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Enrelvamento da vinha

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Academic year: 2021

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(1)GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito. Ilídio Rosário dos Santos Moreira.

(2) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. EDITORES Ana Monteiro Fernando Gomes da Silva Raul Jorge.

(3) Modo de citação desta obra: Monteiro A, Gomes da Silva F, Jorge R (Eds.) 2012 Gestão e conservação da flora e da vegetação de Portugal e da África Lusófona. “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. ISAPress, Lisboa. 480 pp. Capa: Professor Catedrático António Alberto Monteiro Alves Edição: ©2012 ISAPress Instituto Superior de Agronomia, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal Tel: 21 365 35 13 (Ext. 3513); Fax: 21 365 31 95; e-mail: isapress@isa.utl.pt Paginação: DPI Cromotipo Impressão: DPI Cromotipo Tiragem: 500 exemplares ISBN: 978-972-8669-52-2 Depósito Legal: 344619/12 Lisboa, Junho de 2012.

(4) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. ENRELVAMENTO DA VINHA Vineyard cover cropping Ana Monteiro1, Carlos M. Lopes1, José Carlos Franco 2 1. Centro de Botânica Aplicada à Agricultura, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, anamonteiro@isa.utl.pt, carlosmlopes@isa.utl.pt 2 Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, jsantossilva@isa.utl.pt. INTRODUÇÃO Na cultura da vinha a gestão do solo apresenta atualmente grandes mudanças, resultantes da perceção dos viticultores, consumidores e público em geral de que as práticas vitícolas convencionais podem não ser sustentáveis, contribuindo, por isso, para a degradação do ambiente. O solo e a água são dois recursos naturais fundamentais, havendo necessidade de encontrar estratégias de utilização que minimizem a sua degradação. Entre as múltiplas causas de degradação do solo, a erosão assume papel preponderante, com consequências negativas para o ambiente e para a produtividade agrícola. A erosão é determinada pelos fatores do solo que atuam na infiltração e na escorrência superficial da água (Ingels et al. 1998). Os fatores que facilitam a infiltração reduzem a escorrência e vice-versa. Elevadas taxas de escorrência podem levar a insuficiente armazenamento de água no solo e/ou níveis de erosão inaceitáveis. As mobilizações do solo, ao afetarem a compactação, a distribuição da porosidade, os agregados e a rugosidade da superfície do solo, têm implicações diretas na infiltração da água e na erosão. Na vinha, as mobilizações do solo consistiram, durante muito tempo, na principal técnica de gestão do solo, tendo sido complementadas nas últimas décadas com a aplicação de herbicidas residuais ou em mistura com foleares, na linha ou em toda a área. As consequências ambientais, designadamente a erosão do solo, o arrastamento de nitratos, a perda de matéria orgânica, a diminuição da biodiversidade, o aparecimento de infestantes resistentes aos herbicidas e a contaminação de toalhas freáticas com herbicidas, aconselham a utilização de sistemas de gestão do solo vitícola que minimizem aqueles efeitos. O enrelvamento constitui um sistema de gestão do solo recomendado em viticultura sustentável. O enrelvamento permanente da entrelinha de culturas perenes, onde se inclui a vinha, está contemplado nas medidas Agro-Ambientais. O enrelvamento duma vinha pode ser permanente ou temporário, realizado com uma única ou várias espécies vegetais, semeadas ou não (vegetação residente). As vantagens mais comuns do enrelvamento consistem na redução da erosão do solo, na adição ou conservação do azoto e da matéria orgânica, na melhoria da estrutura do solo e da infiltração da água e na melhoria da transitabilidade das máquinas agrícolas (Folorunso et al. 1992; Ingels et al. 1998, 2005; Morlat & Jacquet 2003). O enrelvamento, pelos seus efeitos no vigor da videira, pode reduzir a densidade 345.

(5) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. da sebe e, consequentemente, diminuir a incidência de Botrytis cinerea Pers (Frazão & Moreira 1990) e melhorar a maturação da uva. A cobertura vegetal do solo pode contribuir para o incremento da biodiversidade do ecossistema vinha, nomeadamente no que respeita aos organismos auxiliares, minhocas e outra fauna do solo (Bugg & Van Horn 1998; Ferreira 1992; 1995; Campos et al. 2006). Como desvantagens do enrelvamento da vinha são de referir a diminuição do vigor e da produção, devido a competição hídrica entre a vegetação e a cultura. Ao fornecer alimento, os relvados podem também aumentar a população de mamíferos roedores, em particular de coelhos e ratos. O conhecimento dos efeitos do enrelvamento na dinâmica ambiental, no vigor, na qualidade da uva e do vinho assume particular importância numa estratégia de viticultura sustentável. Os estudos da utilização de enrelvamento em regiões vitícolas portuguesas iniciaram-se na década de 80 (Frazão 1989; Frazão & Moreira 1990; Maia et al. 1991; Pacheco et al. 1990; 1991), tendo-se intensificado nos últimos anos. Com efeito, durante a primeira década do século XXI foram realizados vários ensaios de norte a sul do país em vários “terroirs” quer em vinhas de sequeiro (Afonso et al., 2003; Campos et al., 2006; Lopes et al. 2008; Monteiro & Lopes 2007; Monteiro et al. 2008) quer em vinhas regadas (Lopes et al. 2011). O enrelvamento consiste em instalar ou deixar desenvolver, temporária ou permanentemente, na totalidade ou em parte da superfície da vinha (ex., todas as entrelinhas, uma entrelinha em cada duas), uma cobertura vegetal do solo (Fig. 1 e 2). Esta técnica não é nova, uma vez que já era praticada pelos romanos.. Figura 1. Enrelvamento permanente natural em vinha regada, Monte Seis Reis, Estremoz (esquerda) e semeado, Alenquer (direita).. No início do século XX os efeitos positivos desta técnica de gestão do solo vitícola já eram reconhecidos. Com a finalidade de estrumar a vinha e controlar as infestantes, permitia-se que os rebanhos pastassem. Com o aparecimento dos fertilizantes a mobilização do solo generalizou-se (Fig. 3).. 346.

(6) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. Figura 2. Enrelvamento temporário natural alternado com mobilização (esquerda) e vinha com enrelvamento permanente natural (direita).. Figura 3. Vinha mobilizada na entrelinha com escarificador e herbicida na linha (esquerda) e mobilização da linha com intercepas de facas rotativas (“tournesol”) (direita).. Depois dos anos 1970, a aplicação de herbicidas generalizou-se nas vinhas portuguesas, em particular a aplicação de herbicidas na linha. A aplicação dos herbicidas é fácil, económica e com diversas opções, pois o número de substâncias ativas homologado para a vinha é grande. Em 2012, estavam homologadas em Portugal três substâncias ativas (s.a.) para controlo de espécies monocotiledóneas e 16 s.a. para espécies monodicotiledóneas e eudicotiledóneas, residuais e folheares sistémicas ou de contacto, em formulações simples ou em misturas (http://www.dgadr.pt/). Apesar do efeito positivo no controlo das infestantes, ao reduzir a concorrência pelos nutrientes e pela água, de facilitar a incorporação da matéria orgânica e dos adubos e de ser um método simples, a mobilização do solo traz graves inconvenientes, designadamente maior consumo de matéria orgânica, diminuição das raízes superficiais, indução do “calo de lavoura“, degradação da estrutura do solo e, consequentemente, maior erosão e redução na infiltração da água, pior acesso em solo húmido com problemas de transitabilidade de máquinas e maior consumo de energia (Fig. 4).. 347.

(7) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. A monda química apresenta como principais inconvenientes também o risco de erosão, a contaminação de aquíferos, o aparecimento de infestantes resistentes e a seleção do tipo de flora. O mercado nacional é deficitário em equipamento apropriado para a aplicação de herbicidas em vinha, designadamente quando se pretende conjugar o enrelvamento da entrelinha com aplicação de herbicidas na linha. A faixa pulverizada deve ter entre 40 a 50 cm de cada lado do tronco da videira, todavia é frequente observar larguras superiores a 1 m (Fig. 1). A Fig. 5 ilustra dois exemplos de pulverizadores adequados a tratamentos herbicidas na linha, no período de repouso vegetativo ou em pleno crescimento da videira. O modelo Undavina está a ser adotado por algumas empresas vitícolas nacionais (Fig. 5, direita).. A. B. C. D. Figura 4. Consequências da mobilização do solo da entrelinha: erosão em vinha de encosta (A); compactação provocada pela passagem da pré-podadora numa vinha (B). Dificuldade de transitabilidade da máquina de vindimar rebocada em encostas de solo argiloso (C) e levantamento de poeiras pelo sistema de limpeza da máquina de vindimar com a consequente contaminação do mosto em situação de solo arenoso, nu e seco (D).. Figura 5. As aplicações de herbicidas na linha combinadas com mobilizações do solo ou com enrelvamento são uma prática generalizada por recurso a pulverizadores e campânulas de utilização automática (esquerda) ou manual (direita).. 348.

(8) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. Em vinhas de sequeiro localizadas em regiões com elevado risco de stresse hídrico estival, pode-se utilizar o enrelvamento temporário, quer espontâneo (vegetação residente), quer semeado. Os objetivos pretendidos consistem em melhorar a estrutura do solo pelo efeito de afofamento, devido à presença de raízes, em particular de gramíneas, a transitabilidade em período húmido e chuvoso, em diminuir a erosão em vinhas declivosas e absorver o excesso de água. No enrelvamento temporário semeado ou natural, de modo a evitar a concorrência hídrica com a videira, a destruição da vegetação pode ser efetuada mecânica (Fig. 2, direita) ou quimicamente. Esta última solução permite manter as vantagens do enrelvamento, na condição de intervir apenas antes do abrolhamento da videira, podendo ainda reduzir os riscos de geada. Todavia, os efeitos do enrelvamento temporário são limitados porque a vegetação natural ou semeada não permanece tempo suficiente e as intervenções culturais anulam grande parte dos benefícios. O Quadro 1 apresenta algumas espécies com características adequadas ao enrelvamento temporário. A escolha de uma espécie ou de uma mistura de espécies é sempre um compromisso. É necessário optar por espécies com um crescimento capaz de concorrer com as infestantes sem afetar a videira, de implementação fácil, longevidade suficiente e resistentes à passagem das máquinas. No Quadro 2 referem-se algumas espécies indicadas na bibliografia como apropriados para enrelvamento permanente. Nos Quadros 3 e 4, apresenta-se uma síntese, obtida a partir da bibliografia da especialidade, relativa aos efeitos, de algumas espécies mais utilizados em enrelvamento da vinha. Quadro 1. Espécies passíveis de utilização em enrelvamento temporário. Nome científico Secale cereale Hordeum vulgare Avena sativa. Nome vulgar centeio cevada aveia. kg/ha. Data limite de sementeira. Observações. 160 a 200. meados de Setembro. Cobrem rapidamente o solo – protecção eficaz contra a erosão – importante massa vegetal na primavera, com riscos de geada – cortar ou enterrar. Cobrem rapidamente o solo – protecção eficaz contra a erosão – importante massa vegetal na primavera, com riscos de geada – cortar ou enterrar.. Brassica spp.. colza, nabo. 12 a 15. início a meados de Setembro. Vicia spp.. ervilhacas. 80 a 120. início de Setembro. Fixam o azoto atmosférico, mas pouco eficazes contra a erosão – difíceis de cortar devido ao porte – se utilizadas com cereais, estes servem de tutor.. Secale cereale + Vicia spp.. centeio + ervilhacas. 120 + 60. início de Setembro. Associação cereal-leguminosa: a leguminosa fixa o azoto atmosférico e o cereal serve de tutor.. 8 a 10. depois da vindima. O carrapiço é espontâneo em muitas vinhas de pH básico e as serradelas em solos arenosos; têm crescimento lento no inverno – pouco eficaz contra a erosão – mas fixam o azoto atmosférico em particular na primavera, quando o seu crescimento é máximo; terminam o ciclo vegetativo no fim de Abril/Maio.. 12 a 20. Março ou início de Setembro. Grande capacidade em remover azoto do solo; degradação rápida, devido à baixa relação C/N.. Medicago spp. Medicago polymorpha Ornithopus spp.. Phacelia tanacetifolia. luzerna anual, carrapiço serradelas. 349.

(9) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. Quadro 2. Espécies vegetais com características para enrelvamento permanente. Táxone. Nome vulgar. kg/ha. Data limite de sementeira. Observações. LEGUMINOSAS Lotus corniculatus. 5 a 12. Crescimento inicial muito lento; floração de Junho-Setembro.. Medicago polymorpha. carrapiço. 15 a 20. depois da vindima. Espontâneo em muitas vinhas de pH básico – tem crescimento lento no inverno – pouco eficaz contra a erosão – mas fixa o azoto atmosférico em particular na primavera, quando o seu crescimento é máximo; termina o ciclo vegetativo no fim de Abril.. Trifolium fragiferum. trevo-morango. 10 a 15. depois da vindima. Crescimento lento.. Trifolium incarnatum. trevo-encarnado. 15 a 25. depois da vindima. Crescimento moderado, floresce em Abril.. Trifolium repens. trevo-branco. 5 a 12. depois da vindima. Crescimento lento.. Trifolium subterraneum. trevo-subterrâneo. 20 a 25. depois da vindima. Crescimento moderado, floresce de Março a Abril.. Bromus spp.. 15 a 20. depois da vindima. Crescimento moderado.. Dactylis glomerata. 20 a 25. depois da vindima. Crescimento lento.. Festuca arundinacea. 20 a 30. depois da vindima. Crescimento rápido; tolerante à secura.. Festuca ovina. 15 a 20. depois da vindima. Crescimento lento; tolerante à secura.. Festuca rubra. 20 a 25. depois da vindima. Crescimento muito lento; tolerante à secura.. 40 a 50. depois da vindima. Cobre rapidamente o solo – proteção eficaz contra a erosão – importante massa vegetal na primavera, com riscos de geada – cortar ou enterrar.. GRAMÍNEAS. Lolium perenne. 350. azevém.

(10) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. Quadro 3. Síntese, obtida a partir da bibliografia da especialidade, relativa aos efeitos de alguns táxones mais utilizados em enrelvamento da vinha. Táxones(*). LEGUMINOSAS. EFEITOS 1. 2. 3. 4. 5. Fixa muito azoto Fixa pouco azoto. 6. GRAMÍNEAS 7. x ?. ?. x. x. ?. 9. 10. x. x x. 11. 12. 13. 14 15. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. Efeito mínimo no vigor. x. x. x. Controla infestantes. x. x. Controla o vigor. x x. x. x. x. x. x. x. Facilita a transitabilidade. x. x. x. x. x. x. x. Aumenta a infiltração da água. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. Melhora a estrutura do solo. x. Inibe nemátodos. x. Atrai insetos benéficos Pode tornar-se infestante. 17. x. x. Remove o excesso de água. 16. x. Remove azoto Controla a erosão. 8. CRUCÍFERAS. x x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. (*) 1. Trifolium alexandrinum; 2. Trifolium fragiferum (trevo-morangueiro); 3. Trifolium subterraneum (trevo-subterrâneo); 4. Trifolium hirtum; 5. Vicia faba (faveira); 6. Vicia spp.; 7. Medicago spp.; 8. Pisum sativum (ervilheira); 9. Vulpia myuros var. hirsuta; 10. Avena sativa (aveia); 11. Bromus hordeaceus; 12. Hordeum vulgare (cevada); 13. Dactylis glomerata; 14. Festuca arundinaceae; 15. Nassella (N. cernua; N. pulchra); 16. Brassica spp.; 17. Sinapis spp.. 351.

(11) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. Quadro 4. Síntese, obtida a partir da bibliografia da especialidade, relativa às considerações gerais sobre a gestão e principais características do habitat de alguns táxones mais utilizados em enrelvamento da vinha. Táxones(*) GESTÃO-CONSIDERAÇÕES. LEGUMINOSAS 1. Anual. x. Perene Mobilização Não-mobilização. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10 11. x. x. x. x. x. x. x. x. x x. x. x. x. x x. x. Tolerante à seca. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. CRUCÍFERAS 13 14. 15. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. x. 16 17 x. x. x. x. x. x. x. Tolerante ao frio. x. x x. x x. x. Vai bem em solos arenosos Neutra em solos alcalinos. x x. x. Intolerante ao corte. Neutra em solos ácidos. x. x x. 12. x. x. Vai bem sem irrigação. Tolerante à salinidade. x. x. Fácil instalação Vai bem com cortes frequentes. GRAMÍNEAS. x x. x. x x. x. x. (*) 1. Trifolium alexandrinum; 2. Trifolium fragiferum (trevo-morangueiro); 3. Trifolium subterraneum (trevo-subterrâneo); 4. Trifolium hirtum; 5. Vicia faba (faveira); 6. Vicia spp.; 7. Medicago spp.; 8. Pisum sativum (ervilheira); 9. Vulpia myuros var. hirsuta; 10. Avena sativa (aveia); 11. Bromus hordeaceus; 12. Hordeum vulgare (cevada); 13. Dactylis glomerata; 14. Festuca arundinaceae; 15. Nassella (N. cernua; N. pulchra); 16. Brassica spp.; 17. Sinapis spp.. 352.

(12) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. EFEITOS DO ENRELVAMENTO SOBRE O SOLO Erosão do solo Entre as múltiplas causas de degradação do solo, a erosão assume papel preponderante, com consequências negativas para o ambiente e para a produtividade agrícola. Todavia, apesar dos efeitos visíveis, os estudos sobre a erosão do solo em vinha são escassos. Com base em trabalhos efetuados noutras culturas perenes, designadamente no olival (Castro 1993), pode inferir-se que a erosão é determinada pelos fatores do solo que atuam na infiltração e na escorrência superficial da água. Os fatores que facilitam a infiltração reduzem a escorrência e vice-versa. Elevadas taxas de escorrência, para além de reduzirem o armazenamento de água no solo, podem levar a níveis de erosão inaceitáveis. As mobilizações do solo, ao afetarem a compactação, a distribuição da porosidade, os agregados e a rugosidade da superfície do solo, têm implicações diretas na infiltração da água e na erosão (Gulick et al. 1994; Grill et al. 1989; Buckerfield & Webster 2002). O enrelvamento permanente do solo limita a erosão e a escorrência superficial da água devido aos seus efeitos: i) na interceção das gotas da chuva, protegendo desse modo os agregados; ii) no aumento da infiltração, devido à macro e microporosidade resultante das raízes das espécies da vegetação; e (iii) no aumento da resistência ao escorrimento. Uso da água A vegetação dos relvados compete com a videira pelos recursos hídricos podendo ter uma importante contribuição para a evapotranspiração da vinha (Yunusa et al. 1997; Lopes et al. 2004; Centinari et al. 2011). Para além dos fatores ambientais que determinam a evapotranspiração de referência, a evapotranspiração dos relvados da vinha depende da fração de radiação solar intercetada (função da orientação das linhas, altura da sebe da vinha e da distância das entrelinhas), da faixa e taxa de cobertura de solo, do elenco florístico, da altura e arquitetura da vegetação e da gestão do relvado, sobretudo no que se refere à frequência e data dos cortes, entre outros fatores. Os resultados publicados sobre a competição hídrica pelos relvados são muito variáveis e, por vezes, contraditórios. Na Alemanha Böll (1967) estimou consumos adicionais de água na Primavera (Maio-Junho) entre 0.31 e 1.2 mm dia-1 para vários tipos de relvados. Também numa vinha da Alemanha, Griebel (1996), ao comparar solo mobilizado com enrelvamento na entrelinha, estimou um acréscimo de 35% na evapotranspiração da vinha enrelvada no período abrolhamento-floração, no entanto esta diferença esvaneceu-se no período de maturação. Ainda na Alemanha, Lopes et al. (2004) estimaram valores de evapotranspiração de um relvado de vinha entre 0.71 e 4.45 mm dia-1, dependente das espécies que compunham o relvado. Num recente trabalho realizado no estado de Nova York, EUA, Centinari et al. (2011), utilizando mini-lisimetros localizados na entrelinha de vinhas conduzidas em cordão simples e em GDC (“Geneva double curtain”), obtiveram valores de evapotranspiração dos relvados que variaram entre 0.6 e 2.6 mm/dia. Num ensaio efetuado em Portugal, na região de Alenquer, Monteiro & Lopes (2007) estimaram um consumo de água entre o abrolhamento e vindima entre 4 e 9% superior nas modalidades enrelvadas comparativamente à modalidade mobilizada. Noutro ensaio instalado no Alentejo, Lopes et al. (2011) estimaram um consumo adicional de água na Primavera de 2006 de 0,8 mm/dia na modalidade enrelvada comparativamente à modalidade mobilizada. 353.

(13) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. O consumo adicional de água por parte dos relvados está muito dependente da composição e abundância da vegetação. Com efeito, num estudo realizado na Alemanha, na região vitícola do Rheingau, Lopes et al. (2004) ao compararem as taxas de transpiração de várias espécies que compunham um relvado de uma vinha verificaram grandes diferenças entre elas. Por exemplo, durante o período do meio-dia a malva (Malva neglecta Wallr.) apresentou uma taxa de transpiração por unidade de área foliar cerca de três vezes superior à da gramínea Festuca rubra L. ssp. rubra. No mesmo trabalho, aqueles autores verificaram também que, ao longo do dia, os menores valores da taxa de transpiração correspondiam às horas em que a sombra provocada pela sebe da vinha impedia que a luz direta do sol atingisse o relvado. Este efeito de ensombramento da sebe da vinha sobre o relvado permite modelar o grau de competição hídrica e está dependente da orientação das linhas, da distância da entrelinha e da altura da sebe (Fig. 6).. 7UDQVSLUDomR PPROP V

(14). . . ϭϰ͘Ϭ. 0QHJOHFWD. ϭϮ͘Ϭ. &DUYHQVH. ϭϰ͘Ϭ. )UXEUD. ϭϮ͘Ϭ. ϭϬ͘Ϭ. ϭϬ͘Ϭ. ϴ͘Ϭ. ϴ͘Ϭ. ϲ͘Ϭ. ϲ͘Ϭ. ϰ͘Ϭ. ϰ͘Ϭ. Ϯ͘Ϭ. Ϯ͘Ϭ. 0OXSXOLQD. Ϭ͘Ϭ. Ϭ͘Ϭ Ϭϴ͗ϬϬ. ϭϬ͗ϬϬ. ϭϮ͗ϬϬ. ϭϰ͗ϬϬ. +RUDORFDO. ϭϲ͗ϬϬ. ϭϴ͗ϬϬ. Ϭϴ͗ϬϬ ϭϬ͗ϬϬ ϭϮ͗ϬϬ ϭϰ͗ϬϬ ϭϲ͗ϬϬ ϭϴ͗ϬϬ +RUDORFDO. Figura 6. Taxa de transpiração de (A) Malva neglecta e Cirsium arvense e (B) Medicago lupulina e Festuca rubra ssp. rubra, durante um dia de verão de 2001, Geisenheim, Alemanha (Adaptado de Lopes et al. 2004).. Dependente do solo, das condições meteorológicas do local e ano e da idade e vigor da vinha, este consumo adicional de água por parte dos relvados pode ter efeitos positivos ou negativos. Em vinhas instaladas em solos profundos e em regiões com regulares precipitações estivais, correspondentes em geral a vinhas de vigor elevado, a competição pela água entre o relvado e a videira pode ser benéfica. Nessas circunstâncias, o moderado stresse hídrico, provocado pela competição dos relvados durante a Primavera, pode induzir uma redução do crescimento vegetativo da videira (Steinberg 1970; Geoffrion 2000; Afonso et al. 2003, Monteiro et al. 2007) que, ao reduzir a densidade da sebe, melhora o microclima na zona dos cachos e, consequentemente, melhora a composição e sanidade da uva (Frazão e Moreira 1990; Pacheco et al. 1991; Maigre & Aerny 2001; Lopes et al. 2008). Em vinhas regadas o problema da excessiva competição hídrica por parte dos relvados não se coloca uma vez que existe a possibilidade de compensar o consumo de água do relvado através da rega. Nestas vinhas, para além das vantagens já referidas atrás, a competição hídrica por parte dos relvados pode trazer outros benefícios caso se pretenda aplicar estratégias de rega deficitária controlada na fase inicial de crescimento dos bagos. Estas estratégias de rega envolvem a redução ou paragem da rega logo após o vingamento dos bagos de forma a induzir um stresse moderado controlado que leve à redução quer do crescimento vegetativo quer da multiplicação celular nos 354.

(15) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. bagos com vista à obtenção de bagos mais pequenos com uma melhor relação película/polpa e, consequentemente, melhor composição fenólica (Dry et al. 2001). Nas condições ecológicas portuguesas nem sempre é fácil conseguir este stresse moderado uma vez que o período de vingamento dos bagos coincide com o final da Primavera, fase em que, em geral, muitos solos ainda apresentam um teor de humidade elevado. Nestas circunstâncias, o consumo adicional de água provocado pelos táxones vegetais presentes nos relvados durante o período abrolhamento-floração da vinha poderá induzir o referido stresse moderado no período pretendido e, consequentemente, permitir quer uma paragem mais precoce do crescimento vegetativo quer a obtenção de bagos mais pequenos e de melhor qualidade. Todavia, a utilização do enrelvamento em vinhas de baixo vigor onde se usam regas deficitárias pode levar a uma redução excessiva do crescimento vegetativo e da produção sem benefício da qualidade (Lopes et al. 2011). Nestas circunstâncias deve ser feita uma correta monitorização do estado hídrico do solo e videira de forma a permitir iniciar a rega antes do teor de humidade do solo atingir valores passíveis de induzir uma paragem excessivamente precoce do crescimento. Em Portugal, durante o verão, a maioria das regiões vitícolas apresenta uma elevada demanda atmosférica pelo que, em vinhas de sequeiro, localizadas em regiões com fraca e/ou nula precipitação estival e instaladas em solos com baixa capacidade de armazenamento, a competição pela água entre as videiras e a vegetação dos relvados pode acelerar o desenvolvimento de situações de stresse hídrico que sejam negativas para a fisiologia da videira, crescimento, produção e qualidade da uva. Esta competição hídrica será tanto mais prejudicial quanto mais jovem for a vinha devido ao facto das videiras jovens ainda não possuírem um sistema radicular capaz de absorver a água das camadas de solo mais profundas e, portanto, estarem mais suscetíveis à competição por parte da vegetação dos relvados. Nestas circunstâncias a prática do enrelvamento permanente deve ser ponderada, devendo-se considerar alternativas como por exemplo enrelvamento em linhas alternadas, enrelvamento temporário, cortes mais frequentes, mobilização ou herbicida a toda a área. A avaliação da competição hídrica exercida pelos relvados pode basear-se, por exemplo, na estimativa das disponibilidades hídricas do solo ou no potencial hídrico foliar da videira que, se for medido imediatamente antes do nascer do sol (potencial de base), fornece uma indicação das disponibilidades hídricas da videira na zona de absorção radicular. Na Fig. 7 apresenta-se um exemplo da evolução da humidade volúmica (HV) do solo ao longo do ciclo biológico de 2003, referente a um ensaio instalado numa vinha de encosta, em Alenquer, onde se comparou uma modalidade mobilizada com duas modalidades relvadas: relvado natural e relvado semeado (Monteiro & Lopes 2007). Verificou-se que, a partir do abrolhamento, a modalidade mobilizada passou a apresentar uma HV superior às modalidades com enrelvamento, indicativo de um maior consumo destas durante a Primavera (ca de + 0.4 mm/dia no período abrolhamento-floração), correspondente à fase em que a vegetação dos relvados apresentava maior desenvolvimento. No período floração-pintor os consumos foram idênticos nas três modalidades, o que se explica pelo facto de, nesse período, a vegetação dos relvados se encontrar parcialmente seca. No período pintor-vindima verificou-se que as diferenças entre as curvas de HV se atenuaram, indicativo de um maior consumo da modalidade mobilizada comparativamente às modalidades relvadas o que se explica sobretudo pela maior evapotranspiração das videiras da modalidade mobilizada em resultado da sua maior área foliar. De referir também que não se observaram diferenças significativas entre os valores de HV do relvado natural e semeado (Fig. 7A). O maior consumo de água na fase inicial do ciclo vegetativo da videira repercutiu-se nos valores do seu potencial 355.

(16) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. hídrico foliar de base que foram quase sempre mais negativos nas modalidades enrelvadas (Fig. 7B). Todavia, na fase final da maturação, tal como verificado com os valores da HV do solo, verificou-se uma atenuação das diferenças entre modalidades. A 40. 3RWHQFLDOKtGULFRIROLDUGHEDVH 03D

(17). B 0.0. +XPLGDGHYRO~PLFD 

(18). 35. 30. 25. 20. 15 abrolhamento 10 pintor abrolhamento floração. -0.1. -0.2. -0.3. -0.4. -0.5. abrolhamento. pintor. -0.6 vindima. )DVHIHQROyJLFD Mobilização. vindima. 160. 180. 200. 220. 240. 260. 'LDGRDQR Relvado natural. Relvado semeado. Figura 7. Evolução da humidade volúmica do solo até 1 m de profundidade (média de 10 perfis de 10 cm) (A) e do potencial hídrico foliar de base (B) ao longo do ciclo de 2003, casta ´Cabernet Sauvignon´, Alenquer. Adaptado de Monteiro & Lopes (2007) e de Lopes et al. (2008).. Noutro ensaio instalado no Alentejo, em Estremoz, numa vinha de baixo vigor da casta ‘Aragonez’, Lopes et al. (2011) verificaram um comportamento similar na evolução da humidade do solo. Em resumo, e com base nos resultados de vários ensaios efetuados em diferentes regiões vitícolas portuguesas, pode-se afirmar que a competição hídrica por parte dos relvados assume maiores proporções na Primavera pois, em geral, durante o verão a vegetação do relvado se encontra seca. Para além disso, o facto de naqueles estudos se ter verificado um maior consumo de água em camadas mais profundas por parte das videiras das modalidades enrelvadas, confirma resultados obtidos noutros “terroirs” (Morlat & Jaquet 2003) e permite considerar o uso do enrelvamento como uma prática cultural passível de promover a exploração de camadas de solo mais profundas por parte das raízes da videira. Por outro lado, a redução do crescimento vegetativo observado nas videiras das modalidades relvadas permite também uma redução do consumo de água durante a fase de maturação promovendo assim uma maior eficiência do uso da água (Linares et al. 2007; Monteiro & Lopes 2007). A redução do escoamento superficial associada ao aumento da taxa de infiltração do solo permite também um maior abastecimento em água do perfil do solo durante o Inverno e, consequentemente, aumenta a disponibilidade hídrica da cultura (Cellete et al. 2005). Transitabilidade O enrelvamento permite o acesso à vinha em qualquer altura do ano, o que facilita a mecanização das diversas operações culturais, em particular os tratamentos fitossanitários após uma chuvada e a colheita mecânica em situação de vindimas chuvosas. Comparativamente a solo mobilizado, 356.

(19) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. a presença do relvado facilita o trânsito da maquinaria em condições de solo húmido, reduzindo o atascamento. As principais razões que permitem explicar a melhoria da transitabilidade são: i) diminuição da força de tração necessária (15% em enrelvamento seco); ii) melhor repartição da carga da máquina sobre toda a superfície enrelvada e iii) aumento do teor de matéria orgânica (Folorunso et al. 1992; Klik et al. 1998; Geoffrion 1999, 2000). Todavia em casos de declives acentuados, seja em tempo seco ou húmido, um enrelvamento muito alto ou muito rente pode induzir o deslizamento das máquinas. Nutrição e fertilidade A nutrição azotada da vinha depende da fertilização que é praticada, do teor de matéria orgânica do solo e da taxa de mineralização, a qual é função da temperatura, do arejamento do solo e da taxa de humidade. O teor em nitratos no solo, muito solúveis, depende ainda da taxa de lexiviação. A diminuição dos teores de azoto tem sido referida nas situações de vinhas relvadas com base em gramíneas, variando contudo com o ano e a espécie escolhida (Keller 1997; Rodriguez-Lovelle et al. 2000; Veloso et al. 1998). O deficite é sobretudo observado nos primeiros anos de enrelvamento e pode ser tanto ou mais importante se o solo for pobre em matéria orgânica e se o solo for muito permeável (Chantelot et al. 2001) O enrelvamento influencia o balanço do azoto da vinha, agindo sobre o teor de nitratos por diversos processos: i) usa uma parte dos nitratos para o crescimento vegetativo, em particular no início da Primavera, mas também no Inverno, limitando a sua lexiviação; ii) aumenta o teor de matéria orgânica; iii) regula a temperatura do solo, limita o aquecimento durante o Verão, podendo reduzir a velocidade de mineralização, e no Inverno verifica-se o contrário. Em geral, o enrelvamento reduz o teor em nitratos mas, sobretudo, regulariza o seu teor ao longo do ano. Nas regiões onde a água não é fator limitante, o enrelvamento pode provocar uma carência de azoto que pode ser observada no início da floração. A Fig. 8 ilustra o efeito das técnicas de manutenção do solo na acumulação de azoto na vegetação da entrelinha. O enrelvamento semeado – espécies dominantes Lolium perenne, Trifolium incarnatum e T. subterraneum – acumulou mais azoto por unidade de área, comparativamente à vegetação das parcelas mobilizadas. O carrapiço, Medicago polymorpha, leguminosa residente em solos básicos de muitas vinhas portuguesas, apresentou elevada capacidade de acumulação de azoto (Fig. 8). O enrelvamento reduz a poluição das águas superficiais e subterrâneas pelos nitratos ao absorver uma parte destes e ao libertá-los lentamente através da mineralização. Na maioria das situações, o teor em fósforo é superior em vinhas relvadas, devido ao papel que as raízes da flora têm na mobilidade deste nutriente (Deist et al. 1973; Crozier 1998). Relativamente ao potássio, magnésio e cálcio, existe pouca informação entre vinhas relvadas e não relvadas. 357.

(20) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. Relvado semeado. 7ULIROLXP VXEWHUUDQHXP. Relvado natural. /ROLXPVS. Mobilização. 0HGLFDJR SRO\PRUSKD 0. 250. 500. 750. 1000. 1250. 1500. 17RWDOQDELRPDVVDSDUWHDpUHD PJP

(21). 0. 500. 1000. 1500. 2000. 2500. 17RWDOQDELRPDVVDSDUWHDpUHD PJJPV

(22). Figura 8. Efeito da técnica de gestão do solo da vinha na acumulação de azoto total na vegetação da entrelinha (esquerda) e na acumulação de azoto total nas leguminosas Trifolium subterraneum e Medicago polymorpha e nas poáceas Lolium. multiflorum e L. perenne, no final da Primavera de 2003, Alenquer (Projecto Agro 104).. Microrganismos, minhocas e outra fauna do solo A presença duma camada de vegetação protetora, a adição regular de matéria orgânica, a melhoria das propriedades físicas e a presença de numerosas raízes têm como consequência, uma intensificação e diversificação da atividade biológica do solo, ou seja, um efeito positivo na microflora do solo. Contudo, há questões ainda não completamente esclarecidas quanto à manutenção do enrelvamento, designadamente os efeitos na: i) diversidade de decompositores; ii) reciclagem de nutrientes e controlo de doenças radiculares; e iii) qualidade da uva. Diversos trabalhos referem que o aumento da população de microrganismos que intervêm no ciclo de azoto e do carbono é acompanhado pelo aumento da produção de CO2. Isto explica a diminuição do pH por vezes observada em solo calcário com enrelvamento. A diminuição do pH permite uma melhor solubilização do ácido fosfórico e uma diminuição dos riscos de clorose férrica. Em solos ácidos, o enrelvamento permanente parece induzir um aumento de pH. As condições favoráveis à vida subterrânea, o aumento da taxa de reprodução da microflora do solo na ausência de mobilizações e a presença de plantas hospedeiras favorecem a proliferação da microfauna do solo, designadamente de nemátodos, benéficos ou prejudiciais à videira (Quadro 4). Determinadas espécies vegetais podem ser semeadas por serem não-hospedeiras de nemátodos uma vez que limitam os nemátodos fitófagos ao comportarem-se como nematodicidas, devido aos exsudados radiculares e foliares que produzem (Murant 1981). Quadro 4. Nemátodos fitófagos em infestantes da vinha. Meloigyne. Ditylenchus. Xiphinema(*). Chenopodium album. +. +. -. Cirsium arvense. +. +. -. Convolvulus arvensis. +. +. -. Cynodon dactylon. +. -. +. Lolium spp.. +. +. -. Poa annua. +. +. Rumex spp.. +. +. -. Taraxacum officinale. +. +. +. Vicia spp.. +. +. -. ( ). * Xiphinema index vector de virus da videira. 358.

(23) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. Estudos realizados em França mostraram um aumento significativo da macrofauna do solo. O número de minhocas pode ser três a quatro vezes superior num solo enrelvado, comparativamente a solo nú. Esta proliferação de minhocas conduz a maior arejamento e melhor drenagem do solo, dois efeitos particularmente importantes em solos pesados e anaeróbicos, reduzindo o risco de clorose. Maia et al. (1991) verificaram que o comportamento da mesofauna do solo, incluindo ácaros, colêmbolos, miriápodes e insetos, era determinado pelas condições ambientais criadas pelos diferentes sistemas estudados de gestão do solo da vinha (herbicida em toda a área, mobilização da entrelinha e enrelvamento outono-invernal da entrelinha). ENRELVAMENTO E PROTEÇÃO DA VINHA Enrelvamento e dinâmica da vegetação infestante A influência das técnicas de gestão do solo da vinha na dinâmica da vegetação infestante tem sido largamente documentada e foi sintetizada por Moreira & Monteiro (2000/1). Em toda a região mediterrânica, é já bem conhecido o aumento da importância das infestantes vivazes e bianuais, resultante do incremento da aplicação de herbicidas. Em Portugal, salientam-se algumas espécies que, devido à sua biologia ou à baixa tolerância aos herbicidas aplicados, têm sido em geral favorecidas pela monda química: Convolvulus arvensis L. e Cynodon dactylon (L.) Pers., Conyza spp., Rubia peregrina L., Rubus ulmifolius, Allium paniculatum L., Hypericum perforatum L., Hypericum humifusum L., Rosa sempervirens L., Paspalum paspalodes (Michx.) Scribner, Asparagus acutifolius L., Asparagus aphyllus L., Muscari comosum (L.) Miller. Num já referido estudo de três anos conduzido na região de Lisboa, em Alenquer, as modalidades enrelvadas com espécies semeadas ou com vegetação residente, induziram alterações na dinâmica da vegetação, pois favoreceram a instalação de gramíneas anuais e perenes e de eudicotiledódeaas perenes, enquanto na modalidade com mobilização do solo as espécies eudicotiledóneas anuais foram os táxones dominantes (Quadro 5). Quadro 5. Efeito das técnicas de gestão do solo, três anos após o início do estudo, na percentagem da biomassa relativa da vegetação da entrelinha na primavera (Abril 2003).. Tipo Biológico. Mobilização. Enrelvamento Residente. Semeado. 15,2 a. 16,1 a. Gramíneas anuais. 2,2 b. Eudicotiledóneas anuais. 87,5 a. 49,1 b. 36,3 b. Gramíneas perenes. 0,0 c. 10,2 b. 40,8 a. Eudicotiledóneas perenes. 10,2 b. 25,4 a. 6,8 b. Outras monocotiledóneas. 0,1 a. 0,1 a. 0,0 a. Por linha, letras diferentes indicam diferenças significativas a um nível de P < 0.05 pelo teste da MDS. No já referido ensaio conduzido no Alentejo, Estremoz, no final de Abril do segundo ano (2006), dominavam os terófitos, designadamente espécies eudicotiledóneas, quer na modalidade mobili359.

(24) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. zada (testemunha) quer na de enrelvamento natural permanente. Constatou-se ainda que a evolução da biomassa seca total da parte aérea da vegetação foi similar nas duas modalidades e nos dois anos do estudo. Contudo, a produção total de biomassa no final de Abril foi mais elevada em 2006 (ca. 300%) do que em 2005 devido, provavelmente, às diferenças registadas na quantidade e distribuição da precipitação ocorrida nos dois anos do estudo (Lopes et al. 2011). A modalidade enrelvada apresentou também maiores valores de biomassa e de cobertura vegetal que, segundo Folorunso et al. (1992) e Geoffrion (2000), poderá ser explicada pela redução da compactação e melhoria da estrutura do solo enrelvado. Doenças e pragas da videira As infestantes podem constituir foco de infestação de pragas e doenças, mas são um verdadeiro repositório de auxiliares, assumindo papel cada vez mais importante no contexto da proteção da vinha, havendo todo o interesse no conhecimento da diversidade de organismos que suportam e o seu relacionamento com as populações presentes na cultura. Alguns autores franceses referem que o enrelvamento propicia à superfície do solo um inóculo perigoso e, simultaneamente, humidade favorável ao desenvolvimento de fungos parasitas. Todavia, estudos nacionais evidenciam um efeito positivo do enrelvamento na diminuição da podridão cinzenta, Botrytis cinerea (Pers)., sobretudo em anos em que a sua incidência é mais forte (Frazão 1989; Frazão & Moreira 1990). Esta ação poderá ser atribuída ao efeito indireto no vigor da videira pois a diminuição do vigor traduz-se por uma melhoria do microclima ao nível dos cachos, podendo reduzir os riscos de podridão. No que concerne ao ataque do míldio (Plasmopara viticola (Berk e Curt) Berl e De Toni) e do oídio (Uncinula necator (Schw) Burrr) e nos casos de estudo portugueses, também não foram observadas diferenças significativas na incidência dos fungos entre as modalidades com enrelvamento da entrelinha e mobilização do solo. A dinâmica entre pragas, auxiliares e enrelvamento nas vinhas portuguesas tem sido, nos últimos anos, objeto de vários estudos. Uma vegetação diversificada e abundante favorece tanto as pragas como os seus predadores. Todavia, o enrelvamento constitui um habitat que na primavera fornece alimento, néctar e pólen, a parasitóides e a predadores, sendo de esperar que as suas populações aumentem. Por exemplo, Typhlodromus phialatus Athias-Henriot é um ácaro predador importante no Alentejo que está presente na vegetação residente. A acarofauna da videira em Portugal está bastante bem estudada, podendo referir-se os trabalhos de Ferreira (1992; 1995), Carmona (1988), Carmona & Ferreira (1989), Teixeira (1995), Perez et al. (1999), Marques et al. (2005), Mauricio et al. (2009) e Santos (2011). Em geral, do ponto de vista acarológico, as infestantes podem ser uma componente importante de limitação natural da acarofauna da vinha, excepto no que se refere às infestantes hospedeiras de Tetranychus urticae Koch, designadamente Chenopodium album L., Convolvulus arvensis L., Epilobium tetragonum L., Picris echioides L. e Raphanus raphanistrum L.. Na Califórnia, Costello & Daane (1998) realizaram estudos conducentes à avaliação do efeito do enrelvamento no ataque de cigarrinhas-verdes e obtiveram resultados variáveis segundo os anos e os locais de amostragem, mas com uma tendência para a redução da praga nas vinhas enrelvadas. A diminuição da praga foi atribuída a um aumento das populações de aranhas. 360.

(25) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. Num estudo efetuado em Alenquer avaliou-se a influência de três modalidades de gestão do solo na entrelinha – mobilização do solo, enrelvamento permanente residente e enrelvamento permanente semeado – na abundância de pragas e auxiliares associados a uma vinha da casta ‘Cabernet Sauvignon’ (Campos et al. 2006). Verificou-se que, comparativamente à mobilização, as modalidades enrelvadas apresentavam maior colonização por artrópodes auxiliares e valores mais baixos de intensidade de ataque de cigarrinhas-verdes (Fig. 9). Todavia o incremento observado nos inimigos naturais parece não ser suficiente para explicar as diferenças registadas no ataque da praga. Alguns investigadores apontam a redução de vigor da videira nas modalidades enrelvadas como uma causa plausível para a redução do ataque da praga ao alterar os recursos disponíveis, bem como, a redução do contraste entre a videira e o solo devido à presença do relvado. Relativamente a outras pragas da videira, em particular no que concerne às traças da uva (Lobesia botrana Den. & Schiff e Clysia ambiguella Huebn.), diversos estudos indicam que determinados espécies vegetais, infestantes ou cultivadas, são potenciais hospedeiros das larvas, aconselhando por isso seleção criteriosa das espécies a instalar no relvado e medidas de gestão das espécies infestantes.. Capturas de cigarrinha-verde (Nº).                  . 250. Mobilização do solo Relvado semeado Relvado natural. 200. 150. vingamento. 100. floração. pintor. 50. 0. 24/5 31/5 7/6 14/6 22/6 28/6 5/7 14/7 19/7 26/7 2/8 9/8 16/8 23/8 30/8 7/9 14/9. Data. Figura 9. Efeito das técnicas de gestão do solo nas capturas de cigarrinhas-verdes em armadilhas amarelas adesivas instaladas em vinha, em 2005, Alenquer, casta ‘Cabernet Sauvignon’ (Adaptado de Campos et al. 2006).. EFEITOS NA VIDEIRA Efeitos no crescimento vegetativo Tal como já foi referido, as técnicas de manutenção do solo podem modificar as disponibilidades em água e nutrientes e a distribuição do sistema radicular da videira e, assim, influenciarem indiretamente o seu vigor e perenidade. A prática do enrelvamento provoca, em geral, uma redução do crescimento vegetativo e do vigor da videira sendo a amplitude dessa redução dependente, entre outros fatores, das características do “terroir” (clima, solo, casta, porta-enxerto), 361.

(26) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. do vigor inicial da videira, da fertilização da vinha e de todos os fatores que condicionam o uso da água pelos relvados. São vários os trabalhos que demonstraram que o enrelvamento provocou uma redução do crescimento dos sarmentos, da área foliar e do peso da lenha de poda (ex. Morlat et al. 1993; Caspari et al. 1997; Maigre & Aerny 2001; Afonso et al. 2003; Monteiro et al. 2007; Lopes et al. 2011, entre outros). Estes efeitos são, normalmente, mais marcados nos primeiros anos após o estabelecimento do enrelvamento, tendo-se verificado, nalguns casos, uma recuperação ao fim de vários anos em resultado da adaptação do sistema radicular da videira a camadas mais profundas do solo. Dependente do vigor da videira, a redução do crescimento vegetativo pode ser benéfica ou prejudicial. Em situações de elevado vigor, o consumo de água adicional na primavera é, em geral, benéfico pois, ao induzir um menor crescimento vegetativo e/ou uma paragem mais precoce desse crescimento, permite uma redução do vigor e densidade da sebe com consequências positivas quer em termos de redução das necessidades de intervenções em verde (despontas e desfolhas) quer em termos da incidência de pragas e doenças quer ainda proporcionando um microclima dos cachos mais favorável à maturação. Em vinhas de baixo vigor esta redução do crescimento vegetativo pode ser prejudicial pois pode levar a uma excessiva redução do vigor, com consequências negativas na produção e fertilidade da videira que, em casos extremos, pode pôr em causa a perenidade da videira. Um bom exemplo desta diversidade de efeitos pode ser observado no gráfico da Fig. 10 que mostra alguns resultados obtidos em dois ensaios efetuados em duas regiões vitícolas portuguesas.  . . .  . b.  . a a.     Alenquer/CS Alentejo/Arag. . a. a. . b. . . b. . . a.  . b. . 3HVRVDUPHQWR J

(27). a. . 3HVR OHQKDSRGD NJYLGHLUD

(28). ÉUHDIROLDUQHWDV P  VDU

(29). . b.   . . . . . . a. .  $OHQTXHU&6. 0RELOL]DomR. $OHQWHMR$UDJ. $OHQTXHU&6. $OHQWHMR$UDJ. 5HOYDGRQDWXUDO. Figura 10. Efeito das técnicas de manutenção do solo (mobilização da entrelinha vs enrelvamento natural permanente) no crescimento vegetativo e vigor da videira em duas regiões vitícolas portuguesas: Alenquer (‘Cabernet Sauvignon’, 2004) e Alentejo (‘Aragonez’, 2005). Letras diferentes indicam diferenças significativas para P<0,05. Nota: em ambos os ensaios a densidade de plantação era de 4000 videiras/ha (2,5 x 1,0 m).. No, já referido, ensaio instalado na região de Alenquer com a casta ‘Cabernet Sauvignon’ nos anos 2002-2004, Lopes et al. (2008) verificaram uma redução significativa na área foliar secundária (nos 3 anos de ensaio) e no peso da lenha de poda e peso médio do sarmento (apenas 362.

(30) “In Honorium” do Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira. no 3.º ano de ensaio) nas modalidades relvadas comparativamente à modalidade mobilizada. Este efeito dos relvados na redução do crescimento vegetativo foi vantajoso pois permitiu reduzir a espessura da sebe e melhorar o microclima da zona de frutificação com consequências positivas na acumulação de antocianinas no bago sem pôr em causa a produção (Fig. 11) e perenidade da videira. Já num outro ensaio instalado no Alentejo, em Estremoz, numa vinha de baixo vigor da casta ‘Aragonez’, Lopes et al. (2011), ao compararem a mobilização da entrelinha com enrelvamento natural, verificaram uma redução do crescimento vegetativo e da produção sem qualquer benefício ao nível da qualidade da uva (Fig. 10, 11 e 12). Efeitos na produção e qualidade Os resultados publicados referentes aos efeitos do enrelvamento na produção são muito variáveis, podendo ir desde ausência de efeitos (ex. Lopes et al. 2008) até reduções significativas do rendimento nas modalidades relvadas relativamente a modalidades mobilizadas ou com herbicida a toda a área (ex. Morlat et al. 1993; Maigre et al. 1995; Crozier 1998; Riou & Pieri 1998; Geoffrion 2000; Lisa et al. 2000; Maigre & Aerny 2001; Afonso et al. 2003; Lopes et al. 2011). Esta redução do rendimento é, em geral, atribuída a uma redução do peso do bago em resultado dos efeitos da maior competição pela água e nutrientes nas modalidades enrelvadas. Em Portugal, os estudos efetuados confirmam esta variabilidade de resultados como se pode confirmar pelos exemplos apresentados na Fig. 11, relativos a três casos de estudo em três regiões vitícolas. Os efeitos do enrelvamento na composição da uva são também muito variáveis com os locais, castas e anos e resultam, em geral, de efeitos indiretos no microclima dos cachos e na relação folha/fruto provocados pelas alterações do crescimento vegetativo e reprodutivo induzidas pela competição pela água e nutrientes. Com efeito, e tal como já foi referido, o enrelvamento, pelos seus efeitos na redução do crescimento vegetativo da videira, pode induzir uma sebe mais aberta e, consequentemente, influenciar a sanidade e maturação da uva. Em geral, estes efeitos repercutem-se na diminuição da acidez total (Pacheco et al. 1991; Chantelot et al. 2001; Lopes et al. 2008; Lopes et al. 2011), no aumento do teor alcoólico dos vinhos (Geoffrion, 1999) e no aumento do teor em antocianas e da intensidade da cor (Agulhon 1998, Lopes et al. 2008). ϭϲ͘Ϭ. Ă. 3URGXomR WKD

(31). ϭϰ͘Ϭ ϭϮ͘Ϭ. Ă Ă. ď Ă. ϭϬ͘Ϭ ϴ͘Ϭ. ď. ϲ͘Ϭ ϰ͘Ϭ Ϯ͘Ϭ Ϭ͘Ϭ. 9LQKRV9HUGHV $OYDULQKR. $OHQTXHU &DEHUQHW6DXYLJQRQ. 0RELOL]DomR. $OHQWHMR $UDJRQH]. 5HOYDGRQDWXUDO. Figura 11. Efeito das técnicas de manutenção do solo (mobilização da entrelinha vs. enrelvamento natural permanente) no rendimento da videira em três regiões vitícolas portuguesas: Vinhos Verdes (‘Alvarinho’, médias 3 anos), Alenquer (‘Cabernet Sauvignon’, média 3 anos) e Alentejo (‘Aragonez’, média 2 anos). Letras diferentes indicam diferenças significativas para P<0,05.. 363.

(32) GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA FLORA E DA VEGETAÇÃO DE PORTUGAL E DA ÁFRICA LUSÓFONA. Os efeitos na concentração de antocianinas explicam-se pelos efeitos indiretos da competição hídrica na redução do crescimento vegetativo e consequente melhoria do microclima luminoso na zona dos cachos, situação favorável ao aumento da cor e da concentração de antocianinas nas castas tintas (Dokoozlian & Kliewer 1996; Spayd et al. 2002). Estes efeitos são, em geral, mais marcados em condições de elevado vigor tal como se pode constatar no exemplo da Fig. 12. No ensaio instalado em Alenquer, a redução significativa observada no vigor nas modalidades relvadas comparativamente à modalidade mobilizada não afetou o teor em açúcar do mosto mas reduziu a sua acidez total e aumentou o teor em antocianinas nas películas (Lopes et al. 2008). Num outro ensaio instalado no Alentejo numa vinha de baixo vigor, apesar de também se ter verificado uma redução significativa do crescimento vegetativo na modalidade enrelvada, verificou-se um aumento do teor em açúcar e uma redução da acidez mas não se observaram diferenças significativas na concentração de antocianinas comparativamente à modalidade mobilizada (Lopes et al. 2011). %. . a. a b. . a. $ FL GH]WRWDO JDFWDUW/

(33). . ž%UL[. . . . &. . $OHQTXHU&6. $OHQWHMR$UDJ. a. . b. b.  . a. . b.  . . a. a.   .  .  . . a. $ QWRFLDQLQDV PJJ

(34). . .  $OHQTXHU&6. 0RELOL]DomR. $OHQWHMR$UDJ. $OHQTXHU&6. $OHQWHMR$UDJ. 5HOYDGRQDWXUDO. Figura 12. Efeito das técnicas de manutenção do solo (mobilização da entrelinha vs. enrelvamento natural permanente) no grau Brix (A), na acidez total do mosto à vindima (B) e no teor em antocianinas das películas (C) em duas regiões vitícolas portuguesas: Alenquer (‘Cabernet Sauvignon’ – CS, 2004) e Alentejo (‘Aragonez’ – Arag, 2005). Letras diferentes indicam diferenças significativas para P<0,05.. BIBLIOGRAFIA Afonso JM, Monteiro A, Lopes CM, Lourenço J 2003. Enrelvamento do solo em vinha na regiao dos Vinhos Verdes. Tres anos de estudo na casta ‘Alvarinho’. Cienc. Tec. Vitiv. 18, 47–63. Agulhon R 1998. Enherbement permanent, ENM et mulch, comparés à la non culture. Phytoma 511, 46-48. Böll KP 1967: Versuche zur Gründüngung im Weinbau. Vitis 6, 151-176. Buckerfield J, Webster K 2002. Soil Management: Organic matter management in vineyards – mulches for soil maintenance. The Aust. & New Zealand Grapegr. & Winemaker 26-33. Campos L, Franco JC, Monteiro A, Lopes C 2006 Influência do enrelvamento na abundância de artrópodes associados a uma vinha da Estremadura. Cienc. Tec. Vitiv. 21 (1), 33-46. Carmona MM, Ferreira MA 1989 Acarofauna of grapevines in Portugal. Proceedings of the CEC/IOBC international symposium “Plant protection problems and prospects of integrated control in Viticulture”, Lisboa – Vila Real, 1988: 225-229.. 364.

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Imagem

Figura 1. Enrelvamento permanente natural em vinha regada, Monte Seis Reis,   Estremoz (esquerda) e semeado, Alenquer (direita).
Figura 3. Vinha mobilizada na entrelinha com escarificador e herbicida na linha (esquerda) e   mobilização da linha com intercepas de facas rotativas (“tournesol”) (direita)
Figura 4. Consequências da mobilização do solo da entrelinha: erosão em vinha de encosta (A); compactação  provocada pela passagem da pré-podadora numa vinha (B)
Figura 6. Taxa de transpiração de (A) Malva neglecta e Cirsium arvense e (B) Medicago lupulina e Festuca rubra ssp
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