas de suas conseqüências. Em outras palavras descrevemos diversos aspectos do “bolso dos brasileiros” que seria segundo os economistas, a parte mais sensível da “anatomia humana”.. De maneira geral, 2007 assim como a década até agora vista como um todo, destaca-se menos pelo crescimento generalizado de renda para todos os estratos da população, do que pela redução da desigualdade observada, conforme o gráfico abaixo ilustra:. 0,5546. 0,5620. 0,5680. 0,5717. 0,5829. 0,5886. 0,5957. 0,6001. 0,6004. 0,6019. 0,5994. 0,5937. 0,5832. 0,6068. Gini - Brasil. 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 OBS: 1994 e 2000 são médias. Nesses anos a PNAD não foi a campo Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da PNAD/IBGE. A desigualdade medida pelo índice de Gini cai 1,32% um valor superior a quatro dos cinco anos da década da redução da desigualdade: -1,2%, em 2002, 1%, em 2003, -1,9% em 2004, -0,6% em 2005 e -1,06% em 2006.. 18.

(19) Apresentamos a seguir o ganho acumulado de renda entre 2001 e 2007 por cada décimo da população. A taxa de crescimento é decrescente à medida que caminhamos do primeiro (49,25%) ao último décimo (6,70%) - este caráter progressivo não é tão bem traduzido pelas, aparentemente, pequenas mudanças das séries do índice de Gini. Variação Acumulada da Renda Média - Brasil (2007/2001). 49,25% 43,41% 38,03%. 34,79%. 31,98%. 30,28% 24,75% 19,65% 14,37% 6,70%. 10. 20. 30. 40. 50. 60. 70. 80. 90. 100. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. Destacando da análise o último ano da pesquisa de 2007, percebemos reduções de renda nos dois extremos da distribuição de renda, em particular entre os 10% mais pobres de -5,3% o que parece indicar um aumento de pessoas com renda nula revertendo a tendência dos últimos anos, Observamos uma virtual estagnação da renda per capita em 2007 -0,1% entre os 10% mais ricos. Os décimos que mais ganham em 2007 são o 5º, o 6º e o 7º décimo - o que acarretará redução da polarização da distribuição que, redundará no crescimento relativo da parcela da chamada nova classe média, como veremos a frente.. 19.

(20) Variação Acumulada da Renda Média - Brasil (2007/2006). 3,52%. 4,25%. 4,88%. 5,96%. 5,64%. 5,27%. 4,03% 2,52% -0,13%. -5,22%. 10. 20. 30. 40. 50. 60. 70. 80. 90. 100. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. Os dados da PNAD revelam uma redução expressiva da renda do resíduo da PNAD onde entra o chamedo efeito Bolsa-Família. Uma queda de renda do primeiro décimo de mais de 5% fruto de um aumento de rendas nulas de 50% entre 2006 e 2007. Em função disto andamos para tráz nas metas do milenio de 1U$S, retrocedemos nas rendas de transferencias sociais e ficamos todos mais confusos. Nossa percepção é que o Suplemento de Programas Sociais introduzidos nas PNADs de 2006 e de 2004 parecem estar introduzindo esta distorção. Os anos de suplemento 2004 e 2006 foram excepcionais em termos de colheita de indicadores d renda: 2004 pela desigualdade em queda, 2006 pela punjança generalizada. Seriam estes anos melhores que os anteriores inclusive em precisão estatística, o suplemento incita as pessoas a reportarem a sua renda e especialmente a de seus demais familiares) de maneira mais precisa que o sual do tipo voce tem bolsa família, BPC etc. Isto geraria mudanças no bolo e na distribuição entre rúbricas percebido diretamente nos dados. Sendo mais propositivo eu proporia comparar 2007 com 2005 ou anos pré 2004 apenas. Isto resolveria o problema.. Uma outra palavra de cuidado. Fruto desta mudança a proporção de de zeros, sobe de 1,2% em 2006 para 1,8% em 2007, medidas que se baseiam apenas em rendas positivas como essas indicam uma melhora maior na desigualdade e da média do que deveria ser observado este ano mas gera o efeito inverso nos demais anos (fora talvez 2004). O problema é combinar o. 20.

(21) efeito-suplemento com estatísticas parciais que não consideram os com renda zero. Nas PNADs sem suplemento os sem renda crescem. Uma sugestão para aumentar o grau de precisão estística seria que a PNAD tivesse o suplemento MDS todos os anos.. As tabelas abaixo permitem ao leitor em aprofundar a análise da variação por diferentes períodos e abre o nível de renda ano a ano.. 21.

(22) VARIAÇÃO ACUMULADA DE RENDA - POR DECIMOS TOTAL 10 20 2007 2007/2006 2,3% -5,2% 3,5% Lula 2007/2002 13,1% 31,7% 30,2% Lula I 2006/2002 13,1% 31,7% 30,2% FHC 2002/1993 25,3% 66,6% 39,9% FHC II 2002/1998 -3,5% 8,8% 5,5% FHC I 1998/1993 29,8% 53,2% 32,6% Década 2007/2001 16,0% 49,2% 43,4% Total 2007/1992 52,6% 108,5% 87,0% VARIAÇÃO ANUAL DA RENDA MÉDIA - POR DECIMOS TOTAL 10 20 Atual 2007/2006 2,3% -5,2% 3,5% Lula 2007/2002 2,5% 5,7% 5,4% Lula I 2006/2002 3,1% 7,1% 6,8% FHC 2002/1993 2,5% 5,8% 3,8% FHC II 2002/1998 -0,9% 2,1% 1,3% FHC I 1998/1993 5,4% 8,9% 5,8% Década 2007/2001 2,5% 6,9% 6,2% Total 2007/1992 2,9% 5,0% 4,3%. 30 4,3% 27,4% 27,4% 33,9% 2,4% 30,7% 38,0% 76,1%. 40 4,9% 26,2% 26,2% 29,8% 0,0% 29,8% 34,8% 67,9%. 50 5,6% 23,2% 23,2% 30,1% -0,3% 30,5% 32,0% 66,1%. 60 6,0% 21,8% 21,8% 29,2% 0,6% 28,5% 30,3% 63,1%. 70 5,3% 17,5% 17,5% 29,0% -2,7% 32,6% 24,8% 55,1%. 80 4,0% 14,9% 14,9% 28,8% -3,5% 33,4% 19,6% 52,9%. 90 2,5% 11,5% 11,5% 27,3% -4,4% 33,2% 14,4% 48,9%. 100 -0,1% 7,6% 7,6% 20,3% -5,2% 26,9% 6,7% 45,8%. 30 4,3% 5,0% 6,2% 3,3% 0,6% 5,5% 5,5% 3,8%. 40 4,9% 4,8% 6,0% 2,9% 0,0% 5,3% 5,1% 3,5%. 50 5,6% 4,3% 5,4% 3,0% -0,1% 5,5% 4,7% 3,4%. 60 6,0% 4,0% 5,1% 2,9% 0,1% 5,1% 4,5% 3,3%. 70 5,3% 3,3% 4,1% 2,9% -0,7% 5,8% 3,8% 3,0%. 80 4,0% 2,8% 3,5% 2,9% -0,9% 5,9% 3,0% 2,9%. 90 2,5% 2,2% 2,8% 2,7% -1,1% 5,9% 2,3% 2,7%. 100 -0,1% 1,5% 1,8% 2,1% -1,3% 4,9% 1,1% 2,5%. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. 22.

(23) Isolando-se os dois últimos anos disponíveis da PNAD, a renda média do brasileiro sobe, segundo a Pnad, 2,26% em 2007 e 9,16% em 2006, contra 4%e 2,3% do crescimento do PIB per capita nos respectivos anos, mesmo após a revisão metodológica nas contas nacionais. O primeiro número de 2006 nos sugere um crescimento ao ritmo chinês, enquanto o último aponta para uma estagnação ao estilo haitiano. Em 2007 os números são mais próximos, mas invertidos. Na verdade, a PNAD tende a apresentar maior volatilidade em períodos de boom como no pós-Real, na recessão de 1999 e de 2003 como na retomada de 2004 a 2007. O que nos tranqüiliza é que, no período total de 1995 a 2007, as duas séries convergem para valores muito próximos até a terceira casa decimal, conforme os números índices com base 100 em 1995 (de estabilidade quando os deflatores e mudanças de padrão monetário não constituem fontes de ruídos ) do gráfico abaixo indicam.. Renda Domiciliar Per Capita* e Pib Per Capita 120 115 110 105 100 95 90 2007. 2006. 2005. 2004. 2003. 2002. 2001. 2000. 1999. 1998. 1997. 1996. 1995. Renda Per Capita PNAD. PIB Per capita. * Deflacionado pelo INPC centrado no final do mês. (vide Neri 1995) Fonte: Banco Central, IPEA e IBGE.. Medida de Bem-Estar Social de Sen A fim de fornecer uma síntese final, acoplamos os efeitos da média e da desigualdade numa função bem-estar social simples proposta por Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia. Essa função multiplica a renda média pela medida de equidade, dada por um menos o índice de Gini (isto é: Média * (1 –. 23.

(24) Gini)). Logo, a desigualdade funciona como um fator redutor de bem-estar em relação ao nível da renda média. Por exemplo, a renda média de 526,27 reais mensais por brasileiro seria o valor do bem-estar social segundo a medida simples de Sen, se a equidade fosse plena. Mas na verdade corresponde a 44,51% deste valor, 234,40 reais, dada a extrema desigualdade atual brasileira. O deságio era ainda maior quando o índice era apenas 40,43% da renda média em 2001, antes do início da redução da desigualdade. Apresentamos na tabela abaixo, a evolução ano a ano da média de renda, da desigualdade de renda e da combinação das duas, dada por essa medida de Bem-estar.. O gráfico demonstra crescimento de renda média e da medida sintética de bem-estar de Sen de 1993 até 1998 (medidos a preços constantes de 2007), com ênfase no crescimento de 27% no período 1993 a 1995, quando a renda média sofre forte recuperação e a desigualdade uma pequena redução. No período de 2001 a 2007 há dominância do aspecto redistributivo na determinação do Bem-estar. Como conseqüência do novo ciclo de melhora distributiva nas duas frentes em 2004 o bem-estar recupera os níveis de 1998 em 2004 e sofre um crescimento de 7,6% em 2005 e 10,68% no quadriênio 2003 a 2007 – o qual, por sua vez, tem um crescimento de bem-estar de 31,09% desempenho comparável ao biênio do Real quando o mesmo sobe. 471,44. 442,12. 428,67. 455,12. 453,78. 445,01. 471,72. 464,31. 460,55. 526,27. 363,35. 344,93. 453,35. Renda - Brasil. 514,62. 27,12%, reforçando o paralelismo entre os episódios.. 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 OBS: 1994 e 2000 são médias. Nesses anos a PNAD não foi a campo Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da PNAD/IBGE. 24.

(25) 234,41. 225,40. 203,65. 189,35. 178,81. 187,26. 183,47. 180,83. 188,64. 185,53. 183,35. 142,88. 143,76. 181,62. Bem Estar - Brasil. 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. A variação acumulada da renda média e da desigualdade de renda contidas no gráfico revela que os dois períodos em questão são marcados tanto por aumentos do bolo, como por melhoras na sua distribuição. Enquanto no período pós-real o maior componente foi o de crescimento, já no último período o principal componente foi a redução da desigualdade de renda. A última tabela sintetiza estes efeitos através da variação do índice de Miséria.. 3. Miséria Sucessivos trabalhos do Centro de Políticas Sociais (CPS/IBRE/FGV) lançados na mesma época dos anos passados, imediatamente após o lançamento dos microdados da PNAD, indicaram duas marcadas mudanças de patamar de miséria: no biênio 1993-1995 a proporção de pessoas abaixo da linha da miséria cai 18,47% e, no período 2003-06, a mesma cai 31,44%. Estes dois episódios foram separados por um período de 10 anos de relativa estabilidade da miséria apenas interrompidas em 1998 e 2002. O paralelo existente entre os dois episódios de redução permanente de miséria, assim como as flutuações transitórias ocorridas em anos eleitorais, podem ser percebidos no gráfico abaixo:. 25.

(26) ,03. ,11 18. 19. ,18. 22. ,66. ,27 25. 28 , 03. 26 , 59. 27 , 50. 28 , 14. 26 , 88. 28 , 37. 28 , 82. 28 , 65. 35. 34. ,96. Miséria - % da População - Brasil. 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007. OBS: 1994 e 2000 são médias. Nesses anos a PNAD não foi a campo Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da PNAD/IBGE. A novidade do gráfico deste ano é 2007, que dá seqüência às conquistas observadas desde a recessão de 2003, mas desde então, também constitui o ano isolado da série histórica, onde a miséria cai menos, 5,59%. Em outubro de 2007, a proporção de miseráveis atinge 18,11% da população – 33,6 milhões de pessoas - com renda per capita inferior a 135 reais mensais (a preços da grande São Paulo ou 127 reais a preços médios nacionais ponderados pela população de cada estado).. 26.

(27) Apresentamos abaixo alguns resultados gerados a partir deste panorama de forma simples e direta. Outras informações de renda e também acesso a itens de consumo podem ser acessadas no site.. Proporção de Miseráveis - Renda de Todas as Fontes. Categoria Total. 1992 34,96. 1993 35,03. 1995 28,65. 1996 28,82. 1997 28,37. População Total 1998 1999 2001 26,88 28,14 27,5. 2002 26,59. 2003 28,03. 2004 25,27. 2005 22,66. 2006 19,18. 2007 18,11. Renda Familiar per Capita Média. Categoria Total. População Total 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 344,93 363,35 453,35 460,55 464,31 471,72 445,01 453,78 455,12 428,67 442,12 471,44 514,62 526,27. Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. Metas do Milênio Notem que as flutuações e tendências da insuficiência de renda apontadas acima não são robustas para outras linhas de miséria para a linha de 1U$S dia ajustada por paridade do poder de compra calculada a partir das metas do milênio. Por exemplo, verificamos um aumento de 5,28% entre 2006 e 2007, com a extrema pobreza passando de 4,69% para 4,94% da população4. Usamos o arcabouço das metas do milênio para considerar as. Pobreza Extrema US$ 1 PPP Brasil. 7,3 6. 4,9 4 2007. 9 4,6 2006. 2005. 5,3 2. 5 6,1 2004. 2003. 2002. 2001. 1997. 1996. 1995. 1993. 1992. 6,6. 3. 7,5 8 1999. 7,9 2. 7,5 0 1998. 8,0 4. 7,7. 7. 8,6. 9. 11 ,31. 11 ,73. tendências de longo prazo da miséria e de seus determinantes.. OBS: 1994 e 2000 são médias. Nesses anos a PNAD não foi a campo. Fonte: CPS/FGV processando os microdados da PNAD/IBGE. 4. Trabalhamos também com a linha de extrema pobreza ajustada por Paridade de Poder de Compra (PPP) que corresponde a R$ 47,6 a preços de hoje da grande São Paulo ajustada por diferenças regionais de custo de vida conforme o apêndice. Este mesmo procedimento de ajuste interno de preços e custos foi aplicado a linha do CPS que corresponde a R$ 124,63. Vide Ferreira, Lanjouw e Neri (2003). Cabe Frisar que 1994 e 2000 são médias os anos adjacentes. Nesses anos a PNAD não foi a campo.. 27.

(28) Conforme anunciamos no ano passado, o Brasil já havia cumprido a primeira, e talvez mais conhecida, das 8 Metas do Milênio da ONU, referente à redução da miséria extrema em 50% em 25 anos. Enquanto a queda acumulada entre 1992 e 2005 havia sido de 54,61%, ao acrescentarmos 2006 à serie, temos uma redução acumulada de 58,54%, conforme o gráfico a seguir ilustra5.. 2007. 2006. 2005. 2004. 2003. 2002. 2001. 1999. 1998. 1997. 1996. 1995. 1993. Variação Acumulada da Pobreza Extrema em Relação às Metas do Milênio - Brasil. -3,6%. -25,9% -33,8%. -31,5%. -36,1% -35,4%. -32,5% -43,5%. -37,3% -47,6% -54,6% -60,0% -57,9%. OBS: 1994 e 2000 são médias. Nesses anos a PNAD não foi a campo. Fonte: CPS/FGV processando os microdados da PNAD/IBGE. Voltando à linha de miséria proposta pelo Centro de Políticas Sociais (CPS/IBRE/FGV) – mais elevada do que a ONU – observamos, portanto, uma queda acumulada de 48,5% da respectiva insuficiência no período 1992 a 2006. Ainda não chegamos, mas estamos próximos da meia vida da miséria de acordo com os dados da nova PNAD e a linha da FGV. A taxa média anual de redução de miséria de 1992 a 2006 foi de -4,43% ao ano, que é quase o dobro da taxa necessária para reduzir a extrema pobreza à metade em 25 anos - que seria de 2,73% ao ano.. Dadas diferenças de horizontes de tempo envolvidas, vamos comparar as estatísticas em termos de taxa de crescimento média anual, o que permitirá. 5. Há três semanas a ONU anunciou o logro desta meta, confirmando o cumprimento antecipado pelo CPS.. 28.

(29) uma comparação direta com os resultados obtidos no último ano. Os 5,59% de redução de miséria obtidos em 2006 sugerem, por exemplo, que na aritmética das metas do milênio, avançamos no último ano o que, pelo acordo, deveríamos avançar em 5,1 anos. Já a queda de miséria observada desde o fim da recessão de 2003, atinge em média 11,8% ao ano, ou seja, cada ano do período que chamamos aqui de Real do Lula, corresponde a 4,1 anos de cumprimento do compromisso do milênio, enquanto no período do boom do Real original (1993 a 1995) reduzimos a miséria em média, a 10,74% a cada ano, o que corrobora o paralelismo dos dois episódios aqui explorado.. Da mesma forma que usamos Metas do Milênio para considerar as tendências de longo prazo da miséria, aplicamos agora ciclos eleitorais para entender algumas oscilações sociais visíveis a olho nu.. 29.

(30) Cenários Futuros de Miséria Esta é uma seção tradicional nos nossos estudos anuais de miséria lançados logo após a PNAD projetando para o ano seguinte. Em geral, tem-se a esta altura as informações fechadas de dois trimestres de contas nacionais (crescimento de 4,5% do PIB per capita de 6% de 12 meses até o segundo trimestre), dados de mercado de trabalho metropolitano da PME e do Caged (que descola para baixo da PNAD emprego formal mas muito para cima no total de postos de trabalho gerados) cobrindo pelo menos o mesmo período, que permitem a projeção do crescimento da PNAD. Entretanto, em 2005 e 2006, temos tido mais dificuldades de prever a tendência do produto, do que da desigualdade.. A proporção de miseráveis no Brasil (indivíduos que vivem com menos de R$ 135 por mês a preços de hoje da Grande São Paulo) cairá dos 18,11% de 2007 para cerca de 17% em 2007, uma queda de 6,31%, se a renda per capita nacional crescer 4% no ano. Se o crescimento de renda for similar ao de 2006 (cerca de 9%), a taxa de miséria cairá a 16% da população, queda de 11,5%.. A redução seria ainda maior se esse crescimento viesse de mãos dadas com alguma redução da desigualdade. Se a expansão de 3% fosse combinada com uma queda do índice de Gini. Por exemplo, partindo do nível médio de renda e da distribuição de renda de 2007, um crescimento de cerca de 2% como observado levaria a uma redução de pobreza cerca de 40% menor que a observada. Traça-se o cenário de desigualdade escolhendo uma curva de Lorenz de referência e fazendo a associação com índices sintéticos, notadamente, mais com o índice de Gini que é o mais popular deles.. 30.

(31) Cenários de Miséria. Brasil Efeito Crescimento de 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 11% 12% 13% 14% 15% 16% 17% 18% 19% 20% 21% 22%. Renda Domiciliar Per Capita. % Miseráveis. Variação. 526,27. 18,11. 0,00. 531,53. 17,73. -2,08%. 536,80. 17,54. -3,12%. 542,06. 17,25. -4,76%. 547,32. 16,97. -6,31%. 552,59. 16,76. -7,43%. 557,85. 16,59. -8,36%. 563,11. 16,40. -9,46%. 568,37. 16,21. -10,48%. 573,64. 16,03. -11,48%. 578,90. 15,85. -12,45%. 584,16. 15,66. -13,51%. 589,42. 15,49. -14,44%. 594,69. 15,31. -15,45%. 599,95. 15,16. -16,26%. 605,21. 14,99. -17,21%. 610,48. 14,89. -17,75%. 615,74. 14,73. -18,68%. 621,00. 14,54. -19,73%. 626,26. 14,35. -20,75%. 631,53. 14,20. -21,58%. 636,79. 13,98. -22,82%. 642,05. 13,75. -24,06%. Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da PNAD/IBGE. Custo da Erradicação da Miséria Uma outra medida útil no desenho de políticas públicas é o hiato de renda (P1). Isto é, quanto de renda falta, em média, aos miseráveis para que eles consigam satisfazer suas necessidades básicas no mercado. Utilizando como base nossa linha de insuficiência de renda, o déficit médio expresso em termos monetários de cada brasileiro miserável seria R$ 53,61 mensais a preços médios do Brasil - o que volta ao nível acima àquele anterior a 2004, quando o mesmo era a preços constantes R$ 52,32. Em 2006 a mesma estatística era R$ 50,6. Os dados indicam um aprofundamento da severidade da miséria (captada pelo indice conhecido P2 – vide todas as estatística no. 31.

(32) panorama da evolução no site abertos por todas as categorias sócio demográficas no período de 1992 a 2007) contrapondo-se à sua menor extensão (p0). Os dados de redução de renda do primeiro décimo e de aumento da proporção de pessoas com rendas muito baixas medidas na linha de pobreza indicam que os ganhadores foram grupos médios.. Voltando ao cálculo de 2007, como só uma parte dos brasileiros está abaixo da linha, os dados mostram que seriam necessários R$ 9,71 em média, por pessoa, para aliviar totalmente a pobreza no Brasil, totalizando um custo de R$ 1.776 bilhões mensais e R$ 21,3 no ano. As informações revelam quanto custaria para completar a renda de cada brasileiro até a linha de R$ 127 nacional (ou 135 reais a preços da grande SP), ou seja, o menor valor das transferências suficientes para içar cada miserável até o piso de suas necessidades básicas. Este exercício não deve ser lido como uma defesa de determinadas políticas específicas, mas como uma referência ao custo de oportunidade social da adoção de políticas desfocadas. O dado é útil para traçar o alvo das políticas e organizar suas fontes de financiamento.. Transferências Mínimas para Erradicar a Miséria. 9,71. 1,805,836,942. 21,670,043,298. R$ não miserável 11,85. 9,77. 1,790,895,712. 21,490,748,544. 12,11. R$ pessoa. Brasil 2007 Brasil 2006. Ano. Brasil 2007 Brasil 2006. R$ total mês. População Total 186029533 183305600. R$ total ano. Taxa de Miséria 18,11 19,32. População Miserável 33.686.228 35.405.477. Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da amostra da PNAD/IBGE. Notas: Membros efetivos do domicílio. * Hiato Médio de Miséria. ** Hiato Quadrático Médio de Miséria; #Participação no Total da Miséria.. 32. P1* 7,8643 7,9609. R$ miserável 53,61 50,58. P2** 5,08 4,8338.

(33) Simuladores de Renda, Miséria e Nova Classe Média (Classe C) http://www3.fgv.br/ibrecps/RETCM/SIM_PNAD_port/renda.htm. Um sistema de simuladores de probabilidades foi desenvolvido, a partir de modelos multivariados aplicados a variáveis de interesse contínuas (ex: renda) ou discretas (eg. probabilidade de estar abaixo da linha da miséria) ou pertencer à nova classe média, controlado por atributos individuais e geográficos derivados de microdados. Os resultados estimados permitem identificar, por exemplo, vários fatores relativos a renda, a insuficiência de renda e seus impactos. Uma vez encontrados, todos esses fatores são sintetizamos num único indicativo de probabilidade. Este exercício permite, de forma amigável e interativa, calcular a probabilidade de um indivíduo, dadas as suas características sócio-demográficas, geográficas e econômicas, ser ou não pobre.. Ferramenta utilizada para simular probabilidades, através da combinação de seus atributos. Para isso, selecione as suas características no formulário abaixo e clique em Simular.. Os gráficos apresentados mostram, na ordem: - os valores médios de renda - as probabilidades de estar ou não abaixo da linha da miséria - probabilidade de pertencer a classe média. Uma das barras representa o Cenário Atual, com o resultado segundo as características selecionadas; a outra Cenário Anterior apresenta a simulação anterior.. 33.

(34) 4. A Nova Classe Média. Definição de Classes Econômicas Ao contrário de análises da distribuição de renda relativa, onde mapeamos a parcela relativa de cada grupo na renda total, nos fixamos aqui na parcela da população que está dentro de determinados parâmetros fixados para todo o período. Ou seja, estamos preocupados com a renda absoluta de cada pessoa. A presente abordagem é similar àquela usada na análise de pobreza absoluta; só que estamos preocupados também com outras fronteiras, como aquelas que determinam a entrada na classe média e a saída deste grupo para a classe alta. Fazendo uma analogia, na análise distributiva relativa, estamos num gráfico de pizza de tamanho fixo de 100% onde para um grupo ganhar, outro tem de diminuir. Na análise absoluta aqui utilizada, além da dança distributiva, o tamanho de pizza pode mudar. O que está por trás do resultado, é que além daqueles com renda mais baixa terem se apropriado de uma maior parcela relativa da pizza (a redução da desigualdade), a mesma aumentou de tamanho (o crescimento). Passou, digamos, de um tamanho brotinho para média. Na presente análise, estamos preocupados não só com a parcela relativa, mas com a quantidade de pizza apropriada por cada estrato da sociedade.. A Classe C é a classe central, abaixo da A e B e acima da D e E. A fim de quantificar as faixas, calculamos a renda domiciliar per capita do trabalho e, depois, a expressamos em termos equivalentes de renda domiciliar total de todas as fontes. Definidas no estudo divulgado anteriormente, a faixa C central está compreendida entre os R$ 1064 e os R$ 4561 a preços de hoje na grande São Paulo. A nossa classe C está compreendida entre os, imediatamente, acima dos 50% mais pobres e os 10% mais ricos na virada do século6. Heuristicamente, os limites da classe C seriam as fronteiras para o lado indiano e para o lado belga da nossa Belíndia. Investigamos aqui as migrações entre 6. O status relativo de renda dos 10% mais altos vis a vis o resto da distribuição era segundo os estudos de David Lam e Ricardo Paes de Barros o que diferencia a concentração de renda no Brasil frente à de outros países, como os Estados Unidos que não é um país particularmente igualitário. Esta parte da seção está baseada na nossa pesquisa anterior sobre Classe Média (www.fgv.br/cps/classemedia ). 34.

(35) estes diferentes Brasis. A nossa classe C aufere em média a renda média da sociedade, ou seja, é classe média no sentido estatístico. A classe C ela é a imagem mais próxima da média da sociedade brasileira. Dada desigualdade, a renda média brasileira é alta em relação aos estratos inferiores da distribuição.. Na comparação com o resto do mundo: 80% das pessoas no mundo vivem em países com níveis de renda per capita menores que o brasileiro. A distribuição de renda no Brasil é próxima daquela observada no mundo. Temos uma renda ajustada por paridade de poder de compra (PPC) similar à mundial e o Gini interno é similar àqueles observado entre o PIB per capita PPC entre países. Ou seja, a nossa classe média não seria diferente daquela observada no mundo usando os mesmos métodos. Talvez por isso, o estudo mais recente sobre classe média mundial da Goldman Sachs (“The Expanding Middle”) gere resultados próximos a nossa classe C, vulgo média: R$ 859 a R$ 4296 deles contra R$ 1064 a R$ R$ 4591 nosso, ambos expressos em reais da Grande São Paulo de hoje. Outros estudos internacionais variam bastante a definição de Classe Média de R$ 115 a R$ 516 no trabalho de Barnajee & Duflo do MIT de 2007 até R$ 2435 a R$ 10025 do Banco Mundial (Global Economic Prospects de 2007) Este último mais próximo da definição da classe média em países desenvolvidos, segundo o estudo da Goldman Sachs. A nossa classe C está dentro dos limites deles que variam muito entre si. Alguns olham para a nossa classe C e a enxergam como média baixa, e para a nossa classe B e a enxergam como classe média alta. O mais importante é ter um critério consistente definido. De toda forma, aquele pertencente à nossa classe A, que se julgam classe média, procure as palavras Made in USA atrás de seu espelho. Segundo o nosso estudo anterior que usa a PME a parcela da Classe C subiu 22,8% de abril de 2004 a abril de 2008, neste mesmo período a nossa Classe A & B subiu 33,6%. Portanto para quem acha classe média mais rica que a nossa classe C, a conclusão que a classe média cresceu não é afetada, pelo contrário. Transformando uma longa estória abaixo descrita em números objetivos, temos abaixo os limites das Classes Sociais medidas em renda domiciliar (total e per capita) de todas as fontes por mês:. 35.

(36) Definição das Classes Economicas Renda Domiciliar Total de Todas as Fontes Por Mes Limites. Inferior* Superior Classe E 0 768 Classe - D 768 1064 Classe - C 1064 4591 Classes – A e B 4591 * inclusive - calculada a partir da renda per capita e convertida. Definição das Classes Econômicas Renda Domiciliar Per Capita de Todas as Fontes Por Mês Limites. Inferior* Superior 0 135 135 282 282 1218 1218. Classe E Classe D Classe C Classes A e B * inclusive. www.fgv.br/cps. 36.

(37) Simulador de Classes Econômicas – Qual Classe é a sua? http://www.fgv.br/ibrecps/RETCM/Lorenz/index.htm A definição desta nova classe média, ou classe C na pesquisa é aquela cuja renda familiar total entre R$ 1064 e R$ 4591. Para aqueles que se acham meio pobres para os parâmetros usados na pesquisa, aconselhamos, pedagogicamente, usar o simulador disponibilizado no site para ver qual a porcentagem da população está abaixo de você. Por exemplo, quem sofre com os custos de morar na grande São Paulo e tem quatro pessoas em casa - que é o tamanho médio dos domicílios na capital da garoa. Se a renda total da família desta pessoa era de R$ 1064,00, 45,7% vivem abaixo dela. Este seria o começo da classe C, vulgo nova classe média. Já, se a renda total da família fosse de R$ 4591,00, esta população teria cerca de 92% dos brasileiros abaixo de si. Preencha seus dados e veja na página seguinte qual é a porcentagem da população brasileira que está em famílias mais pobres que a sua.. Simulador de Classe Econômica (Descubra a % da população com renda abaixo da sua) Renda Familiar Total (R$): Estado:. Número de Pessoas no Domicilio:. 4.561,00 SP. Região:. Simular. 4 Metropolitana. Reiniciar. Fonte: CPS através do processamento dos microdados da PNAD 2007 - IBGE.. 37.

(38) Simulador de Classe Econômica População abaixo de sua renda (%) Cenário Anterior Renda Familiar Total (R$): 1064. Cenário Atual Renda Familiar Total (R$): 4561. Numero de Pessoas Numero de Pessoas no Domicilio: 4 no Domicilio: 4. 38. Estado: SP. Estado: SP. Região: Metropolitana. Região Metropolitana.

Referências

Documentos relacionados

Além da multiplicidade genotípica de Campylobacter spp., outro fator que pode desencadear resistência à desinfecção é a ineficiência dos processos de limpeza em si,

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O benefício principal será de se observar como estudante universitário, principalmente de instituições privadas, que cumprem dupla jornada de ser trabalhador e estudante, o

(2008), o cuidado está intimamente ligado ao conforto e este não está apenas ligado ao ambiente externo, mas também ao interior das pessoas envolvidas, seus

O gráfico nº11 relativo às agências e à escola representa qual a percentagem que as agências tiveram no envio de alunos para a escola Camino Barcelona e ainda, qual a percentagem de

6 Num regime monárquico e de desigualdade social, sem partidos políticos, uma carta outor- gada pelo rei nada tinha realmente com o povo, considerado como o conjunto de

O mecanismo de competição atribuído aos antagonistas como responsável pelo controle da doença faz com que meios que promovam restrições de elementos essenciais ao desenvolvimento