Após oito meses em São Paulo, trabalhando como assistente de direção do grupo Teatro da Vertigem na montagem do espetáculo “Karta ao pai - O Filho”, Gabriela Luque, diretora de “Rua das Camélias”, retornou a Belo Horizonte e montou no final de 2015 a Companhia Vórtica, juntamente com os atores Ariadina Paulino, Edsel Duarte, Flávia Pacheco, Gabriel Zocrato, Istéfani Pontes, Marina Abelha e Regina Ganz. Interessados em pesquisar narrativas de espaço e site specific, deram inicio a uma pesquisa sobre as mulheres (cis e trans) em situação de prostituição que trabalhavam em hotéis no centro de BH; região marginalizada, mas que atrai jovens de classe média em busca de festas em espaços “alternativos”, blocos de carnaval e que é palco da Virada Cultural.
Levantando questionamentos em relação às identidades das mulheres que pulsam submersas em preconceito e fantasia a equipe se dedicou ao longo de 13 meses a pesquisas e levantamento de material, durante esse tempo houve uma imersão de quatro meses nos hotéis da Rua dos Guaicurus
onde o elenco passou a ir semanalmente, em variados horários, para conversar com as mulheres e observar como elas interagiam entre elas, com os clientes e com o espaço. A dramaturgia, concebida pela própria Cia Vórtica, teve a colaboração do jornalista, dramaturgo e diretor Daniel Toledo e da dramaturga Gabriela Figueiredo, e deixa claro que o texto não pretende ser um porta voz das prostitutas. A ideia é apresentar o que elas sentiram vontade de compartilhar com o grupo durante a pesquisa e propor uma reflexão sem levantar bandeiras ou julgamentos.
Para a realização do espetáculo a Cia realizou um financiamento coletivo que alcançou sua meta antes mesmo do final do prazo estabelecido e em parceria com a Santa Casa ocuparam um antigo hotel de prostituição desativado na região. O espetáculo estreou em novembro de 2016 com 12 apresentações, voltou em fevereiro de 2017 com 9 apresentações na 43a Campanha de Popularização do Teatro e Dança de Belo Horizonte e mais
RUA DAS CAMÉLIAS
Cia Vórtica4 apresentações em março de 2017. Sucesso de crítica e de público, todas as temporadas tiveram apresentações esgotadas. Em janeiro de 2017 a Cia Vórtica recebeu o prêmio Beagá Cool de iniciativa mais cool de Belo Horizonte em 2016 na categoria artes pelo espetáculo Rua das Camélias.
No ano de 2018 a peça participou da 44ª Campanha de
popularização do Teatro e Dança de Belo Horizonte e também do quadro de espetáculos da mostra mineira da 14ª edição do FIT-BH Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte, um dos mais importantes festivais de artes cênicas do Brasil. Uma rua. Um lugar da cidade. Esquinas, portões vermelhos, escadas, corredores e luzes coloridas. Um comércio. Uma profissão tabu. Um pedaço de Belo Horizonte que ninguém conhece. Quem conhece, murmura. E assim a rua segue, seletivamente esquecida. E assim seguem suas mulheres. Invisíveis.
***
Rua das Camélias ocupa um hotel de ‘alta rotatividade’ e procura revelar um pouco da vida que existe atrás do mito. O que é real? O que é fantasia? Quem foi Hilda Furacão? Quem são as mulheres que hoje alugam os quartos destes hotéis? O que procuram? O que isso tem a ver conosco?
A Cia Vórtica traz ao público seu primeiro espetáculo, uma peça em forma de interrogação. Não poderíamos (e não
procurávamos) fazer um teatro de verdades e posicionamentos bem definidos. A rua são muitas, com seus becos, janelas, esquinas, paralelas e perpendiculares. Sua alma não pode ser materializada em palavras fixas, sob o risco de desvanecer por completo, deixando o locutor com modos de inocência ou afetação. Atravessar. Permanecer. Relacionar. Decidimos que nos cabia, apenas, trazer os holofotes. Iluminar onde os olhos até então não alcançavam, e deixar o sentindo se construir naqueles que virão. Precisamos Falar sobre a Rua dos Guaicurus. A porta está aberta, basta entrar.
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CIA VÓRTICA
. Rua das camélias.
Em T ese , Belo Horizonte , V . 24, N. 1, P . 477-493, JAN.-ABR . 2018
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. Rua das camélias.
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