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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

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Academic year: 2022

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

FACULDADE DE DIREITO

CAROLINA MELLO DE ALMEIDA

A PROPRIEDADE RURAL E AS LIMITAÇÕES NO AGRONEGÓCIO

São Paulo 2020

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CAROLINA MELLO DE ALMEIDA

A PROPRIEDADE RURAL E AS LIMITAÇÕES NO AGRONEGÓCIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Direito de São Paulo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Profº Dr. Washington Carlos de Almeida

SÃO PAULO 2020

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CAROLINA MELLO DE ALMEIDA

A PROPRIEDADE RURAL E AS LIMITAÇÕES NO AGRONEGÓCIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Direito de São Paulo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Profº Dr. Washington Carlos de Almeida

São Paulo, 09 de junho e 2020.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Washington Carlos de Almeida

Prof. Dr. Roque Theophilo Junior

_________________________________

Profa. Dra. Elisabete Aloia Amaro

SÃO PAULO 2020

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RESUMO

Analisaremos, no presente artigo, a problemática ambiental decorrente das atividades do agronegócio, conceituando o Direito Agrário e do Agronegócio, a propriedade rural e as limitações ambientais previstas na legislação brasileira, que afetam o setor do agronegócio, hoje um dos setores que alavancam a economia brasileira.

Discorreremos acerca das principais discussões sobre os riscos ambientais do agronegócio e a função socioambiental da propriedade rural no Brasil, assim como a relação do agronegócio com o meio ambiente.

Palavras-chave: DIREITO AGRÁRIO. AGRONEGÓCIO. PROPRIEDADE RURAL.

LIMITES AMBIENTAIS

ABSTRACT

In this article, we will analyze the environmental problem arising from agribusiness activities, conceptualizing Agrarian and Agribusiness Law, rural property and the environmental limitations provided for in Brazilian legislation, which affect the agribusiness sector, today one of the sectors that leverage the economy Brazilian. We will discuss the main discussions about the environmental risks of agribusiness and the socio-environmental function of rural property in Brazil, as well as the relationship between agribusiness and the environment.

Keywords: AGRICULTURAL LAW. AGRIBUSINESS. RURAL PROPERTY.

ENVIRONMENTAL LIMITS

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AGRADECIMENTOS

O meu agradecimento é dirigido primeiramente a Deus que me permitiu ter forças e sabedoria para encerrar mais uma etapa da minha vida, ter fé sempre foi algo primordial e que, sempre, me possibilitou alcançar coisas inimagináveis.

A minha família que sempre se empenhou e ajudou para que eu pudesse concluir esta formação, me dando força, apoio, suporte e incentivo, sempre serei grata por cada palavra que me possibilitou crescer. Pai, me sinto na obrigação de destacar aqui sua participação nesta caminhada, muitas vezes não sei a melhor forma de agradecer e demonstrar a gratidão de tudo que faz por mim, porém não há um dia sequer que eu não tente retribuir de alguma forma tudo que faz por mim, você sempre será um motivo de orgulho e motivação para a profissional, pessoa e ente familiar que eu vou me tornar.

Não há como não destacar o papel de nossos amigos em um momento tão difícil como a faculdade. É certo que o cotidiano jamais será o mesmo depois de formados, mas cada um, de sua maneira, contribuiu para que os momentos na faculdade fossem inesquecíveis e memoráveis como foi. Em especial, gostaria de agradecer as minhas amigas Beatriz Porto, Bruna Biffi, Bruna Fante, Beatriz Ogeda e Giovanna Vilela que sempre estiveram presentes na minha vida.

Eu jamais imaginei que iria me formar diante de uma situação excepcional como uma pandemia. Acho que poucos vão entender o quão difícil está sendo para cada um, em especial dos formandos, assimilar tudo o que está acontecendo. Além do vírus que estamos enfrentando, ansiedade e de certa forma aprender a lidar com você mesmo, ainda estamos encerrando um ciclo sem o contato de nossos colegas da faculdade e do nosso querido campus do Mackenzie. Poucos sabem, mas durante minha vida inteira só estudei no Mackenzie, nesse mesmo campus de Higienopólis. Sim, são quase 20 anos de Mackenzie na minha vida e que de certa forma jamais sairá da minha vida.

Por fim, só poderia esclarecer que cada um de vocês fizeram parte para que eu pudesse ser a pessoa que eu sou hoje, contribuíram para a mulher que eu estou me tornando e para vocês meu eterno agradecimento.

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SUMÁRIO

1. ODIREITOAGRÁRIOEOAGRONEGÓCIO ... 7

2. APROPRIEDADERURAL ... 11

3. AGRONEGÓCIOSNAORDEMNORMATIVAPROTETIVADOEQUILÍBRIO ECOLÓGICO. ... 13

4.LIMITESAMBIENTAISAODIREITODEPROPRIEDADE ... 18

5. CONCLUSÕES ... 26

REFERÊNCIAS ... 27

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1. ODIREITOAGRÁRIOEOAGRONEGÓCIO

Antes de adentrar no tema propriamente dito, mister se faz conceituar o Direito Agrário e do Agronegócio.

Relativamente ao Direito Agrário, lecionava Fábio Maria De Mattia que:

(...) o Direito Agrário se constitui num ramo especial do Direito Privado, mas não autônomo. De fato, os princípios que informam tal disciplina jurídica não são peculiares a esse ramo do Direito, mas surgem a partir da fonte comum que serve a outras matérias, estando qualificados, de todo modo, pelo denominador comum compreendido no conceito de agrariedade.1

Para compreendermos o conceito de Direito Agrário, é necessário estabelecer a definição do que seria atividade agrária. Compreender a atividade agrária nos permite definir os limites do Direito Agrário, que possui relação com outros ramos da ciência jurídica com os quais está mais estreitamente relacionado, com o Direito Comercial, o Direito Industrial e mesmo o Direito do Trabalho ou Direito Social2.

Para Olavo Acyr de Lima Rocha:

(...) além da atividade de cultivo e criação, essencialmente produtivas pela mão do homem, também a extrativista animal ou vegetal constitui atividade agrária. Além da de beneficiamento e melhoria dos produtos e frutos decorrentes dessa atividade agrária propriamente dita tanto pela indústria quanto pela agroindústria.3

A definição de empresa agrária é crucial na discussão sobre a autonomia ou especialidade do Direito Agrário, conforme lecionava Carrozza que, em 1972, consolidou a moderna escola de Direito Agrário, a partir de sua teoria da agrariedade, sustentando que a agrariedade trata do

Desenvolvimento de um ciclo biológico, concernente tanto à criação de animais como de vegetais, que surge ligado direta ou indiretamente ao uso das forças e dos recursos naturais, resultando na obtenção de frutos

1 DE MATTIA, Fabio Maria. Especialidade do Direito Agrário. Tese apresentada no concurso para Professor Titular no Departamento de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

2 ROCHA, O. A. de L. (1999). Atividade agrária. Conceito clássico. Conceito moderno de Antonio Carrozza. Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São Paulo, 94, 35-43. Disponível em http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67431. Acesso em 26/04/2020.

3 Ibidem.p. 37

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(vegetais ou animais) destináveis ao consumo direto, como tais, ou derivados de várias transformações.4

Assim, passou-se a partir da teoria da agrariedade a desenvolver-se uma mudança metodológica, no sentido de estudar-se o Direito Agrário por meio dos institutos5, com a proposta de uma visão mais sistematizada de todo o Direito Agrário, centrado na empresa agrária, à qual ligam-se os demais institutos.

Carroza explica em sua obra que a exigência em especificar subsetores diversos comprovaria inequivocamente que,

A discussão concerne não a uma ciência, mas-somente a um fenômeno do mundo real e pois, um setor da economia, precisamente, o setor primário - que incide sobre ramos jurídicos multíplices (direito civil, processual, administrativo, comunitário, do trabalho, etc.) dotados de princípios próprios os quais aplicam-se onde a lei especial, como frequentemente acontece, não introduz exceções para o setor agrícola.6

A concepção de Carrozza objetivou, através dos institutos agrários, contribuir para a compreensão das estruturas típicas do ordenamento jurídico da agricultura e para a sistematização científica do próprio Direito Agrário.

O Direito Civil é o que mais se inter-relaciona com o Direito Agrário, notadamente no direito das obrigações, em que há relação com os diversos contratos agrários, típicos e atípicos, bem como no direito das coisas, no que concerne à posse e propriedade rural e, por fim, no direito das sucessões, no que diz respeito às cadeias sucessórias nos imóveis rurais.

Podemos classificar as atividades agrárias em: 1) explorações rurais típicas:

que compreendem a lavoura, a pecuária, o extrativismo vegetal e animal e a hortigranjeira; 2) exploração rural atípica, que compreende a agroindústria; e, 3) atividade complementar da exploração rural, que açambarca o transporte e a comercialização dos produtos.

4 “Ancora è stato rilevato che tutte le attività dipendenti da cicli biologici legati alla terra, o più genericamente alla natura, sono sottoposte all'imperio di forze naturali; alcune di esse sono influenzabili ed indirizzabili dall'intervento organizzato dell'uomo, altre no, mentre nelle attività industriali in senso stretto i processi produttivi, quand'anche siano di carattere biologico, sono nella totalità dominabili dal produttore, in ambienti perfettamente controllati” (CARROZZA, Antonio. Lezioni sul diritto agrario. Elementi di teoria generale. 2ª ed. Milano: Giuffrè, 1988, pgs 10-11).

5 ZELEDÓN, Ricardo Zeledón. Derecho agrario contemporáneo. San José: IJSA, 2015, pág. 935.

6 CARROZZA, Op. Cit; p. 73.

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A principal característica da atividade agrária não é pautada somente no fator biológico, ou como ela é realizada, mas principalmente no fato de ser uma atividade que envolve risco, pois além da atividade humana, contribuem fatores da natureza como clima, temperatura, pragas entre outros, que conforme previsto no direito obrigacional não elide a responsabilidade pela entrega do produto, haja vista tais fatores de risco, notadamente os climáticos, não serem de todo imprevisíveis, conforme entende a maioria da jurisprudência. Destarte, a atividade agrária, pois, decorreria de um processo natural evolutivo, orgânico, do ciclo biológico sujeito a risco. Eliminado o risco e afastado o processo biológico natural pelo recurso à química ou à física inorgânica desapareceria o caráter de agrariedade da atividade.

Importante destacar que a teoria inicial de Carrozza evoluiu e, hoje, se inclui no conceito de atividade agrária todas as demais atividades acessórias vinculadas à atividade principal, materialmente agrária.

Destarte, hodiernamente entende-se que empresa agrária também pode ser integrada por atividades empresariais intrinsecamente não-agrárias – as chamadas atividades agrárias acessórias – eventualmente, a própria empresa agrária se encarregará da produção agrária e, também, da industrialização dos respectivos produtos primários daquela. Nesse caso, a agroindústria integra o conceito de empresa agrária, sendo uma atividade agrária acessória.

Já a agroindústria não se confunde com a empresa agrária, pois neste caso temos um complexo industrial de atividades econômicas secundárias de transformação e de processamento de produtos primários, cuja atividade industrial é regulada pelo direito empresarial, excluindo-se da tutela jurídico agrária.7

A agroindústria, por sua vez, deve ser considerada como complemento das denominadas atividades agrárias típicas.

Por fim, não podemos olvidar que o que o Direito Agrário e o agronegócio são interligados, pois, como bem asseveram Albenir Querubini e Darcy Walmor Zibetti o Direito Agrário brasileiro mantém íntima relação com o agronegócio, sendo que “as relações jurídicas do agronegócio são, em sua maioria, abrangidas e reguladas pelas

7 PINHEIRO, Frederico Garcia. Empresa Agrária na legislação brasileira. Disponível em https://jus.com.br/artigos/47713/empresa-agraria-na-legislacao-brasileira#_ftn27. Acesso em 27/05/2020.

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normas de Direito Agrário, embora as normas agraristas não contemplem todas as relações jurídicas decorrentes do agronegócio”.8

Assim, temos que as atividades agrárias objeto do Direito Agrário dizem respeito àquelas realizadas “dentro da porteira”, ou seja, a tudo o que se refere à produção – plantio, manejo, colheita, beneficiamento, manutenção de máquinas, armazenamento dos insumos, descarte de embalagens de agrotóxicos e mão de obra, ao passo que o Direito do Agronegócio abrange a totalidade das relações jurídicas que ocorrem na produção, antes, dentro e depois da porteira (armazenagem e distribuição, incluindo a logística).

O agronegócio, hodiernamente, consubstancia a principal fonte de riqueza de nosso país. No entanto, é o setor que mais traz danos ambientais ao Brasil. Uma das maiores consequências do avanço do agronegócio brasileiro é o desmatamento. O Cerrado já perdeu 50% (cinquenta por cento) de sua área e é o bioma mais ameaçado de todo o continente americano. A Mata Atlânticajá perdeu mais de 70% de seus mamíferos. Apesar da sustentabilidade ser o maior desafio atual para o Agronegócio, no entanto, o Brasil não anda apresentando avanços, pelo contrário, vem regredindo, no mês de Junho de 2019, o desmatamento da Amazônia foi 88% (oitenta e oito por cento) maior em relação ao mesmo mês do ano passado, sendo a Pecuária responsável por 65% (sessenta e cinco por cento) do desmatamento desse bioma e em algumas declarações recentes, o governo se posicionou dizendo que as áreas protegidas dificultam o progresso do país e que elas serão reduzidas.

Há, ainda, a degradação e contaminação do solo, decorrentes das práticas inadequadas de cultivo, o uso recorrente de maquinário agrícola e a falta de rotação de culturas, além do fato de o Brasil ser o país que mais faz uso inadequado de agrotóxicos.

Ainda, não podemos olvidar o risco de esgotamento de mananciais, pois a atividade agropecuária consome muito dos recursos hídricos.

É primordial que as atividades do agronegócio sejam sustentáveis, para garantir o futuro do planeta.

8 QUERUBINI, Albenir; Zibetti, Darcy Walmor. O Direito Agrário Brasileiro e sua relação com o agronegócio. In, PARRA, Rafaela Aiex (org.). Direito Aplicado ao agronegócio: uma abordagem multidisciplinar. 2ª ed. rev. .atual. Londrina, PR: Thoth, 2019. p. 111.

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2. APROPRIEDADERURAL

O imóvel rural, segundo a legislação agrária, é a área formada por uma ou mais matrículas de terras contínuas, do mesmo titular (proprietário ou posseiro), localizada tanto na zona rural quanto urbana do município. O que caracteriza é a sua destinação agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial.

O imóvel rural está conceituado no inciso I do art. 4º do Estatuto da Terra, atualizado, após a Constituição Federal de 1988, pelo coincidente inciso I do art. 4º da Lei nº 8.629/93, que o define como o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à atividade agrária.

O imóvel rural a que se refere o direito agrário caracteriza-se, essencialmente, pela formação de uma unidade de exploração econômica, quer seja representada por uma única propriedade imobiliária, quer seja pelo grupamento dessas propriedades (§

3º, do art. 46, da Lei 4.504, de 30/11/1964).

Leciona José Afonso da Silva (2005, p.819):

A propriedade rural, que se centra na propriedade da terra, com sua natureza de bem de produção, tem como utilidade central a produção de bens necessários à sobrevivência humana, daí por que a Constituição consigna normas que servem de base à sua peculiar disciplina jurídica (arts. 184 a 191).

(...)

A Constituição traz normas especiais sobre a propriedade rural que caracterizam seu regime jurídico especial, quer porque, como veremos, especificam o conteúdo de sua função social, quer porque instituem regras sobre a política agrícola e sobre a reforma agrária, com o fim de promover a distribuição da terra (arts. 184 a 191), quer porque insere a problemática da propriedade agrária no título da ordem econômica (conferindo-lhe, assim, dimensão de direito econômico público) e, pois, como um elemento preordenado ao cumprimento de seu fim, qual seja: assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170).9

Como toda a propriedade, a propriedade rural deve cumprir sua função social, visto que a propriedade agrária não tem como deixar de recair sobre um bem essencialmente produtivo.

O art. 186 da Carta magna define função social nos seguintes termos:

9 SILVA, J. A.. Curso de Direito Constitucional positivo. 24ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005.

(12)

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

De acordo com esse dispositivo constitucional, a função social da propriedade agrária é constituída por um elemento econômico (aproveitamento racional e adequado), um elemento ambiental (utilização adequada dos recursos naturais e preservação do meio ambiente) e um elemento social (observância das normas que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e trabalhadores).

Ademais, somente cumpre a função social o imóvel rural que atenda simultaneamente a todos esses elementos10.

Para cumprir com os mandamentos constitucionais, deve a atividade agrária e do agronegócio atentar para o principio legal da preservação do equilíbrio ecológico, que constitui verdadeira obrigação decorrente do direito de propriedade, impondo não apenas limitações ao seu exercício, mas também medidas positivas do proprietário ou possuidor no sentido de tutelar o interesse coletivo na manutenção da qualidade do meio ambiente.

O mau uso da propriedade, vale dizer, o desvirtuamento de sua função socioambiental, além de outras repercussões nas órbitas civis, administrativas e penais, deve levar à desapropriação-sanção, conforme prevê o art. 184 da Constituição Federal.

10 SOUZA. Marcos Rogério de. Imóvel rural, função social e produtividade. Disponível em https://revistas.ufpr.br/direito/article/viewFile/7028/5004. Acesso em 05 de junho de 2020.

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3. AGRONEGÓCIOS NA ORDEM NORMATIVA PROTETIVA DO EQUILÍBRIO ECOLÓGICO

A nossa Carta Magna tem como princípio constitucional preservar o meio ambiente, atrelando-a ao valor da dignidade da pessoa humana, inserido no rol do art.

225 da CF, que atribui ao equilíbrio ambiental a condição de bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.

É um direito natural, que exige seja o equilíbrio ecológico tratado sob o signo da solidariedade intergeracional.

Toda e qualquer atividade relacionada ao agronegócio pode desenvolver-se na medida em que não for relevantemente prejudicial ao equilíbrio ecológico.

Especialmente quanto às atividades econômicas.

Os mais importantes aspectos a serem observados em relação ao desenvolvimento sustentável e a realização do agronegócio são:

(1) a necessidade de autorização ou licença para a instalação (ou prosseguimento, se já iniciada) de qualquer empreendimento econômico, incumbindo ao Poder Público, no processo de licenciamento, verificar se a atividade pode ou não causar significativa degradação ambiental;

(2) a inversão do ônus probatório da ausência de nocividade do empreendimento ou, se existente esta, da adoção de medidas que impeçam ou reduzam a níveis suportáveis o desequilíbrio ecológico, e

(3) o peso maior pro ambiente (in dubio contra projectum) que se confere à dúvida científica sobre a existência de potencial lesivo ao equilíbrio ecológico.11

Na legislação ordinária, na razão da sua importância, merece destaque a recepcionada Lei nº 6.938/81, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente.

Esse diploma legal, que é a lei geral do meio ambiente, dentre outras disposições, disciplina os instrumentos da referida política, a saber: o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; o zoneamento ambiental; a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; os incentivos à produção e à instalação de equipamentos e à criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; a criação

11 VAZ, Paulo Afonso Brum. Agronegócios e o Direito Ambiental: temas relevantes. Disponível em:

https://revistadoutrina.trf4.jus.br/index.htm?https://revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao024/paulo_a fonso_brum_vaz.html Acesso em 05 de junho de 2020.

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de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e as de relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal; o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental, e as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental (art. 9º).

O Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30.11.64) dispõe que a propriedade cumpre sua função social quando “assegura a preservação dos recursos naturais” (art.

2º, § 1º, alínea c).

Segundo Judith Martins Costa,

O Novo Código Civil, no art. 1.228, ao dispor sobre o direito de propriedade, determina que “o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”, preceituando o seu § 1º que “o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”. Esse dispositivo, decorrente do princípio da função social da propriedade.12

No que diz respeito às atividades agrícolas, impende destacar a redação do art.

186 da Constituição Federal (capítulo referente à Política Agrária e Fundiária e da Reforma Agrária), quando reafirma o princípio da função social da propriedade preconizando a exigência de aproveitamento e utilização racionais e adequados dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente (incisos I e II).

A Lei de Reforma Agrária (Lei n° 8.629/93), em seu artigo 9°, considera adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade, as características próprias do meio natural e a qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da propriedade, da saúde e da qualidade de vida das comunidades vizinhas.

12 COSTA, Judith Martins. Diretrizes Teóricas do Novo Código Civil Brasileiro. O Novo Código Civil Brasileiro: em busca da “ética da situação”. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 153

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A preservação do equilíbrio ecológico, vale frisar, é obrigação ontologicamente contida no direito de propriedade, impondo não apenas limitações ao seu exercício, mas também medidas positivas do proprietário ou possuidor no sentido de tutelar o interesse coletivo na manutenção da qualidade do meio ambiente. Nesta senda, o mau uso da propriedade, vale dizer, o desvirtuamento de sua função socioambiental, além de outras repercussões nas órbitas civis, administrativas e penais, deve (e não apenas pode) levar à desapropriação-sanção, conforme prevê o art. 184 da CF e reconhece o Supremo Tribunal Federal:

REFORMA AGRÁRIA - IMÓVEL RURAL SITUADO NO PANTANAL MATO-GROSSENSE - DESAPROPRIAÇÃO- SANÇÃO (CF, ART. 184) – (CF, ART. 225, PAR. 4º) – POSSIBILIDADE JURÍDICA DE EXPROPRIAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS NELE SITUADOS, PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. (...).

A própria Constituição da República, ao impor ao poder público o dever de fazer respeitar a integridade do patrimônio ambiental, não o inibe, quando necessária a intervenção estatal na esfera dominial privada, de promover a desapropriação de imóveis rurais para fins de reforma agrária, especialmente porque um dos instrumentos de realização da função social da propriedade consiste, precisamente, na submissão do domínio à necessidade de o seu titular utilizar adequadamente os recursos naturais disponíveis e de fazer preservar o equilíbrio do meio ambiente (CF, art. 186, II), sob pena de, em descumprindo esses encargos, expor-se a desapropriação-sanção a que se refere o art. 184 da Lei Fundamental. O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e

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reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade” (STF, MS nº 22164/SP, DJ 17.11.1995, p. 39206, Relator Min. Celso de Mello).

A atenção especial do legislador ordinário com a defesa da saúde ambiental restou afirmada nas disposições que regem a Política Nacional Agrícola. Na Lei n°

8.171, de 17 de janeiro de 1991, que fixa os fundamentos, define os objetivos e as competências institucionais, prevê os recursos e estabelece as ações e instrumentos da política agrícola, relativamente às atividades agropecuárias, agroindustriais e de planejamento das atividades pesqueira e florestal, encontramos assentados como princípios e objetivos fundamentais da atividade agrícola, dentre outros, os seguintes:

utilização dos recursos naturais envolvidos de acordo com as normas e princípios de interesse público, de forma que seja cumprida a função social e econômica da propriedade; proteção do meio ambiente, garantia do seu uso racional e estímulo à recuperação dos recursos naturais; promoção da idoneidade dos insumos e serviços empregados na agricultura; garantia de qualidade dos produtos de origem agropecuária, seus derivados e resíduos de valor econômico, e pesquisa agrícola direcionada para observar as características regionais e gerar tecnologias voltadas para a sanidade animal e vegetal, respeitando a preservação da saúde e do meio ambiente.

No referido diploma legal, capítulo da Proteção ao Meio Ambiente e da Conservação dos Recursos Naturais, vamos encontrar imposições dirigidas ao Poder Público, tais como: integrar, no nível do Governo Federal, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios, os Municípios e as comunidades na preservação do meio ambiente e na conservação dos recursos naturais; disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora; realizar zoneamentos agroecológicos que permitam estabelecer critérios para o disciplinamento e o ordenamento da ocupação espacial pelas diversas atividades produtivas; promover e/ou estimular a recuperação das áreas em processo de desertificação; desenvolver programas de educação ambiental, formais e informais, dirigidos à população; coordenar programas de estímulo e incentivo à preservação das nascentes dos cursos d'água e do meio ambiente, bem como o aproveitamento de dejetos animais para conversão em fertilizantes; proceder à identificação, em todo o território nacional, das áreas desertificadas, as quais somente poderão ser exploradas mediante a adoção de

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adequado plano de manejo, com o emprego de tecnologias capazes de interromper o processo de desertificação e de promover a recuperação dessas áreas, e elaborar, por seus órgãos competentes, sob a coordenação da União e das Unidades da Federação, programas plurianuais e planos operativos anuais de proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.

Essas proposições, inseridas na Política Nacional Agrícola, revelam a necessária interação entre as atividades agrícolas e a preservação ambiental.

Algumas delas encontram-se enunciadas também na Lei nº 6.938/81, que disciplina a Política Nacional do Meio Ambiente. Basta lembrar a imposição dirigida ao Poder Público de estabelecer zoneamentos ecológicos, que está também contida no art. 9º, inciso II, dessa lei, e que foi regulamentado pelo Decreto nº 4.297, de 10 de julho de 2002, ditando critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil – ZEE.

O ZEE está definido no art. 2º do referido Decreto: “O ZEE, instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população”.

O art. 5º do referido Decreto elenca os princípios que, ao lado das disposições constitucionais e legais protetivas do meio ambiente, orientarão o ZEE, a saber:

“princípios da função socioambiental da propriedade, da prevenção, da precaução, do poluidor-pagador, do usuário-pagador, da participação informada, do acesso equitativo e da integração”.

Todo este aparato legislativo, justificado pela história de degradação do meio ambiente protagonizada pelo homem, reflete internamente a preocupação, que é também da humanidade, com a preservação do meio ambiente, mormente quando se verifica uma tendência perigosa no sentido da exaustão dos recursos naturais, abalando o chamado paradigma existencial.

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4.LIMITESAMBIENTAISAODIREITODEPROPRIEDADE

A propriedade sofre uma série de limitações impostas tanto pelo interesse público quanto pelo particular. Nesse sentido, leciona Washington Carlos de Almeida:

Se o direito de propriedade constitui-se em uma série de poderes que o proprietário tem sobre a coisa, pode-se afirmar que teria uma influência liberal. Todavia, hoje, em face de sujeição a uma série de limitações impostas pelo interesse não só particular, como público, baseado no princípio da justiça e do bem comum, pode-se afirmar que o direito de propriedade passou a ser moldado pela influência social.

Assim, há limitações particulares, como as limitações ditadas pelo direito privado, as contidas nos direitos de vizinhança, nos termos dos arts. 1.277 e seguintes do Código Civil, as limitações impostas pelo direito público, em razão do condicionamento do direito de propriedade ao bem-estar social.13

Prossegue o autor afirmando que o primado da supremacia do interesse coletivo sobre o individual modificou o perfil do direito à propriedade imobiliária14. As limitações segundo o autor seriam:

As limitações de direito privado dizem respeito aos atos ilegais, contrários ao disposto em lei; ou atos abusivos, com os quais o direito é exercido com desvio de sua finalidade; ou, finalmente, a atos excessivos praticados pelo proprietário que, embora não configurem abuso, prejudicam outrem. O Estado pode intervir na propriedade privada em situação específica, fazendo- o através das seguintes formas: desapropriação; servidão administrativa;

requisição; ocupação temporária; limitação administrativa.

(...)

Já as limitações de direito público, baseado no terceiro grupo (as limitações são adaptações da propriedade privada às finalidades públicas, dando-lhes condições de existência na vida jurídica), antes mencionado, o Estado- soberano intervém na propriedade e na atividade dos seus cidadãos.15

É cediço que o direito de propriedade, notadamente em se tratando de propriedade voltada ao agro, possui limitações que visam à proteção e conservação do meio ambiente, que deve ser preservado para gerações presentes e futuras.

Washington Carlos de Almeida, ao discorrer sobre as limitações ambientais leciona que:

13 ALMEIDA, Washington Carlos de. Direito de propriedade: limites ambientais no Código Civil.

Barueri: Manole, 2006. p. 35.

14 Ibidem.p. 37.

15 Ibidem. pgs.39 e 40.

(19)

As limitações ambientais servem para que o exercício do direito de propriedade esteja em sintonia com a proteção ambiental. Dessa forma, o ambiente não será degradado, não estará comprometido para as gerações futuras

Assim, as limitações ambientais integram o direito de propriedade moderno, na medida, como já dito, em que são parâmetros para o cumprimento da função social da propriedade, condição obrigatória para o exercício do direito de propriedade.16

Pode-se mencionar, a título de exemplo, a reserva legal como limitação ao exercício da propriedade.

Os termos conservação e preservação do meio ambiente são utilizados, muitas vezes, como sinônimos, porém, possuem significados próprios.

Preservar o meio ambiente significa manter a natureza intocada, em seu estado natural. A corrente preservacionista entende que a natureza deve ser preservada sem qualquer interferência por parte dos seres humanos.

Por outro lado, conservar o meio ambiente significa utilizar a matéria prima e bens naturais, mediante o auxílio e manejo criterioso e racional por parte dos seres humanos.

Assim, o movimento conservacionista prevê o desenvolvimento sustentável com qualidade de vida e conservação dos atributos essenciais para uma natureza saudável e sem excessos por parte dos seres humanos. A conservação ambiental se caracteriza, por conseguinte, como um conjunto de ações que visam ao uso consciente da natureza, respeitando, de forma harmoniosa, a renovação dos recursos naturais com sua utilização baseada na sustentabilidade.

O meio ambiente está elevado à categoria de bem jurídico essencial à vida das gerações presente e futuras, tendo havido um cuidado, através da positivação de diversas leis específicas (Código Florestal, de caça, pesca, águas, ar, minas, código penal, lei das contravenções e até mesmo o Código Civil anterior) no intuito de haver sua preservação e defesa.

Portanto, o mote constitucional de que todos são dignos do meio ambiente equilibrado ecologicamente, pois que essencial à sadia qualidade de vida, já estava arraigado como pilar mestre das ordenações anteriores.

A unificação dessas ações destinadas à preservação e proteção do meio ambiente veio com o advento da Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional

16 ALMEIDA, Washington Carlos de. Direito de propriedade: limites ambientais no Código Civil.

Barueri: Manole, 2006. pgs. 46 e 47.

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do Meio Ambiente, criando um Sistema Nacional do Meio Ambiente, composto por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, entes responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental; e um Conselho Nacional do Meio Ambiente, responsável pela criação de critérios para licenciamento e estudos de impacto ambiental, dentre outras atribuições.

Contudo, somente com a promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988, recepcionando o que já dispunha a Lei 6.938/81, se erigiu o meio ambiente ecologicamente equilibrado à direito fundamental, reconhecendo seus importantes princípios e ampliando o espectro de proteção mantido, inicialmente, sob o manto da antiga lei.

O artigo 225 da Constituição Federal eleva, definitivamente, o direito ambiental à categoria de direito fundamental e reforça a regra anterior, auferindo aos entes públicos e privados o dever da defesa e preservação do meio ambiente e definindo medidas para assegurar a efetividade deste direito:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

O regramento Constitucional, pois, definiu deveres de competência, proteção e defesa ao meio ambiente, não dando azo a que qualquer norma infraconstitucional venha condicionar ou limitar as competências impostas aos entes federados, ou, legislar contrariamente aos dispositivos elencados sob pena de incorrer em Inconstitucionalidade.

O direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado constitui prerrogativa jurídica de titularidade difusa, eis que dele dependem as gerações presente e futuras, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa atribuída à própria coletividade social, consagrando o princípio da solidariedade e constituem momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados como valores fundamentais indisponíveis.

(21)

Assim destaca Leite Sampaio

(...) o direito ao meio ambiente é fundamental e estruturalmente aberto, pois exige de todos um dever de configuração e de efetividade. Poderemos mesmo até ser seduzidos pela sua dimensão subjetivista e pelos encantos privatistas para considerarmos que a norma que o consagra define tanto os seus sujeitos (indivíduos, coletividade) quanto o seu objeto (meio ambiente) e os vínculos entre eles, por mais que seu exercício possa encontrar algumas dificuldades práticas.

Não bastasse a existência das condições formais de um direito fundamental, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado ainda goza de relevo especial na missão de tutelar e de desenvolver o princípio da dignidade humana ou como desdobramento imediato da corresponsabilidade intergerencial. Somados, assim, requisitos formais e materiais, pode-se falar no Brasil de um direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, assim como se pode referir uma “ordem ambiental” que completa e condiciona a “ordem econômica” e que, por topologia, integra-se na “ordem social.17

Destarte, verifica-se que a Carta Magna incorporou o regramento já existente, recepcionando-o como fundamental, no intuito de intensificar o combate e proteção do meio ambiente.

A Constituição Federal traz em seu corpo uma série de princípios considerados como condições de possibilidade para a efetiva preservação e proteção do meio ambiente.

Diversos autores discriminam-nos (direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, acesso equitativo aos recursos naturais das presente e futuras gerações, equidade intergeracional no acesso aos recurso naturais, desenvolvimento sustentável, do poluidor-pagador e usuário-pagador, da prevenção, da precaução, da responsabilização, da supremacia do interesse público na proteção do meio ambiente, da participação popular, dentre outros) existindo uma variação de quantidade e conceituação de acordo com cada um, mantendo, contudo, uma lógica quanto aos principais.

O Direito Humano ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é entendido como um princípio fundamental. Este é o sentido do Direito Ambiental, uma vez que serve como orientador da ordem econômica e social, base para a formação dos demais princípios e para elaboração legislativa.

17 SAMPAIO, José Adécio Leite, WOLD, Chris, NARDY, Afrânio José Fonseca. Princípios do Direito Ambiental. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2003.

(22)

O reconhecimento do direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado previsto no artigo 225 da Constituição Federal e constante das declarações internacionais parte do entendimento de que este é uma extensão do direito à vida constante no artigo 5º “caput”, de nossa Constituição e no artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Trata-se do direito à sadia qualidade de vida, um dos requisitos indispensáveis a existência digna do ser humano.

O crescimento da consciência ecológica e a preocupação com a degradação do meio ambiente, retirando o equilíbrio do planeta, levam a erigir-se a proteção do meio ambiente como um valor fundamental, revestindo-se, assim, de um caráter comunitário, difuso e essencial para as gerações futuras.

Os demais princípios, portanto, estão interligados uns aos outros no intuito de operacionalizar a garantia deste direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Outro princípio é o do desenvolvimento sustentável, que consiste, grosso modo, no uso racional e equilibrado dos recursos naturais, de forma a atender às necessidades das gerações presentes, sem prejudicar o seu emprego pelas gerações futuras.

Tendo as presentes e futuras gerações o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e, consequentemente, uma preocupação com o desenvolvimento sustentável a fim de que o meio possa ser usado e explorado racionalmente dando as mesmas condições à coletividade que virá, eleva a precaução como, talvez, o principal princípio quando se falar em biossegurança.

A precaução, além de estar inter-relacionada com os demais princípios constitucionais já referidos, está intimamente ligada aos estudos prévios de impacto ambiental, que, por sua vez, fazem parte do licenciamento ambiental, procedimentos excluídos pela Lei de Biossegurança no que tange aos transgênicos.

A simples potencialidade de dano, impacto ou poluição obriga, constitucionalmente, à realização de prévio estudo, uma vez que não se pode esperar, ou correr-se o risco de a omissão prejudicar, talvez, irreversivelmente o futuro ambiental.

Portanto, a manutenção de um ambiente equilibrado com responsabilidade futura passa diretamente pela precaução e sua inter-relação com os demais.

Outro princípio que podemos destacar é o princípio da participação popular na proteção do meio ambiente, decorrente do próprio conceito de democracia participativa existente na Constituição Federal e destacado na tradição do Estado

(23)

Democrático de Direito, que, por sua vez, consolidou os direitos de terceira dimensão (direitos difusos).

O próprio artigo 225, § 1º da CF dispõe, quando da realização do Estudo de Impacto Ambiental, a sua publicidade, o que se dá através de audiências públicas.

A construção do direito ambiental pátrio, conforme demonstrado, tem como fundamento principal o caráter difuso da proteção do meio ambiente para que exista um equilíbrio para as gerações futuras. Trata-se de um direito de todos os cidadãos, pois, não busca a garantia da segurança individual contra determinados atos, sequer busca a garantia coletiva própria dos direitos de segunda geração, mas, na verdade, eles vão mais além e se preocupam com o destino do gênero humano.18

Qualquer análise do Direito Ambiental como Direito de Terceira dimensão deve ser feita tendo como base o Estado (moderno), e mais especificamente em sua última versão, o Estado Democrático de Direito.

Para ALEXY19 o direito ao meio ambiente é um exemplo de "direito fundamental como um todo", na medida em que representa um leque paradigmático das situações suscetíveis de considerações em sede de normas tuteladoras de direitos fundamentais. Neste sentido, o direito ao meio ambiente como direito fundamental da terceira geração pode referir-se ao direito de o Estado: a) omitir-se de intervir no meio ambiente (direito de defesa); b) de proteger o cidadão contra terceiros que causem danos ao meio ambiente (direito de proteção); c) de permitir a participação do cidadão nos procedimentos relativos à tomada de decisões sobre o meio ambiente (direito ao procedimento); e finalmente, de realizar medidas fáticas tendentes a melhorar o meio ambiente (direito de prestações de fato).

A própria Constituição Federal, em seu artigo 225, impõe o entendimento de que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um dos direitos fundamentais. Daí por que o meio ambiente é considerado um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.

Ao contrário dos direitos da primeira dimensão (direitos individuais), considerados como garantias do indivíduo diante do poder do Estado, e dos direitos da segunda dimensão (direitos sociais), caracterizados por prestações que o Estado

18 MORAIS, José Luís Bolzan de. Do Direito Social aos Interesses Transindividuais: O Estado e o Direito na Ordem Contemporânea. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996.

19 ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudos Constitucionales, 1993.p.429.

(24)

deve à coletividade, o direito ao meio ambiente, como integrante dos direitos fundamentais da terceira dimensão (direitos difusos) consiste num direito-dever, no sentido de que a pessoa, ao mesmo tempo que o titulariza, deve preservá-lo e defendê-lo como tal, em níveis procedimental, judicial e substancial, através da figura do interesse difuso.

Portanto, o grupo de interesses metaindividuais, o dos interesses difusos propriamente ditos, compreende interesses que não encontram apoio em uma relação-base bem definida, reduzindo-se o vínculo entre as pessoas a fatores conjunturais ou extremamente genéricos, a dados de fato frequentemente acidentais e mutáveis: habitar a mesma região, consumir o mesmo produto, viver sob determinadas condições socioeconômicas, sujeitar-se a determinados empreendimentos, etc.20 Ainda no mesmo raciocínio Grinover atesta:

Trata-se de interesses espalhados e informais à tutela de necessidades, também coletivas, sinteticamente referidas à qualidade de vida. E essas necessidades e esses interesses, de massa, sofrem constantes investidas, frequentemente também de massas, contrapondo grupo versus grupo, em conflitos que se coletivizam em ambos os polos. Decorre daí que duas notas essenciais podem ser destacadas, nesses interesses ditos difusos. Uma, relativa à sua titularidade, pois pertencem a uma série indeterminada de sujeitos. Vê-se daí que soçobra o conceito clássico de direito subjetivo, centro de todo o sistema clássico burguês, que investia o indivíduo do exercício de direitos subjetivos, titularizados claramente em suas mãos, e legitimava o prejuízo causado a quem de outro direito subjetivo não fosse titular. Outra, relativa a seu objeto, que é sempre um bem coletivo, insuscetível de divisão, sendo que a satisfação de um interessado implica necessariamente a satisfação de todos, ao mesmo tempo em que a lesão de um indica a lesão de toda a coletividade. Nesse sentido, foi precisamente apontada, por Barbosa Moreira, a indivisibilidade, lato sensu, desse bem.21

Assim, o Direito Ambiental, consagrado como direito fundamental no Estado Democrático de Direito, merece uma atenção especial por ser baseado na solidariedade, que vai além da relação entre os homens, mas sim entendendo a preservação e conservação do meio-ambiente como um importante fator de equidade e justiça social. Um direito que passa a ser visto como um direito difuso, integrando à proteção ambiental como sujeitos de direito a humanidade como um todo, o que envolve um comprometimento da presente geração com as gerações futuras.

20 GRINOVER, Ada Pellegrini. A Problemática dos Interesses difusos. In: A Tutela dos Interesses Difusos. Coordenação de Ada Grinover, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987.

21 Idem.

(25)

Cumpre ressaltar que a preservação e conservação do meio ambiente deve ser obtida mediante o desempenho satisfatório das atividades agrárias.

Assim sendo, desde o advento do Estatuto da Terra (Lei Federal 4.504/1964) até o mais recente texto do novo Código Florestal Brasileiro, qualquer norma que traga no conteúdo a regularização e a proteção jurídica das atividades agrárias no Brasil devem ter, no seu conteúdo, o escopo de assegurar a produção sustentável das atividades econômicas com origem no agronegócio.

Importante salientar que a principal norma que rege o Direito Ambiental, o Código Florestal, além de estabelecer as obrigações e restrições ambientais impostas aos produtores, apresenta uma definição ampla de meio ambiente, que inclui o meio ambiente artificial, cultural e o meio ambiente de trabalho, e, ainda regula temas como biossegurança, agrotóxicos, uso da água para irrigação, dentre outras questões.

Destarte, deve o direito estabelecer a forma de exploração econômica sustentável do ambiente natural, visto que os recursos naturais são finitos.

É cada vez maior o número de países que exigem garantias de que os produtos rurais que estão comprando foram produzidos de forma sustentável, sendo, portanto, crucial a conservação do meio ambiente no agronegócio, mediante exigência do licenciamento ambiental, o prévio Estudo de Impacto Ambiental e outros, com seus enunciados dirigidos à proteção do ambiente em relação aos impactos que lhe possam ser nocivos.

(26)

5. CONCLUSÕES

O agronegócio é, indubitavelmente, o setor da economia que mais cresce e mais contribui para o PIB brasileiro.

Para compreendermos o agronegócio, é crucial compreender a atividade agrária, a empresa agrária, e sua relação com o Direito Agrário e do Agronegócio, sendo que a estes aplicam-se as normas de direito agrário, bem como como todo o arcabouço relativo ao direito empresarial e fiscal.

No que diz respeito à propriedade rural, esta deve cumprir sua função social em respeito aos ditames constitucionais e a todo o arcabouço jurídico infraconstitucional.

Assim, atividade do agronegócio sujeita-se às normas agraristas e demais legislação em vigor, devendo obedecer aos princípios de preservação e conservação do meio ambiente, previstos na Constituição Federal, sendo certo que a empresa agrária deve sujeitar-se a todas as exigências legais, como licenciamento ambiental, cadastros rurais, entre outras, pois a existem limites ao direito de propriedade, pautado na função social.

Praticar a sustentabilidade no agronegócio impulsiona o aumento da produção de alimentos e melhoria da segurança alimentar, garantindo o suprimento das necessidades de nossa geração e das gerações futuras, adotando práticas responsáveis e que respeitam o meio ambiente.

No século XXI, somente sobreviverão as empresas que agem legalmente e praticam suas atividades de forma sustentável, pois o público consumidor, hoje mundial, está cada vez mais atento a estas questões, que não poderão ser olvidadas pelos atores do Agronegócio.

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REFERÊNCIAS

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