A LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ N O P R O C E S S O D O TRABALHOC)
S É R G I O A N T Ô N I O M U R A D D
O s arts. 16 a 18 d o C P C definem o litigante de má-fé e as penas a que está sujeito, e o art. 3 5 esclarece q u e “A s sanções impostas às partes e m consequência de má-fé serão contadas c o m o custas e reverterão e m b e nefício d a parte contrária...". Tudo isso ent e n d e m o s c o m o aplicável ao pro
cesso d e conhecimento, já que, no "capuf d o art. 16, esclarece o legisla
dor q u e "responde por perdas e danos aquele q u e pleitear d e má-fé c o m o autor, réu ou interveniente”. Ora, o Código de Processo Civil d e 1973 é de muita precisão conceituai e, q u a n d o s e refere a autor, réu o u intervenien
te, limita-se a o processo d e conhecimento, já q u e n o processo d e e x e c u ção outras serão as denominações das partes: exeqüente e executado, e m - bargante e embargado, etc. ... e o processo d e execução t e m n o r m a pró
pria a respeito e, e m b o r a não use a expressão "litigante de má-fé”, precei
tua punição a o devedor q u e usa de má-fé nos termos dos arts. 599, 6 0 0 e 601; punição q u e não ó monetária, c o m o nos casos citados dos arts. 17 e 18, mas, sim, advertência e, se perseverar nestas práticas, o juiz, por d e cisão interlocutória, lhe proibirá falar nos autos.
Pergunta-se, então: “Aplicam-se subsidiariamente ao processo do tra
balho as condenações ao litigante de má-fé previstas no Processo Civil, c o m apoio no art. 7 6 9 d a CLT, tanto no processo d e conhecimento (reclamação trabalhista) c o m o n o d e execução, respectivamente c o m as p e n a s do art.
18 c o m b i n a d o c o m o art. 601, todos d o C P C ”?
Analisemos a questão separadamente: no processo d e c o n h e c i m e n to e n o d e execução. N o primeiro, a doutrina e a jurisprudência t ê m se m a - nisfestado, e m sua maioria, pela aplicação subsidiária dos multicitados ar-
(*) Artigo extraído da tese d o mestrado "Ca sos d e Exorbitância e Incompatibilidade n a Aplica
ção Subsidiária d o Direito Processual Civil a o Direito Processual d o Trabalho", defendida na Faculdade d e Direito da Universidade d e Allonas.
(••) Professor d e Direito d o Trabalho n a Faculdade d e Direito d a Universidade d e Alfenas — Juiz d o Trabalho Substituto d o T R T d a 15* Rogiâo — C a m p i n a s — SP.
34
tigos 17 e 18 d o C P C a o processo d o trabalho. O s juízes d o trabalho c o m formação mais civilista, c o m o aqueles q u e a d v o g a r a m muito t e m p o n o cí
vel o u q u e foram juízes d e Direito e optaram posteriormente peio judiciá
rio trabalhista, s ã o favoráveis à sua aplicação indiscriminada; alguns p o u cos, d e forma arbitrária, c h e g a m a a m e a ç a r os reclamantes e se u s procu
radores c o m a c o n d e n a ç ã o c o m o litigante d e má-fé caso não desistam de u m item ou outro d o pedido. M a s este último grupo, felizmente, é c o m p o s to d e u m a insignificante minoria. N a doutrina t a m b é m , a corrente majoritá
ria é francamente favorável à sua aplicabilidade no judiciário trabalhista tan
to para a reclamada quanto para o reclamante; outra corrente m e n o s repre
sentativa é favorável à s u a aplicação, apenas à reclamada; a terceira e m e nos expressiva e m números, representada por Wagner Giglio e Coqueijo Costa e à qual nos filiamos, entende que não é possível essa aplicação sub
sidiária.
Coqueijo Costa afirma textualmente(1): “a natureza d o direito substan
tivo e processual d o trabalho repele a a b o r d a g e m desse princípio n o foro trabalhista”.
Gigtid® coloca sua posição claramente contrária à aplicação das san
çõ e s previstas no C P C , ao foro trabalhista por incompatibilidade c o m nor
m a s e princípios q u e r e g e m o Direito Processual d o Trabalho, in verbis:
" O m i s s a a Consolidação, aplica-se o dever d e lealdade nos proces
sos q u e t ê m curso n o foro trabalhista. A maioria das sanções previstas p a ra coagir as partes a cumprir esse dever, entretanto, não p o d e ser invoca
d a por incompatibilidade c o m no r m a s e princípios que r e g e m o Direito Pro
cessual d o Trabalho.
Q u e m pleitear de má-fé c o m o autor, réu ou interveniente, segundo de termina o art. 16 do C P C , responderá por perdas e danos.
Ora, n o processo trabalhista, as perdas ou prejuízos de direito m a t e rial, sofridos pelo empregado, reclamante ou requerido, já estão cobertos pelas indenizações (lato sensu) prefixadas e m lei: acréscimo salarial por ser
viço insalubre, noturno, perigoso o u e m horário excedente a o normal; re
m u n e r a ç ã o e m dobro dos descansos (férias, domingos e feriados trabalha
dos) n ã o concedidos; indenizações (stricto sensu) calculadas “à forfait' por falta d e aviso prévio ou despedimento imotivado etc. E os prejuízos d e n a tureza processual já são, na maior parte, ressarcidos através d e c o n d e n a ç ã o d o e m p r e g a d o r n o p a g a m e n t o de juros moratórios, correção m o n e t á ria, custas e de s p e s a s processuais.
E m decorrência dos ressarcimentos devidos ao empregado, por m á - fé d o empregador, previstos n o art. 18 e esmiuçados no art. 20, § 2® d o no vo Código de Processo Civil, restam os honorários de advogado, q u e exa
m i n aremos a seguir (sub 5c), e algumas despesas. A s demais sanções re
sultam inaplicáveis n o processo trabalhista, pelas razões supra-expostas.
(1) "Direito Processual d o Trabalho". Forense. 3* edição. 1986, pág. 160.
(2) "Direito Processual d o Trabalho". LTr Editora. 5* edição. 1976. págs. 128 a 130.
N ã o fora suficiente, acrescente-se que as custas, n o processo traba
lhista, t ê m natureza jurídica d e taxa judiciária, p a g a só a final, pelo venci
do, c o m o vimos (retro, Cap. VII, sub 2), exceção feita às c h a m a d a s "cus
tas de execução" (idem, sub 2d). Sobre estas incide a penalidade consig
nada no C P C , gastos c o m traslados, fotocópias, certidões, instrumentos etc., efetuados pelo e m p r e g a d o e m decorrência d e má-fé d o empregador, serão indenizados, ou seja, reembolsados àqueles, nos próprios autos (CPC, art.
35); sobre aquelas, não, pois só e m hipótese cerebrina, inocorrente na prá
tica, seria o e m p r e g a d o totalmente vencido, para dispender a taxa judiciá
ria ressarcível, e m caso de má-fé c o m p r o v a d a d o empregador. D e resto, a n o r m a consolidada impõe o p a g a m e n t o das custas até o julgamento (ex
cluem-se, portanto, as "custas d e execução") pelo vencido, impedindo re
vertam e m favor deste e, via d e consequência, a aplicação subsidiária d o C P C , n o particular (CLT, art. 789, caput, e s e u § 4 B).
Qua n t o às despesas (CPC, art. 20, § 2S), deve o empregador d e má- fé indenizar o e m p r e g a d o pelas efetuadas c o m as viagens q u e este teve d e realizar para obter o reconhecimento judicial d e seu direito, b e m c o m o reembolsar-lhe o q u e dispendeu c o m a remuneração d e assistente técni
co (tradutor, intérprete, perito-assistente) e gastos c o m pareceres técnicos.
A s testemunhas, porém, não sofrerão desconto e m seus salários (CLT, art.
822), e por isso n ã o receberão diárias, no processo trabalhista.
Por outro lado, os danos causados pelo e m pregado a o direito material do empregador t a m b é m já estão previstos n a própria legislação trabalhista, que arrola, entre outras, as seguintes punições: advertência e suspensão dis
ciplinares, por infrações contratuais s e m maior gravidade; impedimento de movimentação dos depósitos do Fundo de Garantia do T e m p o d e Serviço (pa
ra o optante por esse regime) ou perda d a indenização (para o não-optan
te), e m caso d e infrações graves, determinantes d e despedimento; retenção d e salários para ressarcimento pela falta d e aviso prévio, nos casos d e res
cisão imotivada d o contrato por t e m p o indeterminado por iniciativa d o e m pregado; perda d a remuneração dos descansos, por falta o u atraso injusti
ficado n o ingresso e m serviço; dos dias d e férias, por faltas injustificadas e ainda os casos mais característicos de ressarcimentos dos danos causados por dolo do e m p r e g a d o (ou m e s m o simples culpa, havendo previsão contra
tual) por meio de descontos salariais (CLT, art. 462, § 1e); e indenização dos prejuízos derivados d a rescisão imotivada, por iniciativa d o emp r e g a d o , dos contratos por t e m p o inderterminado (idem, art. 480).
N o q u e tange aos danos processuais causados pelo empregado, a apli
c a ç ã o das s anções por má-fé encontra óbices ainda maiores nas n o r m a s trabalhistas, inspiradas n o princípio d e gratuidade d o processo. Assim, as penalidades consignadas no C P C n ã o se aplicam aos beneficiados pela as
sistência judiciária (vide item 5b, a seguir). L e m b r e m o s q u e estão e m c o n dição d e obter essa assistência, nos termos d a Lei n. 5.584, d e 26.6.70, a grande maioria dos empregados, muito e m b o r a a maior parte deles, até o m o m e n t o e m q u e escrevemos, n ã o reivindique esse benefício. Prognos- 3 6
ticamos, entretanto, que a tentativa de impor as sanções e m estudo aos e m pregados será frustrada, n o futuro, pelo a u m e n t o substancial dos pedidos de assistência”.
A l é m desses fortes argumentos trazidos por Giglio acrescentaríamos outros:
I — S e f o s s e m o s aplicar as s anções d e litigância d e má-fé a p e n a s contra a reclamada q u e t e m condições d e arcar financeiramente c o m as p e
nas previstas na legislação processual civil estaríamos violando o princí
pio da igualdade das partes no processo e us a n d o dois pesos e d u a s m e didas. Poderiam argumentar os defensores dessa posição que o Direito Pro
cessual d o Trabalho já trata desigualmente as partes, agindo c o m mais ri
gor e m face da parte mais forte que é a reclamada e e m favor d a mais fra
ca, o reclamante — e m p r e g a d o e poderiam até exemplicar c o m a a u s ê n cia à audiência inaugural, da reclamada provocando a con d e n a ç ã o à reve
lia e confissão quanto à matéria d e fato e à ausência d o reclamante, oca
sionando o simples arquivamento, na d a impedindo q u e no dia seguinte pro
p o n h a n o v a reclamação c o m o m e s m o pedido. Ocorre q u e esta diferença d e tratamento é autorizada pelo art. 8 4 4 d a C L T e, no direito brasileiro, o juiz só pode julgar por equidade qu a n d o expressamente autorizado por tex
to d e Lei.
O que autorizaria o juiz a julgar por eqüidade e aplicar as sanções da litigância d e má-fé apenas a o e m p r e g a d o r e n ã o ao e m p r e g a d o nas lides trabalhistas? Seria necessária n o r m a legal expressa nesse sentido, que não existe n o Direito pátrio.
II — O s egundo óbice são as próprias características d o processo do trabalho. É q u e o reclamante geralmente é pe s s o a m e n o s culta, q u e não t e m visão clara d e seus direitos: pensa ter muitos q u e n ã o existem e d e s c o n h e c e a maioria dos q u e realmente tem. Para nós q u e acreditamos que o art. 133 d a Constituição Federal d e 1988 não revogou o jus postulandi do art. 791 d a CLT, c o m o se condenar c o m o litigante de má-fé esse e m p r e g a d o q u e postula e m juízo s e m a orientação d e u m advogado? E m e s m o pa ra aqueles que a ele se dirigem a c o m p a n h a d o s de u m procurador, c o m o se evitar q u e informem de maneira imprópria direitos q u e vão ser pleiteados n a inicial e que realmente não tê m ? C o m o poderá o adv o g a d o filtrar todas as reivindicações do seu cliente quando este é muitas vezes incapaz de co locá-las de m o d o claro e inteligível? Nesses casos, só a s provas e m audiên
cia é q u e deixarão patente se existe o u não o direito pleiteado, e u m a con
d e n a ç ã o c o m o litigante de má-fé seria u m a terrível injustiça e feriria, c o m o quer Giglio, os princípios próprios do Direito do Trabalho.
III — Outro fator q u e nos c o n venceu d a inaplicabilidade dessa san
ç ã o no processo laborai é q u e n a maioria dos casos e m q u e o reclaman
te foi condenado, o foi c o m base na falta de fundamentação jurídica e m u m a sua pretensão. Ora, qual a n o r m a da C L T q u e exige esta fundamentação, e o seu art. 840, § 1®, relaciona os requisitos d e reclamação escrita e não a inclui entre os seus elementos essenciais, m a s exige ap e n a s " u m a bre
v e exposição dos fatos de que resulte o dissídio"?
Trata-se daquela formação civilista d e alguns juízes trabalhistas q u e qu e r e m aplicar subsidiariamente o art. 282 d o C P C , que elenca entre os ele
m e n t o s essenciais d a petição inicial os fundamentos jurídicos do pedido.
Ora, repitamos ató o fim: o direito processual c o m u m só s e aplica, e m c a so d e omissão, e d e forma subsidiária ao Direito Processual do Trabalho, e n o caso, n ã o h á omissão. C o m o se aplicar a p e n a de litigante de má-fé a o reclamante q u e não apresenta os fuhdamentos jurídicos d o pedido, se a C L T n ã o os exige? É punir pelo desatendimento d e u m a formalidade que a Lei n ã o prevê, h a v e n d o in casu não u m a lacuna, m a s u m silêncio inten
cional e justificado d a legislação processual trabalhista, o c h a m a d o silên
cio eloquente.
Esta não é, entretanto, a tendência jurisprudencial d o Colendo Tribu
nal Superior d o Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho, c o m o se c o m p r o v a das seguintes e m e n t a s de acórdãos desses Tribunais Superio
res, extraídas d a obra de Valentin Carrion", N o v a Jurisprudência e m Direi
to do Trabalho", Ed. Revista dos Tribunais, 1992, págs. 4 2 2 a 424:
1 — "Litigància de má-fé. Perfeitamente compatível c o m o processo do trabalho a condenação e m honorários advocatícios decorrentes d a litigància d e má-fé, pois, sendo omissa a Consolidação das Leis do Trabalho a respei
to, aplicam-se subsidiariamente os preceitos contidos nos arts. 14 a 18 do C P C . Inteligência do parágrafo único d o art. 88 do texto consolidado (TRT-PR, R O 345/90, José Rosas, Ac. 3* T. 821/91)".
2 — "Litiga c o m evidente má-fé a parte que põe e m dúvida o certifi
c a d o nos autos n o tocante à expedição para a audiência inaugural, s e m qualquer prova nesse sentido, pondo e m dúvida a fé d e ofício q u e os m e s m o s m e r e c e m . Mormente, quando, n o caso destes autos, posteriormente se verifica por nova certidão e pela juntada de comprovante d e recebimen
to do S E E D , a notificação foi recebida por essa m e s m a parte. A busca d e induzir o julgador a erro afronta a Justiça, além d e a procrastinação n o pro
cesso, prejudicar a parte adversa (TRT-SP, R O 13.757/89, Argeu dos S a n tos, Ac. 7* T. 22.156/90)”.
3 — “Agravo de Petição — Litigància de má-fé — Dano processual — Ressarcimento imposto — Aplicação subsidiária das regras d o processo ci
vil. A lealdade processual implica e m n ã o aumentar a atividade processual c o m a finalidade reprovável d e evitar a solução d a d e m a n d a (Celso Agrí
cola Barbi). O processo existe para a concretização da Justiça e, não, p a ra o devedor "ganhar tempo". S e n d o manifestamente infundado o a r g u m e n to do executado acerca d o erro de aplicação dos índices d a correção m o netária, pois estes se referem ao m ê s anterior, é desleal, imoral e anti-éti
c a a repetição do m e s m o conteúdo d e "defesa”, n a i m p u g n a ç ã o dos cál
culos, nos Emb a r g o s e n o Agravo de Petição. Plenamente aplicáveis a o pro
cesso trabalhista as regras dos arts. 17 e 18 d o C P C , razão pela qual con
dena-se o executado a indenizar o exeqüente no importe d e 100 BTNs, ora arbitrado.
3 8
Agravo improvido (TRT-Camp., A P 8.745/90.3, Rodrigues d e Souza, Ac. 2» T. 892/91)”.
E acórdãos extraídos d a obra de Irany Ferrari e Melchíades Rodrigues Martins, “Julgados Trabalhistas Selecionados”, vol. II, págs. 3 7 6 a 378:
1 — “Cabimento de indenização è parte que sofreu os prejuízos
O litigante de má-fé indenizará à parte contrária os prejuízos q u e es
ta sofreu. Recurso de revista provido e m parte.
TST-RR-25.432/91.9 — (Ac. 3* T. — 0830/92 — 3* Reg. Rei. Juiz Os- waldo Florôncio N e m e (Convocado). DJ U , 22.05.92 — pág. 7.309."
2 — "Caracterização
Litiga d e má-fé a parte que s u c u m b e no objeto d a perícia, utiliza-se da via recursal, repetindo as razões expendidas nos Embargos, visando, tão- somente, postergar a remuneração do labor d o “expert”. S e n d o manifesta
m e n t e infundadas as irregularidades apontadas na Expedição d o M a n d a d o de Citação e Penhora, tem-se m e s m o que a parte objetiva obstar a concre
tização da prestação jurisdicional. Inteligência dos artigos 17 e 18 d o C P C . T R T 3« Reg. — A P — 00007/92 — (Ac. 3* T.) — Rei. Juíza Dra. A n a Etelvina Lacerda Barbato. D J M G , 20.06.92 — pág. 130.”
3 — “ Caracterização
Insurgência genérica é expediente protelatório q u e viola o dever de lealdade e boa-fé, pertinente às partes, n a relação processual (art. 14, II, do CPC). Parecer d a D. Procuradoria que se acolhe. O executado deve pa gar a multa do art. 18, d o C P C . Honorários d e 15%, sobre o valor atualizado.
T R T - P R - A P - 0 2 0 3 / 9 2 — (Ac. 3* T.-5988/92) Rei. Juiz Roberto Couti- nho. D J P R , 07.08.92 — pág. 268."
4 — "Inspeção Judicial — Configuração
Mantém-se a pena d e litigância de má-fé e m decorrência de fatos c o m provados por inspeção judicial realizada pela instância a quo, a qual compro
vou d e forma insofismável que a defesa faltou c o m a verdade e q u e as tes
temunhas trazidas pela empresa acintosamente relataram o que não corres
pondia à realidade.
T R T 3» Reg. R O — 14099/91 — (Ac. 1* T.) — Rei. Juiz Renato M o reira Figueiredo. D J M G , 25.09.92 — pág. 86.”
5 — “ R e c u r s o arguindo prescrição inexistente — Caracterização
— Multa d o art. 20, d o C P C
Recurso argüindo prescrição de período anterior a 05.10.86, e m pro
cesso pertinente a e m p r e g a d o admitido e m agosto de 1987, configura liti- gância d e má-fé, sujeitando a recorrente à multa d o artigo 2 0 d o C P C .
T R T - P R - R O — 4419 — (Ac. 3* T.-4731/92) — Rei. Juiz Pedro Ribei
ro Tavares. D J P R , 26.06.92, pág. 69."
Parte das decisões, entretanto, p r e g a m sua não ocorrência q u a n d o o reclamante pleiteia direitos inexistentes, por oposição d e e m b a r g o s de- claratórios e q u a n d o a pretensão é controvertida, c o m o se observa pelos acórdãos seguintes:
1 — “ Inocorrência
N ã o se reputa litigãncia de má-fé àquele q u e pleiteia eventuais direi
tos perante a Justiça d o Trabalho e, a o final, v e n h a ser vencido. Expunge- se da c o n d e n a ç ã o a verba honorária imposta a este titulo porque não res
tou caracterizado nos autos o uso d o processo c o m o intuito d e conseguir objetivo ilegal n ã o confirmado. Inteligência d o s arts. 16 e 18 d o C P C .
T R T 2* Reg. R O - 0 2 9 2 0 0 1 0 7 0 5 — (Ac. — 2* T. — 02920152127) — Rei. Juiz Design. Antonio Pereira Santos. D J S P , 11.09.92 — pág. 197."
2 — “ O p o s i ç ã o d e e m b a r g o s declaratórios — Inocorrência A penalidade d e litigãncia d e má-fé não p o d e e n e m de v e ser alea
tória. É direito d a parte opor e m b a r g o s declaratórios e m questão jurídica controvertida, pois s e n ã o ficaria s e m sentido a existência d e s s e remédio jurídico para aclarar o julgado. Honorários Periciais — Fixação — Revela- se exagerada a fixação d e honorários periciais e m valor equivalente a 18
salários mínimos, para u m laudo cujo levantamento ambiental n ã o gerou a utilização de sofisticados equipamentos, m a s tão-somente aqueles d e ro
tina n o trabalho pericial.
T R T 3 a Reg. RO-05544/91 — (Ac. 2* T.) — Rei. Juiz Ag e n o r Ribeiro.
D J M G , 18.09.92 — pág. 82.
3 — " P r e t e n s ã o controvertida n a legislação — Inocorrência Litigante de má-fé. N ã o é litigante de má-fé a parte que ajuíza preten
s ã o controvertida n a legislação.
T R T 3* Reg. R O 4222/91 (Ac. 1* T.) — Rei. Juiz Antônio Fernando Guimarães. D J M G 03.07.92, pág. 97.”
40
Já n o segundo, processo d e execução, a c h a m o s plenamente aplicá
vel a o processo do trabalho a sa n ç ã o para o litigante d e má-fé, m a s prin
cipalmente a prevista n o art. 6 0 0 d o C P C , que é específica para esta fase e q u e evita a protelação pretendida pelo executado, que não po d e mais fa
lar n o s autos até ser relevada a pena.
E m b o r a a tendência d a jurisprudência dominante seja aplicar a s san
ções dos arts. 17 e 18 do C P C t a m b é m na fase d e execução, c o m o é a si
tuação do último acórdão extraído d a obra de Carrion, originário d a 15* R e gião, T R T d e Campinas, acima transcrito, e m que o d a n o processual ocor
reu q u a n d o d o agravo d e petição, cr e m o s t a m b é m q u e são aplicáveis, por
quanto, a o contrário d o processo civil a partir d o C P C d e 1973, q u e distin
g u e o processo do conhecimento d o d e execução d e m o d o claro, a C L T s e guindo orientação então vigente n o C P C d e 1939, considera a exe c u ç ã o u m a seqüência natural da reclamação, p o d e n d o o juiz, inclusive, iniciá-la d e ofício.
Quais a s diferenças, entretanto, entre a fase d a reclamação propria
m e n t e dita e a d a execução quanto à incidência da litigância d e má-fé? E n t e n d e m o s q u e s ã o as seguintes as quatro principais:
I — N a segunda, o litigante d e má-fé é se m p r e a reclamada q u e quer protelar o u fraudar a execução e o faz por meio d e procedimentos c o n d e náveis.
II — É na fase d e ex e c u ç ã o q u e o processo d o Trabalho perde sua agilidade e se afunila, dados os expedientes protelatórios usados pelas exe
cutadas.
III — O s direitos à s verbas objeto d a execução já s ã o certos e líqui
dos, pois transitaram e m julgado, n ã o p o d e n d o mais a executada questio
nar a justiça ou injustiça d a condenação.
IV — A s verbas deferidas nas reclamações trabalhistas a s e r e m exe
cutadas s ã o de caráter alimentar e a agilização do processo nessa fase é questão d e vital importância, devendo, n o nosso entender, abandonarem- s e as formalidades d o processo d e conhecimento para obter-se maior ra
pidez, c o m o , n o processo civil, n a execução d e alimentos. Ora, é por isso que, nesta fase, o Juiz Presidente d a Junta de v e estar atento para evitar atrasos e sancionar c o m energia os d a n o s processuais provocados inten
cionalmente pela executada-reclamada.
Por fim, neste caso específico, a subsidiariedade d o processo civil é até necessária e fundamental da d a a omissão d a C L T e a necessidade de se agilizar a execução trabalhista e está de acordo c o m u m dos principais princípios d o Direito Processual do Trabalho: a celeridade.