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A DOCÊNCIA COMO EIXO FORMADOR DE DOUTORES EM SAÚDE COLETIVA: CONTRIBUIÇÃO DO ESTÁGIO DOCENTE

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ISSN 2179-5037

A DOCÊNCIA COMO EIXO FORMADOR DE DOUTORES EM SAÚDE

COLETIVA: CONTRIBUIÇÃO DO ESTÁGIO DOCENTE

Jane Kelly Oliveira Friestino1 Rosemeire de Olanda Ferraz2 Paula Mayara Matos Fialho3 Carlos Roberto Silveira Corrêa4

Resumo: O estágio docente faz parte da formação do pós-graduando, e possui em seu

escopo, a preparação para a docência e a qualificação do ensino de graduação. O presente artigo tem como objetivo identificar as contribuições da experiência docente para a formação de doutores em Saúde Coletiva, sob a percepção dos estagiários de docência do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva de uma universidade pública do Estado de São Paulo. Foram realizadas análises dos relatórios de finalização de estágio, utilizando-se a técnica de Análise de Discurso. Dentre os resultados encontrados, destacam-se: o desenvolvimento didático; mesmo perante a falta de definição dos papéis do estagiário no processo ensino-aprendizagem e a experiência no ensino, que contribuíram positivamente na formação individual. A experiência no Programa de Estágio Docente torna-se importante a partir do momento em que oferece aos doutorandos uma visão da prática docente. Conclui-se que, com base nos resultados encontrados, o sentido estabilizado no discurso apontou que a experiência docente contribuiu para a formação enquanto doutores, permitindo um avanço das práticas de formação.

Palavras-chave: Educação em Saúde, Saúde Coletiva, Ensino, Análise de Discurso.

THE TEACHING AS THE TRAINER AXISOF PHD IN PUBLIC HEALTH: THE CONTRIBUTION OF TEACHING INTERNSHIP

Abstract: The teaching internship is part of the formation of post-graduate student, aiming to

prepare for teaching and the qualification of undergraduate education. This article aims to identify the contributions of teaching experience to the training of PhD in Public Health in the perception of teaching trainees of the Graduate Program in Public Health of a public University in the State of São Paulo. The reports of completion stage were analysed using

1 Enfermeira, Doutora e Mestre em Saúde Coletiva - pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde

Coletiva, área de Epidemiologia. Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas.SP,Brasil. janekos@gmail.com

2

Doutora em Saúde Coletiva, área de concentração Epidemiologia. Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas. SP, Brasil. rose01@fcm.unicamp.br

3

Mestre em Saúde Coletiva, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, área de Epidemiologia. Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas.

paulamayara2@gmail.com 4

Professor Assistente do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas. ccorrea@fcm.unicamp.br

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the Discourse Analysis Technique. Among the findings, there is the educational development even at the lack of definition of trainee roles in the teaching-learning process and teaching experience, these contributed positively in individual training. Experience in Teaching Internship Program becomes important from the moment that offers doctoral candidate an insight into the teaching practice. In conclusion, based on these results, direction stabilized in the speech pointed out that teaching experience has contributed to the training as PhD, allowing a breakthrough in training practices.

Keywords: Health Education, Public Health, Teaching, Discourse Analysis.

1. Introdução

Atualmente, a formação de mestres e doutores no Brasil é feita por meio de programas de pós-graduação reconhecidos pelo MEC - Ministério da Educação (MEC, 2015). Muitos destes profissionais após sua formação irão atuar na educação, seja na formação tecnológica, graduação e pós-graduação.

Os cursos de pós-graduação stricto sensu são os responsáveis pela formação de mestres e doutores com o foco na formação de pesquisadores e docentes. Ainda que a pesquisa seja mais valorizada no contexto brasileiro, o maior mercado de trabalho se concentra na qualificação de professores para o exercício da docência no Ensino Superior (ARROIO, 2006).

Com o intuito de formar profissionais qualificados para atuar na docência, a maioria dos cursos de pós-graduação no Brasil conta com programas específicos de estágio docente, porém, a participação nesses programas apresenta algumas lacunas. Desde 1999, os alunos bolsistas do Programa de Demanda Social da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) devem, compulsoriamente, cumprir pelo menos um estágio docente, enquanto que para o não-bolsistas essa participação é facultativa.

As instituições que oferecem os cursos de pós-graduação na modalidade

stricto sensu criam suas próprias normas para a operacionalização desses estágios,

e, para o cumprimento das exigências formuladas pela CAPES, as Instituições de Ensino Superior elaboram projetos pedagógicos distintos e os nomes variam de acordo com a realidade local.

Embora o programa de estágio docente ocorra nas diferentes áreas do conhecimento, devemos lembrar que cada experiência vivenciada é única e, assim, os vários espaços propiciam olhares diferenciados. Deste modo, apontamos a

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necessidade de criação de um enfoque singular, considerando que o próprio campo científico da Saúde Coletiva está em criação e transformação constante (CAMPOS, 2000).

Se por um lado achados na literatura apontam deficiências na formação de mestres e doutores com relação à docência; por outro, diversos Programas de Pós-Graduação esforçam-se para garantir que o desenvolvimento dos alunos ocorra também neste sentido. O estágio docente faz parte da formação do pós-graduando, tendo como objetivo a preparação para a docência e a qualificação do ensino de graduação.

O estágio docente torna-se um espaço que oferece ao aluno de pós-graduação a vivência da prática docente, propiciando o desenvolvimento e aprimoramento das competências de ensinar. Na Saúde Coletiva, o estágio pode ocorrer tanto no campo prático quanto teórico, com o objetivo de ampliar as competências e habilidades de funções a serem exercidas enquanto futuros professores no Ensino Superior.

Dessa maneira, este artigo objetiva identificar as contribuições da experiência docente para a formação de doutores em Saúde Coletiva sob o ponto de vista de alunos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva que participaram do Programa de Estágio Docente e atuaram na disciplina de Prática de Ciências III no primeiro semestre de 2013.

2. Material e Métodos

Para tratar do objeto estudado – o estágio docente como eixo formador de doutores em Saúde Coletiva – a abordagem escolhida foi a pesquisa qualitativa que pode ser interpretada como um ensaio que possibilita a compreensão dos significados e definições da situação tal como as pessoas as apresentam, em que o ponto inicial é a intersubjetividade que reflete também os significados sociais (MINAYO, 1998).

Trata-se de um estudo desenvolvido por meio de pesquisa documental dos relatórios finais individuais realizados pelos doutorandos em Saúde Coletiva,

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egressos do Programa PED no primeiro semestre de 2013, que atuaram na disciplina Prática de Ciências III.

Características do estágio docente

O estudo foi realizado em uma universidade pública do Estado de São Paulo, que desde 2007 possui o PED - Programa de Estágio Docente, regido pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e intenta a capacitação para o exercício da docência, através de atividades definidas sob orientação e responsabilidade de um docente da instituição.

Atualmente, nessa universidade, o programa conta com dois níveis de participação, o PED B exclusivo para alunos do doutorado e PED C, para alunos do mestrado, ambos com atividade de apoio à docência parcial.

As responsabilidades e as cargas didáticas dependem do nível de participação no programa para o qual o aluno se inscreveu. Para o ingresso no PED são adotados critérios e normas específicas de cada Instituto ou Faculdade, em geral, esses estágios têm duração de um semestre letivo, e dentre as atividades dos alunos estão previstas capacitações para “aprimoramento didático”. A avaliação dos alunos é feita de forma processual, pelo professor coordenador, por meio de relatórios de acompanhamento.

Os participantes do estudo realizado eram doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva na área de concentração de Epidemiologia que participaram do PED na disciplina de Prática de Ciências III. Essa disciplina é obrigatória para os alunos do segundo ano de graduação em Medicina, que tem por objetivo proporcionar ao aluno conhecimentos de bioestatística, como: cálculo, apresentação de dados, medidas de estatísticas descritivas, noções de probabilidade, testes estatísticos de hipóteses e medidas de associação.

Essa disciplina possui em seu desenvolvimento um caráter teórico-prático; e para atender a demanda de alunos ingressantes no curso de graduação em Medicina (cerca de 120 alunos), houve uma divisão da turma, ficando sob a responsabilidade de três docentes (sendo um deles o coordenador da disciplina), dois profissionais de apoio didático e três estagiários PED nível B (doutorado), com

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carga horária semestral de 60 horas, sendo assim constituídas cinco turmas com aproximadamente cerca de vinte alunos cada.

A participação dos alunos no PED ocorreu sob a supervisão do coordenador da disciplina, em todas as fases de seu desenvolvimento, englobando o planejamento, a execução e a avaliação. As principais atribuições desses alunos na disciplina foram: revisão do plano de ensino, elaboração de material didático, aplicação/correção dos exercícios, atuação no ensino em aulas teóricas/práticas e atendimento aos alunos para sanar dúvidas existentes.

Percurso de análise

Para análise foi utilizado o dispositivo teórico-analítico da Análise de discurso - AD, descrito por Michel Pêcheux (1997a, 1997b). Nesse tipo de análise, não se busca o sentido real do texto, mas sim, o real sentido de um texto, dessa forma a AD entende que são muitos os sentidos que estão em um discurso, mas que, dependendo da forma como ele é dito, manifesta as condições materiais e históricas nas quais ele foi produzido, vividas pelo indivíduo que fala. Em AD, não existe discurso sem sujeito e não existe sujeito sem ideologia, pois é por meio da ideologia que os sentidos de um discurso são estabilizados (ORLANDI, 2005).

Na linha de Pêcheux, assume-se uma relação entre três domínios constitutivos do discurso: a linguística, o marxismo e a psicanálise, apresentando como os objetos simbólicos produzem sentido, pois o próprio trabalho simbólico está na base da produção da existência humana (ORLANDI, 2005).

Frente à questão de pesquisa: Qual é o significado do estágio docente para a formação do doutor em Saúde Coletiva? Foi necessária uma busca da constituição de sentidos estabilizados nos discursos, e por meio da AD tentar responder o questionamento, pois conceber a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social é a mediação feita pelo próprio discurso proferido por ele (ORLANDI, 2005).

A compreensão analítica deu-se como funcionamento discursivo e não somente na atribuição de sentido no discurso apresentado, buscando-se compreender como o objeto simbólico está envolto de significados, dependendo de

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sua utilização. Assim, foram abordadas as tensões dos processos parafrásticos e polissêmicos, conforme descrito por Pêcheux (ORLANDI, 2005).

Além disso, foi considerado um elemento importante para a Análise de Discurso, o “esquecimento”. De acordo com Pêcheux (1997a), existem dois tipos de esquecimento: o ideológico que são reproduzidos por sentidos pré-existentes, e o enunciativo que diz respeito à impressão da realidade do pensamento partindo de uma ilusão referencial.

Foram realizadas análises de discurso dos relatórios finais individuais realizados pelos egressos do programa PED no ano de 2013 que atuaram na disciplina Prática de Ciências III. Os relatórios foram redigidos em caráter de livre-expressão e tinham por objetivo descrever a experiência de cada estagiário e a contribuição do PED para a sua formação como doutor em Saúde Coletiva. Ao final do semestre, estes relatórios foram disponibilizados pelo docente responsável pela disciplina para a realização do presente estudo.

Os procedimentos de análise obedeceram aos mecanismos de constituição de sentidos e sujeitos, com as seguintes etapas: observação da superfície linguística; delineamento do objeto discursivo, fundamentado por recortes; formulação do processo discursivo (ORLANDI, 2005).

Como instrumento auxiliar para a análise, foi utilizado o dicionário analógico da língua portuguesa (SANTOS, 2010).

3. Apresentação e discussão dos resultados

A análise documental iniciou-se pela observação da superfície linguística dos três relatórios e notou-se a presença de objetos discursivos comuns, pois todos tratavam de um sentimento que colocava os estagiários em um lugar entre o aluno e o professor, mas sem que houvesse um adjetivo ou substantivo para isto, a não ser o “elo entre o professor-aluno”.

Na estabilização dos sentidos nos discursos analisados, encontrou-se que o PED permite uma vivência, um treinamento e também um sacrifício. Estes sentidos estiveram presentes em todos os relatórios, apontando um sentimento do coletivo, que experimenta e vive este momento de estágio de forma equânime.

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Os três relatórios perpassam por uma ânsia em se obter uma definição clara de ser um ator no processo de ensino-aprendizagem no estágio desenvolvido, e não somente estar como um coadjuvante na ação de ensinar.

Além disso, houve uma materialização positiva do lugar de onde se fala, ou seja, o aluno-docente, que por vezes traz um apontamento comum nos três relatórios:

(...) Descrevo a minha experiência no Programa de Estágio Docente na disciplina IPC III como muito válida. Desenvolvi muito a prática didática, durante a elaboração de aulas, exercícios e a aplicação dos mesmos na classe. Essa experiência está me habilitando na prática docente (...). (Documento 1).

(...) O fato do apoio/PED ser uma “via de contato” entre o aluno e o professor tem trazido melhorias nas disciplinas, pois eu mesma tenho participado efetivamente com nesse sentido levando ao conhecimento do professor as inquietações e sugestões dos alunos. Tenho visto saldo muito positivo. (Documento 2).

(...) Ter participado deste PED contribuiu para minha formação de doutora, pois acredito que a esfera ensino foi enormemente elucidada com esta experiência. (Documento 3).

A significação de algo que se constituiu como importante foi um fato em destaque nos documentos analisados, e, aponta para algo positivo na vivência do estágio de docência.

Por outro lado, há uma inquietação no desenvolver desta atividade, algo negativo que remete à necessidade de constituir-se como um sujeito responsável pelo processo em si.

(...) Um lado bastante positivo do PED é que aprendemos a lidar com os alunos, em relação às suas expectativas, assim como também, com suas frustações, e não invariavelmente acabamos por nos tornar o “centro de desabafo”. (Documento 2).

A palavra lidar nos remete ao enfrentamento de novas situações, que muitas vezes não estão previstas, além disso, pode apontar uma capacidade de realizar novas atribuições, além de ser visto também como um sacrifício (SANTOS, 2010) e este sacrifício é transposto por um “apoio” dos diversos indivíduos envolvidos (professores, alunos, colegas de estágio, coordenador de disciplina e a própria instituição com suas normativas).

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Embora existam esses entraves na formulação do processo discursivo, os estagiários sentem-se seguros, pois foram encontrados os seguintes trechos no relatório:

(...) Um dos pontos mais importante que vale a pena relatar é a minha desenvoltura nessa prática, estou conseguindo me desenvolver bem, tanto na parte didática, quanto na parte da timidez, (...) a cada dia estou conseguindo superar. (Documento 1).

(...) Ao me candidatar ao PED, além de contribuir com os professores no desenvolvimento da disciplina, também adquiro aprendizado teórico e prático. (Documento 2).

Todos estes fragmentos de texto apontam a capacidade docente presente nos cotidianos como reflexo de seus conhecimentos específicos da área que estudam. Uma vez que, algo que se “desenvolve” é porque já apresenta potencial para isto – “só se desenvolve algo que já está envolvido, ou envolto” (SANTOS, 2010).

Por fim, a vivência do estágio e a preocupação com questões do processo de ensino-aprendizagem e de práticas didáticas, tiveram uma conotação positiva, dentre os estudados:

(...) Essa motivação cresce a cada dia, a cada elaboração, planejamento e execução das aulas. (Documento 1)

(...) vejo que ao ensinar a gente aprende muito, pois a disciplina aborda a parte básica de minha área de atuação, (...) e revejo muita coisa. (Documento 2).

(...) Acompanhei as aulas em todo o semestre, mas eu não me via ali como uma aluna, mas sim como aprendiz, pois observava técnicas utilizadas pelo docente para conduzir o aprendizado dos alunos. (...) ficava imaginando como eu poderia estar explicando ou exemplificando aquele conteúdo se eu estivesse no lugar dele (do professor). (Documento 3).

O PED representa atualmente, o único espaço formal para a formação docente no referido Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, e, a vivência dos estagiários no PED apresentou-se com elementos importantes no processo de formação no nível do doutorado. Isso porque, em conjunto com a atuação profissional paralela e as experiências vividas em sala de aula, houve uma soma que resultou positivamente na estruturação da base de conhecimentos para o ensino

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quanto à formação de novos doutores que também irão atuar futuramente na docência.

De acordo com Silva (2014), os conhecimentos adquiridos através das atividades realizadas no estágio docente proporcionam uma enriquecedora fonte de aprendizagem, pois tem por base o ensino fornecido pelo local em que o indivíduo tem contato.

Embora o domínio dos conteúdos seja importante, somente este quesito não garante que as habilidades pedagógicas sejam desenvolvidas, para isso é necessário o desenvolvimento da base de conhecimentos pedagógicos proposta por Shulman (1987) que agrega três grupos de conhecimentos: o do conteúdo, o pedagógico geral e o do contexto.

Os indivíduos que se encontram na situação de estudante-professor necessitam englobar inúmeros conhecimentos para a sua atuação docente em diferentes contextos de ensino e aprendizagem, para atuar junto a diferentes alunos objetivos distintos (MARCON, 2010). Muito embora isso não seja exercitado com a devida clareza pelos participantes do PED, pois os achados deste estudo apontaram para uma indefinição de papéis ainda presente nesta fase da formação.

Uma característica própria do curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva é ser multiprofissional e abarcar, em sua grande maioria, discentes que são profissionais que não exerceram o magistério e, possuem em geral formação específica de curso de bacharelado. Com isso, o domínio do referencial teórico pedagógico, que é um dos elementos necessários ao desempenho da sua ação em sala de aula, não é alcançado, e em geral, professores ensinarão conforme o modo como foram ensinados, distantes da compreensão teórica das consequências de suas práticas (ROSA, 2003; SACRAMENTO, 2003).

A observação constante das práticas de formação de docentes deve considerar como tem sido feita a capacitação destes indivíduos sob as perspectivas apresentadas pela área da Saúde Coletiva no país. Esta é uma questão relevante, pois a própria falta de preparo dos futuros docentes implicará diretamente na qualidade da formação de alunos em nível superior.

Apesar dessa fragilidade em relação ao preparo do docente para o Ensino Superior, os achados neste estudo corroboraram com os encontrados por Ribeiro

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(2010), no qual foi possível verificar uma ampliação dos conhecimentos gerais e específicos e a capacidade crítica dos estagiários, contribuindo positivamente para a sua formação pessoal e profissional.

Diversos autores descrevem o percurso da formação de pós-graduandos no Brasil e unanimemente apontam a baixa relevância dada à formação pedagógica, privilegiando o domínio de conhecimentos específicos, e, pouco se exigindo domínio para a capacidade específica de ensinar (BARROS, 2011; FISCHER, 2006; PACHANE, 2004; PIMENTA, 2002; VALENTE, 2010).

Embora diferentes autores destaquem deficiências na formação docente de mestres e doutores, diversos Programas de Pós-Graduação esforçam-se para garantir o desenvolvimento dos alunos neste sentido. O estágio docente torna-se um elemento transversal na formação do pós-graduando, intencionando a preparação para a docência e a qualificação do ensino de graduação (BASTOS, 2011).

O enriquecimento curricular propiciado pela participação de alunos no programa de estágio ou monitoria poderá refletir positivamente na formação, pois é sabido que um dos espaços do mercado de trabalho para titulados como Doutores no Brasil engloba a educação e formação acadêmica, e não só o desenvolvimento de pesquisas científicas. Além disso, propicia um crescimento profissional e pessoal por vivenciar antecipadamente situações corriqueiras da vida docente, ampliando sua visão sobre como enfrentar essas situações quando vir a tornar-se um docente (SILVA, 2014).

Uma das limitações desse artigo foi a não existência de instrumento padronizado para as anotações e a elaboração dos relatórios que foram analisados. Essa limitação despertou a inquietação e por ser este o primeiro estudo a ser realizado na instituição, futuros acompanhamentos poderão ser norteados a partir deste, abrangendo mais relatos de experiências no PED.

4. Conclusão

Observa-se, na atualidade, que os mestres e doutores são mais capacitados para o desenvolvimento de pesquisas, porém, estão sendo também preparados para as exigências da própria educação em nível superior. O sentido estabilizado no

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discurso apontou que a experiência docente contribuiu para a formação enquanto doutores, permitindo um avanço das práticas de formação.

O presente estudo ressalta a importância da existência de programas como o PED, para capacitar doutores que se tornarão docentes e estreitar a relação aluno-professor, assim como facilitar a comunicação entre eles. O envolvimento do aluno de pós-graduação em programas de estágio docente como o PED propicia um expressivo crescimento pessoal e profissional para enfrentamento das situações do dia-a-dia da carreira docente, além de também permitir o desenvolvimento de sua inteligência emocional necessária para resolução de percalços inerentes ao exercício da profissão de docente.

Verificou-se que as inserções de atividades docentes contribuíram positivamente na formação dos doutores em Saúde Coletiva, pois possível notar uma preocupação com a esfera “ensino”, a qual é de grande relevância aos multiplicadores que estão em processo de formação.

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Recebido em 01/10/2015. Aceito em 20/12/2015.

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