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RESULTADOS PARCIAIS DO PROJETO POR UMA EPISTEMOLOGIA FEMINISTA NO ENSINO DO DIREITO

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RESULTADOS PARCIAIS DO PROJETO POR UMA EPISTEMOLOGIA FEMINISTA NO ENSINO DO DIREITO

Partial results of the project for a feminist epistemology in teaching law

Vanessa Thomas Becker1, Tiago Anderson Brutti2

Resumo: O objetivo deste estudo é analisar a necessidade de inserção de uma epistemologia feminista no ensino do Direito, bem como apresentar os resultados parciais do projeto “Por uma epistemologia feminista no ensino do direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para promoção da justiça social”. O estudo é qualitativo e exploratório, com base em pesquisa bibliográfica, o que subsidiou as atividades desenvolvidas no projeto. A problemática dessa pesquisa se concentra no fato de que o conhecimento e a atividade jurídica se desenvolvem de forma sexista e excludente. Assim, levanta-se a hipótese de que a inserção de epistemologias feministas pode ressignificar o Direito e a atuação jurídica, sendo uma ferramenta de emancipação e não de violação de direitos e subjugação das mulheres.

Palavras-chave: Direito. Epistemologia. Feminismo. Justiça.

Abstract: The aim of this study is to analyze the need to insert a feminist epistemology in the teaching of law, as well as to present the partial results of the project “For a feminist epistemology in the teaching of law: the recognition of unequal gender relations for the promotion of social justice” . The study is qualitative and exploratory, based on bibliographic research, which subsidized the activities developed in the project. The problem with this research focuses on the fact that knowledge and legal activity are developed in a sexist and exclusive way. Thus, the hypothesis is raised that the insertion of feminist epistemologies can give new meaning to Law and legal action, being a tool for emancipation and not for violating women's rights and subjugation.

Keywords: Right. Epistemology. Feminism. Justice.

1 Discente do curso de Direito, da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. Bolsista do projeto PACT – Por uma epistemologia feminista no ensino do direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para a promoção da justiça social. E-mail: vanessa.tbecker@hotmail.com

2 Pesquisador do Grupo de Pesquisa Jurídica em Cidadania, Democracia e Direitos Humanos – GPJUR. Coordenador do projeto PACT – Por uma epistemologia feminista no ensino do direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para a promoção da justiça social. Doutor em Educação nas Ciências – Unijuí. Docente do Curso de Graduação em Direito e do Programa de Pós-graduação em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social da Universidade de Cruz Alta – Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: tbrutti@unicruz.edu.br.

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho originou-se das pesquisas promovidas no desenvolvimento do projeto “Por uma epistemologia feminista no ensino do Direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para a promoção da justiça social” (PAPCT/UNICRUZ).

Investiga-se neste estudo a importância da inserção de uma epistemologia crítica feminista no ensino do Direito, com o intuito de permitir que as mulheres sejam reconhecidas como iguais dentro dos espaços jurídicos, nos quais o gênero masculino historicamente estabeleceu sua hegemonia.

O estudo justifica-se por permitir estímulos à formação de uma educação jurídica pautada na consciência de gênero. Essa atuação se faz necessária ao ponto que as mulheres, muitas vezes, não se encontram representadas, tampouco amparadas pelo atendimento e pelas normas jurídicas. Dessa forma, compreende-se que o ambiente jurídico reproduz a desigualdade de gênero e o atua pautado no sexismo, tanto no desenvolvimento do ensino quanto na atividade judiciária.

Assim, o objetivo desta pesquisa é entender em que medida a inserção de uma epistemologia feminista no ensino do Direito pode ressignificar a atuação dos acadêmicos e profissionais, contribuindo para a formação de indivíduos capazes de reconstruir os papeis da mulher na contemporaneidade, uma vez que se compreende que a ciência jurídica deve estar comprometida com os direitos humanos, uma premissa fundamental para a garantia da justiça social. Nesse ínterim, entende-se que o Direito, enquanto ciência social, deve se comprometer e dar guarida aos direitos das mulheres, reconhecendo sua situação de vulnerabilidade social, o que justifica a relevância e a pertinência do estudo aqui proposto.

Para atingir o objetivo da pesquisa, o artigo foi dividido em duas seções. Inicialmente, será realizada uma abordagem conceitual acerca da construção do conhecimento científico a partir da perspectiva feminista, adentrando, na possibilidade da inserção de epistemologias feministas no ensino do Direito. Após, serão descritas as atividades realizadas até o presente momento, que buscam alcançar os objetivos propostos pelo referido projeto.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente projeto apresenta-se como uma pesquisa social, de abordagem qualitativa.

Essa abordagem justifica-se “[...] por ser uma adequada para entender a natureza de um fenômeno social” (RICHARDSON, 1999, p. 79). Optou-se por essa abordagem porque o estudo das epistemologias feministas e de sua influência na reconstrução dos papeis de gênero, são temas dotados de complexidades, que exigem observação e compreensão das particularidades do comportamento dos sujeitos (RICHARDSON, 1999, p. 80). Desta forma, tratando-se de um estudo que busca a compreensão das relações sociais, pautadas pela categoria gênero, entende-se que esta abordagem é a mais adequada para a proposta do estudo.

Além disso, esta pesquisa possui a finalidade descritiva-interpretativa. A pesquisa descritiva, exige do pesquisador um aparato de informações sobre o tema que deseja pesquisar, descrevendo fatos e fenômenos de uma realidade. O processo descritivo nesta pesquisa visa, identificar o silenciamento das mulheres na produção do conhecimento e seus reflexos na condição sociocultural das mulheres na sociedade contemporânea. O processo interpretativo parte do pressuposto de que “o acesso à realidade (dada ou socialmente construída) somente é possível através de construções sociais, tais como a linguagem, a consciência e significados compartilhados” (JOSEMIN, 2011, p. 10). O processo interpretativo visa entender o fenômeno por meio de significados atribuídos a eles, onde a realidade social é historicamente constituída e produzida e reproduzida pelas pessoas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 A formação do conhecimento cinetífico e a inserção de epistemologias feministas no ensino do Direito

Segundo Santos e Meneses (2009) há um padrão de hierarquização sobre a epistemologia moderna, apontando que há uma valorização excessiva do conhecimento produzido pelo homem branco ocidental, economicamente privilegiado, em prejuízo dos indivíduos que não se enquadram nessas características, a exemplo das mulheres, dos negros, dos indígenas. Nesse viés, Gebara (1997, p. 33-34) traz uma reflexão acerca da invisibilidade dos grupos que não se enquadram na descrição do sujeito produtor de conhecimento socialmente reconhecido:

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A hierarquização do saber corresponde à própria hierarquização social. Uma hierarquização fundada na exclusão das maiorias em favor de uma elite masculina detentora do poder e do saber. Ela se refere à questão das classes sociais e também do gênero. O gênero masculino tem o monopólio do conhecimento divulgado e socialmente aceito. A questão das etnias também interfere no conhecimento. Em geral, os negros são apresentados como os que menos sabem, assim como os indígenas. A história de dominação marcou de tal forma as bases de nossa cultura que adotamos como conhecimento nosso aquele divulgado pelos detentores do poder político e social. Não percebemos o quanto este procedimento ergueu barreiras entre os povos e impediu uma verdadeira partilha de saberes.

Nesse sentido, as epistemologias feministas visam combater essa visão de conhecimento a partir de um sujeito único e com características pré-determinadas como capaz de produzir conhecimento científico. As epistemologias feministas introduzem a ideia de que a construção do conhecimento deve ser baseada na percepção de que as categorias de gênero precisam influenciar as práticas de investigação científica. Matos (2008, p. 335) compreende que as epistemologias feministas são “[...] um paradigma científico a uma só vez complexo, multicultural e emancipatório que resgata dimensões abertas, plurais e multidimensionais do conhecimento e da cognição”. Com isso, extrai-se que as epistemologias feministas precisam ser consideradas uma forma de saber, em decorrência das novas perspectivas em relação à ciência e à epistemologia, apresentando uma alternativa diante dos tradicionais saberes disciplinares.

Matos (2008, p. 343-344) descreve que essa nova epistemologia feminista “deve ser compreendida agora na chave do multiculturalismo crítico e emancipatório”, com o intuito de

“resgatar raízes que permitam desmontar o conhecimento produzido na exclusividade das chaves ocidentais, anglo-européias, patriarcais, brancas, heteronormativas e masculinas em prol de uma afirmação pluralista de ciências”. Assim, a introdução de uma epistemologia feminista para o debate científico está relacionada com o promover de uma releitura sobre quem pode produzir o conhecimento e para quem este conhecimento é produzido. Ainda, nas palavras de Matos (2008, p. 344):

As formas antigas e modernas de dualismos e binarismos serviram bem ao propósito de justificar, e até de reproduzir, relações de dominação, opressão e exploração (de gênero e muitas outras): marcas sensíveis e facilmente identificáveis no sentido da subordinação das mulheres, mas não apenas delas. O que se coloca de novo pela pauta desse campo recentemente forjado pelos estudos de gênero e feministas é a questão da diversidade e do pluralismo numa visada complexa e paradoxal, por imediata oposição aos binarismos de todas as ordens.

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A introdução de epistemologias feministas visa pluralizar a produção do conhecimento científico, dando voz aos diferentes grupos que compõe a sociedade, em especial, as mulheres, a fim de combater a manutenção de um poder masculino sobre a produção do conhecimento científico. O surgimento das epistemologias feministas visa possibilitar que, cada vez mais, as mulheres sejam vistas como sujeito capaz de produzir o conhecimento.

A epistemologia feminista aponta para a compreensão do sujeito do conhecimento como resultado das determinações culturais, inserido em um ambiente complexo de relações sociais e diversidades sexuais e étnicas. Além disso, a epistemologia feminista aborda a estreita relação entre ciência e poder, relação capaz de evitar a participação das mulheres em grande parte da história do conhecimento.

A formação do conhecimento baseada na realidade singular de um sujeito epistêmico tradicional (homem, branco, heterossexual, economicamente privilegiado) silenciou o conhecimento dos grupos que não se enquadravam nos interesses desses sujeitos dominantes, bem como limitou a produção do conhecimento, apenas, aos interesses do sujeito epistêmico.

O sistema patriarcal, que impõe a superioridade do gênero masculino e se faz presente nos mais diversos aspectos, vai muito além de influenciar as relações interpessoais. A dominação masculina está presente na própria construção e aquisição do conhecimento.

Em especial, no que diz respeito ao conhecimento jurídico científico, faz-se necessário um reconhecimento das epistemologias feministas a fim de que o Direito seja, efetivamente, uma área crítica, preocupada com a existência de um preconceito de gênero infiltrado no cotidiano. Salgado (2019, p. 69) descreve que “[...] para pensar sobre a ciência do Direito em uma perspectiva feminista é necessário romper com um Direito misógino e que exclui algumas pautas da luta”.

É preciso, que o Direito seja ensinado e produzindo para além da formalidade da norma jurídica, interpretando a sociedade com base nos recortes de gênero, de classe e de raça, que são necessários para compreender a complexidade dos sujeitos. Embora a igualdade esteja constitucionalizada no ordenamento jurídico brasileiro, na forma de direito fundamental, a garantia da igualdade apenas no âmbito formal não é suficiente para que a mulher esteja em situação de equidade. Isso porque, conforme pontuou Massula (2006, p.

144) o Judiciário “[...] não reconhece a desigualdade de fato que existe elas e os homens; e, portanto, não possui mecanismos que contemplem e superem essa desigualdade, minimizando seus efeitos sobre o acesso das mulheres à justiça”. Nesse sentido, a inserção de uma

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epistemologia feminista no ensino do Direito visa é de suma importância para promover a igualdade de gênero e o enfrentamento da violência institucional. Isso porque, o sistema jurídico foi construído sob a óptica de uma cultura baseada em padrões sexistas, que reproduzem as desigualdades de gênero, não reconhecendo a condição de silenciamento vivenciada pelas mulheres.

Para a construção de um direito menos sexista é necessário adotar uma epistemologia feminista que questione não somente os conceitos jurídicos, mas todo jeito de produzir e refletir sobre a ciência. Para tanto, o sujeito epistêmico que produz o conhecimento jurídico deve tornar-se plural, sujeitos múltiplos cientes da necessidade de um recorte pautado na diversidade de gênero, classe, sexualidade e raça no ensino do Direito. Dessa forma, é possível desconstruir a produção de conhecimento jurídico e a sua dogmática tradicional, rompendo com padrões caracterizados pelas relações de poder, além de reconstruir a ciência do Direito sob a perspectiva do feminismo e de seus pressupostos epistemológicos.

Na próxima seção, serão descritas as atividades promovidas pelo projeto “Por uma epistemologia feminista no ensino do direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para a promoção da justiça social”, a fim discutir sobre o silenciamento das mulheres no mundo jurídico, principalmente no conhecimento dogmático tradicional, que ocasionou a predominância de um sistema de justiça excludente e sexista.

3.2 Atividades realizadas no desenvolvimento do projeto “Por uma epistemologia feminista no ensino do Direito”

Inicialmente, cabe esclarecer que as atividades abaixo descritas foram promovidas a partir do projeto “Por uma epistemologia feminista no ensino do Direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para a promoção da justiça social” (PAPCT/UNICRUZ)3. O projeto foi aprovado com a disponibilização de um recurso financeiro, que será utilizado para aquisição de livros, a fim de organizar uma biblioteca feminista na Universidade. A lista com os títulos das obras já foi encaminhada ao setor resposnável, que está promovendo a aquisição das obras.

3 Número de Protocolo: GAP001259/201911 20163752. Vinculado ao Curso de Mestrado Acadêmico em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social.

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Cabe destacar que o projeto conta com a participação de uma bolsista4, duas colaboradoras externas5, 7 acadêmicas voluntárias6, alunas de graduação e de pós-graduação da Universidade de Cruz Alta e o professor orientador do projeto7. No cronograma apresentado para o desenvolvimento do projeto estavam previstas três etapas para realização das atividades, as quais serão apresentadas em seguida:

3.2.1 Primeira Etapa (março a julho de 2020)

A primeira etapa consistia em promover reuniões e expedientes de trabalho acadêmico com a bolsista, bem como leituras de aprofundamentos sobre os temas pesquisados. O período de desenvolvimento dessa etapa foi previsto, inicialmente, de março a julho de 2020.

Contudo, ainda no mês de agosto, foram desenvolvidas atividades correspondentes a primeira etapa.

No mês de março, foram realizados encontros presenciais, nas quintas-feiras, entre a bolsista, o professor orientador e uma acadêmica voluntária. Em razão da pandemia, não houve a possibilidade, após o mês de março, de realização de encontros presenciais com as participantes do projeto. Contudo, a fim de atender aos objetivos do projeto, foram desenvolvidas algumas atividades em parceria com o Coletivo Feminista Classista Angela Davis. O Coletivo Feminista Classista Angela Davis, é um projeto de reunião de mulheres interessadas em combater a violência de gênero, em todos os espaços: públicos e privados, bem como de ação a fim de promover a justiça social. A partir do mês de maio, foram realizadas lives pelo Instagram do coletivo feminista (@cangeladavis), a fim de discutir as temáticas feministas propostas pelo projeto, conforme a tabela seguinte:

4 Vanessa Thomas Becker.

5 Adrielle de Fátima Bordin e Tatiana Diel Pires.

6 Aline Gabrieli Fagundes, Etyane Goulart Soares, Gabriela Dickel das Chagas, Gabriele Roesler Maidana, Julia Batista Correa, Marina Canales e Nariel Diotto.

7 Tiago Anderson Brutti.

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Quadro 1 – Lives em parceria com o Coletivo Feminista (entre março e julho de 2020)

Dia Tema Debatedoras

05/05/2020 Feminismo, Interseccionalidade e divisão Sexual do Trabalho

Nariel Diotto (voluntária do projeto) e Eliane Gonçalves Gibikoski, pesquisadora da Universidade de Amsterdam

22/05/2020 A descoberta feminista e a pesquisa acadêmica

Nariel Diotto (voluntária do projeto) e Julia Menuci (Mestranda em Direitos Humanos Unijuí)

25/05/2020 Perspectivas do feminismo pós- pandemia no contexto da América Latina

Nariel Diotto e Etyane Goulart (voluntárias do projeto)

14/06/2020 Feminismo, Direitos Reprodutivos e Saúde Mental

Gabriela das Chagas (voluntária do projeto) e Fernanda Espindola Alegretti 19/07/2020 A importância da visibilidade e do

estudo do feminismo negro

Julia Batista Correia (voluntária do projeto) e Dandara Conceição

26/07/2020 O mito do amor romântico e suas reverberações na vida das mulheres

Adrielle Machado Bordin (voluntária do projeto) e Itauana de Oliveira.

Fonte: os autores.

Outrossim, ainda na primeira etapa do projeto, foi construída uma biblioteca digital com bibliografia feminista, a fim de fomentar a leitura de mulheres e epistemologias feministas, disponibilizada no Google Drive. Além disso, a acadêmica bolsista e as voluntárias realizaram encontros mensais, nas primeiras terças-feiras de cada mês, com a intenção de difundir a leitura e estudo da teoria feminista, com a seguinte pauta:

Quadro 2 – Encontros mensais de leitura e debate realizados na plataforma Google Meet

06/06/2020 Debate e leitura de um trecho da obra

“Feminismo para os 99% - um manifesto”, Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser

30/06/2020 Debate e leitura de um trecho da obra

“Fome”, de Roxane Gay

14/07/2020 Encontro sobre feminismo classista, tendo como convidadas duas integrantes do

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Coletivo Feminista Classista Alexandra Kollontai, de Porto Alegre

11/08/2020 Debate e leitura da obra “Mulheres e Caça às Bruxas”, de Silvia Federici.

Fonte: autores.

3.2.2 Segunda etapa (agosto a outubro de 2020)

A segunda etapa do projeto consistia na realização de reuniões e expedientes de trabalho acadêmico com a bolsista, participação em eventos científicos, sistematização das leituras, elaboração de fichamentos e resenhas sobre os livros estudados, juntamente com os acadêmicos voluntários. Ainda, também previa a organização do evento denominado I Semana Feminista, vinculada ao Curso de Direito e ao PPG em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social. O período de desenvolvimento dessa etapa foi previsto de agosto a outubro de 2020.

Inicialmente, serão apresentados os eventos promovidos por este projeto de pesquisa, que tratam de debater a condição da mulher na sociedade contemporânea, considerando, sempre, as epistemologias feministas estudadas. No mês de setembro, foi promovido por este projeto, em parceria com o Laboratório de Estudos e Práticas Socioculturais Interdisciplinares e com o Coletivo Feminista Classista Angela Davis, um Workshop sobre “Mulheres na Política: por que precisamos votar em mulheres?”. O workshop foi desenvolvido por duas integrantes deste projeto, a saber, Nariel Diotto e Tatiana Diel Pires. Ainda, houve a presença da advogada Aline Audino.

Nos dias 6 a 9 de outubro, realizou-se a I Semana Feminista e I Mostra Interdisciplinar de Estudos de Gênero e feminismos. Na noite de 6 de outubro, ocorreu a abertura do evento, que contou com duas palestras: a primeira denominada “Diálogos entre afetos e antifeminismo”, promovida pela Doutoranda e mestra em Sociologia (UnB) Camila Galetti e; em sequência, a palestra “Diálogos sobre masculinidades”, ministrada pela Dra.

Arielle Sagrillo Scarpati.

Na noite de 7 de outubro, o evento contou com a palestra “Direitos sexuais e reprodutivos”, promovida pela Dra. Joice Nielsson e, posteriormente, com a palestra

“Violência doméstica e a importância da advocacia com perspectiva de gênero”, promovida pela advogada Tais da Hora.

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Na noite de 8 de outubro, ocorreu o lançamento de livros, além das seguintes palestras:

“Criminologia e Processo Penal Feminista: novas epistemologias nas Ciências Criminais”, ministrada pela Pós-Doutora Soraia Mendes, bem como a palestra “Feminismos Criminológicos”, ministrada pela Dra. Fernanda Martins.

Por fim, na tarde do dia 9 de outubro de 2020, realizou-se a apresentação dos trabalhos aprovados na I Mostra Interdisciplinar de Estudos de Gênero e feminismos. Ressalte-se que este evento contou com 190 inscritos e 35 submissões de trabalhos, de alunos de todo o Brasil e, também, de Amsterdam.

No que diz respeito a produção científica, cita-se a organização dos livros lançados na I Semana Feminista, intitulados “Estudos de Gênero e Feminismos na Sociedade Contemporânea: Diálogos Jurídicos” (volume I) e “Estudos de Gênero e Feminismos na Sociedade Contemporânea: Diálogos Interdisciplinares” (volume II), que contou com a participação de autores de todo o país. Esta coleção de livros foi uma proposta deste projeto, e teve como parceiros os projetos “Atendimentos às mulheres em condições de violência”

(PIBEX/UNICRUZ), “A condição sociocultural da mulher à luz do feminism negro”, ambos coordenados pela Profa. Raquel Buzatti Souto e, também, o Coletivo Feminista Classista Angela Davis.

Cabe ressaltar que na obra “Estudos de Gênero e Feminismos na Sociedade Contemporânea: Diálogos Interdisciplinares”, houve a publicação de um artigo pela bolsista e voluntárias deste projeto, intitulado “A relação do feminismo e da bioética na (des)construção do padrão estético de exclusão e objetificação”8, construído com base nos estudos desenvolvidos pelo projeto “Por uma epistemologia feminista no ensino do Direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para a promoção da justiça social”.

Salienta-se que, várias voluntárias publicaram seus artigos nestes dois volumes do livro Estudos de Gênero e Feminismos, podendo ser mencionados os artigos: “A autonomia feminina no âmbito dos direitos sexuais e reprodutivos”9, “Perspectiva público e privado: uma análise da democracia pelo olhar feminista”10, “A Importância da Lei Maria da Penha e a

8 Autores: Elizabeth Fontoura Dorneles, Nariel Diotto, Tatiana Diel Pires, Vanessa Thomas Becker e Luís Guilherme Nascimento de Araújo

9 Autores: Tiago Anderson Brutti, Gabriela Dickel das Chagas, Etyane Goulart Soares, Ananda Rodrigues dos Santos e Denise da Costa Dias Scheffer.

10 Autores: Gabriela Dickel das Chagas, Etyane Goulart Soares, Ionathan Junges, Ananda Rodrigues dos Santos e Ana Luiza Roggia.

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Implementação das Medidas Protetivas”11, “A inclusão da mulher negra em instituições acadêmicas de ensino”12, “Vozes femininas: uma roda de conversa sobre ‘ser quilombola’”13,

“Pela vida dos corpos precarizados: reflexões sobre violências de gênero e necropolítica no Brasil”14.

Ainda, por meio dos estudos promovidos no projeto, houve a participação, pela bolsista e também voluntárias, na obra “Linguagens & Contextos: expressões humanas em interpretação", com a publicação do artigo “Uma análise da violência institucional sofrida por mulheres vítimas de estupro a partir da série televisiva ‘inacreditável’”15. O referido artigo foi apresentado, primeiramente, junto ao evento “II Simpósio de Linguagens e Hermenêutica na Contemporaneidade”, do qual, foram selecionados alguns trabalhos para a publicação no livro mencionado.

Além disso, houve a participação no evento “IV Simpósio Pensadores da República, do Direito e da Educação e III Mostra de Trabalhos Científicos”, com a publicação do trabalho completo intitulado “Por uma epistemologia feminista no ensino do direito”16.

Por fim, os estudos promovidos por meio do projeto culminaram na submissão de trabalhos pela bolsista e também pelas acadêmicas voluntárias, na I Mostra Interdisciplinar de Estudos de Gênero e Feminismos. Foram publicados os seguintes trabalhos completos:

“Violência Institucional: a dupla violação da mulher vítima de estupro pelo sistema de justiça brasileiro”17 e “A socialização da criança através da história e o fortalecimento da desigualdade de gênero”18. Ainda, foi publicado o resumo expandido intitulado “Mulheres na prisão: uma análise sufocante da realidade e seus maiores problemas”19.

Por fim, destaca-se a presença das integrantes do projeto na participação do Círculo de Leitura de Clássicos da Filosofia, projeto integrante do Laboratório de Estudos em Práticas Socioculturais Interdisciplinares – LEPSI. Os encontros ocorrem nas quintas-feiras, via plataforma Google Meet. Destaca-se as leitura das obras “Sejamos todos feministas”, da escritora Africana Chimamanda Ngozi Adichie, que ocorreu no mês de março, bem como a

11 Autores: Gabriele Maidana Roesler, Julia Batista Corrêa e Leonardo Protti Hillesheim.

12 Autores: Raquel Buzatti Souto, Gabriele Maidana Roesler, Julia Batista Corrêa e Leonardo Protti Hillesheim.

13 Autores: Sirlei de Lourdes Lauxen, Elizabeth Fontoura Dorneles, Graciela da Silva Salgado e Nariel Diotto.

14 Autores: Joice Nielsson, Emanuele Dallabrida Mori e Tatiana Diel Pires

15 Autores: Vanessa Thomas Becker, Nariel Diotto e Tiago Anderson Brutti.

16 Autores: Vanessa Thomas Becker, Nariel Diotto e Tiago Anderson Brutti.

17 Autores: Vanessa Thomas Becker, Tatiana Diel Pires, Nariel Diotto e Tiago Anderson Brutti.

18 Autores: Gabriela Dickel das Chagas, Etyane Goulart Soares e Tiago Anderson Brutti.

19 Autoras: Paula Martiele Pereira, Adrielle de Fátima Bordin e Aline Gabrieli Fagundes.

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leitura de um trecho selecionado da obra “Calibrã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva”, da autora Silvia Federici, que ocorreu no mês de setembro do corrente ano.

3.2.3 Terceira Etapa

Por fim, a terceira e última etapa no projeto, consistia na elaboração de artigos e resumos expandidos, organização e editoração de livros sobre “Feminismo e Direito”. O período de desenvolvimento dessa etapa foi previsto de novembro a dezembro de 2020.

Contudo, como já foram organizados dois livros, a terceira etapa volta-se a organização dos anais da I Mostra Interdisciplinar de Estudos de Gênero e Feminismos.

Assim, conclui-se que os objetivos propostos pelo projeto “Por uma epistemologia feminista no ensino do Direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para a promoção da justiça social” (PAPCT/UNICRUZ), estão sendo atingidos, ao ponto que houve produção científica, são realizadas leituras períodicas sobre textos pertinentes a temática do projeto, houve participação em eventos científicos, bem como a organização de dois livros e um evento referente a temática do projeto.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inserção de epistemologias feministas na produção do conhecimento científico tem a finalidade de dar voz a diversos sujeitos epistêmicos, influenciando a produção de conhecimento de forma plural, desfigurando a viabilidade da produção de conhecimento apenas pelo sujeito epistêmico padrão valorizado socialmente. Assim, o objetivo do projeto

“Por uma epistemologia feminista no ensino do Direito: o reconhecimento das relações desiguais de gênero para a promoção da justiça social” (PAPCT/UNICRUZ), é contribuir para a inserção dessas epistemologias feministas no ensino, especificamente na ciência jurídica, a fim de transformar o pensamento desses profissionais.

Para que assim, esses novos operadores do direito, possam transformar a prática jurídica estruturada por princípios feministas, pautados na equidade, autonomia das mulheres e pluralidade dos sujeitos sociais, promovendo uma assistência consciente da existência do machismo predominante na sociedade, que norteia o tratamento destinado às mulheres e aos grupos minoritários. A aplicação das epistemologias feministas na produção do conhecimento jurídico realiza-se como forma de romper o silenciamento socialmente imposto aos conhecimentos produzidos por sujeitos plurais, divergentes do sujeito epistêmico padrão,

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como mulheres, negros e indígenas. Rompe-se, assim, com padrões caracterizados pelas relações de poder, além de reconstruir a ciência do Direito sob a perspectiva do feminismo e de seus pressupostos epistemológicos, promovendo um espaço de produção de conhecimento científico plural e democratizado.

A realização das ações do projeto estão voltadas para esta visibilidade. Investir em publicações e eventos, trazendo a perspectiva feminista, para além da área do Direito, fomentando a leitura e a escrita feminista, é uma forma de possibilitar que haja uma quebra das relações desiguais entre os gêneros na produção do conhecimento. Desta forma, o projeto já atingiu a maioria de seus objetivos propostos e busca, até o seu término, continuar incentivando a leitura e produção do conhecimento.

REFERÊNCIAS

GEBARA, Ivone. Teologia Ecofeminista: ensaio para repensar o conhecimento e a religião.

São Paulo: Olho Dágua, 1997.

JOSEMIN, Gilberto Clóvis. Entendimento Interpretativo em Pesquisa Qualitativa sobre Sistemas de Informação. XXXV Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em:

http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ADI1539.pdf. Acesso em: 26 abr. 2020.

MASSULA, Letícia. A violência e o acesso das mulheres à justiça: o caminho das pedras ou as pedras do (no) caminho. In: Vinte e cinco anos de respostas brasileiras em violência contra a mulher: alcances e limites. São Paulo: Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, 2006.

MATOS, Marlise. Teorias de gênero ou teorias e gênero? Se e como os estudos de gênero e feministas se transformaram em um campo novo para as ciências. Revista Estudos

Feministas, v. 16, n.2, Florianópolis, 2008.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

SALGADO, Gisele Mascarelli. O Estado e as desigualdades de gênero. In: FERRAZ, Carolina Valença. Manual Jurídico Feminista. Belo Horizonte: Letramento: Casa do Direito, 2019.

SANTOS, Boaventura de Sousa. MENESES, Maria Paula. Epistemologias do Sul. Coimbra:

Almeidina, 2009.

Referências

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