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Arthur não estava com grande disposição naquela

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Academic year: 2021

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Texto

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FICHA TÉCNICA

Título: A Espada de Herobrine Autor: Jim Anotsu

Copyright © 2015 Jim Anotsu

Edição original publicada no Brasil por Editora Nemo Versão portuguesa © Editorial Presença, Lisboa, 2017

Adaptação do texto à versão portuguesa: Caligrama — Produção Editorial Revisão: Paulina Amaral /Editorial Presença

Capa: Carol Oliveira (sobre ilustração de Victória Queiroz / VicTycoon) Composição, impressão e acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda.

1.a edição, Lisboa, janeiro, 2017 Depósito legal n.o 418 084/16 Reservados todos os direitos para Portugal à

EDITORIAL PRESENÇA Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730-132 Barcarena info@presenca.pt www.presenca.pt

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CAPÍTULO 1

ZEROS & UNS

Arthur não estava com grande disposição naquela noite. Talvez fosse ver televisão ou ler a última edição de Homem-Aranha. Afinal, Miles Morales era sempre uma boa companhia. Definitivamente, em toda e qualquer circunstância, não estava disposto a jogar Minecraft nem a tomar conta da sua irmã mais  nova — duas coisas inconcebíveis para um ra­

paz  de 15  anos. O destino, contudo, gosta de fazer o  oposto do  que desejamos só pelo prazer de nos contrariar.

Tudo parecia normal: os pais tinham saído para algum evento chato e a sua irmã monopolizava o com­

putador da sala com aquele jogo idiota de blocos. Não que odiasse jogos — pelo contrário, sabia tudo sobre Assassin’s Creed, Metal Gear Solid e Halo —, mas não entendia o interesse por algo com gráficos tão simples e quadrados.

— Estou com fome — reclamou Mallu pela milé­

sima vez. — A mãe disse que hoje tu fazias o jantar.

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Arthur desviou o olhar da televisão.

— Tens duas mãos — respondeu. A sua voz personi­

ficava a delicadeza especial que só existe entre irmãos.

—  Podes muito bem parar um segundo e fazer a tua própria comida. É a minha vez de usar o computador.

Mallu era uma menina magricela, de cabelo crespo grande e encaracolado, pele cor de caramelo como o irmão e, na opinião de Arthur, com todos os defeitos da raça hu­

mana, sendo o pior deles a sua idade: 14 anos de incómodo puro e simples. O pior de tudo era quando ela se servia da­

queles gigantescos olhos castanhos e da «voz de chantagem»:

— Se não fizeres o jantar, irei contar tudo à mãe e irás ficar de castigo para o resto da tua vida.

— Odeio­te.

— Não me interessa.

Arthur atirou o comando para o sofá e foi até à cozinha.

Era sempre assim, os pais obrigavam­no a ser praticamente um escravo da irmã, quando eles não estavam em casa, com castigos adicionais caso ela se queixasse de alguma coisa. «O Arthur não fez o jantar, ele bateu­me, ele chamou­

­me nomes, ele fez isto e aquilo.» A lista era tão grande que poderia ocupar mil páginas, nem todas preenchidas com verdades. Não era como se os dois se odiassem realmente, nada disso; até conseguiam ser afetuosos em datas come­

morativas e em anos bissextos — desde que ninguém esti­

vesse a ver. Mas devia existir alguma lei no universo que impedisse as irmãs mais novas de serem fixes — e, se por acaso essa lei não existisse, pensou Arthur, alguém certa­

mente precisaria de a escrever na constituição do cosmos.

— Que raiva… — murmurou.

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Foi até ao armário procurar uma faca. A sua única habilidade culinária resumia­se a uma sandes de ovo e queijo, refeição que a irmã não reclamava, pois não tinha de parar de jogar para comer. Já imaginaste o que aconte­

ceria se ela não pudesse jogar durante um dia, apenas um dia? Cairia no chão com espasmos? Ou atirava­se para um canto, incapaz de falar ou de comer? Uma pergunta tão válida quanto qualquer outra, concluiu ele.

Abriu a gaveta e surpreendeu­se com o que encon­

trou por lá. De entre todas as coisas possíveis e impossí­

veis de serem imaginadas (pelo menos, no que se refere a uma gaveta de cozinha), estava lá uma disquete cin­

zenta. «Minecraft 001», estava escrito numa etiqueta vermelha. Não havia dúvidas de quem era a proprietária.

A única pessoa da casa que deixava todas as suas coisas espalhadas e a única que jogava Minecraft. Pegou na disquete e voltou para a sala. Desta vez, ela não poderia negar aquilo, nem culpá­lo.

— Ei, múmia — chamou, com um toque de con­

vicção na voz. — Não perdeste nada?

A irmã não respondeu, continuou apenas a partir blocos no jogo. Estava numa espécie de caverna com trilhos no chão.

— Estou a falar contigo.

— E eu não estou a ouvir porque estou ocupada, Arthur — foi a resposta dela.

Ele suspirou.

— Deixaste o teu jogo idiota numa gaveta da cozi­

nha. Com milhares de lugares pela casa, tinhas de escolher o pior.

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Foi a primeira vez desde o início da conversa que ela se virou para ele. Tinha uma expressão confusa, como se Arthur tivesse dito algo impossível.

— Não deixei nada na cozinha — disse ela. — Na­

dinha de nada.

— Quer dizer que estou a imaginar o que está na minha mão?

Mallu olhou para a disquete que ele abanava entre o indicador e o polegar, de sobrolho franzido, e Arthur quase acreditou na expressão incrédula.

Quase.

— Alguma coisa em tua defesa?

Ela levantou­se e pegou no quadrado de plástico como um arqueólogo pega no seu mais recente fóssil.

Arthur tinha a certeza de que ela procurava alguma desculpa ou alguma forma de assumir as suas respon­

sabilidades e voltar para o mundo dos blocos. Por fim, ela pôs a disquete na mesa do computador e disse:

— A única coisa a dizer é que tu não sabes nada — ela sorria como se estivesse a dar­se conta de algo muito en graçado. — Se fosses mais inteligente, terias reparado que a letra é do pai. Outro detalhe: eu jogo Minecraft online com os meus amigos da Internet. E em terceiro lugar: amigo, as disquetes são antigas, já ninguém usa isso.

Arthur ficou em silêncio, atordoado por não se ter  apercebido de todos aqueles detalhes. Estava tão ansioso por apanhar a irmã a fazer alguma asneira, que nem prestou atenção ao resto. De facto, o Minecraft não era suficientemente antigo para haver em disquete.

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Contudo,  não conseguia perceber porque teria o seu pai alguma coisa que ver com aquele jogo. A dúvida deve­

ria estar estampada na sua cara, pois a irmã disse logo:

— A não ser que o pai queira esconder algum segredo — surgiu um sorriso malandro no seu rosto.

— Acho que ele não se importará se dermos uma vista de olhos, principalmente se não souber de nada.

Arthur estalou os dedos como fazia sempre que estava nervoso. Uma das regras principais da sua família era nunca mexer naquilo que é dos outros. Arthur deixou que um pouco do bom senso que existia dentro dele respondesse à sugestão da irmã:

— Acho que deveríamos pôr a disquete outra vez na gaveta e esquecer tudo.

— Podes fazer isso — disse a irmã. — A minha curiosidade é demasiado grande. E se ele descobrir…

bem, eu digo que foste tu.

— Não tens vergonha de ser assim?

— Não — disse ela. — Por que raio os rapazes são tão frágeis?

Aquela ameaça veio em tom de brincadeira, mas Arthur sabia que se alguma coisa desse para o torto, ela realmente faria aquilo. Bem, pensou, se iria levar com as culpas de qualquer maneira, era melhor que soubesse porque seria considerado culpado.

Empurrou a irmã para o lado e sentou­se junto a ela, já a disquete estava meio engolida pelo computador.

Referências

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