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Elementos para a história do ensino universitário de Economia e Finanças (1911-1974)

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Boletim

de

Ciências Económicas

Início da publicação: Abdl de 1952

Publicação Anual

Propriedade:

Faculdade de Direito da Universiclade de Coimbra

http: / /www.uc.pt/fduc

Edição:

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra I Instituto Jurídico

Fundador:

J. J. Teixeira Ribeiro Antigos Diretores:

J. J. Teixeira Ribeiro

A. J. Avelãs Nunes (anunes@fcl.uc.pt)

Diretor:

Luís Pedro Cunha (lpc@fd.uc.pt)

Redação:

Manuel cados Lopes Porto, Á.. J. -Avelãs Nunes, Luís pedro cunha, José Manuei

euel-has,

João

Nogueira

de

Almeida, Maria Matilde Lavouras,

victor

calvete, Fernando Rocha Andrade, Teresa Almeida, Maria Inês de oliveira Martins

Secretário da Redação:

Isaías Hipólito (bce@fd.uc.pt)

Conselho Científico:

Aldacy Rachid coutinho, -4.. J. Avelãs Nunes, Eduatdo paz Feteua, Fernando Facury Scaff, João Ferreira do Amarai, João sousa ,{.ndrade, José casalta Nabais, Luís pedro

Cunha, Manuei Carlos Lopes Porto, Maurizio Mistri, Renato Flôres

Conselho Consultivo:

A.rtur Santos Silr.a, Emílio Rui vilar, Eros Roberto Grau, Fábio I{onder comparato, José

Xavier cle Basto, José Manuel M. cardoso da costa, Manuel carvalho da Silva, Miguel

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Impressão:

Tipografìa Lousanense, Lda.

Preço deste número por romo: € 25 IVA incluído

Depósito Legal 56000 / 92

(2)

UNIVE,RSIDADE,

DE,

COIMBRA

FACULDADE,

DE

DIREITO

B

OLETIM

DE

CIEI.{CIAS

ECOI'{ÓI/IICIS

COIMBRA

(3)

BorrTlll

Dr

ctÊNctAS

rcoNouttcts

FACULDADEDEDIREITODALINIVERSIDADEDECOIMBRA

DlRp,rou

ruÍs

pnoRo

cUNHA

VOLUME LIX

2016

(4)

Íxotcr,

ARTIGOS

JrirxtrrNc Hu

-

FTZI, Can Thel Iniilan a Nez Roand of P'e'

fòrns ia China? '.... 9

F¡,¡ro I(oNoaR Cortp,tn \r 6

-

p¿¡"a contpreender a grande

mo/és-tia brasìleira 37

M¿\|¡\LDÄ MtR tNo,'\ B¡n¡os¡t

-

A

releuância da aaturela do

cri

tlito detitlo pelo cliente de arua ittsrituição baucáia ofuelo de uma nerlirla de reso/øçã0. Ntitula a þroþósito do caso BEJ'

"""""""'

(r5

ANróNto NLrmNs

-

A

dedutibilidade dos gasto'r' a ruantttenção

tla fonÍe þrotlatota e a aualiøção Íentþoral das decisões de f'nan-ciantenlo. (Jrua þer.þetiua /ì.rcal' a þroþósito do reqøisito da

indis-pen.rabilidade 149

DÀNIEL T;\tioRD;\l NuNo

ol

Lr,rtos Jclncu

-

fie¡¿¡ sobre o regtneluúdico e

f

scal das fundações þriuadas 187

N[,\nrrr corrrsn r

-

Fandos de pensõe.r: De am segtro preuidencia/ a

ant nouo l>rodato de inuestiruenlo ...""""" 217

Frupl

Ftc;ull,tru.-.oo NLrmrNs

-

A

Llnião Bancárja E'aroþeia'

.9altsídios þaru a stra comþreensão

....""""""

265

MÄNUlrL J,l.cnro NuNl.s;Josti LuÍs CARDOSo; MaNult-

l'oi'ls

ponro

-

þ/s21stxt'6¡ þara a hi¡tória do ensino uniuersitário

de

(5)

-'t

JosÉ NI'tNrr,l Qur,r-rr,rs

-

Do intþa.rse ¡.to ¡isÍetna eurnþet r/e sega-ra de deþósitos...

LuÍs Prnno CuNrr¡

-

GATT', GAj-.ç e seruiços /ìnanceiros: O caminho þerconido ...

RECENSÕES

Nltnrlr (lcr,rrun¡t

-

Pen'ões: Restaarar o conhøto .rocia/ para

recon-ci/iar as geruções (Nlaria Nlargarida Corrêa de Aguiar) ...

393

433

465

Jcxcn NuNrs

l¡p¡s

-

Deua/uittg to prosþeri4,: Misaligned Cttr_

rencie.ç and Their Growth Conseqtences (Surjit S. Bhalla)

...

469

Fnlrpn Frc;usrnlr'o NIr\RrrNS

-

J'ing/e Xl[arkets: Econo_

nic Integation in Etmþe and the Unind Stans Ql,[tchelhep.

Jlgan) ... 479

(6)

ELEMENTOS

PARA

A HISTÓRIA

DO

ENSINO UNIVERSITÁRIO

DE ECONOMIA

E

FINANÇAS

(l9r

r

-r974)

Ptocura-se neste artigo fazet um balanço do ensino de

matérias económicas

e

financeiras

em Pottugal

clurante o

período compteendiclo entre 1911 e 1974.'Tal balanço

cen-tra-se nas experiências desenvolvidas nas instituições

univer-sitátias que mais contribuíram p^1;^ a formação neste cìomínio clo saber, nomeadamente, a Faculdacle de

Direito

<1a

Univer-sidade de Coimbra, a Faculdade de

Diteito

cla Universidade de Lisboa e

o

Instituto

Superior de Ciências Económicas e Financeiras da Universidade Técnica de Lisboa.

Não se pretende procecler a uma descrição exaustiva de

currículos leccionados, nem a uma apreciação sistemática clas

sucessivas reformas que foram assinalando a evolução do

en-sino naquelas instituições'.

A

nossa opção

foi

a cle privilegiat lQucremos aqui deixar um testemunho da maiot admiração peio Professor Manuel Jacinto Nunes, com â honra de o termos

ticlo como co âutor deste texto, que declicamos à sua memória

(LC

e MLP).

2

Para o período 1911,-1967 , veja-sc o útil roteiro de PoRtt l-,t (1967); veja-se também An,rú1o (2001).

(7)

330 MANUEL lACrNt'o NUNrs, losÉ LUís cARDoso, MANUEL LopËs poRTo

as marcas cleixadas pelos autores que mais directamente

pro-tagonizaram os avanços ao nível do ensino e da investigação em ciências económicas e financeiras no nosso país, ao lon-go do período aqui considerado.

l.Faculdade

de

Direito

da

Universidade

de

Coimbra

1,1. Marnoco e Sousa e seguidotes

Iniciado em 1836, o ensino de economia política na Fa-culclade cle

Direito

da Universidade de Coimbra (trDUC)

foi

até frnais do século

XIX

marcado pelo magistério de ¿\dtião Forjaz de Sampaio. Os sucessivos compêndios de sua âuto-ria' só vitiam a ter substituto ou alternativa credível a parttt da

década de 1880, com a publicação do manual de José Frede-rico LnnrrNlo (1891).

Dz

acçã,o pedagógica realtzada

por

estes dois autores cleverá reter-se

a

formz como concebiam

o

ensino da

eco-nomia política pata futuros jutistas e potenciais membros da

administração pública e cle organismos

do

poder legislativo, executivo ou judicial. O seu testemunho acerca da utilidade da

economia política pzre. o fortalecimento de cliversos ramos do

direito

foi

continuado por J. F. Marnoco e Sousa, sem dúvicla

o âutor que, após o longo professorado de Adrião Forjaz de

Sampaio, mais contribuiu para a ñxtçã"o clo âmbito e dos

limi-tes dos estudos económicos na FDUC. Vejamos a mensâgem que nos deixou, a ptopósito da simbiose entre estudos econó-micos e jurídicos:

3

A.s suas principais lições estão reunidas

em

S-tll,¡,ro

(183e-187 4).

BOLETIM DF, CIENCIAS ECONOMICAS LIX (20I6) 329-39I

ENSTNo uNrv[,RsrrÁnro oe ECoNoMTA E ITNANCAS 331

"Hâ a mais íntima relação entre â economia políuca e o direito.

Como cada relação económica reveste formas jurídicas, todas

as grandes teorias do direito, pnncipalmente do direito privado, têm um conteúdo económico. Todos os povos, num certo grau

de civitzação, precisam de um sistema jurídico para regolat a

sua actividade económica. E assim cada instituição económica

pode considerâr-se, sob um certo âspecto, como uma

institui-ção jurídica. Não deve admsrar, por isso, que fiequentemente sejam as teorias económicas que renovem as teorias jurídrcas

(.

.). A tenovação por que está passando o clireito privado não

é mais do que umâ consequência da infiltração das novas teo-rias económicas no velho organismo jurídico. Reconheceu-se que o direito não poderia dekar de atender às novas condições

assumidas pela propriedade, pelo trabalho, pelo crédito e pela

circulação, a fim de corresponder às exigências das sociedades

modernas" (Sousa, 1917 : 65-6).

Este excerto transmite duas ideias interligadas: a vida económica e social está na origem cle determinadas relações

juddicas que compete ao cliteito conceber e enquadtar com recurso às suas categorias analíticas próprias;

por

sua vez, a economia política tratz de matérias e problemas que

apon-T^m

^o

direito

qual a missão que se espera das instituições

por ele reguladas.

Estas ideias constituíram prédica constante ao longo do magistério de J.

tr

Matnoco e Sousa. Apesar de a sua acçã,o de ensino

ter

sido bastante mais curta

do

que a de

,\drião

troqaz de Sampaio, devido a morte precoce aos 46 anos de

idade, sobrou-lhe tempo

para

publicar

diversos manuais

sobre as difetentes matérias ensinadas

no

curso de direito, designadamente,

diteito

eclesiástico,

direito

público, direito

comercial,

história

do

clireito, administração colonial,

eco-nomia política e fìnanças públicas.

Em

todos estes campos desenvolveu papel âctivo, promovendo â respectiva reorga-nização curricular.

E

se é certo que

foi

no domínio do

ensi-no cla economia política que a sua acção teve mais impacto,

(8)

332 M^.NUEL l^crNTo NUNES, josr't LUís cAt{-Doso, M^NUEL LopES poRlo

é funclamental ter presente a sua visão integral e integradora da formação cle juristas, tendo em atenção alguns elementos

cle enquadramento funclamentaisu.

Em

ptimeito

lugar, a ideia de que os fenómenos

jurídi-cos são fenómenos sociais que podem ser objecto de uma abordagem positiva, tal como ocoïre no âmbito das ciências

naturais; ou seja, que é possível estabelecer relações de causa

e efeito e enunciar leis que traduzem regularidades observá-veis.

Em

segundo lugar, o princípio de que

^ n^tu.rez^ social dos fenómenos jurídicos obriga âo seu estuclo na perspecti-va mais ampla clas características do tecido social e clas ne-cessidades associadas à sua manutenção

ou

transformação; ou seja, que o estuclo do direito cleve ser entendido enquanto parte integrante clo estudo da sociedacle.

Em

terceiro lugar,

a defesa da economia como a ciência social especificamente

capacitada p^r^ 2L compreensão clo funcionamento clos

regi-mes jurídicos das sociedades moclernas, nomeadamerite no que se refere ao estudo dos sistemas cle propriedade,

ftaba-lho, capital, crédito, circulação, tributação, etc.

Face

a

este ambicioso programa

de

acção, torna-se compreensível a amplitude das leituras e referências

biblio-gtâficas de que Matnoco e Sousa se socorre.

Ao

percorrer-mos os seus manuais cle economia constatamos que o esfor-ço compendiador o obrigou a um inventârio actualizaclo clas obras procluzidas em diferentes países europeus.

a Para um enquadrâmento clo pensamento económico

de Marnoco e Sousa, cf. BnrrNnÀo (1,997). Refira-se que o prestígio do ¿utor em muito ultrapassou os muros cla Universidade, vindo a

exercer um importante trabalho de renor.ação urbanística na cicla-cle de Coimbra durante o período em que clcsempenhou funções de Presidente cleste município.

BoLETtNr o¿ ctÊNcttts rtttNtittl]Jctts Lrx (20r6) 329-39I

LNsrNo uNr\¡ERsrrÁluo DE ECONorvuA. E FIN^NÇAS 333

O

enciclopeclismo ecléctico cle

Marnoco e

Sousa

tor-nou

pof

vezes o seu vasto arquivo cle autotes num coniunto

de

refetências

de

autoridade cli{ìcilmente compâtíveis

en-tre si. Contudo,

foi

patente

o

esforço

do

autor em orientar os leitores

num

quadro amplo e pluridisciplinar em que os

temas económicos

e

jurídicos se defrnem através de refe-renciais

de

carâcter

histórico e

sociológico. Parz além dos

objectivos pedagógicos de largo espectro, Marnoco e Sousa

visava também encaminhar os seus leitores pæa o

teconhe-cimento dos inconvenientes dos sistemas políticos e econó-micos baseados no indivicluaLismo e no socialismo, optando pela interméclia solução de

um

"socialismo de cátedra" em que

o

Estado deveda ser chamado a desempenhar funções intransmissíveis,

enquaîto

g

rante da harmonia e

do

bem--estar social.

O triunfo

clesta visão dos problemas económicos e

so-ciais que se

impôs como

modelo

triunfante

de ensino na

Faculdade

de

Diteito

da Universidacle

de Coimbra só foi

possível graças à extrema fragilidade

do

discurso económi-co teórico e analítico no nosso país. Os ecos da "revolução marginalistl;-" e da economia neoclássica não passavam de

notícias simpJificadas sobte avanços mal compreendiclos da

teoria. A. etudição de Marnoco e Sousa, que sabia identificar

e

reconhecer as inovações introduzidas

com

â descoberta

do princípio

da utilidade marginal clecrescente, bem como

os respectivos protagonistas e attífrces, nã.o era

por

si só

su-ficiente parâ que

o

seu nome pudesse ser associado a essa nova torrente que conduzia a ciência económica pata vias de

análise nunca dantes exploradas.

O

distanciamento crítico que Marnoco e Sousa mante-ve em relação aos conceitos, mocielos e instrumentos

carac-terísticos

do

paradigma neoclássico

funcionou como

umâ

(9)

334 MANUEL lActNTo NUNEs, losÉ LUÍs cAl{Doso, MANUEL LOIES poRfo

espécie de caução

ou

certificação

da

tralectória

do

pensa-mento económico português

por

vias predominantemente

doutrinais e políticas, evitando os rerrenos áridos da análise

teóúca e abstracta. Sem dúvida que para a definição desse

percurso

muito

contribuiu o ambiente institucional em que,

nesta fase, a ciência da economia política pôde ser cultivada e acarinhada.

O

enquadtamento

jurídico

concedido

ao

estudo da

economia política continuou a vigotar nos únicos locais de

culto

universitário desta ciência,

ou

seja,

na

Faculdade cle

Direito

da Universidade de Coimbra e na jovem Faculclade

de

Direito

da Universidade de Lisboa,

formalmente

criada em 1913. Pata a compreensão da imponäncia que os

víncu-los jurídicos da economia política mantivetam em Portugal deverá atender-se

ao

facto de terem sido os juristas

fotma-dos pela Universidade de Coimbra (e tambêm de Lisboa, a

pattr

de 191,3) que fotam chamados â exercer, no quadro da

administração e do governo, papéis em que

o

conhecimen-to cla economia política represeritâva poderoso instrumento

auxiliar pana. o cumprime n

to

efr,caz da sua missão. Só a partir

dos inícios dz década de 1940, e especialmente após a

rcfot-ma cutricular que ocorreu no

Instituto

Superior de Ciências

Económicas

e

Financeiras

em

1949,

é

que

â

formação de

uma expertis¿ económica passou a ser matéria que exorbitou a competência atê então detida em exclusivo pelas

Faculda-des de Direitos.

Do

que atrás se clisse resultz claro o papel ímpar

desem-penhado por Marnoco e Sousa na consolidação do presrígio

da

cadefua de Economia Política

na

formaçã.o dos juristas oriundos da mais antiga escola de

Direito

do país.

s Sobre esta matériâ cf. NuN¡s (1968)

BoLETnvr DE ctÊ.Nct¡s rcoNtiu¡c,ts Lrx (20r6) 329.391

ENSTNo uNrvERSrrÁRlo Dl ÈcoNoMI^ E FINANÇ^s 335

O lugar de relevo ocupado pelos licenciados da

FDUC

em

diversas instâncias

do

poder

mostravâ que essa era a

principal

fonte

de recrutamento da elite dirigente, designa-damente nas áteas económicas e financeiras.

O

caso de An-tónio de Oliveira Salazar,com uma inicial actividade docente como professor de economia política e de f,nanças públicas, serve como ilustração simbólica de tal asserção.

Foi

OliveitaSalazar quem sucedeu a Marnoco e Sousa

na

câtedra de Economia Política,

^

p^rtir

de

1'91'7 .

Yiria

a

permanecer neste cârgo até

à

sua nomeação como

Minis-tro

das Fìnanças

em

1.928. Todavia,

o

prestígio granjeaclo

pela publicação de importantes textos de análise económica

e

frnanceita

no

início

da sua carreita" não viria a conhecer idêntica projecção

no

plano cla inovação

do

ensino cla

eco-nomia política.

As

suas sebentas âcentuam as características

de um ensino de índole aplicada, com tenclência pata cait na

economia descritiva, embora desse a conhecer aos seus alunos os autores marginalistas cla "escola matemâticâ" que eram por

ele criticados. Tinha um conhecimento âbrangente das escolas

clássica, historicista,

masista

e neoclássicâ, mas privilegiava

os clássicos e os historicistas dentto do quadro institucional que era característico das Faculdacles de

l)ireito.

A

sua maior vocação para

o

ensino de matérias financeiras viria

a

ditat a obtenção de um prestígio técnico e político que o levariam

^o clefinitivo e precoce abandono da vida univetsitária em 1'928.

Para alêm

de António de

Oliveira

Salazat, merecem ainda referência dois autores que exerceram funções de

clo-cência na FDUC, apesâr de terem posteriormente transitado

6 Os seus escriros económicos mais relevantes

-

A

puestão Cerealy'èra - O '[nSo (1916); O Ágio do Ouro (1916); e Algans Aspec-tos da Crise das Søbsistências (1918)

-

estão reuniclos em Sr\l'r\Zr\R (1 e1 6-1 e1 B).

(10)

p^r^

^ Faculdade de

Direito

cle Lisboa oncle viriam a aciquirir

uma maior e mais significativa projecção: Ruy

Ulrich

e João

Pinto cla Costa Leite (Lumbrales).

Ruy

Ulntcu

iniciou

^

s\a

carreira na

FDUC,

onde se

doutorou em 1906 com uma dissertação intitulacla I)a Bolsø e suøs Oþerações (1906). Neste trabalho segue uma metodologia

histórico-institucional com particular considetaçã.o dos as-pectos jurídicos e specífìcos. Faz uma clescrição rigorosa do

funcionamento das bolsas e das suas funções, do seu regime legal, procede a uma compatação com as bolsas estrangeiras e apresenta algumas propostas cle reforma. Declica também

um capítulo específico à teoria económica das bolsas.

Logo

no

ano seguinte ao seu doutoramento

é

convi-claclo pata professor, regendo

a

cadeira cle Administração

Colonial

^tê

1910, Nesses três anos,

em

Coimbra, publica Ciência e Adnìnistração Colonial (1908), Política Colonial (1909)

e Economiø Colonial(1910), traduzindo a orientação cìe

ftag-mentar um programa getal, leccionanclo em cada ano uma parte da matêria.

Como aluno publicara um ttabalho sobre

As

Cri¡es

Eco-nómicas Portagaesas oncle, a seguir a uma breve discussão teó-rtca, faz

um historial

das crises económicas nacionais nos

cliferentes sectores de activiclacle (1902).

Monárquico e defensor do Integralismo Lusitano, pede

a sua demissão da

FDUC

em 1910. Antes do seu reingresso na Universidacle publica a l-eona Económica clas Reserua¡

Mone-tárias, em 1,914, ano em que é nomeaclo Administraclor clo

Banco cle Portugal, cargo que exerce

^té 1928. É depois Em-l¡aixador em Londres de 1933 a 1935.

Na

Teoria Ilconórtica das Reseruas Atlonetánas, tema

inova-dot, precisa os vátios tipos de reserva monetária, defende o

seu aumento, apontando os meios de

o

alcançar e as

impli-336 MANUrrr- lACrNlo NUNEs, losÉ LUís c^RDoso, MANUEL LopES pon'to

I|OLI:17^,1 DE CIENCIAS I:CONOiVICAS LIX (2016\ 329-391

ENSTNo uNrvtRslrÁRro DE ECoNOMT^ E FrN^Ne\s 337

cações clas diferentes vias possíveis. Não clá atenção especial

ao caso português,

o

que poderá

ter

sido devido a vigotar

entre nós o regime de inconvertibilidade.

Quanto aJoão Pinto cla Costa Leite (I-uH,rnn,u.rx) douto-rou-se na

FDUC

em 1927, com uma tese sobre Organilação Bancária Portugaesa (1927), Ttata-se de um estudo de economia descritiva, que se ocupa da "história e das funções do Banco

de Portugal e cla actividade dos bancos comerciais". Sucedeu

a Salazar na regência da cadeira cle Economia Política quanclo este assume

^

pasta clas Finanças em 1928.

A

regência da

ca-deira esteve a seu cargo atê 1934, quando

foi

chamado para o

cargo de Subsectetário de Estado das Finanças.

Entretanto,

em

1933, apresentarâ

como

clissertação

para concurso a professor catedrático o Ensaio soltre a'lþoria das Crises Económica.ç. Foi nomeado catedrático com 29 anos,

em Julho de 1934.

Este Ensaio, diferentemente

do

seu ensino, é uma tese

de teoria económica. Teixeira RtsnrRo (1993,260)

consicle-fa-o um mâfco "nâ Tenovação clos estudos económicos, no sentido daprimazia dos estudos teóricos", e sintetiza os seus

métitos nos seguintes termos:

"I-umbrales parte do equilíbrio económico parl situar os

ci-clos, descreve as fases destes, procura explicação hipotética

das crises que encontrâ nr teolia estfutufal, embota com uma correcção, e depois põe essa teoria à provx perânte a organi

zação económica, a organtzação da produção e o sistema

mo-netário, criticando as várias teorias que clelas fazem depender

os ciclos, para concluir que estes são efectir.amente clevidos a

reacções cla estrutura económica, a excitações vindas do

exte-rior" (Rtrr,rRo, 1993: 254)

Â

dissettação insere-se,

pois, numâ

linha

neoclássi-ca

com

aclitamentos pós-marshallianos,

que refere,

pot

(11)

338 MANUEL j^crN ro NUNÈs, losÉ LUÍs cARDoso, M^NUEL LOPLs Pottfo

exemplo,

^

teoria d,a tnflaçã.o de l{nvNns do Tratado da Moeda e a teoria monetâria clas crises de Hawttey.

É

curioso notar, todavia, que a dissertação clo concuÍso para professor catedtático de Lumbrales demonstra conhe-cimentos de teoria económica que ele nunca transpôs p^rà o seu ensino de economia política, que continuou a ser feito nos

moldes do seu antecessor Oliveira Salaza{. Apenas na cadeira

do 5." âno, em 1933/34 e 1.934/35, versâ o tema das crises.

,Aincla dutante

a

sua estadia

em

Coimbra, publica as Noções Elementares de E conomia Política (L934), manual pâra

es-tudantes

do

ensino técnico cometciai, seguindo a estrutura dos manuais franceses do pdncípio da década de 1930.

,{.

partir

de

1,933 notâ-se alguma

inflexão

doutrinária em Lumbrales, que ptetende funclamentar economicamente

o corporativismo, tendo publicado parâ esse efeito a

Doutri-na Corporatiua e a'l'eoùa Econóruica (1935) e a Doatrina

Corþora-tiaa em Portugal (1936).

Partindo da ideia de um equilíbrio económico geral cor-porativo) procura fundamentar a intetvenção económica do Estado, a qual, com a instituição clas cotporações,

conduzi-tia ao

"máximo

hedonístico comum". -Abandona depois a tentativa de elaboração de uma teotia económica do

cotpo-rativismo, mas mantém-se fiel à cloutrina corporativâ.

A

este

tema voltaremos mais adiante.

O prestígio da FDIJC, no que se refere à prepatação de

juristas com vocação económica e financeira, não se jogava

1

E a

opinlã.o de Teixeira Rt¡EtRo (1993: 254):

"De

1,928 a

1934 não foi alterada por Lumbrales a índole desse ensino"). Essa "índole" era, como a caractetiz.ou Teixeita Ribeito, "de estudos

de economia" aplicada com tendência, para cair na economia

des-critiva" (ibid.).

No

mesmo sentido se pronuncia Aiutú1o (2001.:

11-115).

B)LETTM D[. :|ÊNCTAS ECoNóMrcAS Ltx (2016):]29-:l9l

ENSTNo uNrvEnsrrÁnro or F.coNoMrA, E r:rNANÇAS 339

apenas no vínculo aos lugares cimeiros da administraçã,o pu-blica. Era o

próprio

conteúdo programático das disciplinas

destas áreas que, sobretuclo

^

p^rtir

de meaclos cla década cle

1930, revelâvâ um maior grau de adequação aos avanços do conhecimento científico à escala intetnacional.Pata tal

mui-to contribuiu a acção d" J. J. Teixeira Ribeirou.

1.2. Teixeira

Nbeiro

Logo após a conclusão das suas provas de

doutoramen-to,

em Dezembro

de

1934, Teixeira Ribeiro

foi

convidado para professor da FDUC, tenclo leccionado já nesse ano

lec-tivo

em que uma das disciplinas do

grupo

de ciências eco-nómicas, a de Economia Política, esteve atribuída ao então

jovem

economista Ftançois Petroux.

Â

mesma disciplina

esteve nos dois anos seguintes a cargo de

Diogo

Pacheco de

Amorim,

da Faculdade de Ciências, mas a

p^rtir

de então Teixeita Ribeiro ficou como único docente do gtupo, numa época em que nã"ohavia ainda assistentes.

Aliás, com a permanência em Lisboa de OliveiraSalazar

e

de Costa

Leite

(Lumbrales), desde essa época

até

1983' nenhum outro Doutor em Ciências Económicas exerceu

fun-ções docentes na FDUC, com excepção de um curto espaço de tempo, em 1956-58, entre o doutoramento deJoséPizano

Beleza e a sua saída

pan

desempenhar também funções go-veÍnativas.

O

recurso a assistentes começou

a

verifr.car-se a

partir de 1,941,, mas quase sempre em pequeno número.

Tei-B Para uma abordagem de conjunto da acção e obta de

Tei-xeira Ribeiro, cf. Ponto (1979).

e

Quando se doutorou Manuel Lopes Potto, seguindo-se

Äntónio .{velãs Nunes e Á.níbal Almeida, e tendo João Ruiz de Almeida Garrett tido então aqui funções docentes.

(12)

340 l,r^NUEL l^crNt'o NUNEs, losÉ LUÍs c^RDoso, MANUEL LopLS poRTO

xeira Ribeiro cledicou-se, pois, à docência, com grande

inten-sidade, sem qualquer interrupção clurante os 40 anos lectivos

que medearam entre 1934-35 e 1973-74.

Á.s suas capacidades intelectuais e a séria apetência por

acompanhar a ptodução mais significativa da ciência

eco-nómica verificou-se

primeiro

no

clomínio da microecono-mia, na sua dissertação de doutoramento, Teoria Económica

dos Monopólios (1934).

A

própria distinção entre micro e ma-croeconomia, então ainda nã,o conhecida, é

por

ele

entre-vista na nota

introdutória.

Na

obra projectada,

o

texto

da

dissertação constituía o primeiro volume, onde o problema eta

visto "sob o ponto

de vista

particuiat",

tenclo haviclo

"o

ptopósito

de recluzir

à

empresa,

como

cerìtro, a

vida

e os conceitos económicos". Na segunda parte, a

incluir

num outro volume, predominaria o "aspecto univefsal", integran-clo

o monopólio

cla empresa

"no

mundo dos monopólios"

e sendo então vistos problemas como o das crises cíclicas, o

clo capitalisrno financeiro, o clo imperialismo e o da crise clo

próprio

sistema.

Ao longo da clissettação, depois de definir o monopólio como conttário da concorrência, Teixeira Ribeiro analisa as conclições clo seu aparecimento através da clescrição da "teo-ria dos desequilíbrios", senclo

o monopólio

definido como

um caso de desequilíbrio entre o preço e

o

custo. Distingue depois as situações de monopólio de custo das de

monopó-lio

de preço, consoante

o

monopolista não tenha ou tenha clomínio sobre o preço, dedicando a esses dois casos os

ca-pítulos mais extensos da tese.

No

último capítulo é feita uma

análise interessante dos preços de monopólio.

A

preocupação

por

problemas de microeconomia

re-flectiu-se

depois

fundamentalmente nas Lições cla cacleira

de Economia Política. Dele

próprio

há umas lições escritas,

t3oL\r rÌtt or qÊNct¡s ecoNo¡.nr:¡s Lrx (20 I 6) 329,39 t

lNsrNo uNrvERsrtÁrrro nt EcoNoMt^ E FIN^NÇAS 34I

de 1958-59, e

do

ensino oral ministrado em

outros

anos é possível ter conhecimento através de apontamentos coligi-clos

por

aiunos. Merecerão maior relevo as exposições

so-bre os sistemas económicos, a que voltaremos acliante, e a teoria dos preços, na qual, além dos dois casos extremos da

concorrência perfeita e cìo monopólio, também são consi-derados, na esteita clos conttibutos de Sraffa, Chambedain,

Robinson

e

outros,

os

casos interméclios de concorrência

monopolista (ou imperfeita) e de oligopólio. São igualmente

cle grande clarcza. e intetesse as exposições sobre a

ptodu-ção e as uniclades ptoclutoras, designadamente as empresas coopefati\¡âs.

Descle o início da sua careira, Teixeira Ribeiro sempre se sentiu atraído pela ptoblemâtica dos sistemas económi-cos. Com a preocupação cle situat

o

sistema cle cada época

numa perspectiva temporal, dedicou uma Parte apreciável

clas lições

de

Direito

Corporativo

(escreveu as

de

1936 e 1938, podendo ter-se conhecimento cle outras,

subsequen-tes, attavés de apontamentos coligidos por alunos) à história

dos sistemas, c1e ensino recente

no

nosso país. Trata-se de

matéria leccionada também na cadeira de Economia Política

I,

aparecendo com uma elaboração mais completa nas refe-tidas lições cle 1958-59.

Descle

o

começo,

logo

clescle 1.936, Teixeira Ribeiro mostrou a sua pteferôncia pela classificação de \ùØernet

Som-batt, emboïa nunca a tenha seguido com tigiclez. A.ssim,

tan-to nas lições cle 1938 como em

A

l\oua Estrutura da [f conortia

(1947),

por

certo

influenciado

pelo

modo

como

Petroux descrevera

a

perspectiva

de

Sombart (Perroux 1'936), nã'o

re fete a técnica e clistingue, como elementos definidores de

um sistema económico, o modo de proclução, consoante se

ttate

de ptopriedade

individual ou

colectiva dos meios de

(13)

ENSINO UNIVERSITÁRIO DE ECONOMIA E FINANÇAS 343

às grandes empresas industriais. Também nestas, embora a ame^çade falência seja um estímulo permanente, se verifica-rão em muitos escalões de pessoal o alheamento e a distân-cia característicos clos funcionários do Estado. Este poderá,

por

seu lado, ter actuações de racionalizaçäo e melhoda de

qualidade fora

do

alcance dos particulares ou para que eles

não se sentirão estimulados.

O problema da evolução do sistema económico volta a suscitar

^

ateflção de Teixeira Ribeito em 1960, quando

pro-fere,

no Instituto

de

Altos

Estudos Militares, a conferência

intitulada Capitalisno e Socialismo em am Mando J'i. Depois de

recotdar que até então havia sido possível implantar regimes socialìstas apenas em épocas de enfraquecimento dos países

capitalistas, como resultado das duas Guerras Mundiais, e

sem interfetência de exércitos esttangeitos apenas em países

muito

âtfasados, como a Rússia e a China, pergunta se, nâ

ausência de qualquer

nova

guerra,

o

capitalismo fr'carâ "ao abrigo de novas perdas de

territótio".

Entende o âutor havet dois perigos fundamentais

pan

o

sistema.

O

primeito,

referido na linha cla conferência cle 1947, serâ

o

das nacionaltzações, através das quais

pode-rá ir-se dando uma ttansfotmação. Mas

o

perigo

próximo

paï:'

o

sistema capitalista

viria

-

prossegue Teixeita

Ribei-ro -

da

"itreprimível

aspiração á prosperidade" clos países

pobres. Depois de durante séculos terem

vivido

conforma-dos com a sua pobreza, sentittm-se estimulados com o

co-nhecimento, atravês dos meios modetnos de comunicação social, da existência de bons níveis gerais de bem-estar nos países industtializados,

com

as promessas

de

otganismos

intetnacionais e ainda com os exemplos de alegado

cresci-mento

cla Rússia e da China, fortemente propagandeados

pelos particlos comunistas.

tsoLETrM rx aÊNctls tcoNtiurct's LIx (2016) 329-391 342 M^NUEL J,{crNTo NUNES, losÉ LUÍs cAtìDoso, MANULL LopL.s polLfc)

produção, e a forma de repartição, consoante o título,

traba-lho ou propriedade, por que se distribui o rendimenro. Na se-gunda obra, mas nã.o na primeira, refere ainda o móbil..Já nas

lições de 1958-59 distingue os sistemâs de acordo com os rrês

critérios apontados por Sombart) mas também aqui parece

re-velar-se alguma influência de Marx, na explicação do processo

de passagem de cada um dos sistemas p^r^ o seguinte.

Estava-se numa época em que se acentuava a

interven-ção

do

E,stado nâ âctividade económica, TaI intervenção já

ocotria

antes da Guerta, "orientando -a, conttolando-a,

su-prindo"

mas râramente "se frzera industrial ou comerciante". Só depois se acentuou a sua intervenção

por

estas formas, com as nacionalizações, tanto em países do Leste como,

em-bota

em

muito

menor medida, em países

do

Ocidente

eu-ropeu. Teixeira Ribeiro preocupa-se consequentemente por

analisar o significado das alterações havidas.

Podendo perguntar-se se teriam sido criadas assim

zo-nas de verdadeiro socialismo dentro das economias

capitalis-tas, argumenta no sentido negativo, dadas as indemnizações pagas aos

donos

anteriores das empresas nacionalizadas. Reconhece, contudo, poder tratar-se de um

primeiro

pâsso

pare-

o

socialismo, pela perda,

por

parte dos capitalisras, de

algumas das chaves do seu domínio político; perda essa que

será especialmente sensível sempre que cheguem ao poder

partidos socialistas.

Por outro lado, poderá perguntar-se se com a passagem

de sectores importantes para

o

domínio

do

Estado não se verifr,caria uma quebra

de

eficiência. Teixeira Ribeiro,

em-bota

preferindo

aguardar

"os

resultados

da

experiê flcia," ,

não deixa de

em nota

rebater

a

atgLtmentação tendente a

lnostrar a maior e ficiência por parte clas empresas privadas,

desde que o E,stado empresário seja comparado, como cleve,

(14)

344 ,vIANUEL I^crNTo NUNEs, X)sÉ LUÍs cArìDoso, MANUET_ LopES porì{)

lloLETtNt ot: ctÊNcttts r:coNoÌvtK:As Lrx (2ot6) 329-39)

A

saícla da pobreza não pocleria, todavia, cleixar cle re_ querer mediclas drásticas, tais como a restrição cle consumos

supérfluos, a rnobilização de rendimentos entesourados, em

especial através de impostos, a

reforma

agrária, a iniciativa

industrial

do

Estado

e a

subordinação a

um

plano global.

Mas

como

todas eias

põem em

causa em grande medida

interesses clo grancle capital, não admira que se fosse sen_

tindo

a necessidacle de uma via revolucionâtia

e

socialista,

cle pouco valendo, quando comparados

com

a

pobrcz,a, o

"sacrifício de valores humanos e as restrições à riberclacle,'

que

lhe

estariam ligados. Á. esta tazão actescenta Teixeira Ribeiro uma outra.

os

países subclesenvolviclos precisam de

ter um móbil, que mobilize as vonrades dos seus habitantes.

Ora,

o

móbil do

capitalismo pouco

diz

a quem não tem a percepção

do

que é a obtenção de lucros, aincla

por

cima acessível apenas a uns quantos.

Muito

mais clinamizador é o móbil do socialismo, cle satisfação das necessidades cle

to-dos, verdadeira "puissance de la pauvreté,,, na expressão cle François Perroux.

O interesse cle Teixeira Ribeiro pela problemática clos

sistemas económicos não faz esquecer,

no

entanto,

a

cla_ reza e a attumação

do

seu pensâmento em matérias finan_

ceiras e fiscais.

É

sobre essa importante faceta da sua obra, quer como professor, quer como legislador, que prossegue

esta apresentação sintética das principais linhas cle força clo

seu pensamento.

Nas lições de Finanças (1942) Teixeira Rrbeiro esclare_

ceu e divulgou importantes aspectos conjunturais da teoria e cla política económicas.

Em

especial, terá sido aí o primeiro

ou um dos primeiros lugares oncle no nosso país se ensinou a teoria e a política

keynssi*^r,

em especial o

'rultiplicacior

e a política clas clespesas públicas. Tratou-se desde

o

início

I,NSINO uNrvDRslrÁtuo o¡. ECoNoMl^ È I.IN^NÇAS 345

de uma exposição

muito

clara

e

crítica daquilo que l(eynçs havia introduzido, não deixando

por

exemplo de chamat a atenção par^ as cautelas

^

ter n^ aplicação cio modelo, desig-nadamente num país como o nosso, menos avançado e com muita depenclência clo exterior.

A.lém clesta temâtica, serão de referir as exposições

so-bre o direito orçamental, o peso e operações sobre a dívicla pública e a repartição clos impostos.

,\inda no

campo cla teoria e da

poiítica

coniunturais, teve iustificaclamente um impacto grande no nosso país um

curso de Introdação ao Estudo da Moeda, regido

em

1947-48

no

Centro c1e Estudos Económicos e Financeiros cla Asso-ciaçã.o Comercial c1o

Porto

e publicaclo impresso em 1949'

Em

boa parte serviu cle base â umas lições policopiadas de Economìa Política (3.o ano), ao curso de 1'962-63' Estas lições contêm a mais, além do clesenvolvimento cle alguns assuntos já versaclos, uma última parte sobre cométcio internacional.

Também estas lições constituem exposições magníf,cas, pela sistemztização

e

clateza com que são aptesentadas ma-térias complexas e consequentemente de

difícil

compreen-são. Pelo quaclro completo e coerente que é daclo clos me-canismos monetários, tanto nacionais como internacionais, são uma base segura cle entenclimento, talvez superior à cla generaiidacle clos

livros

de

texto

estfangeiros.

Em

especial

nas lições d,e 1962-63 não constituiu preocupação de Teixei-ra Ribeiro referir posições inovacioras mas ainda polémicas,

por

exemplo acerca

da

oferta de moe da ou dos fundamen-tos do comércio internacional. Tencl0 em conta a {ìnalidade

peclagógica clo texto, mas também em conformiclacle com a

sua maneira c1e ser,

preferiu

antes dar

um

enquaclramento seguro e coerente clos probletnas, poclenclo referir-se a este

propósito, mas a

título

de exemplo, a explicação dos

(15)

346 MANUEL IACrN't'o NUNES, losÉ LUís c^RDoso, MANUEL LopES poRTo

nismos de criação de moeda, a síntese das teorias monetária e teal sobre a taxa de

juro,

as exposições dos mecanismos via-preços de reequilíbrio da balança dos pagamentos e

ain-da

a

descrição esclarecedora das evoluções verificadas no sistema monetária internacional, designadamente face ao

dilema equilíbrio interno-equilíbrio externo.

A

este

último

propósito acrescentou Teixeira Ribeiro num pequeno artigo, Do Padrão-Ourl ã0 Fundo Monetário Internacional (1974), onde é perspectivada

a

evolução verificada

com a

suspensão cla convertibilidade do dólar, em Âgosto de 1971.

No

campo clo

direito

fiscal a influência cle Teixeira Ri-beiro excedeu em muito a resultante do seu ensino. Não quer

isto dizer que não tenha sido marcante também aqui, com a regência respectiva atribuída todos os anos, pelo menos num

semestre , entre 1935 e 1956. Nunca tedigiu lições, mas algu-mas das coligiclas

por

alunos

-

em

pâticular

as de 1951-52,

por

ele revistas

-

foram depois frequentemente utilizadas e referidas em lições e outras publicações posreriores.

Também

no

campo da jurisprudência crítica

foi

muito notóúa a sua actividade, distinguindo-se

logo

na década de

40 com alguns artigos sobre a sisa. Trata-se de

um

tipo

de

actividade depois regulatmente mântido, devendo

destacar--se, em anos mais fecentes, as anotações frequentes feitas na

Revista de Legislação e de Jarisprudência.

Mas sem dúvida o maior contributo de Teixeira fubeiro,

que

o

deixará,ligado para sempre ao

Direito

Fiscal

Portu-guês, consistiu na direcção de trabalho e na influência de-cisiva que teve

na

ampla reforma

do

sistema dos impostos directos dos anos 50-60'u.

10 De salientar taml¡ém

âs suâs conttibuições inovadoras no

domínio do direito constitucional fiscal.

BILETIM or clÊt'tct¡ts ECoNóMrcAS Ltx (201(r) 329-391

ENSTNo uNrvERSfrÁRro DE ECoNoMIA E FtN^NÇ^s 347

Começou

por

ser convidado para presidir a uma das

duas comissões criadas

por

Äguedo de

Oìiveiia, em

1951

(A Comissão de Estudo e,{perfeiçoamento do

Direito

Fis-cal), tendo sido depois convidado, em 1957, para presidir à Comissão da Reforma Fiscal, em que

Pinto

Barbosa deci-diu reunir as duas Comissões antetiotmente existentes. Data deste mesmo ano um telatório de Teixeira Ribeito

apresen-tado ao

lI

Congresso dos Economistas Portugueses, sobre

Indastrialiqação e Política Fiscal (1957),

onde

são defendiclas muitas posições que clepois vieram a ser inttoduzidas

n

re-forma

â que começava a proceder-se.

se revelava iâ, de

facto, mais do que o Ptesidente de uma Comissão, o verda-deiro inspitaðor da Reforma Fiscal.

Do

ttabalho

eficiente desenvolvido

vietam

a

resultar

sete projectos de cliploma que cleram lugar aos Códigos da Sisa e do

Imposto

sobre Sucessões e Doações, do Imposto Profissional,

do

Imposto

de Capitais, da

Contibuição

In-dustrial, da Contribuição Predial e

Imposto

sobre a

Indús-tria Agrícola,

do Imposto

Complementar e do

Imposto

de

Mais-Vaiias, publicados entre Novembro de 1959 eJunho de 1965. Além destes sete proiectos a Comissão elaborou ainda um outro, daquilo que deveria ser o Diploma Complemerìtar

cla Reforma Fiscal, contendo algumas disposições não inse-ridas nos diversos Códigos (RInntno, 1'965-6).

Julgou

a

Comissão

não

ser ocasião

pan

altetar

a

es-trutura que vinha de uás, com vários impostos parcelares e

um

imposto complementar recaindo sobre toclos os

rendi-mentos

sujeitos aos impostos parcelares.

Em

contrapo-sição às vantagens de adequação à situação global das

pes-soas, simplicidade e clareza de

um

imposto

único

sobte o

rendimento, pareceu terem ainda maior peso as vantagens

do

sistema já existente, proporcionando a possibilidacle de

(16)

f,NSf NO UNlVrlRSlrÁlUo DE I,CONON4IA E FINANÇÀS 349

cóciigos, a maior pafte cìelas por ele escritas ou influenciaclas,

e aincla por exemplo cla oração de sapiênci a

A

Reþrtna F-i'rca/,

proferida na abertuta solene da Universidade de Coimbra

em20 de

Outubto

de 1965, e das várias edições clas liçöes de Finanças. Todas elas constituem em si uma defesa, bem convincente, mostrando as razões

do

que havia sido feito.

Mas teve depois intervenções particulatmente expressivas, atz¡c ndo clesvirtuamentos que, entretanto, foram sendo pra-ticados. Assim aconteceu em

A

Contra-Reforna Fiscal (1,969)

e

no

artigo do ano seguinte sobrc As Alteraçoes ao Código do

Imþosto Prof,.rsiona/ - Mais Asþectos da Contra-Reþrma (1970).

No

primeiro

ciestes trabalhos refere, além da não

aclequa-ção dos serviços aclministrativos a uma aplicação correcta da reforma

-

tratou-se cla contra-reforma administrativa

-

a alteração do equilíbrio e da hierarquia geral clas tâxas, resul-tante de modi{ìcações introcluziclas no sistema clos impostos locais, a suspensão da execução clo

Imposto

sobre a Inclírs-tria -A.grícola e a aclmissão da possibilidacle de não se tributar o rendimento real efectivo a um contribuinte do grupo

A

da

Contdbuição

lndusttial,

apenas

por

havet

"dúvida

fundacla sobre se

o

resultado da esctita corresponde ou não à teali-dade".

No

segundo artigo verbera a penalização áa acumu-lação de rendimentos do ttabalho, a tedução do valor presu-miclo como remuneração do trabalho cle administtaclores ou gerentes de empresas próprias e,

por

frm, a transformação

clo imposto de degressivo em progressivo, com taxas

poclen-do ultrapassat as de impostos sobte rendimentos funclaclos,

mais uma vez zo arrepio cia coerência que se prctendeu clar

ao conjunto do sistema {rscal.

uoLETiltr DF. CIÊNCIAS tCrtNCitvttc¡s Llx (20 1 (r) 329-39 1

348 M^NU[,I l^(]tNto NUNES, josÉ luÍs c¡lrDoso, lvrANUrL LoIES poRt.o

ßoLF.i rM or ctÊNrt¡ts [coNóivrcAs Ltx (2ot 6) :329.39:l

clistinguir consoante a origem dos r:enclimentos e a obtenção

de

um

maior volume cle receitas. Pesaram, pois, razões ds

tealismo, que aconselharam a que não se fosse também para

a utilização cle

um

conhecimento único. Mesmo a aclopção

de

um

úrnico código, contendo os cliferentes impostos,

foi

julgaclo dever seguir-se à "execução da reforma de cacla um

clos impostos, a

fìm

de se pocler

ouvir

e

^catz;r as lições cla

experiência" (1965-6, loc. cit.).

Onde

a

teforma

apresentou

um

avanço substancial,

além de aperfeiçoamentos cle sistematização e técnicos cle vária orclem,

foi

na melhor cle finição e delimitação cla base

tributável e na tributação clo renclimento reai efectivo: o que

veio

permitir

que

o

nosso sistema fiscai se tornasse menos arbitrârio, mais pessoals,zado e mais sensível às alterações cle

conjuntura, vantagens estas que lhe pareceu ultrapassarem clecisivamente a única vantagem clara

do

sistema anterior,

de ser mais simples e consequentemente de aplicação me-nos custosa. Uma outra vantagem geralmente atribuída (por exemplo por Einaudi) à tributação clo rendimento normal, a vantagem cle incentivar

o

aumento cle eficiência, através da

proclÌra de se exceder

o

que está atribuído

por

critérios cle normaliclade, fota decisivamente posta em causa por Teixeira

Ribeiro no jâ refeúdo reiatório Industrialilação e Pr¡lítica f-iscal

(1957), chamando a atenção para que uma menor eficiência poclerá resultar antes cle uma climinuição da capaciclacle

pro-clutiva, que os produtores poclerão

fugir

cle aumentar, com teceio de não atingirem

o

rendimento normal que

por

isso passa a ser-lhcs atribuício.

-Além cla influência que se sabe

ter

tido

em toda esta

reforma, Teixeira

Ribeiro

clistinguiu-se explicando-a

e

de-fenclendo-a.

Äs

explicações clos motivos cle cacla imposto

(17)

350 M^NUEL J^crNt'o NUNES, losÉ LUÍs cAllDOSo, MANUËL LOIES poRt.o

2.

Factldade

de

Direito

da Universidade de

Lisboa

2.1. De

Albino

Vieita da Rocha a Atmindo Monteiro

O início de leccionação da cadeira de Economia políti_

ca na recém-cúa"da Faculdade de

Direito

de Lisboa (FDUL)

ocorreu

no

ano

lectivo

1913/14, sob

a

responsabilidade

de

Âlbino

Vieira

da Rocha.

,\

regência fi,carâ

a

seu cargo até 1934/35, com breves intermitências decorrentes da sua

ocupação

de

cargos públìcos. C)s mareriais pedagógicos e sumários manuscritos que assinalam a sua presença não são

teveladores de particular originalidade, norando-se alguma

similitude

com os

programas congéneres

da

FDUC e

da Faculdacle de Ciências cla Universidade de Lisboa.

-{

opção

era, claramente,

por

Linhas ptogramâticâs em que impera-vam elementos históricos e descritivos da economia

portu-guesa, com algum destaque para o estuclo das instituições de

âmbito jurídico.

Durante os períodos de interrupção de actividade do-cente de Vieira da Rocha, a regência

da

cadeira de

Econo-mia Política

foi

assegurada

por

Fernando trmygdio da Silva,

Abel de Andrade e

Armindo

Monteiro.

A

esre

último

coube

maior interesse e dedicação na esrruturaçã.o da discipìina e na compendiação dos respectivos conteúdosr1.

Atmindo

Monteiro

foi

o primeiro

cloutorado pela

Fa-culdade de

Direito

de Lisboa, em 1921, com uma dissertação que constitui o 1." volume da sua obra O Orçamento Português.

11 Armindo Monteiro

rege a segunda parte clo ano lectivo de 1922/23, o ano seguinte e 1926/27.

BOr,ETilvr DE C|Ê.NCIAS ECONOMTCAS LrX (2O16) 329_391

ENSTNo uNIVLIìslrÁnlo nl, ËcoNoMl^ E FIN^Nç^s 35 I

O

volume (1922) é a sua dissertação pata assistente da

Faculdade.

O Orçømento Portaguês é um estudo onde se coniugam os

aspectos históricos, económicos, iurídicos e políticos dos fe-nómenos {inanceiros.

Â

parte económica, ainda que com bi-bltografr,a actuahzaàa, é menos aprofundada, dados os obiec-tivos que o autor tinha em vista e a sua formação específica'

F,m 1,923 publica,

um

Ensaio de am Curso de Economia

Política, que corfesponde

à

ûm

parte das matérias

por

si

leccionadas na tespectiva disciplina. Este

Envio

consta

ape-nas da inttodução, com a de{inição dos conceitos básicos da

metodologia e da demografia. Nas suas aulas ocupava-se de

outras mâtériâs tais como o Estado, as instituições sociais e o panorama histórico das doutrinas económicas.

O Ensaio era a primeirapane de um curso getal onde se

ptopunha

incluir

uma introdução, com a definição de

eco-nomia e os aspectos metodológicos, a que se seguiriam as

clássicas quatro pârtes - ptodução, circulação, distribuição e consumo - embora considerasse que â citculação não devia set incluída no estudo da economia.

De

L928

a

1.950,\rmindo Monteiro

permanece

afas-tado

do

ensino. Desempenha sucessivamente os cargos de

Director

Geral da Estatística (L928), Subsecretário de Esta-do das Finanças (1,930-31),Ministto das Colónias (1931-35)'

Ministro

dos Negócios Estrangeiros (1935-36) e

Embaixa-dor em Londres (1'936-1943).

Sete anos depois de deixar a Embaixada em Londres regressâ à Faculdade de

Direito,

oncle ensina de novo Eco-nomia Política de 1950 a 1'953.

Em

1952publica um Curso de Economia Política, onde

tra-ta dos problemas da moeda, mercados e preços, numa óptica da repartição cle rendimentos. Tem já elementos da escola

(18)

352 MÀNUEL )ACrNTo NUNES, losÉ LUís cARDoso, M^Nurl Lot,ES poRro

tloLtlr^t nr. aÊNct¡s tc:oNótvt¡cls Ltx (2ol6t 329.391

neoclássica e da teoria keynesiana'2, mas nem sempïe há uma distinção clara entre aparte teórica e a.parte doutrinária. Nos

últimos anos ocupa-se também cie Marx.

O

seu ideal para a economia era â autarcia, em comple_

mentaridade com as colónias. Defendia um intervencionismo moderaclo do Estado, a quem attlbuía somente funções suple_

tivas da iniciativa privada, não tendo sido nunca um doutrina_

dor do corporativismo, receando, porvenfura, o seu demasia_ clo intervencionismo.

No

domínio das Finanças Públicas, dentro da ortodoxia

monetária e ß.nanceia. defendia cortes clrásticos nas despesas

públicas, aumento da tributação inditecta,

o

equiJíbrio orça_

mental e a estabilidacle monetária.

12

António

L.

Sousa FntNco

(1986) considera Arminclo Monteiro

"o

nosso primeiro bom conhecedor de l(eynes,'.

Se-gunclo Sousa Franco, os alunos clo curso complementar (criado na Faculdade de Direito em 1945) "tiveram desde logo um l¡om

âcesso a I(eynss" (p. 63). Fernando Antú1o (200I), defende que é "a Ru1. Ulrich que devemos a primeira referência lectiva à

Teo-tia Geral e não a Arminclo Nlonteiro como tem sido aventado,'

(p. 86), por enrencler que à conjecrura "sobre a possibilidade c1e

(-Armindo Monteiro) ter leccionado alguns rudimentos cla Tcotia

Geral em 1944/45" se contrapõe "a anteïioridacle da sebenta de Ru1, 1-11.i.1r de 1942/43 onde há refcrência à traclução francesa cl¿

Teoria Geral". Acrescenta Araújo que) se Arminclo Monteiro fez

referência no seu ensino à Teoria Gerai cle I(e1rnss, não

foi

no curso complementar de 1944/45, porquc tal curso nesse ano foi regido por Ruy Ulrich. E vimos jâ atrâs, em 1..2, a consicleração

clacla por JJ. Teixeira Ribeiro nas lições dc Finanças cle 1942 a

íìspcctos cla tcorin c. cla polírica l<e1'ncsilnrs.

ÈNSrNo uNrv[,rìsrrÁRro DE ECoNoMTA E rrNANÇAs 353

2.2. De Ruy ULrich aJoão Lumbtales

A.

partir

do ano de 1936 e até 1950, a regência da

dis-ciplina de Economia Política

na

FDUL

esteve

a

cargo de

Ruy Ennes Ultich. Apesar de ter ocorrido numa idacle tarclia (aos 53 anos), não

foi

tal motivo que o impecliu de procluzir extensa bibliografla de suporte aos cursos que leccionou ao

longo do período referido.

Äpós

o

seu abandono da F'DUC

em

1910

por

razões

a que atrás já aludimos, Ruy

Ulrich

foi

teintegraclo na mes-ma Llnivetsidade de Coimbta, em 1,936, pedindo então a sua

transferênciapan a

FDIJI-,

onde se mantém durante cator-ze anos, acumulando

o

ensino da Economia Política com a

Direcção cla Faculdade. Segue a metodologia que âcloptou nos três anos que ensinou em Coimbta, ou seja, uma

estru-tura patcelat, dancìo em cacla âno uma parte

do

programa geral que tinha a estrutura clássica de divisão em Produção, Circulação, Repartição e Consumo'3.

A

orientação do seu ensino segue uma

niz

francófona,

não parecenclo ter sido muito influenciado pelos autores

an-glo-saxónicos'a. Só

^

prtir

de 1,944 começam a ^p^recer n bibliogra{ìa mais autores ingleses.

13 Sobte estas matérias publica inírmetas 'sebentas': Intro dução, Circulação e Moeda; História das Douttinas, Cit:culação e

Moecla; Histótia das Doutrinas, Nloeda e Créclito; Os TranspoTtes;

Economia Política, Repartição, Propriedade, Renda e Juro;

Eco-nomia Política, Consumo; Economia Política, Comércio; llcono

mia Política, a Produção; llconomia Política, o Lucto. la Cf.,\ti.,tú.¡o (2001: B0).

(19)

354 rvrA.NUEL J^crNTO NUNÈs, ¡osÉ r.uís cAnDoso, M^NUEL LopES poltro

Ä par da visão clássica expunha nas suas lições aspectos

da economia neoclássica, que repudiava, nomeadamente no tocante à distribuição. Nas últimas lições hâ

referëncias à economia keynesiana, que rejeitava, senclo, toclavia, as suas críticas mais severas cledicadas ao marxismo.

Publicou durante a sua docência na Faculdade de

Direi-to

de Lisboa vátios estudos de economia aplicada,

clesigna-damente na Reaista do Centro de Esrudos E conómicos do

lnstituto

Nacional de Estatística, a partir de 1944, centro de que Ruy

Ulrich foi

o primeiro Presidente do Conselho Orientador.

Fez igualmente inúmeras comunicações à Academìa clas Ciôncias, designadamente os perfis de várias personalidades, entre as quais se salienta o que traçou de Oliveira Martins.

Terminou a sua catteita docente em 1950, ano em que é nomeado, pela seguncla vez) Embaixador em Londres onde permanece até atingk o

limite

de iclade em 1953.

Jâ atrâs indicámos que coube a A.rmindo Monteiro a ta-refa de substituir Ruy

Ulrich

em 1950, mantenclo-se em tais

funções

^té 1953.

Nos

dois anos seguintes, caberia a Pedro

Soares Martinez a função transitória de regência, até ao fr.nal

do ano lectivo de 1954/55.

A

partir desta c1ata, e

ininterrup-tamente até ao ano lectivo 1968/69, a regência clas cadeiras

da ârea económica passa

a

ser asseguracla

por

João Pinto

cla Costa

Leite

(Lumbrales).

Ao

regressar às actividacles de

ensino

-

gue, à semelhança de Ruy

Ulrich

também tniciara em Coimbra, no início da década de 1930 - João Lumbrales

punha

fim

a uma longa e influente caneira cle mais de vinte

anos (1934

a

1955) como membro de sucessivos governos de Salazar.

Os anos de 1934

a

L955 corìstituem, com efeito, uma

importante

etapa da sua carreira pública, consubstanciada

numa relevante acção governativa, primeiro como

Subsecre-uoLETrM o¡ clÉ,vcr¡ls ecoNótvnt:¡s Ltx (20 | 6) 329.39 I

ENSTNO uNrveRstrÁnro ¡r ECONolvltA È FIN^NÇAs 355

tário

de Estado das Finanças, e depois

como.Ministro

cias

Finanças e

Ministro

cla Ptesidência.

Confotme

atrás se

indicou,

em

1956 João

Pinto

cla Costa

Leite

(Lumbrales)

volta

ao ensino da economia

po-líttca na

Faculdade

de

Direito

de Lisboa, pedindo

a

sua

transferência da Univetsidade de Coimbra. Rege

a

cadeita

de 1955 / 56 a 1968

/

69."

É

evidente

o

seu esfotço

de

actualização que se pode

comprovar pela diferença das

lições

que

profete

no

pri-meiro

ano da tegência da cadeita

em

1'955/56 e as lições

que publica

em

1963

e

1966. Nestas aparecem atenuados

o

eclectismo, a não diferenciação entre os aspectos

teóri-cos e clouttinários, e

o

peso de elementos clescritivos que cttacterizavam os seus anteriores trabalhos. Mantém a sua

recusa pelo formalismo matemático, mas

mostn

aceitação de muitas das concepções clos neoclássicos, e expõe já as ideias daTeoria Geral de I(eynes, os conceitos de

rendimen-to

nacional e os probiemas

do

crescimento e do

desenvol-vimento das economias.

Suportam ainda

o

esforço de reinserção de Lumbrales

no

ensino na Universidade, as reflexões que faz,

em

1959, sobre

A

Crise Actua/ do Pensamento Económico, lluma

comuni-cação à Classe de Letras da Acaclemia das Ciências e um

lon-go artigo

intitulado

O Lugar das Ciências I\conónticas no Ensino

do Direito onde entende que tem climinuíclo a importância do ensino das ciências económicas nas Faculdades de Direito.

Dado

o

prestígio

e a

relevância

na

cultura

e

na vida nacional que tal ensino proporcionou aos que frecluenta'ram

as Faculclades de

Diteito,

apela para atribuir maior papel ao

ensino das matérias económicas

no

curriculum do curso cle

Direito.

F, faz algumas Propostas nesse sentido. Reconhece,

15 Cf. BlsrtrN (2001)

(20)

356 M^NUEL l^crNt'o NUNES, losÉ LUís cARDoso, M^NUEL LOIES poRto

ßoLETI^4 Dt: CIL.NCIt\S ECONONIICAS Ltx (2O16) 329.39t

toclavia, que a existência de instituições de ensino superiot de economia não pode deixar de ser levada em conta nessa

revisão._De certa forma, Lumbrales reconhece aqui explici-tamente

o

cfescente protagonismo exelcido pelo

ISCEF

a

p^rtir

do início cla décacla de 1950, como veremos em breve.

,\pós a sua saída da

FDUL,

em 1969, Lumbrales é

subs-tittrído

por

Pedro Soares }daftínez,, dando-se assim

início

a

um novo ciclo de desenvolvimento clo grupo de ciências

ju-ríclico-económicas, que

vida

ainda a contar com a

colabora-ção, entre outros, cle Paulo Pitta e Cunha,

António L.

Sousa

Franco e Alberto Xavier.

3.

Contribuição doutrinal

das Faculdades de

Direito:

a

economia do

corporativismo

Olhanclo retrospectivamente e em conjunto para a

pro-dução

analítica

e

cloutrinal clos principais professores cle economia e finanças clas Faculdade de

Direito

cle Coimbra

e

Lisboa, verifrcamos que

um

dos mais férteis

e

originais terrenos cle abordagem de temas relacionados com a orclem económica e social é, sem dúvida, o da economia do

corpo-rativismo'6. Justifìca-se,

por

conseguinte, uma breve

exposi-ção complementar sobre este significativo legaclo intelectual.

Para os seus principais mentores e ideólogos, a

organi-zaçã.o corporativa cleveria consubstanciar objectivos cle

equi-líbrio

e harmonia social, confìanclo-se ao Estaclo

um

papel

16 Cf. sc¡bretudo António Oliveira

Salazar (1933), Marcello

(laetano (1935, 1938, 1946

e

1950), João Pinto cla Costa Leite

(Lumbtalcs) (1936), Peclro Teotónio Pereira (1937), Tcixcira

Ri-beiro (1938, 1939 e 1945) eJosé Pires (lardoso (1949 e 1950).

ÈrNSrNo uNrv[,rìsrfÁRlo DI] ECoNOMIA It IìrN^NÇ^s 357

primordial na liclerança cle toclo o processo, tendo em vista

um

efectivo

conttolo

cla vida económica e social da nação.

Assim, a institucionalização clo Estado

Novo -mediante

a aprovação

de uma

série coerente

de

documentos progra-máticos orientadotes da vida económica, social e política

-respeitou a essência da

doutrina

corporativista baseacla na

submissão do inclivíduo aos interesses superiores da nação e na defesa da sua permanente integridacle moral e espirituâI,

tenc{o em vista os supremos interesses da salvaguarda da

or-dem e da estabilidade social. Ouçamos a este propósito as palavras cle Salazat:

"A ctise c1e clue sofremos rtai certamcnte pâssar, mâs o

es-sencial é sabcr se a cloença cluc infecciona a econotnia clas socieclades mociernas não será finalmente atacada, porqLÌe, se se está fazendo aos flossos olhos o processo cla democracia e c1o inclivicluaìismo, o processo c1¿ economia materiâlista, csse

está feito: toclos r.emos que falìu. Ilstá-nos portanto vecla-do este caminho, e eu não veio outro que não seia sr"rbstituir

os graves erros que têm viciaclo a r.isão clos conclutclres de

homens no Nlunclo,

pot

conceitos equilibtaclos, iustos, hu mânos, clc riqueza, cle trabalho, cle família, cle associação, c1e

Estado" (SÀL,\Zi\R, 1933: 8).

A criação de corporações vinha ao encontro de uma 1ó-gica cle organização económica e social em que a tealização

clo interesse getal era previamente mecliacla pela obtenção cle uma harmonia dos interesses clos diferentes agentes e

gru-pos de aÉìentes que operam num mercaclo superiormente tu-telado pelo Estado.

A

fixação clos preços, a entracla de novas

firmas no metcado, a regulação das condições de trabalho, a cleterminação de níveis salariais, a análise clos custos de

pto-dução e, de

um

modo geral, todas as operações de cálculo

económico que, num regime c1e

livte

concorrência, consti-tuem procedimentos elementares clas escolhas contingentes

num quadro cle escass ez de tecutsos clisponíveis

-

isto

é, o

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