EFEITO BIOMODULADOR DO LASER DE BAIXA POTÊNCIA EM MAMILOS DE PACIENTES PUÉRPERAS
Taciana Lidinéia Alflen, UNIVAP* Gêrda Coêlho e Silva – NOVAFAPI, UNIVAP** Renato Amaro Zângaro, UNIVAP*** Renata Amadei Nicolau, UNIVAP****
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os bebês recebam leite materno de forma exclusiva durante os primeiros seis meses de idade; porém dados da própria OMS indicam que apenas 35% dos bebês entre zero e quatro meses seguem esta orientação. Dentre os possíveis fatores responsáveis por este fenômeno, a fissura mamária é apontada como uma das principais causas. A laserterapia de baixa potência tem sido preconizada em várias especialidades médicas em função de seus efeitos sobre os diferentes tecidos biológicos, porém não existem estudos brasileiros consistentes quanto à sua aplicabilidade em obstetrícia. Vários trabalhos demonstram que a aplicação do laser de baixa potência aumenta a microcirculação local, ativa o sistema linfático, contribuem para a proliferação de células epiteliais e de fibroblastos, assim como, para o aumento da síntese de colágeno. Esses efeitos levam ao alívio da dor, do edema e da hiperemia nos processos inflamatórios e previnem infecções. Desta forma, sua aplicação na prevenção de fissuras mamárias pode ser um método eficaz.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo visou analisar o efeito da utilização da laserterapia de baixa potência na prevenção das fissuras mamárias em parturientes. O estudo consistiu na aplicação do laser de baixa potência (Arseniato de Gálio e Alumínio - AsGaAl) sobre a região do mamilo e aréola de mamas de 20 pacientes no pós-parto, sendo 10 pacientes com parto normal e 10 pacientes com cesariana e 20 pacientes controle, também divididas em 10 com parto normal e 10 com cesariana. A densidade de energia utilizada nesta operação foi de 4J/cm² por ponto, em 5 pontos, totalizando 20 J/cm. Foi realizado controle fotográfico no pré-parto e com 10 dias de pós-parto.
RESULTADOS
Foram incluídas 10 pacientes em cada grupo do estudo, totalizando 40 pacientes. Não houve diferença entre os grupos em relação á idade das pacientes (Tabela 1) e idade da gestação no momento do parto (Tabela 2).
Das pacientes que foram submetidas à aplicação do laser, nenhuma desenvolveu fissura mamária ou mastite puerperal. Das pacientes não irradiadas, as que tiveram partos
normais, houve a ocorrência de dois casos de fissura mamária; das que foram submetidas à cesariana, cinco tiveram o desenvolvimento de fissura.
Quando aplicado o teste Exato de Fisher para p<0,05, visando comparar a incidência de fissuras entre os grupos, parto normal irradiado com laser e parto normal não irradiado, o resultado obtido foi p=0,4737, evidenciando que o resultado é estatisticamente não significativo.
Para a situação de parto Cesário, no teste Exato de Fisher, encontrou-se p=0,0163, tendo significância estatística.
Para todos os partos de todas as pacientes que constituíram os grupos do presente estudo, foi aplicado o teste Exato de Fisher buscando evidenciar as diferenças estatísticas entre parto normal + cesariano irradiado, versus normal + cesariano não irradiado. Este teste evidenciou diferença estatística com grau de significância de p=0,0083.
Não se observou a ocorrência de mastite puerperal nas pacientes dos grupos irradiados. Para o caso das pacientes dos grupos não irradiados, verificou-se a ocorrência de um caso em cada grupo (grupo do parto normal e grupo da cesariana), sendo que as duas pacientes apresentaram fissura anteriormente ao quadro infeccioso.
DISCUSSÀO
O presente experimento objetivou verificar os efeitos do Laser de baixa potência (GaAlAs - 660nm) na prevenção e tratamento de fissuras mamárias em mamas de parturientes, observando-se a diferença de incidência de fissuras e seu comportamento entre as parturientes de parto normal e parto cesariano e avaliar a influência das fissuras no desmame precoce (até o 10º dia pós-parto).
Quanto à idade das pacientes e idade gestacional, o grupo foi homogêneo. A conformação dos mamilos foi semelhante, sendo que todas as pacientes tinham mamilos protrusos.
Segundo Foxman (2002), Carvalho (2002) e Carvalhaes (2003), uma das causa da ocorrência de traumas mamilares principalmente as fissuras mamilares, tem relação com a “má pega” do bebê. De maneira a objetivar a normalização da variável “boa pega”, todas as pacientes envolvidas no estudo tiveram a mesma orientação quanto à esta rotina.
Após a primeira aplicação, realizaram-se mais duas sessões, a segunda, 12 horas pós-parto e a terceira, 24 horas pós-parto. A razão de o protocolo ter sido delineado dessa forma foi tornar o tratamento com o laser factível na clínica diária, pois o uso desse foi durante a internação das pacientes. As pacientes sem nenhuma intercorrência clínica no pós-parto, tiveram alta hospitalar em 48 horas.
O laser de GaAlAs com comprimento de onda de 660nm, foi escolhido devido a vários estudos demonstrarem sua eficácia no processo de cicatrização de tecidos (SIMUNOVIC, 2000; PEREIRA, 2002; LAAKSO, 1994). Kolari (1985) afirma que o laser GaAlAs também apresenta vantagens por ser portátil, seguro e de fácil manuseio.
De maneira a normalizar o efeito produzido pela radiação laser, sua aplicação foi realizada perpendicularmente à superfície alvo e em contato com o tecido (PRENTICE; VOIGHT, 2003). Durante a irradiação, o dispositivo semicondutor (caneta laser) foi posicionado a um ângulo de 90º em relação ao mamilo e aréola da paciente (VEÇOSO, 1993). A técnica pontual de aplicação do laser sobre os tecidos foi eleita para ser realizada neste experimento, com leve pressão sobre os tecidos.
No levantamento bibliográfico realizado junto a diferentes bases de dados, não foram encontrados trabalhos utilizando laser de baixa potência em mamas de humanos, fato este que dificultou a discussão dos resultados.
A densidade de energia utilizada no presente estudo foi de 4 J/cm², densidade esta que apresentou efeito cicatrizante em estudos realizados em pele (KANA et al, 1981; SCMITT, 1993, TATARUNAS, 1998). Esta densidade de energia também está também próxima da dose que foi usada por Ghamsari, em 1997 em mama de gado leiteiro, que foi de 3,64 J/cm2. A radiação laser em dose de 4 J/cm² provoca, inicialmente, um aumento da proliferação das células do tecido conectivo e estimula a neovascularização, a partir das arteríolas já existentes, potencializando a regeneração do epitélio de revestimento (COLLS, 1984). Para Tatarunas et al (1998), as doses de 1 a 5 J/cm² são recomendadas em laserterapia de baixa potência para promover o aumento no número de fibroblastos e consequentemente, de fibras colágenas e também o incremento vascular e reepitelização.
Das pacientes submetidas à radiação laser, nenhuma desenvolveu fissura mamária, tanto no grupo de parto normal quanto no grupo de cesariana. Em relação às pacientes não submetidas à radiação laser, foram registrados 2 casos de pacientes com fissuras mamárias de 10 pacientes com parto normal e 5 casos de pacientes com fissuras mamárias de 10 pacientes submetidas à cesariana.
Quando a parturiente inicia a amamentação, é comum a ocorrência do processo denominado ingurgitamento mamário que pode levar a retenção de líquidos nos vasos linfáticos. Rigau, em 1996, observou que os mastócitos e os mediadores biologicamente ativos, liberados durante o processo inflamatório, desempenham importante papel na permeabilidade vascular durante a primeira fase inflamatória de uma lesão, sendo que este processo é otimizado pelo uso do LBI. Este processo pode ser auxiliado pela ação do LBI na microcirculação, e na drenagem linfática, originando alterações de pressão hidrostática capilar (Garcia,1992), o que facilitaria a drenagem dos ductos lactíferos. Os ductos lactíferos drenam o leite das glândulas alveolares ou lobos, sendo que, uma drenagem linfática mais adequada, reduziria o ingurgitamento mamário responsável pela possível ocorrência de edema de pele e lesões mamárias tais como às fissuras.
A ação antiálgica da radiação laser parece resultar de uma soma de intervenções em diferentes níveis, tendo sido observado por Benedicenti (1982) um aumento de beta-endorfina no líquor cefalorraquidiano, pós-irradiação com LBI. A resposta analgésica da fototerapia pode ser medida por mecanismos hormonais/opióides dependendo diretamente da dose e do comprimento da onda (Laakso 1994). O potencial analgésico do LBI pode ter influenciado diretamente no processo de amamentação, principalmente pela ausência de dor relatado pelas pacientes tratadas. Este fato pode ter contribuído decisivamente para a “boa pega”, incorrendo na diminuição das fissuras mamárias.
Não foi observada a ocorrência de fissuras nas pacientes, tanto do grupo de parto normal como do grupo de cesarianas, irradiados com laser. Como a literatura científica atesta que a fissura é a principal porta de entrada para bactérias patogênicas responsáveis pela mastite, a irradiação com LBI foi decisivo para a não incidência de mastite no pós-parto dessas pacientes, além do que, alguns autores afirmam que o laser tem uma ação direta que favorece a prevenção de infecção em nível local (GENOVESE, 2000).
A Terapia com Laser de Baixa Intensidade (GaAlAs) com comprimento de onda de 660nm) mostrou ser capaz de prevenir fissuras mamárias em parturientes, submetidas ao parto cesariano, tendo sido este achado, confirmado através de análise estatística. As pacientes submetidas ao parto normal e irradiadas com laser não apresentaram fissuras, porém os resultados não apresentaram grau de significância estatística, dado este que pode ser revertido, aumentando-se o número de pacientes neste grupo.
Todas as pacientes que apresentaram fissuras mamárias, adotaram amamentação não-exclusiva, sendo que as pacientes que desenvolveram mastite puerperal evoluíram para o desmame precoce (até o 10º dia pós-parto). No presente estudo constatou-se a não ocorrência de mastite puerperal nos grupos tratados com o laser de baixa potência, evidenciando a eficácia do tratamento preventivo com LBI.
Nesse experimento, tivemos a expectativa de contribuir para o conhecimento dos efeitos do laser nas mamas de mães no período inicial da amamentação, para que essa técnica seja uma possibilidade eficaz e simples para uso do profissional de saúde, diminuindo a ocorrência de fissuras mamárias. Essa ação, aumentando a freqüência da amamentação exclusiva, pode ser uma forma de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno.
Palavras chave: Lasers; Terapia Laser de baixa potência; puerpério; Mamilos-lesões; Amamentação.
*Professora da Universidade comunitária regional de Chapecó-SC, mestranda do curso de pós-graduação em Engenharia Biomédica da UNIVAP tacialflen@yahoo.com
** Professora do Curso de Fisioterapia da NOVAFAPI, mestranda do curso de pós-graduação em Engenharia Biomédica da UNIVAP gerdasilva@yahoo.com
***Professor Doutor da Universidade do Vale do Paraíba Univap - São José dos Campos/ SP.
****Professora Doutora da Universidade do Vale do Paraíba– Univap. São José dos Campos/ SP.
REFERÊNCIAS
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