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Perceção do contributo das instituições da Economia Social no desenvolvimento social local: um estudo de caso das IPSS do distrito de Bragança

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Ana Lúcia Félix Almeida

UMinho|20

15

maio de 2015

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Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

Perceção do contributo das instituições da

Economia Social no desenvolvimento

social local

Um estudo de caso das IPSS do distrito de

Bragança

Ana Lúcia F

(2)

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Economia Social

Trabalho realizado sob orientação do

Professor Doutor Paulo Jorge Reis Mourão

Ana Lúcia Félix Almeida

maio de 2015

Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

Perceção do contributo das instituições da

Economia Social no desenvolvimento

social local

Um estudo de caso das IPSS do distrito de

Bragança

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DECLARAÇÃO

Nome: Ana Lúcia Félix Almeida

Endereço eletrónico: ana.lucia2791@gmail.com

Título da dissertação: Perceção do contributo das instituições da Economia Social no desenvolvimento social local – Um estudo de caso das IPSS do distrito de Bragança Orientador: Professor Doutor Paulo Jorge Reis Mourão

Ano de conclusão: 2015

Designação do Mestrado: Mestrado em Economia Social

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE

INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE; Universidade do Minho, ___/___/______

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iii

Agradecimentos

Não poderia iniciar a minha tese sem o devido agradecimento a todos aqueles que me apoiaram e nunca deixaram de me incentivar a concluir o Mestrado em Economia Social.

A chave para o meu sucesso foi sem dúvida o meu orientador, o Professor Doutor Paulo Reis Mourão, que através da sua flexibilidade, persistência e compreensão não me deixou vacilar e me manteve sempre no caminho certo, dando-me pistas e orientações, mas acima de tudo sendo um amigo e apoiando-me nas minhas hesitações.

Depois à minha família, sobretudo aos meus pais, Lúcia e Tito Almeida e ao meu irmão, Titinho, que sempre foram o meu pilar e tiveram paciência para dispensar os seus serões comigo e me deixaram entregue ao mestrado, apoiando-me em todas as circunstâncias e incentivando-me a desenvolver este estudo com o seu carinho e compreensão e aos quais dedico este trabalho.

Não podia esquecer também a minha prima Luísa Soares, a minha madrinha académica, que esteve sempre presente para me apoiar nas minhas dificuldades e para me animar com as suas palavras.

Além destes, não podia deixar de agradecer aos meus amigos, que durante este percurso passaram a pertencer também à minha família do coração, tendo sido uma peça valiosa para me manter focada nos meus objetivos. São eles a Isabel Pimenta, a Joana Ribeiro, a Andreia Vieira e o João Gomes, entre outros que não menciono o nome, mas que sempre estiveram ao meu lado neste período dando-me força e apoio.

Para realizar o mestrado, foi fundamental a compreensão do Pe. Delfim Esteves Gomes e dos meus colegas de trabalho do Centro Social e Paroquial de São Bartolomeu de Vila Flor, que permitiram as minhas ausências sempre que necessário e me animaram depois das noites mal dormidas e dos fins-de-semana sem descanso.

Por último tenho também de agradecer aos professores do Mestrado em Economia Social, pelo conhecimento transmitido, sem a vossa ajudo não seria possível empenhar-me neste trabalho, a Professora Doutora Maria Cristina Moreira, Professora Doutora Ermelinda Lopes, a

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iv

Professora Doutora Sílvia Sousa, o Professor Doutor Orlando Pereira, a Professora Doutora Minoo Farhangmerh, a Professora Doutora Maria José Casa-Nova e a Professora Doutora Natália Pimenta Monteiro.

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v

“Perceção do contributo das instituições da Economia Social

no desenvolvimento social local – Um estudo de caso das IPSS

do distrito de Bragança”

Resumo

Embora de difícil definição, a Economia Social é um sector da economia que tem vindo a ganhar relevo principalmente nas sociedades desenvolvidas, como é o caso da Europa. Porém ultrapassa algumas dificuldades, principalmente devido ao facto de não ser um sector previsto na legislação vigente e por ter uma grande diversidade de organizações diluídas por todo o mercado. Há então que dar conhecimento das potencialidades da Economia Social, no apoio à sociedade em áreas a que nem o sector público, nem o sector privado conseguem dar resposta, como ocorre a nível local, permitindo a geração de valor acrescentado e emprego para os residentes.

Neste estudo propus-me ir ao encontro das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) do distrito de Bragança, procurando compreender o contributo das instituições da Economia Social no desenvolvimento social local. Usando questionários, procurei perceber qual o contributo para o desenvolvimento social local no distrito de Bragança composto por uma grande diversidade de organizações pertencentes à Economia Social, e onde existem cerca de 150 IPSS.

Provou-se que há efetivamente a perceção de contributos relevantes para a comunidade local, pois são criados serviços e apoios às famílias que de outra forma não existiam, sendo na sua maioria Centros Sociais e Paroquiais. As IPSS do distrito de Bragança têm como principais áreas de atuação a Terceira Idade e a Infância e dão resposta aos seus beneficiários recorrendo essencialmente a financiamentos da Segurança Social. Porém estas instituições não funcionam de forma isolada criando protocolos com Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Escolas, Universidades, entre outras entidades locais.

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(8)

vii

"An Insight into the contribution of the Social Economy’s

institutions on the local, social development – A case study of

the IPSS of Bragança district"

Abstract

Although it is difficult to define, the social economy is an economic sector that has been getting relevance, especially in developed societies, as it is the case of Europe. Nevertheless, this sector is having some difficulties, mainly because it is not a sector projected in the current legislation and also because it includes a wide range of organizations. Thus, one needs to unveil the potential of social economy, in supporting society in areas that cannot be addressed by the public or the private sector, as it locally occurs, enabling the development of added value as well as work for local residents.

In this study I intended to analyze the IPSS (private charity institutions) of the district of Bragança, trying to understand the role of the Social Economy institutions in the local social development. Using a survey, I tried to identify the contribution of these IPSS to the local development in the district of Bragança. This district is composed of a wide range of Social Economy organizations, and there one can find about 150 IPSS.

It has been proven that, effectively, there is the awareness of relevant contributions to the local community, seeing that these IPSS created services and support to families (mainly through Social and Parish Centres) that would otherwise not exist. The IPSS of Bragança district have, as main users, Senior Citizens and Children and respond to their beneficiaries using essentially the financing of Social Security. However, these institutions do not operate singlehandedly, since they develop protocols with Municipal Councils, Parish Councils, Schools, Universities, amongst other local entities.

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ix

Índice

Agradecimentos ... iii Resumo ... v Abstract ... vii Índice ... ix Índice de Figuras ... xi Índice de Tabelas ... xi Índice de Gráficos ... xi

Siglas e Abreviaturas ... xiii

1. Introdução ... 1

1.1 Motivação ... 1

1.2. Problemática e objetivos ... 2

1.3. Estrutura da Tese ... 3

2. Revisão da Literatura ... 5

2.1. O Terceiro Sector e a Economia Social ... 5

2.2. Evolução Histórica da Economia Social na Europa ... 8

2.3. A Economia Social no contexto português ... 11

2.4. As IPSS ... 15

2.5. Desenvolvimento Local – noção e evolução ... 18

2.5.1. Perceção da importância das instituições da Economia Social no desenvolvimento local – uma revisão de algumas fontes mediáticas ... 26

3. Construção do Inquérito à perceção da ação das IPSS do distrito de Bragança ... 29

3.1. Metodologia ... 29

3.2. As IPSS do distrito de Bragança ... 30

3.3.Questionário ... 32

4. Resultados ... 37

4.1. Breve análise das respostas ao inquérito ... 37

4.2. Limitações do estudo ... 52

4.3. Relação entre resultados e o Desenvolvimento Social Local ... 53

5. Considerações finais ... 55

6. Referências bibliográficas ... 59

Anexos ... 63

A.1. Inquérito ... 63

(11)

x

A.2.A1. Os Concelhos em que se inserem as organizações ... 66

A.2.A2. Classificação das Instituições ... 67

A.2.A3. Áreas de Atuação ... 68

A.2.A4. Instalações ... 69

A.2.A5. Meio de Transporte ... 70

A.2.A6. Adesão das IPSS às uniões e outros organismos ... 71

A.2.A7. Filiação com outras organizações ... 72

A.2.A8. Existência de Protocolos com actores externos ... 73

A.2.A9. Existência e contabilização dos sócios das IPSS ... 75

A.2.A10. Número de Beneficiários por IPSS ... 76

A2. B.1. Número de Funcionários das IPSS ... 77

A2. B2. Funcionários em Função do Gênero ... 78

A2. B3/4/5. Níveis de Ensino dos Funcionários das IPSS ... 79

A2. B6. Voluntariado ... 81

A2. C1. Fontes de Financiamento ... 82

A2. C2. Financiamento médio anual ... 83

A2. D1. Oferta de Atividades ... 84

A2. D1. Fatores que dificultam a atuação da organização ... 85

A2. D3. Os funcionários são suficientes para o bom funcionamento da organização? ... 87

A2. D4. As instalações estão adaptadas à organização? ... 88

A2. D5. Necessidade de Intervenção... 89

A2. D6. Atividades com maior potencial para as IPSS ... 90

(12)

xi

Índice de Figuras

Figura 1 – Áreas de atuação do Terceiro Sector……….…..7

Figura 2 – Principal Público-alvo da Economia Social em Portugal ……….…….14

Figura 3 – Tipologia de Associações existentes em Portugal……….….…15

Figura 4 – Tipos de IPSS……….……….16

Figura 5 – Desenvolvimento Local e Sustentável………..………25

Índice de Tabelas

Tabela A – Tipologia do Terceiro Sector sob diferentes pontos de vista……….………6

Tabela B – IPSS por grupos de entidades da ES e por atividade (2010)……….……….13

Tabela A9.1. – Existência de Sócios………..43

Tabela A10.2. - Beneficiários das IPSS…………...………...43

Tabela B1. – Funcionários das IPSS……….……….44

Tabela C2. – Financiamento médio anual das IPSS……….……….47

Índice de Gráficos

Gráfico 1 - Distribuição das IPSS do distrito de Bragança por tipologia….………..30

Gráfico 2 - Número de IPSS registadas na Segurança Social por distrito (2009).……31

Gráfico A1.1. – Distribuição por Concelho………..….37

Gráfico A2.1. – Classificação das Organizações .…….………..………...38

Gráfico A3.1. – Áreas de Atuação.……….……….……..39

Gráfico A4.2. – Instalações (%)..…….……….39

Gráfico A5.2. – Meio de Transporte (%)……….40

Gráfico A6.1. – Adesão das IPSS às uniões e outros organismos……….…...41

Gráfico A7.1. – Existência de filiações com outras organizações (%)..……….……41

Gráfico A8.2. – Existência de Protocolos com atores externos (%)……….…...……....42

Gráfico A8.3. – Protocolos com atores externos .……….……...42

(13)

xii

Gráfico B4. – Níveis de ensino dos funcionários das IPSS (%)………....45

Gráfico B6. – Existência de Voluntariado,.………....46

Gráfico C1.2. – Principal fonte de financiamento (em %)….……….47

Gráfico D1.1. – Oferta de atividades em quantidade suficiente? (%)……….….…….48

Gráfico D2.1. – Fatores que dificultam a actuação da organização……….………49

Gráfico D3.2. – Os funcionários são suficientes? (%)………..………....50

Gráfico D4.2. – As instalações estão adaptadas à organização? ...50

Gráfico D5.1. – Necessidade de Intervenção………..50

Gráfico D6.2. – Atividades com maior potencial nas IPSS………..51 Gráfico D7.1. - Medidas de melhoria da eficiência na resposta dada pelas IPSS…52

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xiii

Siglas e Abreviaturas

Animar - Associação portuguesa para o desenvolvimento local ATL – Atividades de Tempos Livres

CAOES – Classificação das Atividades das Organizações da Economia Social CEE – Comissão Económica Europeia

CIRIEC – Centro Internacional de Pesquisa e Informação sobre Economia Pública, Social e Cooperativa

CNIS – Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social CSES – Conta Satélite da Economia Social

EEE – Estratégia Europeia para o Emprego ES – Economia Social

ESMED – Rede Euromediterrânea de Economia Social

FEADER – Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural FEAGA – Fundo Europeu Agrícola de Garantia

FSE – Fundo Social Europeu

IDL – Instituições de Desenvolvimento Local

IEFP - Instituto do Emprego e Formação Profissional IFAP – Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas INE – Instituto Nacional de Estatística

IPB – Instituto Politécnico de Bragança

IPSS – Instituições Particulares de Solidariedade Social

OES – Organizações da Economia Social ONG – Organizações Não Governamentais

TSESME – Innovative Vocational Training Approaches in Social Economy Small and Micro Enterprises

(15)
(16)

1

1. Introdução

«A economia só será viável se for humana, para o homem e pelo homem.» Papa João Paulo II 1.1 Motivação

A tese de mestrado que apresento é subordinada ao tema “Perceção do contributo das instituições da Economia Social no desenvolvimento social local – Um estudo de caso das IPSS do distrito de Bragança”.

Através deste tema tentei, por um lado ir ao encontro das políticas locais e do desenvolvimento das comunidades e, por outro, estudando as IPSS, instituições que persistem em aproximar-se de nós e que cada vez mais procuram acompanhar e apoiar o desenvolvimento das sociedades nas diversas fases da vida, desde a infância à terceira idade.

Para melhor aprofundar este tema decidi ir ao encontro das instituições da Economia Social existentes no distrito onde resido, voltando o meu estudo para as IPSS existentes no distrito de Bragança, de forma a perceber as suas potencialidades e contributos para o desenvolvimento local e consequentemente o seu impacto a nível regional numa zona em que o despovoamento é constante e em que se sente de forma mais acentuada o envelhecimento da população e a redução do número de nascimentos.

O início deste estudo passou por uma pesquisa exploratória do tema, de forma a perceber, não apenas as origens históricas da Economia Social, como também a sua definição e a multiplicidade de organizações que esta engloba, por outro lado procurei compreender as dimensões do desenvolvimento local e as suas potencialidades para o reforço da identidade de cada sítio e para a fixação de população nos territórios.

Foi também necessário definir uma metodologia adequada à investigação que pretendia realizar, começando por definir a questão de partida e hipóteses que orientaram o estudo, passando depois a realizar uma revisão de literatura que aprofundem o trabalho de autores relevantes na área. Já os métodos quantitativos a aplicar de forma a obter dados relevantes ao estudo que me propunha a desenvolver,

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2

tomaram forma pela aplicação do inquérito por questionário. Por fim foram apresentados e discutidos os resultados obtidos.

1.2. Problemática e objetivos

Com este estudo pretendo analisar um conjunto de IPSS e compreender de que forma é que estas contribuem para o desenvolvimento local nas suas vertentes de criação de emprego local, formação de valor social e geração de poupança principalmente pelas famílias assistidas. Ou seja, proponho-me a tentar identificar o papel desempenhado pelas IPSS em relação ao espaço em que se inserem, de forma a encontrar os reais contributos que estas instituições trazem para a população residente.

Assim, baseando-me na pesquisa exploratória que realizei previamente, formulei a seguinte pergunta de partida: “Qual a perceção dos contributos das IPSS

para o desenvolvimento social local?”. Esta questão serviu como um guia de

orientação para todo o trabalho. Neste sentido, após a formulação da questão de partida concluí que iria recorrer principalmente a uma abordagem metodológica qualitativa, utilizando referências de autores relevantes para o meu estudo e efetuando então a revisão da literatura com base nas suas obras acerca da Economia Social, Associativismo e Desenvolvimento Local. 1 Além disso recorri também a uma abordagem metodológica quantitativa, uma vez que pretendia desenvolver o tema recorrendo à realização de inquéritos por questionário às IPSS e assim recolhendo informação estatística, de forma a obter dados que contribuíssem para o enriquecimento da minha tese e me levassem ao encontro da realidade das IPSS no distrito de Bragança.

Para melhor desenvolver aquilo a que me propus, desenvolvi a seguinte questão e respetivas hipóteses de resposta, as quais passo a listar:

1

Metodologia realizada de acordo com as regras enunciadas em Quivy and Campenhoudt (2008)

(18)

3

1. Existe a perceção de que as IPSS contribuem para o desenvolvimento local? H1.1: Existe a perceção de que as IPSS têm um contributo positivo para o desenvolvimento local

H1.2: Existe a perceção de que as IPSS não representam qualquer contributo para o desenvolvimento local

Para chegar a conclusões, apliquei um questionário às instituições envolvidas, de forma a obter a perceção que aqueles que se encontram à frente destas organizações têm do contributo que estas instituições representam para o desenvolvimento da localidade em que se inserem.

1.3. Estrutura da Tese

Esta dissertação é composta por seis Capítulos distintos, os quais são internamente subdivididos em vários subcapítulos que melhor permitem uma adequada compreensão dos temas abordados. Além deste primeiro capítulo introdutório, temos os seguintes. O Capítulo 2 aborda as bases teóricas da dissertação desde as raízes da Economia Social e a distinção entre esta e o Terceiro Sector, passando pelo associativismo onde se destacam as IPSS e por fim pelo desenvolvimento local e suas características.

Já no Capítulo 3, é apresentado o desenvolvimento metodológico da tese, desde a metodologia utilizada, passando ao inquérito a aplicar para obter dados relevantes para o estudo, sendo que é no Capítulo 4 que são revelados os resultados deste estudo, através da apresentação dos dados estatísticos relevantes que foram obtidos, relacionando-os no final com o Desenvolvimento Social Local.

No capítulo 5 são apresentadas as considerações finais e as principais conclusões que o estudo permitiu apurar. Por fim o capítulo 6 contempla as referências bibliográficas a que recorri ao longo do meu estudo.

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(20)

5

2. Revisão da Literatura

2.1. O Terceiro Sector e a Economia Social

Ao longo da história o papel do Estado tem vindo a sofrer constantes mutações. Há alturas em que existe uma maior necessidade de intervenção do aparelho estatal na economia e, por outro lado, há outros momentos que geram um recuo do Estado e dos diversos papeis que este assume numa sociedade. Porém, sem a intervenção de outros agentes económicos que não o Estado, uma economia nunca poderia funcionar em pleno. Na conjuntura atual, cada vez mais será necessário que outros agentes passem a assegurar funções tradicionalmente atribuídas ao Estado, dado que neste momento por si só o Estado não detém meios para as desenvolver. Como Silva (2013:17) descrevia, houve a necessidade de “transferir algumas das funções do Estado em matéria social quer para o sector privado ou para o chamado «Terceiro Sector»”.

É neste contexto que o Terceiro Sector passa a assumir um papel de destaque, dado que a diversidade de áreas de atuação que inclui e a quantidade de pessoas que envolve permitem uma exploração deste sector de forma a colmatar as falhas do Estado.

O surgimento do Terceiro Sector é atribuído precisamente às transformações e à crise do Estado de Bem-Estar, sendo este associado à atuação no âmbito social. Assim começarei por definir o que efetivamente representa o Terceiro Sector, dado que este é um conceito complexo e como tal há vários autores a apresentar as suas teorias acerca do mesmo. Segundo Donati (1997), há duas formas de definir o Terceiro Sector. Em primeiro lugar numa perspetiva externa, ou seja, do ponto de vista da sociedade e das instituições que observam o Terceiro Sector, por outro lado tem de se ter em conta a perspetiva interna, a qual é desenvolvida a partir do interior do Terceiro Sector através das suas instituições.

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6

A partir da perspetiva externa do Terceiro Sector, Donati (1997) apresenta a seguinte tipologia:

Tabela A – Tipologia do Terceiro Sector sob diferentes pontos de vista Ponto de vista da Economia Economia Social

Ponto de vista político Novos sujeitos políticos com as suas finalidades e estratégias

Ponto de vista regulamentar Novas redes de socialidade

Ponto de vista cultural Nova cultura civil

Fonte: Donati, Pierpaolo (1997) El desarrollo de las organizaciones del Tercer Sector en el proceso de modernizacion y mas alla, Revista REIS. Madrid: CIS, nº79, pág. 117

Assim, Donati (1997) apresenta o Terceiro Sector não como uma mistura entre o sector público e o sector privado, mas sim como uma realidade sui generis constituída por esferas próprias que se encontram em relações sistémicas com os outros dois sectores. Este sector produz os chamados bens relacionais, os quais não podem ser produzidos nem por organizações estritamente públicas, nem pelas que são unicamente privadas, pois tem características relacionais específicas que o tornam hibrido.

Para Franco (2002):

“Estas organizações fornecem uma variedade de serviços humanos, desde a saúde e educação aos serviços sociais e de desenvolvimento comunitário. Estas organizações são conhecidas por identificar e ir ao encontro de necessidades não satisfeitas, por inovar, por fornecer serviços de qualidade excepcional e, com frequência, por servir aqueles com maiores necessidades”

São deste modo instituições que vão para além da normal atuação de mercado e procuram ir ao encontro daqueles que mais necessitam proporcionando-lhes serviços a que de outro modo não teriam qualquer acesso.

Já para Quintão (2011), o Terceiro Sector é o:

“Conjunto de organizações muito diversificadas entre si, que representam formas de organização de atividades de produção e distribuição de bens e prestação de serviços, distintas dos dois agentes económicos – os poderes públicos e as empresas privadas com fins lucrativos – designados frequentemente e de forma simplificada, por Estado e Mercado”

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7

Figura 1 - Áreas de atuação do Terceiro Sector

Fonte: adaptado deQuintão, C., 2011. O Terceiro Sector e a sua renovação em Portugal: uma abordagem preliminar

Ao fazer a pesquisa exploratória, concluí que a Economia Social representa uma parte do Terceiro Sector, sendo difícil fazer-se uma delimitação precisa do que é em concreto a Economia Social tal como acontece quando se tenta definir Terceiro Sector. No entanto quando se fala no surgimento destes conceitos afirma-se que primeiro surgiu a Economia Social e só posteriormente se formou o Terceiro Sector, pois como referia Mourão (2007) as primeiras instituições da Economia Social surgem antes do século XV. Já o termo Terceiro Sector é usado pela primeira vez por J. Delors e J. Gaudin em 1979 de acordo com a investigação de Carlota Quintão (2004). Há também em função de cada país uma definição própria, que nem sempre coincide com a que outros países defendem.

Segundo Caeiro (2008) “O conceito de Economia Social tem nos últimos tempos sido alvo de um intenso e animado debate, no sentido da procura de um fio condutor suficientemente forte para permitir de forma consistente entender o que se pretende significar”, assim ao longo do tempo o conceito de Economia Social foi sofrendo constantes mutações. Porém este autor apresenta a Economia Social como o conjunto de organizações privadas que não têm fins lucrativos, mas que se autofinanciam tendo objetivos de cariz social que nem o sector público nem o sector privado são capazes de levar a cabo.

Terceiro

Sector

Cultura Educação Saúde Protecção Social Ambiente Desporto Direitos Civis

(23)

8

Já para Namorado (2004) a Economia Social além das organizações que a compõem representa um “espaço conceptual e doutrinário sulcado por perspetivas por vezes contraditórias, lugar de conceções em amadurecimento, espaço de concorrência entre correntes de pensamento diferentes, mas no seio do qual se reforça a ideia de que estamos perante um campo fecundo, elemento de uma globalização diferente daquela que predomina hoje”, apresentando a Economia Social como uma parte do Terceiro Sector, com grandes potencialidades na contemporaneidade.

2.2. Evolução Histórica da Economia Social na Europa

Na atualidade, a Economia Social tem um forte peso na economia europeia, de acordo com a publicação do Comité Económico e Social Europeu (2007). Esta tem cerca de 2 milhões de organizações em todo o espaço europeu, as quais representam 10% do total das empresas deste território garantindo postos de trabalho a mais de 11 milhões de cidadãos europeus, ou seja dando emprego a quase 7% da população ativa da União Europeia. Porém, para que se possa perceber o porquê desta dimensão e do desconhecimento por parte de muitas pessoas deste subsector da economia, é necessário ir ao encontro das suas origens.

Atribui-se o surgimento da Economia Social moderna à sociedade francesa do século XIX, sendo pelas mãos de Charles Dunoyer2 que surge pela primeira vez este conceito, associado a organizações como as cooperativas, associações e mutualidades. Sendo um conceito desenvolvido no espaço europeu, faz sentido apresentar a sua evolução ao longo dos tempos neste mesmo território de forma a compreender a atual dimensão que a Economia Social assume neste espaço.

2

Charles Dunoyer de acordo com a obra “Les idées Economiques et Politiques de Charles Dunoyer” de 1907 nasceu em 1786 em França e teve uma formação clássica em Direito, mas voltou a sua atuação para a Economia Política, tornando-se num economista liberal, cujo maior contributo seria a identificação de ciclos económicos, além disso foi o primeiro a usar a expressão Economia Social no seu livro “Traité d’Économie Sociale” (1830).

(24)

9

Desta forma, recorro à delimitação temporal definida por Caeiro (2008) que compreende 5 períodos evolutivos:

1. 1791-1849: é nesta altura que ocorre a Revolução Francesa e a luta por um grupo de ideais que dá origem a um conjunto de movimentos associativos geralmente ligados ao proletariado. Dá-se então origem à Economia Social moderna.

2. 1850-1900: há um reforço do papel do Estado. Dada a situação crítica que a Europa ultrapassa, o Papa publica a encíclica Rerum Novarum incitando a população a regressar ao “associativismo das profissões”, o que gerou um crescimento do número de associações neste período.

3. 1901-1945: foi neste espaço de tempo que ocorreram as duas Guerras Mundiais, acontecimentos marcantes e que acabaram por alterar a situação europeia, sendo que até à 2ª Guerra Mundial se dá uma fragmentação das cooperativas e mutualidades até então existentes. Com o final dos conflitos, gera-se uma mudança de mentalidade da sociedade e um aumento das preocupações sociais.

4. 1945-1975: no pós 2ª Guerra Mundial, o modelo de Estado vai-se alterando, passando a ter uma maior intervenção na economia e a prosseguir também fins sociais, em função da necessidade de reconstrução de uma Europa devastada pela guerra. Assim, a Economia Social fica para 2º plano.

5. 1975-2006: é nos anos 70 que começa a surgir uma crise do Estado de Bem-Estar e é também a partir deste momento que a Economia Social ganha novo fôlego e passa a ter importância na medida em que o Estado deixa de ter meios para fazer face às crescentes dificuldades sociais. É assim crescente o surgimento de novas associações, mutualidades e cooperativas com âmbitos mais diversificados. Com estas há também a criação de novos postos de trabalho. É no ano de 1975 que surge o Comité Nacional de Coordenação das Atividades Mutualistas, Cooperativistas e Associativistas em França, país vanguardista na Economia Social onde em 1981 esta passa a fazer parte integrante de uma delegação interministerial do governo, ficando dependente de uma Secretaria de Estado. Em Portugal surge em 1976 a União das Misericórdias Portuguesas que teve um importante papel no desenvolvimento das áreas de atuação deste tipo de IPSS.

(25)

10

Assim é possível constatar que tanto o surgimento, quanto as mutações ocorridas no seio da Economia Social, são sempre causadas por situações de crises económicas e sociais que determinam mudanças cruciais para as condições de vida, como apresentava Ferreira (2009) no seu estudo.

Este é o período de aparecimento de várias instituições no setor. Uma das instituições com maior relevo na análise deste setor é o Centro Internacional de Pesquisa e Informação sobre Economia Pública, Social e Cooperativa (CIRIEC), que tem vindo a desempenhar um papel de destaque na Europa realizando estudos acerca da Economia Social e procurando quer na identificação deste conceito, quer na realização de estudos que permitiram fazer publicações, esclarecer a composição deste sector na economia dos diversos países da Europa.

Há ainda que dar relevo à organização com o nome Economia Social Europa3 a qual de acordo com Instituto do Emprego e Formação Profissional (2010) funciona como um “lobby” representando desde 2000 as empresas da Economia Social no espaço europeu, procurando agrupar os interesses e ambições destas organizações e transmiti-los às instituições da União Europeia.

Existe também uma Rede Euromediterrânea de Economia Social (ESMED) que inclui um conjunto de países ligados pela sua localização geográfica na bacia mediterrânica, os quais têm ligações económicas e, faz todo o sentido que também no que respeita à Economia Social estejam em interação. São países membros desta rede Portugal, França, Itália, Argélia, Marrocos e Tunísia.

Houve ainda uma preocupação com a formação profissional das pequenas e microempresas da Economia Social Europeia, sendo criado no ano de 2008 para tal fim o Innovative Vocational Training Approaches in Social Economy Small and Micro Enterprises (TSESME) que é já considerado um projeto de referência para o Instituto do Emprego e Formação Profissional (2010).

3

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11

2.3. A Economia Social no contexto português

De acordo com Mourão (2007), as instituições da Economia Social como as Confrarias e Irmandades surgiram na Europa há cerca de mil anos, aparecendo sempre ligadas à religião e tendo objetivos de apoio social. Já em Portugal a primeira forma sistémica de instituições de Economia Social ainda existente remonta ao século XV, com o surgimento das Misericórdias, que segundo Mourão (2007) foram “fundadas pela Rainha Dª Leonor (esposa de D. João II, de Portugal), no dia 15 de Agosto de 1498, ganham um vigor especial com o estímulo do Rei D. Manuel I, através de Carta Régia de 1499.”. Passando então a assumir um papel de relevo no que concerne à ação de apoio às classes mais desfavorecidas da sociedade, em primeira instância através da criação de hospitais das misericórdias e que na atualidade têm diversas valências e se repartem um pouco por todo o país. Porém as mutualidades só no século XIX se começam a desenvolver.

Já no século XX é inserido na Constituição da República Portuguesa de 1976 o sector cooperativo, que com a revisão constitucional de 1989 passa a assumir uma vertente social, passando a denominar-se sector cooperativo e social e a abranger vários subsectores que faziam parte do sector público. Só em 1997, com uma nova revisão constitucional, passa a integrar este sector cooperativo e social, na sua vertente social, o subsector solidário.4

Assim no nosso país não está prevista a Economia Social, mas sim um sector cooperativo com uma vertente social, o qual é dividido em três subsectores. Esta compreende assim as cooperativas, misericórdias, mutualidades, fundações, associações, bem como as instituições do sector comunitário e autogestionário e outras organizações que tenham como objetivo fulcral a solidariedade social.

A Economia Social enfrenta então aquilo que Franco (2002) identificava como “desafios críticos”. Entre estes desafios, destacam-se, em primeiro lugar a legislação

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Segundo Namorado (2006) a legislação portuguesa define sector cooperativo e social que é encarado “como um dos três setores de propriedade dos meios de produção, ao lado do sector privado e do sector público”, o qual corresponde à economia social como hoje a conhecemos. Já o subsetor solidário, que passa a ser parte integrante da vertente social deste setor com a revisão constitucional de 1997, representa as organizações sem fins lucrativos cuja finalidade é a solidariedade, sendo na sua maioria composto por Mutualidades e IPSS.

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portuguesa, ao contrário de outras economias europeias, inclui a Economia Social, embora de uma forma um pouco ambígua dado que não estabelece os seus limites sendo necessário um fortalecimento do enquadramento legal existente. Há também uma notória falta de dados estatísticos nesta área, o que impede o sector de ter uma maior visibilidade no nosso país e de potenciar as virtudes que a ele se associam, sendo deste modo necessário “aumentar o conhecimento do público sobre o sector” (Franco, 2002). Por outro lado é ainda necessária uma melhoria nas relações existentes entre as instituições da Economia Social e o Governo, pois isoladamente cada uma das partes não tem uma capacidade plena de ação no plano social.

Um dos Estudos desenvolvidos pelo CIRIEC em 2007 identificava Portugal como um dos países em que a Economia Social tem maior aceitação e se encontra em emergência, estando o nosso país ao mesmo nível de outros como a Espanha, França, Bélgica, Itália, Suécia e Irlanda. No ano de 2006 realizou-se em Portugal um Seminário desenvolvido pelo Montepio Geral, o qual era subordinado ao tema “Economia Social: contributos para repensar o papel das organizações mutualistas”, o qual contou com a participação de nomes de referência na área como Costa Leal e Carlota Quintão, chegando-se a conclusões não apenas dirigidas ao Montepio Geral, como também à generalidade da Economia Social como é o caso da dependência financeira destas organizações perante o Estado.

O estudo mais recente acerca da Economia Social realizado no nosso país foi a Conta Satélite da Economia Social, publicada em Maio de 2013 e incluindo dados das instituições da Economia Social para o ano de 2010. Este estudo constatou a existência de mais de 55000 organizações em funcionamento em Portugal, o que representa 2.8% do VAB e 5.5% do emprego remunerado. Outro passo importante dado este ano foi a publicação da Lei das Bases da Economia Social que passou a regular, a partir do mês de Junho, o funcionamento das organizações por esta prevista, bem como a incentivar a criação de novas organizações e desenvolvimento da sua atividade.

Segundo dados da Conta Satélite da Economia Social que apresento na Tabela B, recolhido no ano de 2010 e que tiveram em conta cerca de cinco mil IPSS existentes em Portugal, chegou-se à conclusão que na sua grande maioria se encontram as

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associações e outras organizações sem fins lucrativos, as quais assumem mais de quatro mil entidades. De entre as restantes, com valores muito menores, seguem-se as Misericórdias (342 entidades), Fundações (209 entidades), as Mutualidades (119 entidades) e por fim as Cooperativas (117 entidades).

Quanto às áreas de atividade desenvolvidas por estas IPSS, destaca-se principalmente a Ação Social levada a cabo por 3232 entidades. Outra área relevante são os Cultos e congregações, nos quais se incluem a maioria de Centro Sociais e Paroquiais, que estão cada vez mais presentes nas comunidades locais de acordo com os dados da Conta Satélite da Economia Social. Em menor número surgem as Atividades Financeiras com apenas 5 organizações a levar a cabo estas funções no ano de 2010.

Tabela B – IPSS por grupos de entidades da ES e por atividade (2010)

CAOES Cooperativas Mutualidades Misericórdias Fundações Ass. e

outras OES Total Desenvolvimento, Habitação e Ambiente 3 0 0 0 161 164 Atividades Financeiras 0 5 0 0 0 5 Ensino e Investigação 15 0 0 9 73 97 Saúde e Bem-Estar 18 7 9 16 148 198 Ação Social 78 106 327 170 2 551 3 232 Cultura, Desporto e Recreio/Lazer 2 0 0 7 289 298 Cultos e Congregações 0 0 6 4 968 978 Organiz. Profissionais, Sindicais e Políticas 1 1 0 0 23 25 Não Especificadas 0 0 0 3 22 25

Total de IPSS por Grupo 117 119 342 209 4.235 5 022

Fonte: Adaptado de INE, Conta Satélite da Economia Social

No entanto há que referir que este sector passa por alguns problemas, como referia Ferreira (2009):

“Falta uma organização confederadora que fale em nome do sector, falta um interlocutor governamental, falta legislação geral, faltam estudos gerais que contabilizem e caracterizem um sector, falta o consenso acerca de um interesse comum ou uma identidade mínima comum, etc”

deste modo é necessário colmatar estas falhas para que este sector possa desenvolver todas as suas potencialidades.

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Dada a diversidade de organizações existentes, também o público-alvo da Economia Social no nosso país é muito amplo, tal como é possível verificar na Figura 2, incluindo desde as crianças e idosos atá aos desempregados e doentes.

Figura 2 – Principal Público-alvo da ação da Economia Social em Portugal

Fonte: adaptado de Instituto do Emprego e Formação Profissional, 2010. Economia Social. Dirigir - a revista para chefias e quadros, no109

Atualmente, encontrando-se o nosso país a atravessar uma grave crise, não só financeira e económica, mas também ao nível social, a Economia Social vem trazer novas respostas como afirmava Ferreira (2009):

“O conceito de Economia Social e o de economia solidária e o pensamento subjacente a estes conceitos regressam por razões que não se prendem apenas com a crise das explicações monocausais e a busca por modelos explicativos e de política diferentes, mas também porque propõem soluções para a crise económica e social que se aprofunda.”

Estas iniciativas têm também um carácter solidário, havendo um número crescente de trabalho voluntário, mas também de trabalho remunerado desenvolvido por estas organizações e é precisamente através desta conjugação de esforços que a Economia Social pretende ser um elemento potenciador da economia e diferenciador, pois é em momentos de crise que apresenta maior desenvolvimento como apresentava Ferreira (2009).

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2.4. As IPSS

São muitas as instituições que fazem parte da Economia Social, desde as cooperativas e as fundações, até às simples relações de vizinhança e familiaridade. Porém ao longo deste estudo centrei-me, noutro tipo de instituições: as associações, as quais representam 1/3 do total das instituições da Economia Social assumindo assim grande peso e relevo quando se procede à análise da ES como um todo. As associações estão subdivididas em outras organizações, como se pode observar na figura 3. Todas elas são bastante distintas entre si, quer pelos fins a que se destinam quer pela dimensão que assumem na sociedade.

Figura 3 – Tipologia de Associações existentes em Portugal

Fonte: Adaptado de Quintão, Carlota. (2011). “O Terceiro Sector e a sua renovação em Portugal: uma abordagem preliminar.”. Working Paper. Porto: Universidade do Porto – Instituto de Sociologia.

As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) são aquelas sobre as quais me focarei ao longo desta dissertação, dada a importância deste tipo de instituições como descrevia Carlota Quintão (2011): “pela sua história e papel na implementação do sistema de proteção social, pelo seu forte crescimento quantitativo e pela sua expressividade territorial e económica, assume uma grande relevância na recomposição do terceiro sector em Portugal”

Além disso têm um estatuto jurídico próprio e surgem cada vez mais instituições desta tipologia, por isso achei pertinente fazer uma abordagem a este tipo

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de associações, de forma a melhor perceber o seu âmbito de atuação. De acordo com Caeiro (2008) em Portugal estas instituições têm uma finalidade não lucrativa e têm por objetivo:

“dar expressão à solidariedade e justiça entre os indivíduos, no intuito da prestação de serviços que vão do apoio a crianças e jovens, à família, à integração sócia e comunitária, à proteção da saúde, educação e formação profissional dos cidadãos e à resolução de problemas habitacionais dos cidadãos.”

Caeiro (2008) admite ainda que há vários tipos de IPSS como apresento na fig. 4. São eles as associações de socorros mútuos, as irmandades de misericórdia, associações de solidariedade social, as fundações de solidariedade social ou as associações de voluntários de ação social.

Voltando para o tema central, para melhor compreender o que está na base das associações, é necessário primeiro defini-las e depois compreender a sua história. Deste modo, segundo Coelho (2007), as associações são organizações geralmente sem fins lucrativos e que consistem na reunião de um conjunto de cidadãos em torno de um objetivo social devidamente constituído e regulamentado, sendo que os seus membros permanecerão na associação enquanto o fim para que esta foi criada lhes for útil. Assim este autor afirma que:

“As associações são compostas por diversos órgãos, regidas por estatutos e regulamentos internos, onde a ação individual e coletiva está espartilhada pelas normas constantes naqueles documentos, isto é, na instituição da personalidade jurídica.” (Coelho, 2007)

Figura 4 – Tipos de IPSS

Fonte: adaptado de Caeiro, Joaquim Manuel Croca. 2008. “Economia social: conceitos, fundamentos e tipologia.” Revista Katálysis, Florianópolis 11 no1:61–72

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Lopes (2012) concluiu que em Portugal as associações sofreram várias alterações ao longo dos períodos históricos, quer pela presença vincada da Igreja no nosso país, quer pelo distanciamento e pelos recuos do Estado nas suas políticas sociais em épocas de crise. Assim o primeiro período marcante para esta área iniciou-se no século XVIII com as revoluções a propagarem-iniciou-se por toda a Europa e pela América do Norte. Foi a partir desta altura que os cidadãos começaram a ser portadores de deveres e direitos e tentaram lutar por forma a assegurá-los. Em Portugal estes movimentos começaram a ser visíveis a partir de 1820 sendo que se aboliram os forais e ordens religiosas e se iniciou o movimento industrial, que embora de pequena dimensão provocou mudanças na sociedade e é através dele que surge pela primeira vez o associativismo.

O segundo período histórico identificado por Lopes (2012) desenrola-se no século XIX e é nesta altura que a industrialização começa a tomar proporções que alteram para sempre a ordem económica, política e social e consequentemente são gerados vários tipos de associações, desde as assistencialistas, às culturais e recreativas, ou mesmo aquelas que tinham fins lucrativos, sendo estas, segundo o autor, “limitadas na sua concretização e dependentes do Estado para a sua formalização.”.

Para a sociedade portuguesa a situação associativa só teve mudanças significativas já no século XX com a implantação da República que representou um impulso ao surgimento de novas associações e em áreas mais diversificadas, dado que os republicanos fomentavam a participação da população nos movimentos associativos, com promessas de melhorar as suas condições de vida. A fase seguinte tem início juntamente com o Estado Novo, sendo que é a partir desse momento que são criadas novas formas associativas de matriz corporativista criadas pelo Estado e de adesão obrigatória havendo uma limitação à liberdade dos cidadãos, dado que os benefícios eram atribuídos em função da pertença às associações. Foi também nesta altura que surgiram as históricas Casas do Povo.

Para Lopes (2012) “Será após a revolução do 25 de Abril de 1974 que se abrem novos horizontes ao movimento associativo português, num quadro de estímulo à

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participação popular, de reconhecimento das liberdades e direitos de cidadania”. Também Coelho (2007) corrobora esta afirmação, sendo a partir desta altura que se altera a situação de opressão social e também associativista, passando-se, tal como a partir de 1820, a promover a defesa dos direitos dos cidadãos. Além disso dá-se uma reestruturação das associações existentes e a criação de associações deixa de ser dependente do Estado e gera-se a possibilidade da sua fundação ser de forma privada e voluntária, alargando-se ainda a sua cobertura a mais sectores da sociedade. Segundo o autor é devido ao que ocorreu nesta altura que passaram a existir as formas associativas que hoje conhecemos, como as “Associações, Fundações, Cooperativas, Centros Paroquiais, Sociais, Misericórdias, ou Clubes”.

Com a adesão à CEE em 1986, o nosso país passa a ter de seguir as diretrizes europeias, as quais incentivavam a criação de um maior número de associações e com formas diferenciadas das até aqui existentes. Geram-se assim novas associações com carácter mais complexo, mas de forma a enfatizar que a “sociedade civil é o suporte para a tomada de decisão mais adequada” (Lopes,2012).

Porém geram-se problemas em delimitar a ação das associações, tal como acontece na generalidade com a Economia Social e o Terceiro Sector, pois chega-se a um ponto em que se torna complicado distinguir as que são públicas, privadas ou híbridas e em muitos casos a legislação não faz a previsão das mesmas.

2.5. Desenvolvimento Local – noção e evolução

A palavra “desenvolvimento” é por nós, geralmente, associada à evolução, desde a criação de novas tecnologias mais avançadas, à mudança nas crenças da humanidade ou mesmo à evolução biológica. Pode mesmo dizer-se que em todas as áreas de atuação humana há desenvolvimento. Segundo Lopes (2012):

“No mundo ocidental o conceito de Desenvolvimento progressista de cariz económico/industrial reporta a um período recente, onde as transformações na sociedade e na economia sofreram uma aceleração vertiginosa, colocando em causa equilíbrios sociais, ambientais e culturais.”.

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Assim o desenvolvimento pode ter diversas vertentes, como o Desenvolvimento Económico que é aquele a que se dá maior relevo devido a estar associado ao consumo e produção de bens e ao retorno monetário obtido neste processo, pois durante muito tempo o progresso estava associado à industrialização e ao desenvolvimento das zonas urbanas. Porém há que ter em conta que existem também outros tipos, como o Desenvolvimento Tecnológico, que em Portugal é incentivado pelo Fundo Para a Ciência e Tecnologia, ou o Desenvolvimento Rural, que na União Europeia é apoiado por vários fundos como o FEAGA (Fundo Europeu Agrícola de Garantia), ou mesmo o FEADER (Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural) no qual a Estratégia 2020 define como uma das prioridades determinantes para o Desenvolvimento Rural a Inclusão Social, a redução da pobreza e o desenvolvimento económico das zonas rurais que se concretiza em parte pelo fomento do Desenvolvimento Local.5

É precisamente o Desenvolvimento Local que assume maior relevo para o meu estudo. Este relaciona-se essencialmente com a atuação num determinado território concreto, ou seja uma comunidade local e as suas potencialidades e capacidades de desenvolvimento, as quais são o lugar por primazia para a aproximação à população e constituem em primeira instância uma fonte de informação que permite uma melhor tomada de decisões.

Nóvoa (1992) encarava o desenvolvimento local como um “processo de conquista de autonomia por parte das populações… Este processo de conquista de autonomia, sendo interativo, não se realiza de modo espontâneo, produzindo-se graças a um esforço voluntário que necessita de ser apoiado e acompanhado”. Deste modo, é necessário que os habitantes locais tenham iniciativa própria e desejem envolver-se nesta finalidade para que ela se concretize.

Como Cabugueira (2000) descreve, esta é uma “teoria que propõe que o crescimento não tem que ser necessariamente polarizado, mas que pode ser difuso e propõe-se desenvolver um território, utilizando o potencial existente nele próprio”. Não seria desta forma necessária a criação de projetos monumentais, mas partir de

5 De acordo com as informações disponíveis no site do IFAP (Instituto de Financiamento da Agricultura e

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pequenas iniciativas planeadas e adaptadas à dimensão do território em causa para que este tivesse efeitos na comunidade local.

Ao falar-se em comunidade local não se deve associar concretamente aos limites de um município, pois muitas vezes a identidade cultural e os laços de solidariedade dessa comunidade extravasam as fronteiras associadas a estes territórios. Deste modo o local não se delimita apenas pela geografia de um país, mas também pelas relações das suas populações, nas suas vertentes económica e social. A organização do nosso país em múltiplas unidades administrativas gera uma fragmentação do território e consequentemente dos costumes dos habitantes de cada unidade local. O conceito de Desenvolvimento Local surge também associado à descentralização do poder, procurando tomar-se as decisões a nível local nas regiões, municípios e freguesias, pois é aí que melhor se pode identificar os problemas e respetivas soluções ajustadas ao caso concreto. Assim, este conceito gera uma alteração do tipo de políticas praticadas no nosso país, redirecionando-as para as reais necessidades da realidade a que se aplicam. “As dinâmicas locais, e portanto particulares, podem afetar outras de caráter mais universais (…) dando lugar ao desenvolvimento de uma nova estrutura de oportunidades para a redefinição do papel dos governos e sociedades municipais em face do novo rumo dos processos de desenvolvimento económico, político e social” como preconiza Campanhola (2000).

Embora já nos anos de 1950 se falasse em Desenvolvimento Local, este tipo de desenvolvimento, de acordo com a investigação de Cabugueira (2000), começa a ser usado com maior frequência nos anos 70, mas só nos anos 80 passou a assumir relevância para a sociedade, pois é nesta altura que se passa a associar este processo a uma diminuição do desemprego e se passa a dar uma maior atenção a este tema.

Como afirmou Fragoso (2005), “o desenvolvimento local só existe quando existem mudanças detetáveis como resultado da sua implantação”, ou seja, só se ocorrerem mudanças significativas nas diversas características, quer sejam económicas, sociais ou culturais, é que se pode aferir a real existência de desenvolvimento nesta dimensão, sendo que, segundo este autor, o processo de desenvolvimento local se encontra associado à globalização.

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Para Coelho (2007) o Desenvolvimento Local representa o “processo de melhoria das condições de vida das pessoas e das famílias, ou seja, dos indivíduos ou grupos, que são específicas de determinados lugares ou pequenos territórios”. Este conceito surgiu então associado ao desenvolvimento comunitário, o qual de acordo com Gouveia (2009), visa a alteração do comportamento das pessoas, implicando uma participação ativa dos membros da comunidade local, de forma a tornar o processo de desenvolvimento o mais equitativo e sustentável possível, aproveitando os meios existentes e potenciando a sua utilização, visando sempre uma maximização dos recursos disponíveis a nível local. É assim uma forma de corrigir as desigualdades existentes no país aumentando as oportunidades a partir deste nível.

Lacerda (2012) considera que, em Portugal, o Desenvolvimento Local começou a tornar-se uma realidade efetiva desde a década de 60, mas que só após a revolução de Abril com a defesa dos direitos dos cidadãos e promoção dos mesmos através de cooperativas, associações, mutualidades, entre outros, esta passa a assumir um papel de relevo. Assim o Desenvolvimento Local deixa de ter um cunho estritamente político e passa a abrir-se à comunidade e às instituições privadas, que se encontram enraizados nas realidades locais e conhecem as verdadeiras necessidades da comunidade local e só assim podem melhorar a sua qualidade de vida.

Neste sentido, principalmente desde a década de 90, tem-se registado um crescimento substancial do número de instituições da Economia Social a nível local, o que demonstra a preocupação com o processo de desenvolvimento local, de forma a assegurar condições de vida a todos os cidadãos numa diversidade de áreas desde a educação à saúde, mas principalmente centradas nos serviços sociais. Estas instituições surgem agora como um meio de unir as pessoas, de integrá-las na sociedade e de aproximá-las para o alcance de finalidades não apenas individuais, como também comuns a toda a comunidade, sendo os seus objetivos e áreas abrangidas bastante diversificados, como identificado por Lacerda (2012).

Outro dos aspetos distintivos é proporcionar respostas inovadoras que de outra forma não surgiriam nem por ação do Estado, nem pela iniciativa privada, pois a abordagem vai ao cerne da comunidade e tem em conta as suas características

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específicas na tomada de decisão e criação de respostas. Porém cada organização não funciona de forma isolada. Para ter sucesso é necessário recorrer a parcerias com organizações da mesma gênese (ex.: Associações e IPSS) ou com organizações de outra índole, como é o caso das administrações locais e suas estruturas e infraestruturas. Nóvoa (1992) designava estas parcerias como partenariado, ou seja, “há uma coordenação entre os atores locais” e uma “cooperação contratual entre múltiplos parceiros locais em torno de projetos comuns ou convergentes” por forma a alcançar objetivos com menores custos e a gerar uma maior eficácia na resposta às necessidades locais. Muitas vezes o que acontece, como descrevia Ferreira (2009), não é uma recusa à separação entre Estado e Economia Social, mas antes uma ênfase nas “relações de cooperação”.

Como referia Elbers (2010) no seu estudo “partnership now is regarded as essential for ensuring local ownership of development activities, linking it directly to the effectiveness and sustainability of nongovernmental development aid”, realçava então o papel que as parcerias assumem nos dias de hoje e a importância que cada vez mais lhes é atribuída no desenvolvimento local.

Outra das formas de cooperação é o voluntariado, levando a população a participar ativamente no processo de desenvolvimento local através daquilo que Lopes (2012) denomina de uma “consciência crítica do papel de cada indivíduo na responsabilização coletiva”. Assim, só através de relações em rede com outras entidades é possível alcançar um pleno desenvolvimento local, pois isto possibilita a partilha de recursos necessários ao alcance dos objetivos e cria uma interdependência entre as partes e um empowerment dos cidadãos. Deste modo, como Franco (2002) referia, cria-se uma conexão com os indivíduos e através desses “laços de confiança e reciprocidade” que se geram entre indivíduos e associações e, há uma passagem das “normas de cooperação que são transportadas para a vida política e económica”, o que significa que capacitando e incitando os cidadãos à participação a nível local se prepara um caminho para que os mesmos passem a ter um envolvimento ativo e participativo a nível nacional, tornando-se melhores cidadãos e enriquecendo-se o “capital social” do país.

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É então notório que cada vez mais o Estado deixa de ter um papel ativo nestas ações e passa a funcionar quase que exclusivamente como um organismo promotor do desenvolvimento local, o qual apoia e incentiva as instituições locais a levar a cabo esta “missão”.

Outra peculiaridade desta ação é que, em muitos casos, a ajuda não se traduz simplesmente em apoios, mas baseia-se na troca e na prestação de bens e serviços, ou apenas na simples convivência e partilha de experiências. Porém esta ação é limitada, pois a generalidade das instituições da Economia Social não tem fins lucrativos. Deste modo nem sempre é possível abranger todo o público-alvo com necessidades no âmbito de desenvolvimento de cada instituição, pois não se obtém as verbas suficientes para isso.

Outro ponto a reter é a tendência crescente ao longo dos últimos anos, ou mesmo das últimas décadas, que tem sido a movimentação das pessoas dos espaços rurais para os espaços urbanos e, consequentemente, também as atenções se voltaram para os meios urbanos onde se realizou um grande processo de transformação, tornando o interior do país num espaço desertificado, com campos abandonados, com uma população cada vez em menor número, com uma grande taxa de envelhecimento e deixando os seus empresários sem capacidade económica de criação de postos de trabalho. Porém nos últimos anos tem havido uma preocupação crescente em contrariar estes movimentos e potenciar recursos que os meios rurais possuem e preservar as suas tradições e património. Mas não apenas os recursos, pois como Lopes (2012) refere é necessário uma mobilização das vontades da população local de forma a criar ou desenvolver os laços de identidade, solidariedade e cumplicidade existentes. É então visível que cada vez mais se procuram criar novas formas de revolucionar estes espaços, tendo passado estas essencialmente pela criação de um conjunto diversificado de serviços locais e pela crescente introdução de unidades produtivas nestas regiões.

Estas organizações passam assim a assumir um lugar essencial neste processo e a receber apoios financeiros das entidades estatais para desenvolverem a sua ação. Para o processo de desenvolvimento local, contribuem bastante os apoios comunitários da União Europeia, como o são os Fundos Estruturais, ou programas como o LEADER ou o

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LEADER+. Segundo o “EVASLED” da Comissão Europeia (2004) estes permitem a atribuição de fundos às instituições de desenvolvimento local, os quais são fundamentais para a sua subsistência e se destinam ao investimento em áreas com necessidades estruturais a vários níveis, desde o social, até ao económico e ambiental. Por outro lado, existem outros programas destinados à criação de postos de trabalho nestas comunidades, como a Estratégia Europeia para o Emprego (EEE), regulada pelo Fundo Social Europeu (FSE) entre 2000-2006.

A figura 5 apresenta as premissas para o Desenvolvimentos Local sustentável descritas por Gouveia (2009). Segundo este autor o desenvolvimento local sustentável integra 3 pontos fulcrais: uma visão sistémica do desenvolvimento, uma coesão social e de solidariedade cultural e por fim uma atividade económica plural. Pode dizer-se que a visão sistémica do desenvolvimento consiste na articulação das dimensões integrantes da comunidade como a cultura, o regime político e as características sociais com os níveis geográficos, sendo necessário resolver os problemas e necessidades internas ao local “sem comprometer o bem-estar das gerações futuras”, através da utilização dos recursos existentes e da aquisição de novos recursos que proporcionem a inovação. Já a coesão social e a solidariedade cultural visam o reforço dos laços sociais, através da criação de uma maior aproximação da população e do conhecimento que se tem do outro, deixando de lado o individualismo e incentivando a cooperação. Por último a atividade económica plural enfatiza a criação de empregos e o impulsionamento da atividade económica por forma a gerar valor acrescentável passível de ser usado para a redistribuição pelos cidadãos em situações de exclusão social.

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Figura 5 – Desenvolvimento Local e Sustentável

Fonte: Adaptado de Gouveia, Pedro. (2009). “Municípios, Economia Solidária e Desenvolvimento Local : caminho possível para um ‘ outro ’ desenvolvimento.”. Dissertação de Mestrado. Lisboa: ISCTE

Por outro lado, segundo o mesmo autor, há quatro conceitos que devem estar sempre presentes no desenvolvimento local, os quais também representei na figura 5, sendo estes o planeamento estratégico, as diferentes fontes de financiamento, a abordagem bottom-up da governança local e a globalização da solidariedade. Assim o planeamento estratégico consiste precisamente no seguimento de um conjunto de etapas planeadas: “diagnóstico socioeconómico; desenho do(s) plano(s) de ação; gestão e monitorização do processo; plano de avaliação”; há neste contexto diferentes formas de financiamento, por um lado como já referi as entidades privadas, as instituições públicas e os fundos europeus e por outro, as doações ou mecenato e o trabalho voluntário. No caso da abordagem bottom-up de governança local, relaciona-se com a integração das populações na tomada de decisão de forma a fazerem representar os seus interesses de forma individual ou coletiva, gerando-se assim uma partilha de poder e, por outro lado, partindo desta visão de decisão em rede que se gera uma globalização da solidariedade.

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2.5.1. Perceção da importância das instituições da Economia Social no desenvolvimento local – uma revisão de algumas fontes mediáticas

Nos tempos atuais, com um mundo em constante mudança e com a crescente desertificação das zonas rurais e do interior, é necessário voltar a fomentar a atividade local, para que consequentemente se promova um desenvolvimento social local e se construa um país mais coeso e equitativo.

Neste âmbito Instituições da Economia Social, como por exemplo as Misericórdias e os Centros Sociais e Paroquias, desempenham um papel fundamental, pois criam condições para a comunidade desde a infância até à Terceira Idade, em áreas que o Estado de forma isolada não conseguia chegar. Assim são criadas novas creches e Jardins de Infância, Centros de Dia e Lares de Idosos, Unidades de Cuidados Continuados e um sem fim de Associações e outras organizações que por vezes nem nos damos conta da sua existência, mas que atuam dentro da sociedade e nos proporcionam serviços que de outra forma seria impossível termos acesso, proporcionando uma maximização dos recursos existentes como preconizava Gouveia (2009).

Como seria pois possível para pais que trabalham até às 19 horas e não têm qualquer família na localidade em que os seus filhos frequentam a escola até às 17:30 manterem-nos a frequentar a escola se não têm meios para os ir buscar? Como é que pais desempregados podem manter os seus filhos a frequentar uma creche se não têm meios financeiros para tal? Será salutar retirar um idoso da localidade onde viveu toda a sua vida e enviá-lo para lares e centros de dia a centenas de quilómetros da sua terra natal? A Economia Social não passa ao lado destes assuntos e cria soluções desde ATL’s a Creches, Unidades de apoio a idosos com diversas valências, em que na maioria dos casos os pagamentos são feitos em função dos rendimentos de cada agregado familiar, permitindo assim o acesso a todos. Havendo deste modo um usufruto, que muitas vezes é quase gratuito, dos serviços prestados por estas instituições criam-se incentivos à fixação aos jovens que tendo condições de vida facilitadas em pequenos meios procuram manter a sua residência nessas zonas. Exemplos de casos como estes surgem regularmente nos jornais e revistas locais e regionais e em jornais

Imagem

Figura 2 – Principal Público-alvo da ação da Economia Social em Portugal
Figura 3 – Tipologia de Associações existentes em Portugal
Figura 4 – Tipos de IPSS
Figura 5 – Desenvolvimento Local e Sustentável
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Referências

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