Comocitaresteartigo:CunhaRodriguesFA,etal.Violênciaobstétricanoprocessodeparturic¸ãoemmaternidadesvinculadasàRedeCegonha. h ttp : / / w w w . s b r h . o r g . b r / r e v i s t a
Reprodução
&
Climatério
Artigo
original
Violência
obstétrica
no
processo
de
parturic¸ão
em
maternidades
vinculadas
à
Rede
Cegonha
Francisca
Alice
Cunha
Rodrigues
a,
Samira
Valentim
Gama
Lira
b,
Poliana
Hilário
Magalhães
b,∗,
Ana
Luiza
e
Vasconcelos
Freitas
b,
Verônica
Maria
da
Silva
Mitros
be
Paulo
César
Almeida
aaUniversidadeEstadualdoCeará(UECE),Fortaleza,CE,Brasil bUniversidadedeFortaleza(UNIFOR),Fortaleza,CE,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem10deoutubrode2016 Aceitoem6dedezembrode2016 On-lineemxxx
Palavras-chave:
Violênciacontraamulher Obstetrícia
Partohumanizado
r
e
s
u
m
o
Objetivos:analisaraviolênciainstitucionalcontramulheresnoprocessodeparturic¸ãoem maternidadesvinculadasaRedeCegonhadeFortaleza/Cascavel.
MaterialeMétodos:Trata-sedeum estudodescritivocomabordagemquantitativa,
reali-zadoemonzehospitais-maternidades,demédiaealtacomplexidadedarededeatenc¸ãoà saúdedamulhernoestadodoCeará,compostapor11hospitais-maternidades, participa-ramdapesquisa3.765puérperasdepartotranspelvianoqueseencontravamnasunidades dealojamentoconjuntodasreferidasinstituic¸ões.
Resultados: Sobreascaracterísticassociodemográficasdasparticipantesdapesquisatinham entre20a34anos(62,1%),tratando-sedosuporteemocionalquedeveseroferecidoduranteo parto,asparticipantesrelataramquetiveramapresenc¸adevisitas(82,9%),emrelac¸ãoas ati-tudesqueocasionaramsentimentosdehesitac¸ãoasparticipantesafirmaramquesentiam seguranc¸a(89,4%).
Conclusões:Apesquisademostraaimportânciadeumatendimentohumanizadoadequado
atravésdaestruturac¸ãoeorganizac¸ãodaatenc¸ãomaterno-infantilpropostopelarede cego-nha.
©2016SociedadeBrasileiradeReproduc¸ ˜aoHumana.PublicadoporElsevierEditoraLtda. Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/
licenses/by-nc-nd/4.0/).
Violence
obstetric
in
the
parturition
process
in
maternities
linked
to
the
Stork
Network
Keywords:
Violenceagainstwomen Obstetrics
Humanizingdelivery
a
b
s
t
r
a
c
t
Objectives: toanalyzetheinstitutionalviolenceagainstwomenintheparturitionprocessin maternityhospitalslinkedtoStorkNetworkofFortaleza/Cascavel.
MaterialandMethods:Thisisadescriptivestudywithaquantitativeapproach,performedin elevenmaternities,mediumandhighcomplexityofthenetworkofhealthcareofwomen
∗ Autorparacorrespondência.
E-mails:polianahm@gmail.com,polyanahm@hotmail.com(P.H.Magalhães).
http://dx.doi.org/10.1016/j.recli.2016.12.001
inthestateofCeará,composedof11maternityhospitals,participatedinthesurvey3.765 transpelvicbirthmotherswhowereintheaccommodationunitssetoftheseinstitutions. Results:Aboutthesociodemographiccharacteristicsofthestudyparticipantswerebetween 20-34years(62.1%),inthecaseofemotionalsupportthatshouldbeofferedduring deli-very,theparticipantsreportedthattheyfeltthepresenceofvisits(82.9%)inrelationtothe attitudesthatledtofeelingsofhesitationtheparticipantssaidtheyfeltsecurity(89.4%).
Conclusions: Thestudydemonstratestheimportanceofanappropriatehumanizedcare
throughthestructureandorganizationofmaternalandchildcareproposedbythestork network.
©2016SociedadeBrasileiradeReproduc¸ ˜aoHumana.PublishedbyElsevierEditoraLtda. ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons.
org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Otermoviolênciaobstétricaagrupaatosdedesrespeito, assé-dio moral e físico, abuso e negligência, e só nos últimos anosvemsendolevadoasérioporpioneirosnacomunidade dosprofissionaisdesaúde,administradoreshospitalaresena justic¸a.1
ComoengenhodoprogramadaRedeCegonha,a Ouvido-riaGeraldoSUS, emparceriacom aCoordenac¸ãoGeralde SaúdedasMulheres,oquestionáriodepesquisadaRede Cego-nha.AotempoemquesedesenvolvianoMinistériodaSaúde apesquisadaRedeCegonha,osanosseguintespassarama abordarotópicodaviolêncianaatenc¸ãoobstétricacommais intensidade.
OestudoMulheresbrasileirasegêneronosespac¸ospúblico eprivadorealizadapelaFundac¸ãoPerseuAbramo,2apontou
queumaemcada quatromulheresjásofreramalgumtipo de violência naatenc¸ão obstétrica. A pesquisamostra um cenáriobastantecríticoparaosistemadesaúdepública bra-sileira,onde asgestantesrelataram tersofrido, nahorado parto,algumdesrespeitooumaltratoaoprocurarassistência emmaternidades,noatendimentoduranteopré-natalouno momentodoparto.
Essetipodeviolênciaépoucoidentificadodevidoàfalta deconhecimentodessesabusosporpartedas parturientes. Considerandoqueessas práticassó podemserenfrentadas caso haja o reconhecimento desse fenômeno, a Violência Obstétrica(VO)édefinida comoumaapropriac¸ãodocorpo edosprocessos reprodutivos dasmulherespelos profissio-naisdesaúde,através dotratamentodesumanizado, abuso da medicalizac¸ão e patologizac¸ão dos processos naturais, causando a perda da autonomia e capacidade de decidir livrementesobreseuscorposesexualidade,impactando nega-tivamentenaqualidadedevidadasmulheres.3,4
Opartoéconsideradoummarconavidadeumamulher, caracterizado poruma explosão de sentimentos tendo em vistaachegadadeumnovomembronafamília.Entretanto, assituac¸õesdeviolênciadurante aparturizac¸ãosãomuito presentes,transformandooquepoderiaserumaexperiência prazerosaeúnicaemumalembranc¸atraumáticaedolorosa.5,6
Paraquesejaoferecidoumatendimentointegrale efici-ente,compriorizac¸ãodeac¸õesqueabrangemconhecimentos, atitudesepráticashumanizadasdevehaveroenvolvimento detodasasesferasdeservic¸osdesaúdeparareconheceras
lacunasquedificultamaexecuc¸ãodeumpartohumanizado. Dessaforma,aoassumiraexistênciadaviolênciaobstétrica comoumapráticacomumeaocompreenderoimpactoqueela ocasionaàspuérperaspercebe-seaimportânciadaspolíticas públicasvoltadasparaaatenc¸ãomaterno-infantil.
Apesardejáexistirempolíticasespecíficasquegarantem umcuidadohumanizadoduranteoprocessodeparturizac¸ão, revela-sequeosabusosdepoderporpartedasinstituic¸ões edeseusprofissionaissobreasaúdedamulherestãocada vezmaispresentes.Aepidemiologiaevidenciaesseaumento na incidência dos casos de violência obstétrica, de forma que umaem cada quatromulheres afirmam játer sofrido violêncianoparto,ouseja,25%dasbrasileirasquesão aten-didasnasredespúblicaeprivada,relatamquesesentiram violentadas.7
OProgramadeHumanizac¸ãonoPré-NataleNascimento (PHPN) foi criado,inclusive, com o propósitode contribuir paraumamelhoriaduranteaassistênciaaopartoeao recém--nascido, assegurando melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do atendimento. Ele traz a compreensão de humanizac¸ão por meio do acolhimento com dignidade a mulher,seusfamiliareseorecém-nascido,incluindoatitudes éticas,criandoumambienteharmoniosoparaessemomento. Alémdaadoc¸ãodeprocedimentosbenéficos,evitando práti-casintervencionistasdesnecessárias.
Essaabordagemhumanizadasurgecomoumprincípioa fugadomodeloconvencional,tecnocrático,ebuscaoresgate doprotagonismodagestanteedorespeitoàsingularidadeda mulher.Porserumconceitocomplexo,querefletemudanc¸as de paradigmas, o parto humanizado tem sido objeto de atenc¸ão.8Umatendimentoqueproporcionaoprotagonismo
da mulher durante o processo de parturic¸ão e uma assis-tência pautada nos princípios do Sistema Único de Saúde (equidade,integralidadeeuniversalidade)minimizaa proba-bilidadedaocorrênciadaviolênciaobstétrica,demonstrando a implementac¸ão das ac¸ões preconizadas pelas políticas públicasexistentes,pormeiodaatuac¸ãodosprofissionaisde saúde.9,10
Comocitaresteartigo:CunhaRodriguesFA,etal.Violênciaobstétricanoprocessodeparturic¸ãoemmaternidadesvinculadasàRedeCegonha. ARedeCegonhadirecionada,formuladaeimplementada
emtodososníveisdegoverno,aindanãotêmefetividadedas ac¸õesrelacionadasaocuidadohumanizado,paraevitarque essaspuérperassoframalgumtipodeviolênciaaoprocuraro servic¸o,oquesepercebe,ainda,éaexistênciadafragilidade nasequênciadessarede.Nessesentido,objetivou-se anali-saraviolênciainstitucionalcontramulheresnoprocessode parturic¸ãoemmaternidadesvinculadasaRedeCegonhade Fortaleza/Cascavel.
Método
Trata-sedeumestudodescritivocomabordagemquantitativa, realizadoemonzehospitais-maternidades, demédiaealta complexidadedarededeatenc¸ãoàsaúdedamulhernoestado doCeará.
Considerandoquea RedeCegonha no estadodoCeará, estacompostapor17redesinterligadasecomplementares. Entende-sequecadaumadestassepropõeaumaltonívelde resolutividadedentrodoscomponentespropostospela polí-ticanacional,queimplicaempré-natal,parto,nascimento, puerpério,atenc¸ãoàcrianc¸aetransporte.
Cada uma destas redes está vinculada a um ou mais hospitais-maternidades, que são responsáveis pela assis-tência ao parto. Assim, em func¸ão do grande número de instituic¸ões vinculadas à rede cegonha no estado do Ceará,optou-sepelodesenvolvimentodapesquisasomente naquelas que compõem a rede Fortaleza/Cascavel. Essa redeé composta por 11 hospitais-maternidades, que, para a participac¸ão na pesquisa, foi solicitado aos diretores a autorizac¸ão.Emrelac¸ãoaosparticipantesdoestudo, partici-paramdapesquisa3.765puérperasdepartovaginalquese encontravamnasunidadesdealojamentoconjuntodas referi-dasinstituic¸ões.Optou-seporestapopulac¸ãoporentender-se queonascimentoéhistoricamenteumeventonatural,sendo assim um momento que, embora institucionalizado, teria poucainferênciainstitucional.
Foramexcluídasaspuérperasqueporpariramemcasaou nopercurso,emborativessemcuidadosprestadosnas mater-nidadespesquisadas.
Paraacoletadedadosutilizou-seumquestionário,quefoi respondidopelaparticipantedapesquisaecomplementado pordadosdoprontuáriopelapesquisadora,tiveramcomoeixo condutordadossociodemográficoseaspectosqueenvolvem osperíodospré-parto,trans-partoepós-parto,desdea che-gadadamulheràmaternidadeatéomomentoemqueesta encontra-senoperíodopuerperalnaunidadedealojamento conjunto,realizadonoperíododenovembrode2013ajaneiro de2014.
OsdadoscoletadosforamprocessadosnoPrograma Stati-sitcalPackageforSocialSciencesforPersonalComputer(SPSS-PC), versão17.0.Foramorganizadosemtabelasegráficosparaa melhorexposic¸ãodasinformac¸õessegundoascategoriasde variáveispreviamentedeterminadas.
A pesquisa respeita todos os preceitos éticos e legais de acordocom a Resoluc¸ão n◦466/12, mantida a confiden-cialidade das informac¸ões adquiridas, com o número do parecer:387.135.Omesmofoicompostopelasolicitac¸ãode autorizac¸ãoderealizac¸ãodapesquisa,assinaturadoTermo
Tabela1–Caracterizac¸ãodasnecessidadeshumanas básicasduranteotrabalhodepartodemulheresque pariramseusfilhosporpartonormalemmaternidades daRedeCegonhaFortaleza-Cascavel,dezembro,2013
Características Sim Não
n◦ % n◦ %
Liberdadeparaandar 183 62,5 110 37,5
Alimentac¸ão 66 22,5 225 77,3
Ingestahídrica 85 29,2 208 70,8
deconsentimentolivreeesclarecido,emedianteaprovac¸ão foiiniciadaacoletadedados.
Resultados
Sobreascaracterísticassociodemográficasdasparticipantes dapesquisa:62,1%tinhamentre20a34anos,49,5%possuíam de8a11anosdeestudo,51,5%eramsolteira,51,5%exerciam aatividadedolar,66,9%relataramterumarendadeatéum saláriomínimoeaoconsiderarototaldasparticipantes65,2% eramprovenientedeFortaleza.
Na tabela1evidenciaasnecessidadesbásicasduranteo
processodepartopelasparturienteseidentificamosque70,8% nãofoiofertadoaingestãohídricae77,3%aalimentac¸ão.
Tratando-sedosuporteemocionalquedeveseroferecido duranteoparto,82,9%relataramquetiveramapresenc¸ade visitas,67,5%receberamorientac¸õessobretrabalhodeparto epartoe77,6%apresenc¸adeacompanhantedurante todo otempodeinternac¸ãoe63,2%queessasatitudes contribuí-ramparaumseguranc¸aemrelac¸ãoaosprocedimentos,em contrapartida,nãotiveramumapresenc¸adeprofissionalque proporcionasseconfortofísicoeemocionale37,2%nem rece-beramesclarecimentossobreprocedimentos(tabela2).
Emrelac¸ãoasatitudesqueocasionaramsentimentosde hesitac¸ão as participantes afirmaram que sentiam: 89,4% seguranc¸a,67,9%medo,28,3%ordensparaparardegritare 24,6%apelidos(tabela3).
A tabela 4 apresenta ac¸ões que caracterizam a não
realizac¸ãodasorientac¸õesdasboaspráticasparaoparto,onde osparticipantesreferiram:86,7%manobradevalsalva,52,2% examedetoquerealizadoporpessoasdiferentes,63,8%uso desoroe34,5%deocitocina.
Discussão
Os componentes discutidos a priori têm particularidades, nãoobstante,secomplementamparagarantirocontíguoda atenc¸ãoàsaúdedamulheredacrianc¸adurantea experiên-ciada maternidade,donascimento,nomomento doparto. Emcadaumdeles,oProgramadeterminaac¸õesquedevem serexecutadasemumoumaisníveldeatenc¸ão,nãose resu-mindoaumúnicomomento,poistodainformac¸ãopréviapela gestante, incertezas,medosedúvidas deveriamser cogita-dosduranteopré-natal.Ocumprimentoacontentoresulta naefetividadedaRedeCegonha.
Tabela2–Caracterizac¸ãodasac¸õesdesuporte emocionalparamulheresquepariramseusfilhospor partonormalemmaternidadesdaRedeCegonha Fortaleza-Cascavel,dezembro,2013
Características Sim Não
n◦ % n◦ %
Acompanhante 177 60,8 114 39,3
Presenc¸ade Acompanhante durantetodoo tempode internac¸ão
142 77,6 41 22,4
Exigênciadosexo femininopara acompanhantes
122 66,3 62 33,7
Visita 243 82,9 50 17,1
Presenc¸ade profissionalque proporcionou confortofísicoe emocional
108 36,9 185 63,1
Recebeu
Esclarecimentos sobre
procedimentos
184 62,8 109 37,2
Recebeuorientac¸ões sobretrabalhode partoeparto
198 67,5 95 32,5
ealimentar, nasmulheresque tiveramparto normal, nem
sempreerapermitida.12Resultadosemelhanteaoencontrado
nesteestudo.
Assim, não há justificativas para manter a mulher em trabalhode partoemjejum. Mesmonaocorrênciade uma cirurgiacesariana,aanestesiaregionaléutilizadacommaior frequênciadoqueageral,permitindo asmulheresficarem acordadasdurantetodooprocedimento,oqueastornacapaz departicipardeseuprópriocuidadoedeprotegersuasvias aéreas no caso de presenc¸a de episódios eméticos.13 Isto,
autenticaumconjuntodefalhaseausênciadeinformac¸ão nomomentodoparto.
Duranteoprocessodepartoaparturientegastamuita ener-gia,sendopossívelqueosuprimentodeglicosepresenteno organismonãosejaosuficiente.Contudoestiveremjejum,ele
Tabela3–Caracterizac¸ãodasac¸õesqueocasionam medoeseguranc¸aparamulheresquepariramseus filhosporpartonormalemmaternidadesdaRede CegonhaFortaleza-Cascavel,dezembro,2013
Características Sim Não
n◦ % n◦ %
Seguranc¸a 262 89,4 31 10,4
Medo 199 67,9 94 32,1
Ameac¸ada 24 8,2 267 91,8
Críticas 20 6,9 271 93,1
Ironia 16 5,5 275 94,5
Recebeuapelidos 72 24,6 219 75,3
Parardegritar 83 28,3 210 71,7
Gritoscomaparturiente 11 3,8 282 96,2
Ouviupiadas 10 3,4 283 96,6
Tabela4–Ac¸õesquecaracterizamonãocumprimento dasorientac¸õesdasboaspráticasparaopartoe nascimentodemulheresquepariramseusfilhospor partonormalemmaternidadesdaRedeCegonha Fortaleza-Cascavel,dezembro,2013
Características/Categoria deboaspráticas
Sim Não
n◦ % n◦ %
Episiotomia(D) 60 20,5 231 78,0
Manobrade Kristeller(C)
70 24,1 221 75,9
ExamedeToque realizadopor pessoasdiferentes (D)
152 52,2 138 47,1
Amniotomiaprecoce (D)
97 33,3 194 66,7
Curagemsem analgesia farmacológica(B)
49 16,8 242 83.2
Contatopeleapele (A)
158 54,3 133 45,7
Amamentac¸ãona1a meiahoradevida (A)
67 23 224 77
ManobradeValsalva (B)
254 86,7 39 13,3
UsodeSoro(B) 187 63,8 106 36,2
Sonda(D) 21 7,2 272 92,8
Ocitocina(B) 101 34,5 192 65,5
Tricotomia(B) 18 6,1 275 93,9
Enema(B) 10 3,4 283 96,6
reduzoscomponentesqueajudamna“forc¸a”dotrabalhode partoeoorganismoemvezdaglicosearmazenadaéutilizada oslipidioscomofontedeenergia,formandoumcompostoque
consequentementeaumentamaquantidadedeaminoácidos
nacorrentesanguíneodamãedofeto,quepodemprovocar
umacetoseprejudicandooseudesenvolvimento.14
Emumaoutrapesquisafoiconstatadoqueantesdo pro-cessodeparto80%dasparturientesconsumiramalgumtipo de líquido e que apenas 11% tiveram restric¸ão, não iden-tificando cientificamente queessa restric¸ão contribuiria de algumaformanosprocedimentosrealizados.13
Dessaformavê-seumanecessidadedesuprimentohídrico ealimentardurantetodoesseprocesso,poisquandoé pro-longadoosuprimentodeenergiaarmazenadonocorpopode nãosersuficienteeaoofertá-lopoderámelhorarobem-estar físicoeemocionaldaparturientedurantetodoesseprocesso.E maisainda,vemosanecessidadedeumaatualizac¸ãoporparte dosprofissionaisparaadotaremessemétodojácomprovado cientificamenteeficaz.
Duranteotrabalhodeparto,amulher,sofreumadescarga desentimentoscomoomedodequeocorraalguma intercor-rência,ansiedadedeestargerandoumsere,àsvezes,solidão porestaremumambientecompessoasdesconhecidos.15,16
Comocitaresteartigo:CunhaRodriguesFA,etal.Violênciaobstétricanoprocessodeparturic¸ãoemmaternidadesvinculadasàRedeCegonha. opossívelexplicandoosprocedimentosqueserãorealizados
easpossíveiscomplicac¸ões.
Assim,aorealizaremesseesclarecimentosobrecomo ocor-reráosestágiosdoparto eosprocedimentosinvasivosque serãopromovidoséumaformautilizadaparaqueamulherse sintamaissegurasobreospossíveisprocedimentosqueserão realizados.17,18
Valesalientarqueapresenc¸adopaioudeacompanhante dosexomasculino durante o parto aindanão foiincluída, explicitamente,narede,apesarque:
Por meio dessas diretrizes, a Rede Cegonha propõe a ampliac¸ãodoacessoedamelhoriadaqualidadedopré-natal, davinculac¸ãodagestanteàunidadedereferênciaeao trans-portesegurotantoparaopré-natalquantoparaoparto,da implementac¸ãodeboaspráticasnaatenc¸ãoaopartoe nasci-mento,incluindoodireitoaoacompanhantedelivreescolha damulhernoparto,daatenc¸ãoàsaúdedascrianc¸asde0a24 mesesedoacessoàsac¸õesdeplanejamentoreprodutivo.19
Corroborando com os achados em Diniz e col. (2014),20
onde identificam frequente faltade informac¸ão às mulhe-resantes doparto sobre o acompanhante.Elas usaram as seguintesexpressõesparaafirmarquenãoforaminformadas: “não sabia que era permitido”, “não sabia que era permi-tidoempartosvaginais”,“nãosabiaqueerapermitidopara não-adolescentes”. Apenas 5,7%das mulheres desacompa-nhadas(1,4%dototal)disseramqueestavamsozinhasporque nãoqueriamterqualqueracompanhanteEmumapesquisa realizadacompuérperasrelataramqueasinformac¸õesmais frequentes recebidas pelas mulheres foram as relativas à progressãodotrabalhodeparto(30,1%),indicac¸ão doparto cesáreo(17,9%)eprocedimentosderotina(13,2%),17,21
resul-tadodiferentedoencontradonoestudo.
Essahumanizac¸ãodocuidadotemqueestarpresenteem todososatendimentosrealizadospelosprofissionaisdesaúde e a primeira forma de promover essa assistência são for-necendoinformac¸ões etirando aspossíveis dúvidas que a mulherpoderáater.
Aoreconheceraindividualidadedecadamulheré huma-nizaroatendimento,oprofissionalaoestabelecerumvínculo eperceberassuasnecessidadesecapacidadesdelidarcom o processo de nascimento. Permitindo tambémque ocorra relac¸ões menos desiguaise menos autoritárias na medida emqueo profissionalemlugarde“assumirocomandoda situac¸ão”passa aadotarcondutas quetragambem-estare garantamaseguranc¸aparaamulhereobebê.11
As práticas na assistência a parturiente são efetivas paraqueocorraareduc¸ãodosofrimentoneonatal,existem diversosfatoresdasaúdematernaqueinfluenciamnos resul-tadosda gravidez.Eainda háumaparcelaimportante das complicac¸õesquepodemocorrerduranteotrabalhodeparto quepodemserreduzidasporcuidadosobstétricos apropria-dos,atravésdousoadequadodetecnologias.Entretanto,ouso inadequadodestasouarealizac¸ãodeintervenc¸ões desneces-sáriaspodemtrazerprejuízosparaamãeeparaofeto.22
O exame de toque que é utilizado para identificar a evoluc¸ão do parto através da dilatac¸ão do colo uterino e, segundo,essadilatac¸ãoaumentaafrequênciacomqueesse exameérealizado.23,24
Alémdissoéfundamentalparaavaliac¸ãodoprogressodo trabalhodeparto,poispermitedefinirposic¸ão,comprimento,
consistência e tamanho do colo, apresentac¸ão, atitude e posic¸ãofetal,presenc¸adebossaegraudecavalgamentoósseo docrâniofetal,relac¸ãoentreaapresentac¸ãoeocolouterino, característicasdabaciaósseamaterna,presenc¸ade membra-nasesuareac¸ãoàscontrac¸õesuterinas.25,26Apráticamostra,
entretanto,queotoqueémuitasvezesfeitounicamentecom ointuitodeavaliaradilatac¸ãodocolouterino.
Conformeaumentaafrequênciadestestoquesvaginaisela érealizadapormaisdeumavaliadorecomintervalodetempo pequeno, prejudicandoa evoluc¸ãofisiológica eprovocando desconfortoeedemade vulva.Contudo, emumapesquisa realizadacomparturientesinternadasemumHospital Obs-tétricofoiidentificadoqueasrepetidasvezesqueesseexame erarealizadoadeixavammaisnervosaseinseguras,poisos profissionais o praticavamnão se preocupando com asua privacidade.27
Assim, o uso frequente destas intervenc¸ões para acele-raroprocessodepartopodeprovocardiversascomplicac¸ões materno-fetal. Emuitos destes examessão realizadossem explicac¸ãoeconsentimentodamulher.28
Essaspráticasnãorecomendadaspelasevidências cientí-ficascomoousoelevadodeocitocinaeposic¸ãolitotômicano partopodemaumentaroperíododotrabalhodepartoerefletir negativamentesobreosresultadosperinatais.29
Aocitocinaeaamniotomiatêmsidoutilizadasparaoque sedenomina“manejoativodoparto”,visandoàreduc¸ãoda durac¸ãodosegundoestágiodotrabalhodepartoedataxade partoinstrumental.30–32
Assim, apesar das recomendac¸ões promovidas pela Organizac¸ãoMundialdaSaúdeparaassistênciaaoparto vagi-nalasuaincorporac¸ãoaindaémuitoinsuficienteporparte dosprofissionais,poisasuasintervenc¸õesaindaestãomuito associadasasrazõeseconômica,políticaseculturaissendo resistenteabaseadaemevidências.33,34
Desta forma, apesar da realizac¸ão de boas práticas ser superioràdeintervenc¸ãodesnecessáriaasuaconcretizac¸ão é considerada uma violência obstétrica. Entretanto, essas intervenc¸õesdesnecessáriasemmuitasmaternidadessão vis-tascomoprocedimentosnormais.29
Conclusão
AanálisegeradanestapesquisarevelaqueoProgramaRede Cegonha,implantadoem2011peloMinistériodaSaúde,ainda époucocompreendidopelasusuárias.Osdadossugeremque ofatodeseterinformac¸õesgeraissobredeterminados aspec-tosde umtemanãoécondic¸ãosuficienteparavalidarum conhecimentonosentidodeapropriac¸ãodeste,tampouco,de utilizac¸ãonaprática.
consequênciaasmulheressofremessas violências, semse querperceberemqueforamviolentadas.
A pesquisa demostra a importância de um atendi-mento humanizado adequado por meio da estruturac¸ão e Organizac¸ãodaAtenc¸ãoMaterno-InfantilpropostopelaRede Cegonha.Portanto,énecessárioqueosprofissionaisestejam aptosparaatuaremnosservic¸osdesaúdebuscando garan-tiraos objetivosediretrizes daredeatravés,porexemplo, doestabelecimentodeumvínculoparacomamulhercomo intuitodereconhecersuasnecessidades,fragilidadese sen-timentosparaqueassimpossamrealizarac¸õesadequadase humanizadasvisandotransmitirparaasmulheresseguranc¸a eapoio.
Ademais,alertam-seaosprofissionaisqueatuamno pro-cessodepartoepuerpériosobreosdireitosdamulherdurante oparto epós-parto,embusca deproporcionar um atendi-mento,apoioesuporteadequadoseatenc¸ãohumanizadapara asmulhereseseusfilhos.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
1. DinizSG,SalgadoHO,AndrezzoHFA,CarvalhoPGC,Carvalho
PCA,AguiarCA,etal.Violênciaobstétricacomoquestãopara
asaúdepúblicanoBrasil:origens,definic¸ões,tipologia,
impactossobreasaúdematerna,epropostasparasua
prevenc¸ão.JHumGrowthDev.2015;25:377–84.
2. Fundac¸ãoPerseuAbramo.Mulheresbrasileirasegêneronos espac¸ospúblicoseprivados.SãoPaulo,2011.Disponívelem:
http://www.fpabramo.org.br/-sites/default/files/
pesquisaintegra.pdf[acessoem6deoutubrode2016].
3. VenturiG,GodinhoT.Mulheresbrasileirasegêneronos
espac¸ospúblicoeprivado:umadécadademudanc¸asna
opiniãopública.SãoPaulo:Fundac¸ãoPerseuAbramo;2013.
4. SãoPaulo.DefensoriaPúblicadoestadodeSãoPaulo.Núcleo EspecializadodePromoc¸ãoeDefesadosDireitosdaMulher. Violênciaobstétrica:vocêsabeoqueé?SãoPaulo:Escolada DenfesoriaPublicadoEstado,2013.
5. GalloRBS.Recursosnão-farmacológicosnotrabalhodeparto:
protocoloassistenciaL.Revistafeminina.2011;39:41–8.
6. BrüggemanniOM,OsisiMJD,ParpinelliiMA.Apoiono
nascimento:percepc¸õesdeprofissionaiseacompanhantes
escolhidospelamulher.RevSaúdePública.2007;41:44–52.
7. VenturiW.Mulheresbrasileirasegêneronosespac¸ospúblicos eprivado.Fundac¸ãoPerseuAbramoeSESC;2010.
8. CunhaMA,MamedeMV,DottoLMG,MamedeFV.Assistência
pré-natal:competênciasessenciaisdesempenhadaspor
enfermeiros.Esc.AnnaNery,RiodeJaneiro.2009;13:145–53.
9. BrasilLein◦8080,de19desetembrode1990.Dispõesobreas
condic¸õesparaapromoc¸ão,protec¸ãoerecuperac¸ãodasaúde, aorganizac¸ãoeofuncionamentodosservic¸os
correspondentesedáoutrasprovidências.DiárioOficialda União1990.
10.CurvelloCFA,VasconcellosLCF.Integralidadenasrelac¸ões saúde-trabalho:adoutrinadesprezada.Monografia (Especializac¸ãoemSaúdedoTrabalhador)-doCentrode EstudosdeSaúdedoTrabalhadoreEcologiaHumana/Escola NacionaldeSaúdePúblicaSérgioArouca/Fundac¸ãoOswaldo Cruz;2008.
11.Brasil.MinistériodaSaúde.SecretariadeAtenc¸ãoàSaúde. DepartamentodeAc¸õesProgramáticasEstratégicas.Política NacionaldeAtenc¸ãoIntegralàSaúdedaMulher:Princípiose Diretrizes.2reimpr.Brasília:EditoradoMinistériodaSaúde, 2011.
12.SilvaRC.Odiscursoeapráticadopartohumanizadode
adolescentes.Textocontexto-enferm.Florianópolis.
2013;22:629–36.
13.SingataM,TranmerJ,GyteGM.Restrictingoralfluidandfood
intakeduringlabour.CochraneDatabaseSystRev.
2010:CD003930.
14.MeloCRM,PeracoliJC.Mensurac¸ãodaenergiadespendidano
jejumenoaportecalórico(MEL)emparturientes.Rev
Latino-AmEnfermagem.2007;15:612–7.
15.BezerraMGA,CardosoMVLML.Fatoresinterferentesno
comportamentodasparturientes:enfoquena
etnoenfermagem.RevBrasEnferm.2005;589:698–702.
16.SantosDS,NunesIM.Doulasnaassistênciaaoparto:
concepc¸ãodeprofissionaisdeenfermagem.Esc.AnnaNery,
RiodeJaneiro.2009;13:582–8.
17.NagahamaEEI,SantiagoSM.Práticasdeatenc¸ãoaopartoeos
desafiosparahumanizac¸ãodocuidadoemdoishospitais
vinculadosaoSistemaÚnicodeSaúdeemmunicípioda
RegiãoSuldoBrasil.Cad.SaúdePública,RiodeJaneiro.
2008;24:1859–68.
18.OliveiraASS,RodriguesDP,GuedesMVC.Percepc¸ãode
puérperasacercadocuidadodeenfermagemduranteo
trabalhodepartoeparto.Rev.enferm.UERJ,RiodeJaneiro.
2011;19:249–54.
19.GNDH.Roteiroparaatuac¸ãoministerial:atenc¸ãoperinatal. 2012.Disponívelem:http://goo.gl/S1zBIS.Acessoem:5 jan.2016.
20.MariaSoaresMadeira,TorresJacquelineAlves,DiasMarcos AugustoBastos,SchneckCamillaA.etal.Implementac¸ãoda presenc¸adeacompanhantesduranteainternac¸ãoparao parto:dadosdapesquisanacionalNascernoBrasil.Cad. SaúdePública[Internet].2014;30(Suppl1):
S140-S153.
21.Calc¸aAA.Opartohumanizadonavisãomulherparturiente.
Monografia[Especializac¸ão].Curitiba:UniversidadeFederal
doParaná;2001.
22.WorldHealthOrganization(WHO).MaternalandNewborn
Health/SafeMotherhoodUnit.Careinnormalbirth:a
practicalguide.Geneva:WorldHealthOrganization;1996.
23.WickhamS.Midwiferybestpractice.3rded.London:Elsevier;
2005.p.77–8.
24.DavisE.Heart&Hands.Amidwife’sguidetopregnancy&
birth.4thed.Berkeley/Toronto:CelestialArts;2004.p.114.
25.PereiraWR.Poder,violênciaedominac¸ãosimbólicosemum
servic¸opúblicodesaúdequeatendeamulheresemsituac¸ão
degestac¸ão,partoepuerpério[tese].RibeirãoPreto:Escolade
EnfermagemdeRibeirãoPretodaUniversidadedeSãoPaulo;
2000.
26.NarchiNZ,CamargoJCS,SalimNR,MenezesMO,Bertolino
MM.Utilizac¸ãodalinhapúrpuracomométodoclínico
auxiliarparaavaliac¸ãodafaseativadotrabalhodeparto.Rev
BrasSaudeMaterInfant.2011;11:313–22.
27.WolffLR,WaldowVR.Violênciaconsentida:mulheresem
trabalhodepartoeparto.Saúdesoc.,SãoPaulo.
2008;17:138–51.
28.CielloC,CarvalhoC,KondoC,DelageD,NiyD,WernerL, SantosSK.ViolênciaObstétrica:pariráscomdor;2012.
29.LanskySônia,FricheAméliaAugustadeLima,SilvaAntônio
AugustoMourada,CamposDeise,BittencourtSoniaDuarte
deAzevedo,CarvalhoMárciaLazarode,etal.PesquisaNascer
noBrasil:perfildamortalidadeneonataleavaliac¸ãoda
assistênciaàgestanteeaorecém-nascido.CadSaúdePública.
Comocitaresteartigo:CunhaRodriguesFA,etal.Violênciaobstétricanoprocessodeparturic¸ãoemmaternidadesvinculadasàRedeCegonha.
30.SchmitzT,MeunierE.Mesuresàprendrependantletravail
pourréduirelenombred’extractionsins-trumentales.J
GynecolObstetBiolReprod.2008;37Suppl8:179–87.
31.ApiO,BalcinME,UgurelV,ApiM,TuranC,UnalO.Theeffect
ofuterinefundalpressureonthedu-rationofthesecond
stageoflabor:arandomizedcontrolledtrial.ActaObstet
GynecolScand.2009;88:320–4.
32.MatsuoK1,ShikiY,YamasakiM,ShimoyaK.Useofuterine
fundalpressuremaneuveratvaginalde-liveryandriskof
severeperineallaceration.ArchgynecolObstet.
2009;280:781–6.
33.Organizac¸ãoMundialdaSaúde(OMS).Tecnologiaapropriada parapartosenascimentos.Recomendac¸õesdaOrganizac¸ão MundialdeSaúde.MaternidadeSegura.Assistênciaaoparto normal:umguiaprático.Genebra;1996.