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LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do Advérbio em uma perspectiva historiográfica

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

WEMYLLA DE JESUS ALMEIDA

LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do Advérbio em uma perspectiva historiográfica

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

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WEMYLLA DE JESUS ALMEIDA

LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do Advérbio em uma perspectiva historiográfica

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Língua Portuguesa, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos.

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ALMEIDA, W. J. LÍNGUA PORTUGUESA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Sintaxe do Advérbio em uma perspectiva historiográfica. São Paulo: PUC/SP, 2015. Dissertação de Mestrado.

Folha Linha Onde se lê Leia-se

4 25ª As queridas professoras doutoras

Às queridas professoras doutoras

5 10ª vocabulário técnico,

passando à análise

vocabulário técnico

8 5ª no ensino da Língua

Portuguesa

do ensino da Língua Portuguesa

8 8ª e, o da adequação e o da adequação

9 2ª por meio da Historiografia Linguística, que juntamente com a escola, possa

por meio da Historiografia Linguística, para que juntamente com a escola, possa

12 1ª a diferença entre História e Historiografia

a diferença entre História,

Historiografia e Historiografia Linguística

12 10ª Historiografia tem como objetivo principal o registro escrito desses fatos

Historiografia tem como objetivo principal o registro desses fatos

13 26ª durante o final o final da década de 70

durante o final da década de 70

26 1ª aconteceu por meio do grande apoio da camada do café

aconteceu por meio do grande apoio da classe menos favorecida

(4)

37 3ª por meio do tempo através do tempo

37 23ª Em virtude isso Em virtude disso

38 3ª ideias de darwinistas ideias darwinistas

41 7ª Desse modo o que era Desse modo, o que era

46 1ª as linguagem e sociedade linguagem e sociedade

55 16ª Língua, Linguagem e Gramática

Concepções de Língua, Linguagem e Gramática

57 4ª usá-las para usá-las

59 1ª o autor inclui a sintaxe na parte figurada

o autor inclui a parte figurada na sintaxe

59 6ª do termo “espécie” dos termos “seres de espécie ou natureza”

59 10ª é apresentada a palavra “espécie”

são apresentadas as palavras “seres de espécie ou natureza”

59 16ª análise dos aspectos análise das concepções 77 12ª três aspectos de análise Quatro aspectos de análise 83 4ª dos verbos transitivos direto dos verbos transitivos

diretos 88 10ª cento e nove anos separam

esses estudiosos

cento e onze anos

separam esses estudiosos 90 32ª apresenta nformações apresenta informações 108 1ª a Linguística tem contribuído a Historiografia Linguística

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BANCA EXAMINADORA

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DEDICATÓRIA

A Deus; Ao meu esposo Elismarques; Aos meus pais Lourival e Orismar;

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AGRADECIMENTOS

A Deus, autor da minha história, por me dar o conhecimento necessário para eu alcançar mais um sonho acadêmico;

Ao meu amado esposo Elismarques, pelo amor e apoio incondicionais, por compreender a minha ausência em momentos tão importantes de nossas vidas e pelas palavras motivadoras, que foram fundamentais à conclusão deste mestrado; Ao meu pai Lourival e à minha mãe Orismar, pelo imensurável amor, apoio, incentivo e por me ensinarem, desde a infância, a relevância dos estudos;

Ao meu irmão Wenneson, pelo amor fraternal e apoio;

À queridíssima orientadora Dr.ª Neusa Bastos, pela grande orientação e incentivo, fazendo-me sentir uma pesquisadora ativa no grupo de pesquisa Historiografia da Língua Portuguesa do IP-PUC/SP, e aumentando, em mim, o anseio de prosseguir,

incansavelmente, nessa área do Saber, além disso, sou grata pela amizade valiosa, paciência e pelas palavras sábias e motivadoras, que foram essenciais, também, ao meu amadurecimento e crescimento pessoal;

À amiga-mãe Sônia, pela amizade peculiar, como também pelo apoio e troca de conhecimento, que foram primordiais ao meu ingresso no mestrado;

Às amigas-irmãs Sueila, Francisca e Mônica, pela rica amizade e apoio;

À amada amiga Anna, pela imensurável amizade, hospitalidade, incentivo e pela tradução do livro em francês;

À amada secretária e amiga Lourdes, pela preciosa amizade, incentivo e presteza; À querida amiga Jaqueline, pela grande amizade e apoio;

Ao grande amigo Victor, pela amizade e apoio;

Às queridas professoras e amigas Cleude e Izabel, pelas aulas cativantes de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental que me despertaram a paixão por Letras;

As queridas professoras doutoras Sônia Nogueira e Nancy Casagrande, por aceitarem o convite de participar da minha banca de mestrado e pelas fundamentais considerações feitas no exame de qualificação;

A todos os professores doutores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, especialmente, à Dieli Palma, pelas aulas inspiradoras que contribuíram muito para o meu conhecimento linguístico e gramatical;

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RESUMO

Esta pesquisa reflete sobre o processo de ensino da sintaxe da Língua Portuguesa, em especial, da Função do Advérbio, no Brasil, na segunda metade do século XIX. Buscamos traçar o percurso historiográfico no ensino, tomando como corpus a obra

de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva

Brandão (1888). Nessa perspectiva, o embasamento teórico do nosso trabalho é o da Historiografia Linguística (HL), especificamente, com Koerner (1996), partindo dos seus três princípios: contextualização, que traça o clima de opinião, o espírito de

época, imanência, que estabelece um quadro geral da teoria e da terminologia

usada nas obras e, adequação, que introduz aproximações modernas do

vocabulário técnico, passando à análise. Assim sendo, para a adequação, utilizamos

a obra de estudo Novas lições de análise sintática, de Adriano da Gama Kury

(1999), a fim de contribuir com o desenvolvimento do ensino de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental. Dessa forma, os nossos principais objetivos consistem em

explicar como seu deu o estudo da sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de implementação da Língua Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX, além disso, explicitar o processo de implantação de uma política linguística em uma abordagem historiográfica. Como resultado de nossa pesquisa, constamos que as obras analisadas contribuíram muito para a implementação da sintaxe do advérbio da Língua Portuguesa, uma vez que há lacunas no ensino da Função do Advérbio que precisam ser preenchidas.

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ABSTRACT

This research reflects on the syntax of the teaching process of the Portuguese language, in particular, the adverb function in Brazil in the second half of the nineteenth century. We seek to trace the historiographical paths in learning, taking as corpus Syntax study work and construction of the Portuguese Language, Thomaz da Silva Brandão (1888). In this perspective, the theoretical foundation of our work is the Historiography Language (HL), specifically, Koerner (1996), based on its three principles: context, mapping the climate of opinion, the spirit of the time, immanence establishing an overview of the theory and terminology used in the works and, fitness, introducing modern approaches of technical vocabulary, from the analysis. Therefore, for the adjustment, use the work of New study lessons of syntactic analysis, Adriano da Gama Kury (1999) in order to contribute to the development of the Portuguese language teaching in elementary school. Thus, our main objectives are to explain how his gave the study of syntax, especially, the adverb function to the implementation process of the Portuguese language in the second half of the nineteenth century, in Thomaz grammar studies da Silva Brandão (1888) and Adriano da Gama Kury (1999), the twentieth century also explain the deployment process of a language policy in a historiographical approach. As a result of our research, we also noticed that the works analyzed contributed greatly to the implementation of the syntax of the words of the Portuguese language, since there are gaps in the teaching of adverb function that need to be filled.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...08

1. CONCEITOS BASILARES HISTORIOGRÁFICOS...12

1.1 Considerações Iniciais...12

1.2 História e Historiografia...12

1.3 Historiografia Linguística...13

2 ASPECTOS EDUCACIONAIS E LINGUÍSTICOS NO BRASIL, NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX E XX......22

2.1 Considerações Iniciais...22

2.2 Século XIX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil...22

2.2.1 Aspectos educacionais e políticos...22

2.2.2 Aspectos linguísticos...28

2.2.2.1 Sintaxe nos séculos XVI, XVII e XVIII...28

2.2.2.2 Sintaxe no século XIX...36

2.3 Século XX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil...42

2.3.1 Aspectos educacionais e políticos...42

2.3.2 Aspectos linguísticos...45

3. ANÁLISE DAS OBRAS...51

3.1 Syntaxe e Construcção da Lingua Portuguesa, de Thomaz da Silva Brandão (1888)...51

3.1.1 Primeiro aspecto: Prefácio...53

3.1.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática...55

3.1.3 Terceiro aspecto: Organização...59

3.1.4 Quarto aspecto: Função do advérbio...63

3.2 Adequação...78

3.2.1 Primeiro aspecto: Prefácio...81

3.2.2 Segundo aspecto: Concepções de Língua, Linguagem e Gramática...83

3.2.3 Terceiro aspecto: Organização...85

3.2.4 Quarto aspecto: Função do advérbio...96

CONSIDERAÇÕES FINAIS...104

REFERÊNCIAS...109

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu da necessidade de fazer uma reflexão sobre o ensino de Língua Portuguesa, no Brasil, na segunda metade do século XIX. Para tanto, tomamos como corpus a obra de estudos Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888), traçando o percurso historiográfico

no ensino da Língua Portuguesa. Embasamos nosso estudo em Historiografia Linguística, seguindo, particularmente, os três princípios de Koerner (1996): o da

contextualização, que trata do clima de opinião da época, o da imanência, que

estabelece um conhecimento tanto histórico quanto crítico do trabalho em estudo, e, o da adequação, que traz uma aproximação do vocábulo técnico das obras

selecionadas. Assim sendo, para a adequação, adotaremos a obra de estudo Novas Lições de Análise Sintática1, de Adriano da Gama Kury (1999), em virtude de

contribuir com o ensino de Língua Portuguesa.

Convém ressaltar que, nas análises das obras, buscaremos verificar o estudo da sintaxe da segunda metade do século XIX na obra de Brandão (1888), em especial, a Função do Advérbio, considerando suas abordagens e concepções sobre esse assunto, a metodologia aplicada, bem como seu interesse em produzir a obra. Dessa maneira, faremos a Adequação com a obra de Kury (1999), da segunda metade do século XX. Por conseguinte, o percurso historiográfico linguístico do Brasil ajuda-nos a definir o problema desta pesquisa: como seu deu o estudo da sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de implementação da Língua Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX? Apontamos que há escassez de material em estudo de sintaxe, com perspectiva historiográfica, e isso nos direcionou à escolha do corpus. Esta pesquisa

pretende contribuir, além de suscitar reflexões, com o ensino de sintaxe da Língua Portuguesa no Brasil.

Diante disso, temos observado, por meio do nosso estudo, inúmeras críticas sobre o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa, pois existem algumas lacunas a serem preenchidas, todavia pouco se tem feito para resolver a situação.

1 A obra

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A presente pesquisa permite levar novos conhecimentos gramaticais à sala de aula, por meio da Historiografia Linguística, que, juntamente com a escola, possa realizar um trabalho de troca de conhecimento. Possibilitando, assim, ao professor e ao aluno, um aprofundamento no ensino da sintaxe da Língua Portuguesa, a fim de formar profissionais mais críticos na construção do conhecimento Linguístico.

Partindo da necessidade de aprofundar estudos de sintaxe da Língua Portuguesa, centramos nossa pesquisa na obra Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888). Este estudo justifica-se na medida

em que a discussão teórica acerca de estudos da sintaxe se faz relevante na área de estudos de Língua Portuguesa.

Assim sendo, o objetivo geral do nosso trabalho é explicar como seu deu o estudo da sintaxe, sobretudo, da Função do Advérbio, para o processo de implementação da Língua Portuguesa, na segunda metade do século XIX, nos estudos de gramática de Thomaz da Silva Brandão (1888) e de Adriano da Gama Kury (1999), do século XX, além disso, explicitar o processo de implantação de uma política linguística em uma abordagem historiográfica.

Os objetivos específicos tratam de:

 Pesquisar acerca do processo de implementação da sintaxe da segunda metade do século XIX, e identificando o que contribuiu para o processo de implementação do estudo da função sintática do Advérbio da Língua Portuguesa;

 Verificar, na história, o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa, sobretudo, da Função do Advérbio, por meio dos aspectos políticos, filosóficos, econômicos, sociais, intelectuais e culturais;

 Apresentar discussões teóricas sobre a sintaxe da Língua Portuguesa, especificamente, da Função do Advérbio;

 Analisar os documentos representativos do século XIX, de Thomaz da Silva Brandão (1888) e, do século XX, de Adriano da Gama Kury (1999), com o intuito de fazer aproximações modernas do vocabulário técnico, estabelecendo um entendimento tanto histórico, quanto crítico do texto trabalhado.

(13)

ensino de Língua Portuguesa ocorreu no período elegido pelos documentos. O primeiro aspecto trata do Prefácio; o segundo, das concepções de Língua, Linguagem e Gramática, o terceiro, da Organização das Obras, e o quarto, da Função do Advérbio. Tais aspectos possibilitam a identificação dos momentos de continuidade e descontinuidade do modelo de gramática greco-latino.

As obras apresentam traços relevantes no Prefácio e, além disso, os conceitos de Língua, Linguagem e Gramática são o estofo para se entender essas obras. Quanto à organização, identificamos o conteúdo proposto pelos autores que conseguiam, por meio da linearidade, explicá-lo. Por último, a análise da Função do Advérbio, uma das partes que merece destaque pelos estudiosos da segunda metade dos séculos XIX e XX, devido à preocupação de se discutir a sintaxe da Língua Portuguesa, visto que propiciará uma relação maior entre os envolvidos no ensino.

Apresentaremos teorias historiográficas, incluindo conceitos ligados à História, Historiografia e Historiografia Linguística, os quais fundamentaram a análise do corpus escolhido. Porquanto, faremos aproximação com o século XX por meio da

obra Novas Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1999), com o

intuito de verificar como se deu o processo de implementação do ensino da sintaxe da Língua Portuguesa do século XIX.

Os quatro capítulos deste trabalho estão organizados da seguinte forma:  No primeiro, abordamos os conceitos basilares da historiografia,

apresentando a diferença entre História, Historiografia e Historiografia Linguística, trazendo as discussões da HL.

(14)

 No terceiro, apresentamos o princípio da Imanência que se esforça

para estabelecer um entendimento tanto histórico quanto crítico da obra selecionada, assim como o princípio de Adequação que faz

aproximações modernas do vocabulário técnico do trabalho em estudo. Diante disso, passamos à análise baseada nos quatro aspectos elegidos (Prefácio; Concepções de Língua, Linguagem e Gramática; Organização das Obras e Função do Advérbio), tendo como corpus a

obra de estudo Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de

Thomaz da Silva Brandão (1888), do século XIX. Além disso, ao princípio da adequação, usamos a obra Novas Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1999), em uma perspectiva

historiográfica.

 Na conclusão, retomamos a pesquisa e apresentamos os resultados obtidos no decorrer do estudo por meio da análise das obras.

 Para finalizar, indicamos as referências bibliográficas e anexos que se referem às Capas, assim como os Sumários e Índices das obras analisadas.

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1 CONCEITOS BASILARES HISTORIOGRÁFICOS

1.1 Considerações iniciais

Este capítulo apresenta a diferença entre História e Historiografia, traçando seus conceitos e objetivos, como também definindo o campo de estudo. O segundo item trata da Historiografia Linguística, em que fundamentamos a teoria desta pesquisa.

1.2 História e Historiografia

História e Historiografia estabelecem relações entre si, porém não podem ser confundidas, uma vez que têm conceitos distintos.

Com relação à história, conceitua Le Goff (2003, p.29) que “[...] a história define-se em relação a uma realidade que não é observada e nem construída, mas sim indagada e testemunhada”. Em virtude disso, a história, como toda Ciência, deve explicar e generalizar o fato ocorrido.

Ressalta-se que a história é a narração dos acontecimentos no decorrer do tempo, entrelaçando o presente com o passado; o homem é o seu objeto de estudo. Enfatiza-se que, enquanto a história narra, apenas, os fatos ocorridos, a Historiografia tem como objetivo principal o registro escrito desses fatos sem a preocupação de indagá-los.

A Historiografia, por sua vez, nasceu na França, e está, intrinsecamente, ligada à história. Faz-se necessário salientar a contribuição significativa de Lucien Febvre e Marc Bloch à historiografia “[...] no início do século XX, com a fundação da revista Annales, cujo objetivo maior era o de promover um novo tipo de história e,

certamente, de historiografia”, afirmam Bastos; Palma (2004, p.16). Nessa perspectiva, acrescentam Fávero; Molina (2006, p.19) que essa nova história

“esforça-se em aproximar a História de outras disciplinas, debruçando-se menos nas

narrativas dos acontecimentos e mais na análise de suas estruturas”, de tal modo

que “defende uma história total, ou seja, capaz de estudar, simultaneamente, o

econômico, o social e o cultural”.

(16)

profundidade de aprendizado, exigindo um conhecimento quase enciclopédico, por

parte do pesquisador, dada a natureza quase interdisciplinar dessa atividade”, afirma

Koerner (1996, p.12, grifo nosso). Dessa forma, a Historiografia está vinculada a

outras disciplinas, a fim de registrar a plenitude dos feitos humanos, a saber: Sociologia, Psicologia, Economia, Linguística, Geografia, dentre outras.

Finalizados os conceitos de História e de Historiografia, trataremos da Historiografia Linguística, em que focamos o nosso trabalho.

1.3 Historiografia Linguística

A Historiografia Linguística (HL) começou na Europa, nos anos 70, e está ligada aos estudos históricos e, de acordo Bastos; Palma (2004, p.10), “[...] é o modo de escrever a história do saber linguístico, tendo como objetivo descrever/explicar como se desenvolveu tal saber em um determinado contexto”. Dessa maneira, diz Altman (1999, p.22) que a HL descreve e explica “a história das ciências da linguagem”. Nesse sentido, a HL vai além de analisar um escrito acabado em um determinado tempo, de tal modo que examina as circunstâncias de produção e percepção do conhecimento que se constrói acerca da linguagem e das línguas.

A HL tem sido alvo de muitos pesquisadores que pretenderam resgatar os fatos mais relevantes do passado linguístico. Já no início dos anos de 1970, diz Koerner (1996, p.12) que vários estudiosos com interesse na história da linguística, como uma especialidade acadêmica, “esforçaram-se em propor orientações para a condução adequada da pesquisa historiográfica (Hymes 1974; Simone 1975; Koerner 1976)”. Esse interesse teve um impacto considerado no debate por meio do livro de Kuhn (1962), tal discussão focalizou até que ponto a morfologia das revoluções científicas de Kuhn forneceriam uma direção favorável ao historiador da linguística, porém essa discussão parece ter diminuído pelo possível trabalho de Percival (1976) durante o final o final da década de 70, uma vez que este era contrário à busca de paradigmas em linguística sem oferecer qualquer caminho alternativo.

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1981; Bokadorova 1986; Christmann 1987)”, porém, nos anos 90, não havia sido “estabelecida uma base comum, a respeito de como se proceder relativamente à historiografia lingüística e há indicações de que o debate continuará por algum tempo”. Com efeito, algumas das propostas levantadas por muitos autores, fora da linguística e de sua história, são analisadas antes que uma variedade de considerações seja apresentada, de tal maneira que uma pesquisa na história das ciências da linguagem deveria ser realizada, como também deveriam ser apresentados seus desenvolvimentos no campo.

A HL, fora do Brasil, tem seu campo definido há mais de três décadas, todavia, no país, a sua institucionalização ocorre em reuniões da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística – ANPOLL, e, como disciplina, surge em 1994, no programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de São Paulo, conforme Altman (1998, p.21). Sendo assim, temos a contribuição significativa de vários pesquisadores, como a Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Salles Altman, da USP, a grande precursora da HL; a Prof.ª Dr.ª Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos, líder do Grupo de Pesquisa de Historiografia da Língua Portuguesa (GPeHLP – IP-PUC – SP) e o Prof. Dr. Ronaldo de Oliveira Batista, da UPM.

A atividade de escrever a história da língua, segundo Altman (1999, p.29), presume, pois:

a tarefa de reconstrução dos “fatos” a partir dos quais o historiógrafo

constrói seu sistema de referências, mas pressupõe também a tarefa de selecionar e interpretar como os problemas linguísticos se constituíram, se formularam e reformularam através do tempo. (ALTMAN, 1999, p.29).

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desenvolvimento no estudo da história, fazendo, assim, relação com o aspecto externo.

Assim, segundo Bastos; Batista (2012, p.2), a reconstrução historiográfica deve estar:

acompanhada de argumentos que recuperem práticas de tratamento linguístico, sempre tendo em vista a observação analítica, e não apenas registros que fazem paráfrases de outras obras, e, assim, não vão além de recontar o que um autor fez, deixando de lado a contribuição essencial da historiografia: um olhar interpretativo que procura entender as razões de determinado trabalho apresentar as características que o definem. (BASTOS; BATISTA, 2012, p.2).

Tal perspectiva ressalta a necessidade de que a HL não é somente análise de documentos linguísticos, mas leva em conta a “análise, explicação e hierarquização de dados, fatos, teorias e métodos que constituem os estudos sobre linguagem ao

longo do tempo”, afirmam Bastos; Batista (2012, p.2).

Quanto à definição de campo, segundo Swiggers (2010, p.2), a HL “faz perguntas linguisticamente relevantes sobre as práticas historicamente relacionadas à linguagem”, instaurando-se a HL como “o estudo interdisciplinar do curso evolutivo do conhecimento linguístico”. Isso ocorre, porque a HL engloba a descrição e a explicação, considerando os fatores intradisciplinares e extradisciplinares, “de como o conhecimento linguístico, ou mais genericamente, o know-how linguístico foi obtido

e implementado”, esclarece o autor.

Vale enfatizar, também, o objeto de estudo da HL, afirma Swiggers (1983, p. 61) que:

se caracteriza como uma disciplina científica que tem por objetivo estruturar seu objeto de estudo (que são as teorias e práticas de análise lingüísticas) numa série de relações sistemáticas, levando também em conta observações derivadas das abordagens da metodologia da lingüística e da história das ideias. Conforme a essa definição do estatuto e do objeto, há a reflexão a respeito da natureza desse objeto e da constituição dessa historiografia como uma metaciência, isto é, como um posicionamento que interpreta práticas de uma ciência ou área de saber. (SWIGGERS, 1983, p.61, trad. nossa).

Sendo assim, o objeto de estudo da HL são as teorias e práticas de análise linguísticas. Nesse sentido, afirma Altman (1999, p.22) que a HL tem como objeto “a história dos processos de produção e de recepção das ideias linguísticas e das

práticas delas decorrentes”, uma vez que “geraram novas ideias e novas práticas,

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inerentes à busca de conhecimento”. Dessa maneira, acrescentam Bastos; Palma (2004, p.18-19) que:

[...] É fato importante ressaltarmos que correspondências, cartas, rascunhos ou qualquer documento pessoal produzido por uma comunidade científica será objeto da HL, constituindo-se como fonte primária de pesquisa. É nesse aspecto que se evidencia a importância do estudo historiográfico, pois, para reconstruir as práticas lingüísticas passadas, é preciso explorar a dimensão pessoal. (BASTOS; PALMA, 2004, pp.18-19).

Nessa perspectiva, podemos mencionar que qualquer documento escrito pode se tornar objeto de estudo da HL, uma vez que a concepção da HL não considera importante, apenas, o enfoque científico, mas também o aspecto social.

Com base nisso, além de mencionar o objeto de estudo da HL, convém destacar a tarefa do historiógrafo, que tem início com a discussão de Koerner (1996, p.47), por meio de seu campo de investigação, cujos vieses deveriam consistir em:

[...] favorecer o restabelecimento dos fatos mais importantes do nosso passado linguístico ‘sine ira et Studio’e explicar, tanto quanto possível, as razões da mudança de orientação e de ênfase e a possível descontinuidade que delas se pode observar, sua prática requer, ainda, capacidade de síntese, isto é, a faculdade de destilar o essencial da massa dos fatos empíricos coligidos a partir de fontes primárias. (KOERNER, 1996, p.47).

Diante disso, o historiógrafo precisa restabelecer os fatos mais relevantes do passado linguístico, bem como dar ênfase às possíveis descontinuidades a partir das fontes primárias. Por meio desses fatos, constituem-se princípios que norteiam o historiador, contribuindo, assim, para a instauração da HL como disciplina. Nesse aspecto, temos adotado os três princípios de Koerner (1996): Contextualização, Imanência e Adequação. Desse modo, saímos do fator histórico linguístico,

centrando-nos no princípio científico, assim sendo, a HL passa a ser vista como uma disciplina.

O princípio da contextualização, afirma Koerner (1996, p.60):

O primeiro princípio para a apresentação de teorias lingüísticas propostas

em períodos mais antigos diz respeito ao estabelecimento do “clima de

opinião” geral do período em que as teorias se desenvolveram. As idéias

lingüísticas nunca se desenvolveram independentemente de outras

correntes intelectuais do período; o “espírito de época” [zeitgeist] sempre

(20)

A partir dessa afirmação, o primeiro princípio trata do clima de opinião, traçando o contexto dos escritos dos documentos, uma vez que aborda os aspectos intelectuais, socioeconômicos, políticos e culturais, levando em conta o clima de intelectualidade da época.

No que se refere ao princípio de Imanência, diz Koerner (1996, p.60) que:

É desnecessário dizer que o historiógrafo deve afastar-se tanto quanto possível de sua formação lingüística que lhe são contemporâneos, o quadro geral da teoria sob investigação, assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos internamente, e não em referência à doutrina lingüística moderna. (KOERNER, 1996, p.60).

Esse princípio esforça-se em estabelecer um entendimento tanto histórico quanto crítico, se necessário filológico, do texto em apreciação. Assim sendo, o princípio da imanência refere-se, pois,“[...] ao esforço do historiógrafo de entender o

texto lingüístico produzido nos séculos enfocados de forma completa, histórica e criticamente, e filologicamente se possível”, explicam Bastos; Palma (2004, p.11). Nesse sentido, afirma Koerner (2014, p.59) que “o quadro geral da teoria a ser investigada, assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos internamente e não em referência à doutrina linguística moderna”.

Segundo o autor, só depois de serem seguidos, rigorosamente, os dois princípios, de modo que a manifestação linguística tenha sido compreendida no seu contexto histórico original, “o historiógrafo pode aventurar-se a introduzir aproximações modernas do vocabulário técnico e do quadro conceptual apresentado na obra em questão”.

Sobre o princípio da adequação, por sua vez, afirma Koerner (1996, p.60)

que:

[...] pode o historiógrafo aventurar-se a introduzir, ainda que muito cuidadosamente e colocando seu procedimento de forma explícita, aproximações modernas do vocabulário técnico em um quadro conceptual de trabalho que permita uma melhor apreciação de um determinado trabalho, conceito, ou teoria. (KOERNER, 1996, p.60).

A partir dessa afirmação, o princípio da adequação faz aproximações

(21)

Em face aos princípios, Koerner (2014, pp.57-58) faz menção a respeito da

metalinguagem, que é “a linguagem empregue para descrever ideias do passado

sobre a linguagem” e adverte que:

Nenhum escritor consegue escapar à questão ao discutir teorias de períodos passados, na medida em que deve tentar, ao mesmo tempo, torná-las acessíveis ao leitor do presente, ao passo que tenta não distorcer a intenção e significado originais. A menos que o único objetivo do historiógrafo seja antiquário, isto é, ver conceitos desenvolvidos há muitos anos apenas nos próprios termos utilizados, será tentado a usar um vocabulário técnico moderno na sua análise. Este procedimento

‘modernizante’, porém, tem levado a inúmeras e sérias distorções na

história da linguística, e qualquer historiógrafo perspicaz deve perceber as armadilhas e voltar-se para este problema potencial do uso da

‘metalinguagem’. (KOERNER, 2014, pp.57-58).

Essa advertência é de suma importância ao historiógrafo que precisa tomar cuidado quando discutir teorias do passado, uma vez que deve torná-las compreendidas ao leitor moderno, pois a falta de cuidado pode distorcer os significados originais, causando, assim, um grande problema, por consequência do mau uso da metalinguagem. Para solucionar tal problema, o autor sugere a adoção

dos três princípios.

Nesse sentido, segundo Bastos; Palma (2004, p.12), acrescenta-se que, além dos princípios de Koerner (1996), outro ponto metodológico utilizado é a questão das fontes que podem ser primárias e secundárias. As primárias são os documentos originais, “para delas extrair elementos que nos permitiram dar, seguramente, os passos investigativos”. Em relação às fontes primárias, esclarece Koerner (1996, p.47) que há necessidade de se respeitar:

[...] a faculdade de destilar o essencial da massa dos fatos empíricos coligidos a partir de fontes primárias. Em outras palavras e para usar uma distinção contemporânea, a historiografia da lingüística tem que ser

‘teoricamente orientada’ [theory oriented] e ‘não orientada para os dados’

[data oriented], embora não haja dúvida de que muita leitura das fontes originais ainda tenha que ser feita, a fim de estabelecer adequadamente os fatos básicos no desenvolvimento da disciplina. (KOERNER, 1996, p.47).

(22)

que já fora estudado sobre os documentos que tínhamos em mãos”, afirmam Bastos; Palma (2004, p.12).

É de grande importância ressaltar, também, que fundamentamos a nossa pesquisa nos passos investigativos de Swiggers (1983), que “abrangem quatro

momentos: seleção, ordenação, reconstrução e interpretação”. No primeiro passo,

será feita a seleção dos documentos gramaticais a serem estudados , elegendo,

assim, os mais relevantes para o estudo da sintaxe da Língua Portuguesa, sobretudo, da Função do Advérbio, na segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX. No segundo, usaremos um critério abrangente no estudo da sintaxe nos dois períodos abordados, para estabelecer um percurso dos estudos de gramática da Língua Portuguesa, em uma perspectiva historiográfica, enfocando as implicações socioculturais em uma ordem cronológica. Dando continuidade,

buscaremos reconstruir o conhecimento linguístico dos recortes temporais

selecionados e, por fim, interpretar, criticamente, cada material escolhido, a partir do

clima de opinião de épocas delineadas.

Na busca de seus próprios caminhos, de acordo com De Clerq & Swiggers (1991), o historiógrafo requer cinco tipos de motivações que seriam fundamentais ao longo da história da HL, a saber: 1. como sujeito enciclopédico, como “ramo” de uma enciclopédia do saber; 2. como ilustração do progresso de conhecimentos; 3. como objetivo de defender, difundir ou promover um modelo linguístico particular em detrimento de outros; 4. como descrição e explicação de conteúdos de doutrina, inserida em um contexto histórico e científico e, por último, 5. como testemunha

exterior sobre uma realidade social, “colorida” pelas concepções e práticas

linguísticas. Assim sendo, centramos a nossa pesquisa nesse último tipo de motivação.

Diante de tais motivações, relatam Bastos; Palma (2004, p.23) que “cabe-nos

refletir acerca delas a fim de buscar um método historiográfico capaz de debruçar-se sobre o estatuto científico da HL, bem como sobre a prática historiográfica”. Diante disso, segundo De Clerq & Swiggers (1991), ao historiógrafo, “cabe a tarefa de transcender na prática, nas reflexões e nas situações linguísticas”.

(23)

[...] em última análise, os historiadores da ciência da lingüística terão que desenvolver o seu próprio quadro de trabalho, tanto o metodológico, quanto o filosófico. Para isto, um conhecimento meticuloso da teoria e da prática em outros campos revelam-se verdadeiramente muito úteis, mesmo se o resultado for negativo, isto é, se o historiador da lingüística descobrir se este ou aquele campo de investigação histórica tem de fato pouco a oferecer em matéria de método historiográfico. (KOERNER, 1996, p. 56-57).

Diante disso, pode-se concluir que não existe, ainda, um método constituído totalmente, por isso, cabe ao historiógrafo buscar o seu próprio caminho, de modo a levar em conta o conhecimento minucioso da teoria e da prática de outras disciplinas ao desenvolvimento da HL.

A respeito da HL não ter, ainda, um método constituído, convém destacar que essa questão está amadurecendo, prova disso, tem aumentado o número de pesquisadores que começam a se interessar pelo método da HL, mas, “enquanto isso não acontece, é legítimo que o historiógrafo procure diretrizes e modelos a imitar para além do seu próprio campo”, afirma Koerner (2014, p.46).

Swiggers (2005, pp.8-10), portanto, apresenta-nos alguns métodos que podem ser seguidos, por meio de três níveis: heurístico, interpretativo e reconstrutivo-sistemático. O primeiro refere-se às fontes valiosas, que são chamadas

de marginais e que ilumina as questões ideológicas de um autor; são de caráter

informal, podendo ser escritas (cartas, manuscritos de comitês científicos ou qualquer documento escrito) ou orais (entrevistas, aulas, dentre outras formas). O segundo está relacionado ao olhar interpretativo do historiógrafo para com as fontes trabalhadas. Quanto a isso, afirma o autor que, para a metodologia heurística e interpretativa, é importante estudar a terminologia utilizada nas fontes, pois, no nível

interpretativo, por exemplo, faz-se necessário considerar o respeito para com o significado original encontrado nos documentos, para, depois, fazer a reconstrução sistemática dirigida aos leitores modernos, chegando, assim, ao terceiro nível de

reconstrutiva-sistemática. Nesse último nível, enfatiza-se a necessidade de

categorização, de maneira que o historiador não pode encontrar a sua tarefa historiográfica sem recorrer às categorias.

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2 ASPECTOS EDUCACIONAIS E LINGUÍSTICOS NO BRASIL, NA SEGUNDA METADE DOS SÉCULOS XIX E XX

2.1 Considerações Iniciais

Este capítulo apresenta o princípio da contextualização que trata do clima de

opinião das épocas, traçando o contexto educacional, político e linguístico dos séculos XIX e XX. Assim, levamos em conta esse contexto para que possamos entender a contribuição dessas correntes à elaboração das obras Syntaxe e construcção da Lingua Portugueza, de Thomaz da Silva Brandão (1888), e Novas Lições de Análise Sintática, de Adriano da Gama Kury (1984).

Na linguística, abordamos diversos autores, tais como: do século XIX, Franz Bopp, irmãos Grimm, Max Müller , Shleicher, Von Humboldt; do século XX, Saussure, Chomsky, Roman Jakobson, Bakhtin, dentre outros. Assim sendo, esses estudiosos não podem ser desprezados pelos pesquisadores, sobretudo, pelo historiógrafo, uma vez que suas teorias se tornaram fundamentais ao estudo da língua.

2.2 Século XIX: aspectos educacionais, políticos e linguísticos no Brasil

2.2.1 Aspectos educacionais e políticos

A segunda metade do século XIX foi um período de grandes mudanças políticas, educacionais, socioeconômicas, culturais e filosóficas. Esta última foi de suma importância, uma vez que o Positivismo influenciou muito a sociedade da época, tendo como seus principais idealizadores Augusto Conte e John Stuart Mill. Desses, destaca-se Augusto Conte, considerado o criador da corrente filosófica positivista.

Segundo Valentim (2010, p.4), o positivismo surgiu na França, no começo do século XIX, e ganhou mais força na Europa, na segunda metade do século XIX e início do século XX, período em que chegou ao Brasil. O método geral do Positivismo de Augusto Comte baseia-se na observação geral dos fenômenos, de tal

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teológico ou metafísico. Nessa perspectiva, substitui a teologia e metafísica pelo culto à ciência; o mundo espiritual, pelo mundo humano; o espírito, pela matéria. Diante disso, essa corrente filosófica defende a ideia de que o conhecimento científico é o único considerado verdadeiro, desprezando, assim, qualquer conhecimento ligado às crenças ou supertições.

Convém enfatizar que Comte, em sua obra Apelo aos conservadores (1855),

definiu a palavra "positivo" com sete acepções: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. Dessas palavras, ressalta-se “orgânico” que apresenta a predominância do Evolucionismo na segunda metade do século XIX, sobretudo, na

Gramática Portugueza, de Júlio Ribeiro (1881), seguidor das ideias de Darwin

(Naturalismo). Prova disso, Ribeiro considera a língua um ser vivo – um organismo que nasce, cresce e morre – . Dessa maneira, faz uso dos métodos de estudos das ciências naturais, uma vez que o autor se utiliza do aspecto evolucionista do ser. Com efeito, destacamos Júlio Ribeiro, porque o mesmo teve forte influência nas gramáticas da segunda metade do século XIX, especificamente, na obra de estudo gramatical de Brandão (1888), corpus da nossa pesquisa.

Faz-se necessário mencionar o período racionalista (de 1802 a 1881) e o científico (de 1881 a 1941). O primeiro sofreu forte influência da Gramática de Port-Royal (1660) sobre o pensamento linguístico, sendo, ainda, muito predominante no século XIX. Quanto a isso, afirma Cavaliere (2002, p.110) que:

O período racionalista deixou marcas profundas do ensino no português do século XIX, constituindo sem dúvida, o primeiro modelo de produção gramatical que perdurou por mais de uma geração dos estudiosos da língua vernácula. A principal crítica que se lhe impõe, decerto, reside na pouca ou mesmo nenhuma importância que então se dedicava ao estudo do português brasileiro, de tal sorte que nossas gramáticas mais se resumiam a copiar regras e dispositivos dos compêndios congêneres lusitanos. (CAVALIERE, 2002, p.110).

Sendo assim, o ensino de língua portuguesa sofreu grandes marcas do período racionalista, que levava em conta a língua vernácula, porém os estudos de gramática da segunda metade do século XIX, tendo como grande precursor Júlio Ribeiro, vieram da forte oposição à Gramática Filosófica, cujos estudos históricos e descrição da língua vernácula quase não eram levados em conta.

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máxima o emprego da frase positivista “Ordem e Progresso”: “o amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim", em plena bandeira brasileira. Além disso, teve influência na literatura, por meio de escritores naturalistas, sobretudo, Raul Pompeia e Aluísio de Azevedo. Salienta-se, também, o coronel Benjamin Constant, professor de matemática da Escola Militar do Rio de Janeiro, o mais influente positivista brasileiro. Outros positivistas foram importantes para o Brasil, tais como: Nísia Floresta Augusta (a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste

Comte), Miguel Lemos, Euclides da Cunha, Luís Pereira Barreto, o marechal Cândido Rondon, Júlio de Castilhos, dentre outros.

A partir da segunda metade do século XIX, as ideias de Augusto Comte permearam o pensamento de muitos políticos, militares, mestres, escritores, poetas, professores e alunos. Em vista disso, essa corrente estimulou inúmeros movimentos, especificamente, os de caráter republicano e abolicionista, opondo-se à monarquia e ao escravismo dominante no Brasil e à Proclamação da República, ocorrida por meio de um golpe militar.

Em relação à economia brasileira, por volta de 1850, o Império já tinha condições de solidificar-se por meio do domínio da monarquia sobre os senhores que estavam ligados à atividade de exportações. Quanto à melhoria do país na economia, ressalta Ribeiro (2000, p.64) que:

Comparando-se as porcentagens referentes a 1839-44 e 1870-75, nota-se o crescimento de 1,0% para 3,5% da importação do carvão, que de 17º lugar passa a 8º, e de 0,2% para 2,9% da importação de máquinas, que passa de 25º para 11º lugar [...]. (RIBEIRO, 2000, p.64).

Nessa perspectiva, percebemos certo crescimento significativo nas atividades industriais. Esse crescimento vai influenciar outros aspectos, especialmente, o intelectual, esclarece Reis Filho (1974, p.1):

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Esse desenvolvimento acelerado se deu pelo processo de modernização da sociedade. Dessa forma, além de ter um crescimento econômico, surgia, também, o consumo das “novas ideias”, quando começou o Positivismo no Brasil.

Com base nisso, segundo Reis Filho (1974, p.1), em 1868, ocorreu o manifesto liberal, início de um enorme movimento que vai marcar o final e o início da República. Partindo disso, liberais e cientistas começaram a estabelecer pontos comuns, a saber: separação da Igreja do Estado; abolição dos privilégios aristocráticos e da escravidão; liberdade à mulher para exercer seu papel de esposa e mãe; crença na educação e instituição do casamento e registro civil. Enfatiza-se que essa tal modernização se deu pela mudança da base da sociedade exportadora brasileira de rural-agrícola para urbano-comercial.

Em virtude desse desenvolvimento econômico, ocorreu a organização da escola, que não se deu, apenas, pelas críticas dadas à sua ineficácia, mas também pela decretação de reforma. Prova disso é a reforma de Leôncio de Carvalho em 19 de abril de 1879, não obstante, alguns de seus princípios ficaram dependendo da aprovação do Legislativo, que acabaram não acontecendo, mesmo assim, poucos foram aprovados, afirma Ribeiro (2000, p.67) que dentre eles estão:

a) Liberdade de ensino, isto é, a possibilidade de todos os que se sentissem capacitados esporem suas idéias segundo o método que lhes parecesse mais adequado.

b) O exercício do magistério era incompatível com o de cargos públicos e administrativos.

c) Liberdade de frequência, ou seja, dar liberdade para os alunos dos cursos secundário e superior estudarem como e com quem entendessem. À escola caberia, especificamente, ser severa nos exames. Isto implicava, também, a organização do curso por matéria e não mais por anos, possibilitando ao aluno escolher as matérias e o tempo para cumprir toda a série estimulada. (RIBEIRO, 2000, p.67).

Como consequência disso, a Reforma Leôncio de Carvalho foi de suma importância para o desenvolvimento educacional, pois começava a liberdade no ensino, de modo que todos podiam ter acesso à escola. Assim, no final do século XIX, houve “o aparecimento do ensino feminino em nível secundário, como resultado da iniciativa particular”, de acordo com Ribeiro (2000, p.67).

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aconteceu por meio do grande apoio da camada do café e com a omissão da grande parte da população. É por esse motivo que se instalou a organização escolar da Primeira República, pela Constituição em 1891. Porquanto, apesar do crescimento e descontentamento da classe média, essa classe não tinha força suficiente para modificar o regime político, e isso explica o porquê do regime não se tornar um setor relevante à população no final do século XIX.

Em relação à política, o monárquico D. Pedro II não correspondia mais aos desejos da sociedade, a qual exigia mais liberdade econômica, menos autoritarismo e mais democracia. Assim sendo, no dia 15 de Novembro de 1889 na capital Rio de Janeiro, o Marechal Deodoro da Fonseca liderou um golpe militar que derrubou o reinado de D. Pedro II, e instaurou a República Federativa e presidencialista no Brasil. Nesse mesmo dia, foi criado o governo provisório, em que o próprio Marechal assumiu a presidência, tendo como Vice-presidente Floriano Peixoto, que depois se tornou presidente quando Marechal renunciou o cargo em 1891.

Com base nisso, existiram várias divergências no governo, sendo marcadas, até 1894, como o período da “Crise da República”. Nesse sentindo, diz Ribeiro

(2000, p.72) que “o Governo de Floriano Peixoto (1891-1984), que passa para a

História como o “Marechal de Ferro”, retrata esta situação”. Porquanto, aconteceu,

nesse período, uma tentativa de mudança na área econômica e na escolar.

Tendo em vista esses fatos, em 1891, devido à falta de domínio e interesse dos fatores internos (senhores agrícolas) e externos (burguesia), o incentivo das atividades voltadas ao mercado nacional chega ao fracasso. Assim sendo, surge a primeira tentativa de solucionar esse problema, afirma Prado Júnior (1969, p.218):

Sob a ação deste jorro emissor, não tardará que da citada ativação dos negócios se passe rapidamente para a especulação pura. Começam a surgir em grande número novas empresas de toda ordem e finalidade. Eram bancos, firmas comerciais, companhias industriais, de estrada de ferro, toda sorte de negócios possíveis e impossíveis. (PRADO JÚNIOR, 1969, p.218).

A partir dessa afirmação, surgiram muitas empresas em diversas áreas, consequentemente, foi a primeira tentativa de fazer do governo um instrumento de diversificação das atividades econômicas, mesmo que em grande parte frustrada.

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Reforma Benjamim Constant (1891). Em relação à Reforma, explica Ribeiro (2000, p.73) que “tinha como objetivo orientar a liberdade e laicidade do ensino e a gratuidade da escola primária”, em vista disso, apresenta-se:

REFORMA BENJAMIM CONSTANT (1891) 1) Escola Primária

Duas Categorias Faixa Etária

1º GRAU 7 a 13 anos

2º GRAU 13 a 15 anos

2) Escola Secundária durava sete anos

3) Nível Superior chamado de Politécnico – atingiu o ensino de Direito, Medicina e Militar

4) Exame de Madureza – verificava se o aluno tinha a capacidade

intelectual necessária ao término do curso

Com base nesse quadro, a escola primária era organizada em duas categorias: a de 1º grau (para crianças de 7 a 13 anos) e a de 2º grau (para crianças de 13 a 15 anos). Além disso, foi criado o exame de madureza que verificava se o

aluno tinha a capacidade intelectual necessária ao término do curso, de tal forma que, a partir do 3º ano, se introduzia tempo para a revisão de matemática e, no 7º ano, se dedicaria a maior parte do tempo para tal finalidade.

Outro objetivo educacional, de acordo com Ribeiro (2000, p.73), era romper com a tradição humanista clássica que prevalecia no ensino brasileiro. Diante disso, a predominância literária deveria ser substituída pela científica (matemática, astronomia, física, química, biologia, sociologia e moral), de acordo com a ordenação positivista.

Destaca-se que essa decisão foi alvo de grandes críticas, desse modo, foram acrescentadas matérias científicas às tradicionais, formando o ensino enciclopédico. Em virtude disso, em 1893, ocorreu uma modificação que visava uma proporção mais justa na distribuição das matérias do Ginásio Nacional, com o aumento da matéria Literária.

(31)

contribuição da corrente positivista, sendo de suma relevância aos gramáticos desse período.

2.2.2 Aspectos linguísticos

2.2.2.1 Sintaxe nos séculos XVI, XVII E XVIII

Faz-se necessário destacar o percurso da sintaxe desde a origem até a sua predominância nos séculos XVI, XVII e XVIII para que, dessa forma, possamos entender melhor a sintaxe do século XIX, em que baseamos a nossa pesquisa.

Segundo Chevalier (1968, p.27), a história da sintaxe começa seus primeiros estudos por meio da Gramática de Priscien, no ocidente, século V, baseado na filosofia, destacando, assim, Aristóteles e Platão. Prova disso, Priscien cita, em sua gramática, exemplos consagrados dos livros de lógica de Platão. Com efeito, um dos primeiros tratados, que deve reter Priscien e seus contemporâneos, está relacionado à gramática bilíngue, destinada a jogar um ponto entre latim e grego, sendo assim, explicita o autor que:

Um dos primeiros tratados relevantes que deve reter Priscien e seus contemporâneos é esse que diz respeito a uma gramática bilíngue, destinada a jogar um ponto entre latim e grego: Já Macrobe segue P. Courcelle, quem tinha tentado pelo modelo de Apollonyus Dyscole escrever um tratado de gramática comparada greco-latina [...]. Julien, Consul e Patrice influenciam a grammairien latin da Constantinopla, de Prinscien, uma gramática que resume e adapta ao latim os ensinamentos das gramáticas gregas [...], Priscien não pretende nada mais do que colocar em latim seus preceitos, é o que há de indispensável dentro das artes dos gramáticos latinos. (CHEVALIER, 1968, p.27, trad. nossa).

Nesse sentido, Priscien insere os ensinamentos das gramáticas gregas no latim, com o intuito de transformar seus conceitos em latim.

(32)

Com base nisso, acrescenta Chevalier (1968, p.30) que:

[...] para Priscien, dentro da estruturação da frase, as palavras não têm o mesmo valor de um ponto de vista sintático: mesmo que as vogais possam ser pronunciadas separadamente, as consoantes não podem ser separadas das suas vogais, assim, há palavras que nós podemos empregar sozinhas, como os nomes, os imperativos, os advérbios; e outras que têm necessidades de outras partes da oração, e sozinhas não podem ter um sentido perfeito, tendo, assim, necessidade de serem completadas, como as preposições e suas conjunções. O seu significado varia de acordo com a essência das palavras que a acompanham, elas não são significantes; ainda não têm o mesmo significado de acordo com o acusativo e o ablativo. (CHEVALIER, 1968, p.30, trad. nossa).

Desse modo, Priscien, por um lado, considera certas palavras (nomes, verbos, advérbios) independentes na oração, de tal modo que tem um sentido completo. Por outro lado, há palavras que sozinhas não tem um significado, uma vez que dependem de outras para que haja sentido na oração.

Segundo Kristeva (1969, p.207), os princípios do século XVI são marcados por algumas obras gramáticas, tais como: “Vives (1492-1540), discípulo de Erasmo,

De disciplinis libri XII; Despautère, Syntaxis (1513); Erasmo, De octo orationis partium Constructione (1521)”. Diante disso, a língua francesa torna-se objeto

privilegiado dos gramáticos. Salienta-se que as gramáticas desse período eram empiristas, e tinham como principal aspecto: a morfologia. Dessa forma, os gramáticos estudavam os termos da proposição (nome, verbo...). Com efeito, observa Chevalier (1968, p.371) que as palavras eram estudadas em situação, de tal

modo que a gramática acabou estabelecendo as coordenadas formais dessa situação. Nesse sentido, a ordem das palavras, como também “as relações de

recção (termo regido, termo rector, recção única, recção dupla etc)” favoreceram as estruturas frásticas, preocupando-se, dessa forma, com as relações lógicas.

(33)

Conforme Chevalier (1968, p.178), Scaliger defende a culta gramática renascentista, o autor afirma que a gramática é a ciência falada de acordo com o uso. Nessa perspectiva, acrescenta Kristeva (1969, p.210) que:

Scaliger também insiste no facto de que ainda que o gramático dê importância ao significado [significatum] que é uma espécie de forma [forma], não o faz por sua própria conta, mas para transmitir o resultado àquele cujo ofício é procurar a verdade. Trata-se efectivamente do lógico e do filosófico, e compreende-se que, para Scaliger como para toda a tradição gramatical, o estudo da língua não é um fim em si, e não tem autonomia, mas faz parte de uma teoria do conhecimento à qual está subordinado. (KRISTEVA, 1969, p.2010).

Todavia, Scaliger tenta limitar o campo da gramática ao tratá-la como ciência, desprezando, totalmente, o fato de ser considerada arte. Sendo assim, o autor insere a gramática na ciência lógica, eliminando, assim, a ciência de juízo. Consoante, é construída uma gramática normativa, a qual apresenta duas partes: a morfologia (dos elementos componentes) e a sintaxe (da sua organização). Conforme Chevalier (1968, p.179), há três tipos de explicações [rationes] na

gramática de Scaliger: a primeira diz respeito à forma, a segunda, à significação, e a terceira, à construção.

Scaliger divide os elementos linguísticos em categorias: 1. Os que compõem a palavra; 2. A unidade discursiva, que é superior à palavra, frase e os seus subconjuntos, para diferenciar no interior da unidade superior (nomes e verbos).

Nesse aspecto, Scaliger desconsidera as partes do discurso, e as diferencia conforme o seu alcance lógico (chamado universal). Além disso, afirma que a gramática não pode, como muitos autores fazem, ser reduzida a quatro partes: letra, sílaba, palavra, oração, explica Chevalier (1968, p.179). Essas concepções de Scaliger acerca da gramática foram significativas, porque abriram espaço ao estudo sintático subjacente à morfologia.

A gramática francesa é marcada, também, pelas obras de Meigret, Estienne, Cauchie, Pillot, Garnier, até chegar a Ramus, com a produção de Dialectique (1556)

e Gramere (1562), que trouxeram grandiosas teorias ao estudo da linguagem.

(34)

da ordem, é a preposição que se torna objecto de estudo como elemento sintáctico

importante”, esclarece Kristeva (1969, p.218). Quanto à gramática de Ramus,

adverte Kristeva (1969, p.219) que:

É evidente que a gramática de Ramus, ganhando um avanço considerável de ordenação e de rigor lógico, de sistematização e de formalização, pára no limiar da análise sintáctica por não poder definir as relações que funcionam entre as marcas formais e que dispõem o enunciado numa ordem estrita. (KRISTEVA, 1969, p.219, grifo nosso).

Nesse sentido, acrescenta Chevalier (1968, p.305) que a gramática de Ramus foi a primeira tentativa de uma gramática formal, mas por conta de não prosseguir na análise sintática definindo as relações que funcionassem nas marcas formais e por restringir a ordem do enunciado, acabou fracassando.

Depois das obras de Scaliger e Ramus, os estudiosos da língua, do final do século XVI até o início do século XVII, deram prioridade ao aspecto pedagógico que não trouxe nenhuma teoria nova, mas foi importante, porque simplificaram as regras da língua para que os alunos a compreendessem melhor. Segundo Kristeva (1969, p.223), um ponto positivo é que o número das línguas ensinadas aumentou, e isso tornou as gramáticas polilinguísticas. Com efeito, as línguas inglesa, francesa, alemã, italiano foram confrontadas, tornando os quadros aplicados pelo latim com menos credibilidade.

Ora, mesmo com as limitações das gramáticas formais do renascimento, século XVI, sobretudo, de Scaliger e de Ramus, podemos concluir que foram de suma importância ao estudo da linguagem, uma vez que seus princípios beneficiaram a gramática de Port-Royal no século XVII, que partiu do aspecto da morfologia para a sintaxe.

No século XVII, prevalecia, na França, a perfeição dos falares clássicos por meio da regularização e sistematização da língua. Consequentemente, a arte do bem falar torna-se assunto principal desse período, e as pessoas da corte aprendiam por meio da obra Remarques sur de la langue française (1647), de

(35)

Kristeva (1969, p.224). Faz-se necessário mencionar que Vaugelas faz observações importantes quando discorre sobre a expressão nominativa, genitiva, bem como sobre existência da ablativa em suas análises gramaticais.

A gramática formal do século XVI tinha comprovado que as construções linguísticas latinas eram lógicas, naturais. Nesse aspecto, os estudos da língua moderna só tinham que dar continuidade a essas concepções gramaticais. Com base nisso, surge a gramática de Port-Royal (1660), de Lancelot e Anauld, fundamentada em Descartes, para solucionar as limitações dos estudos acerca da língua do século XVI.

Quanto à gramática de Port-Royal, acrescenta Kristeva que (1969, p.226):

À primeira vista, a gramática de Port-Royal não se distingue sensivelmente das que a precederam, as gramáticas formais do Renascimento, excepto sem dúvida pela sua clareza e pela sua concisão. Com efeito, encontramos nela as mesmas correspondências entre os casos latinos e as construções da língua francesa. Ora, há duas inovações metodológicas fundamentais que renovam completamente a visão da língua proposta pelos Solitários de Port-Royal. (KRISTEVA, 1969, p.226).

Diante disso, a Grammaire générale de Port-Royal definia um espaço comum

a todas as línguas por meio da ciência do raciocínio, mas não previa a ciência da língua como objeto específico, e sim geral. Por conseguinte, esse método favoreceu o surgimento de um enfoque científico da linguagem. Convém destacar, também, quea língua não é uma justaposição de termos, mas um organismo.

Na Grammaire génerale, vale destacar, também, as declarações de F. Brunot

(apud CHEVALIER, 1968, p.483, trad. nossa) ao afirmar que “a gramática de

Port-Royal marca, portanto, um marco na história da língua francesa, porque dela Arnauld aplica, em primeiro lugar, à nossa língua, o método filosófico”. Dessa maneira, Chevalier (1968, p.483) confirma com o autor ao dizer que:

F. Brunot tem razão de dizer que a Grammaire générale apresenta a história da língua. Essas Gramáticas em francês certamente não perderam um século; trabalhos como os de Ramus que são um peso considerável foram escritas em francês, mas esta é a primeira vez que um livro de doutrina abraçando as línguas conhecidas foi escrito na nossa língua [...]. (CHEVALIER, 1968, p.483, trad. nossa).

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Deve-se enfatizar a sintaxe na Grammaire générale, de Port-Royal, adverte

Kristeva (1969, p.233) que:

A lógica aristotélica propunha uma hierarquia das partes do discurso em que o nome e o verbo tinham posições iguais. Ora, seguindo a criação do juízo e do raciocínio, a Grammaire générale conseguiu distinguir por um lado as partes do discurso que são os signos dos «objectos do nosso pensamento» (a conceber): nome, artigo, pronome, particípio, preposição, advérbio; e por outro lado «a forma ou a matéria do nosso pensamento»: verbo, conjunção, interjeição. As partes do discurso são portanto encaradas como se participassem numa operação, num processo. É assim que desde as primeiras páginas, e contrariamente ao que se afirmou, a Grammaire anuncia o seu projecto de elaborar uma construcção: sobre um fundo lógico orientado para a descrição do sistema de sentindo que (para o Renascimento) subtende a reunião arbitrária das palavras, os Solitários servem-se da alavanca do signo para proporem uma sintaxe. (KRISTEVA, 1969, pp.233-234).

Diante disso, ocorre o avanço do estudo sintático por meio dessa gramática. A sintaxe lógica abre espaço a uma sintaxe linguística, uma vez que a proposição se torna base da reflexão gramatical, e os termos já não são mais estudados isoladamente, forma-se um estudo complexo na relação nome/verbo que passa para sujeito/predicado: um de quem se afirma ou se nega (sujeito); o outro, que se afirma

ou se nega (atributo ou predicado).

Em relação à concepção lógica da Grammaire génerale, de Port-Royal, diz

Kristeva (1969, p.237) que:

Os quadros do raciocínio linguístico alargam-se primeiro para além dos termos para encontrarem a proposição; depois os segmentos analisados tornam-se maiores do que a simples proposição, e a análise ocupa-se das relações interfrásticas; por fim a noção de complementaridade dos termos parece acrescentar-se à de subordinação, de tal modo que a linguagem já não é uma oratio, conjunto formal de termos, mas um sistema cujo núcleo principal é a proposição subtendida pela afirmação de um juízo. (1969, p.237).

Por meio da complexidade lógica dos termos de Port-Royal, a sua gramática foi culminante para o estudo da linguagem, que será aperfeiçoado no século XVIII.

(37)

epistemológicos. Como consequência disso, os gramáticos e filósofos propiciaram os esclarecimentos das particularidades de cada objeto (língua), distanciando-o cada vez mais do latim – da dependência lógica –, mas não desprezando o aspecto universal, que passou a ser chamado de lógico para natural, o que ocasionou uma

descrição sintática das relações frásticas e interfrásticas – a gramática Enciclopédia –, que foi a primeira a explicar, com clareza, o esforço de se fazer uma sintaxe comum a todos os gramáticos desse período.

É preciso salientar que o estudo da linguagem do século XVIII não foge do espírito de classificação e de sistematização que perpetuava nas ciências da época que tinham como modelo a seguir a geometria. Prova disso, é o fato de que todas as

ciências, inclusive a gramática, “são susceptíveis de uma demonstração tão evidente

como a da geometria”, afirma Buffier (apud KRISTEVA, 1969, p.245).

Destaca-se, também, James Harris, que publicou a obra Hermes or a Philosophical Inquiry concerning Universal Grammar (1751), em que abordou os

princípios universais e racionais da gramática geral, que era acessível a todas as línguas. Nesse sentido, a linguagem surge como estudo mecânico, de forma que as regras podiam ser estudadas como qualquer outro objeto físico, causando aproximações e tipologias que favoreceram o comparatismo do século XIX. Convém mencionar o ilustre William Jones (1746-1794), que “inaugura sem dúvida de uma forma decisiva a futura linguística comparada quando descobre as correspondências

entre o sâncrito, o persa, o grego, o latim, o gótico e o céltico”, declara Kristeva

(1969, p.246, grifo nosso).

Além desses autores, enfatiza-se Locke (1632-1704), gramático que se destaca pela teoria do signo ao afirmar que as palavras “são signos das ideias que

também se encontram nos outros homens com quem se fala” (apud KRISTEVA,

1969, p.246). Quanto aos estudos gramaticais de Locke, acrescenta Kristeva (1969, p.247) que o autor:

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