Boletim
de
Ciências Económicas
Início da publicação: Abdl de 1952
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Faculdade de Direito da Universiclade de Coimbra
http: / /www.uc.pt/fduc
Edição:
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra I Instituto Jurídico
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VOLUME LIX
2016
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ARTIGOS
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FTZI, Can Thel Iniilan a Nez Roand of P'e'fòrns ia China? '.... 9
F¡,¡ro I(oNoaR Cortp,tn \r 6
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A
releuância da aaturela docri
tlito detitlo pelo cliente de arua ittsrituição baucáia ofuelo de uma nerlirla de reso/øçã0. Ntitula a þroþósito do caso BEJ'
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dedutibilidade dos gasto'r' a ruantttençãotla fonÍe þrotlatota e a aualiøção Íentþoral das decisões de f'nan-ciantenlo. (Jrua þer.þetiua /ì.rcal' a þroþósito do reqøisito da
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Do intþa.rse ¡.to ¡isÍetna eurnþet r/e sega-ra de deþósitos...LuÍs Prnno CuNrr¡
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GATT', GAj-.ç e seruiços /ìnanceiros: O caminho þerconido ...RECENSÕES
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-
Pen'ões: Restaarar o conhøto .rocia/ pararecon-ci/iar as geruções (Nlaria Nlargarida Corrêa de Aguiar) ...
393
433
465
Jcxcn NuNrs
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Deua/uittg to prosþeri4,: Misaligned Cttr_rencie.ç and Their Growth Conseqtences (Surjit S. Bhalla)
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J'ing/e Xl[arkets: Econo_nic Integation in Etmþe and the Unind Stans Ql,[tchelhep.
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ELEMENTOS
PARA
A HISTÓRIA
DO
ENSINO UNIVERSITÁRIO
DE ECONOMIA
E
FINANÇAS
(l9r
r-r974)
Ptocura-se neste artigo fazet um balanço do ensino de
matérias económicas
e
financeirasem Pottugal
clurante operíodo compteendiclo entre 1911 e 1974.'Tal balanço
cen-tra-se nas experiências desenvolvidas nas instituições
univer-sitátias que mais contribuíram p^1;^ a formação neste cìomínio clo saber, nomeadamente, a Faculdacle de
Direito
<1aUniver-sidade de Coimbra, a Faculdade de
Diteito
cla Universidade de Lisboa eo
Instituto
Superior de Ciências Económicas e Financeiras da Universidade Técnica de Lisboa.Não se pretende procecler a uma descrição exaustiva de
currículos leccionados, nem a uma apreciação sistemática clas
sucessivas reformas que foram assinalando a evolução do
en-sino naquelas instituições'.
A
nossa opçãofoi
a cle privilegiat lQucremos aqui deixar um testemunho da maiot admiração peio Professor Manuel Jacinto Nunes, com â honra de o termosticlo como co âutor deste texto, que declicamos à sua memória
(LC
e MLP).2
Para o período 1911,-1967 , veja-sc o útil roteiro de PoRtt l-,t (1967); veja-se também An,rú1o (2001).
330 MANUEL lACrNt'o NUNrs, losÉ LUís cARDoso, MANUEL LopËs poRTo
as marcas cleixadas pelos autores que mais directamente
pro-tagonizaram os avanços ao nível do ensino e da investigação em ciências económicas e financeiras no nosso país, ao lon-go do período aqui considerado.
l.Faculdade
deDireito
daUniversidade
deCoimbra
1,1. Marnoco e Sousa e seguidotes
Iniciado em 1836, o ensino de economia política na Fa-culclade cle
Direito
da Universidade de Coimbra (trDUC)foi
até frnais do século
XIX
marcado pelo magistério de ¿\dtião Forjaz de Sampaio. Os sucessivos compêndios de sua âuto-ria' só vitiam a ter substituto ou alternativa credível a parttt dadécada de 1880, com a publicação do manual de José Frede-rico LnnrrNlo (1891).
Dz
acçã,o pedagógica realtzadapor
estes dois autores cleverá reter-sea
formz como concebiamo
ensino daeco-nomia política pata futuros jutistas e potenciais membros da
administração pública e cle organismos
do
poder legislativo, executivo ou judicial. O seu testemunho acerca da utilidade daeconomia política pzre. o fortalecimento de cliversos ramos do
direito
foi
continuado por J. F. Marnoco e Sousa, sem dúviclao âutor que, após o longo professorado de Adrião Forjaz de
Sampaio, mais contribuiu para a ñxtçã"o clo âmbito e dos
limi-tes dos estudos económicos na FDUC. Vejamos a mensâgem que nos deixou, a ptopósito da simbiose entre estudos econó-micos e jurídicos:
3
A.s suas principais lições estão reunidasem
S-tll,¡,ro(183e-187 4).
BOLETIM DF, CIENCIAS ECONOMICAS LIX (20I6) 329-39I
ENSTNo uNrv[,RsrrÁnro oe ECoNoMTA E ITNANCAS 331
"Hâ a mais íntima relação entre â economia políuca e o direito.
Como cada relação económica reveste formas jurídicas, todas
as grandes teorias do direito, pnncipalmente do direito privado, têm um conteúdo económico. Todos os povos, num certo grau
de civitzação, precisam de um sistema jurídico para regolat a
sua actividade económica. E assim cada instituição económica
pode considerâr-se, sob um certo âspecto, como uma
institui-ção jurídica. Não deve admsrar, por isso, que fiequentemente sejam as teorias económicas que renovem as teorias jurídrcas
(.
.). A tenovação por que está passando o clireito privado nãoé mais do que umâ consequência da infiltração das novas teo-rias económicas no velho organismo jurídico. Reconheceu-se que o direito não poderia dekar de atender às novas condições
assumidas pela propriedade, pelo trabalho, pelo crédito e pela
circulação, a fim de corresponder às exigências das sociedades
modernas" (Sousa, 1917 : 65-6).
Este excerto transmite duas ideias interligadas: a vida económica e social está na origem cle determinadas relações
juddicas que compete ao cliteito conceber e enquadtar com recurso às suas categorias analíticas próprias;
por
sua vez, a economia política tratz de matérias e problemas queapon-T^m
^o
direito
qual a missão que se espera das instituiçõespor ele reguladas.
Estas ideias constituíram prédica constante ao longo do magistério de J.
tr
Matnoco e Sousa. Apesar de a sua acçã,o de ensinoter
sido bastante mais curtado
que a de,\drião
troqaz de Sampaio, devido a morte precoce aos 46 anos de
idade, sobrou-lhe tempo
parapublicar
diversos manuaissobre as difetentes matérias ensinadas
no
curso de direito, designadamente,diteito
eclesiástico,direito
público, direitocomercial,
história
do
clireito, administração colonial,eco-nomia política e fìnanças públicas.
Em
todos estes campos desenvolveu papel âctivo, promovendo â respectiva reorga-nização curricular.E
se é certo quefoi
no domínio doensi-no cla economia política que a sua acção teve mais impacto,
332 M^.NUEL l^crNTo NUNES, josr't LUís cAt{-Doso, M^NUEL LopES poRlo
é funclamental ter presente a sua visão integral e integradora da formação cle juristas, tendo em atenção alguns elementos
cle enquadramento funclamentaisu.
Em
ptimeito
lugar, a ideia de que os fenómenosjurídi-cos são fenómenos sociais que podem ser objecto de uma abordagem positiva, tal como ocoïre no âmbito das ciências
naturais; ou seja, que é possível estabelecer relações de causa
e efeito e enunciar leis que traduzem regularidades observá-veis.
Em
segundo lugar, o princípio de que^ n^tu.rez^ social dos fenómenos jurídicos obriga âo seu estuclo na perspecti-va mais ampla clas características do tecido social e clas ne-cessidades associadas à sua manutenção
ou
transformação; ou seja, que o estuclo do direito cleve ser entendido enquanto parte integrante clo estudo da sociedacle.Em
terceiro lugar,a defesa da economia como a ciência social especificamente
capacitada p^r^ 2L compreensão clo funcionamento clos
regi-mes jurídicos das sociedades moclernas, nomeadamerite no que se refere ao estudo dos sistemas cle propriedade,
ftaba-lho, capital, crédito, circulação, tributação, etc.
Face
a
este ambicioso programade
acção, torna-se compreensível a amplitude das leituras e referênciasbiblio-gtâficas de que Matnoco e Sousa se socorre.
Ao
percorrer-mos os seus manuais cle economia constatamos que o esfor-ço compendiador o obrigou a um inventârio actualizaclo clas obras procluzidas em diferentes países europeus.a Para um enquadrâmento clo pensamento económico
de Marnoco e Sousa, cf. BnrrNnÀo (1,997). Refira-se que o prestígio do ¿utor em muito ultrapassou os muros cla Universidade, vindo a
exercer um importante trabalho de renor.ação urbanística na cicla-cle de Coimbra durante o período em que clcsempenhou funções de Presidente cleste município.
BoLETtNr o¿ ctÊNcttts rtttNtittl]Jctts Lrx (20r6) 329-39I
LNsrNo uNr\¡ERsrrÁluo DE ECONorvuA. E FIN^NÇAS 333
O
enciclopeclismo ecléctico cleMarnoco e
Sousator-nou
pof
vezes o seu vasto arquivo cle autotes num coniuntode
refetênciasde
autoridade cli{ìcilmente compâtíveisen-tre si. Contudo,
foi
patenteo
esforçodo
autor em orientar os leitoresnum
quadro amplo e pluridisciplinar em que ostemas económicos
e
jurídicos se defrnem através de refe-renciaisde
carâcterhistórico e
sociológico. Parz além dosobjectivos pedagógicos de largo espectro, Marnoco e Sousa
visava também encaminhar os seus leitores pæa o
teconhe-cimento dos inconvenientes dos sistemas políticos e econó-micos baseados no indivicluaLismo e no socialismo, optando pela interméclia solução de
um
"socialismo de cátedra" em queo
Estado deveda ser chamado a desempenhar funções intransmissíveis,enquaîto
g
rante da harmonia edo
bem--estar social.O triunfo
clesta visão dos problemas económicos eso-ciais que se
impôs como
modelotriunfante
de ensino naFaculdade
de
Diteito
da Universidaclede Coimbra só foi
possível graças à extrema fragilidade
do
discurso económi-co teórico e analítico no nosso país. Os ecos da "revolução marginalistl;-" e da economia neoclássica não passavam denotícias simpJificadas sobte avanços mal compreendiclos da
teoria. A. etudição de Marnoco e Sousa, que sabia identificar
e
reconhecer as inovações introduzidascom
â descobertado princípio
da utilidade marginal clecrescente, bem comoos respectivos protagonistas e attífrces, nã.o era
por
si sósu-ficiente parâ que
o
seu nome pudesse ser associado a essa nova torrente que conduzia a ciência económica pata vias deanálise nunca dantes exploradas.
O
distanciamento crítico que Marnoco e Sousa mante-ve em relação aos conceitos, mocielos e instrumentoscarac-terísticos
do
paradigma neoclássicofuncionou como
umâ334 MANUEL lActNTo NUNEs, losÉ LUÍs cAl{Doso, MANUEL LOIES poRfo
espécie de caução
ou
certificaçãoda
tralectóriado
pensa-mento económico português
por
vias predominantementedoutrinais e políticas, evitando os rerrenos áridos da análise
teóúca e abstracta. Sem dúvida que para a definição desse
percurso
muito
contribuiu o ambiente institucional em que,nesta fase, a ciência da economia política pôde ser cultivada e acarinhada.
O
enquadtamentojurídico
concedido
ao
estudo daeconomia política continuou a vigotar nos únicos locais de
culto
universitário desta ciência,ou
seja,na
Faculdade cleDireito
da Universidade de Coimbra e na jovem Faculcladede
Direito
da Universidade de Lisboa,formalmente
criada em 1913. Pata a compreensão da imponäncia que osvíncu-los jurídicos da economia política mantivetam em Portugal deverá atender-se
ao
facto de terem sido os juristasfotma-dos pela Universidade de Coimbra (e tambêm de Lisboa, a
pattr
de 191,3) que fotam chamados â exercer, no quadro daadministração e do governo, papéis em que
o
conhecimen-to cla economia política represeritâva poderoso instrumento
auxiliar pana. o cumprime n
to
efr,caz da sua missão. Só a partirdos inícios dz década de 1940, e especialmente após a
rcfot-ma cutricular que ocorreu no
Instituto
Superior de CiênciasEconómicas
e
Financeirasem
1949,é
queâ
formação deuma expertis¿ económica passou a ser matéria que exorbitou a competência atê então detida em exclusivo pelas
Faculda-des de Direitos.
Do
que atrás se clisse resultz claro o papel ímpardesem-penhado por Marnoco e Sousa na consolidação do presrígio
da
cadefua de Economia Políticana
formaçã.o dos juristas oriundos da mais antiga escola deDireito
do país.s Sobre esta matériâ cf. NuN¡s (1968)
BoLETnvr DE ctÊ.Nct¡s rcoNtiu¡c,ts Lrx (20r6) 329.391
ENSTNo uNrvERSrrÁRlo Dl ÈcoNoMI^ E FINANÇ^s 335
O lugar de relevo ocupado pelos licenciados da
FDUC
em
diversas instânciasdo
poder
mostravâ que essa era aprincipal
fonte
de recrutamento da elite dirigente, designa-damente nas áteas económicas e financeiras.O
caso de An-tónio de Oliveira Salazar,com uma inicial actividade docente como professor de economia política e de f,nanças públicas, serve como ilustração simbólica de tal asserção.Foi
OliveitaSalazar quem sucedeu a Marnoco e Sousana
câtedra de Economia Política,^
p^rtir
de
1'91'7 .Yiria
apermanecer neste cârgo até
à
sua nomeação comoMinis-tro
das Fìnançasem
1.928. Todavia,o
prestígio granjeaclopela publicação de importantes textos de análise económica
e
frnanceitano
início
da sua carreita" não viria a conhecer idêntica projecçãono
plano cla inovaçãodo
ensino claeco-nomia política.
As
suas sebentas âcentuam as característicasde um ensino de índole aplicada, com tenclência pata cait na
economia descritiva, embora desse a conhecer aos seus alunos os autores marginalistas cla "escola matemâticâ" que eram por
ele criticados. Tinha um conhecimento âbrangente das escolas
clássica, historicista,
masista
e neoclássicâ, mas privilegiavaos clássicos e os historicistas dentto do quadro institucional que era característico das Faculdacles de
l)ireito.
A
sua maior vocação parao
ensino de matérias financeiras viriaa
ditat a obtenção de um prestígio técnico e político que o levariam^o clefinitivo e precoce abandono da vida univetsitária em 1'928.
Para alêm
de António de
Oliveira
Salazat, merecem ainda referência dois autores que exerceram funções declo-cência na FDUC, apesâr de terem posteriormente transitado
6 Os seus escriros económicos mais relevantes
-
A
puestão Cerealy'èra - O '[nSo (1916); O Ágio do Ouro (1916); e Algans Aspec-tos da Crise das Søbsistências (1918)-
estão reuniclos em Sr\l'r\Zr\R (1 e1 6-1 e1 B).p^r^
^ Faculdade de
Direito
cle Lisboa oncle viriam a aciquiriruma maior e mais significativa projecção: Ruy
Ulrich
e JoãoPinto cla Costa Leite (Lumbrales).
Ruy
Ulntcu
iniciou
^
s\a
carreira naFDUC,
onde sedoutorou em 1906 com uma dissertação intitulacla I)a Bolsø e suøs Oþerações (1906). Neste trabalho segue uma metodologia
histórico-institucional com particular considetaçã.o dos as-pectos jurídicos e specífìcos. Faz uma clescrição rigorosa do
funcionamento das bolsas e das suas funções, do seu regime legal, procede a uma compatação com as bolsas estrangeiras e apresenta algumas propostas cle reforma. Declica também
um capítulo específico à teoria económica das bolsas.
Logo
no
ano seguinte ao seu doutoramentoé
convi-claclo pata professor, regendo
a
cadeira cle AdministraçãoColonial
^tê
1910, Nesses três anos,em
Coimbra, publica Ciência e Adnìnistração Colonial (1908), Política Colonial (1909)e Economiø Colonial(1910), traduzindo a orientação cìe
ftag-mentar um programa getal, leccionanclo em cada ano uma parte da matêria.
Como aluno publicara um ttabalho sobre
As
Cri¡esEco-nómicas Portagaesas oncle, a seguir a uma breve discussão teó-rtca, faz
um historial
das crises económicas nacionais noscliferentes sectores de activiclacle (1902).
Monárquico e defensor do Integralismo Lusitano, pede
a sua demissão da
FDUC
em 1910. Antes do seu reingresso na Universidacle publica a l-eona Económica clas Reserua¡Mone-tárias, em 1,914, ano em que é nomeaclo Administraclor clo
Banco cle Portugal, cargo que exerce
^té 1928. É depois Em-l¡aixador em Londres de 1933 a 1935.
Na
Teoria Ilconórtica das Reseruas Atlonetánas, temainova-dot, precisa os vátios tipos de reserva monetária, defende o
seu aumento, apontando os meios de
o
alcançar e asimpli-336 MANUrrr- lACrNlo NUNEs, losÉ LUís c^RDoso, MANUEL LopES pon'to
I|OLI:17^,1 DE CIENCIAS I:CONOiVICAS LIX (2016\ 329-391
ENSTNo uNrvtRslrÁRro DE ECoNOMT^ E FrN^Ne\s 337
cações clas diferentes vias possíveis. Não clá atenção especial
ao caso português,
o
que poderáter
sido devido a vigotarentre nós o regime de inconvertibilidade.
Quanto aJoão Pinto cla Costa Leite (I-uH,rnn,u.rx) douto-rou-se na
FDUC
em 1927, com uma tese sobre Organilação Bancária Portugaesa (1927), Ttata-se de um estudo de economia descritiva, que se ocupa da "história e das funções do Bancode Portugal e cla actividade dos bancos comerciais". Sucedeu
a Salazar na regência da cadeira cle Economia Política quanclo este assume
^
pasta clas Finanças em 1928.A
regência daca-deira esteve a seu cargo atê 1934, quando
foi
chamado para ocargo de Subsectetário de Estado das Finanças.
Entretanto,
em
1933, apresentarâcomo
clissertaçãopara concurso a professor catedrático o Ensaio soltre a'lþoria das Crises Económica.ç. Foi nomeado catedrático com 29 anos,
em Julho de 1934.
Este Ensaio, diferentemente
do
seu ensino, é uma tesede teoria económica. Teixeira RtsnrRo (1993,260)
consicle-fa-o um mâfco "nâ Tenovação clos estudos económicos, no sentido daprimazia dos estudos teóricos", e sintetiza os seus
métitos nos seguintes termos:
"I-umbrales parte do equilíbrio económico parl situar os
ci-clos, descreve as fases destes, procura explicação hipotética
das crises que encontrâ nr teolia estfutufal, embota com uma correcção, e depois põe essa teoria à provx perânte a organi
zação económica, a organtzação da produção e o sistema
mo-netário, criticando as várias teorias que clelas fazem depender
os ciclos, para concluir que estes são efectir.amente clevidos a
reacções cla estrutura económica, a excitações vindas do
exte-rior" (Rtrr,rRo, 1993: 254)
Â
dissettação insere-se,pois, numâ
linha
neoclássi-ca
com
aclitamentos pós-marshallianos,já
que refere,pot
338 MANUEL j^crN ro NUNÈs, losÉ LUÍs cARDoso, M^NUEL LOPLs Pottfo
exemplo,
^
teoria d,a tnflaçã.o de l{nvNns do Tratado da Moeda e a teoria monetâria clas crises de Hawttey.É
curioso notar, todavia, que a dissertação clo concuÍso para professor catedtático de Lumbrales demonstra conhe-cimentos de teoria económica que ele nunca transpôs p^rà o seu ensino de economia política, que continuou a ser feito nosmoldes do seu antecessor Oliveira Salaza{. Apenas na cadeira
do 5." âno, em 1933/34 e 1.934/35, versâ o tema das crises.
,Aincla dutante
a
sua estadiaem
Coimbra, publica as Noções Elementares de E conomia Política (L934), manual pâraes-tudantes
do
ensino técnico cometciai, seguindo a estrutura dos manuais franceses do pdncípio da década de 1930.,{.
partir
de
1,933 notâ-se algumainflexão
doutrinária em Lumbrales, que ptetende funclamentar economicamenteo corporativismo, tendo publicado parâ esse efeito a
Doutri-na Corporatiua e a'l'eoùa Econóruica (1935) e a Doatrina
Corþora-tiaa em Portugal (1936).
Partindo da ideia de um equilíbrio económico geral cor-porativo) procura fundamentar a intetvenção económica do Estado, a qual, com a instituição clas cotporações,
conduzi-tia ao
"máximo
hedonístico comum". -Abandona depois a tentativa de elaboração de uma teotia económica docotpo-rativismo, mas mantém-se fiel à cloutrina corporativâ.
A
estetema voltaremos mais adiante.
O prestígio da FDIJC, no que se refere à prepatação de
juristas com vocação económica e financeira, não se jogava
1
E a
opinlã.o de Teixeira Rt¡EtRo (1993: 254):"De
1,928 a1934 não foi alterada por Lumbrales a índole desse ensino"). Essa "índole" era, como a caractetiz.ou Teixeita Ribeito, "de estudos
de economia" aplicada com tendência, para cair na economia
des-critiva" (ibid.).
No
mesmo sentido se pronuncia Aiutú1o (2001.:11-115).
B)LETTM D[. :|ÊNCTAS ECoNóMrcAS Ltx (2016):]29-:l9l
ENSTNo uNrvEnsrrÁnro or F.coNoMrA, E r:rNANÇAS 339
apenas no vínculo aos lugares cimeiros da administraçã,o pu-blica. Era o
próprio
conteúdo programático das disciplinasdestas áreas que, sobretuclo
^
p^rtir
de meaclos cla década cle1930, revelâvâ um maior grau de adequação aos avanços do conhecimento científico à escala intetnacional.Pata tal
mui-to contribuiu a acção d" J. J. Teixeira Ribeirou.
1.2. Teixeira
Nbeiro
Logo após a conclusão das suas provas de
doutoramen-to,
em Dezembrode
1934, Teixeira Ribeirofoi
convidado para professor da FDUC, tenclo leccionado já nesse anolec-tivo
em que uma das disciplinas dogrupo
de ciências eco-nómicas, a de Economia Política, esteve atribuída ao entãojovem
economista Ftançois Petroux.Â
mesma disciplinaesteve nos dois anos seguintes a cargo de
Diogo
Pacheco deAmorim,
da Faculdade de Ciências, mas ap^rtir
de então Teixeita Ribeiro ficou como único docente do gtupo, numa época em que nã"ohavia ainda assistentes.Aliás, com a permanência em Lisboa de OliveiraSalazar
e
de CostaLeite
(Lumbrales), desde essa épocaaté
1983' nenhum outro Doutor em Ciências Económicas exerceufun-ções docentes na FDUC, com excepção de um curto espaço de tempo, em 1956-58, entre o doutoramento deJoséPizano
Beleza e a sua saída
pan
desempenhar também funções go-veÍnativas.O
recurso a assistentes começoua
verifr.car-se apartir de 1,941,, mas quase sempre em pequeno número.
Tei-B Para uma abordagem de conjunto da acção e obta de
Tei-xeira Ribeiro, cf. Ponto (1979).
e
Quando se doutorou Manuel Lopes Potto, seguindo-se
Äntónio .{velãs Nunes e Á.níbal Almeida, e tendo João Ruiz de Almeida Garrett tido então aqui funções docentes.
340 l,r^NUEL l^crNt'o NUNEs, losÉ LUÍs c^RDoso, MANUEL LopLS poRTO
xeira Ribeiro cledicou-se, pois, à docência, com grande
inten-sidade, sem qualquer interrupção clurante os 40 anos lectivos
que medearam entre 1934-35 e 1973-74.
Á.s suas capacidades intelectuais e a séria apetência por
acompanhar a ptodução mais significativa da ciência
eco-nómica verificou-se
primeiro
no
clomínio da microecono-mia, na sua dissertação de doutoramento, Teoria Económicados Monopólios (1934).
A
própria distinção entre micro e ma-croeconomia, então ainda nã,o conhecida, épor
eleentre-vista na nota
introdutória.
Na
obra projectada,o
texto
dadissertação constituía o primeiro volume, onde o problema eta
visto "sob o ponto
de vistaparticuiat",
tenclo haviclo"o
ptopósito
de recluzirà
empresa,como
cerìtro, avida
e os conceitos económicos". Na segunda parte, aincluir
num outro volume, predominaria o "aspecto univefsal", integran-cloo monopólio
cla empresa"no
mundo dos monopólios"e sendo então vistos problemas como o das crises cíclicas, o
clo capitalisrno financeiro, o clo imperialismo e o da crise clo
próprio
sistema.Ao longo da clissettação, depois de definir o monopólio como conttário da concorrência, Teixeira Ribeiro analisa as conclições clo seu aparecimento através da clescrição da "teo-ria dos desequilíbrios", senclo
o monopólio
definido comoum caso de desequilíbrio entre o preço e
o
custo. Distingue depois as situações de monopólio de custo das demonopó-lio
de preço, consoanteo
monopolista não tenha ou tenha clomínio sobre o preço, dedicando a esses dois casos osca-pítulos mais extensos da tese.
No
último capítulo é feita umaanálise interessante dos preços de monopólio.
A
preocupaçãopor
problemas de microeconomiare-flectiu-se
depois
fundamentalmente nas Lições cla cacleirade Economia Política. Dele
próprio
há umas lições escritas,t3oL\r rÌtt or qÊNct¡s ecoNo¡.nr:¡s Lrx (20 I 6) 329,39 t
lNsrNo uNrvERsrtÁrrro nt EcoNoMt^ E FIN^NÇAS 34I
de 1958-59, e
do
ensino oral ministrado emoutros
anos é possível ter conhecimento através de apontamentos coligi-clospor
aiunos. Merecerão maior relevo as exposiçõesso-bre os sistemas económicos, a que voltaremos acliante, e a teoria dos preços, na qual, além dos dois casos extremos da
concorrência perfeita e cìo monopólio, também são consi-derados, na esteita clos conttibutos de Sraffa, Chambedain,
Robinson
e
outros,os
casos interméclios de concorrênciamonopolista (ou imperfeita) e de oligopólio. São igualmente
cle grande clarcza. e intetesse as exposições sobre a
ptodu-ção e as uniclades ptoclutoras, designadamente as empresas coopefati\¡âs.
Descle o início da sua careira, Teixeira Ribeiro sempre se sentiu atraído pela ptoblemâtica dos sistemas económi-cos. Com a preocupação cle situat
o
sistema cle cada épocanuma perspectiva temporal, dedicou uma Parte apreciável
clas lições
de
Direito
Corporativo
(escreveu asde
1936 e 1938, podendo ter-se conhecimento cle outras,subsequen-tes, attavés de apontamentos coligidos por alunos) à história
dos sistemas, c1e ensino recente
no
nosso país. Trata-se dematéria leccionada também na cadeira de Economia Política
I,
aparecendo com uma elaboração mais completa nas refe-tidas lições cle 1958-59.Descle
o
começo,logo
clescle 1.936, Teixeira Ribeiro mostrou a sua pteferôncia pela classificação de \ùØernetSom-batt, emboïa nunca a tenha seguido com tigiclez. A.ssim,
tan-to nas lições cle 1938 como em
A
l\oua Estrutura da [f conortia(1947),
por
certo
influenciadopelo
modo
como
Petroux descreveraa
perspectivade
Sombart (Perroux 1'936), nã'ore fete a técnica e clistingue, como elementos definidores de
um sistema económico, o modo de proclução, consoante se
ttate
de ptopriedadeindividual ou
colectiva dos meios deENSINO UNIVERSITÁRIO DE ECONOMIA E FINANÇAS 343
às grandes empresas industriais. Também nestas, embora a ame^çade falência seja um estímulo permanente, se verifica-rão em muitos escalões de pessoal o alheamento e a distân-cia característicos clos funcionários do Estado. Este poderá,
por
seu lado, ter actuações de racionalizaçäo e melhoda dequalidade fora
do
alcance dos particulares ou para que elesnão se sentirão estimulados.
O problema da evolução do sistema económico volta a suscitar
^
ateflção de Teixeira Ribeito em 1960, quandopro-fere,
no Instituto
deAltos
Estudos Militares, a conferênciaintitulada Capitalisno e Socialismo em am Mando J'i. Depois de
recotdar que até então havia sido possível implantar regimes socialìstas apenas em épocas de enfraquecimento dos países
capitalistas, como resultado das duas Guerras Mundiais, e
sem interfetência de exércitos esttangeitos apenas em países
muito
âtfasados, como a Rússia e a China, pergunta se, nâausência de qualquer
nova
guerra,o
capitalismo fr'carâ "ao abrigo de novas perdas deterritótio".
Entende o âutor havet dois perigos fundamentais
pan
o
sistema.O
primeito,
referido na linha cla conferência cle 1947, serâo
das nacionaltzações, através das quaispode-rá ir-se dando uma ttansfotmação. Mas
o
perigopróximo
paï:'
o
sistema capitalistaviria
-
prossegue TeixeitaRibei-ro -
da"itreprimível
aspiração á prosperidade" clos paísespobres. Depois de durante séculos terem
vivido
conforma-dos com a sua pobreza, sentittm-se estimulados com oco-nhecimento, atravês dos meios modetnos de comunicação social, da existência de bons níveis gerais de bem-estar nos países industtializados,
com
as promessasde
otganismosintetnacionais e ainda com os exemplos de alegado
cresci-mento
cla Rússia e da China, fortemente propagandeadospelos particlos comunistas.
tsoLETrM rx aÊNctls tcoNtiurct's LIx (2016) 329-391 342 M^NUEL J,{crNTo NUNES, losÉ LUÍs cAtìDoso, MANULL LopL.s polLfc)
produção, e a forma de repartição, consoante o título,
traba-lho ou propriedade, por que se distribui o rendimenro. Na se-gunda obra, mas nã.o na primeira, refere ainda o móbil..Já nas
lições de 1958-59 distingue os sistemâs de acordo com os rrês
critérios apontados por Sombart) mas também aqui parece
re-velar-se alguma influência de Marx, na explicação do processo
de passagem de cada um dos sistemas p^r^ o seguinte.
Estava-se numa época em que se acentuava a
interven-ção
do
E,stado nâ âctividade económica, TaI intervenção jáocotria
antes da Guerta, "orientando -a, conttolando-a,su-prindo"
mas râramente "se frzera industrial ou comerciante". Só depois se acentuou a sua intervençãopor
estas formas, com as nacionalizações, tanto em países do Leste como,em-bota
emmuito
menor medida, em paísesdo
Ocidenteeu-ropeu. Teixeira Ribeiro preocupa-se consequentemente por
analisar o significado das alterações havidas.
Podendo perguntar-se se teriam sido criadas assim
zo-nas de verdadeiro socialismo dentro das economias
capitalis-tas, argumenta no sentido negativo, dadas as indemnizações pagas aos
donos
anteriores das empresas nacionalizadas. Reconhece, contudo, poder tratar-se de umprimeiro
pâssopare-
o
socialismo, pela perda,por
parte dos capitalisras, dealgumas das chaves do seu domínio político; perda essa que
será especialmente sensível sempre que cheguem ao poder
partidos socialistas.
Por outro lado, poderá perguntar-se se com a passagem
de sectores importantes para
o
domíniodo
Estado não se verifr,caria uma quebrade
eficiência. Teixeira Ribeiro,em-bota
preferindo
aguardar"os
resultadosda
experiê flcia," ,não deixa de
em nota
rebatera
atgLtmentação tendente alnostrar a maior e ficiência por parte clas empresas privadas,
desde que o E,stado empresário seja comparado, como cleve,
344 ,vIANUEL I^crNTo NUNEs, X)sÉ LUÍs cArìDoso, MANUET_ LopES porì{)
lloLETtNt ot: ctÊNcttts r:coNoÌvtK:As Lrx (2ot6) 329-39)
A
saícla da pobreza não pocleria, todavia, cleixar cle re_ querer mediclas drásticas, tais como a restrição cle consumossupérfluos, a rnobilização de rendimentos entesourados, em
especial através de impostos, a
reforma
agrária, a iniciativaindustrial
do
Estadoe a
subordinação aum
plano global.Mas
como
todas eiaspõem em
causa em grande medidainteresses clo grancle capital, não admira que se fosse sen_
tindo
a necessidacle de uma via revolucionâtiae
socialista,cle pouco valendo, quando comparados
com
a
pobrcz,a, o"sacrifício de valores humanos e as restrições à riberclacle,'
que
lhe
estariam ligados. Á. esta tazão actescenta Teixeira Ribeiro uma outra.os
países subclesenvolviclos precisam deter um móbil, que mobilize as vonrades dos seus habitantes.
Ora,
o
móbil do
capitalismo poucodiz
a quem não tem a percepçãodo
que é a obtenção de lucros, ainclapor
cima acessível apenas a uns quantos.Muito
mais clinamizador é o móbil do socialismo, cle satisfação das necessidades cleto-dos, verdadeira "puissance de la pauvreté,,, na expressão cle François Perroux.
O interesse cle Teixeira Ribeiro pela problemática clos
sistemas económicos não faz esquecer,
no
entanto,a
cla_ reza e a attumaçãodo
seu pensâmento em matérias finan_ceiras e fiscais.
É
sobre essa importante faceta da sua obra, quer como professor, quer como legislador, que prossegueesta apresentação sintética das principais linhas cle força clo
seu pensamento.
Nas lições de Finanças (1942) Teixeira Rrbeiro esclare_
ceu e divulgou importantes aspectos conjunturais da teoria e cla política económicas.
Em
especial, terá sido aí o primeiroou um dos primeiros lugares oncle no nosso país se ensinou a teoria e a política
keynssi*^r,
em especial o'rultiplicacior
e a política clas clespesas públicas. Tratou-se desde
o
inícioI,NSINO uNrvDRslrÁtuo o¡. ECoNoMl^ È I.IN^NÇAS 345
de uma exposição
muito
clarae
crítica daquilo que l(eynçs havia introduzido, não deixandopor
exemplo de chamat a atenção par^ as cautelas^
ter n^ aplicação cio modelo, desig-nadamente num país como o nosso, menos avançado e com muita depenclência clo exterior.A.lém clesta temâtica, serão de referir as exposições
so-bre o direito orçamental, o peso e operações sobre a dívicla pública e a repartição clos impostos.
,\inda no
campo cla teoria e dapoiítica
coniunturais, teve iustificaclamente um impacto grande no nosso país umcurso de Introdação ao Estudo da Moeda, regido
em
1947-48no
Centro c1e Estudos Económicos e Financeiros cla Asso-ciaçã.o Comercial c1oPorto
e publicaclo impresso em 1949'Em
boa parte serviu cle base â umas lições policopiadas de Economìa Política (3.o ano), ao curso de 1'962-63' Estas lições contêm a mais, além do clesenvolvimento cle alguns assuntos já versaclos, uma última parte sobre cométcio internacional.Também estas lições constituem exposições magníf,cas, pela sistemztização
e
clateza com que são aptesentadas ma-térias complexas e consequentemente dedifícil
compreen-são. Pelo quaclro completo e coerente que é daclo clos me-canismos monetários, tanto nacionais como internacionais, são uma base segura cle entenclimento, talvez superior à cla generaiidacle clos
livros
detexto
estfangeiros.Em
especialnas lições d,e 1962-63 não constituiu preocupação de Teixei-ra Ribeiro referir posições inovacioras mas ainda polémicas,
por
exemplo acercada
oferta de moe da ou dos fundamen-tos do comércio internacional. Tencl0 em conta a {ìnalidadepeclagógica clo texto, mas também em conformiclacle com a
sua maneira c1e ser,
preferiu
antes darum
enquaclramento seguro e coerente clos probletnas, poclenclo referir-se a estepropósito, mas a
título
de exemplo, a explicação dos346 MANUEL IACrN't'o NUNES, losÉ LUís c^RDoso, MANUEL LopES poRTo
nismos de criação de moeda, a síntese das teorias monetária e teal sobre a taxa de
juro,
as exposições dos mecanismos via-preços de reequilíbrio da balança dos pagamentos eain-da
a
descrição esclarecedora das evoluções verificadas no sistema monetária internacional, designadamente face aodilema equilíbrio interno-equilíbrio externo.
A
esteúltimo
propósito acrescentou Teixeira Ribeiro num pequeno artigo, Do Padrão-Ourl ã0 Fundo Monetário Internacional (1974), onde é perspectivada
a
evolução verificadacom a
suspensão cla convertibilidade do dólar, em Âgosto de 1971.No
campo clodireito
fiscal a influência cle Teixeira Ri-beiro excedeu em muito a resultante do seu ensino. Não queristo dizer que não tenha sido marcante também aqui, com a regência respectiva atribuída todos os anos, pelo menos num
semestre , entre 1935 e 1956. Nunca tedigiu lições, mas algu-mas das coligiclas
por
alunos-
empâticular
as de 1951-52,por
ele revistas-
foram depois frequentemente utilizadas e referidas em lições e outras publicações posreriores.Também
no
campo da jurisprudência críticafoi
muito notóúa a sua actividade, distinguindo-selogo
na década de40 com alguns artigos sobre a sisa. Trata-se de
um
tipo
deactividade depois regulatmente mântido, devendo
destacar--se, em anos mais fecentes, as anotações frequentes feitas na
Revista de Legislação e de Jarisprudência.
Mas sem dúvida o maior contributo de Teixeira fubeiro,
que
o
deixará,ligado para sempre aoDireito
FiscalPortu-guês, consistiu na direcção de trabalho e na influência de-cisiva que teve
na
ampla reformado
sistema dos impostos directos dos anos 50-60'u.10 De salientar taml¡ém
âs suâs conttibuições inovadoras no
domínio do direito constitucional fiscal.
BILETIM or clÊt'tct¡ts ECoNóMrcAS Ltx (201(r) 329-391
ENSTNo uNrvERSfrÁRro DE ECoNoMIA E FtN^NÇ^s 347
Começou
por
ser convidado para presidir a uma dasduas comissões criadas
por
Äguedo deOìiveiia, em
1951(A Comissão de Estudo e,{perfeiçoamento do
Direito
Fis-cal), tendo sido depois convidado, em 1957, para presidir à Comissão da Reforma Fiscal, em quePinto
Barbosa deci-diu reunir as duas Comissões antetiotmente existentes. Data deste mesmo ano um telatório de Teixeira Ribeitoapresen-tado ao
lI
Congresso dos Economistas Portugueses, sobreIndastrialiqação e Política Fiscal (1957),
onde
são defendiclas muitas posições que clepois vieram a ser inttoduzidasn
re-forma
â que começava a proceder-se.Aí
se revelava iâ, defacto, mais do que o Ptesidente de uma Comissão, o verda-deiro inspitaðor da Reforma Fiscal.
Do
ttabalho
eficiente desenvolvidovietam
a
resultarsete projectos de cliploma que cleram lugar aos Códigos da Sisa e do
Imposto
sobre Sucessões e Doações, do Imposto Profissional,do
Imposto
de Capitais, daContibuição
In-dustrial, da Contribuição Predial e
Imposto
sobre aIndús-tria Agrícola,
do Imposto
Complementar e doImposto
deMais-Vaiias, publicados entre Novembro de 1959 eJunho de 1965. Além destes sete proiectos a Comissão elaborou ainda um outro, daquilo que deveria ser o Diploma Complemerìtar
cla Reforma Fiscal, contendo algumas disposições não inse-ridas nos diversos Códigos (RInntno, 1'965-6).
Julgou
a
Comissãonão
ser ocasiãopan
altetara
es-trutura que vinha de uás, com vários impostos parcelares eum
imposto complementar recaindo sobre toclos osrendi-mentos
já
sujeitos aos impostos parcelares.Em
contrapo-sição às vantagens de adequação à situação global daspes-soas, simplicidade e clareza de
um
impostoúnico
sobte orendimento, pareceu terem ainda maior peso as vantagens
do
sistema já existente, proporcionando a possibilidacle def,NSf NO UNlVrlRSlrÁlUo DE I,CONON4IA E FINANÇÀS 349
cóciigos, a maior pafte cìelas por ele escritas ou influenciaclas,
e aincla por exemplo cla oração de sapiênci a
A
Reþrtna F-i'rca/,proferida na abertuta solene da Universidade de Coimbra
em20 de
Outubto
de 1965, e das várias edições clas liçöes de Finanças. Todas elas constituem em si uma defesa, bem convincente, mostrando as razõesdo
que havia sido feito.Mas teve depois intervenções particulatmente expressivas, atz¡c ndo clesvirtuamentos que, entretanto, foram sendo pra-ticados. Assim aconteceu em
A
Contra-Reforna Fiscal (1,969)e
no
artigo do ano seguinte sobrc As Alteraçoes ao Código doImþosto Prof,.rsiona/ - Mais Asþectos da Contra-Reþrma (1970).
No
primeiro
ciestes trabalhos refere, além da nãoaclequa-ção dos serviços aclministrativos a uma aplicação correcta da reforma
-
tratou-se cla contra-reforma administrativa-
a alteração do equilíbrio e da hierarquia geral clas tâxas, resul-tante de modi{ìcações introcluziclas no sistema clos impostos locais, a suspensão da execução cloImposto
sobre a Inclírs-tria -A.grícola e a aclmissão da possibilidacle de não se tributar o rendimento real efectivo a um contribuinte do grupoA
daContdbuição
lndusttial,
apenaspor
havet"dúvida
fundacla sobre seo
resultado da esctita corresponde ou não à teali-dade".No
segundo artigo verbera a penalização áa acumu-lação de rendimentos do ttabalho, a tedução do valor presu-miclo como remuneração do trabalho cle administtaclores ou gerentes de empresas próprias e,por
frm, a transformaçãoclo imposto de degressivo em progressivo, com taxas
poclen-do ultrapassat as de impostos sobte rendimentos funclaclos,
mais uma vez zo arrepio cia coerência que se prctendeu clar
ao conjunto do sistema {rscal.
uoLETiltr DF. CIÊNCIAS tCrtNCitvttc¡s Llx (20 1 (r) 329-39 1
348 M^NU[,I l^(]tNto NUNES, josÉ luÍs c¡lrDoso, lvrANUrL LoIES poRt.o
ßoLF.i rM or ctÊNrt¡ts [coNóivrcAs Ltx (2ot 6) :329.39:l
clistinguir consoante a origem dos r:enclimentos e a obtenção
de
um
maior volume cle receitas. Pesaram, pois, razões dstealismo, que aconselharam a que não se fosse também para
a utilização cle
um
conhecimento único. Mesmo a aclopçãode
um
úrnico código, contendo os cliferentes impostos,foi
julgaclo dever seguir-se à "execução da reforma de cacla um
clos impostos, a
fìm
de se poclerouvir
e^catz;r as lições cla
experiência" (1965-6, loc. cit.).
Onde
a
teforma
apresentouum
avanço substancial,além de aperfeiçoamentos cle sistematização e técnicos cle vária orclem,
foi
na melhor cle finição e delimitação cla basetributável e na tributação clo renclimento reai efectivo: o que
veio
permitir
queo
nosso sistema fiscai se tornasse menos arbitrârio, mais pessoals,zado e mais sensível às alterações cleconjuntura, vantagens estas que lhe pareceu ultrapassarem clecisivamente a única vantagem clara
do
sistema anterior,de ser mais simples e consequentemente de aplicação me-nos custosa. Uma outra vantagem geralmente atribuída (por exemplo por Einaudi) à tributação clo rendimento normal, a vantagem cle incentivar
o
aumento cle eficiência, através daproclÌra de se exceder
o
que está atribuídopor
critérios cle normaliclade, fota decisivamente posta em causa por TeixeiraRibeiro no jâ refeúdo reiatório Industrialilação e Pr¡lítica f-iscal
(1957), chamando a atenção para que uma menor eficiência poclerá resultar antes cle uma climinuição da capaciclacle
pro-clutiva, que os produtores poclerão
fugir
cle aumentar, com teceio de não atingiremo
rendimento normal quepor
isso passa a ser-lhcs atribuício.-Além cla influência que se sabe
ter
tido
em toda estareforma, Teixeira
Ribeiro
clistinguiu-se explicando-ae
de-fenclendo-a.
Äs
explicações clos motivos cle cacla imposto350 M^NUEL J^crNt'o NUNES, losÉ LUÍs cAllDOSo, MANUËL LOIES poRt.o
2.
Factldade
deDireito
da Universidade deLisboa
2.1. De
Albino
Vieita da Rocha a Atmindo MonteiroO início de leccionação da cadeira de Economia políti_
ca na recém-cúa"da Faculdade de
Direito
de Lisboa (FDUL)ocorreu
no
ano
lectivo
1913/14, sob
a
responsabilidadede
Âlbino
Vieira
da Rocha.,\
regência fi,carâa
seu cargo até 1934/35, com breves intermitências decorrentes da suaocupação
de
cargos públìcos. C)s mareriais pedagógicos e sumários manuscritos que assinalam a sua presença não sãoteveladores de particular originalidade, norando-se alguma
similitude
com os
programas congéneresda
FDUC e
da Faculdacle de Ciências cla Universidade de Lisboa.-{
opçãoera, claramente,
por
Linhas ptogramâticâs em que impera-vam elementos históricos e descritivos da economiaportu-guesa, com algum destaque para o estuclo das instituições de
âmbito jurídico.
Durante os períodos de interrupção de actividade do-cente de Vieira da Rocha, a regência
da
cadeira deEcono-mia Política
foi
asseguradapor
Fernando trmygdio da Silva,Abel de Andrade e
Armindo
Monteiro.A
esreúltimo
coubemaior interesse e dedicação na esrruturaçã.o da discipìina e na compendiação dos respectivos conteúdosr1.
Atmindo
Monteiro
foi
o primeiro
cloutorado pelaFa-culdade de
Direito
de Lisboa, em 1921, com uma dissertação que constitui o 1." volume da sua obra O Orçamento Português.11 Armindo Monteiro
rege a segunda parte clo ano lectivo de 1922/23, o ano seguinte e 1926/27.
BOr,ETilvr DE C|Ê.NCIAS ECONOMTCAS LrX (2O16) 329_391
ENSTNo uNIVLIìslrÁnlo nl, ËcoNoMl^ E FIN^Nç^s 35 I
O
2Î
volume (1922) é a sua dissertação pata assistente daFaculdade.
O Orçømento Portaguês é um estudo onde se coniugam os
aspectos históricos, económicos, iurídicos e políticos dos fe-nómenos {inanceiros.
Â
parte económica, ainda que com bi-bltografr,a actuahzaàa, é menos aprofundada, dados os obiec-tivos que o autor tinha em vista e a sua formação específica'F,m 1,923 publica,
um
Ensaio de am Curso de EconomiaPolítica, que corfesponde
à
ûm
parte das matériaspor
sileccionadas na tespectiva disciplina. Este
Envio
constaape-nas da inttodução, com a de{inição dos conceitos básicos da
metodologia e da demografia. Nas suas aulas ocupava-se de
outras mâtériâs tais como o Estado, as instituições sociais e o panorama histórico das doutrinas económicas.
O Ensaio era a primeirapane de um curso getal onde se
ptopunha
incluir
uma introdução, com a definição deeco-nomia e os aspectos metodológicos, a que se seguiriam as
clássicas quatro pârtes - ptodução, circulação, distribuição e consumo - embora considerasse que â citculação não devia set incluída no estudo da economia.
De
L928a
1.950,\rmindo Monteiro
permaneceafas-tado
do
ensino. Desempenha sucessivamente os cargos deDirector
Geral da Estatística (L928), Subsecretário de Esta-do das Finanças (1,930-31),Ministto das Colónias (1931-35)'Ministro
dos Negócios Estrangeiros (1935-36) eEmbaixa-dor em Londres (1'936-1943).
Sete anos depois de deixar a Embaixada em Londres regressâ à Faculdade de
Direito,
oncle ensina de novo Eco-nomia Política de 1950 a 1'953.Em
1952publica um Curso de Economia Política, ondetra-ta dos problemas da moeda, mercados e preços, numa óptica da repartição cle rendimentos. Tem já elementos da escola
352 MÀNUEL )ACrNTo NUNES, losÉ LUís cARDoso, M^Nurl Lot,ES poRro
tloLtlr^t nr. aÊNct¡s tc:oNótvt¡cls Ltx (2ol6t 329.391
neoclássica e da teoria keynesiana'2, mas nem sempïe há uma distinção clara entre aparte teórica e a.parte doutrinária. Nos
últimos anos ocupa-se também cie Marx.
O
seu ideal para a economia era â autarcia, em comple_mentaridade com as colónias. Defendia um intervencionismo moderaclo do Estado, a quem attlbuía somente funções suple_
tivas da iniciativa privada, não tendo sido nunca um doutrina_
dor do corporativismo, receando, porvenfura, o seu demasia_ clo intervencionismo.
No
domínio das Finanças Públicas, dentro da ortodoxiamonetária e ß.nanceia. defendia cortes clrásticos nas despesas
públicas, aumento da tributação inditecta,
o
equiJíbrio orça_mental e a estabilidacle monetária.
12
António
L.
Sousa FntNco(1986) considera Arminclo Monteiro
"o
nosso primeiro bom conhecedor de l(eynes,'.Se-gunclo Sousa Franco, os alunos clo curso complementar (criado na Faculdade de Direito em 1945) "tiveram desde logo um l¡om
âcesso a I(eynss" (p. 63). Fernando Antú1o (200I), defende que é "a Ru1. Ulrich que devemos a primeira referência lectiva à
Teo-tia Geral e não a Arminclo Nlonteiro como tem sido aventado,'
(p. 86), por enrencler que à conjecrura "sobre a possibilidade c1e
(-Armindo Monteiro) ter leccionado alguns rudimentos cla Tcotia
Geral em 1944/45" se contrapõe "a anteïioridacle da sebenta de Ru1, 1-11.i.1r de 1942/43 onde há refcrência à traclução francesa cl¿
Teoria Geral". Acrescenta Araújo que) se Arminclo Monteiro fez
referência no seu ensino à Teoria Gerai cle I(e1rnss, não
foi
no curso complementar de 1944/45, porquc tal curso nesse ano foi regido por Ruy Ulrich. E vimos jâ atrâs, em 1..2, a consicleraçãoclacla por JJ. Teixeira Ribeiro nas lições dc Finanças cle 1942 a
íìspcctos cla tcorin c. cla polírica l<e1'ncsilnrs.
ÈNSrNo uNrv[,rìsrrÁRro DE ECoNoMTA E rrNANÇAs 353
2.2. De Ruy ULrich aJoão Lumbtales
A.
partir
do ano de 1936 e até 1950, a regência dadis-ciplina de Economia Política
na
FDUL
estevea
cargo deRuy Ennes Ultich. Apesar de ter ocorrido numa idacle tarclia (aos 53 anos), não
foi
tal motivo que o impecliu de procluzir extensa bibliografla de suporte aos cursos que leccionou aolongo do período referido.
Äpós
o
seu abandono da F'DUCem
1910por
razõesa que atrás já aludimos, Ruy
Ulrich
foi
teintegraclo na mes-ma Llnivetsidade de Coimbta, em 1,936, pedindo então a suatransferênciapan a
FDIJI-,
onde se mantém durante cator-ze anos, acumulandoo
ensino da Economia Política com aDirecção cla Faculdade. Segue a metodologia que âcloptou nos três anos que ensinou em Coimbta, ou seja, uma
estru-tura patcelat, dancìo em cacla âno uma parte
do
programa geral que tinha a estrutura clássica de divisão em Produção, Circulação, Repartição e Consumo'3.A
orientação do seu ensino segue umaniz
francófona,não parecenclo ter sido muito influenciado pelos autores
an-glo-saxónicos'a. Só
^
prtir
de 1,944 começam a ^p^recer n bibliogra{ìa mais autores ingleses.13 Sobte estas matérias publica inírmetas 'sebentas': Intro dução, Circulação e Moeda; História das Douttinas, Cit:culação e
Moecla; Histótia das Doutrinas, Nloeda e Créclito; Os TranspoTtes;
Economia Política, Repartição, Propriedade, Renda e Juro;
Eco-nomia Política, Consumo; Economia Política, Comércio; llcono
mia Política, a Produção; llconomia Política, o Lucto. la Cf.,\ti.,tú.¡o (2001: B0).
354 rvrA.NUEL J^crNTO NUNÈs, ¡osÉ r.uís cAnDoso, M^NUEL LopES poltro
Ä par da visão clássica expunha nas suas lições aspectos
da economia neoclássica, que repudiava, nomeadamente no tocante à distribuição. Nas últimas lições hâ
jâ
referëncias à economia keynesiana, que rejeitava, senclo, toclavia, as suas críticas mais severas cledicadas ao marxismo.Publicou durante a sua docência na Faculdade de
Direi-to
de Lisboa vátios estudos de economia aplicada,clesigna-damente na Reaista do Centro de Esrudos E conómicos do
lnstituto
Nacional de Estatística, a partir de 1944, centro de que Ruy
Ulrich foi
o primeiro Presidente do Conselho Orientador.Fez igualmente inúmeras comunicações à Academìa clas Ciôncias, designadamente os perfis de várias personalidades, entre as quais se salienta o que traçou de Oliveira Martins.
Terminou a sua catteita docente em 1950, ano em que é nomeado, pela seguncla vez) Embaixador em Londres onde permanece até atingk o
limite
de iclade em 1953.Jâ atrâs indicámos que coube a A.rmindo Monteiro a ta-refa de substituir Ruy
Ulrich
em 1950, mantenclo-se em taisfunções
^té 1953.
Nos
dois anos seguintes, caberia a PedroSoares Martinez a função transitória de regência, até ao fr.nal
do ano lectivo de 1954/55.
A
partir desta c1ata, e ininterrup-tamente até ao ano lectivo 1968/69, a regência clas cadeirasda ârea económica passa
a
ser asseguraclapor
João Pintocla Costa
Leite
(Lumbrales).Ao
regressar às actividacles deensino
-
gue, à semelhança de RuyUlrich
também tniciara em Coimbra, no início da década de 1930 - João Lumbralespunha
fim
a uma longa e influente caneira cle mais de vinteanos (1934
a
1955) como membro de sucessivos governos de Salazar.Os anos de 1934
a
L955 corìstituem, com efeito, umaimportante
etapa da sua carreira pública, consubstanciadanuma relevante acção governativa, primeiro como
Subsecre-uoLETrM o¡ clÉ,vcr¡ls ecoNótvnt:¡s Ltx (20 | 6) 329.39 I
ENSTNO uNrveRstrÁnro ¡r ECONolvltA È FIN^NÇAs 355
tário
de Estado das Finanças, e depoiscomo.Ministro
ciasFinanças e
Ministro
cla Ptesidência.Confotme
atrás seindicou,
em
1956 JoãoPinto
cla CostaLeite
(Lumbrales)volta
ao ensino da economiapo-líttca na
Faculdadede
Direito
de Lisboa, pedindo
a
suatransferência da Univetsidade de Coimbra. Rege
a
cadeitade 1955 / 56 a 1968
/
69."É
evidenteo
seu esfotçode
actualização que se podecomprovar pela diferença das
lições
queprofete
no
pri-meiro
ano da tegência da cadeitaem
1'955/56 e as liçõesque publica
em
1963e
1966. Nestas aparecem atenuadoso
eclectismo, a não diferenciação entre os aspectosteóri-cos e clouttinários, e
o
peso de elementos clescritivos que cttacterizavam os seus anteriores trabalhos. Mantém a suarecusa pelo formalismo matemático, mas
mostn
aceitação de muitas das concepções clos neoclássicos, e expõe já as ideias daTeoria Geral de I(eynes, os conceitos derendimen-to
nacional e os probiemasdo
crescimento e dodesenvol-vimento das economias.
Suportam ainda
o
esforço de reinserção de Lumbralesno
ensino na Universidade, as reflexões que faz,em
1959, sobreA
Crise Actua/ do Pensamento Económico, llumacomuni-cação à Classe de Letras da Acaclemia das Ciências e um
lon-go artigo
intitulado
O Lugar das Ciências I\conónticas no Ensinodo Direito onde entende que tem climinuíclo a importância do ensino das ciências económicas nas Faculdades de Direito.
Dado
o
prestígioe a
relevânciana
culturae
na vida nacional que tal ensino proporcionou aos que frecluenta'ramas Faculclades de
Diteito,
apela para atribuir maior papel aoensino das matérias económicas
no
curriculum do curso cleDireito.
F, faz algumas Propostas nesse sentido. Reconhece,15 Cf. BlsrtrN (2001)
356 M^NUEL l^crNt'o NUNES, losÉ LUís cARDoso, M^NUEL LOIES poRto
ßoLETI^4 Dt: CIL.NCIt\S ECONONIICAS Ltx (2O16) 329.39t
toclavia, que a existência de instituições de ensino superiot de economia não pode deixar de ser levada em conta nessa
revisão._De certa forma, Lumbrales reconhece aqui explici-tamente
o
cfescente protagonismo exelcido peloISCEF
ap^rtir
do início cla décacla de 1950, como veremos em breve.,\pós a sua saída da
FDUL,
em 1969, Lumbrales ésubs-tittrído
por
Pedro Soares }daftínez,, dando-se assiminício
aum novo ciclo de desenvolvimento clo grupo de ciências
ju-ríclico-económicas, que
vida
ainda a contar com acolabora-ção, entre outros, cle Paulo Pitta e Cunha,
António L.
SousaFranco e Alberto Xavier.
3.
Contribuição doutrinal
das Faculdades deDireito:
aeconomia do
corporativismo
Olhanclo retrospectivamente e em conjunto para a
pro-dução
analíticae
cloutrinal clos principais professores cle economia e finanças clas Faculdade deDireito
cle Coimbrae
Lisboa, verifrcamos queum
dos mais férteise
originais terrenos cle abordagem de temas relacionados com a orclem económica e social é, sem dúvida, o da economia docorpo-rativismo'6. Justifìca-se,
por
conseguinte, uma breveexposi-ção complementar sobre este significativo legaclo intelectual.
Para os seus principais mentores e ideólogos, a
organi-zaçã.o corporativa cleveria consubstanciar objectivos cle
equi-líbrio
e harmonia social, confìanclo-se ao Estacloum
papel16 Cf. sc¡bretudo António Oliveira
Salazar (1933), Marcello
(laetano (1935, 1938, 1946
e
1950), João Pinto cla Costa Leite(Lumbtalcs) (1936), Peclro Teotónio Pereira (1937), Tcixcira
Ri-beiro (1938, 1939 e 1945) eJosé Pires (lardoso (1949 e 1950).
ÈrNSrNo uNrv[,rìsrfÁRlo DI] ECoNOMIA It IìrN^NÇ^s 357
primordial na liclerança cle toclo o processo, tendo em vista
um
efectivoconttolo
cla vida económica e social da nação.Assim, a institucionalização clo Estado
Novo -mediante
a aprovaçãode uma
série coerentede
documentos progra-máticos orientadotes da vida económica, social e política-respeitou a essência da
doutrina
corporativista baseacla nasubmissão do inclivíduo aos interesses superiores da nação e na defesa da sua permanente integridacle moral e espirituâI,
tenc{o em vista os supremos interesses da salvaguarda da
or-dem e da estabilidade social. Ouçamos a este propósito as palavras cle Salazat:
"A ctise c1e clue sofremos rtai certamcnte pâssar, mâs o
es-sencial é sabcr se a cloença cluc infecciona a econotnia clas socieclades mociernas não será finalmente atacada, porqLÌe, se se está fazendo aos flossos olhos o processo cla democracia e c1o inclivicluaìismo, o processo c1¿ economia materiâlista, csse
está feito: toclos r.emos que falìu. Ilstá-nos portanto vecla-do este caminho, e eu não veio outro que não seia sr"rbstituir
os graves erros que têm viciaclo a r.isão clos conclutclres de
homens no Nlunclo,
pot
conceitos equilibtaclos, iustos, hu mânos, clc riqueza, cle trabalho, cle família, cle associação, c1eEstado" (SÀL,\Zi\R, 1933: 8).
A criação de corporações vinha ao encontro de uma 1ó-gica cle organização económica e social em que a tealização
clo interesse getal era previamente mecliacla pela obtenção cle uma harmonia dos interesses clos diferentes agentes e
gru-pos de aÉìentes que operam num mercaclo superiormente tu-telado pelo Estado.
A
fixação clos preços, a entracla de novasfirmas no metcado, a regulação das condições de trabalho, a cleterminação de níveis salariais, a análise clos custos de
pto-dução e, de
um
modo geral, todas as operações de cálculoeconómico que, num regime c1e
livte
concorrência, consti-tuem procedimentos elementares clas escolhas contingentesnum quadro cle escass ez de tecutsos clisponíveis