UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA – CAEN
EFEITOS DO SALÁRIO MÍNIMO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE
RENDA EM CATEGORIAS DE TRABALHADORES - UMA ANÁLISE
NÃO-PARAMÉTRICA
PAULOABREO SAMPAIO FILHO
PAULO ABREO SAMPAIO FILHO
EFEITOS DA EVOLUÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO NO BRASIL SOBRE
A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ENTRE CATEGORIAS DE
TRABALHADORES: UMA ANÁLISE NÃO-PARAMÉTRICA
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Economia, área de concentração em Economia de Empresas, da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do título de Mestre em Economia.
Orientador: Prof. Dr. Emerson Luís Lemos Marinho
PAULO ABREO SAMPAIO FILHO
TERMO DE APROVAÇÃO
EFEITOS DA EVOLUÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO NO BRASIL
SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ENTRE CATEGORIAS
DE TRABALHADORES: UMA ANÁLISE NÃO-PARAMÉTRICA
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Economia, área de concentração em Economia de Empresas, da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do título de Mestre em Economia.
Aprovada em: ______/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
Prof. Emerson Luís Lemos Marinho (Orientador) CAEN
Universidade Federal do Ceará - UFC
____________________________________________
Prof. José Raimundo Carvalho CAEN
Universidade Federal do Ceará - UFC
____________________________________________
Prof. Marcos Sena
AGRADECIMENTOS
Aos Professores e Funcionários do Curso de Pós-Graduação em Economia –
CAEN.
Especial agradecimento ao meu irmão e colega de mestrado Humberto da
Veiga Sampaio Netos e meus amigos e também colegas de mestrado Antônio
Simão Arrais Filho e Fabrini Oliveira Matos pelos momentos comuns que
transformaram as horas de estudo em momentos realmente agradáveis.
À minha esposa, Tatiana Bittencourt Sampaio, que soube entender os
mo mentos em que tivemos que trocar horas de lazer por estudo e recepcionar
as reuniões com nosso grupo de estudo.
À empresa em que trabalho, Metta Sistemas de Segurança, em especial ao seu
diretor, Sr. Reinaldo Kobylinski.
E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização e
RESUMO
Este estudo analisa os efeitos da evolução do salário mínimo no Brasil sobre a distribuição de renda entre categorias de trabalhadores, bem como o fluxo de trabalhadores, entre faixas de rendas demarcadas por um e dois salários mínimos, em conseqüência do aumento do salário mínimo verificado no período de 1995 a 2003. Os trabalhadores foram agrupados em diversas categorias de modo a melhorar a especificidade da análise.
Foram utilizados dados das PNADs (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio) de 1995 e 2003, aplicando-se uma metodologia não-paramétrica, com o uso do estimador de Kernel para estimação das densidades dos rendimentos dos trabalhadores. Os resultados são eminentemente visuais e qualitativos e mostram que algumas categorias tiveram aumentos significativos na proporção de trabalhadores com renda igual ou menor que um salário mínimo. Várias categorias experimentaram um forte fluxo de trabalhadores com renda maior que dois salários mínimos em direção a rendas entre um e dois salários mínimos e rendas menores que um salário mínimo, evidenciando uma piora na distribuição da renda entre categorias de trabalhadores.
ABSTRACT
This study analyzes the effect of the minimum wage trend in Brazil on labor income the distribution, as well as the flow of workers, between bands of labor income demarcated by one and two minimum wages, in consequence of the increase in minimum wage verified in the period 1995 the 2003.
Workers were grouped in different categories, in order to improve detailing in the analysis. The PNADs (National Research of Sample for Domicile) data for the 1995 - 2003 series were used, applying a not-parametric methodology, with the use of estimator Kernel, to estimate the densities of workers’ income.
The results are visual and qualitative and show that some categories had significant changes in the ratio of workers with lesser or equal than a minimum wage and others experienced a strong flow of workers with bigger than two minimum wages in direction to incomes between one and two minimum wages and lesser incomes that a minimum wage.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com
carteira ... 22
FIGURA 2 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores sem
carteira... ... 24
FIGURA 3 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores sem grau de
instrução ... 25
FIGURA 4 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com grau de
instrução 1 a 4 anos... 27
FIGURA 5 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com grau de
instrução 5 a 8 anos... 28
FIGURA 6 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com grau de
instrução 9 a 11 anos ... 29
FIGURA 7 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com grau de instrução 12 anos ou mais ... 30 FIGURA 8 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do sexo
masculino ... 32
FIGURA 9 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do sexo
feminino ... 33
FIGURA 10 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da raça
branca ... 34
FIGURA 11 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da raça preta
e outros ... 35
FIGURA 12 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do nordeste . 37 FIGURA 13 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do sudeste ... 38 FIGURA 14 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da
agricultura ... 40
FIGURA 15 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da indústria . 41 FIGURA 16 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da construção
civil ... 42
FIGURA 17 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do comércio 43 FIGURA 18 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do serviço ... 44 FIGURA 19 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da
administração pública ... 45
FIGURA 20 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores na faixa etária de 16 a 25 anos ... 47 FIGURA 21 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores na faixa etária
de 26 a 35 anos ... 48 FIGURA 22 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores na faixa etária
de 36 a 45 anos ... 49 FIGURA 23 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores na faixa etária
de 46 a 55 anos ... 50 FIGURA 24 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores na faixa etária
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Percentual de trabalhadores com carteira segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 22 TABELA 2 - Percentual de trabalhadores sem carteira segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003 ... 23 TABELA 3 - Percentual de trabalhadores sem grau de instrução segundo
faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 25
TABELA 4 - Percentual de trabalha dores com grau de instrução 1 a 4 anos segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 26 TABELA 5 - Percentual de trabalha dores com grau de instrução 5 a 8 anos
segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 28 TABELA 6 - Percentual de trabalhadores com grau de instrução 9 a 11 anos
segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 29 TABELA 7 - Percentual de trabalha dores com grau de instrução 12 anos ou
mais segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 30 TABELA 8 - Percentual de trabalhadores do sexo masculino segundo faixa
de renda para os a nos de 1995 e 2003 ... 31 TABELA 9 - Percentual de trabalhadores do sexo feminino segundo faixa
de renda para os a nos de 1995 e 2003 ... 33 TABELA 10 - Percentual de trabalhadores da raça branca segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003 ... 34 TABELA 11 - Percentual de trabalhadores da raça preta e outros segundo
faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 35
TABELA 12 - Percentual de trabalhadores do nordeste segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003 ... 37 TABELA 13 - Percentual de trabalhado res do sudeste segundo faixa de renda
para os anos de 1995 e 2003 ... 38 TABELA 14 - Percentual de trabalhadores da agricultura segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003 ... 40 TABELA 15 - Percentual de trabalhadores da indústria segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003 ... 41 TABELA 16 - Percentual de trabalhado res da construção civil segundo faixa
de renda para os a nos de 1995 e 2003 ... 42 TABELA 17 - Percentual de trabalhadores do comércio segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003 ... 43 TABELA 18 - Percentual de trabalhadores do serviço segundo faixa de renda
para os anos de 1995 e 2003 ... 44 TABELA 19 - Percentual de trabalhadores da administração pública segundo
faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 45
TABELA 20 - Percentual de trabalhado res na faixa etária de 16 a 25 anos segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 47 TABELA 21 - Percentual de trabalhado res na faixa etária de 26 a 35 anos
segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 48 TABELA 22 - Percentual de trabalhado res na faixa etária de 36 a 45 anos
segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 49 TABELA 23 - Percentual de trabalhado res na faixa etária de 46 a 55 anos
segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003 ... 50 TABELA 24 - Percentual de trabalhado res na faixa etária maior que 55
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS... 6
LISTA DE TABELAS... 7
INTRODUÇÃO... 9
1. REVISÃO DE LITERATURA... 12
1.1.Política e Evolução do Salário Mínimo no Brasil - Histórico... 12
1.2.Estudos realizados... 14
2. METODOLOGIA... 17
2.1.Introdução... 17
2.2.Estimador de Kernel... 17
3. DADOS AMOSTRAIS... 19
4. RESULTADOS DA ESTIMAÇÃO DAS DISTRIBUIÇÕES DE RENDA... 21
CONCLUSÕES... 53
BIBILIOGRAFIA... 55
9
INTRODUÇÃO
O salário mínimo brasileiro foi instituído no início dos anos 40
como remunerador mínimo capaz de satisfazer as necessidades básicas de
alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte, para todo trabalhador
adulto, independente de seu sexo, ou região de moradia. Apesar desta
definição, nem sempre seu valor foi fixado para alcançar estes objetivos. De
fato, outros fatores de natureza econômica e social, têm influenciado
significativamente as políticas de fixação do valor do salário mínimo no
Brasil, como se verificou na década de 80 e início da década de 90, quando
foi usado para políticas de estabilização da economia, para contenção da
inflação e servir como indexador dos salários.1
Os efeitos da evolução do salário mínimo sobre a distribuição de
renda e mercado de trabalho na teoria econômica são controversos, em virtude
do seu papel na determinação da taxa de salários, nível de emprego,
distribuição da renda, combate à pobreza e grau de incidência nas diversas
categorias de trabalhadores. Do ponto de vista da condução da política de
rendas e de emprego, essa investigação assume grande importância, uma vez
que o salário mínimo é uma variável institucional passível de alterações via
política econômica, podendo afetar de modo significante as variáveis
envolvidas. Conhecer a forma como o salário mínimo se diferencia quanto à
sua incidência em diversas características do trabalhador ou do seu posto de
trabalho, tais como sexo, cor, nível educacional, idade, setor de atividade,
permite que políticas públicas possam ser direcionadas para reduzir as
desigualdades encontradas.
Dado que nos últimos anos o salário mínimo vem experimento um
expressivo aumento no seu valor real, ao mesmo tempo em que a inflação vem
se mantendo em níveis aceitáveis e estáveis, parece oportuno analisar os
efeitos que o aumento real do salário mínimo no período de 1995 a 2003 tenha
porventura provocado sobre a distribuição de renda.
_______________________
1
N é r i, G o n z a g a e Ca m a r g o ( 2 0 0 0 ) r e a l iz a r a m e s tu d o o n d e o b s e r v a m r e mu n e r a ç õ e s q u e
10
Entre outros, pode-se destacar os seguintes estudos relacionados ao
salário mínimo: Reis e Ramos (1993) traçam um perfil de quem ganha salário
mínimo no Brasil. Barros Corseuil e Mendonça (1999) fazem uma análise da
estrutura salarial brasileira, Chagas (2001) elabora estudo sobre a importância
do salário mínimo na economia, através da análise de dados. Soares (2002)
em seu trabalho “Impactos distributivos do Salário Mínimo”, além de
analisar o impacto na distribuição de renda, também analisa a incidência do
salário mínimo por décimos de renda para diversas categorias de
trabalhadores.
Tendo como base o preço da mão de obra pouco qualificada, o
salário mínimo tem efeitos diversos sobre o mercado de trabalho e, portanto
sobre a economia. Mudanças em seu valor alteram o preço relativo do fator
trabalho e ocasionam elevação de custos para as empresas. Desta forma,
elevações provocam ajustes, alterando de modo significativo o nível de
salário e emprego, a qualificação média da mão de obra, o nível de lucros, a
taxa de inflação, grau de informalidade, entre outros. A combinação desses
efeitos faz com que o salário mínimo provoque alterações sobre a estrutura de
renda e emprego da economia.
Os efeitos da evolução do salário mínimo no mercado de trabalho e
na distribuição de renda são muito controversos Alguns defendem que são
benéficos outros não, além de divergirem quanto à magnitude do efeito. Na
defesa do salário mínimo, há os que afirmam que a fixação de um salário
mínimo tem impactos positivos na distribuição da renda, uma vez que os
rendimentos dos trabalhadores com salários inferiores ao mínimo seriam
arrastados para o novo valor ou estariam, de certa forma, indexados a este,
protegendo os trabalhadores menos capazes, de baixa produtividade, não
organizados através de acordos coletivos, ou ainda sob o poder de patrões que
exercem um certo poder monopsônico. O salário mínimo também serve como
um mecanismo de elevação da eficiência econômica, uma vez que a
produtividade de um trabalhador é, em geral, direta ou indiretamente afetada
pelo seu salário.
Do outro lado, os que não defendem, postulam que o salário mínimo
11
sobre os trabalhadores menos qualificados, não necessariamente atinge
aqueles que fazem parte das famílias mais pobres, pois muitos trabalhadores
de baixa renda estão na informalidade ou trabalham por conta própria.
Nesse estudo a estimação das distribuições dos rendimentos dos
trabalhadores foi executada utilizando-se metodologia não-paramétrica, com
uso do estimador de Kernel (função núcleo), de modo a produzir gráficos
representando funções densidade de probabilidade. Os dados foram extraídos
das PNADs dos anos de 1995 e 2003. Os resultados são eminentemente
visuais e qualitativos.
Este trabalho está dividido quatro capítulos, além desta introdução,
que expõe o objetivo do trabalho, e coloca as principais questões que
envolvem o salário mínimo. O primeiro capítulo faz uma revisão da literatura
sobre os diversos estudos envolvendo os impactos do salário mínimo no
mercado de trabalho e na distribuição de renda, antecedidos de um histórico
da evolução do valor do salário mínimo nas últimas décadas no Brasil. Isso
permitirá ao leitor verificar a abrangência e magnitude dos efeitos do salário
mínimo e das políticas implementadas. No segundo e terceiro capítulos
descreve-se, respectivamente, a metodologia usada e a descrição dos dados
amostrais. No quarto capítulo são apresentados os resultados obtidos. Por fim
12
1.
REVISÃO DE LITERATURA1.1. Política e Evolução do Salário Mínimo no Brasil - Histórico
O primeiro salário mínimo foi fixado em 1º de maio de 1940, tendo
valores diferenciados por regiões (vinte e duas) e zonas (sub-regiões), após
estudo realizado por uma comissão composta de trabalhadores e
empregadores, respaldados pelo censo realizado pelo Serviço de Estatística da
Previdência e Trabalho (SEPT).
Ao longo de sua trajetória vários fatores influenciaram a fixação do
valor do salário mínimo tanto para valores mais próximos às necessidades
mínimas do trabalhador, como para valores mais distantes. Entre outros
podemos citar; i) aumento dos custos das empresas, o que propicia aumento
da taxa de desemprego, grau de informalidade e redução da massa salarial, ii)
impacto sobre taxa de inflação, seja pelo aumento da\demanda agregada, seja
através das empresas que têm que repassar o aumento de custos ao produto,
depreciando em um segundo momento o valor do salário do trabalhador, iii)
aumento do déficit público, o que exigiria ações por parte do governo para
alcançar o equilíbrio, como aumento de impostos. iv) necessidade de melhorar
a distribuição de renda e nível de pobreza, dado aos indicadores negativos
nesta área.
Vale ressaltar que além destes fatores, outros motivos têm afetado a
fixação do seu valor como; i) caráter mais populista ou conservador do
governo ii) grau de participação dos trabalhadores no cenário político do
Brasil.
Em seus primeiros 11 anos (1940 - 1951) o salário mínimo teve seu
valor real expressivamente reduzido dado o grande aumento do custo de vida
no período. Esta fase foi caracteriza pela mudança na orientação política do
governo com a substituição de um governo paternalista (Getúlio Vargas) por
um governo com idéias mais liberais (Eurico Gaspar Dutra), deixando de dar
ênfase à política de salário mínimo. Também neste período podemos citar
como fator importante, a pouca atuação do movimento sindical, imposta pela
13
No período de 1952 a 1961 o salário mínimo volta a recuperar seu
valor real, com o retorno de Getúlio Vargas ao poder, seguido de Juscelino e
João Goulart, que apresentaram um caráter mais social aos seus governos,
além do grande progresso dado à indústria brasileira. Neste período se
observa uma freqüência maior de reajustes, ao ponto do seu valor real
alcançar o patamar mais alto da história. Vale ressaltar que neste período se
observa uma atuação mais forte do movimento sindical.
Nos próximos 12 anos (1962 a 1973) o valor real do salário mínimo
foi degradado graças à aceleração inflacionária. Com o golpe de 1964, mais
uma vez a orientação política do salário mínimo mudou de rumo. Acreditando
que a escalada inflacionária era em parte decorrente dos reajustes no salário
mínimo, o governo adotou uma forte política de estabilização, baseado no
controle dos reajustes deste e desvinculando-o da inflação passada. Neste
período, mais precisamente no governo Médici, o aumento da repressão
política, reduziu drasticamente a atuação dos movimentos sindicais. É notório
que neste período o salário mínimo deixou de ser uma política social para
servir de instrumento de estabilização de preços.
No período que se seguiu (1974 a 1982) o salário mínimo
experimento ligeira recuperação nos primeiros anos do governo Geisel,
acompanhando a inflação nos anos subseqüentes a 1975. Esta recuperação
pode ser explicada pela distensão política que foi sendo implementada e
principalmente na virada dos anos 80, quando o movimento sindical ressurgiu.
De 1983 a 1995 a política de salário mínimo teve que se adequar às
constantes políticas de estabilização de preços, dada à nova escalada
inflacionária que caracterizou o período, provocando novo declínio no seu
valor real. Vale ressaltar que, como as aposentadorias e pensões cada vez
mais estavam vinculadas ao valor do salário mínimo, o governo passou a levar
em conta, na sua política de salário mínimo, o crescente déficit fiscal.
No período de 1996 até o presente momento, o salário mínimo vem
14
1.2. Estudos Realizados
Vários estudos foram realizados nas últimas décadas com relação
aos efeitos que o salário mínimo provoca na distribuição de renda, mercado
de trabalho e taxa de salário, sendo que, as conclusões não são unânimes e
bem longe disto, são bastante controversas e algumas vezes até inconclusivas.
Apresentamos a seguir um breve resumo de alguns desses estudos e suas
conclusões.
Distribuição de Renda
Cardoso (1993) encontra evidências de que maiores valores do
salário mínimo estão associados a maiores valores do índice de desigualdade
(Gini e Theil), já para Hoffmann (1998) esta relação é negativa. Ramos e Reis
(1994) e Barros (1998) mostram que aumento no salário mínimo tem efeito
muito fraco sobre a distribuição de renda das famílias. Néri (1997) mostra
uma relação negativa entre proporção de pobres e salário mínimo. Néri (1997)
e Néri, Gonzaga e Camargo (2000) mostram que aumento do salário mínimo
terá impacto razoável sobre a distribuição de renda dos indivíduos ocupados.
Soares (1998), Fajnzylber (2001) e Lemos (2001) também encontram impactos
fortes, principalmente nos indivíduos nas piores posições da distribuição de
renda. Reis e Ramos (1994) se mostram pessimistas quanto uma possível
melhora distributiva. Os resultados de Barros, Corseuil e Cury (2000)
sugerem inexpressivos impactos do salário mínimo sobre a pobreza e até
mesmo que, aumentos no salário mínimo elevariam a pobreza caso não
houvesse reajustes de aposentadorias vinculadas ao mínimo. Segundo Néri,
Gonzaga e Camargo (2001), a pobreza diminui para o âmbito de trabalhadores
sem carteira e autônomos, porém com importante contribuição dos efeitos
sobre os trabalhadores informais. No trabalho de Barros, Corseuil e Cury
(2001), nota-se uma redução da desigualdade salarial entre trabalhadores
formais, porém não se repete entre trabalhadores informais. Soares (2002)
conclui que o salário mínimo exerce influência sobre a distribuição de renda
individual, sendo mais relevante para as categorias de trabalhadores com
15
Mercado de Trabalho
Foguel (1997) mostra que um aumento no salário mínimo tende a
elevar o aumento de inativos e desocupados. Soares (1998) conclui que o
salário mínimo teve um comportamento reativo ao mercado de trabalho ao
longo dos anos 90. Lemos (2001) estima que aumentos no salário mínimo
tendam a comprimir a distribuição de salários, com efeitos adversos sobre o
nível de emprego.
Foguel, Ramos e Carneiro (2001) mostram um impacto negativo do
salário mínimo sobre o emprego no setor formal da economia, no longo prazo,
o contrário ocorrendo para os empregados do setor informal. Os resultados de
Fajnzylber (2001) apontam efeitos negativos e modestos para os empregados
com carteira, e também negativos, porém de magnitude maior, para os
sem-carteira e autônomos com relação à elasticidade-emprego do salário. Os
resultados de Corseuil e Morgado (2001) são inconclusivos na avaliação do
efeito do salário mínimo sobre o emprego no período estudado (1995 a 1999).
Barros, Corseuil e Cury (2001), no seu trabalho de simulação sem benefícios
previdenciários, encontraram uma queda no emprego para os trabalhadores
que receberam aumento de salário via propagação do aumento do salário
mínimo, sendo estes os de menor qualificação.
Taxa de Salários
Macedo e Garcia (1978) argumentam que o salário mínimo pouco
afeta o mercado de trabalho, principalmente trabalhadores não-qualificados.
Souza e Baltar (1979) defendem que o salário mínimo determina a taxa de
salário, sendo esta um farol para as remunerações dos trabalhadores
não-qualificados. Bacha e Taylor (1978) investigam a relação entre salário
mínimo e salário médio, mostrando um coeficiente positivo e de magnitude
significativa para o salário mínimo numa regressão que tem como variável
dependente o salário médio. Drobny e Well (1983) concluem que a taxa de
salários para a mão de obra não-qualificada nas empresas do setor formal da
16
que o resultado da estimação das equações para o caso dos empregados com
carteira confirma a relevância do salário mínimo na determinação do salário
médio dos trabalhadores não-qualificados. Para os trabalhadores sem carteira
os resultados são inconclusivos.
Carneiro e Faria (1997) e Carneiro e Henley (1998) concluíram que
o salário mínimo foi um importante determinante do nível médio dos salários
durante os anos 80, sendo que essa importância foi sendo gradualmente
reduzida nos anos 90. Lemos (1997) mostrou que o salário mínimo afeta
positivamente os outros salários na economia por um período de cinco
17
2.
METODOLOGIA2.1. Introdução
A metodologia usada nesse estudo foi a não paramétrica, com
utilização do estimador de Kernel (função núcleo), de modo a produzir
gráficos de funções densidades de probabilidade.
A técnica de regressão não paramétrica permite hipóteses menos
rígidas com relação à distribuição e maior flexibilidade na possível forma da
função densidade de probabilidade, permitindo, por exemplo, que a
distribuição pertença à família de funções diferenciáveis e de quadrado
integrável. A escolha da distribuição se dá em relação ao grau de suavidade
que a função de regressão pode ter. Esta técnica de regressão não paramétrica
utiliza muito mais informações oriundas dos dados para estimar a função de
regressão do que as técnicas paramétricas. Porém, seus estimadores são menos
eficientes.
2.2. Estimador de Kernel
A definição de um estimador de Kernel ou função de núcleo é a de
uma função contínua, limitada e simétrica, com a propriedade de que sua
integral indefinida é igual a 1;
0 0 0 )
0
1
( ) lim ( ( , 2
h
z P z z h
h
→
= ∈ − z +h
∫
K u du( ) =1f
Esta propriedade permite construir um estimador para uma função
densidade, pois a função densidade de um escalar Z no ponto z0 pode ser
aproximada por;
0 0
0
1
( ) lim ( ( , )
2
h
0
f z P z z h z
h
→ h
= ∈ − +
e um estimador para f(z0) ser dado por:
( )
(
(
0 0)
)
0
,
ˆ ,
2
z z h z h f z z
hn
# ∈ − +
=
Usando estas propriedades, a forma típica de um estimador de
18
( )
00
1
1
ˆ , n i
i
z z
f z z k
nh = h
− ⎛ ⎞
= ⎜ ⎟
⎝ ⎠
∑
onde utiliza-se como uma função de núcleo k(u):
( )
( )1,1( )
1 2
K u =
I
− uonde “I” é a função indicador. O núcleo usado foi do tipo Gaussiano, definido
por:
( )
1
2 2
2π exp u
⎛− ⎞ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ −
O estimador de kernel divide os dados em intervalos, associando um
número de observações “n” a cada intervalo “h”. Os intervalos são
superpostos e as observações ponderadas de acordo com sua distância em
relação ao ponto médio do intervalo.
Um fator fundamental no uso de estimadores de função densidade
usando núcleo é a escolha do parâmetro “h”. O parâmetro “h”, conhecido
como “parâmetro de suavização” ou “bandwidth”, controla a ponderação dada
aos pontos zi≠z0. O parâmetro “h” controla a vizinhança de pontos utilizados
na estimação de ^f (z0,z). Valores menores de “h” levam a um menor número
de pontos utilizado para estimação da densidade em torno do ponto z0, o que
faz com que a densidade estimada para os dados seja menos suave.
Pode-se adotar o critério de minimizar o Erro Quadrático Médio
Integrado (EQMI) para escolha do parâmetro “h”:
( )
( )
{
(
( )
)
}
2{
( )
( )
}
2( )
ˆ ˆ ˆ varˆ
EQMI f x =
∫
E f x− f x dx=∫
E f x⎣⎡ ⎦⎤− f x dx+∫
f x dxOs gráficos usados neste trabalho apresentam aproximadamente uma
distribuição normal da variável logaritmo neperiano do salário/hora, o que
levou à escolha do kernel gaussiano. Para este caso, segundo Silverman
(1986) o parâmetro de suavização ótimo é dado por:
1,5
0,9
otm
h = An− hotm 0, 9An 1,5
−
= (1)
Inicialmente os gráficos das funções densidades de probabilidade
foram calculados pela expressão (1), sendo então gradativamente suavizados
19
3.
DADOS AMOSTRAISFoi utiliza, como base de dados, as PNADs (Pesquisa Nacional de
Amostras por Domicílio) de 1995 e 2003. A variável escolhida para a
elaboração dos gráficos de distribuição, foi o rendimento mensal do trabalho
principal do ano, para pessoas de 10 anos ou mais, agrupada nas seguintes
categorias de trabalhadores e respectivos filtros:
¾ Estados das regiões NE e SE - não houve aplicação de filtros
¾ Gênero - não houve aplicação de filtros
¾ Idade - aplicação do filtro “idade ignorada”
¾ Raça - aplicação do filtro “raça ignorada”
¾ Anos de Estudo - aplicação do filtro “não determinado ou sem
declaração”
¾ Horas Trabalhadas - aplicação de filtros de modo a se obter tão
somente indivíduos que trabalham entre 40 e 44 horas semanais
¾ Posição no trabalho principal - aplicação dos filtros; “não
remunerado” e “sem declaração”
¾ Atividade no trabalho principal - aplicação dos filtros; “não
definido” e “não declarado”
¾ Rendimento do trabalho principal - aplicação dos filtros;
“ignorado” e “não aplicável”. O valor do rendimento de 2003 foi
deflacionado para setembro de 1995, utilizando-se o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Para elaboração dos gráficos “Trabalhadores com carteira e
Trabalhadores sem carteira” agruparam-se no primeiro os trabalhadores com
carteira, militares, funcionários públicos e trabalhadores domésticos com
carteira e no segundo grupo, trabalhadores sem carteira e doméstico sem
carteira.
No grupamento que deu origem ao gráfico de raças, no primeiro
ficaram somente os trabalhadores da raça branca e no seguinte os de cor ou
20
Foram escolhidas as regiões sudeste e nordeste, para elaboração dos
gráficos, por representarem a grande maioria da população brasileira.
Os gráficos que mostram os rendimentos de acordo com o grau de
instrução e idade estão divididos, respectivamente, em faixas de anos de
estudo e faixas etárias, usando o mesmo critério das PNADs.
Para elaboração dos gráficos dos setores de atividades, agruparam-se
os trabalhadores nas seguintes categorias:
¾ Agricultura
¾ Indústria de transformação e construção
¾ Construção civil
¾ Comércio
¾ Prestação de Serviços, alojamento e alimentação, educação, saúde
e serviços sociais, transporte, armazenagem e comunicações,
serviços domésticos, outros serviços coletivos e sociais e pessoais.
21
4.
RESULTADOS DA ESTIMAÇÃO DAS DISTRIBUIÇÕES DE RENDAOs gráficos das figuras de 01 a 24 mostram as densidades dos
rendimentos dos trabalhadores, estimadas pelo método de Kernel, conforme
explicitado no capítulo 02. Cada gráfico apresenta a função densidade de
probabilidade dos rendimentos padronizados dos trabalhadores para os anos
de 1995 (gráfico em azul) e 2003 (gráfico em vermelho), com demarcações
através de uma linha vertical contínua, para o valor do salário mínimo em
1995, e uma linha pontilhada para o ano de 2003. O pico em cada gráfico
representa o salário modal. De modo a tornar mais clara a análise, as tabelas
de 01 a 24 informam os percentuais de trabalhadores com renda menor que um
salário mínimo, igual a um salário mínimo, entre um e até dois salários
mínimos e renda maior que dois salários mínimos. Na última coluna é
apresentada a variação em pontos percentuais ocorrida no período para cada
categoria.
A análise é conduzida separando-se os trabalhadores nas seguintes
categorias: grau de formalidade, grau de instrução, gênero, raça, região,
atividade e faixa etária.
A análise, através da visualização gráfica (figuras de 01 a 24),
evidencia as principais alterações sofridas nas densidades dos rendimentos
dos trabalhadores em 2003, quando comparadas às densidades de 1995,
principalmente com relação ao valor do salário mínimo, salário modal e
intervalos de renda. Como já foi dito, as tabelas de 01 a 24 subsidiarão a
análise.
4.1. Categoria de Trabalhadores Segundo a Formalidade
Verifica-se, através da análise do gráfico da Figura 01, que o salário
modal para os trabalhadores com carteira permaneceu em R$ 206,54 para os
anos de 1995 e 2003. Dado que o salário mínimo experimentou um aumento
de 25,27% no período, visto pelas linhas verticais contínua e pontilhada, a
relação entre salário modal e salário mínimo é diferente para cada ano. (106%
22
sugere que a alteração sofrida no salário mínimo parece não ter exercido
influência relevante sobre esta categoria de trabalhadores.
É interessante notar que a curva vermelha, referente ao ano de 2003,
é mais estreita e com altura maior quando comparada à curva de 1995,
sugerindo uma melhor distribuição da renda para os trabalhadores com
carteira.
Analisando os dados apresentados na Tabela 01, merece destaque o
percentual de trabalhadores com carteira, ganhando exatamente um salário
mínimo em 2003 (11,9%), o que corresponde a uma expansão de 3,3 pontos
percentuais, quando comparado com 1995. Já o percentual de trabalhadores
ganhando menos que um salário mínimo não é relevante. A proporção para os
trabalhadores com renda entre um e até dois salários mínimos, expandiu-se
em 13,6 pontos percentuais, ao passo que, para trabalhadores com renda maior
que dois salários mínimos, houve retração de 14 pontos percentuais,
sugerindo um aumento do fluxo de trabalhadores com renda mais altas em
direção a rendas intermediárias, o que pode evidenciar uma piora na
distribuição da renda dessa categoria de trabalhadores.
TABELA 01 - Percentual de trabalhadores com carteira segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 1.0 % 1.4 % 0.4
Igual a 1SM 8.6 % 11.9 % 3.3
Entre 1SM até 2SM 34.1 % 47.7 % 13.6
Maior que 2SM 64.8 % 50.8 % -14.0
23
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 01 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com carteira
O gráfico da Figura 02 revela que o salário modal para os
trabalhadores sem carteira, praticamente coincide com o valor do salário
mínimo do ano correspondente, sendo de R$ 100,53 em 1995 e R$ 127,80 em
2003. Note-se que na faixa intermediária de renda a curva de 2003 se desloca
para a direita com relação à curva de 1995, acompanhando a variação do
salário mínimo. Isso sugere que esta categoria pode ter tido o salário mínimo
como indexador. Pode-se observar a elevada amplitude das curvas sobre o
valor do salário mínimo, indicando uma concentração da renda em torno desse
valor.
A simetria da curva em relação ao salário mínimo mostra que um
grande número de trabalhadores sem carteira percebe renda menor que um
salário mínimo. Para essa categoria, conforme os dados apresentados na
Tabela 02, em 2003 houve um incremento de 10,7 pontos percentuais com
relação a 1995. Nota-se também a grande quantidade de trabalhadores sem
carteira que ganham exatamente um salário mínimo (25,6% em 1995 e 19,2%
em 2003), e a variação negativa de 6,4 pontos percentuais ocorrida no
período. Da mesma forma, houve retração no percentual de trabalhadores
ganhando entre um e até dois salários mínimos e mais que dois salários
mínimos. Em outras palavras, a expansão ocorrida no número de trabalhadores
com renda menor que um salário mínimo, cedeu em detrimento dos
24
indicativo da piora na distribuição de renda para essa classe de trabalhadores
sem carteira.
TABELA 02 - Percentual de trabalhadores sem carteira segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 22.7 % 33.3 % 10.7
Igual a 1SM 25.6 % 19.2 % -6.4
Entre 1SM até 2SM 55.3 % 48.2 % -7.2
Maior que 2SM 22.0 % 18.5 % -3.5
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 02 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores sem carteira
Na comparação entre trabalhadores com e sem carteira, verifica-se
que o percentual de trabalhadores sem carteira com renda igual ou menor que
o salário mínimo é significantemente mais elevado que o percentual de
trabalhadores com carteira, sugerindo que trabalhadores sem carteira são mais
sensíveis às políticas relacionadas ao salário mínimo.
4.2. Categoria de Trabalhadores Segundo o Grau de Instrução
Assim como ocorreu com trabalhadores sem carteira, o salário modal
(R$ 101,95 em 1995 e R$ 125,70 em 2003) para os trabalhadores sem grau de
instrução também é muito próximo ao valor do salário mínimo do ano
25
que, na faixa intermediária da renda, o gráfico de 2003 se desloca para a
direita com relação ao gráfico de 1995, acompanhando a variação do salário
mínimo, o que sugere que esta categoria pode ter tido o salário mínimo como
indexador. Pode-se observar a elevada amplitude dos gráficos sobre o valor
do salário mínimo, indicando uma concentração da renda em torno desse
valor.
A simetria da curva em relação ao salário mínimo mostra que um
grande número de trabalhadores sem grau de instrução percebe renda menor
que um salário mínimo. Para essa categoria, conforme os dados apresentados
na Tabela 03, em 2003 houve um incremento de 15,5 pontos percentuais com
relação a 1995. Nota-se também, a grande quantidade de trabalhadores sem
grau de instrução que ganham exatamente o salário mínimo (18,8% em 1995 e
16,8% em 2003), e a variação negativa de 2,0 pontos percentuais ocorrida no
período. Da mesma forma, houve retração no percentual de trabalhadores
ganhando entre um e até dois salários mínimos e mais que dois salários
mínimos. Em outras palavras, a expansão ocorrida no número de trabalhadores
com renda menor que um salário mínimo, se deu em detrimento dos
trabalhadores que percebem renda igual ou maior que um salário mínimo. Isso
novamente evidencia que houve uma piora na distribuição da renda.
TABELA 03 - Percentual de trabalhadores sem grau de instrução segundo
faixa de renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 32.5 % 48.1 % 15.5
Igual a 1SM 18.8 % 16.8 % -2.0
Entre 1SM até 2SM 50.9 % 43.0 % -7.9
Maior que 2SM 16.5 % 9.0 % -7.6
26
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 03 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores sem grau de
instrução
O salário modal para os trabalhadores com grau de instrução de 1 a 4
anos é ligeiramente superior ao valor do salário mínimo do ano
correspondente, sendo de R$ 103,08 em 1995 e R$ 132,35 em 2003, conforme
apresentado no gráfico da Figura 04. Note-se que a curva referente ao ano de
1995 apresenta dois picos e que não são proeminentes, contrariamente à curva
de 2003, que apresenta um único pico e com altura elevada. Esta
diferenciação sugere que em 2003 houve uma concentração de trabalhadores
em torno de um único valor, qual seja o salário modal, caracterizado pelo pico
na curva de 2003, em contrapartida à dispersão da renda na faixa que abrange
os dois picos (salários modais) na curva de 1995.
Para esta categoria de trabalhadores, o gráfico já não possui a
mesma simetria com relação ao valor do salário mínimo, se comparado às
categorias de trabalhadores sem carteira e sem grau de instrução. Conforme os
dados da Tabela 04, o percentual de trabalhadores com renda igual ou menor
que o salário mínimo para o ano de 2003 é de 41,4%, tendo sofrido uma
expansão de 13,2 pontos percentuais com relação a 1995.
É interessante notar que, a proporção de trabalhadores em 2003, com
grau de instrução de 1 a 4 anos e com renda maior que dois salários mínimos,
27
TABELA 04 - Percentual de trabalhadores com grau de instrução 1 a 4 anos
segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 12.2 % 24.9 % 12.6
Igual a 1SM 15.9 % 16.5 % 0.6
Entre 1SM até 2SM 48.9 % 54.6 % 5.7
Maior que 2SM 38.8 % 20.5 % -18.3
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 04 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com grau de
instrução 1 a 4 anos
Verifica-se, através da análise do gráfico da Figura 05, que o salário
modal dos trabalhadores com grau de instrução de 5 a 8 anos, para o ano de
2003 (R$ 137,07) é menor que o salário modal de 1995 (R$ 154,39). Quando
comparado ao valor do salário mínimo do ano correspondente, o salário modal
de 1995 é 54,39% maior que o salário mínimo e o de 2003 é somente 10,30%
maior.
Note-se que a curva referente ao ano de 1995 apresenta dois picos e
que não são proeminentes, contrariamente à curva de 2003, que apresenta um
único pico e com altura elevada. Da mesma forma que na categoria de
trabalhadores com grau de instrução de 1 a 4 anos, esta diferenciação sugere
que em 2003, houve uma concentração de trabalhadores em torno de um único
valor, o salário modal, em contrapartida à dispersão da renda na faixa que
28
A Tabela 05 revela a expansão em 2003, do percentual de
trabalhadores com grau de instrução de 5 a 8 anos ganhando até dois salários
mínimos (19,8 p.p.), em contrapartida à retração (-19,8 p.p) ocorrida nos
trabalhadores que ganham mais que dois salários mínimos. Note-se a
proporção elevada de trabalhadores que ganham entre um e dois salários
mínimos (55,95%) em 2003.
TABELA 05 - Percentual de trabalhadores com grau de instrução 5 a 8 anos
segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 5.2 % 15.2 % 10.0
Igual a 1SM 14.7 % 15.8 % 1.0
Entre 1SM até 2SM 46.0 % 55.9 % 9.8
Maior que 2SM 48.8 % 28.9 % -19.8
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 05 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com grau de
instrução 5 a 8 anos
O gráfico da Figura 06 revela que o salário modal dos trabalhadores
com grau de instrução de 9 a 11 anos, para o ano de 2003 (R$ 214,97) é
menor que o salário modal de 1995 (R$ 293,68). Quando comparado ao valor
do salário mínimo do ano correspondente, o salário modal de 1995 é 193,68%
29
Percebe-se também que a curva referente ao ano de 2003 é mais
estreito e com altura maior com relação à curva de 1995, sugerindo uma
melhor distribuição da renda para os trabalhadores com grau de instrução de 9
a 11 anos. Nota-se que, para a curva de 2003, a renda é bem mais dispersa em
torno do salário modal se comparada às três últimas curvas de 2003 (Figuras
03, 04 e 05).
Analisando os dados apresentados na Tabela 06, merece destaque a
expansão em 2003, do percentual de trabalhadores com renda até dois salários
mínimos (23,7 p.p.), em contrapartida à retração (-23,7 p.p.) ocorrida no
número de trabalhadores que ganham mais que dois salários mínimos. Note-se
a proporção elevada de trabalhadores com renda maior que um salário mínimo
(82,0%) em 2003.
TABELA 06 - Percentual de trabalhadores com grau de instrução 9 a 11 anos
segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 1.3 % 5.8 % 4.4
Igual a 1SM 7.5 % 12.3 % 4.9
Entre 1SM até 2SM 28.2 % 47.6 % 19.3
Maior que 2SM 70.4 % 46.7 % -23.7
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 06 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com grau de
30
A análise do gráfico da Figura 07 mostra um deslocamento para a
esquerda de praticamente toda a curva para o ano de 2003 quando comparado
à de 1995, o que sugere uma perda na renda de todos os trabalhadores com
grau de instrução de 12 anos ou mais no período analisado. Note-se que o
pico dos gráficos não é acentuado, caracterizando uma melhor dispersão da
renda.
É interessante notar, através dos dados apresentados na Tabela 07,
que um pequeno percentual de trabalhadores desta categoria recebe até um
salário mínimo (2,4% em 2003), sugerindo que alterações no valor do salário
mínimo pouco alteram a distribuição da renda desta categoria. Os dados da
tabela 07 confirmam isso com os trabalhadores dessa categoria percebendo
uma perda na renda, dada a redução em 8,1 pontos percentuais na proporção
de trabalhadores com renda maior que dois salários mínimos.
TABELA 07 - Percentual de trabalhadores com grau de instrução 12 anos ou
mais segundo faixa de renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 0.2 % 0.7 % 0.5
Igual a 1SM 1.2 % 1.7 % 0.5
Entre 1SM até 2SM 5.4 % 12.9 % 7.6
Maior que 2SM 94.4 % 86.3 % -8.1
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
a b
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 07 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores com grau de
31
Em suma, o percentual de trabalhadores percebendo renda até um
salário mínimo é acentuado para os trabalhadores com graus de instrução até
oito anos, ressaltando-se que, no período analisado, houve um incremento em
todas as faixas, no percentual de trabalhadores ganhando menos que um
salário mínimo em detrimento de uma redução no percentual de trabalhadores
com renda maior que dois salários mínimos. Isso evidencia uma piora na
distribuição da renda dessa categoria de trabalhadores.
4.3. Categoria de Trabalhadores Segundo o Gênero
O gráfico da Figura 08 apresenta duas modas para a distribuição de
renda dos trabalhadores do sexo masculino, uma próxima ao valor do salário
mínimo e outra próxima a dois salários mínimos. O salário modal (pico mais
elevado) para o ano de 2003 (R$ 139,98) é significantemente menor que o
salário modal de 1995 (R$ 210,50) além de se aproximar do valor do salário
mínimo. Quando comparado ao valor do salário mínimo do ano
correspondente, o salário modal de 1995 é 110,5 % maior que o valor do
salário mínimo, ao passo que, o de 2003 é somente 11,74% maior. A ausência
de um pico com altura elevada e presença de dois picos próximos um do
outro, indica uma maior dispersão da renda em torno do salário modal.
Analisando os dados apresentados na Tabela 08, merece destaque a
expansão de 5,8 pontos percentuais ocorrida no período para os trabalhadores
com renda menor que um salário mínimo, em contrapartida à retração em 11,6
pontos percentuais ocorrida nos trabalhadores que ganham mais que dois
salários mínimos.
Note-se a proporção elevada de trabalhadores com renda maior que
32
TABELA 08 - Percentual de trabalhadores do sexo masculino segundo faixa
de renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 9.1 % 14.9 % 5.8
Igual a 1SM 10.2 % 10.1 % -0.1
Entre 1SM até 2SM 34.7 % 40.5 % 5.8
Maior que 2SM 56.2 % 44.7 % -11.6
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 08 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do sexo
masculino
O gráfico da Figura 09 revela que o salário modal dos trabalhadores
do sexo feminino para o ano de 2003 (R$ 133,02) é maior que o salário modal
de 1995 (R$ 102,77), percebendo um incremento de 29,43% no período. Além
de ser bem próximo ao valor do salário mínimo do ano correspondente, seu
incremento no período também foi próximo ao incremento experimentado no
salário mínimo (25,27%).
Note-se que a curva referente ao ano de 1995 apresenta dois picos
não tão proeminentes, contrariamente à curva de 2003, que apresenta um
único pico e com altura elevada. Esta diferenciação sugere que em 2003,
houve uma concentração de trabalhadores recebendo em torno de um único
valor, o salário modal, em contrapartida à dispersão da renda na faixa que
abrange os dois salários modais da curva de 1995.
A Tabela 09 revela a expansão em 2003 do percentual de
33
um e dois salários mínimos (5,9 p.p.), em contrapartida à retração ao
percentual de trabalhadores ganhando mais que dois salários mínimos (-10,2
p.p.). É interessante notar o percentual demasiadamente alto de trabalhadores
com renda até dois salários mínimos (62,6% em 2003).
TABELA 09 - Percentual de trabalhadores do sexo feminino segundo faixa
de renda para os anos de 1995 e 2003
Trabalhadores Sexo Feminino 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 7.6 % 11.9 % 4.3
Igual a 1SM 15.8 % 16.0 % 0.3
Entre 1SM até 2SM 44.8 % 50.7 % 5.9
Maior que 2SM 47.7 % 37.4 % -10.2
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 09 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do sexo feminino
Na comparação, analisando especificamente o ano de 2003,
constata-se que um percentual maior de trabalhadores do constata-sexo masculino percebe renda
menor que um salário mínimo. Ao se incluir o salário mínimo ocorre uma
inversão, o percentual dos trabalhadores do sexo feminino passa a ser maior.
Para renda entre um e dois salários mínimos, o percentual de trabalhadores é
maior para o sexo feminino, invertendo-se para rendas maiores que dois
salários mínimos. De um modo geral, as variações em pontos percentuais
foram similares nas faixas de rendas analisadas, segundo o gênero dos
34
4.4. Categoria de Trabalhadores Segundo a Raça
Verifica-se, através da análise do gráfico da Figura 10, que o salário
modal para os trabalhadores da raça branca permaneceu em R$ 214,75 para os
anos de 1995 e 2003. Dado que o salário mínimo experimentou um aumento
de 25,27% no período, o percentual do salário modal com relação ao valor do
salário mínimo decresceu no período, caindo de 114,75% para 71,43%. A
permanência do salário modal no mesmo valor sugere que a alteração do valor
do salário mínimo parece não exercer influência forte sobre esta categoria de
trabalhadores.
Percebe-se também que a curva referente ao ano de 2003 é mais
estreita e com altura maior com relação à curva de 1995, sugerindo uma
melhor distribuição da renda para os trabalhadores da raça branca.
Merece destaque, conforme os dados apresentados na Tabela 10, a
expansão de 11,5 pontos percentuais ocorrida no período, para os
trabalhadores ganhando renda até dois salários mínimos, mediante à retração
de 11,5 pontos percentuais para rendas maiores que dois salários mínimos,
sugerindo um fluxo de trabalhadores com renda mais alta em direção às
rendas intermediárias. Note-se que mais da metade dos trabalhadores desta
categoria, percebem renda superior a dois salários mínimos.
TABELA 10 - Percentual de trabalhadores da raça branca segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 4.4 % 7.6 % 3.2
Igual a 1SM 8.6 % 8.8 % 0.2
Entre 1SM até 2SM 31.5 % 39.8 % 8.3
Maior que 2SM 64.1 % 52.6 % -11.5
35
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 10 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da raça branca
A análise do gráfico da Figura 11 mostra que, o salário modal dos
trabalhadores da raça preta e outras para o ano de 2003 (R$ 132,35) é maior
que o salário modal de 1995 (R$ 104,63), percebendo um incremento de
26,50% no período. Além de ser bem próximo ao valor do salário mínimo do
ano correspondente, seu incremento no período, também foi próximo ao
incremento experimentado no salário mínimo (25,27%).
Os dados da Tabela 11 mostram a expansão de 10 pontos percentuais
ocorrida no percentual de trabalhadores com renda até dois salários mínimos
em contrapartida aos que ganham mais que dois salários mínimos. É
interessante notar o percentual demasiadamente alto de trabalhadores com
renda até dois salários mínimos (70,50% em 2003).
TABELA 11 - Percentual de trabalhadores da raça preta e outros segundo
faixa de renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 13.9 % 20.8 % 6.9
Igual a 1SM 16.6 % 16.5 % -0.1
Entre 1SM até 2SM 46.6 % 49.7 % 3.1
Maior que 2SM 39.5 % 29.5 % -10.0
36
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 11 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da raça preta e
outros
Na comparação das duas categorias, analisando especificamente o
ano de 2003, percebe-se que o percentual de trabalhadores da raça preta e
outras que ganham até um salário mínimo é muito maior que os da raça branca
(37,3% contra 16,4%), ocorrendo uma inversão para os trabalhadores que
ganham mais dois salários mínimos (29,5% contra 52,6%). Outro ponto que
merece destaque é o salário modal, que na raça branca é bem superior ao
valor do salário mínimo, contrariamente ao da raça preta e outras. No período
analisado, as duas categorias perceberam redução equivalente no percentual
de trabalhadores ganhando mais que dois salários mínimos, porém, nota-se
que a categoria de trabalhadores da raça preta e outras foi mais desfavorecida,
uma vez que o incremento no percentual de trabalhadores ganhando menos
que um salário mínimo foi maior que na raça branca (6,9% contra 3,2%).
4.5. Categoria de Trabalhadores Segundo a Região
O gráfico da Figura 12 revela que o salário modal para os
trabalhadores do nordeste, praticamente coincide com o valor do salário
mínimo do ano correspondente, sendo de R$ 101,75 em 1995 e R$ 129,08 em
2003. Note-se que, na faixa intermediária da renda, a curva de 2003 se
desloca para a direita com relação à curva de 1995, acompanhando a variação
37
como indexador. Pode-se observar a altura elevada das curvas no ponto onde a
renda é igual ao salário mínimo, indicando uma concentração da renda em
torno do seu valor.
A simetria da curva em relação ao salário mínimo mostra que um
grande número de trabalhadores do nordeste percebe renda menor que um
salário mínimo. Para essa categoria de trabalhadores, conforme os dados
apresentados na Tabela 12, em 2003 houve um incremento de 8,2 pontos
percentuais com relação a 1995. Nota-se também, o percentual alto de
trabalhadores com renda igual ao salário mínimo (19,3% em 2003),
ressaltando-se a expansão de 2,3 pontos percentuais ocorrida no período. A
expansão ocorrida nestas faixas foi em detrimento à retração verificada na
faixa onde a renda é maior que dois salários mínimos.
TABELA 12 - Percentual de trabalhadores do nordeste segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 21.7 % 29.9 % 8.2
Igual a 1SM 16.9 % 19.2 % 2.3
Entre 1SM até 2SM 45.5 % 45.3 % -0.2
Maior que 2SM 32.8 % 24.8 % -8.0
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
38
Verifica-se, através da análise do gráfico da Figura 13, que a
alteração do salário modal para os trabalhadores do sudeste foi mínima em
2003 quando comparado com o ano de 1995, sendo de R$ 211,98 para o ano
de 1995 e de 213,68 para o ano de 2003. Dado que o salário mínimo
experimentou um aumento de 25,27% no período, o percentual do salário
modal com relação ao valor do salário mínimo decresceu no período, caindo
de 111,98% para 70,58%. A mínima variação verificada no salário modal
sugere que a alteração do valor do salário mínimo parece não exercer
influência forte sobre esta categoria de trabalhadores.
Percebe-se também que a curva referente ao ano de 2003 é mais
estreita e com altura maior com relação à curva de 1995, sugerindo uma
melhor distribuição da renda para os trabalhadores do sudeste.
Analisando os dados apresentados na Tabela 13, merece destaque a
expansão em 10,9 pontos percentuais ocorrida no período, para os
trabalhadores com renda até dois salários mínimos, mediante à retração de
10,9 pontos percentuais para rendas maiores que dois salários mínimos.
TABELA 13 - Percentual de trabalhadores do sudeste segundo faixa de renda
para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 4.0 % 7.5 % 3.5
Igual a 1SM 11.2 % 9.7 % -1.5
Entre 1SM até 2SM 35.7 % 43.1 % 7.4
Maior que 2SM 60.3 % 49.4 % -10.9
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a P N A D .
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F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 13 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores do sudeste
Na comparação das duas categorias, analisando especificamente o
ano de 2003, percebe-se que o percentual de trabalhadores do nordeste que
ganham até um salário mínimo é muito maior que os do sudeste (49,2% contra
17,2%), ocorrendo uma inversão para os trabalhadores que ganham mais dois
salários mínimos (24,8% contra 49,4%). Outro ponto que merece destaque é o
salário modal, que no sudeste é bem superior ao valor do salário mínimo,
contrariamente ao do nordeste. No período analisado, as duas categorias
perceberam redução no percentual de trabalhadores ganhando mais que dois
salários mínimos (-10,9 p.p. no sudeste e -8,0 p.p. no nordeste), porém,
nota-se que a categoria de trabalhadores do nordeste foi mais desfavorecida, uma
vez que o incremento no percentual de trabalhadores ganhando até um salário
mínimo foi bem maior que no sudeste (10,5% contra 2,0%).
Note-se que a curva dos trabalhadores do sudeste é bastante
suavizada, contrariamente à do nordeste que apresenta um pico estreito e
elevado, indicando uma dispersão maior da renda dos trabalhadores do
sudeste.
4.6. Categoria de Trabalhadores Segundo a Atividade
O gráfico da Figura 14 revela que o salário modal para os
trabalhadores da agricultura, coincide com o valor do salário mínimo para o
40
que, na faixa intermediária da renda, a curva de 2003 se desloca para a direita
com relação à de 1995, acompanhando a variação do salário mínimo, o que
sugere que esta categoria pode ter o salário mínimo como indexador do seu
salário. Pode-se observar a elevada amplitude das curvas sobre o valor do
salário mínimo, indicando uma concentração da renda em torno do seu valor.
A simetria das curvas em relação ao salário mínimo mostra que um
grande número de trabalhadores da agricultura percebe renda menor que um
salário mínimo, ressaltando que, conforme os dados apresentados na Tabela
14, houve em 2003 um incremento de 16,1 pontos percentuais com relação a
1995. Note-se também, que o incremento no percentual de trabalhadores com
renda menor do que um salário mínimo foi em detrimento de todos os
trabalhadores com renda igual ou maior do que o salário mínimo,
destacando-se a retração de 12,1 pontos percentuais para os trabalhadores com renda
entre um e dois salários mínimos.
TABELA 14 - Percentual de trabalhadores na agricultura segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 40.7 % 56.8 % 16.1
Igual a 1SM 17.4 % 12.4 % -5.0
Entre 1SM até 2SM 45.4 % 33.3 % -12.1
Maior que 2SM 13.8 % 9.9 % -4.0
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
41
Verifica-se, através da análise do gráfico da Figura 15, que o salário
modal para os trabalhadores da indústria permaneceu em R$ 209,24 para os
anos de 1995 e 2003. Dado que, o salário mínimo experimentou um aumento
de 25,27% no período, o percentual do salário modal com relação ao valor do
salário mínimo decresceu no período, caindo de 109,24% para 67,03%. A
permanência do salário modal no mesmo valor sugere que a alteração do valor
do salário mínimo parece não exercer influência forte sobre esta categoria de
trabalhadores.
Percebe-se também que a curva referente ao ano de 2003 é mais
estreita e com altura maior com relação à curva de 1995, sugerindo uma
melhor distribuição da renda para os trabalhadores da indústria.
Merece destaque, conforme os dados apresentados na Tabela 15, a
expansão de 13,5 pontos percentuais ocorrida no período, para os
trabalhadores ganhando renda até dois salários mínimos, mediante à retração
de 13,5 pontos percentuais para rendas maiores que dois salários mínimos,
sugerindo um fluxo de trabalhadores com renda mais alta em direção às
rendas intermediárias. Note-se o percentual alto de trabalhadores com renda
entre um e dois salários mínimos (47,9%).
TABELA 15 - Percentual de trabalhadores na indústria segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 3.4 % 7.0 % 3.6
Igual a 1SM 9.2 % 9.9 % 0.7
Entre 1SM até 2SM 38.0 % 47.9 % 9.9
Maior que 2SM 58.6 % 45.2 % -13.5
42
FIGURA 15 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da indústria
A curva relativa ao ano de 1995 (gráfico da Figura 16), que
representa as densidades dos rendimentos dos trabalhadores da construção
civil apresenta uma disparidade muito grande com relação à curva de 2003, o
que nos impede de tecer algum comentário comparativo. Desta forma algumas
observações são feitas somente com relação à curva de 2003.
O salário modal em 2003 é de R$ 145,25, sendo 15,9% maior que o
valor do salário mínimo. O percentual de trabalhadores ganhando até um
salário mínimo é significante, sendo de 28,6%. Vale destacar o percentual de
trabalhadores ganhando entre um e dois salários mínimos (53%)
TABELA 16 - Percentual de trabalhadores na construção civil segundo faixa
de renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 4.0 % 17.4 % 13.4
Igual a 1SM 10.3 % 11.2 % 0.9
Entre 1SM até 2SM 28.1 % 53.0 % 24.9
Maior que 2SM 67.9 % 29.7 % -38.3
43
F o n t e : E l a b o r a ç ã o a p a r t i r d o s d a d o s d a s P N A D s d e 1 9 9 5 e 2 0 0 3 .
FIGURA 16 - Densidade dos rendimentos dos trabalhadores da construção
civil
A análise do gráfico da Figura 17 revela que o salário modal dos
trabalhadores do comércio para o ano de 2003 (R$ 142,66) é
significantemente menor que o salário modal de 1995 (R$ 200,63). Quando
comparado ao valor do salário mínimo, o salário modal de 1995 é 100,63%
maior que o salário mínimo e o de 2003 é somente 13,88% maior. A ausência
de um pico estreito e com altura elevada, indica uma maior dispersão da renda
em torno do salário modal.
Analisando os dados apresentados na Tabela 17, merece destaque a
expansão de 7,2 pontos percentuais ocorrida no período, para os trabalhadores
com renda menor que um salário mínimo, em contrapartida à retração em 14,9
pontos percentuais ocorrida nos trabalhadores que ganham mais que dois
salários mínimos. Note-se a proporção elevada de trabalhadores com renda
maior que um salário mínimo (76,6% em 2003).
TABELA 17 - Percentual de trabalhadores no comércio segundo faixa de
renda para os anos de 1995 e 2003
Faixa de Renda 1995 2003 Variação p.p.
Menor que 1SM 4.4 % 11.6 % 7.2
Igual a 1SM 11.8 % 11.8 % 0.0
Entre 1SM até 2SM 40.2 % 47.9 % 7.7
Maior que 2SM 55.4 % 40.5 % -14.9