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Evolução dos direitos dos doentes mentais no Brasil / Evolution of the rights of the mentally ill in Brazil

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p 61278-61289. aug. 2020. ISSN 2525-8761

Evolução dos direitos dos doentes mentais no Brasil

Evolution of the rights of the mentally ill in Brazil

DOI:10.34117/bjdv6n8-518

Recebimento dos originais: 25/07/2020 Aceitação para publicação: 24/08/2020

Oscar Augusto de Barros Nogueira

Aluno do Curso de Direito pertencente a Universidade Católica Dom Bosco E-mail: oabarros@hotmail.com

RESUMO

Esse artigo foi feito com o foco de mostrar o percurso dos doentes mentais na historia até o lugar que eles na sociedade brasileira atual. Evidenciando as condições pelas quais os doentes mentais passaram, sofrendo de falta de direitos e sendo ignorados pelo governo ao não receberem os padrões básicos de vida que mereciam, as humilhações degradantes e torturas sofridas por eles antes acobertadas apareceram. Até 1999 com o Caso Demião Ximenes o estado dessa classe permaneceu quase que sem mudanças, a partir desse ano o Brasil ganhou os holofotes sendo incentivando por autoridades internacionais a fiscalizar e melhorar as instituições psiquiátricas do país em favor a humanização, assim dando um grande passo no movimente a muito já existente da Luta Anti-Manicomial.

Palavras-chave: Manicômios, Doentes Mentais, Reforma Psiquiátrica, ONU ABSTRACT

This article was made with the focus of showing the path of the mentally ill in history to their place in current Brazilian society. Evidencing the conditions that the mentally ill, suffering from lack of rights and being ignored by the government by not receiving the basic standards of life they deserved, the degrading humiliations and tortures suffered by them before covered up appeared. Until 1999, with the Demião Ximenes case, the state of this class remained almost unchanged. From that year on, Brazil gained the limelight by being encouraged by international authorities to inspect and improve the country's psychiatric institutions in favor of humanization, thus taking a big step in moving the much already existing Anti-Manicomial Struggle.

Keywords: Manicomies, Mental Illness, Psychiatric Reform, UN

1 INTRODUÇÃO

Todos os direitos que os doentes mentais tinham até o século XX podem ser resumidos em uma única palavra: Nulos. Nesse artigo serão abordados a evolução dos direitos dessa classe depreciada da antiguidade Européia até a situação em que ela se encontra atualmente no Brasil. Esse artigo vai servir para revelar todo curso dos deficientes psiquiátricos até o presente desde a época renascentista.

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Desde a Renascença na Europa os doentes ou deficientes mentais, os loucos, eram tratados como o populacho da sociedade, eram o motivo de chacota, vistos como doentes morais e punidos por sua condição. Durante todo esse período os loucos eram expulsos das cidades obrigados a andar de uma a outra sem poderem se fixar em lugar algum, também aviam casos onde ele junto com quaisquer outro indesejável eram postos em navios e enviados para navegar sem rumo, e como a igreja e era ligada a cada aspecto da sociedade, surgiu a crença que os loucos eram frutos de possessões demoníacas curadas com exorcismos que normalmente levavam a morte.

Os manicômios, locais que funcionavam como prisões para os doentes mentais, sem-tetos, depravados e infectados com doentes venéreas, surgiram na Idade Media no século XV. Por anos os pacientes eram acorrentados em caso de serem violentos e ou mandados para cidade para mendigar.

O primeiro de muitos e demorados passos para os doentes mentais ganharem seus direitos veio de Philippe Pinel, considerado o pai da psiquiatria, que começou a tratar os doentes mentais com alguma dignidade criando tratamentos e experiências que logo se espalharam pelo continente. As idéias de Pinel poderiam ter sido um avanço, no entanto, pouco tempo depois as medidas mais comuns nos hospícios consistiam em chicotadas, sangrias e banhos frios. Passou muito até que as doenças dos loucos fossem vistas como sendo orgânicas.

O modelo europeu chegou ao Brasil onde foi aplicado a risca.

Em 1971 a ONU intervir nesse tema criando a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes Mentais. Onde os países concordavam em assegurar e proteger os direitos aos doentes mentais.

1. A pessoa deficiente mental tem, na máxima medida possível, os mesmos direitos que os demais seres humanos.

2. A pessoa deficiente mental tem direito a cuidados médicos e tratamentos físicos adequados, bem como à educação, formação, reabilitação e orientação que lhe permitam desenvolver ao máximo as suas capacidades e aptidões.1

2 O BRASIL ANTES DA REFORMA

A primeira lei no Brasil referente aos doentes mentais foi criada e 1830, no Código Criminal do Império do Brasil.

Lei de 16 de dezembro de 1830

Art. 10. Também não se julgarão criminosos: 1º Os menores de quatorze anos.

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2º Os loucos de todo o gênero, salvo se tiverem lúcidos intervalos, e neles cometerem o crime...2

O primeiro hospício brasileiro surgiu em 1841, sendo chamado de Hospício de Pedro II. Em media em todo Império deveriam ter 15 mil alienados, como os doentes mentais eram chamados, e o principal local que deveria fornecer tratamento para eles tinha o numero de leitos mal passando de 300.

As internações na época podiam ser voluntarias ou oficiais. As oficiais aconteciam pela ordem de uma autoridade do município onde o alienado era preso, os voluntários dependiam da aprovação das autoridades em um exame médico, a assinatura de um magistrado e do pedido vindo do responsável pelo doente. As altas vinham quando o alienado estava curado e recebia um atestado medico, sendo em casos de clinicas particulares os pacientes podendo ser liberados não importando o estado mental.

De 1866 a 1874 a media das mortes de pacientes chegavam 78 portentos, sendo a maior parte das causas doença agravadas pelas péssimas condições e pela epidemia de cólera em 1867. Os internados não recebiam medicamentos adequados para tratar as doenças que os mandaram para as clinicas, muitos menos para doenças posteriores.

No século XX, Franco Basaglia, psiquiatra italiano, começou com mudanças nos tratamentos dos alienados originando um movimento de Luta Antimanicomial que teve grande impacto no Brasil. Em 1903 surgiu o decreto 1.132 criado pelo deputado João Carlos Teixeira Brandão, ele queria"Reorganizar a assistência aos alienados". Os objetivos eram deixar de tratar os hospícios como se fossem prisões para loucos e humanizar os métodos usados por profissionais.

O decreto foi responsável por determinar os doentes mentais como absolutos incapazes de lidar com as questões mais simples, assim, ficando proibidos de tomares decisões sobre suas internações e tratamento. Também tornou as internações de alienados obrigatórias.

Outro decreto, o 24.559, apareceu em 1934, revogando o de 1903. O termo "alienado" foi apagado do vocabulário jurídico, e o termo "psicopata" foi proclamado como em uso geral para qualquer problema mental. As internações ficaram mais fáceis com o psicopata podendo ser preso por qualquer aborrecimento que criasse. A mínima suspeita de uma doença mental significava a suspensão de direitos e a prisão no asilo sobre ordens do Estado. A conselho de proteção dos psicopatas foi extinto em 1944, causando a completa falta de direitos desses doentes que eram vistos como perigosos e causadores de problemas pela sua mera existência.

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Com a Luta Antimanicomial, na década de 70 nasce a idéia da Reforma Psiquiátrica, que contava com o apoio de profissionais da área e de familiares de pacientes que sofriam de transtornos mentais. Tentativas de melhorar os tratamentos com os doentes surgiram sendo pelo projeto de lei nº 3.657 do deputado Paulo Delgado em 1989 ou pelo Declaração de Caracas em 1990 que propunha a reestruturação da assistência psiquiátrica.

2.1 EXEMPLOS DE HÓSPICIOS ANTIGOS

Em 2001 ouve uma grande mudança em relação a forma de tratamento dos doentes mentais, antes disso ocorreram eventos que exibiram as condições depravadas em que o sistema de cuidados se encontrava.

A Reforma Psiquiátrica acorreu em 2001 tendo como ultimo passo antes de sua concretização a passagem das Caravanas Nacionais de Direitos Humanos por muitos dos principais hospitais psiquiátricos do país. Projetada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, teve a duração de 12 dias.

Mesmo com visitas rápidas foi possível chegar a uma conclusão sobre a situação dos enfermos mentais no país. "Exige mudanças urgentes" foi o veredicto dado.

Em São Paulo foi visitado o Complexo do Juqueri, em Franco da Rocha inaugurado em 1898. Com cerca de 1500 pacientes a instituição disponibilizava 3 ou 4 funcionários para cada grupo de 150. Os medicamentos eram usados para deixarem os doentes a maior parte do dia sonolentos e manipuláveis, a maioria deles andavam pelados ou cobertos por lençóis usados como túnicas pelos corredores. No segundo lugar visitado no estado, o Manicômio Judiciário Franco da Rocha, tinham 621 pessoas para 400 vagas causando uma grande superlotação, os quartos eram minúsculos com uma dupla de pacientes em cada dividindo um colchão e um sanitário sem vaso. Em ambos os locais vistos na região um numero insuficiente de funcionários para os pacientes.

Em Salvador a Clínica São Paulo, uma instituição privada, recebeu uma das piores avaliações possíveis. O prédio era inadequado para ser um centro hospitalar e os funcionários tinha pouco conhecimento sobre o que acontecia na própria instituição; a higiene não podia ser pior, avia abuso de medicamentos como tratamento medico e o lugar em si lembrava uma prisão com os paciente implorando liberdade e as mulheres presas em um calabouço onde passavam frio e fome.

Em Goiás as cirurgias desnecessárias e tratamentos banidos a anos eram regularmente prescritos a pacientes julgados difíceis e agressivos. A Clínica de Repouso Bom Jesus no período de um ano aprovou 5 casos de cirurgias onde o medico não sabia o que o paciente sofria, lobotomias sem motivo. Alem das neurocirurgias, técnicas como eletroterapia e estereotáxica no cerebral foram

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defendidas pelo diretor de uma das maiores clinicas do estado, Clínica Isabela. Um dos aspectos assustadores nesse abuso é ele ser financiado pelo dinheiro publico.

O estado que mais sofria com a superpopulação em suas clinicas era Pernambuco. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Itamaracá, com 336 internos para 70 leitos, foi encontrado com uma médica plantonista como única funcionária de nível superior estando ali em horário de trabalho. Os pacientes não recebiam ajuda médica, eram colocados em celas onde dormiam no chão com ao lado das fezes, o hospital passava semanas sem ter medicamentos para distribuição.

Uma das poucas clinicas que fugiam do modelo de maus tratos era a Clínica das Amendoeiras, Rio de Janeiro, onde, uma instituição privada com 140 leitos, atende seus pacientes, na maioria neurológicos, com humanidade.

A caravana foi responsável pelo governo chegar à conclusão que o modelo de tratamento tinha que ser atualizado, para dessa forma os hospitais deixarem de funcionar como prisões e começarem a prestas um auxilio realmente útil ao doente e oferecer auxilio nas interações sociais deles. Novas políticas surgiram, foram desestimuladas as internações abusivas, famílias carentes com esses doentes começariam a receber auxilio e as clinicas onde os tratamentos eram abusivos começariam a sofrer intervenções.

3 CASO DEMIÃO XIMENES

Ocorrido em 1999 foi o responsável pelo inicio de todo processo que buscou dar aos doentes mentais todos os direitos que eles merecem. Damião Ximenes Lopes, uma pessoa com doença mental, morreu em 4 de outubro de 1999 na Casa de Repouso Guararapes em Sobral (CE) local que funcionava como uma instituição para o tratamento de doentes mentais.

A morte de Damião teve uma repercussão maior que o esperado chegando a se envolver com a ONU. Lopes, de 30 anos, foi achado em contenção física com as mãos amarradas, o corpo apresentava diversos ferimentos como escoriações no ombro direito, no pé esquerdo, equimoses próximas ao olho esquerdo e punho, etc. Com tantos ferimentos é esperado que um dos médicos da instituição o colocasse em cuidados médicos adequados, no entanto, o único tratamento que Damião recebeu foram alguns remédios duas horas antes de sua morte.

A família de Damião não conseguiu justiça pela morte pelos padrões nacionais. Depois de tentarem diversos órgãos públicos como a policia civil, a Secretaria de Saúde e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, nenhum resultado prático foi alcançado. A irmã de Damião, Irene Ximenes Lopes Miranda, em 22 de novembro de 1999, denunciou o Estado Brasileiro para

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Comissão Interamericana de Direitos Humanos por violação aos direitos à vida, o direito a recurso judicial e à proteção da honra e dignidade de Damião Ximenes Lopes.

A comissão concedeu 90 dias para o Brasil dar uma resposta a denuncia, tendo recebido apenas silêncio vindo do Brasil o assunto se tornou proporções internacionais. Damião foi um entre as centenas de doentes mentais hospitalizados no país, ainda que demorasse anos para dar um ponto final na sentença relacionada ao crime cometido contra ele, os maus tratos ocorridos no Brasil entraram em evidencia e a Comissão recomendou ao estado medidas para tomar em relação as violações.

No dia 30 de setembro de 2004 a Comissão, decidiu submeter o caso de tortura e morte de Damião Ximenes Lopes à Corte Interamericana de Direitos Humanos.

3.1 SENTENÇA

Com o passar de um julgamento com testemunhas e peritos sendo ouvidos e documentos sendo apresentados a sentença chegou em 2006, no dia 4 de julho. O tempo de duração do julgamento, levando a complexidade do caso em consideração, foi vista como demorada desrespeitando o direito as partes de terem um processo rápido.

Durante o julgamento o Brasil, negou ter prejudicado a integridade psíquica dos familiares de Damião e se recusou a reparação de danos materiais e morais, entretanto, como a Casa de

Repouso Guararapes em Sobral era financiada por verbas do governo, foi assumiu a culpa pela

violação dos direitos a vida3 e integridade física4 de Damião.

Alem de resolver as violações e melhorar os centros de ajuda aos doentes mentais, o governo também foi incentivado a implementar medidas positivas que implicam em reconhecer sua responsabilidade para as pessoas de precisam de ajuda medica e fiscalizar os entes que fornecem o asilo aos doentes para impedir o surgimento de medidas mesquinhas no cuidado fornecido. Então, foi reafirmado que a maior parte das responsabilidades estão com o Brasil para manter todas as engrenagens do sistema funcionando para proteções de seus cidadãos.

O momento foi aproveitado para que garantis que uma pessoa que apresenta deficiência, principalmente as mentais, não deve ter seus opiniões e vontades tratadas com irrelevância pelos médicos e autoridades. Em caso da doença causar a incapacidade da pessoa coincidir os familiares se tornam os representantes legais sobre as decisões ligadas ao doente. Logo, o tratamento forçado só poderia ocorrer em razão da situação em questão ser de dano iminente e urgência; com Damião

3artigo 4º da Convenção Americana de Direitos Humanos

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o que aconteceu foi ele ser mantido com as mãos amarradas nas costas por uma noite inteira da noite de domingo ao inicio de segunda com o corpo ferido sem receber um exame medico adequado. Os prazos para o cumprimento das sentenças variaram de seis meses a um ano.

Outro ponto abordado no processo e na sentença foi o sofrimento da família de Damião que foram colocadas como vitimas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por passarem por uma violação de sua integridade psíquica. O valor de US$ 146.000, 00 (cento e quarenta e seis mil dólares), foi a soma das indenizações que o governo teve que pagar.

3.2 CONCLUSÕES SOBRE O CASO

No final todo o caso serviu para mostrar como, no Brasil, um doente mental pode ser espancado, amarrado, deixado para morrer em uma instituição que deveria ajudá-lo, de forma que a justiça para o que lhe ocorreu aconteça somente sete anos depois do fato, sendo feita em meios internacionais, com o governo tendo que sofrer as consequências por deixar impune um crime que ele tinha a obrigação de ser resolvido sem precisar de luta por parte das vitimas.

O direito por mais que devesse ser para todos usufruírem igualmente, toda a situação mostrou que muitos precisam lutar para consegui-lo, mostrou como os menos afortunados que não tem a capacidade de se defenderem sozinhos são maltratados por outros membros da sociedade, seus cuidadores e familiares por exemplo, e ignorados pelo estado a ponto de serem postos em uma situação onde a ajuda deve ser buscada internacionalmente.

A morte de Damião Ximenes Lopes coloca em evidencia as malesas do Estado Brasileiro. Ele não foi um caso de exceção, não foi uma raridade, foi a imagem do que centenas de pacientes e suas famílias enfrentavam todos os dias.

Com o veredicto dado e o processo encerrado o que resta do caso são as mudanças formadas por ele não ficarem presas no papel e manterem-se ativas na sociedade brasileira.

4 REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL

Ela não é um movimento recente, de origem no Itália criado pelo psiquiatra Franco Basaglia, surgiu no Brasil na década de 70, profissionais da área de saúde mental e familiares de pessoas que sofriam de patologias ligadas a mente se uniram em na tentativa de criar a Reforma Psiquiátrica Brasileira e o Movimento Antimanicomial. Em 1978, foi fundado o MTSM (Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental), grupo que buscava incentivar a Reforma Brasileira e em 1987 adotaram o leme "Por uma sociedade sem manicômios".

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Em anos o maior salto que a reforma teve veio com a morte de Damião Ximenes Lopes, que serviu como precursor de varias mudanças ocorridas no sistema brasileiro que interferiram positivamente nos tratamentos para os doentes mentais. Em um país onde 23 milhões é a média para pessoas que sofrem de algum transtorno mental, as mudanças que ocorreram no ano de 2001 foram um grande passo para a proteção e garantia de respeito e direitos para essa grande parcela populacional.

Na II Conferencia Nacional de Saúde Mental, em 1982, as primeiras normas para fiscalizar hospitais psiquiátricos surgiram. A Reforma teve poucos feitos consideráveis até seu ponto alto. O foco da Reforma ia alem de mostrar a verdadeira face dos manicômios, era visada a formulação de uma rede solidaria de serviços, ampla para funcionar em vários territórios, buscando ajudar os doentes com propostas tanto no bem estar do paciente quanto cuidar do lugar dele dentro da sociedade.

Um ano bom para reforma foi 1989 quando ocorrera o fechamento da Casa de Saúde

Anchieta, na cidade de Santos no estado de São Paulo, métodos de tratamento comuns aplicados eram confinamento, choque elétrico, espancamento, entre outros. Seu fim deu com a intervenção da então prefeita Telma de Souza, tendo conseguido 30 anos de funcionamento o local ficou conhecido como Casa dos Horrores. Outro grande feito no mesmo ano veio do deputado Paulo Delgado, do PT e estado de MG, com o projeto de lei nº 3.657, que originalmente procurava a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por recursos assistenciais e regulamentação as internações psiquiátricas compulsórias. Da lei de Delgado se originou a Política de Saúde Mental no Brasil, promovendo promove a redução de leitos psiquiátricos de longa permanência, incentivando que as internações psiquiátricas sejam feitas em extrema necessidade e com duração curta.

Em 1992 o Dia Mundial da Saúde Menta foi proclamado.

Em 2001 ocorreu as Caravanas Nacionais de Direitos Humanos, mencionadas anteriormente, sendo elas o ultimo ponto dado para que a lei n°10.216 ser aprovada.

Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.5

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A lei recebeu tanto elogios quanto criticas, buscando principalmente extinguir os manicômios, muitos profissionais da área que a viam como um mal negocio para o mercado manicomial prejudicando muitos empregos e deixando grande numero de doentes sem lugar para residirem.

Pode-se dizer que a Reforma criou o campo psicossocial6, mudando os moldes sociais para que lugares que pudessem realmente ajudar os que sofriam com suas psiques fossem criados. Os "loucos" ganharam seu lugar na sociedade. Importante destacar que antes dos hospícios serem fiscalizados era comum ver não doentes presos entre as quatro paredes, familiares internavam familiares que se comportavam de forma inapropriada ou que consumiam drogas, método comum na ditadura militar e tipificado no filme Bicho de Sete Cabeças, dirigido Laís Bodanzky e lançado em 2001.

Os anos passaram e com eles as mudanças foram feitas, todo processo chegou a grandes proporções levando-o a ganhar tendências internacionais.

5 ANOS DEPOIS DA REFORMA

Atualmente em 2016, se passaram 15 anos desde a Reforma, e nesse tempo instituições publicas continuam funcionando como os antigos manicômios.

Não é como se nenhuma mudança tivesse se realizada; a forma que os alienados eram exilados do resto da sociedade, principal motivo que levava os problemas com maus tratos a ocorrer, começou a ser combatida. O foco foi para o mantra de tratar sem excluir, manter os deficientes como com a vida digna e trazer os que foram prejudicados para o convívio social e resgatá-los dos anos de humilhações.

Os melhores hospícios em 2016 adotam um modelo onde os funcionários são mais humanos com os pacientes. Os doentes agora recebem tratamentos sem que a internação seja uma obrigatoriedade para uma consulta, pacientes podem ser levados por familiares ou irem sozinhos para os hospitais psiquiátricos onde conversão com os médicos tendo o estado mental avaliado e a intervenção necessária dada.

A imagem dentro das paredes do hospital ainda não são das melhores, não por medidas tomadas pelas instituições, os internos continuam sofrendo dos mesmos sintomas. A entidade acolhe indivíduos agressivos, que em suas mentes vivem em realidades alternativas afastadas do mundo

6Campo que abrange tanto o lado clinico quanto o social que um tema, analisando os dois aspectos e o assistindo se

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real, que sofrem com dificuldades em usar qualquer peça de vestuário e entram em estado de histeria em momentos aleatórios.

Com as melhores intenções e os melhores métodos de auxilio o caminho para recuperação destes enfermos segue com dificuldades. A aqueles que ficam anos, não presos, mas em custodia dos manicômios. A falta de família e a incapacidade de se sustentares sozinhos faz pacientes passarem anos vivendo como pacientes. Os em melhores situações ainda conseguem seguir em frente com as vidas, afastados de convívio intenso com a sociedade, os que podem ficam como cozinheiros, faxineiros e com outros afazeres que os ajudam a preencher o dia. É possível chegarem a viver por toda vida nos hospícios, da juventude a morte.

Atualmente o Código Penal Brasileiro tem um artigo ligado aos doentes mentais.

É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardo, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.7

Programas sociais começaram a ser realizados. Com o caminho pela arte, na música e diversão, os alienados em tutela formam grupos onde se divertem e fazem apresentações para públicos. A maior diferença do tempo anterior ao "grande avanço" reforma psiquiátrica ocorrido nos anos 1999 a 2001 ao estado que se encontra agora esta nos tutelados não serem mais a parte da sociedade que é ignorada, não podendo dizer que eles são apreciados, são cuidados e mantidos ativos como cidadãos.

Sendo limitados por leis, elas visando manterem os alienados com o máximo de direitos possíveis sem que causem danos a si próprios ou a terceiros, e pelas deficiências enfrentam dificuldades todos os dias. Alguns lugares com o transcorrer dos anos continuam sofrendo com super lotação dos leitos e com a falta de medicamentos.

6 CONCLUSÃO

O tema escolhido para esse artigo é um dos mais amplos que se pode encontrar. Tendo ligação com ramos da sociologia, filosofia, psicologia e direito. Enquanto a maioria dos assuntos estudados são novos, surgidos das novas noções de comunidade e ordem social que evoluem para acomodarem as recentes visões de mundo da sociedade.

Os tratamentos dos deficientes mentais são debatidos há anos desde a época em que a humanidade não sabia nem mesmo o que os integrantes dessa classe eram. Por muito tempo até a

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criação do termo "doente mentais", eram dadas explicações míticas para eles agirem fora da realidade, simplesmente não entendiam o que acontecia com aquelas pessoas. Dessa forma deu inicio ao tratamento de exclusão dado aos enfermos. Conforme a primeira lei a respeito dos alienados foi criada, deu inicio a evolução de sua dignidade no Brasil. Contudo o estado de comodidade foi transitado de abandono ao cárcere, e que a maioria dos internados morriam. Por durante décadas após a lei entrar em vigor, a superlotação era abrangente na maioria dos manicômios no Brasil até que um fato chocasse a corte nacional e internacional dos direitos humanos.

Tal fato foi um fator importante na mudança no tratamento dos doentes mentais, que permitiu o estudo mais amplo dos profissionais psíquico e que melhorassem no seu desempenho no tratamento dos doentes. O estudo e profissionalização formalmente chamada de reforma psíquica foram cogitados nos anos 80 e 90, e promulgados em 2001. Mesmo que existam profissionais adequados para tratar com dignidade ainda é pouca verba pública e descaso por parte da união e o governo estadual, pois ainda há relatos na mídia da forma que são tratados os pacientes, cruel passam necessidades e completo abandono

Os doentes mentais representam a fraqueza humana que fazem as pessoas virarem o olhar para a outra direção. Por esse se motivo o dever dos profissionais do jurídicos é assegurar que eles tenham seus direitos garantidos, não curar-los os ou os manter eles confortáveis em seu dia-a-dia. Concluindo, não sendo incapazes de pensarem por si mesmos, entre os cuidados fornecidos pelos praticantes das leis esta garantir que os alienados tenham as responsabilidades que possam carregar, torná-los responsáveis pelos pela personalidade que são capazes de praticar.

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MACHADO, Katia. Revista Radis. Como anda a Reforma Psiquiátrica?

http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/38/reportagens/como-anda-reforma-psiquiatrica. Enfermos Mentais: O Tratamento Humano Começa a Chegar à Legislação Brasileira. http://www.boasaude.com.br/artigos-de-saude/3978/-1/enfermos-mentais-o-tratamento-humano-comeca-a-chegar-a-legislacao-brasileira.html

A reforma psiquiátrica brasileira e a política de saúde mental. http://www.ccs.saude.gov.br/vpc/reforma.html

RAMOS, André de Carvalho. Reflexões sobre as vitórias do caso Damião Ximenes. Revista Consultor Jurídico, 8 de setembro de 2006.

Resolução 2856 da Assembleia Geral da Nações Unidas, de 20 de Dezembro de 1971.

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DAS PESSOAS DEFICIENTES MENTAIS.

http://direitoshumanos.gddc.pt/3_7/IIIPAG3_7_5.htm

MACEDO, Camila Freire. A evolução das políticas de saúde mental e da legislação psiquiátrica

no Brasil. https://jus.com.br/artigos/8246/a-evolucao-das-politicas-de-saude-mental-e-da-legislacao-psiquiatrica-no-brasil

Referências

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