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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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Academic year: 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

RITA DE CÁSSIA ANDRADE DE ALMEIDA

O processo de implantação do Programa Município Verde na MRH de Paragominas: uma análise a partir de Dom Eliseu/PA

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RITA DE CÁSSIA ANDRADE DE ALMEIDA

O processo de implantação do Programa Município Verde na MRH de Paragominas: uma análise a partir de Dom Eliseu/PA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do Título de Mestre em Ciências Sociais.

Orientador: Profº Dr. Marcelo Domingos Carneiro Sampaio

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Almeida, Rita de Cássia Andrade

O processo de implantação do Programa Município Verde na MRH de Paragominas: uma análise a partir de Dom Eliseu/PA / Rita de Cássia Andrade Almeida. – São Luís, MA, 2014.

119f

Orientadora: Marcelo Domingos Carneiro Sampaio

. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Maranhão, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais.

1. Desmatamento. 2. Regulação ambiental 3. Sustentabilidade ambiental. I. Título

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RITA DE CÁSSIA ANDRADE DE ALMEIDA

O processo de implantação do Programa Município Verde na MRH de Paragominas: uma análise a partir de Dom Eliseu/PA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do Título de Mestre em Ciências Sociais.

Aprovada em ___/ ____/ ________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Marcelo Domingos Sampaio Carneiro (Orientador)

Doutor em Sociologia e Antropologia Universidade Federal do Maranhão

___________________________________________________

José Benevides Queiroz

Doutor em Ciências Sociais Universidade Federal do Maranhão

___________________________________________________

Gamaliel da Silva Carreiro

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AGRADECIMENTOS

Manifesto minha gratidão a Deus, a quem busco a iluminação e o equilíbrio para não desanimar.

Ao Professor e Orientador desse trabalho o Professor Dr. Marcelo D. C. Sampaio, pela confiança, orientações precisas e consistentes que me deram a segurança necessária para seguir nesta experiência acadêmica.

Ao Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da UFMA pela oportunidade de realizar essa importante etapa de estudo, com destaque para todo o corpo docente e funcionários, sobretudo àqueles com quem tive a oportunidade de conviver e compartilhar dos seus conhecimentos profissionais.

Aos colegas de Mestrado em Ciências Sociais pelo encorajamento e a mútua ajuda para a superação dos desafios, em especial ao colega Waldecir e Maria Natividade que disponibilizaram tempo e paciência nos momentos de dúvida. Menciono ainda as colegas do Doutorado Lenir, Ana Carolina e Carla Suzi, pelas importantes dicas que me guiaram para uma melhor produtividade nos estudos.

Agradeço ainda aos informantes, a todos que colaboraram direta e indiretamente na coleta de dados e a meu querido amigo Stênio Bezerra pelo incentivo e pelos preciosos contatos.

E, por fim, não poderia deixar de registrar o precioso apoio dado pela minha família, esposo e filhas, que me deram conforto e tranquilidade para concretizar meu projeto, e, na mesma medida, registro o apoio dado pelos meus amigos, compadres e comadres: Alice, Edimilson, Kátia e Valter pelo alicerce em São Luís; e Abadiana e Hiula por se postarem à disposição de minha família em Dom Eliseu durante minhas ausências. E ainda, a todos os meus familiares: minha mãe, meus irmãos e minhas irmãs.

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RESUMO

Essa dissertação analisa o processo de implantação da política pública estadual denominada “Programa Município Verde” na MRH de Paragominasa partir do município de Dom Eliseu/PA. O Programa foi formulado como uma alternativa às medidas de repressão utilizadas pelo governo federal para combater o desmatamento nos municípios críticos, estimulando a participação dos envolvidos no desmatamento em um processo de regularização ambiental de suas propriedades. O estudo discute o legado de políticas públicas na Amazônia, que foram centradas no fomento a atividades econômicas predatórias (pecuária extensiva e exploração madeireira), para destacar a estratégia estatal recente, que apresenta uma lógica contrária ao do período de colonização inicial. As ações prioritárias concentram esforços no combate ao desmatamento procurando inverter a lógica produtiva dos atores sociais, por meio de instrumentos regulatórios e medidas repressivas como a “Lista Suja do Desmatamento” e do incentivo à reestruturação das bases produtivas locais. Nesse sentido, destaca a atuação do Programa Estadual Município Verde, como uma política centrada no município, que se organiza em eixos estruturais que estimulam o controle do desmatamento, a gestão ambiental local compartilhada, o ordenamento territorial, ambiental e fundiário e o desenvolvimento de produção sustentável. O Programa dissemina os discursos de sustentabilidade ambiental e econômica como discurso oficial e como condição indiscutível aos proprietários de imóveis rurais que necessariamente devem ajustar-se à legislação ambiental sob pena de suspensão da atividade produtiva.

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ABSTRACT

This these analyses the deployment process of the state public polity denominate “Program Green Town” in MRH of the Paragominas from of the municipality of Dom Eliseu, state of the Pará. This Program went formulate like an alternative to stately action of repression used to for federal government to combat the deflorestation in critic municipalities, incenting the action of the envolved actors in a process of environmental regularization of his ownership. The study argue the lead of public politic in Amazônia that were centered in furtherance to the destroyed economic activities (extensive peccary and wood exploration), to underline the recently stately strategy, showing an opposite logic to the period of early colonization. The priority actions focus efforts to combating the desflorestation looking to reverse the productive logic of the social actors, for way of regulatory tools and repressive actions like the “dirty list of the deflorestation” and of the incentive to rebuild of productive bases in local. In this toward, underline the actuation of the State Program Green Town, like a polity focused into municipality, that established in structural support that motivate the control of the deflorestation, the joined local environmental manager, the land environmental territorial order and development of sustainable production. The Program disseminate of the dissertation of economic environmental sustainability from official dissertation and incontestable to the owners of rural possess, that obligatory must attend the rules of law, otherwise, occurred the interruption of license to produce in possess.

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LISTA SIGLAS

ADEPARÁ – Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará APP – Área de Preservação Permanente

BVRIO – Bolsa Verde do Rio de Janeiro CAR – Cadastro Ambiental Rural

CCIR - Certificados de Cadastro de Imóveis Rurais CERFLOR – Programa Brasileiro de Certificação Florestal

CICCIA-NACIONAL – Comissão Interministerial de Combate aos Crimes e Infrações Ambientais

CMN – Conselho Monetário Nacional

CNMP – Conselho Nacional do Ministério Público COADE - Cooperativa de Agronegócio de Dom Eliseu CPP – Centro de Pesquisa do Paricá

CRA – Cota de Reserva Legal

DEGRAD – Mapeamento da Degradação Florestal na Amazônia Brasileira DETER – Desmatamento em Tempo Real

EMATER-PA – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará

EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDESP – Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente na Amazônia

INCRA – Instituto Nacional de Reforma Agrária INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ITERPA- Instituto de Terras do Pará

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MDF – Medium Density Fiberboard (Fibra de Média Densidade) MMA – Ministério do Meio Ambiente

MPF – Ministério Público Federal MRH- Microrregião Homogênea

OCDE - Organizações de Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONGs – Organizações não Governamentais

ONU – Organização das Nações Unidas

OSIP – Organização da Sociedade de Interesse Público PAS – Plano Amazônia Sustentável

PEMV – Programa Estadual Municípios Verdes

PNAPA – Plano Nacional Anual de Proteção Ambiental

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPCAD-PA – Plano de Prevenção, Controle e Alternativas ao Desmatamento do Estado do Pará

PPCDAm – Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal

PRAs – Planos de Recuperação Ambiental

PRODES – Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite PSA- Pagamento Pelos Serviços Ambientais

REDD+ - Redução de Emissão por Desmatamento e Degradação Florestal RL – Reserva Legal

RESEX- Reserva Extrativista

SAD – Sistema de Alerta de Desmatamento

SAGRI-PA – Secretaria de Agricultura do Estado do Pará SEMA – Secretaria de Meio Ambiente

SEMAGRI – Secretaria Municipal de Agricultura

SEPMV – Secretário Extraordinário do Estado para a Coordenação do Programa Municípios Verdes

SIDRA- Sistema IBGE de Recuperação Automática

SIGCAR – Sistemas de Gestão do Cadastro Ambiental Rural

SIMLAM- Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental SPR- Sindicato dos Produtores Rurais

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SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia Brasileira TAC – Termo de Ajustamento de Conduta

TCT – Termo de Cooperação Técnica TCU – Tribunal de Contas da União TI – Terras Indígenas

TNC – The Nature Conservancy UC – Unidade de Conservação

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Imagens da abertura da floresta, em 1959, para a construção da Rodovia Belém- Brasília. ...27

Figura 2. Mapada localização do município de Dom Eliseu - PA. ...31

Figura 3 - Mapa demonstrativo do IDHM dos estados brasileiros -2010... 60

Figura 4-Mapa dos municípios Prioritários Monitorados do Bioma Amazônia-2013. 74

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1– Evolução do rebanho bovino de Dom Eliseu, entre 1990 e 2010... 37

Gráfico 2- Desmatamento acumulado na Amazônia Legal Brasileira, entre 1992 e 2007 (km²) chegando a 15%, com base nos dados do INPE (2008). ... 71

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

1. UMA TERRA PARA SER EXPLORADA: a superação da Amazônia-selvagem ...... 26

1.1A Política de Colonização da Amazônia: o começo da história ... 26

1.2Um início promissor... ... 30

1.3 A evolução das atividades econômicas na MRH de Paragominas ... 35

1.3.1 A Atividade Pecuária ... 36

1.3.2 O Extrativismo vegetal: a atividade madeireira ... 39

1.3.3 A Atividade de Reflorestamento ... 44

1.3.4 Principais atividades agrícolas municipal ... 48

2. POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS: PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO E ORDENAÇÃO DAS ATIVIDADES ANTRÓPICAS ..51

2.1. A Legislação Ambiental Brasileira: subsídio às Políticas Públicas de Proteção do ambiente ... 52

2.1.1. Lei 12.651/2012- O novo Código Florestal ... 53

2.2. Políticas Públicas Ambientais para Amazônia: combate e controle do desmatamento, regularização territorial e os incentivos às atividades produtivas sustentáveis. ... 59

2.2.1. Zoneamento Ecológico Econômico ... 63

2.2.1.1.Macro Zoneamento Ecológico Econômico da Amazônia Legal- MacroZEE-AL ... 64

2.2.1.2. O Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Pará–ZZE-PA .... 68

2.2.2 Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal- PPCDAm ... 70

2.2.3 O Plano de Prevenção Controle e Alternativas ao Desmatamento do Pará- PPCAD/PA... 84

3 UMA TERRA PARA SER PRESERVADA: A emergência do Programa Estadual Municípios Verdes e a adesão pelo município de Dom Eliseu ... 87

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3.2As operações de fiscalização na microrregião de Paragominas ... 90

3.3 O ponto da virada: o caso de Paragominas ... 93

3.4 A criação do Programa Estadual Municípios Verdes ... 96

3.5A implantação do PEMV em Dom Eliseu-PA ... 103

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 108

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INTRODUÇÃO

No meado da primeira década deste milênio o uso intensivo dos recursos naturais começou a fazer parte das preocupações dos atores sociais do município de Dom Eliseu. Consciência ambiental até bem pouco tempo era um conceito distante das práticas produtivas e cotidianas das pessoas. O meio ambiente não era uma questão pública, o Estado era pouco presente, quase não intervinha sobre o uso dos recursos naturais, a baixa atuação dos órgãos de fiscalização estava longe de ser suficiente para inibir exploração predatória da floresta.

O clima de permissividade atraiu uma legião de investidores de diferentes regiões do país que vieram para a região para instalarem seus negócios, estimulados pelo fácil acesso à terra, aos financiamentos e aos incentivos fiscais. Em decorrência dessa corrida expandiu-se a atividade pecuária, o extrativismo vegetal e bem depois, a agricultura comercial, essas atividades são destacadas como responsáveis pela devastação da floresta em escala alarmante. O fenômeno fez com que a Amazônia fosse destaque em debates sobre meio ambiente, dentro e fora do Brasil.

Em decorrência desses debates o Estado formulou, dentre diversas políticas públicas ambientais, políticas específicas de combate e controle do desmatamento para a Região Amazônica com destaque para o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal- o PPCDAm que desencadeou uma série de medidas de intervenção do Estado produzindo um efeito devastador nas economias locais.

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várias propriedades, interdição de carvoarias e serraria, apreensão de maquinários e equipamentos, produtos agrícolas e algumas prisões, deixando um rastro de desolação nos municípios afetados. O embargo não foi somente para os proprietários infratores, abrangeu todo o município suspendendo a atividade produtiva no campo, cessando o crédito e comprometendo as relações comerciais. Essas penalidades travaram a economia municipal, desestabilizando a vida da comunidade local.

Em resposta à crise ambiental o Programa Município Verde emerge, a princípio um Projeto- Paragominas Município Verde, construído no próprio município de Paragominas. O Programa é recebido por boa parte dos atores sociais afetados como uma política que abre caminhos à restituição da economia e à recuperação da capacidade de gerir a vida do município através do restabelecimento da funcionalidade produtiva. O Programa, no discurso de alguns atores locais, sobretudo dos gestores, foi auferido com otimismo, o standard de um novo tempo, sua inserção arrasta a pretensão de construir, nas localidades, uma nova cultura onde seja possível produzir e preservar, deixando para trás a cultura predatória da exploração desenfreada da floresta que marcou o processo de colonização.

Diante essa breve contextualização o trabalho que ora apresentamos objetiva analisar a origem, fundamentos e estratégias do Programa Estadual Municípios Verdes na microrregião de Paragominas, destacando o processo de implantação no município de Dom Eliseu.

O Programa foi implantado em três dos quatro municípios da microrregião que foram arrolados na lista dos municípios críticos do desmatamento: Paragominas, aonde o Programa se originou, Ulianópolis e Dom Eliseu. Apenas Rondon do Pará ainda não aderiu ao Programa.

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A partir da análise da origem no município de Paragominas e da implantação no município de Dom Eliseu procuramos identificar as diferentes reações (recusa, aceitação, conflito, cooperação) dos principais atores sociais atingidos pelo Programa, que são os produtores rurais (pequenos, médios e grandes) e os empresários do setor florestal. E ainda, identificar as principais motivações que justifiquem as adesões desses atores.

Para compreender a dimensão social das adesões traremos à tona a reflexão do que significa ser um município verde, que benefícios sociais, além de econômicos, propriamente ditos, a implantação dessa política produz. Dessa maneira, na análise se procurou responder se a adesão dos atores se funda na consciência da finitude dos recursos ou na pressão dada pela aplicação dos dispositivos legais. Ainda nesse sentido, analisamos a força que um e outro tem no ajustamento da atividade produtiva. Essa análise é feita na perspectiva individual (opiniões particulares) e na perspectiva geral do município, refletindo na mobilização do coletivo para o acionamento de alternativas para sair do estado crítico e o peso que isso tem na adequação à circunstancias legais.

Essa reflexão foi oportuna no caso de Dom Eliseu, mas, sobretudo em Paragominas, cuja experiência tem servido de referência para outros municípios. No decurso do trabalho esse conhecimento foi levado em consideração dando especial atenção à criação e implantação do Programa neste município, a condição de pioneiro na superação da crise ambiental na região e os esforços que o levou à conquista do título de “município verde” concedendo à Paragominas um status privilegiado na região. Considerando o papel deste município como referência para os demais, esta pesquisa indexa a experiência vivida por eles.

Perguntamo-nos ainda sobre a dinâmica das relações imbricadas no processo de implantação e manutenção do Programa, sejam elas institucionais ou não, qual o valor destas na corroboração para a produção de formas alternativas diante do esgotamento de certa perspectiva.

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Na transcorrência do trabalho foi se evidenciando fatos e informações que nos permitiu discutir tais questões.

Dessa maneira o trabalho desenvolvido prescreveu a fundamental tarefa de descrever as bases do Programa Estadual dos Municípios Verdes, considerando sua emergência precisamente a partir da experiência do Município de Paragominas, como dito a princípio, apenas um projeto local, até sua transformação em política pública estadual;

Analisamos o processo de formação socioeconômica do município de Dom Eliseu, onde confirmamos o especial destaque ao papel desempenhado pela atividade pecuária e pela exploração madeireira no município, principais atividades do início da formação do lugar e a posterior inserção e fortalecimento do cultivo de grãos. Essa análise foi básica para podermos explicar como as ações do PEMV atingiram e ainda vêm atingindo os produtores rurais no município, bem como suas reações. Sem nos deixar envolver pelo entusiasmo dos atores protagonistas do Programa, não esquecemos de que como uma política pública, que se impõe diante de um dilema social e estrutural, é conveniente considerar seus alcances e suas limitações no contexto em que está instituído.

A institucionalização da questão ambiental tem corroborado para a internalização do valor do ambiente como bem comum. Também tem favorecido a concepção de que a natureza é uma dimensão indissociada do homem. Em decorrência disso, nas últimas décadas, em diversos contextos, os atores tem se reunido em assembleia para discutirem questões ambientais locais e criarem mecanismos regulatórios.

Em Dom Eliseu, as evidências demonstram que as implicações econômicas e os efeitos da desconsideração desse valor, levaram os atores da região a discutirem mudanças em sua base produtiva, pressionados pelos dispositivos legais. Contudo, vale discutir se esses fatores são capazes de alterar a consciência dos atores a ponto de internalizarem valores ambientais que possam ser a medida de orientação das atividades prescindindo da força do Estado.

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preceitos de sustentabilidade é o tema do momento e isso tem se constituído num campo de disputa, de poder e de prestígio por parte dos atores. A adoção dos discursos de sustentabilidade ambiental significa, em certa medida, fazer as pazes com as frentes de contestação e, simultaneamente assegurar a reprodução do processo produtivo. Cabe-nos, nesse trabalho, compreender se o PEMV promove um retorno à natureza e se assegura condições substanciais de sustentabilidade ambiental, econômica e social.

O PEMV, como política pública que se propõe a produzir mudanças na base produtiva dos municípios, exige, sobremaneira, a análise da atuação do Estado e de suas estratégias. A instituição estatal ocupa papel fundamental, não apenas na tarefa de construir instrumentos regulatórios para a reestruturação da produção em base sustentáveis, mas também, no incentivo à criação de alternativas e na melhoria da gestão dos recursos naturais que assegurem as condições necessárias para superação da crise ambiental. Exposto isso, identificamos que o maior desafio das políticas públicas ambientais para Amazônia é elaborar e implantar políticas que respondam à necessidade de produzir e de preservar.

As políticas do desenvolvimento sustentado se inscrevem nas vias de ajuste que a economia neoliberal aportaria à solução dos processos de degradação ambiental e ao uso racional dos recursos ambientais; ao mesmo tempo, responde à necessidade de legitimação da economia de mercado, que em seu movimento inercial resiste aos estampidos que lhe foi determinado pela sua inércia mecanicista.(LEFF, 2006, p. 144)

Um programa que se manifesta para responder aos problemas ambientais e sociais implica em uma consistente articulação entre múltiplos atores, tanto com as instituições estatais quanto com as instituições não estatais envolvidas como a sociedade civil. No caso do PEMV essa articulação entre os diversos grupos e instituições é fortemente necessária, a despeito disso, compete-nos a análise das responsabilidades dos diferentes atores envolvidos no Programa.

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estatal não está „a serviço‟ das necessidades ou exigências de qualquer grupo ou classe social, mas reage a problemas estruturais do aparelho estatal de dominação e de prestação de serviços”. (OFFE, p. 37).

Nessa perspectiva a pesquisa foi ancorada nos estudos sobre as políticas públicas de proteção a vegetação nativa através do combate e controle do desmatamento ilegal, nas diretrizes e estratégias do zoneamento ecológico e econômico da Amazônia Legal e do Estado do Pará.

Considerando que o Estado é o principal ator em relação a essas políticas atuando na elaboração e execução, pensamos na teoria do Estado de Claus Offe (1984) que explica as políticas sociais como instrumentos para gerir processos de inovação que visa a reestruturação da própria organização estatal. Para ele há uma contradição intrínseca ao capitalismo que é a base analítica do sistema para um desenvolvimento autodestrutivo que opera em três níveis por mecanismos auto-regulativos: i) organização das unidades produtoras para garantir a sobrevivência do capital particular; ii) desenvolvimento institucional da ciência e da tecnologia para garantir a sobrevivência do capital global iii) regulação das funções do poder político, indispensável para a estrutura global, política, econômica e social que determina o valor do capital.

Através desses três mecanismos, Offe associa todas as inovações institucionais que intervêm no desenvolvimento do sistema capitalista, podendo ser interpretadas como reações defensivas aos problemas derivados da contradição fundamental do sistema. Os três mecanismos são passiveis de novas articulações e aperfeiçoamentos voltados para evitar o colapso da estrutura de base do capitalismo (OFFE, 1984). A teoria de Offe sobre um Estado no capitalismo recente sustenta que o Estado se desenvolve em respostas às crises periódicas que surgem na base da produção capitalista, estas crises dão origem ao desenvolvimento de mecanismos de adaptação, tanto internos ao mercado como através das funções ampliadas do Estado. Assim nos apresenta um Estado como mediador das crises capitalistas (CARNOY, 1988) Essa percepção teórica da ação Estatal nos parece pertinente na análise das políticas públicas para a Amazônia Legal no que tange ao controle do desmatamento.

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ambiente, mas por uma necessidade de ajustar o uso do território aos princípios de perservação como uma necessidade também interna da lógica produtiva do momento. Essa orientação implica na legitimação do Estado como ordenador da vida pública, como firmado nessa declaração de justificativa do MacroZEE da Amazônia Legal.

O país está vigilante na reafirmação incondicional de sua soberania sobre a Amazônia e repudiará, pela prática de atos de desenvolvimento e de defesa, qualquer tentativa de tutela sobre as suas decisões a respeito da preservação, desenvolvimento e defesa da Amaônia. Da mesma forma, não permitirá que organizações ou indivíduos sirvam de instrumentos para interesses estrangeiros- políticos ou econômicos- que queiram enfraquecer a soberania brasileira. Quem cuida da Amazônia brasileira, a serviço da humanidade e de si mesmo, é o Brasil. (MMA p. 19, 2014).

É mister a revisão dos estudos já publicados sobre o Programa Municípios Verdes para a explicação do fenômeno, assim recorremos a artigos, documentários, entrevistas, depoimentos produzidos sobre o Programa. Outro documento impreterível foi o que constitui o chamado Programa Município Verde, um guia de orientação para os atores locais e um documento que avalia os dois anos de implantação do programa. Esses documentos foram alicerces para a análise do objeto.

Além disso, nos servirmos de fontes secundárias como banco de dados dos órgãos federais e estatais como Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ), Secretaria Estadual de Agricultura, site do Programa Municípios Verdes, entre outros e arquivos e publicações

on line de Organizações não Governamentais como o Imazon. As entrevistas com os

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publicações referentes ao Programa neste município como instrumento de análise, muitas destas publicações estão disponibilizadas na internet.

Seguindo a orientação de Bourdieu, Chamboredon e Passeron (1999), argumentamos que é preciso submeter o conhecimento comum a uma crítica metódica para não recepcioná-lo como fato dado. Nestes termos, cumpre-nos como prudência problematizar os conceitos que estão consolidados nos discursos vigentes, tais como a noção de sustentabilidade, de desenvolvimento e de política pública, distanciando-se o quanto necessário do senso comum e das noções prévias que circundam o problema. Neste ponto reside um difícil desafio para o investigador, posto que o encantamento do discurso pode ser uma teia na qual o pesquisador pode se emaranhar.

Não obstante, o afastamento do objeto não representa a negação do sujeito pesquisador, pois como afirma Louis Pinto (1996) o sociólogo faz parte do mundo social que pretende descrever e compreender, cabendo-lhe a incumbência de objetivar a própria experiência, “a objetivação sociológica possui uma dupla dimensão: a desconfiança em relação à experiência; e o fato de levar em consideração essa mesma experiência” (PINTO, 1996, p. 14). Nesse aspecto a descrição da problemática social, embora breve, permite-me justificar minha escolha pelo objeto de estudo que, mesmo considerando o fato de não ter empregado minha força de trabalho diretamente nas atividades extrativistas ou na agropecuária, assisti, como moradora de Dom Eliseu, às expectativas e entusiasmos de “lugar promissor” sucumbir à frustração e ao desânimo enquanto perspectiva de oportunidade. Vivi a experiência de ver o município alavancar e decair em torno das possibilidades econômicas e percebo como esse movimento interfere nas escolhas de vidas das pessoas, interferindo em suas práticas, em seus costumes e na concepção de vida.

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Portanto, analisar a implantação do Programa Estadual dos Municípios Verdes na microrregião de Paragominas numa perspectiva sociológica me pareceu relevante para a compreensão de processos sociais de muita importância para o debate sobre os rumos da questão ambiental na Amazônia contemporânea, bem como para os atores sociais presentes na realidade empírica investigada.

No decurso da pesquisa esbarrei em dificuldades, como romper com a desconfiança de alguns atores, como os produtores de grãos e empresários do setor florestal, estes se apresentaram mais reservados. Entretanto, minha maior dificuldade foi pela própria escolha do objeto, distante da minha experiência profissional. Ao escolher estudar o PEMV sai da minha zona de conforto, fui garimpar em outras minas. Afastei-me do discurso do Afastei-meu universo profissional que é a educação, acumulado durante vinte e dois anos. Em compensação me permitiu descobrir situações próximas a mim, mas que no cotidiano não enxergava, me permitiu desconstruir e construir conceitos e estabelecer novos links sociais importantes para a compreensão das percepções de

mundo e das relações que se formam a partir destas.

O afastamento da minha experiência profissional e pessoal exigiu um esforço maior para compreender a temática levando a um volume mais intenso de leitura para dar conta dos conceitos, da compreensão da dinâmica de atuação dos atores, da lógica de operação do Estado, da reação dos proprietários e dos impactos das diferentes políticas propostas para a região da década de 1960 até a atualidade.

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O trabalho foi organizado em três capítulos, no primeiro resgatamos o processo de colonização da região e das políticas públicas que mobilizaram o povoamento da Amazônia materializado por grandes projetos estruturais interligando a região ao resto do país. A partir das obras, com a construção de BRs federais construídas em nome do desenvolvimento. Obras essas que permitiram que muitos investidores viessem para a região em busca de uma terra para explorar e produzir dando início a uma intensa experiência com uso do solo para a expansão das atividades pecuaristas, extrativistas e agrícolas caracterizadas por uma cultura predatória que se sustentou até a emergência da crise ambiental.

No segundo capítulo, abordamos as políticas públicas ambientais e a função inerente ao Estado na formulação e execução de dispositivos legais para regular a ações antrópicas. Destacamos o novo Código Florestal, que estabelece e reafirma diretrizes gerais para a proteção da vegetação nativa, aprovado após um intenso debate entre economia e ambiente. Também discutimos o Zoneamento Ecológico e Econômico da Amazônia Legal e do Estado do Pará, um importante instrumento estratégico de orientação para o ordenamento do território e implementação das políticas públicas ambientais. Ambos os documentos estão pautados em duas diretrizes básicas: manutenção do potencial produtivo e manutenção dos serviços ecossistêmicos; Destacamos ainda o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal- o PPCDAm e o Plano de Prevenção, Controle e Alternativas ao Desmatamento do Estado do Pará- o PPCAD-PA, duas políticas importantes que operacionalizam um conjunto de medidas de combate e controle do desmatamento, regularização territorial e os incentivos às atividades produtivas sustentáveis.

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1. UMA TERRA PARA SER EXPLORADA: a superação da Amazônia-selvagem

1.1A Política de Colonização da Amazônia: o começo da história...

Um problema social é uma construção histórica e com frequência a história local acha-se vinculada à história política e social da sociedade regional e nacional. Considerando esse pressuposto entendemos como necessário recuperar os elementos históricos, políticos e sociais que explicam a contemporaneidade da situação a ser estudada, no caso em questão a análise da implantação do Programa Município Verde na microrregião de Paragominas levando em conta o processo no município de Dom Eliseu.

A compreensão do Programa Município Verde como uma política do Estado que procura limitar o desmatamento, está estreitamente relacionada ao contexto socioeconômico de formação do sudeste paraense, como região maior que abarca Paragominas, Dom Eliseu e outros. Estes têm na construção da BR-010, a rodovia Belém-Brasília o seu principal marco.

O início da construção dessa rodovia, no final da década de 1950, está relacionado com a atuação do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), e o lançamento do “Plano de Metas”, uma política desenvolvimentista lançada com o propósito de alavancar a opinião pública a seu favor, fortalecer seu governo e dar celeridade a economia brasileira.

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Como parte desse projeto nacional-desenvolvimentista estava a construção da rodovia Belém-Brasília, a princípio identificada como BR-14, também conhecida como Rodovia Transbrasiliana, e depois renomeada para BR-0101. A crença era de que a falta de comunicação entre as populações amazônicas com as demais regiões do país era a responsável pelo lento desenvolvimento da referida (ANDRADE, 2013). Em outras palavras o propósito político final era fazer da região um potencial de produção, integrando-a ao mercado nacional.

Figura 1- Imagens da abertura da floresta, em 1959, para a construção da Belém- Brasília.

Fonte: Sérgio Martins Pandolfo- 2013

Essa perspectiva de desenvolvimento da região não fora inofensiva, embora refletindo os ânimos e o pensamento do período, resguardava a visão nutrida em relação aos nativos pelas demais regiões do país, que os concebiam como selvagens e atrasados. Tal percepção ganha sentido na explicação de estudos sobre as políticas e os processos

1

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de colonização aplicados para a Amazônia Brasileira que registram um modelo de colonização perverso que violentou costumes e tradições. Em nome do processo modernizador se esmagaram as culturas das populações tradicionais, dando-se origem a um conjunto de processos violentos que marcariam a Amazônia nos anos 1960/1970 (PONTE, 2010).

Essa maneira de conceber o espaço Amazônico, como um lugar a ser vencido, um lugar de atraso, um obstáculo ao desenvolvimento do país, configurou a forma predominante que tomou a relação homem-natureza. Foi essa perspectiva que orientou os colonizadores que migraram para a região em busca de uma terra para produzir, marcou também a relação homem-sociedade e imprimiu características peculiares na cultura das populações que se formariam a partir da construção dessa rodovia.

Outra política que teve grande importância na formação do espaço regional, estruturando junto com a construção da Belém-Brasília o processo de ocupação da região, foi a política de incentivos fiscais, lançada a partir da chamada Operação Amazônia (1966). Essa política, estruturada pelo Decreto-Lei 1.376/19742, foi desenvolvida com o objetivo de atrair investidores e incorporar a Amazônia à economia nacional. De acordo com um dos pioneiros da formação dos municípios da microrregião, que foi dono de serraria neste território: “A Sudam agenciava o incentivo fiscal, a maioria das serrarias tinham projeto com a Sudam e com o Banco da Amazônia e que fazia a isenção do imposto de renda, para desenvolver a região o governo fez isso, tinha uma placa na porta de toda serraria” (Entrevista com Divino Silva, realizada em 10/11/2013).

Mobilizados por essas políticas e outras motivações que trataremos à frente, os colonizadores chegaram à região de modo desordenado, predominando uma colonização de características espontâneas. Muitos imigrantes se apossaram do território aleatoriamente, sem preocupação com a regularização da propriedade, conhecidos como “posseiros” ou mesmo fazendeiros que viu na ausência de políticas claras a possibilidade de aquisição de terras. Esse feito produziu o que nas décadas seguintes

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apareceria como sérios conflitos territoriais e, um pouco mais tarde, como o que se denominou de crise ambiental na Amazônia Brasileira.

A região que estudamos neste trabalho é, portanto, um dos espaços povoados em virtude da abertura desta rodovia, onde se formou incialmente o município de Paragominas, colonizada nos anos de 1960, principalmente por goianos, mineiros, baianos e paulistas3.

A partir de então se intensificou o movimento migratório para essa região com destaque para a vinda de produtores rurais, a princípio pecuaristas do sul e sudeste do país, dando início a uma extensa experiência de uso dos recursos naturais como suporte de produção (ALMEIDA; UHL, 1998). Os migrantes instalaram seus empreendimentos e trouxeram consigo um modelo de colonização semelhante ao que preponderou em outros processos colonizadores (PONTE, 2010), similaridade percebida no trato etnocêntrico dispensado aos nativos e aos imigrantes nordestinos, vistos como atrasados e sem perspectiva empreendedora.

Por outro lado, esses migrantes viam na natureza – a floresta amazônica - uma inimiga, que precisava ser vencida. Nessa perspectiva, os “conquistadores” avançaram sobre a mata com uma velocidade espantosa, desmatando inicialmente as regiões mais próximas das estradas abertas e das áreas de povoamento. Eram vistos como quase heróis por desbravarem a selva para trazer o “desenvolvimento” e o “progresso” ação que ganhou força com a construção de estradas estratégicas (ANDRADE, 2010).

Além da rodovia federal, outras estradas foram abertas para interligar uma região a outra dentro do próprio estado, como a Rodovia PA-70 (hoje BR-222), que ligou as regiões de colonização antiga ao sul e sudeste do Pará. A rodovia Belém-Brasília aumentou a capacidade de acesso a diferentes direções, assim outras rodovias se ramificaram a partir dela.

O município em que se localiza nosso objeto de estudo assenta-se na região que foi colonizada tendo como referência o cruzamento dessas duas rodovias

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Brasília e BR-222) e que compõe hoje a região que o IBGE classifica como microrregião de Paragominas4.

1.2Um início promissor...

O município de Dom Eliseu localiza-se numa área de fronteira Maranhão-Pará, sendo o primeiro município do sudeste paraense cortado pela BR 010 no sentido Brasília-Belém. O mesmo fica localizado no entroncamento de duas importantes rodovias (BR 010 e BR 222), a 450 km de Belém, a capital do estado. O município apresenta uma área de 5.253,2 km² e uma população de 51.319 habitantes, dos quais 63% estão na área urbana e 37%, na área rural (IDESP, 2013).

Dom Eliseu foi desmembrado do município de Paragominas oficialmente em 1988, com o qual compartilha características semelhantes de sua colonização inicial e do desenvolvimento econômico posterior, assentado na exploração florestal, na atividade pecuária e agrícola.

O município de Dom Eliseu faz fronteira à Leste e ao Sul com o estado do Maranhão, tendo ainda como vizinhos os municípios de Ulianopólis, Rondon do Pará e Goianésia (Figura 2). O principal povoamento do município, onde funcionam os serviços administrativos e a maior concentração populacional, a cidade de Dom Eliseu, surgiu ao redor do cruzamento das BRs acima citadas, o que permite atribuir ao município a função de um importante entroncamento rodoviário, um lugar de trânsito de mercadorias e de pessoas, permitindo uma forte dinâmica de crescimento.

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Figura 2. Mapada localização do município de Dom Eliseu - PA.

FONTE: IMAZON/2013

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Nesses primeiros momentos da ocupação do território, o extrativismo vegetal, caracterizado pela exploração da floresta nativa, era o chamado “ouro verde” para os migrantes que se acomodavam no local e em outros municípios da circunvizinhança. A “facilidade” de aquisição de terras férteis foi outro fator de atração, atraindo pessoas de várias regiões do país, com o objetivo de implantar seus negócios na localidade, incentivados tanto pelo investimento na atividade pecuária quanto pela atividade extrativista, predominantes naquela ocasião.

Igual madeira na época que tinha madeira, nada dá não. Na época do valor da madeira, porque a aquisição dela era de graça. Comprei mata aí por mixaria e serrava o ano inteiro. Nós temos uma área aí é tudo chapada tá tudo coberta de floresta. Meu irmão fez até um projeto de manejo, nós tiramos a madeira melhor antigamente né? Meu irmão fez até um projeto de manejo nessa área, na época fui comprar do cara eu fui lá namorei uns 15 dias andando, conhecendo, cada pau que fazia... a coisa mais linda. Madeireiro você sabe, quando entra numa mata que ver pau o entusiasmo aumenta... altura!, essa área na época, o cara disse assim “eu te vendo por X e tudo com a terra e tudo eu te vendo por X + Y mas é uma coisa, um valor irrisório eu comprei com tudo. (Entrevista com Edgar Bonatto, realizada em 24/08/2013).

Os incentivos governamentais estimularam o deslocamento para a região visando o estabelecimento da atividade pecuária, que foi o motivo inicial da maior parte dos deslocamentos para a região, então, os migrantes focavam-se na derrubada da mata, na queima com o propósito de limpar a propriedade e formar pastos. O despertar para a extração da madeira ocorreu um pouco depois.

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Nordeste brasileiro. Os mineiros também representam um número relevante dentre os que se dedicaram a atividade pecuária. Foram essas duas atividades, as principais responsáveis pela movimentação econômica do município, inclusive a capacidade produtiva vigorosa do lugar teria sido o fator preponderante na luta pela emancipação política da localidade, que, como já foi adiantado, era apenas um distrito do município de Paragominas.

Sirvo-me desse apanhado histórico para mostrar o potencial atrativo desempenhado por essas duas atividades econômicas na região, durante as três últimas décadas do século XX e primeiros anos do século XXI, (VERÍSSIMO & BARROS, 2002), funcionando com um importante atrativo para a implantação de pecuaristas e empresários da indústria madeireira, bem como para os trabalhadores que vinham vender sua força de trabalho para esses setores.

Não há como compreender a trajetória social e econômica de Dom Eliseu sem analisarmos a trajetória do município de Paragominas, considerando não apenas a condição de ter sido desmembrado desse município, como também o fato deste representar um polo de referência na região, servindo de parâmetro para o desenvolvimento de políticas públicas regionais, como foi o caso do Programa Municípios Verdes. Essa importância regional de Paragominas é amplamente reconhecida, como atesta uma liderança política de Dom Eliseu:

Paragominas como foi o iniciante teve um marketing maior, tem uma comunidade hoje mais consolidada... Era um município precário também que vivia das atividades do extrativismo [os atores] foram se conscientizando, mas essa conscientização é maior em função da cultura de seu povo, por ter passado por várias situações até piores, mais antigas que as nossas. Nós somos filhos de Paragominas, mas com andamento [avanço] de Paragominas aqueles que tiveram a humildade de acompanhar, de procurar e inteirar pode também sair [da lista suja] com mais rapidez...(Joaquim Nogueira Neto, Prefeito de Dom Eliseu, Entrevista Realizada em 29/10/2013 ).

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trouxeram suas famílias. Nesse sentido, podemos dizer que Dom Eliseu representava apenas um lugar de ganhar dinheiro, com pouco ou nenhuma infraestrutura de equipamentos urbanos (escola, hospital, parques, etc.), pois, como relatou o Senhor Divino Silva “quando cheguei aqui não tinha nada”5.

Para dar um exemplo desse tipo de situação, encontrada até em meados dos anos noventa, a maior parte dos domicílios que predominavam na sede urbana do município eram feitos de madeira, isso indicava que não havia uma preocupação com a durabilidade do imóvel e com a perspectiva de que seus habitantes ficassem de forma mais permanente no município. Ou seja, existiu em Dom Eliseu, uma elevada população flutuante6, que acompanhou as oscilações da economia municipal, principalmente os ciclos de expansão da atividade madeireira e pecuária.

Entretanto, conforme atestam os dados de nossa pesquisa, constatamos que nos últimos cinco anos essa relação com o lugar vem se transformando. Segundo os depoimentos recolhidos, observamos que o morador “flutuante” era característica dos empresários e trabalhadores da indústria madeireira, que vieram para trabalhar em Dom Eliseu acompanhando o deslocamento da frente madeireira. Entretanto, alguns destes se estabilizaram no lugar inserindo-se a outra atividade produtiva, como comércio, pecuária, agricultura ou reflorestamento.

Eu acho que os produtores que vieram pra cá [ MRH ]eles estão todos no intuito de ficar aqui assim... às vezes tu acha que eles vem...[e vão embora] vieram pra ficar mesmo, não foi igual o madeireiro, o madeireiro estiveram aqui, extraíram a madeira e foram embora, a maioria foi embora. O produtor rural, o cara que planta grãos, que trabalha na agricultura é diferente, eles vieram pra ficar mesmo, até os que chegaram arrendando já adquiriram propriedade. O cara compra propriedade não dá pra se desfazer assim tão rápido né? (...) os donos de serraria eram assim, vieram pra cá, exploraram a madeira, ganharam dinheiro, aplicaram não sei a onde, a grande maioria foi embora, alguns ficaram, mudaram de ramo, não investiram no município.

5 Divino Silva, ex-madeireiro, goiano, na região desde 1973, entrevista concedida em 05/05/2012. 6 Embora não tenha acessado dados específicos é possível fazer essa análise pela intensidade de

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(Entrevista com José Antonio, Presidente do SPR – Dom Eliseu, realizada em 23/08/2013).

Na perspectiva desses atores, que passado os ciclos da atividade madeireira e pecuária conseguiram se estabelecer em Dom Eliseu, o município é um local de potencialidades e que pode permitir o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis, pelo menos do ponto de vista de sua reprodução econômica, como destaca um produtor que chegou à região no inicio dos anos 1980.

... a grande vantagem daqui do nosso município, eu vou te falar agora... o nosso município dá de ser exemplo pro Brasil e pro mundo inteiro. No nosso município tudo que se quiser produzir aqui dentro se produz, tudo, tudo, lavoura, pecuária, reflorestamento, aqui pra mim é um dos melhores lugares que tem do Brasil, porque lá na outra região nossa [próxima à cidade de Belém], lá é mais região de pecuária, é excelente, mas é região mais de pecuária, entendeu? Aqui tem essa vantagem você pode fazer essa rotação de cultura e manter o solo sempre com a fertilidade (...) então a região é uma região muito vantajosa nesse aspecto, tudo que você quiser produzir... (Entrevista com Humberto Prata, realizada em 15/11/2013)

Ou seja, hoje podemos encontrar atores sociais que têm uma perspectiva positiva do lugar, mesmo que queixosos da pressão ambiental reconhecem a importância das medidas legais para controlar as atividades humanas.

1.3 A evolução das atividades econômicas na MRH de Paragominas.

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Os pecuaristas vieram com a abertura da Belém-Brasília na década de 1960, eles abriram grandes áreas de floresta para a criação de gado para corte. A atividade madeireira se instalou nos anos de 1970 e, gradativamente, foi se tornando um setor potencialmente produtivo, muitas serrarias se instalaram na região num ritmo muito veloz, atraindo centenas de empresários do ramo madeireiro e trabalhadores que vieram empregar sua mão de obra desde a extração da madeira na floresta à serragem nos pátios das serrarias. Entre pecuaristas e empresários da madeira se estabeleceu uma relação de reciprocidade, os madeireiros extraiam a madeira das áreas de floresta densa, das quais muitas eram de propriedade dos pecuaristas que abriam campos para a implantação de pastagens. (ALMEIDA & UHL, 1998).

Contudo, o progressivo distanciamento das áreas florestais enfraqueceu a indústria madeireira, enquanto o uso extensivo do solo fragilizou a atividade pecuária, indicando um período de declínio para a economia da MRH de Paragominas. Será nesse contexto que, na primeira década do século XXI, surgirão duas novas atividades econômicas na região, a produção mecanizada de grãos (soja e milho) e o reflorestamento para fins industriais com Paricá e Eucalipto. Estendemos um pouco mais a reflexão sobre cada uma dessas atividades.

1.3.1 A Atividade Pecuária

Entre os anos de 1990 a 2005 registrou-se um forte aumento da produção de bovinos no Brasil, fazendo do país o maior exportador mundial do setor. Grande parte desse aumento ocorreu na Amazônia, que, através do desmatamento de novas áreas, passou de 18% a 36% do total nacional. Além da abertura de novos pastos soma-se a essa compreensão o aumento da produtividade motivada pela alta nos preços de produtos agrícolas, os investimentos em tecnologias, o controle da febre aftosa e os subsídios públicos. O Pará merece destaque no mapeamento do crescimento da produção bovina considerando que somado ao estado do Mato Grosso equivale a 60% do rebanho total da Amazônia, (BARRETO; PEREIRA; ARIMA, 2008).

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Contudo, a partir da segunda metade dos anos 1990, perdeu posições, ficando na sexta colocação em termos do rebanho bovino estadual em 2007 (PINTO et al, 2009).

Atualmente, o município de São Félix do Xingu detém o maior rebanho paraense, vindo em seguida Altamira, Cumaru do Norte e Novo Progresso. Para a última classificação que dispomos de informações, válida para o ano de 2011, o município de Paragominas caiu para a 14ª posição, enquanto Dom Eliseu, que, em 2000 ocupava a 42ª posição, ocupa agora a 49ª posição, segundo dados da SAGRI-PA.

Como mostraram Carneiro & Assis (2013, p.71), o rebanho bovino da MRH de Paragominas diminuiu fortemente a partir do final dos anos 1990, indicando a insustentabilidade econômica e ambiental da pecuária extensiva na região. No gráfico abaixo, mostramos a evolução do rebanho bovino para o município de Dom Eliseu. Como pode ser visto, no caso desse município, há um primeiro declínio no início dos anos 1990, seguido de uma recuperação na segunda metade da década de 1990. Depois, a partir de 2005, a tendência é novamente de forte diminuição do rebanho bovino.

Gráfico 1 – Evolução do rebanho bovino de Dom Eliseu, entre 1990 e 2010.

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A primeira fase de redução do rebanho bovino em Dom Eliseu, que, conforme observado no gráfico acima, ocorreu a partir do início da década de 1990, pode ser explicada a partir da análise feita por pesquisa realizada pelo IMAZON (ALMEIDA; UHL, 1998). Como mostram os pesquisadores desse Instituto, na região de Paragominas houve pouca preocupação com o uso correto do solo para a atividade pecuária, pois, os proprietários não realizaram os investimentos necessários para a recuperação das áreas degradadas, fato que incentivou o aumento do deflorestamento para instalação de novos pastos e reduziu a capacidade de suporte do rebanho bovino na região.

A segunda queda da produção bovina observada no gráfico, a partir do ano 2007, se explica por outro motivo, que foi a implantação do Projeto Vale Florestar no município, arrendando várias fazendas para o plantio de eucalipto, provocando a redução das áreas de pastos, que cederam lugar para o reflorestamento com Eucalipto. Segundo os produtores entrevistados, os custos com a criação bovina estavam muito elevados e a margem de lucro baixa, de forma que o arrendamento para o plantio de eucalipto se mostrou bastante vantajoso. Contudo, para o caso dos produtores que possuíam terra suficiente para realizar o arrendamento e continuar na atividade pecuária, os recursos obtidos no arrendamento serviram para a melhoria na qualidade do rebanho, como mostra o depoimento a seguir.

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1.3.2 Extrativismo vegetal: a atividade madeireira

Antes da década de 1970 não se notava grande interesse na extração e no processamento de madeira, os primeiros colonizadores derrubavam a mata com o objetivo de formar pastos sem o aproveitamento regular das árvores derrubadas. Essa era a condição principal para obtenção de financiamento e posse da terra, era um dos princípios da política de desenvolvimento da região, como destacado por um entrevistado.

...o governo, o Banco da Amazônia só liberava dinheiro se desmatasse para mais pasto, então grande parte dessas florestas daqui da região, de Paragominas, essa região toda aqui, ela não foi serrada, ela foi queimada, ela foi queimada porque o seguinte, eu chegava aqui com o intuito... como por exemplo, a fazenda Ligação ali e muitas outras ai...eles vieram com intuito de arranjar dinheiro... o quê que tinha que fazer, meter o motosserra, queimar e formar pasto, era o que o governo queria...então muitos chegaram, poucos vieram pra montar madeireira, a madeireira veio quase depois disso aí. Essa parte aí de destruição da floresta foi muito antes da atividade madeireira. (Entrevista com Divino Silva, ex-madeireiro, realizada em 20/11/2013)

A partir da década de 1970 a atividade de extração da madeira nativa ganhou força na região, tornando-se o principal negócio local. Nessa época, o comércio de madeira visava apenas às espécies de alto valor comercial, tais como a maçaranduba, angelim, freijó, ipê dentre outras, contudo, o número de serrarias instalado na região ainda era pequeno. Foi na década de 1980 que o processo de implantação de serrarias se intensificou impulsionado pelo deslocamento de empreendimentos do setor oriundos principalmente do Sudeste do país, com destaque para o Estado do Espírito Santo, em função da redução dos estoques de suprimentos madeireiros neste estado (ALMEIDA & UHL, 1998).

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transformando-os em um local de atração de milhares de trabalhadores. Contudo, é necessário destacar que a qualidade do emprego gerado era bastante precária, os vínculos das empresas com os operários eram instáveis, às vezes, no acerto da prestação de serviço, que era quinzenalmente, o operário não retornava, e quando retornava não tinham o compromisso de retornar necessariamente para a mesma firma.

...tinha muita falta de peão pra trabalhar, não tinha mão de obra, você buscava mão de obra em Paragominas, que [também] já não tinha por causa da quantidade de serraria que já tava tendo e aí buscava [mão de obra] em Açailândia, João Lisboa, nós mesmos tínhamos muito funcionário de João Lisboa. Então o que acontecia? Os pagamentos era quinzenal, quando chegava o dia do pagamento que eles recebiam, sumiam, na época era só homem, não tinha mulher, não tinha nada e outra coisa, vinha peão do Nordeste e de tudo quanto é de lugar, (...), a gente precisava da mão de obra não queria saber quem era ele não. (Entrevista com Divino Silva, ex-madeireiro, realizada em 20/11/2013).

O vigor produtivo mobilizou também empregos indiretos como estivadores, trabalhadores contratados para carregar os caminhões e motoristas que transportavam a madeira da “mata” para as serrarias e das serrarias para as outras regiões do país, entre outros que aqueciam o mercado local. Pesquisa do IMAZON (VERÍSSIMO et al, apud

ALMEIDA & UHL, 1998), realizada nos anos de 1990, mostrou que a região de Paragominas7 era responsável por 15% da produção madeireira na Amazônia.

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Tabela 1 - Evolução da indústria madeireira da região de Paragominas (1970-1990).

Ano indústrias Nº de funcionando

Vol. em tora

extraída m³ produzida m³ Vol. serrado explorada h/a Área

1970 2 18.300 8.600 482

1971 2 18.300 8.600 482

1972 2 18.300 8.600 482

1973 5 45.750 21.500 1.204

1974 9 82.350 38.700 2.167

1975 12 109.800 51.600 2.889

1976 12 109.800 51.600 2.889

1977 21 192.100 90.300 5.055

1978 32 292.750 137.600 7.704

1979 47 428.495 202.100 11.276

1980 67 599.184 283.800 15.768

1981 82 751.917 356.900 19.787

1982 98 903.940 430.000 23.788

1983 110 1.087.120 516.00 28.608

1984 136 1.355.910 45.000 35.682

1985 154 1.663.176 791.200 43.768

1986 189 1.992.900 946.000 52.445

1987 215 2.259.390 1.075.000 59.458

1988 225 2.398.905 1.140.500 63.129

1989 234 2.578.120 1.204.000 67.845

1990 238 2.578.120 1.204.000 67.845

TOTAL 19.484.627 9.233.500 512.753

Fonte: IMAZON 8(VERISSIMO & BARROS, 2002)

Como mostra a tabela acima, a década de 1980 pode ser considerada como o período do apogeu da indústria madeireira na região de Paragominas. Após esse período, a atividade madeireira declinou na região, como o deslocamento das serrarias para outras regiões do estado do Pará, onde os recursos florestais ainda eram abundantes e o desmatamento ainda não tinha atingido níveis elevados, ao contrário do que se observava em Dom Eliseu e municípios próximos.

O desmatamento ocorreu de forma acelerada com o incentivo dos governos da época. Desflorestar era condição para a posse e titulação da terra favorecendo uma

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relação perfeita entre madeireiros e pecuaristas, derrubar a floresta era visto como uma prestação de serviço público, uma prática abençoada pelo Estado, como destaca um entrevistado.

...o governo foi o maior culpado de tudo isso aí... porque o banco soltava dinheiro demais... então a corrida pra cá antes da madeira foi isso aí. A grande culpa disso aí tá tudo... Disso aí [floresta nativa] as serrarias não serrou 40% das madeira da mata em pé, antes disso aí entendeu, que já tinha essa destruição” (Entrevista com Divino Silva, ex-madeireiro, realizada em 20/11/2013)

A princípio, como abordamos, o alvo dos motosserras foram as árvores frondosas de alto valor comercial, com a posterior escassez destas, o foco se deslocou para as árvores menores, visando a produção de carvão vegetal para as siderúrgicas localizadas no município de Açailândia/MA e também para as siderúrgicas de Marabá/PA, embora em menor quantidade.

A abundância dos recursos, a fiscalização insuficiente e a ausência de dispositivos regulatórios acelerou o processo de colapso da atividade extrativista de madeira nativa, como foi destacado por pesquisadores do IMAZON: “prevíamos o declínio econômico no futuro próximo, em virtude da natureza não-sustentável das práticas atuais” (ALMEIDA; UHL, 1998, p.10) e por agentes econômicos envolvidos nessa atividade: “...a gente preocupou só em cortar e serrar, entendeu? agente achava que as matas não ia acabar nunca e aí depois começou a chegar gente, chegar gente, o consumo de madeira foi aumentando...” (Entrevista com Divino Silva, ex-madeireiro, realizada em 20/11/2013).

Com a intensificação das denúncias sobre a ampliação das áreas desmatadas na região, aumentou a pressão para a adoção de medidas de combate ao desmatamento, provocando, dessa forma, o desenvolvimento de uma intervenção estatal mais qualificada, como foi o caso da Lista Suja do Desmatamento.

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região produzindo desempregos e situação de tensão social em função do fechamento de muitas serrarias e da interdição de fornos de produção de carvão vegetal, considerando que a indústria madeireira (serrarias e carvoeiras) empregava grande parte da mão de obra local.

Essa crise do setor madeireiro produziu a fuga de alguns empreendimentos para outras regiões do estado, caso do município de Tailândia, localizado no nordeste paraense. Houve também migração para outros estados do norte onde acreditavam que a atividade extrativista de floresta nativa ainda apresentava reservas. No entanto, sem demora, os migrantes constatam que o dilema da escassez e as ações de combate e controle não são exclusividade dos municípios da microrregião de Paragominas.

No ramo da madeira mesmo hoje, ficou muito pouco, se tiver 10% é muito, 10, 15% que tão persistindo ainda entendeu? O resto ficou por aí, mas estão mexendo com gado, agricultura, esses trem aí entendeu?, Muitos foram embora, mudou pra outra região, grande parte foi pra outras regiões, muita gente, ali de Ulianópolis foi muito, de Paragominas, foi muito pra região de Macapá, de Manaus, entendeu? Outros foram pra aí pros lados da Transamazônica, Uruará, Novo Repartimento, Quatro Bocas, foi descendo aí, onde tem madeira, onde tem mata, eles tão... ainda continua mudando de lugar, igual cigano. (Entrevista com Divino Silva, ex-madeireiro, realizada em 20/11/2013).

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1.3.3 A Atividade de Reflorestamento

No início do século XXI a preocupação com a sobrevivência da atividade madeireira na região de Paragominas e no município de Dom Eliseu passou a ser levada mais a sério, dando início a experiências com plantio e espécies nativas, onde se destacou o experimento com o Paricá. Posteriormente, em 2007, a empresa Vale9 começou a implantar na região o Projeto Vale Florestar, promovendo o desenvolvimento do reflorestamento com o plantio de espécies de eucalipto.

i) Experiência do reflorestamento com Paricá

Na década de noventa a incerteza da atividade econômica tendo como base a madeira nativa tomou conta dos empresários do setor madeireiro da região, que, como dissemos antes, alguns se deslocaram para outras atividades econômicas, enquanto outros migraram para outras regiões atrás de floresta abundante. Entretanto, uma pequena minoria permaneceu no município e investiu no experimento da atividade de produção de madeira a partir do reflorestamento, trabalhando com uma espécie de crescimento mais rápido, o Paricá (Shizolobium amazonicum).

A pesquisa de reflorestamento com Paricá foi parte de uma experiência pioneira, iniciada em 1993, pelo grupo Arboris e pelo grupo Concrem, ambos sediados no município de Dom Eliseu. Dentre as vantagens identificadas para o reflorestamento com o Paricá destacam-se: a abundância de sementes, excelente germinação, rápido crescimento, secagem fácil, uniformidade no produto, sem nós e cor clara que faz dessa árvore comercialmente interessante.

Além das vantagens acima indicadas, o Paricá se apresentou com um produto que poderia reduzir a pressão sobre a floresta e assegurar a manutenção da atividade econômica no setor madeireiro, pois, pode ser usado na fabricação de placas de MDF e de lâminas de compensado.

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Em 2003 começou a produção de Paricá em escala comercial, de forma que em 2004 os grupos Arboris e Concrem fundaram o Centro de Pesquisa do Paricá – CPP, com o fim de promover pesquisas para realizar o melhoramento genético e aumentar a produtividade.

Embora as condições evidenciem a capacidade próspera do Paricá e a comprovação de que a produtividade por hectare se apresente superior ao eucalipto, tanto no estado primitivo quanto no cultivo acompanhado, as pesquisas ainda são incipientes no setor, insuficientes para a consolidação do produto. Segundo o empresário Marco Antonio Siviero, ainda não há o devido reconhecimento do valor do Paricá e nem dos esforços privados realizados para a consolidação dessa cultura por parte do Estado, falta apoio político, incentivos e investimento para o cultivo da planta, como revela nesse relato: “você vai lá o gerente diz que tem, pegue a lista, o valor que ele emprestou do ano passado, pergunta quanto emprestou para reflorestamento em 2013, perguntem, é dinheiro que nem Papai Noel todo mundo sabe que existe, mas ninguém vê” (Entrevista com Marco Antonio Siviero, empresário, realizada em 08/01/2014).

Em função disso, as expectativas iniciais de reflorestamento com o Paricá declinaram, com a redução no plantio dessa espécie florestal. Esses fatores tem produzido o desânimo dos produtores maiores, que estão optando pelo plantio do eucalipto, por esta cultura já apresentar um mercado mais consolidado.

Ainda segundo o depoimento do empresário Marco A. Siviero, o Paricá plantado será processado no próprio município gerando mais trabalho e renda na região, além de apresentar rentabilidade superior a do eucalipto. Segundo esse produtor, o metro cúbico do Paricá tem um preço três vezes maior que o do eucalipto, quando processado na região e apresenta um rendimento por hectare dez vezes maior do que a pecuária tradicional.

ii) Experiência do reflorestamento com o eucalipto

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através do reflorestamento de áreas degradadas com espécies nativas e também cultivar plantas de espécies industriais, no caso, o eucalipto. Sua atuação abrange os municípios de Dom Eliseu, onde a sede do projeto está localizada, Ulianópólis, Paragominas e Rondon do Pará,10.

O projeto foi implantado no município no momento da crise com perdas de postos de trabalho em função da pressão sobre a atividade extrativista ilegal e o declínio da indústria madeireira e da atividade das carvoarias. Assim, a instalação do Vale Florestar trouxe novas perspectivas econômicas para a região, pois, considerando somente o emprego gerado, tivemos, no ano de 2012, a geração de 1.250 empregos (diretos e indiretos) no território dos municípios de Dom Eliseu, Paragominas, Rondon do Pará e Ulianopólis (OLIMPO, 2012).

Em 2010 o Projeto se constituiu na empresa Vale Florestar S/A, fortalecendo sua importância como criadora de oportunidades que possibilitou a geração de renda e a minimização do impacto social gerado pela decadência das indústrias madeireiras.

Embora o plantio do eucalipto tenha vindo depois do Paricá, foi ele que expandiu de forma mais intensiva a silvicultura na região, estimulando a implantação de indústrias de base florestal e as atividades associadas a ela. Estimulou ainda o processo de legalização das terras gerando um efeito multiplicador da renda e do emprego regional, como destacam os depoimentos a seguir.

Se não tivesse... imagina só com aquelas ações do governo que teve com as carvoeiras e ai logo, logo veio a Vale, a Vale não veio dá emprego bom pra ninguém, mas pelo menos deu um empreguinho, se não tivesse vindo teria sido desemprego muito maior, até perigoso na questão da segurança pública. (Entrevista com Humberto Prata, produtor rural, realizada em 15/11/2013).

No meu caso já foi a Vale que fez [regulação territorial], eles assumiram toda..., com a SEMA, o ambiente, o CAR. Tá cadastrado, foi eles que fizeram... A Vale assumiu todo esse

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Imagem

Figura  1-  Imagens  da  abertura  da  floresta,  em  1959,  para  a  construção  da  Belém- Brasília
Figura 2 .  Mapa da localização do município de Dom Eliseu - PA.
Gráfico 1 – Evolução do rebanho bovino de Dom Eliseu, entre 1990 e 2010.
Tabela 1 - Evolução da indústria madeireira da região de Paragominas (1970-1990).
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Referências

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