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Reflexão sobre as redes locais e globais: perspectiva sobre possibilidades e fragilidades, conexões e desconexões do município de Jenipapo dos Vieiras/MA / Reflection on local and global networks: perspective on possibilities and weaknesses, connections a

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761

Reflexão sobre as redes locais e globais: perspectiva sobre possibilidades e

fragilidades, conexões e desconexões do município de Jenipapo dos

Vieiras/MA

Reflection on local and global networks: perspective on possibilities and

weaknesses, connections and disconnections in the municipality of

Jenipapo dos Vieiras/MA

DOI:10.34117/bjdv6n6-056

Recebimento dos originais:08/05/2020 Aceitação para publicação:03/06/2020

Grete Soares Pflueger

Doutora em Urbanismo pelo PROURB (UFRJ), Instituição: Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Endereço: Rua da Estrela, 472, Centro – São Luís/MA – CEP: 65010-200 E-mail: gretepfl@gmail.com

Bruna Andrade Ferreira

Arquiteta e Urbanista, pós graduada em Assessoria Técnica para o Habitat Urbano e Rural pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Endereço: Rua 03 Quadra 03 Casa 09, Jardim Araçagy I – Cohatrac, São José de Ribamar/MA – CEP: 65110-000

E-mail: bafbruna@gmail.com

Shirlen Caroline Rabelo Cabral

Arquiteta e Urbanista, pós graduada em Assessoria Técnica para o Habitat Urbano e Rural pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Endereço: Rua A Quadra 21 Casa 09, Paranã I, Paço do Lumiar/MA – CEP: 65130-000 E-mail: shirlen_cabral@hotmail.com

RESUMO

Este artigo busca refletir sobre as potencialidades de Jenipapo dos Vieiras, localizado no Estado do Maranhão, enquadrado como um dos 30 municípios deste com pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e, consequentemente, classificado como município em estado de extrema pobreza na perspectiva das redes urbanas, utilizando como referencial teórico o sociólogo espanhol Manuel Castells. A reflexão toma como ponto de partida a análise do histórico do município, evidenciando as condições em que se encontra hoje, na tentativa de esclarecer os motivos para sua atual situação, suas peculiaridades e possibilidades para a criação/inserção em uma rede que se conecte a nível regional e/ou mundial, baseada na divisão territorial do trabalho. Por fim foram analisados dados específicos da Proposta de Regionalização para o Desenvolvimento do Maranhão, com foco no município em questão,

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 elaborada pelo IMESC (Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos), em 2015.

Palavras-chaves: potencialidades, Jenipapo dos Vieiras, redes.

ABSTRACT

This article analyzes the potential of the city Jenipapo of the Vieiras, situated at the State of Maranhão, one of the 30 cities with the worst IDH (Index of Human Development) and classified as city with extreme poverty at the perspective of urban networks, using as referencial the work of Spanish sociologist Manuel Castells. It starts analyzing the historical of the city and how it is nowadays to try to understand the reasons for it and if it’s possible to create and fit this city in a worldwide level. Lastly was focused at the Proposal of Regionalização for the development of Maranhão, created by IMESC (Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos), 2015.

Word-keys: potentialities, Jenipapo ofthe Vieiras, nets.

1 CONTEXTO HISTÓRICO DA LOCALIDADE

O município foi criado a partir do desmembramento de Barra do Corda/MA, do qual é componente da Região Administrativa, em 10 de novembro de 1994, através da Lei nº 6200. Poucos são os dados históricos da região onde está localizado Jenipapo dos Vieiras. O mais importante relato está no livro “Esfinge de Grajaú”, de Dunshee de Abranches, escrito em 1940, onde o autor relembra acontecimentos do século XIX que foram relevantes no Estado do Maranhão. De acordo com dados disponibilizados pela Prefeitura do município, nesse livro é relatada uma viagem que ocorreu no ano de 1888, a mando do então Presidente da província Moreira Alves, que ao passar pela região situada entre os municípios de Pedreiras e Barra do Corda, foi surpreendido por terras férteis e banhada por uma lagoa perene. Relata também, que está lagoa era conhecida como Lagoa do “Genipapo” devido a presença de jenipapeiros1 em suas margens.

1 Genipa Americana L. ou Genipa L. conhecida popularmente como Jenipapo ou Jenipapeiro, árvore de copa

estreita tronco liso, folhas simples e flores brancas, geralmente brancas. Seus frutos são bagas globosa tomentosa com polpa adocicada e sementes achatadas na core bege. (LORENZI, 2008 apud ALVES, 2014, p. 23)

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Imagem 1 – Lagoa perene em Jenipapo dos Vieiras

Fonte: http://gestar2jenipapolinguagens.blogspot.com/2009/08

Já no século XX, essa lagoa virgem, era do conhecimento apenas dos indígenas que ali viviam. Porém, a sua existência foi descoberta pela população residente nos povoados próximos, e despertou o interesse da família Vieira – formada por Júlio Vieira, Jose Vieira Nepomuceno, Joaquim Vieira e o senhor Bizega (IMESC, 2016)– que saiu em busca destas terras. Devido a isso, em 1925, os Vieiras se instalaram com seus agricultores para explorar as terras férteis encontradas. Em função disso, o município ficou conhecido como Jenipapo dos Vieiras.

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Figura 1 – Mapa de Localização do Município dentro do território Estadual

Fonte: IBGE

Figura 2 e 3 – Mapas de Localização do Município extraídos do Google Earth

Fonte: Arquivo pessoal, 2018

2 SITUAÇÃO ATUAL

Jenipapo dos Vieiras está localizado no Maranhão, possui 1962,897km de extensão, o equivalente a 0,59% do território estadual. Segundo o Censo Demográfico (2010), possui uma população de 15440 habitantes, destes mais de 83% deste contingente vive na área rural.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 Estima-se uma população em 2018 de 16432 habitantes. Está enquadrado na Microrregião

Geográfica do alto Mearim e Grajaú e na Região dos Guajajaras quando se trata da Região de Planejamento do Estado. Boa parte de sua extensão é compreendida por terras indígenas

- Urucu/Juruá e Geralda Toco Preto -, que compreendem 42% do território do município, e são tradicionalmente indispensáveis para a manutenção do equilíbrio ambiental e social.

Terras Indígenas são aquelas “por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. (artigo 231, 1º parágrafo – Constituição Federal de 1988)

É uma área de interesse por parte dos grandes proprietários de terras que buscam obter mais espaço para a promoção da pecuária extensiva, sendo assim ainda é comum a prática de grilagem de terras.

O que é grilagem? É a ocupação irregular de terras, a partir de fraude e falsificação de títulos de propriedade. O termo tem origem no antigo artifício de se colocar documentos novos em uma caixa com grilos, fazendo com que os papéis ficassem amarelados (em função dos dejetos dos insetos) e roídos, conferindo-lhes, assim, aspecto mais antigo, semelhante a um documento original. A grilagem é um dos mais poderosos instrumentos de domínio e concentração fundiária no meio rural brasileiro. (INCRA, 2009)

Jenipapo dos Vieiras ainda é deficiente em instrumentação legal para gestão do município e de suas terras, possui apenas Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias, Lei Orçamentária Anual, Lei de perímetro Urbano, Lei de Parcelamento do Solo, Código de Obras e Decreto sobre Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo.

Com o IDH igual a 0,49, Jenipapo dos Vieira entra na lista dos 30 piores Índices de Desenvolvimento Humano do estado do Maranhão. E passa ser objeto de estudo por parte do governo do Estado por meio “Plano IDHM”, que promove o estudos e intervenções nos municípios que se encontram nessa situação sob três aspectos: educação, saúde e renda.

Sendo a educação, dos três, o pior índice apresentado é vista como grande entrave para o desenvolvimento humano em Jenipapo dos Vieiras. Dez das 11 escolas de Ensino Médio estão localizadas na zona rural e a taxa de analfabetismo (34,2%) é superior à do Estado

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 (20,9%), e sua incidência é maior na zona rural, com destaque para a região nordeste e oeste do território. Nos setores que dividem a sede do município, as taxas variam entre 23% e 24%.

É preciso investimento em infraestrutura escolar adequada, a fim de difundir o aprendizado e ser um local acessível a todos os alunos. Também é importante frisar a importância de dependências para o desenvolvimento de práticas esportivas e lazer. A cidade não oferece Ensino Superior Público, os interessados em continuar os estudos, se deslocam para outras regiões. A cidade mais próxima é Barra do Corda, onde há um polo da Universidade Estadual do Maranhão.

Segundo o Censo 2010, Jenipapo dos Vieiras é o 3º município com maior percentual de extremamente pobres do Maranhão. Cerca de 3749 são beneficiárias do Programa Bolsa Família, e geralmente fazem o saque do benefício no município de Barra do Corda – viabilizando a movimentação econômica do referido município. A taxa de ocupação da população do município equivale a 96%, e a distribuição em relação às atividades é demonstrada pela tabela que segue. (CENSO, 2010)

Gráfico 1 – Extremamente pobres – Total e % na zona Urbana e Rural – Jenipapo dos Vieira - 2010

Fonte: (IBGE apud IMESC, 2016)

O município possui grandes e importantes fontes hídricas para a prática de atividades econômicas dependentes desse recurso, como por exemplo, a agricultura, desenvolvida pela maior parte da população.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761

Gráfico 2 – População ocupada por setor de atividade e população ocupada na agropecuária, produção florestal, , pesca e aquicultura – Jenipapo dos Vieiras – 2010

Fonte: (IBGE apud IMESC, 2016)

De acordo com a tabela, pode-se constatar que a maior parte da população se dedica ao cultivo – melancia, tomate, banana, caju, acerola, cajá, maracujá, goiaba, gado bovino e peixes – agricultura familiar, na qual a incentivo é realizado pela Prefeitura por meio da adesão do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. Devido a esta concentração, tem-se um baixo índice de formalização de empresas – apenas 97 empresas – e geração de renda, o que interfere na geração de receita local. Jenipapo depende basicamente de receitas transferidas pelas demais esferas do Governo, e dos rendimentos provenientes das aposentadorias.

Tabela 1 – Massa de rendimentos (em R$), a preços de Junho/2015 – Jenipapo dos Vieiras – 2010

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 Em relação à empregos formais, apenas 466 registros, sendo que 455 estão inseridos na Administração Pública, 5 Serviços de Transporte e Comunicação e 2 envolvidos com Comércio. Logo, conclui-se que o mercado de trabalho local é precário.

Tabela 2 – Receita total e principais rubricas (em R$), a preços de Junho/2015 – Jenipapo dos Vieiras – 2013

Fonte: (IBGE apud IMESC, 2016)

Em relação à expectativa de vida, o município geralmente se mantém abaixo da expectativa do Maranhão – com exceção do ano de 2010 –, conforme demonstra tabela abaixo.

Tabela 3 – IDHM – Longevidade e expectativa de vida – Jenipapo dos Vieiras – 1991, 2000 e 2010

Fonte: (Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, 2015 apud IMESC, 2016)

O município, segundo o Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015 apud IMESC, 2015), possui apenas uma Unidade Básica de Saúde – UBS, composta por cinco equipes de Saúde da Família, uma equipe de Saúde da Família com Saúde Bucal – Modalidade I – e uma equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Porém, apesar desta estrutura, há registros de problemas referentes à ausência, insuficiência e dificuldades de acesso à automóveis, equipamentos, UBS e a localidades dentro do território que compreende o município.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 Se tratando de serviços de saneamento ofertados, Jenipapo, apresenta déficit de cobertura quanto ao abastecimento de água, coleta de resíduos e esgotamento sanitário. Segundo o CENSO (IBGE, 2010), apenas 67,04% da população está conectada à rede de abastecimento de água potável – considerada de boa qualidade. Deste contingente, 27% encontram-se na zona urbana e 73% na zona rural.

Quanto ao serviço de esgotamento sanitário, o município não dispõe de rede de coleta de esgoto. Deste modo, a população adota alternativas como fossa séptica, fossas rudimentares, valas, bem como despeja seus dejetos em rios ou outros escoadouros. Já o serviço de coleta de lixo abrange apenas 13,55% dos domicílios, nos demais o descarte é feito em terrenos próximos às residências ou são queimados, uma vez que não existe aterro sanitário em Jenipapo dos Vieiras. (IBGE, 2010apud IMESC, 2015)

Diante deste quadro de baixos indicadores nos três setores básico o município que configuram fragilidades analisaremos a potencialidade nas perspectivas das redes urbanas.

3 PERSPECTIVAS E CONEXÕES

A nível municipal, Jenipapo dos Vieiras está imediatamente conectado ao município de Barra do Corda, por meio de estrada terrestre. Conforme mostra figura abaixo, apesar de não haver uma malha viária que permita ir e vir com facilidade até ou a partir do município, este possui limites com outros dois– Itaipava do Grajaú e Lagoa Grande do Maranhão.

Figura 4 – Informativo

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 A nível estadual, as distâncias entre as capitais brasileiras mais próximas estão descritas na tabela que segue:

Tabela 4 – Distâncias entre Jenipapo dos Vieiras e capitais mais próximas

CIDADE DISTÂNCIA SÃO LUÍS/MA 341 km

BELÉM/PA 541 km FORTALEZA/CE 799 km

Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

A Malha do Transporte Aéreo, permite a locomoção mais rápida a partir dos aeroportos de Imperatriz, Balsas e Barra do Corda.

Diante deste reduzido quadro apresentado, conclui-se que Jenipapo dos Vieiras está parcialmente isolado, mas passível de compor uma rede que permita sua conexão, incialmente com municípios próximos, e mediante investimentos, futuramente consolidaria um fluxo permitindo a mobilidade entre cidades maiores e com grande representatividade econômica. O que de fato, viabilizaria o escoamento de sua produção.

4 SOCIEDADE EM REDE SOB A PERSPECTIVA DE CASTELLS

Manuel Castells, sociólogo espanhol responsável pela trilogia “A era da informação” composta pelos exemplares: A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio - (2002 a 2005), trata do surgimento de uma nova estrutura social organizada em redes e que estas formam uma nova morfologia social (CASTELLS, 2002, p. 17).Essa morfologia, somada à revolução da tecnologia, promove uma nova economia que pode ser analisada em dois aspectos:

a) É informacional porque a produtividade e competitividade de unidades dependem da capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos;

b) É rede: porque nas novas condições históricas, a produtividade é gerada e a concorrência é feita numa rede global de interação entre redes empresariais.(CASTELLS, 2002 apud PFLUEGER, 2011 p. 38)

Assim como essa sociedade inter-relacionada em redes possui aspectos positivos, para Castells (2002) ela também gera desigualdade e exclusão social. Isso quer dizer que existem

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 pessoas/territórios fora das redes. Porém “a exclusão social é um processo, não uma condição!” (CASTELLS, 2002, p. 98). É um processo não estático, pode ser mutável, quem hora está excluído pode passar a fazer parte de uma rede e quem antes estava incluído pode já não fazer mais parte, tudo depende do fortalecimento dessas redes.

“A globalização atua de forma seletiva, incluindo e excluindo segmentos de economia e sociedades de redes de informação, riqueza e poder que caracterizam o novo sistema dominante”. (PFLUEGER, 2011, p. 39) Em virtude disso, podemos considerar que Jenipapo dos Vieiras, atualmente está inserido na rede de exclusão, pois apresenta baixo Índice de Desenvolvimento Humano, infraestrutura precária e elevado grau de pobreza. Suas potencialidades– a árvore, o fruto que deram o seu nome (jenipapo), e a lagoa – são pouco conhecidas, logo, não são exploradas, e a localidade torna-se integrante de uma rede composta por territórios excluídos tanto fisicamente quanto socialmente, não representando um atrativo para região e elemento que reverbere dentro e fora das fronteiras da localidade.

Porém, esta realidade é passível de mudanças, desde que haja uma nova organização voltada para a exploração de seus recursos naturais, e uma divisão territorial do trabalho, consolidando a mobilização coletiva. Assim, o município se tornaria parte integrante da rede de inclusão, sendo consolidado pelo seu bem mais precioso: a terra, que faz brotar os seus frutos e que garante a forma e delimita sua lagoa.

Somente assim podemos enaltecer como possíveis potencialidades a exploração dos diferentes usos do fruto do jenipapeiro, o Jenipapo. Aliado a um incentivo turístico para transformando a lagoa em um atrativo de lazer para a região.

5 POTENCIALIDADES

5.1 JENIPAPO

A sociedade carrega consigo ao longo dos anos um conjunto de crenças e conhecimentos referentes ao meio em que está inserido. A fim de garantir sua sobrevivência, essas informações são trocadas e passadas de geração para geração e constituem uma sabedoria milenar. A utilização de plantas como único meio terapêutico para o tratamento de doenças faz jus a esta afirmação, uma vez que aproximadamente 2/3 da população do planeta as utiliza como único recurso para garantir a saúde e a recuperação mediante a manifestação de doenças. (ALVES, 2014, p.17).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 O Brasil é um país com vasta riqueza florística, detém um terço da flora mundial, porém não investe neste potencial para manufaturar e comercializar produtos naturais devido aos altos custos que envolvem a produção.

Destaca-se neste cenário a espécie Genipa americana Linnaeus, cuja existência para o repovoamento de animais da fauna brasileira e para o plantio em áreas brejosas degradadas é de grande valia. Sua ocorrência tanto por cultivo ou espontâneo é notada em todas as regiões do país, principalmente, em regiões de clima quente, como os Estados do Nordeste e Norte do país, e frequentemente em lugares onde há habitações indígenas – como é o caso do município de Jenipapo dos Vieiras. (CAVALCANTE, 1974 apud FIGUEIREDO, 1986). Os índios brasileiros sempre utilizaram o jenipapo, como o urucu, para pintar o corpo, objetos de decoração e utensílios.

Imagem 2 – Jenipapeiro

Fonte: https://www.portalsaofrancisco.com.br/

A espécie é de grande representatividade para o referido município, devido a identidade está ligada à sua existência na localidade, e apesar da gama de utilidades oferecidas – seja

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 comercial, medicinal, químico e farmacológico – as propriedades físicas e químicas, principalmente de seu fruto ainda são inexploradas.

Do ponto de vista comercial, essa espécie fornece madeira de boa qualidade para a construção civil, móveis e produtos artesanais e os frutos comestíveis são usados para produção de sucos, doces e licores, entre outros. Sob o ponto de vista medicinal, todas as partes da planta são empregadas popularmente e em muitas regiões do país como: catártico, antidiarréico, antigonorréico, antiulceroso, analgésico, em casos de sífilis, anemia, icterícia, asma, hidropsia, problemas de fígado e baço (LORENZI, 2008 apud ALVES, 2014, p.17).

Pertencente à família das rubiáceas – a mesma da quinoa e do café –, o jenipapeiro, após os 6 anos do seu plantio, já se torna adulto, e apresenta-se como uma árvore alta de caule ereto – com diâmetro médio de sessenta centímetros, e alcance de 14m altura –, ramificada com flores, hermafroditas, brancas ou amareladas, que borrifam no ambiente seu perfume suave, e contrastam com a coloração verde-escuro de suas folhas. Floresce no outono, com sua floração amarela contrastando com as folhas verde escuro. Os frutos amadurecem na primavera e verão.

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Imagem 3 – Copa do Jenipapeiro

Fonte: http://br.geoview.info/

O fruto do jenipapeiro é uma baga subglobosa, de 8cm - 10cm de comprimento e 6cm – 7cm de diâmetro. Enquanto jovem, com o ápice prolongado; depois, deprimido, bilocular; de casca mole, parda ou pardacento-amarela, membranosa, fina e enrugada. Envolve numerosas sementes, que se encontram juntas na parte mais interna do núcleo. Estas sementes são fibrosas, albuminadas, castanho-escuras, de 6mm – 12mm, comprimidas e achatadas (CÔRREA, 1969 apud FIGUEIREDO, 1986). A polpa se apresenta com coloração parda, sucosa, e é doce e mole (SANTOS, 1978 apud FIGUEIREDO, 1986; BLOSSFELD, 1967 apud FIGUEIREDO, 1986). Seu sabor é característico e muito pronunciado, podendo ser comparado ao de maças secas, mas é mais forte, e o aroma é mais penetrante (POPENOE, 1974 apud FIGUEIREDO, 1986).

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Imagem 4 – Jenipapo

Fonte: https://www.portalsaofrancisco.com.br/

O jenipapo possui importantes propriedades nutritivas devido possuir ferro, cálcio, hidratos de carbono, calorias, gorduras, água e vitaminas B1, B2, B5 e C. Logo, é utilizado como fortificante, como estimulante do apetite, bem como há indicações para utilização contra a anemia e doenças do baço e do fígado. Por ser um fruto comestível é muito utilizado para a elaboração de licores e doces muito apreciados no Brasil.

6 LAGOA TURÍSTICA

Jenipapo dos Vieiras necessita de um marco turístico, algo que desperte o interesse de visitantes para assim gerar uma renda extra para o município. A lagoa do Jenipapo, se bem explorada poderia representar este atrativo necessário para impulsionar o turismo na localidade. Uma vez que suas águas são perenes, e proporcionariam o turismo em praticamente todos os meses do ano. Hoje, a cidade recebe mais visitantes no mês de setembro com o feriado da independência. Porém, os serviços de hospedagem e alimentação são bastante escassos, e representados apenas por duas pousadas e três restaurantes.

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Imagem 5 – Lagoa de Jenipapo

Fonte: http://gestar2jenipapolinguagens.blogspot.com/2009/08/jenipapo-dos-vieiras.html

Tomando como exemplo outras cidades brasileiras que possuem lagoas como geradores de volume turístico, temos Florianópolis com a Lagoa da Conceição, Rio de Janeiro com a Lagoa Rodrigo de Freitas e a própria capital do Estado do Maranhão, São Luís com a Lagoa da Jansen. Esta última se trata do exemplo consolidado mais próximo a Jenipapo dos Vieiras. A revitalização na lagoa gerou completa mudança e valorização de parte da área que a margeia.

Seria preciso um investimento em infraestrutura, instalação de equipamentos, bares, restaurantes, deck de contemplação e possibilidades de esporte nas águas da lagoa. Além disso, existe uma possível exploração do turismo religioso, pois segundo Rabelo (2009), acredita-se que foi onde morreu uma importante personalidade para a localidade e a ela é atribuído milagres.

“A lagoa do Jenipapo é considerada um dos principais pontos turísticos do município, sendo também considerado como tal a cova da finada Jeane, localizada na estrada que liga a sede do município ao povoado Jacaré, que traduz um grande

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sentimento religioso da população, a qual atribui a falecida Jeane a realização de milagres.” RABELO (2009)

Considerado o quadro da atual conjuntura de Jenipapo dos Vieiras em função do que foi apresentado, considerando suas fragilidades e perspectivas de desenvolvimento, a situação que este compreende, hoje pode ser definido pela figura que segue.

Figura 5 – Quadro Síntese: Exclusão x Perspectivas - Jenipapo dos Vieiras

Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

7 CONCLUSÃO

O município de Jenipapo dos Vieiras tem potencial para a crescer e estabelecer uma rede a nível regional e/ou mundial, sustentada pelo potencial inovador trazido pelas possibilidades de utilização de sua lagoa e do fruto – jenipapo. A existência de terra fértil na extensão de seu território e a presença de recursos hídricos são suficientes para o desenvolvimento de uma produção em escala maior, que a de agricultura subsistência, aliada ao fato de o fruto do jenipapeiro possuir propriedades medicinais.

A parceria, mobilização e organização da comunidade trariam benefícios ao município, uma vez que novos empregos seriam gerados, e a economia local poderia se estabelecer independente à administração pública. Além do mais, a imagem da cidade se reestabeleceria, uma vez que sua história é marcada por conflitos de terras, ocasionados, principalmente por

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.6, p.33544-33562 jun. 2020. ISSN 2525-8761 índios, e as manchetes que encontramos em jornais trazem notícias relacionadas ao tráfico de drogas, cujo plantio– maconha – é feito em terras indígenas.

Os municípios de baixo IDH do Estado do Maranhão precisam de estratégias de sobrevivência econômica e conexão nas redes urbanas e econômicas afim de ultrapassarem o processo de exclusão que vivem. O Caso de Jenipapos dos Vieras é uma realidade que se repete em vários outros municípios pobres do Estado, que possuem algumas possibilidades e muitos entraves para seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

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ALVES, Jovelina Samara Ferreira. Estudo químico e biológico Genipa americana L.

Jenipapo/ Jovelina Samara Ferreira Alves.___Natal, 2014.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. A Sociedade em Rede. Volume 1, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

___________________.Fim de milênio. Editora Paz e Terra, 2002.

_____________________. O poder da identidade. Editora Paz e Terra, 2002.

FIGUEIREDO, Raimundo W. de. et al. Características físicas e químicas do Jenipapo. Brasília, 1986.

GEOVIEW. Imagens de jenipapeiros. Disponível em: <http://br.geoview.info/vista_geral,75818090p>. Acesso em: 03 de Outubro de 2018.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Censo demográfico 2010. Disponível em: <https://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em: 25 de Setembro de 2018.

_____________________.História. Disponível em:

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INSTITUTO MARANHENSE DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS E CARTOGRÁFICOS. Plano Mais IDH: diagnóstico avançado: Jenipapo dos Vieiras. São Luís, 2016. 60p.

INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA. O que é

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Figura 1 – Mapa de Localização do Município dentro do território Estadual
Gráfico 1 – Extremamente pobres – Total e % na zona Urbana e Rural – Jenipapo dos Vieira - 2010
Gráfico 2 – População ocupada por setor de atividade e população ocupada na agropecuária, produção florestal,  , pesca e aquicultura – Jenipapo dos Vieiras – 2010
Tabela 2 – Receita total e principais rubricas (em R$), a preços de Junho/2015 – Jenipapo dos Vieiras – 2013
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Referências

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