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Violência Doméstica contra as Mulheres: demandas e perspectivas de mulheres jovens, familiares e profissionais da rede de assistência RESUMO

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Violência Doméstica contra as Mulheres: demandas e perspectivas de mulheres jovens, familiares e profissionais da rede de assistência

Gabriela Regina Silva Cordeiro * Marion Teodósio Quadros (orientadora);

Ana Carolina Silva Cordeiro

RESUMO

Este artigo pretende apresentar as discussões sobre os relatos e construções realizados por mulheres jovens em situação de violência doméstica, com o objetivo de considerar os diferentes marcadores e as complexas significações desses contextos de violência relacionados principalmente a relações de gênero, geracionais e as relações familiares. A partir de uma pesquisa em dois Centros de Referências da Mulher na Região Metropolitana do Recife, como integrantes da rede de assistência a mulheres em situação de violência, busca-se problematizar nas falas de mulheres jovens atendidas pela rede, seus familiares e profissionais, como os marcadores de gênero e geração são relacionados a situações de violência doméstica. A metodologia adotada está sendo revisão de literatura, entrevistas semiestruturadas, diário de campo e observação participante. Os resultados apontam para certa invisibilidade e menor consideração para a discussão e enfrentamento das violências a mulheres jovens, muitas vezes por parte da rede de assistência e familiares. Ao mesmo tempo, nas falas e experiências relatadas, sobretudo pelas mulheres jovens, a sua faixa etária e por ser mulher são presentes como fatos relevantes diante das situações de violência.

Palavras-chave: Gênero e violência. Relações de gênero. Violência contra a mulher.

Mulheres jovens.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo é baseado no projeto de pesquisa de dissertação que está em realização e pretende analisar os relatos e construções trazidos por mulheres jovens em situação de violência doméstica, seus familiares e profissionais da rede de assistência. Tem como um dos objetivos considerar os diferentes marcadores e valores nesses contextos de violência relacionados principalmente a relações de

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gênero, geracionais e as relações familiares. Também se pretende compreender como se dá a interação entre os diferentes posicionamentos de cada pessoa e instituição envolvidas nesse contexto nos atendimentos e inserção ou não de mulheres jovens na rede de assistência a mulheres vítimas de violência.

Com isso, foi escolhido para o trabalho em campo dois centros de referência da mulher na região metropolitana do Recife. O Centro de Referência Clarice Lispector, em Recife e o Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon, em Olinda.

Esses centros de referência se integram a rede de assistência a mulheres em situação de violência, acompanhadas de outras instituições como a Delegacia da Mulher, Maternidades e policlínicas, núcleos de atenção jurídica e unidades de saúde. Um motivo para ser escolhido os centros de referência é devido ao fato de muitas mulheres se dirigirem primeiramente a esses centros por encaminhamento direto da Delegacia da Mulher ou encaminhadas por algum outro órgão integrante da rede, como também em uma demanda espontânea; sendo assim locais de recorrente acesso por mulheres em situação de violência.

As mulheres jovens em situação de violência doméstica podem vivenciar certa invisibilidade por parte das políticas públicas de assistência e da saúde, sobretudo as que se apresentam menos de 18 anos de idade. Por serem mulheres jovens, as discussões a elas relacionadas, costumam ser problematizadas como violência intrafamiliar ou doméstica, muitas vezes sem passar por uma perspectiva de gênero e geração diante dessas violações. Muitas dessas situações de violência ocorrem pela intersecção desses marcadores.

Neste presente artigo, está sendo realizada uma revisão bibliográfica presente no projeto de pesquisa. Essa revisão pretende abordar as discussões em torno das 'fases da vida' e sua 'cronologização' como fato histórico decorrentes de mudanças socioculturais e políticas, bem como as relações de gênero e diferentes formas de violências, sendo discutida com maior ênfase a violência doméstica. A revisão e discussão serão realizadas em dois tópicos: uma discussão sobre juventudes e

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relações de gênero, já iniciando uma discussão a respeito da violência, e outra, sobre os tipos de violência e a rede de assistência.

2. JUVENTUDES, RELAÇÕES DE GÊNERO E VIOLÊNCIA

Como neste artigo é pretendido abordar diferentes questões relacionadas principalmente a situações de violência, mais especificamente, da violência doméstica contra mulheres jovens, uma discussão que bastante relevante é referente a idade, a cronologização da vida e perspectivas diante das fases de vida, como a adolescência e juventude.

Muitas sociedades e grupos sociais entre diferentes épocas da história mostram de formas diferentes como se relacionam com os sentidos do curso ou cronologização da vida, seja nas relações estabelecidas nas diferentes faixas etárias, seja nos seus rituais de passagem, quando estes estão presentes de alguma maneira.

A idade da pessoa é um referencial sociocultural importante, reflete comportamentos comuns e significativos para a compreensão da sociedade. De um modo ou de outro, as apreciações sociais sobre o comportamento estão relacionadas com as conseqüências que ele possa provocar. (Gonçalves e Knauth, 2006)

Como as pessoas e sociedades não se organizam apenas por um de seus marcadores, como a idade, um conjunto de categorias podem se relacionar para estabelecer valores e comportamentos nas relações entre pessoas. Considerando a idade, podem ser percebidos diferentes comportamentos que podem ser colocados como legítimos ou não para as faixas de idade, como formas de cuidado, atividades a serem permitidas e proibidas, características atribuídas à personalidade, entre outros comportamentos. Essas atribuições podem ser flexíveis e variáveis dependendo das concepções e até importância a determinados comportamentos ou as formas de se construir essas “etapas da vida”.

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De acordo com Rosemberg (1997) mesmo as reflexões teóricas que abarcam a intersecção entre diferentes categorias, como raça, classe social e gênero, costumam ignorar as subordinações de idade nos seus contextos. Ela apresenta alguns posicionamentos entre diferentes autores/as e destaca os/as que consideram as dinâmicas entre relações de gênero para outros campos da sociedade, além da família. Isso, pelo fato de que ao abranger outros espaços, a combinação entre, gênero, poder e idade, se configura de forma bastante complexa.

A palavra ‘juventude’ não pode ser interpretada somente como um fenômeno demográfico a ser modelado numa ‘classe de idade’, com um status e uma personalidade homogênea e universal, compondo uma ‘fase’ distinta de

‘preparação’, espera ou ‘moratória’ para o exercício maduro da vida ‘adulta’

responsável, séria, cidadã, produtiva e reprodutiva (isto seria, basicamente, uma extensão da adolescência). Ao contrário, emerge como movimentos de grupos ativos que questionam justamente a validade das grandes estruturas institucionais como a

‘cronologização do curso da vida’ e seus aparatos de socialização e controle. Surge, como efeito de uma correlação de forças e posições que constituíram, pelas práticas e relações que se estabeleciam ‘subgrupos de jovens’ ou ‘grupos de juventude’, aos quais se atribuiu culturas diversas – ‘subculturas e ‘contraculturas’ – sendo este o seu grande diferencial face às demais ‘fases’ do curso de vida (Nunes, 1968; Morin, 1996, apud Souza, 2011).

Ao nos propor a trabalhar relações de gênero e relações intergeracionais, um dos desafios seria a de um marco referencial que adote o aspecto entre essas duas categorias. Parte-se do pressuposto que quando se deseja escrever e pesquisar como esses momentos, fases da vida são construídos socialmente e historicamente, percebe-se que nessas construções e formas de se apreender, tanto as relações de gênero como a juventude ocorrem de formas diferentes entre mulheres jovens e homens jovens.

Um desses apontamentos pode ser levantado pelas formas de acesso à vida

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adulta, por não apresentarem o mesmo significado e nem a mesma dinâmica, para homens e mulheres. Nesse sentido, a transição juvenil, como geralmente descrita, torna-se um fenômeno de identificação com um determinado gênero. Em uma análise realizada por Franch (2008), ela relaciona o impacto que a segunda modernidade traz nas formas como lidamos e percebemos e nossa relação com o tempo. Nesse trabalho ela discute a percepção do tempo, em uma intersecção entre gênero e geração.

Ela inicia tratando a “crise da biografia normal”, que afeta de modo especial à juventude, já que eles (as) planejam seus projetos de vida em meio a contextos de crescente incerteza. Essa “crise” levaria a individualização dos percursos de vida, questionando a tradicional divisão das idades e deixando às pessoas, individualmente, a difícil tarefa de “fazer sentido” (Franch, 2008). Esse processo levaria a uma menor visão do horizonte temporal, afetando na organização do cotidiano das novas gerações. Isso é atribuído, principalmente a grande mudança no papel das instituições, como a família e o trabalho.

Ao continuar a e descrição, Franch (2008) coloca que o tempo é um dos vetores que mais preocupam a sociedade quando relacionada as(os) jovens. Também aponta a diferença que isso é refletido referente às famílias de classe média e as de classe popular. Enquanto as de classe média tentam preencher ao máximo o tempo de seus filhos com algo a se refletir no futuro, que melhore os desempenhos deles, os da classe popular; o tempo, sendo ele vago, torna-se preocupação não apenas na esfera da família, mas também no social e político.

A ideia de que os jovens pobres têm muito tempo ocioso e que isso não é bom nem para eles nem para a sociedade impregna o senso comum, transparece na mídia e informa frequentemente ações e políticas voltadas para esse público.

Ocupar o tempo, combater a ociosidade, canalizar a energia juvenil para atividades como o esporte ou a “cultura popular”

faz parte da agenda explícita ou implícita de grande número de intervenções destinadas a esses jovens, em detrimento inclusive da lógica do direito que deveria nortear as mesmas.

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(Abramo, 1997; Franch, 2001; Zaluar, 1994 apud Franch, 2008).

Essa preocupação também é encarada de forma sexualmente diferenciada, sendo os jovens do sexo masculino relacionados mais a suscetibilidade à criminalidade e para as jovens, relacionadas a questões sexuais, em caso específico, a maternidade. Assim, sendo apontadas duas grandes problemáticas que se pretende solucionar atualmente: a violência e a gravidez na adolescência, apresentando assim um recorte de gênero e geração. (Franch, 2008)

Em se tratando ao que diz respeito às relações de gênero e à constituição de subjetividades, análises que tem sido realizada atualmente tratam que as principais mudanças sociais na contemporaneidade, de diversas ordens, marcaram fortemente os costumes e valores das pessoas. E esse fenômeno é relacionado à redução do tamanho da família, a intensa urbanização do país, o amplo crescimento da comunicação de massa, o prolongamento e a difusão maciça da escolarização, o surgimento do feminismo e do movimento por direitos civis de homossexuais, entre outras. (Raquel, 2010)

Ao destacarmos a mudança da família, citamos o trabalho de Longhi (2011) ao tratar das “trajetórias promissoras” dos jovens e a relação com sua família, estudo e trabalho. Direcionando a pesquisa mais aos jovens de classes pobres, e enfocando a discussão a partir da afirmação: “as pessoas de classe média não precisam afirmar que são pessoas de bem”; vale assinalar como são fortes as representações em torno dos jovens de famílias pobres e como eles necessitam reafirmar que são

“pessoas de bem”, devido a sua origem, e pela sua raça. Isso pode ser discutido a partir do reconhecimento da importância da intersecção entre gênero, geração, raça e classe da observação e análise de diversas questões sociais a serem problematizadas.

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3. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E A REDE DE ASSISTÊNCIA

Muitos locais da rede de assistência a mulheres vítimas de violência estabelecem uma idade mínima para atendimento, sendo e na maior parte das vezes, a partir dos dezoito anos de idade. Quando há casos de mulheres jovens que se encontram com idade inferior a estabelecida, muitas vezes a violência é considerada uma violação dos direitos da criança e do/a adolescente.

Dessa forma, as formas de se intervir e de atendimento as mulheres jovens, bem como os valores relacionados a essas situações são bastante diferenciadas.

Em relação aos Centros de Referência pode ser bastante relevante questionar o por que da decisão da idade mínima para atendimento, como também de que são encaradas as violências a mulheres mais jovens as atendidas na instituição.

Em relação aos/as profissionais da rede, analisar como se relacionam com as mulheres jovens atendidas, percebendo as diferenciações, se existentes e os significados atribuídos às violências trazidas. Os marcadores de gênero e geração estão presentes na avaliação da demanda do caso atendido? Essa violência é considerada uma violência doméstica contra uma mulher, ou considerada uma violência a uma criança ou adolescente?

Diversas questões referentes a relação e valores construídos podem ser buscados a compreender para se ter uma aproximação das realidades diante dos atendimentos, das redes de assistência e sobretudo, as mulheres jovens em situação de violência.

Esses valores e posturas podem apresentar noções relacionadas ao contexto da violência vivenciada e ideias e concepções dos tipos de violência. Como também pode ser observado se no decorrer dos atendimentos as causas, formas de prevenção e diferentes perspectivas para enfrentamentos serão apresentadas nas dinâmicas envolvendo as mulheres jovens , seus familiares e diferentes

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profissionais.

É importante ser evidenciado o conceito de violência doméstica estabelecida na Lei Maria da Penha, que “se configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.

A violência contra a mulher também é discutida a partir de diferentes perspectivas e diferentes instâncias, seja encarada algumas vezes como questão primordialmente dos direitos humanos, seja como questão de saúde pública. A rede de atendimento envolve diferentes setores que precisam se articular para ser cumprido o papel preventivo, emergencial e de acompanhamento a mulheres que estão ou estiveram em situação de violência.

No trabalho de Passos (2010) é adotado o conceito de rede de assistência como redes intersetoriais, estas englobando órgãos governamentais e não governamentais, além de comunidades e diferentes setores, como o da saúde e educação. Dependendo do município ou estado, podem ser integradas as delegacias, coordenadorias e secretarias da mulher, bem como centros de referências e casas abrigo. Da mesma forma que os órgãos e instituições podem ser ampliadas, ou reduzidas, dependendo das políticas e programas sociais locais, os (as) profissionais envolvidos (as) também são variados (as) como enfermeiros (as), psicólogos (as), educadores (as) sociais, pedagogos (as) e outros (as) técnicos (as) especializados (as).

Uma das principais formas de se trabalhar a violência doméstica neste artigo será no destroncamento desta violência em dois outros tipos: a violência de gênero e a violência intergeracional. Saffioti (2001, p.115) aponta o conceito de violência de gênero como um dos mais abrangentes se referindo a tipos de violência, se baseia nas desigualdades das categorias sociais homem e mulher como marcadores das relações de dominação-exploração. Com isso, podem ser estabelecidas relações

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violentas provocando danos físicos, psicológicos, sexuais e emocionais a mulheres, crianças e adolescentes.

Ao discutir a violência doméstica a partir de uma revisão de literatura, Gomes et al. (2007, p.505) aborda as categorias de gênero e geração para problematizar essa questão. Ao partir do principio que todo tipo de violência se manifesta em todas as culturas e sociedades e independe de classe social ou outro marcador, elas separam a problematização em textos relacionados a violência de gênero e outros, a violência intergeracional.

No que tange a violência de gênero, ela aborda as desigualdades nas produções e reproduções dos ideais de ser homem e ser mulher. A partir dessas desigualdades sustentadas em culturas patriarcais, as relações são legitimadas na valorização e detrimento do homem à mulher, reforçando atitudes e comportamentos abusivos provenientes das relações de poder desigual e hierárquico. Neste ponto, esses valores nas relações familiares também são reforçados e assim podendo ser discutida neste âmbito, a violência intergeracional.

Ainda nessa revisão, esse tipo de violência é apresentada nas relações familiares como uma dupla legitimação do poder do homem , como esposo e como pai. Essas relações também são estabelecidas de forma assimétrica e muitas vezes baseada no medo e imposição, sendo “aplicadas” formas violentas de se disciplinar e resolver conflitos relacionados às crianças e adolescentes.

Por esse ponto de vista, ao se discutir a violência doméstica contra mulheres jovens, sejam elas crianças ou adolescentes, esses dois tipos de violência estariam presentes. De forma que as naturalizações desses valores seja muito comum e que muitas mulheres passam por muitas situações de violência e não a apontam e classificam como tal, ao mesmo tempo e por motivos semelhantes, os profissionais apresentam dificuldades de reconhecer, notificar ou denunciar e encaminhar casos envolvendo violência doméstica.

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Na pesquisa de Andrade et al (2011) é problematizada a visão dos profissionais de saúde em relação a violência doméstica contra crianças e adolescentes. Neste trabalho parte-se do ponto e também se conclui posteriormente que essa temática é uma das mais difíceis de lidar na área da saúde. A partir de observações e entrevistas elas questionam as causas atribuídas as violências, os desafios e soluções que são apontados pelos (as) profissionais em uma unidade de saúde básica.

Como resultados, as causas que foram atribuídas as violências foram as relacionadas a privações e questões estruturais como pobreza e desemprego. Em relação as formas de se enfrentar, eles (as) declararam que seria muito restrita as suas formas de atendimento , se limitando a contatos pontuais, além de uma má estrutura das unidades de saúde, impedindo uma melhor qualidade nesses acompanhamentos. Eles (as) também apontaram que essa questão é bastante complexa sendo fundamental se pensar na implementação de Centros de Referência para Crianças e Adolescentes.

Alguns outros trabalhos foram produzidos principalmente por algumas áreas das ciências da saúde, que enfocaram a visão e perspectivas de profissionais diante da violência. Um deles foi o de Angulo-Tuesta (1997), que partiu do ponto de vista da violência como questão de saúde pública. Ela analisou os impactos da violência na saúde da mulher, na saúde pública no sentido mais amplo e como as desigualdades nas relações de gênero reforçam alguns valores que sustentam os posicionamentos de muitos profissionais dessa área.

Em relação a família e suas dinâmicas relacionadas a situação de violência, Martins et al. (2007) aborda esse tema ao pesquisar as concepções de família ideal e real de pais e filhos atendidos em um programa a vítimas de violência. Eles (as) colocam que a violência doméstica contra os mais jovens da família se dá por valores hierárquicos de poder e de coerção, dos pais para os filhos. Também

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subdividem os tipos de violência, em quatro: violência física, sexual, psicológica e negligência. A partir desse trabalho, eles (as) analisaram que as concepções de família ideal, para os pais, eram relacionadas à família nuclear e consanguínea, já para as crianças e adolescentes, a partir de laços de afeto e confiança. Ao ser trabalhada a ideia de família real, os dois grupos apresentam grandes expectativas e ao mesmo tempo frustração, por esperarem relações de amor e afeto e estarem vivenciando situações de violência e abandono.

Um dos objetivos desse trabalho, segundo Martins et al. (2007,) foi o de problematizar e observar as questões levantadas pelas crianças e adolescentes e seus pais. Com isso, procurar pensar e repensar as formas de lidar com as dinâmicas dessas famílias diante da violência.

Muitos pontos de vista são levantados e conceitos são construídos e revistos com finalidade de desmistificação e problematização dessas questões em outros trabalhos produzidos. Em diferentes campos de atuação; como o jurídico, a saúde, assistência social e educação, essas discussões são abordadas por diferentes perspectivas e apontadas diferentes e algumas vezes causas convergentes, consequências e formas de enfrentamento. Antes mesmo de levantar essas questões, cabe colocar que uma das maiores barreiras entre esses debates são as próprias dificuldades, limites e preconceitos ao tratar desse tema.

Segundo Guerra (2005, p. 13) nas primeiras décadas de pesquisa sobre violência doméstica um dos objetivos era o de conscientizar de que o fenômeno existia e que podia se ter um olhar pras características significativas em tono das vítimas, agressores e para os familiares também. Sobre o momento atual, ela coloca que é preciso deixar claro que temos muitos preconceitos, mitos e o fato de muitas vezes essas questões serem subestimadas, como menos alarmantes para as questões relacionadas às crianças, adolescentes e jovens.

Ainda citando Guerra, no livro: “Violência de pais contra filhos: a tragédia

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revisitada” (2005), ela sintetiza a violência doméstica como uma transgressão do poder disciplinador ; como uma negação do valor da liberdade e também como um processo de vitimização em uma forma de aprisionar a vontade e o desejo da pessoa. A mulher, em muitas dessas situações, também é vista como propriedade, objeto na relação, onde é submetida a um poder de um adulto, assim como ela, porém com privilégios relacionados ao sistema patriarcal: um adulto do sexo masculino, um homem.

Romeu Gomes (2002) parte do pressuposto da historicidade do fenômeno da violência e considera que essa mesma historicidade permeia também a elaboração dos conceitos e discursos em torno dela. Azevedo e Guerra (2005) também pontuam para os aspectos socioculturais da violência, e ressaltam que para compreendê-la no seu ponto de vista histórico também é preciso apresentar essa postura crítica ao se deparar com a história de nossa sociedade, a história das desigualdades no Brasil.

Sobre os tipos de violência doméstica, são comumente reconhecidas quatro: a violência psicológica, sexual, física e negligência.

Com o levantamento dessas questões, percebe-se que a violência pode ser considerada como um fenômeno multicausal, que podem decorrer por diversos fatores que interagem como questões psicológicas, sociais, econômicas e culturais.

E que por ser uma área de pesquisa e prática tão desafiadora e relacionada a estigmas, preconceitos e mitos, é que é importante uma adoção de posicionamentos críticos quanto aos discursos sobre a violência, às épocas em que os conceitos foram elaborados e os nossos próprios olhares em relação a esses fatos/situações abrangentes e mascaradas em muitos valores nossos mantidos e (re) construídos no cotidiano.

4. CONCLUSÃO

Com essa revisão de literatura pode-se pensar em conclusões em torno da

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necessidade das problematizações realizadas. Uma delas é que aos valores trazidos pelos familiares das mulheres jovens indica que essas posturas e relações se baseiam também no âmbito familiar, assim podendo ser mantidas ou revistas também nas relações entre a rede de assistência e as mulheres atendidas. Então, mesmo havendo pesquisas e discussões em torno das opiniões e concepções de mulheres a respeito de temas que as abordam ou que as interessam, a discussão da violência doméstica necessita está em pauta pelo fato de estar presente no cotidiano de todas as mulheres, e da grande relevância em se lem brar e reforçar nas formulações de políticas públicas; além de poderem ser pensadas a partir das relações de gênero e geração as quais podem ocorrer. Bem como, uma formação e qualificação de profissionais da rede de assistência, com intuito de uma maior aproximação dos mesmos com as realidades e contextos em que as mulheres atendidas se encontram .

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