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Dinâmicas territoriais em espaços transfronteiriços : Terras de Bouro (Portugal) e Lóbios (Espanha)

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Academic year: 2020

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No contexto da Península Ibérica, o crescimento desequilibrado e a diferente potencialidade do fenómeno de desenvolvimento, urbano e rural, têm facilitado a intensificação dos processos de despovoamento e as consequentes mutações de organização agrária e social dos espaços rurais do interior. Estas problemáticas pronunciam-se em factos de cariz regional e têm sido aprofundadas desde tempos bem recentes, pelo agravamento dos desequilíbrios territoriais, em que se constata que não são apenas prejudiciais às comunidades locais, dado que, além da reflexão de justiça social que pesa necessariamente, também o próprio sistema de desenvolvimento se revela lento e começa a afectar profundamente as “áreas deprimidas”, bem como as mais favorecidas ao provocar um congestionamento e sobrelotação populacional.

A tomada de consciência dos factos mencionados, em Portugal, desencadeou-se com maior profundidade a partir da integração na União Europeia, com atenção nas perspectivas e modelos de ordenamento do território como forma de incentivar um desenvolvimento mais harmonioso no contexto nacional. Por seu modo, estes factores fizeram despertar interesse pelas áreas mais desfavorecidas, como é o caso das regiões fronteiriças.

Ao aludir o passado apercebe-se que durante séculos, a fronteira entre Portugal e Espanha constituiu um elemento conflituoso e até de certo modo um obstáculo inultrapassável, fazendo invalidar a perspectiva social que vigorava nos povos de raia, os quais são detentores de uma cultura com raízes comuns, assim como ideologias e valores análogos. Do ponto de vista global dos dois países Ibéricos esta cumplicidade tornou-se de reconhecimento público, facto sempre manifestado nas vivências, no quotidiano das comunidades, nas relações estreitas e na forte cumplicidade estabelecida e confinada às actividades comerciais, implícitas no contrabando e na emigração.

A política da União Europeia tem sido perspectivada e posta em prática numa estratégia continuada, no sentido de reduzir o atraso de desenvolvimento das regiões fronteiriças. Esta estratégia passa por fomentar e intensificar a cooperação transfronteiriça a diferentes níveis, entre eles o internacional, o nacional e o local, através dos programas INTERREG e LEADER, com a pretensão de garantir um desenvolvimento sustentado em direcção à construção de um espaço europeu mais coeso, social e económico.

Neste contexto, este estudo incide especificadamente numa análise abrangente de dois territórios transfronteiriços, ambos no Noroeste Peninsular. O primeiro de que se fala é Terras de Bouro que se insere no Distrito de Braga e o segundo é Lóbios situado na Comarca Baixa Limia, pertencente à Província de Ourense. Estes dois territórios de raia juntos e simultaneamente separados por uma fronteira, apresentam características próprias da interioridade e do isolamento geográfico, contudo o contexto histórico, os relacionamentos antagónicos e a cumplicidade entre estes povos, representam factores contributivos para o enraizamento de culturas semelhantes, enriquecidas e envolvidas por áreas naturais de extrema apreciação nacional e internacional. Não se pode deixar passar o facto de que nestes territórios não existe a plenitude de poder de decisão, o seu poder, em parte, está condicionado pelas decisões

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Neste estudo, o papel que concerne à cooperação transfronteiriça revela-se igualmente de importância crucial, na medida em que pode moderar os atrasos de desenvolvimento.

A análise a realizar nos territórios em causa refere-se à vertente de desenvolvimento projectada desde a década de 60 à actualidade (ano de 2002). Este período de análise impõe como imperativo o papel das administrações públicas locais, entre outros organismos públicos e privados na gestão e no aproveitamento dos Fundos Estruturais Comunitários disponibilizados desde 1986, ano da integração de Portugal e Espanha nos domínios da União Europeia. Manifesta-se importante, ainda, o deManifesta-senvolvimento protocolado em parcerias, na medida em que as iniciativas comunitárias, como os programas INTERREG e LEADER, adstritos a territórios destas características, atribuem critérios de funcionalidade na formalização de cooperação nacional e internacional.

Este estudo apresenta, por fim, um diagnóstico das potencialidades e dos estrangulamentos e, consequentemente, um quadro de propostas de acção e de medidas que se julga necessário implementar para incrementar a cooperação transfronteiriça, com vista ao desenvolvimento destes territórios.

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Within the Iberian Peninsula, the unbalanced growth and the different potentiality of the urban and rural development phenomenon has facilitated the intensification of the depopulation processes and the consequent mutations of the agrarian and social organization of the rural countryside spaces. The above-mentioned evolutions are limited to determined regions and recently have deeply increased due to the worsening of the territorial unbalances. Those unbalances cause not only damages to the local communities but also to the most favoured ones by stimulating situations of congestion and high concentration of the population. Moreover it is possible to observe that there is no longer any application of the justice of an equal development among all the regions and that development is slower affecting the “depressed” areas deeply.

From the integration of Portugal in the European Community, the awareness of the above-indicated situations has increased and has been specially transmitted to the perspectives and to the territorial order models in order to encourage a more harmonious development in the entire country. As a consequence, those initiatives have relighted the interest in the poorest areas among them the case of the bordering regions.

If we refer to the past, we can notice that during centuries, the border between Portugal and Spain represented a struggling element and in different aspects even an unsurpassable obstacle cancelling the social perspective that was in force within the bordering populations who had a common roots culture, similar values and ideologies. Through the global vision of both Iberian countries, has been recognized publically this complicity visible in both living ways, in the day-by-day of both communities, in the tight relationships and in the confirmed complicity noticed in the commercial activities which are implicit in the contraband and the emigration.

The UE policy has been thought and applied in a continuous strategy in order to reduce the development delay in the bordering regions. This strategy consists in stimulating and intensifying the bordering cooperation in different levels, between them and internationally, between the national and the local, through the INTERREG and LEADER programs which main purpose is to guarantee a sustained development participating to the construction of a more consistent, social and economic European space.

So, within this particular context, this study specifically lights on a global analyse of both bordering territories, both in the northeast peninsula. The first one to be analyzed is Terras de Bouro belonging to the district of Braga and the second one is Lóbios located in the district of the Baixa Limia belonging to the “Provincia of Ourense”. Both territories with common limits and simultaneously separated by a border present characteristics of specific interiority and of geographical isolation. Nevertheless the historical context, the antagonistic relationships and the complicity between both populations represent factors that contribute to the implantation of similar cultures enriched and involved in natural areas extremely appreciated nationally and internationally. We can not also forget to mention the fact that in both territories does not exist

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development index.

In this study, the role of the bordering cooperation is also very important because thanks to it, we can moderate the development delays.

The analyse to be made in the above mentioned territories refers to the projected side of the development from the sixties to nowadays (year 2002). This period insists in the role of the public local administrations, among them other public and private entities in the management and in the profit obtaining of the European structural funds available since 1986, year of the integration of Portugal and Spain to the European community. Also to be taken into consideration the protocoled development in partnerships that have been promoted by the Europeans initiatives such as the INTERREG and LEADER programs, limited to territories with those characteristics giving criteria of functionality in the formalization of the national and international cooperation.

Finally this study also includes a diagnostic of the potentialities and the strangulations, and consequently a proposal table of actions and measures seen as necessary to be implemented in order to increase the bordering cooperation for the development of those territories.

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NOTA DE AGRADECIMENTO

Na incapacidade de nomear todas as pessoas e instituições que colaboraram, directa e indirectamente, para a consecução deste Estudo, a todos manifesto a minha sincera gratidão.

Um reconhecimento e agradecimento especial à Professora Doutora Rosa Fernanda Moreira da Silva, da Faculdade de Letras do Porto, pela amabilidade e encorajamento, pela orientação e críticas oportunas, como orientadora desta dissertação. E, manifesto um forte agradecimento ao Professor Doutor Xosé Manuel Santos Solla, do Departamento de Geografia da Universidade de Santiago de Compostela, pela disponibilidade incessante na cedência de material bibliográfico e pela dedicação na orientação informativa referente a Espanha.

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GLOSSÁRIO DE SIGLAS

ACEB – Associação para a Cooperação entre Baldios

ADADB – Associação de Defesa dos Agricultores do Distrito de Braga

ADERE-PG – Associação de Desenvolvimento das Regiões do Parque Nacional da Peneda-Gerês ADIM – Associación de Desarrollo Integral de Muiños

ADILOM – Associación para el Desarrollo de Lóbios e Muiños ADRC – Agência de Desenvolvimento Regional do Cávado AMVM – Associação de Municípios do Vale do Minho

ATAHCA – Associação Desenvolvimento das Terras Altas do Homem, Cávado e Ave BTT – Bicicleta todo-o-terreno

CCDRN - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte CCRN – Comissão de Coordenação Regional do Norte

CEE – Comunidade Económica Europeia CE – Comunidade Europeia

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento DGDR – Direcção Geral de Desenvolvimento Regional

DGT – Direcção Geral de Turismo

CETS – Carta Europeia do Turismo Sustentável

EDEC – Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário EN – Estrada Nacional

EM – Estrada Municipal

EUROPARC – European Charter for Sustainable Tourism in Protected Areas FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEOGA-O – Fundo Europeu de Orientação e de Garantia Agrícola – Secção Orientação FSE – Fundo Social Europeu

IFT – Instituto de Financiamento do Turismo

ICEP - Investimentos, Comércio e Turismo em Portugal INORDE – Instituto Ourensano de Desarrollo Económico

INTERREG - Programa Operacional de Desenvolvimento das Regiões Fronteiriças – Cooperação Transfronteiriça

INTERREG I, II e III – Primeira, Segunda e Terceira Fase do Programa Operacional LEADER - Ligação entre Acções de Desenvolvimento da Economia Rural

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LEADER + - Terceira fase (fase mais) do Programa LEADER

MILIARIA - Programa de Restauração de Aldeias para a Inserção Social de Menores (Espanha) NUTS – Nomenclatura de Unidades Territoriais Estatísticas

NUTS III – Nível Administrativo III da Nomenclatura de Unidades Territoriais Estatísticas OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico

OMT - Organização Mundial de Turismo ONG´s – Organização Não-Governamental(tais)

PACTA – Associação Portuguesa de Empresas de Animação de Animação Cultural e Turismo de Natureza e Aventura

PIDDAC- Plano de Investimentos e Despesas para o Desenvolvimento da Administração Central PDM – Plano Director Municipal

PIB – Plano Interno Bruto

PME´s – Pequenas e Médias Empresas PNB – Plano Nacional Bruto

PNICIAP - Programa Nacional de Interesse Comunitário Incentivos de Financeiros à actividade produtiva

PNPG – Parque Nacional da Peneda-Gerês PNBL – Parque Natural Baixa-Limia

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente POA – Plano de Ordenamento Ambiental

POE – Programa Operacional da Economia

PHARE – Programa de Desenvolvimento do Sector das Pequenas Empresas PRISMA - Programa de Inserção Social para Menores para a Autogestão

PRODER – Programa Operativo Desarrollo y Diversificación Económica Zonas Rurais PRODIATEC - Programa de Infra-estruturas Turísticas e de Equipamentos Culturais PROT – Planos Regionais de Ordenamento do Território

QCA – Quadro Comunitário de Apoio RGA- Recenseamento Geral Agrícola

SAPARD – Programa de Modernização da Agricultura e do Desenvolvimento Rural SAU – Superfície Agrícola Utilizada

SIC – Sítios de Importância Comunitária

SIFIT – Sistema de Incentivos Financeiros no Turismo SIME – Sistema de Incentivo à Modernização Empresarial

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SIPIE – Sistema de Incentivos aos Pequenos Investimentos Empresariais SIVETUR - Sistema de Incentivos a Produtos Turísticos de Vocação Estratégica SOLARH – Programa de Solidariedade e Apoio à Recuperação de Habitação TER – Turismo em Espaço Rural

UE - União Europeia

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Oficina Internacional para o Turismo Social

UICN – União Mundial para a Natureza ZEC - Zonas Especiais de Conservação ZEP – Zonas de Protecção Especial

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ... 13

I PARTE -DINÂMICAS TERRITORIAIS ... 17

CAPÍTULO I - O MINHO RURAL ... 18

1.1.ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL DE ESPAÇO GEOGRÁFICO, REGIÃO E TERRITÓRIO...18

1.2.A CRIAÇÃO DAS DIVISÕES ADMINISTRATIVAS NO CONTEXTO NACIONAL...20

1.3.OMINHO RURAL: UM TERRITÓRIO DE CONTRASTES E MUTAÇÕES...23

1.4.FACTORES DETERMINANTES NA ORGANIZAÇÃO DA PAISAGEM DO MINHO...25

CAPÍTULO II - A UNIÃO EUROPEIA: O PROJECTO DE CONSTRUÇÃO DE UMA EUROPA UNIDA ... 28

2.1.A NOVA GEOGRAFIA PARA A UNIÃO EUROPEIA E O DESENVOLVIMENTO DO ESPAÇO EUROPEU...28

2.2.A INTEGRAÇÃO DE PORTUGAL E ESPANHA NA UNIÃO EUROPEIA E OS BENEFÍCIOS COMUNS...34

2.3.A POLÍTICA REGIONAL E OS FUNDOS ESTRUTURAIS COMUNITÁRIOS NO CRESCIMENTO DO TERRITÓRIO FRONTEIRIÇO PORTUGUÊS E ESPANHOL...39

2.3.1.OS FUNDOS ESTRUTURAIS COMUNITÁRIOS NO SECTOR TURÍSTICO...46

2.3.2.DINÂMICAS DE COOPERAÇÃO FRONTEIRIÇA: IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DO NOROESTE PENINSULAR ...50

CAPÍTULO III - TURISMO: UM FENÓMENO DE IMPORTÂNCIA GEOGRÁFICA ... 55

3.1TURISMO CONTEMPORÂNEO NO CONTEXTO MUNDIAL...55

3.2O APARECIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DO SECTOR TURÍSTICO A NÍVEL EUROPEU E NACIONAL...59

3.3O IMPACTO DO SECTOR TURÍSTICO NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE ÁREAS RURAIS E DE MONTANHA NO NOROESTE PENINSULAR...63

3.4AS DINÂMICAS TURÍSTICAS E AS VANTAGENS DOS FINANCIAMENTOS COMUNITÁRIOS NO TERRITÓRIO FRONTEIRIÇO PENINSULAR...67

3.5O TURISMO RURAL: PROJECTO ÂNCORA DE OPORTUNIDADES ECONÓMICAS E PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE...77

II PARTE - ESTUDO DE CASO: PORTELA DO HOMEM, A FRONTEIRA LUSO-ESPANHOLA DO GERÊS / XURÉS ... 84

CAPÍTULO I - UMA LEITURA GEOGRÁFICA DOS TERRITÓRIOS EM ANÁLISE, ENTRE 1960 E 1980 ... 85

1.1.ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA PAISAGEM FRONTEIRIÇA DE TERRAS DE BOURO E LÓBIOS...85

1.2.O CONTEXTO EMIGRATÓRIO E AS CONSEQUÊNCIAS SÓCIO-CULTURAIS ...98

1.3. ESPAÇOS NATURAIS FRONTEIRIÇOS PROTEGIDOS (SERRA DO GERÊS / XURÉS): DA DIVISÃO À INTEGRAÇÃO TERRITORIAL, COMO PONTO ESTRATÉGICO GERADOR DE ANTAGONISMOS E SOLIDARIEDADES... 113

CAPÍTULO II - DESENVOLVIMENTO DOS TERRITÓRIOS FRONTEIRIÇOS: TERRAS DE BOURO E LÓBIOS E A INTEGRAÇÃO NA UNIÃO EUROPEIA ...126

2.1.ANÁLISE DOS TERRITÓRI OS FRONTEIRIÇOS NO PERÍODO DE 1980 A 2002... 126

2.1.1. O contexto demográfico e as repercussões no tecido socio-económico... 140

2.1.2. Análise da estrutura sectorial de produção ... 150

2.2.ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES E ESTRANGULAMENTOS NO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO... 164

2.3.APLICAÇÃO DOS FUNDOS ESTRUTURAIS DO I,II E IIIQUADROS COMUNITÁRIOS DE APOIO... 181

2.4.PROPOSTAS DE ACÇÃO PARA O TERRITÓRIO FRONTEIRIÇO DE TERRAS DE BOURO... 199

CONCLUSÃO...208

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ...212

PUBLICAÇÕESDAUNIÃOEUROPEIA/ESTATÍSTICA... 220

OUTROS DOCUMENTOS OFICIAIS... 222

DOCUMENTOSNÃOPUBLICADOS ... 223

INFORMAÇÕESINTERNETHOMEPAGES ... 223

LEGISLAÇÃOEUROPEIA,NACIONALEESPANHOLA... 225

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INQUÉRITOS E GUIÕES DE ENTREVISTA...228

Índice de Imagens

Fig. 1 - Mapa de aplicação do Programa Comunitário INTERREG III - A ...43

Fig. 2 Mapa do Distrito de Braga...87

Fig. 3 – Distribuição das freguesias e principais redes viárias do Concelho de Terras de Bouro ...90

Fig. 4 - Mapa do Município de Lóbios ...91

Fig. 5 - Sítios Natura no Parque Nacional da Peneda-Gerês no Concelho de Terras de Bouro ... 115

Fig. 6- Área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, com destaque para a área de Terras de Bouro ... 119

Fig. 7 Área transfronteiriça, Parque Nacional Peneda-Gerês e Parque natural Baixa Limia – Serra do Xurés (Terras de Bouro e Lóbios), demarcada pela fronteira “Portela do Homem” ... 122

Fig. 8 - Distribuição dos aglomerados habitacionais e a principal rede viária em Terras de Bouro ... 128

Fig. 9 - Distribuição dos aglomerados habitacionais, da rede viária e hidrográfica do “Ayuntamiento” de Lóbios ... 136

Fig. 10 - Áreas classificadas e predominantes nos vales do Rio Homem e do Rio Cávado, no concelho de Terras de Bouro ... 142

Fig. 11 – Identificação das tipologias de áreas predominantes nos vales dos Rios Homem e do Cávado, concelho de Terras de Bouro ... 175

Índice de Quadros

Quadro 1– Intervenções desenvolvidas em Portugal, no âmbito do Leader I (1991-93 ...71

Quadro 2 - Intervenção da Iniciativa Comunitária Leader II, 1994-1999 ...72

Quadro 3 - Áreas de intervenção no âmbito da Iniciativa Comunitária Leader II ...72

Quadro 4 - Evolução da emigração legal portuguesa (1950-2002)... 100

Quadro 5- Emigração legal e clandestina em Portugal, 1969 – 1973 ... 102

Quadro 6 - Emigrantes portugueses residentes em Espanha, 1960/1972... 104

Quadro 7 - Referência de valores da emigração nos sectores económicos,1955 – 1984... 104

Quadro 8- Actividades exercidas pelos emigrantes de Terras de Bouro, 1960-1984 ... 108

Quadro 9 - Evolução do fenómeno da emigração legal em Terras de Bouro, 1953-1975 ... 109

Quadro 10 - População residente segundo o nível de ensino (2001) ... 130

Quadro 11 - Quantitativos de alunos, professores e estabelecimentos por nível de ensino (2001) ... 131

Quadro 12 - Serviços e organismos oficiais descentralizados ... 134

Quadro 13 - População residente e as habilitações escolares obtidas (2001) ... 138

Quadro 14 - Evolução da população residente por freguesias, em Terras de Bouro,1960-2001..144

Quadro 15 - Estrutura etária da população residente no concelho de Terras de Bouro (1960-2001) ... 146

Quadro 16 - População residente em Terras de Bouro, 1991-2001... 146

Quadro 17 - Nível populacional por freguesias do Concelho de Lóbios (1960-2001)... 147

Quadro 18 - População residente no Município de Lóbios, 1991-2001... 149

Quadro 19 - Distribuição da população e índice populacional nos territórios: Terras de Bouro e Lóbios, em 1999... 149

Quadro 20 - Movimento populacional nos municípios: Terras de Bouro e Lóbios, 1960/01... 150

Quadro 21 – População residente empregada do Concelho de Terras de Bouro, segundo o sector de actividade, entre 1960-1991... 153

Quadro 22 – Empresas sedeadas no Concelho de Terras de Bouro (1998) ... 157 Quadro 23 – Distribuição de valores percentuais por actividade e sector económico em Lóbios

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(1996) ... 159

Quadro 24 – Distribuição da população residente e ocupada do “Ayuntamiento” de Lóbios, pelos sectores de actividade, 2001... 160

Quadro 25 – Distribuição da superfície agrícola utilizada nos municípios fronteiriços: Terras de Bouro e Lóbios, 1999 ... 162

Quadro 26 - Investimento da iniciativa Leader I, no município de Terras de Bouro (1991-1993)186 Quadro 27 - Investimento do Programa Leader II, em Terras de Bouro (1994-1999)... 187

Quadro 28 - Investimento do programa Leader I e II, em Terras de Bouro, 1991/1999 ... 188

Quadro 29 - Investimento realizado no Município de Lóbios, pelo programa Leader II – 1998-2001 ... 190

Quadro 30 - Candidaturas aprovadas e executadas pelo município de Terras de Bouro, no âmbito dos Quadros Comunitários de Apoio: I, II e III... 195

Quadro 31 - Análise Swot do território de Terras de Bouro ... 202

ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Valores percentuais da emigração segundo o país de destino ... 103

Gráfico 2 - Distribuição de Emigrantes por sectores de actividade, 1955-1984 ... 105

Gráfico 3 – Saldo Migratório em Lóbios de 1970-86 ... 111

Gráfico 4 - População residente segundo o nível de ensino - 2001 ... 131

Gráfico 5 - Evolução da população residente por freguesias menos povoadas, no Concelho de Terras de Bouro, 1960-2001 ... 145

Gráfico 6 - Evolução da população residente por freguesias menos povoadas, do Concelho de Lóbios, 1960-2001... 148

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INTRODUÇÃO

Os processos de desenvolvimento inerentes às distintas realidades marcadas nos países europeus, têm sido conduzidos em padrões e dinâmicas diferenciadas que, muitas das vezes, acentuam o desequilíbrio regional. A União Europeia e a Política Regional Comunitária, enquadradas nas múltiplas dimensões e condições geográficas, seja de montanha, de fronteira, rural, urbana ou litoral, desempenham um papel primordial nos territórios desenvolvidos e subdesenvolvidos. Este papel configura-se importante na medida em que corresponde a uma contribuição para a redução dos desequilíbrios regionais manifestados. A fundamentar este objectivo, assiste-se a políticas, por parte da União Europeia, que visam ministrar, sucessivamente, programas de financiamento, através dos denominados Quadros Comunitários de Apoio, que incluem Planos de Desenvolvimento Regional, direccionados para áreas de intervenção diferenciadas de forma a abarcar a multiplicidade contextual do mundo rural e urbano europeu.

Em Portugal, as tarefas de programação e planeamento regional têm sido coordenadas pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional. Enquanto organismos do Estado, as Comissões assumem a coordenação das áreas e medidas de intervenção para o desenvolvimento das respectivas regiões, promovendo estratégias de acção de apoio técnico e administrativo aos organismos públicos locais, em ligação directa com os serviços estatais.

Por sua vez, no panorama espanhol, a “Xunta de Galicia” administra e cumpre a mesma função das Comissões instituídas em Portugal. Quando se trata da interligação entre instituições portuguesas e espanholas importa atender à sua frequência e viabilidade, dado que o factor de cooperação transfronteiriça representa uma obrigatoriedade na aplicação de determinadas medidas e disposições dos programas INTERREG e LEADER, traçados no âmbito dos objectivos da política comunitária.

Cada território da Europa corresponde a um espaço de organização e funcionalidade diversificadas, com especificidades geográficas que os caracteriza e identifica face à globalidade. A fronteira gerou condicionalismos na geografia de determinados espaços, em termos sectoriais: sociais, institucionais e de desenvolvimento. Tendo em referência os factores de causa e efeito, Carminda Cavaco (1995: 271) menciona que as fronteiras podem ser limite, barreira e linha de separação política, mas também zona de contacto, encontro e, de possível e desejável cooperação, conjugando interesses, esforços e estratégias de desenvolvimento e integração, nomeadamente transnacional, interregional e interlocal. Por esta razão, os territórios de raia caracterizam-se por zonas de convergência, de complementaridade, de relações de cooperação e «singularizam-se» pela perificidade, pelo isolamento e êxodo, pelo afastamento face aos poderes centrais, pelo atraso de desenvolvimento que reflecte a desvitalização do tecido económico e social.

Partindo do pressuposto que a política europeia é crucial para um desenvolvimento equitativo, económico e social dos territórios, neste estudo apontam-se interrogações que o fundamentam, com exemplo da importância confinada a cada território atendendo a

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perscrutação das suas especificidades, deferindo planos estratégicos em seu privilégio baseados numa política regional eficaz. Neste contexto, é importante analisar as questões e os factores que desencadeiam o desenvolvimento ou que o retraem, numa abordagem multi-dimensional e com ênfase nas vertentes: geográfica, histórica, demográfica, cultural, económica, social e política.

Com efeito, o quadro político-administrativo concernente ao poder local em Portugal, transformou-se a partir de 1974 e tomou novas orientações aquando da integração nas directrizes da União Europeia. Neste contexto, analisar-se-á a estratégia de liderança e de gestão das administrações públicas locais, implicadas no desenvolvimento dos territórios.

A incorporação de Portugal e Espanha, na União Europeia, trouxe a eliminação das fronteiras interiores, uns limites impostos pela história que vigorou até há pouco tempo entre os povos Ibéricos. Com esta estratégia deu-se por terminado o comércio do contrabando e a emigração clandestina, que tinha fortificado as relações de convivência, e solidariedade entre os povos de raia. Assim, neste estudo averigua-se os benefícios provocados e protocolados a partir da adesão aos domínios Europeus, assim como as relações sociais e políticas (re)estabelecidas e tomadas nas premissas comunitárias.

A área geográfica seleccionada neste estudo abrange dois territórios raianos: Terras de Bouro, situado no Norte de Portugal, no Distrito de Braga, Província do Minho; e Lóbios, um Concelho do interior espanhol da Comarca Baixa Limia, inserido na Província de Ourense e na Comunidade Autónoma da Galiza. Terras de Bouro tem como limite Norte a fronteira da Portela do Homem entre Portugal e a Galiza, insere-se na NUT III do Cávado e representa um território de montanha, dividido em dois vales dos rios Homem e Cávado que apresentam assimetrias bem notáveis. Por sua vez, o Município de Lóbios, no Sul da Província de Ourense, é limitado a Sul pelo Município português de Terras de Bouro. Ambos os Municípios se enquadram em áreas naturais, sendo o Parque Nacional da Peneda-Gerês e o Parque Natural Baixa-Limia, com todos os benefícios e condicionalismos que daqui possam advir, tornando complexa a gestão e o ordenamento das suas áreas territoriais. Estes territórios medeiam o desfiladeiro da Portela do Homem, que constitui uma fronteira situada entre as Serras do Gerês e do Xurés.

Entre um conjunto de características que une e torna cúmplice estes povos de raia, sobressai a vertente cultural, o contexto histórico partilhado nos conflitos bélicos, no contrabando e na emigração clandestina. Estas características, são factores de análise que se pretendem expor neste estudo. Por um lado, realçam-se os vectores polarizadores que mobilizam a vertente social e económica destes espaços geográficos, como o turismo, abarcando os múltiplos sectores e sub-sectores; por outro lado, analisam-se estes espaços de fronteira e, concretamente, os factores condicionantes de desenvolvimento, assim como se estuda o papel estruturante dos organismos públicos e privados. Adstrito a esta análise inclui-se a dinâmica da União Europeia, centrada nas preocupações de desequilíbrio no desenvolvimento dos territórios.

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Tendo em importância a situação descrita, este estudo tem uma razão de ser que se prende com:

1. a escassez de estudos desta tipologia a incidir na presente área transfronteiriça; 2. a importância relacional histórica e política, na esfera nacional e local, associada

aos antagonismos e cumplicidades, no comércio e na emigração ilegal e as marcas de solidariedade e cooperação legadas e instituídas;

3. a crucialidade em se aprofundar os benefícios inerentes à cooperação transfronteiriça e, principalmente,

4. o conhecimento e interesse pessoal do território em estudo.

Em função das premissas prescritas na temática e nos objectivos deste estudo, seguir-se-á a metodologia comum implicada às Ciências Sociais. Neste contexto, predomina uma análise abrangente que toma em referência uma averiguação teórica globalística, assimilada nas várias dimensões e que, por sua vez, possibilita a interacção com a vertente mais empírica do estudo que, no conjunto, confluem nos objectivos prescritos. Para a sua consecução procede-se à investigação e análise dos fenómenos exactos, tendo em conta a documentação bibliográfica, publicada e oficial, assim como se recorre a informação periódica, legislação comunitária e pesquisa na Internet homepages. Torna-se fundamental, o recurso a documentação não-oficial, como a análise de documentários internos dos arquivos municipais, à imprensa nacional e espanhola e à administração de técnicas de recolha de dados. A esse respeito recorre-se a uma metodologia qualitativa e a técnicas de investigação adequadas à pretensão imposta. A apresentação de um conjunto de quadros, figuras cartografadas e gráficos, constituem elementos essenciais com vista a elucidar a referência empírica em questão.

Para se demonstrar este estudo, de forma metodológica e estruturada, procede-se ao enquadramento dividido em duas partes. A 1.ª é a fase de fundamentação teórica que dá consistência à 2.ª parte que incide em conteúdos pragmáticos proeminentes na área geográfica do estudo. Por sua vez, estas duas partes subdividem-se em capítulos. Assim, a 1.ª Parte estrutura-se em três capítulos. No 1.º há uma preocupação pela abordagem conceptual de um conjunto de domínios, termos e determinações; o 2.º remete-se para o domínio metodológico, deontológico e programático da União Europeia, por último, no 3.º Cap.º aprofunda-se o vector turístico, abarcando as suas múltiplas componentes, sectores e subsectores relacionáveis, numa projecção mundial, europeia e nacional, com passagem pela área fronteiriça do Noroeste Peninsular. A 2.ª Parte é constituída por dois capítulos e confina-se ao Estudo de Caso, com pretextos imperativos restritos à área transfronteiriça dos municípios de Terras de Bouro e de Lóbios. O 1.º diz respeito à análise espaço-temporal da área fronteiriça, entre 1960 e 1980, ao englobar múltiplos sectores de desenvolvimento, assim como uma análise histórica decorrida ao longo de uma fase cronológica entre os dois povos de raia, reflectindo também no facto de partilharem, desde a década de 70, uma das áreas protegidas mais importantes do Noroeste Peninsular, o Parque Nacional da Peneda-Gerês e desde 1993, o Parque Natural da Baixa Limia – Serra do Xurés que reunidos, desde 1997, corporizam o Parque Transfronteiriço Gerês / Xurés.

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No 2.º Cap.º a análise descritiva e crítica dos territórios, no domínio demográfico e económico são a preocupação premente, congregando o estudo das potencialidades e estrangulamentos ao desenvolvimento global, com real focagem para a vertente turística, no espaço temporal entre 1980 e 2002. Neste Cap.º, destaca-se, ainda, a importância e os benefícios advindos da integração de Portugal e Espanha no domínio da União Europeia e encerra com a indicação de considerações e propostas a aplicar no território de Terras de Bouro que, de forma sustentada, podem consubstanciar-se em estratégias de desenvolvimento. A opção de analisar, restritamente, o Município de Terras de Bouro, não simboliza o desinteresse pelo Concelho Galego de Lóbios, mas prende-se pelo conhecimento pessoal e técnico da realidade do espaço português, facto que vence as barreiras de dificuldades e complexidades na sua análise.

Por fim, refere-se que além das contrariedades inerentes às especificidades de interioridade dos territórios fronteiriços em estudo, pouco estudados e descritos oficialmente, a complexidade mais premente foi sentida aquando da tentativa em equiparar a informação, quer de Terras de Bouro, quer de Lóbios, no sentido de que no último território, a base documental é bastante reduzida e o acesso torna-se particularmente complexo. Estes factores geram insatisfação na análise estatística e comparativa entre os dois territórios. Salienta-se, igualmente, que a base metodológica das diferentes fontes é, por vezes, bastante complexa, o que causa desfasamentos e dificulta quer a compreensão e interpretação dos territórios internacionais, em análise, quer a compreensão da divisão administrativa, política entre outros indicadores. Correspondente ao “ayuntamiento” de Lóbios, para uma melhor compreensão ajustada à realidade da análise demográfica, opta-se pela classificação censitária eclesiástica de “parroquias”, pelo facto da classificação estatística causar complexidades aquando da investigação documental e, consequentemente, na interpretação dos indicadores que nem sempre são coincidentes.

Perante a inexistência de estudos de investigação efectuados neste território transfronteiriço, julga-se que o presente estudo corresponde aos objectivos de uma breve caracterização dos territórios, servindo de indicadores e pistas para futuros trabalhos.

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I PARTE

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CAPÍTULO I - O Minho rural

1.1. Enquadramento conceptual de espaço geográfico, região e território

Os territórios abrangem espaços geográficos com circunscrições determinantes, que as identificam simultaneamente como recurso e factor de localização. O espaço geográfico representa a base que circunscreve os recursos internos à região, que lhe atribui um valor social e cultural, inclusive dos seus atributos diferenciadores.

Um território, de acordo com as potencialidades endógenas ao nível dos recursos materiais e humanos, comporta um vasto leque de dinâmicas sociais de diferentes representatividades. Neste sentido, não é desmedido dizer-se que são os recursos do território que viabilizam as suas dinâmicas, quando potenciadas com a participação das populações e vinculadas a um quadro de necessidades sentidas e reais. As dinâmicas territoriais, ao serem veiculadas numa política desenvolvimentalista, fundamentam-se em realidades precisas, em conjugação geográfica com a capacidade de recursos dominantes e as perspectivas de acção. Os espaços diferenciados, ao nível qualitativo e quantitativo, possuem recursos, designadamente geo-turísticos, consubstanciados pelo clima, paisagens naturais e fenómenos geo-físicos, incluindo-se o potencial sócio-cultural que o demarca.

Para se perceber as distintas configurações relativas à organização dos territórios rurais e de montanha, importa conhecer as suas referências históricas e a perspectiva conceptualistas de espaço geográfico, de região e de território. Cada um destes conceitos insere-se num campo extenso que integra actividades, padrões, níveis de percepção e de organização indissociáveis.

A fisionomia de alguns territórios é apresentada como obra criada pelos romanos, no entanto, as invasões muçulmanas desencadearam modificações substanciais na ocupação dos espaços e implantaram novos modos de vida. Tais factos levam a perspectivar que as diferentes abordagens sobre o espaço estão estreitamente relacionadas a um determinado contexto histórico. Nesta visão, a actividade humana tem sido caracterizada pela apropriação do espaço, delimitando fronteiras e territórios. A conquista ou defesa do espaço geográfico tem sido um factor constante na existência humana e na sua história. A humanidade, desde sempre, tem torneado o seu comportamento, na tentativa de obter uma interacção restrita da sua acção com o meio ambiente, no sentido de este não se transformar num condicionante permanente no plano organizacional do espaço. Para Ellen Semple, o homem tentou moldar e adaptar o seu papel à funcionalidade das características naturais da região, por isso argumenta que “a terra perfilha-o, alimenta-o, distribui-lhe ocupações, dirige-lhe os pensamentos, põem-no em face de dificuldades que lhe fortificam o corpo e lhe aguçam a inteligência...”1.

De facto, se a acção da natureza concedeu configurações específicas à paisagem, marcando-a de forma genuína, por outro lado atribuiu importância à acção do homem na criação e na constituição da história das paisagens humanizadas, com contornos diferentes e singulares. Nesta conexão de factores é evidente que não há sociedade sem espaço que lhe seja próprio,

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pois, no interior deste subsiste uma linha geracional sucessiva que serve de identificação e permite a confraternização entre o povo e o seu território.

Contextualizando-se nos modelos organizacionais rurais de montanha, o povoamento, o modo e género de vida e mesmo os sistemas agro-silvo-pastoris, desenvolveram-se em conformidade com as suas condições naturais. Por esta razão, o sociólogo Émile Durkheim (1991) associa o espaço a uma capacidade de “moldagem dos comportamentos humanos” inseridos num meio ambiente demarcado, que configura o ordenamento desse território. Com efeito, cada espaço engloba aspectos de base geográfica, como naturais (relevo, hidrologia, clima, entre outros), humanos (assentamento e ordenamento) e sociais (comportamento e cultura) e, em simultâneo, assume a importância da percepção sócio-cultural na validação dos espaços urbanos e rurais.

No entender de Blas (2000:115), o espaço geográfico é a base dos recursos situados dentro do território, mas o mesmo tem um valor intrínseco, derivado da avaliação social dos seus atributos diferenciadores. A evolução do espaço, por sua vez, desencadeou-se num processo contínuo a um ritmo progressivo, tendendo a que a sociedade evoluísse para padrões organizativos cada vez mais complexos2 que, actualmente, estão bem evidenciados nos modelos

de planeamento territorial.

A concepção de território apresenta-se como um espaço vital no qual as comunidades e os indivíduos se movimentam. Por isso, faz-se referência ao termo território ao integrar todas as condições e atributos que configuram um espaço geográfico, que o diferencia dos outros e onde se interrelacionam elementos naturais, como o clima, relevo, rios e os derivados do impacto humano, com destaque para os vestígios arqueológicos, monumentos e etnografia que constituem o conjunto dos recursos turísticos3. Consta, no Dictionnaires de la Langue Française

de Littré (1863: 72)4, que o território é uma extensão de terra que depende de um império, de

uma província, de uma cidade, de uma jurisdição. Outra observação refere-se ao território como “um fenómeno de comportamento associado à organização do espaço em esferas de influência ou em territórios nitidamente delimitados, que assumem características distintas”. Apesar da sua evidência empírica, um território, além de pertencer a uma jurisdição, representa uma comunidade com um estatuto de espaço antropológico que se encontra numa interacção continuada e baseada na relação entre habitantes e meio-ambiente.

No que concerne à noção de região, numa dimensão geográfica, no entender de Frémont, “apresenta-se como um espaço médio, menos extenso que a noção ou o grande espaço de civilização, mais vasto que o espaço social dum grupo e [...], dum lugar”5. Na opinião de Tägil

(1982), o termo região tende a ser usado com diferentes significados, uma vez que pode ser identificado como sendo uma área geográfica ou como parte de um país coberto por um plano de

1 Cf. GIRÃO, Amorim, A., Geografia de Portugal, Portucalense editora, 1960, p.213.

2 HILDEBERT, Isnard, Le espace geographique, Paris, 1982, p. 237.

3 Cf. BLAS, X., Pardellas, In O Turismo en Galicia, Potencialidades endóxenas de Desenvolvimento Urbano e Económico

2000, p.119.

4 Cf., SOJA, In Dictionnaires de la Langue Française de Littré, 1863, p.72 5 Cf. Enciclopédia Einaudi, vol. 8, Região, 1986, p. 161.

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desenvolvimento particular (in Lopes 1993: 10; Lourenço, 1996). Por isso, este conceito, em si, não constitui uma realidade fechada, pois nele interagem múltiplos factores, os de dotação natural que lhe são intrínsecos e os de dotação imposta e os construídos como as fronteiras, aqui apresentadas como zonas em que as formas de adaptação representam troca de bens e de ideias que submetem o território a outras relações mais complexas, consequência de intersecções humanas e materiais. Assim, região afigura-se numa superfície razoável de área de um país, instituída numa divisão territorial em benefício de uma administração e jurisdição.

Numa visão geográfica dos espaços, territórios e regiões, humanizadas e naturais, observam-se aspectos histórico-morfológicos, mormente vestígios que testemunham tempos distantes e alegam marcas da acção das civilizações na construção e conservação do equilíbrio paisagístico. Estes aspectos foram determinantes na estruturação dos territórios que, em virtude dos condicionalismos, sobretudo geográficos, a população tendeu, naturalmente, a compor-se de forma dispersada ou concentrada.

Subjacente às novas formas de vida e a ocorrência da industrialização, entre outros fenómenos sociais, os espaços geográficos foram sendo alvo de transformações sucessivas nos modelos organizacionais, atingindo uma fase processual desconfigurativa sem grandes indícios da sua originalidade. Nesta perspectiva, os territórios, em particular os rurais, têm assistido ao declínio do modelo organizacional tradicional, derivado das mutações progressivas nas suas estruturas e nas formas de disposição ou compartimentação das áreas naturais, de cultivo e habitacionais. Esta situação resulta da evolução do quotidiano da humanidade, dos fluxos socio-económicos que transformam o espaço geográfico, precisamente no assentamento do povoamento que nem sempre tomou a orientação mais adaptada à realidade local. No contexto actual, sendo perceptíveis as consequências dessa “desordenação”, impera a orientação de planos fundamentados num ordenamento territorial coerente. No caso exemplificativo das aldeias rurais, o ordenamento a pontuar deve envolver estratégias de recuperação do património arquitectónico tradicional de forma a preservar o ambiental rural e cultural envolvente.

1.2. A criação das divisões administrativas no contexto nacional

A divisão político-administrativa apresenta-se com uma função criteriosa e relevante de soberania. Para se compreender o espaço geográfico actual há que ter em linha de conta a história das divisões administrativas, pois, aqui, não está somente implicada uma natureza funcional, mas também, a interacção de factores geográficos e socio-económicos. Indubitavelmente, o factor histórico gerou marcas distintivas que, nalguns casos, se mantêm até à contemporaneidade, consagradas pela tradição e que motivam as influências de uns espaços geográficos sobre os outros, marcando, ainda, traços simbólicos no comportamento e nas identidades intrínsecas que permanecem no tempo e no espaço.

Reportando a uma análise espacial e cronológica dos movimentos da administração territorial, a organização, na época da ocupação romana, constituiu a demarcação de várias

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regiões e províncias, que visaram a consolidação política de um império, com base numa estrutura administrativa e militar dos territórios ocupados. Nesta época, os territórios eram administrados por representantes nomeados pela realeza. Já a Idade Média, desde os primórdios da monarquia portuguesa, se destacou pela divisão do território em terras nas áreas da jurisdição dos poderes régios.

Com o avançar do tempo e nos séculos seguintes, a administração territorial toma novos rumos, surgindo o termo concelho, com o significado de comunidade local que goza de uma certa autonomia administrativa. É nos séculos XII e XIII que predomina a organização dos concelhos, assentando na gestão de funções jurídicas, administrativas e militares. No entanto, só no séc. XIV é que Portugal manifesta a divisão em concelhos, sendo também mais diminuta a concessão de forais. Todavia, concederam-se privilégios, fortalecendo ou alargando determinadas povoações, onde os lugares se elevaram a freguesias e a vilas e das vilas ergueram-se cidades demarcando os tempos históricos e os reinados de cada época.

No século XVI, a acção episcopal ainda conservava uma importância crucial no desenvolvimento de algumas cidades, como Braga e Évora6. Durante os séculos que se seguiram,

as estruturas organizativas adaptaram-se às transformações económicas e sociais do país, designadamente à constituição plena da nacionalidade e ao contínuo fortalecimento do poder central. Já no século XVIII, Portugal encontrava-se dividido, do ponto de vista político-administrativo, em concelhos, comarcas, provedorias e ouvidorias7. O concelho, com uma

expressão espacial diferenciada, constituía a unidade territorial básica, dotada de personalidade jurídica colectiva com determinada autonomia administrativa e judicial8.

Os concelhos abrangiam territórios de dimensões variáveis, não seguindo uma lógica de uniformidade, o que originou diferenciações quanto à extensão geográfica, à ocupação e à densidade populacional, que apresentava acentuadas disparidades de Norte a Sul do país. Ainda neste século surge uma “nova leitura política do espaço”, causando problemas na divisão administrativa do território9. Foi na reforma administrativa de Mouzinho da Silveira que se lançou

a nova base de sistema administrativo em Portugal. Esta reforma marcou profundas alterações com a divisão territorial em três circunscrições; as províncias, as comarcas e os concelhos ou municipalidades que, junto com as autoridades locais (Juntas de Freguesia, entre outras) se integravam numa hierarquia dependente do Governo, denominado Ministério do Reino. Tratava-se, então, de uma reforma com espírito centralizador10.

O sistema de Mouzinho da Silveira é derrubado em 1835, com o surgimento de novos projectos que criaram uma instância intermédia11, o distrito, que subsiste até à actualidade.

6 Cf. LOUSADA, As divisões Administrativas em Portugal, do Antigo Regime ao Liberalismo, In V Colóquio Ibérico de

Geografia, 21 al 24 de Novembro de 1989, Acta, Ponencias y comunicaciones, Faculdade de Filosofia y Letras da Universidade de Leon, 1992, pp. 305-318.

7 IBIDEM.

8 O concelho, como corpo jurídico autónomo, foi instituído pela carta de foral, entre os séculos XI e XIV.

9 Em 1936, com as reformas administrativas liberais que vigoraram entre 1820 e 1855, vários concelhos são abolidos, em

que alguns destes voltam à categoria de Concelho até 1855.

10 Cf., LOUSADA, As divisões político-administrativas em Portugal nos finais do Antigo Regime, 1987.

11

Com dimensão territorial intermédia entre a província e as comarcas. Cf. MANIQUE, A. P., A reforma administrativa de Mouzinho da Silveira: aplicação e resultados, 1986.

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Foram assim, abolidas as comarcas e as províncias como circunscrições e institui-se o distrito como entidade administrativa específica12. Em 1836, a divisão administrativa portuguesa recebeu

outra alteração, com a redução do número de concelhos, de 800 para 351, estando em causa os conflitos derivados das tendências descentralizadoras do Código Administrativo. A situação de abolição de concelhos repetiu-se em 1842 e 1855, em que alguns concelhos viram a sua malha populacional aumentar com a anexação das freguesias dos concelhos abolidos (cf. Figueiredo, 1950 e Hespanha, 1986). O Mappa da Divisão Administrativa do Território, Código Administrativo de 1842, estabelece a existência de 382 concelhos. Mas não foi esta a última alteração anunciada, pois, em 1855, houve uma nova divisão territorial, a partir do Decreto de 24 de Outubro, em que o país ficou dividido em 256 concelhos13.

Ao longo de meio século, no domínio do Estado Novo, este organizou o sistema de referências político, económico e social, baseado num regime centralizador, autoritário e conservador, que se demonstrou incapaz de equacionar o crescimento económico e as disparidades regionais do desenvolvimento português.

O Ministério do Interior, em 1930, decide nomear uma Comissão que deveria “proceder à remodelação provincial do país, agrupando os elementos nacionais com afinidades marcantes, quer sob o ponto de vista da população, suas tendências e formas de actividade, quer ainda sob o aspecto das comunicações e meios de acesso para com tais elementos criar definitivamente, em Portugal, agregados administrativos com base natural e social”14. A Constituição de 1933

nomeia algumas das solicitações deste grupo de trabalho, determinando que o território do Continente fosse dividido em concelhos, que se formam de freguesias e se agrupam em distritos e províncias, referindo que os corpos administrativos são as câmaras municipais, as juntas de freguesia e os concelhos de província. O Código Administrativo de 1936 reforça a centralização de poderes e assinala o Ministério da Administração Interna em 197715. Este código exarava que,

entre outras incitações, ao nível municipal fossem atribuídas competências relevantes na “harmonização dos interesses económicos, nos melhoramentos e na defesa do património”, incluindo as tradições e os costumes culturais.

O ano de 1974 marca um importante lugar com a anulação do Estado autoritário e centralizador, que imperou em Portugal ao longo de meio século, emergindo uma organização democrática. A partir de então surge um período de verdadeira mutação do ponto de vista político, económico e social. Ao nível económico surge a necessidade de uma internacionalização da economia nacional e do ponto de vista social assiste-se a um forte surto migratório, com intuito subjacente à procura de emprego e melhoria das condições de vida16. A constituição da

12 A organização administrativa fica instituída com distrito, concelho e freguesia, com os respectivos corpos e

magistrados (Junt a Geral de distrito e Governador Civil, Câmara Municipal e Administrador do Concelho, Junta de Paróquia e Comissário de Paróquia.

13 Em 1855 tinham desaparecido meio milhar de concelhos, tendo sido criados cerca de 20, alguns foram destituídos e

outros tomaram o regresso de categoria. Esta situação adveio da intensa rivalidade. (cf. Lousada, in Acta, Ponencias y

Comunicaciones, V Colóquio Ibérico de Geografia, (Leon, 1989), 1991. 14 Cf. Lousada, 1991.

15 Ministério da Administração Interna, Divisões Regionais, in A. R., n.º 3, MAI, Lisboa, 1977. 16 IBIDEM.

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República Portuguesa, em 1976, define um Estado democrático assente na soberania popular (art.º 2.º), que baseia a sua organização nos princípios de autonomia das autoridades locais, na descentralização democrática da Administração Pública (art.º 6.º) e na participação directa e activa dos cidadãos na vida política (art.º 112º). Por sua vez, a constituição da República Portuguesa define as autarquias locais como “pessoas colectivas de base territorial, dotadas de órgãos representativos e autonomia administrativa e financeira, a quem compete a prossecução dos interesses próprios comuns e específicos às respectivas populações” (art.º n.º 237). O papel das administrações municipais, as autarquias, sofreu evoluções ao longo dos tempos, como refere Marcello Caetano (1935, in Oliveira, s/d.: 211), “a tradi ção e a razão fizeram dos Municípios, em Portugal, entidades bem diferenciadas no conjunto da administração pública e que o Governo considera, ouve e respeita”.

Em suma, o grau evolutivo, mais acentuado nas últimas décadas, de desenvolvimento da sociedade portuguesa, repercutiu-se de forma desigual nas diferentes regiões. O processo democrático instalado apelou à revisão do modelo de desenvolvimento em que as regiões, principalmente periféricas, exigiram ter um papel activo e participante.

1.3. O Minho rural: um território de contrastes e mutações

A conquista e a organização territorial das regiões foram marcadas pela envolvente política, social e económica, que ao longo dos tempos se constituíram num quadro evolutivo, perpetuando até à actualidade como matriz histórica.

As funções estruturais dos territórios, associadas ao mundo rural, como as modalidades de fixação humana materializadas no tempo e no espaço; a morfologia e os processos de utilização do solo; o sistema de aproveitamento e a gestão racional dos recursos endógenos; o trabalho e os valores que se lhe atribuem, constituem-se em factores determinantes, pois corporizam a paisagem num sistema de padrões que, no seu desenvolvimento, se reencontram numa combinação dinâmica das várias componentes17.

Neste contexto, Gourou (1986, pp.141-8) adianta que a paisagem humanizada não se interpreta pelo que se vê directamente, mas sim «por factores de civilização» que remontam a épocas históricas. Com efeito, a complexa relação entre o Homem e a Natureza articula-se ao nível da paisagem nas suas dimensões cronológicas e na dupla actuação de forças que se exercem mutuamente, tendo em linha de conta a capacidade da natureza suportar as metamorfoses.

Na região do Minho, epicamente, cada civilização marcou um passo na história deste território ao deixar um legado mais ou menos visível que reflecte ideologias e estratégias padronizadas, símbolo da vivência de muitas legiões. A confirmar a abordagem histórica no meio rural Minhoto, reconhece-se que o homem, desde os tempos pré-históricos, se fixou nas “zonas” ribeirinhas e rentabilizou os espaços serranos. E, nestas modificações e adaptações

17 Cf. FEIJÓ, R., NUNES, J., Continuidade e mudança: O Minho em perspectiva histórico/sociológica, in Cadernos do

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comportamentais e vivenciais, tentou manter em equilíbrio a sua presença com a conservação dos ecossistemas dominantes. O aparecimento de povos distintos, cada um munido de instrumentos e técnicas inovadoras, como os ibéricos e os celtas, marcaram um ponto de progresso nas actividades agro-silvo-pastoris da região do Minho. No desenvolvimento do seu território evidencia-se, ainda, o contributo dos cartagineses e dos romanos que, na passagem vivencial no Minho e em todo o Noroeste Peninsular, proporcionaram aos povos naturais um contacto com o mundo externo que se dizia “civilizado”18.

Com a legião romana, a estrutura da propriedade fundiária minhota alterou-se, com a fragmentação das unidades produtivas que tiveram de ser concertadas através da junção de parcelas com aptidões distintas, de forma a manterem rentabilidade. Nesta época foram introduzidas técnicas que proporcionaram modernizações na prática agrícola, o que levou as comunidades a tomarem a direcção das planícies e a rentabilizá-las. A estruturação agrária cobriu o território de variadas explorações agrícolas, tendo as villae, que formavam o novo mundo rural, preenchido as malhas da rede habitacional19.

Na reconquista do território aos mouros, as terras foram divididas para reguengo do rei, contos das ordens religiosas e honras da nobreza, cabendo ao “povo” compensações destinadas a assegurar os equilíbrios sociais no uso de baldios e de pequenas parcelas de subsistência. Mais tarde, é aplicado o aforamento pelos morgados, como forma possível de melhorar os rendimentos das terras camponesas (cf. Velozo, 1953: 23). O clero desempenhava o domínio das áreas rurais com o cultivo intensivo das cercas existentes nos conventos e nas hortas passais. Mais tarde, a nobreza medieval foi contribuinte das suas origens, atribuindo à região minhota um espaço próprio e fundamental nas sociedades nacionais. Neste tempo, a transformação da paisagem e o ordenamento do espaço desenvolve-se segundo o avanço de uma moderada economia agrária.

A actual região do Minho definiu-se, politicamente, em 1147, em que Afonso Henriques terá sido reconhecido como o 1.º monarca de um Reino independente, sendo o território portucalense constituído pelas actuais regiões do Minho e de Trás-os-Montes. Este reino concentrava-se com mais exactidão nas terras minhotas, principalmente em Guimarães. Por tal facto, este território encontrava-se fortemente ligado à génese e à formação da nacionalidade, bem como à história de Portugal.

No início do séc. XVI, a região do Entre-Douro-e-Minho apresenta um nível populacional considerável no panorama nacional, não obstante ao êxodo registado, particularmente, no contexto rural. A crescente população concentrava-se com mais força nos núcleos rurais, onde vigoraram as paisagens de socalcos, nas modalidades de micro produções de poli-culturas, configurações que, actualmente, ainda se manifestam no território do Noroeste.

As áreas geográficas mais urbanizadas e as que se situavam em “zonas costeiras” viram surgir alternativas em detrimento das escassas rendas do cultivo das terras agrícolas, a partir da

18 Cf, FEIJÓ, R., NUNES, J., Continuidade e mudança: O Minho em perspectiva histórico/sociológica, in Cadernos do

Noroeste “Minho: Terras e Gente”, Sociedade, Espaço, Cultura, 1986 , pp. 24-30.

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abertura de empresas fabris e actividades piscatórias. Todavia, nas regiões de predominância rural, a emigração representou uma alternativa à actividade agrícola que resistiu, continuamente, a uma redução de áreas de cultivo pela ausência de mão-de-obra. O cultivo da terra, as lutas em defesa da liberdade da vida camponesa, como modo supremo de sobrevivência, e a estrutura agrária das terras do Minho mantêm a predominância do sistema micro-fundiário adaptado ao ecossistema.

1.4. Factores determinantes na organização da paisagem do Minho

Independentemente do tipo e enquadramento espacial e temporal dos territórios, há que ter presente o facto destes não se apresentarem como espaços isolados, definíveis em termos estritamente estatísticos, devendo-se, como tal, considerar no contexto de um processo de interactividade entre núcleos urbanos e rurais. Os diferentes tipos de espaços geográficos são perspectivados como resultado de uma organização dinâmica do território que configura, por um lado, uma rede hierarquizada de aglomerados populacionais e, por outro, um conjunto de espaços, com níveis de integração diferenciados, associados a diversos tipos de actividades económicas, de uso do solo e de modos de vida.

No enquadramento analítico da região do Minho, esta situa-se no Noroeste de Portugal, constitui-se pelos distritos de Braga e Viana do Castelo20, ocupando uma superfície de 4.885 km2

que corresponde a 5,5% do território nacional. Trata-se de um território heterogéneo, por agrupar áreas densamente urbanizadas, áreas rurais e as montanhosas, proliferando em cada uma, diferentes contextos sociais, demográficos e económicos. Tais factos originaram a predominância do tipo de povoamento prevalecente, o qual está associado a uma época temporal, a um espaço e à relação entre o homem, o meio ambiente e os modos de ocupação. A este propósito, far-se-á uma síntese histórica relativa à origem e evolução do povoamento característico nos territórios do Minho, aliando-se os seus factores determinantes.

A distribuição das terras, que aconteceu depois da difusão castreja, a ocupação dos vales, que se seguiu à conquista romana e as condições naturais do solo, constituiram factores preponderantes na disseminação e estrutura do povoamento. No Minho, a influência de outrora manifestava-se nas casas espalhadas no meio das terras de cultura, com ligeiros adensamentos em determinados lugares esparsos ou junto das estradas e caminhos, em que a igreja marcava o centro da freguesia. Com a organização dos espaços de cultivo, vincularam-se modalidades de povoamento e mesmo estruturas habitacionais, adaptadas às configurações fisiográficas do território Minhoto. Na interpretação dos tipos de povoamento, o Dicionário da História de

20 O Minho actual comporta dois distritos, os quais agrupam 21 concelhos. Assim, o distrito de Braga constitui-se pelos

concelhos de Amares, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Esposende, Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho, Vila Verde e Vila Nova de Famalicão. Enquanto Viana do Castelo constitui-se por Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Valença, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira.

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Portugal (1971: 468), refere que as condições naturais favorecem culturas que, por sua vez, determinam formas de trabalho, a que convém uma certa organização social e económica.

O modelo de povoamento21 disperso é um modelo comum da região do Minho, ainda que

tenha sofrido um acentuado despovoamento e mesmo ruína na época “Lusitano-romana”22,

quando as vilas ou quintas das terras baixas se deslocaram para os castros, situados nas elevações das serras. Esta predominância de povoamento prevaleceu, sobretudo até ao séc. XVIII, aquando da introdução e generalização do cultivo do milho (Fontes, 2001: 32).

Neste enquadramento e como já se referiu, o ordenamento territorial associado à tipologia habitacional e aos modelos de culturas predominantes em determinado espaço, é uma condição crucial da humanização das paisagens, cuja diversidade aflora por condicionalismos vários, como geográficos, sociais, económicos e histórico-culturais23. Assim, a implantação dos territórios

pressupõe a interacção de factores naturais, humanos e etno-históricos, a que o etnólogo Jorge Dias (1948: 82) anuncia de “lei das afinidades”, que caracterizam e individualizam o nível de progresso subjacente a cada área geográfica-cultural.

A Comarca do Entre-Douro-e-Minho, no “numeramento”24 de 1527, dá referência a um número pouco significativo de povoações aglomeradas e, na estrutura organizacional, os moradores viviam por “quintas e casais apartados” (História de Portugal, 1971: 466).

Sendo caracterizada por dispersão antiga, o povoamento do Noroeste revolucionou-se em resultado dos progressos da agricultura, provenientes na época romana e, mais tarde, com a introdução de novos cereais, com particular ocorrência do milho. Assim, o povoamento desenvolveu-se numa expressiva relação entre o homem e a terra, facto ainda notável na região do Minho, resultante das condições naturais, dos modos de vida e dos sistemas de exploração do solo. De certa forma, as condições naturais originaram determinados sistemas de culturas que se configuram na paisagem, implicando uma certa organização social e económica.

A forma de assentamento dos povoados, a própria arquitectura das habitações ajustadas e adaptadas às condições naturais e à diversidade de funções, a medição e a repartição do terreno, constituíram-se em factores que são resultado da capacidade empreendedora do ser humano na transformação e na organização do seu espaço vital. Defendendo-se que as modalidades de assentamentos humanos, que diferem em cada região portuguesa constituem um reflexo de conjugação de condições naturais e de factores históricos e socio-económicos.

Entre outros factos a casa e a povoação, como criação humana, foram sendo adaptadas às suas necessidades e às suas tendências, hábitos e às tradições. Contudo, estas tendências e visões têm sofrido sucessivas metamorfoses ao longo dos tempos, à corrente e ao vigor das mentalidades. No conjunto, foram e são, ainda, muitos os factores que condicionam e modificam

21 Entende-se por povoamento o modo de repartir os assentamentos humanos e o lugar de residência. O povoamento rural

é interpretado como a povoação que predomina, sobretudo, da exploração do campo.

22 Dicionário de História de Portugal, 2ª edição, publicação Porto Figeirinho, 1971, pp. 472-478

23 OLIVEIRA, E. e GALHANO, F., Arquitectura Tradicional Portuguesa, Publicação Dom Quixote, Lisboa, 1992, p.13. 24 O “numeramento” de 1527 teve em vista proceder à remodelação das comarcas (como então se chamavam as antigas

propinas), determinou D. João III, que se apurasse o “numero” da ocupação do reino. Esta tarefa foi incumbida aos corregedores em 1527 e somente em 1532 é que foi concluída.

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a estrutura de ordenamento do povoamento. Em todo o caso uma das influências manifestadas é, seguramente, o factor de aumento populacional.

Cada época projectou variações na balança demográfica e, nos aumentos ocorridos, as povoações tornaram-se maiores, em consequência, houve um alastramento das áreas habitacionais e da fundação de novas, moldadas conforme os protótipos característicos, constituindo, muitas vezes, um ambiente arquitectónico que, hoje, se caracteriza de heterogéneo e desproporcional em detrimento do original. A década de 60 e 70 projectou, por todo o país, com maior incidência no território rural do Minho, uma vaga de construções de cariz “menos tradicional” que provocou profundas modificações, a nível de materiais, estrutura e volumetria, bem como na implantação dos edifícios que, por vezes, extravasam os limites do tecido interno do aglomerado habitacional, ocupando áreas envolventes de cultivo e de bosque25. Actualmente, visualiza-se uma diversidade estrutural e qualitativa das construções predominantes, com influências advindas do fenómeno da emigração e do contacto com novas culturas “diferenciadas” das de origem26, cujo desajustamento, antigo e moderno, têm destruído

a tipicidade e genuinidade arquitectónica dos aglomerados.

25 Estas áreas naturais, de valor incomensurável, estão disseminadas pelas aldeias mais típicas dos concelhos de

montanha constituindo parte integrante do património histórico e etnográfico.

26 Estas construções desconfiguram os núcleos arquitectónicos, pelas novas intervenções ao nível de estrutura de

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CAPÍTULO II - A União Europeia: o projecto de construção de uma Europa unida

2.1. A nova geografia da União Europeia e o desenvolvimento do espaço Europeu

A Comunidade Económica Europeia (CEE), reafirmada de União Europeia (UE) em 1993, é definida por uma das “zonas económica, política e socialmente”, mais prósperas e promissoras do mundo. Existente desde 1957, a actual União Europeia, representa o 3.º lugar nos grandes “empórios”, “entidades” ou “grupo” homogéneo de países, logo a seguir à China e à Índia.

Na globalidade, as regiões da União Europeia são caracterizadas pela sua diversidade cultural e económica, o que as valoriza e diferencia de outros grandes espaços económicos mundiais.

O Tratado da União Europeia, em vigor desde 1993, estabelece a coesão enquanto objectivo principal, no qual foram instituídos Tratados, como a União Económica e Monetária, o Mercado Único e previa a criação do Fundo de Coesão (Comissão Europeia, 2001: 5). De associação directa ou indirecta, a organização do espaço e a política de desenvolvimento territorial europeu têm merecido crescente atenção, demonstrando a relevância que os Estados-membros da União reconhecem no processo de aprofundamento da integração Europeia.

A intencionalidade de vigorar o Mercado Único Europeu surgiu em 1957 e a área livre de comércio, em 1959. Todavia, a entrada definitiva cumpriu-se no ano de 1993, garantindo um avanço na constituição de uma Europa unida não só política, mas economicamente e, por conseguinte, no estabelecimento de uma soberania participativa27. A Comissão das Comunidades

Europeias (1986: 10), afirma que o mercado interno compreende um espaço sem fronteiras internas no qual a livre circulação das mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos capitais é assegurada de acordo com as disposições do referido documento. Este disposto comunitário, manifesto em pressupostos de foro económico e social, implicou uma regulamentação coerente no que concerne ao cumprimento das condições globais estipuladas no domínio da lei comunitária. Assim, sobre os eventuais resultados menos privilegiados da aplicação desajustada do mercado europeu, com a abertura das fronteiras e do sequente aproveitamento desta potencialidade, Moussis (in Salgado, 2000: 76), alerta que na prática:

“o grande mercado europeu tem tendência a reforçar a acção dos pólos de atracção das actividades económicas preexistentes e, portanto, a acelerar o processo de concentração e de aglomeração. Se não fossem tomadas medidas a nível nacional e comunitário, a realização do Mercado Comum teria assim tendência para agravar as desigualdades preexistentes, na distribuição das actividades económicas no território da comunidade”.

27 Na década de 80 houve uma aposta definitiva de implementar o Mercado Comum, deferindo-se o ano de 1992 para a

supressão dos entraves que subsistiam dentro da União Europeia, com a cons olidação da livre circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais.

Imagem

Fig. 1 - Mapa de aplicação do Programa Comunitário INTERREG III - A
Fig. 2 Mapa do Distrito de Braga
Fig. 3 – Distribuição das freguesias e principais redes viárias do Concelho de Terras de Bouro  Fonte: Divisão de Planeamento e Urbanismo da Câmara Municipal de Terras de Bouro, Pinto, N., 2004
Fig. 4 - Mapa do Município de Lóbios  Fonte: Divisão Cultural do “Concello de Lóbios”
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Referências

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