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PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE III

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PSICOLOGIA DA

PERSONALIDADE III

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Vol. XII – FORMULAÇÕES SOBRE OS DOIS PRINCÍPIOS DO FUNCIONAMENTO MENTAL (1911)

O tema principal da obra é a distinção entre os dois princípios reguladores do funcionamento psíquico:

o princípio de prazer que domina o processo psíquico primário.

o princípio de realidade que domina o processo psíquico secundário.”

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A experiência de satisfação é fundamental para a estruturação e funcionamento do aparelho psíquico. Após uma primeira satisfação, quando surge novo estado de urgência, o aparelho, sob o domínio do processo primário, persegue a marca mnêmica, o reencontro com o objeto mítico, na busca de restabelecer a satisfação original.

Um impulso desta espécie, diz Freud, é o desejo, força que impulsiona o funcionamento dos processos psíquicos no sistema inconsciente, regulados pelo prazer-desprazer.

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A sua realização está no reaparecimento da percepção pela via alucinatória. O sonho como realização de desejo é a sua grande descoberta.

É um aparelho que de início se dirige ao engano.

Frente à inadequação deste funcionamento, o processo secundário, regido pelo princípio de realidade, vai exercer a função de inibição e retificação, visando assegurar a existência do objeto na realidade externa através da identidade de pensamento.

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No texto, Freud toma como ponto de partida os processos inconscientes.

são os mais antigos e primários, remanescentes de uma fase de desenvolvimento no qual eram os únicos existentes.

A tendência dominante a qual esses processos primários obedecem denomina-se princípio do prazer e do desprazer (de forma abreviada princípio de prazer).

Estes processos aspiram à obtenção de prazer.

Dos atos que possam provocar desprazer a atividade psíquica se recolhe (recalque).

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Desde o início da vida, as exigências provenientes das necessidades internas do organismo perturbam o estado de repouso psíquico.

Neste estado, de modo análogo ao que ainda hoje ocorre todas as noites com nosso pensamento onírico, o pensado (desejado) apresentava-se simplesmente de forma alucinatória.

Foi preciso que não ocorresse a satisfação esperada, que houvesse uma frustração, para que essa tentativa de satisfação pela via alucinatória fosse progressivamente abandonada.

Introduzindo um novo princípio da atividade psíquica:

Em vez de alucinar, o aparelho psíquico teve então de se decidir por conceber as circunstâncias reais presentes no mundo externo e passou a almejar uma modificação real deste. [para a satisfação das necessidades].

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A necessidade de adaptação à realidade, introduzem um novo princípio da atividade psíquica: não mais era imaginado o que fosse agradável, mas sim o real, mesmo em se tratando de algo desagradável.

Contudo, uma das espécies de atividade de pensamento foi liberada do teste de realidade e permaneceu subordinada somente ao princípio de prazer. Esta atividade é o fantasiar que conservada como devaneio, abandona a dependência de objetos reais.

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A substituição do princípio de prazer pelo principio de realidade, com todas as consequências psíquicas envolvidas aqui esquematicamente condensadas numa só frase, não se realiza, na verdade, de repente; tampouco se efetua simultaneamente em toda a linha, pois, enquanto este desenvolvimento tem lugar nos instintos do ego [pulsões do ego], os instintos sexuais se desligam deles de maneira muito significativa.

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No início, ocorre uma indiferenciação inicial entre os dois gêneros de pulsões (autoconsevação e sexual) que se encontram misturadas entre si (p. ex., no ato de mamar).

Com o desenvolvimento do indivíduo, lentamente, vai-se estabelecendo uma distinção fundamental entre as pulsões de autoconservação e sexual).

A princípio, a pulsão sexual, ao se tornar autônoma em relação às função de autoconservação, satisfazem-se auto-

eroticamente. 52

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Sem a necessidade de um objeto exterior a pulsão sexual pode se satisfazer de forma imediata (sob o princípio de prazer).

As pulsões sexuais não somente continuam a poder satisfazer-se de maneira auto-erótica, mas lhes é possível uma satisfação mesmo fora da realidade, por meio da fantasias.

Assim, as pulsões sexuais não encontram situação de frustração que forcem a instituição do princípio de realidade e podem ficar mais facilmente ligadas ao princípio do prazer.

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Quando mais tarde [fase fálica] o processo de busca de objeto se inicia também para as pulsões sexuais, este logo sofre uma longa interrupção em virtude do período de latência, o qual posterga o desenvolvimento sexual até a puberdade.

Estes dois fatores, auto-erotismo e período de latência, fazem com que a pulsão sexual fique retida em seu desenvolvimento psíquico e permaneça por muito mais tempo sob o domínio do princípio do prazer.

Aliás, no caso de muitas pessoas, a pulsão sexual jamais consegue escapar desse domínio.

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Em decorrência dessas circunstâncias, estabelece-se uma relação mais próxima entre a pulsão sexual e a fantasia, por um lado, e as pulsões do Eu e as atividades da consciência, por outro.

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Para as funções do Ego, o princípio de realidade (processo secundário) deve suplantar rapidamente o princípio do prazer (processo primário).

O processo secundário é uma exigência da vida. Os objetos que satisfazem as pulsões da autoconservação só existem no mundo exterior (p. ex., o leite materno).

Assim, para que a criança não morra de fome, precisa dominar o processo primário e desenvolver um funcionamento sob o processo secundário..

O reconhecimento do mundo exterior, por meio do desenvolvimento do "princípio de realidade", é elevado à categoria de elemento regulador da

vida psíquica. 56

(14)

Freud explica que o Princípio de Realidade está a serviço do Princípio do Prazer: Ele simplesmente resguarda o indivíduo de frustrações desnecessárias:

renunciando a um prazer momentâneo, de consequências inseguras, apenas para alcançar pelo novo caminho um prazer ulterior e seguro.

Assim, a tendência fundamental do aparelho psíquico, em que se defrontam as pulsões do ego [autoconservação] e as pulsões sexuais, continua a exercer-se no sentido de realizar o máximo de prazer [e evitar ao máximo o sofrimento].

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Contudo, sendo o ser humano condenado a uma existência social, a busca do prazer é limitada por normas que transcendem o indivíduo e lhe impõem as restrições derivadas da cultura.

Neste sentido, a educação pode ser descrita sem maiores hesitações como um estímulo à superação do princípio do prazer, à substituição deste pelo princípio da realidade.

Paralelamente à transformação do Eu-prazer em Eu-real, as pulsões sexuais passam por mudanças que as conduzirão do auto-erotismo inicial, através de várias fases intermediárias, ao amor objetal.

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Rênferência Bibliográfica

Freud, Sigmund (19141). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico. Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud.

Imago, 1980, v. XII.

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o narcisismo designa o amor de um indivíduo por si mesmo.

Sobre o narcisismo uma introdução (1914) – Vol.

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 Vol. XIV - Sobre o narcisismo uma introdução (1914)

 Freud utiliza pela primeira vez o termo "narcisismo" em 1910, para descrever a escolha de objeto feita pêlos homossexuais que escolhem um parceiro à sua

imagem, de forma que através deste:

"tomam a si mesmos como objeto sexual"

(1905; nota acrescentada em 1910).

 O artigo de Freud sobre Leonardo (1910) faz referência consideravelmente extensa ao narcisismo.

 Pouco depois, Freud (Schreber, 1911; Totem e Tabu,

1912-1913) fez do narcisismo uma fase intermediária do desenvolvimento psicossocial infantil, situada entre o auto-erotismo, cujo modelo é a masturbação, e a fase evoluída, caracterizada pelo amor de objeto. 61

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 Segundo James Strachey, trata-se de um dos trabalhos mais importantes de Freud:

 Resume suas primeiras discussões sobre o tema do narcisismo e considera o lugar ocupado pelo narcisismo no desenvolvimento sexual,

 Considera o problema das relações entre o ego e os objetos externos,

 Estabelece uma distinção entre ‘libido do ego’ e ‘libido objetal’.

 ponto mais importante - introduz os conceitos do

‘ideal do ego’ e do agente auto-observador a ele relacionado, base do que foi descrito como o

‘superego’ em The Ego and the Id (1923). 62

(20)

 Freud em carta à Abraham, declara-se insatisfeito com o texto por sua forma “supercondensada e prestes a estourar pela quantidade de material que contém.”

‘O “Narcisismo” teve um parto difícil e traz todas as marcas de uma deformação correspondente’.

63

(21)

 Segundo Freud, O termo narcisismo provém da descrição clínica e foi escolhido por Paul Näcke em 1899.

• para designar o comportamento do indivíduo que trata o próprio corpo como só se trata um objeto sexual. A pessoa:

– contempla o próprio corpo, –acaricia-o,

–cobre-o de carinhos e

–satisfaz-se plenamente por meio desses manejos.

• Nesta configuração, o narcisismo tem o sentido de uma perversão que absorveu toda a vida sexual da

pessoa. 64

(22)

 Freud ressalta que, a partir da observação psicanalítica, pode-se notar aspectos do comportamento narcísico presentes em muitas das pessoas afetadas por outras pertubações;

 na Dementia praecox (krapelin), Esquizofrênia (Breuler), [renomeadas por Freud de Parafrenia]

apresentam dois traços fundamentais: o delírio de grandeza e o desligamento de seu interesse no mundo exterior.

“Em consequência desta última alteração, tornam-se inacessíveis à influência da psicanálise e não podem ser curados por nossos esforços.”

65

(23)

 Freud considera a análise das parafrenias o principal meio de acesso ao narcisismo.

 Contudo, apresenta outros caminhos para aproximação do narcisismo:

1. a observação da doença orgânica, 2. da hipocondria e

3. a vida amorosa entre os gêneros.

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(24)

 A influência da doença orgânica sobre a distribuição da libido

uma pessoa atormentada por dor e mal-estar orgânico deixa de se interessar pelas coisas do mundo externo, na medida em que não dizem respeito a seu sofrimento. ...ela também retira o interesse libidinal de seus objetos amorosos:

enquanto sofre, deixa de amar.

“o homem enfermo retira seus investimentos libidinais de volta para seu próprio Eu, e as põe para fora novamente quando se recupera.

“Concentrada está a sua alma no estreito orifício do molar”.

(Freud cita: Wilhelm Busch, sobre o poeta que sofre de dor de 67

(25)

 A hipocondria, da mesma forma que a doença orgânica, manifesta-se em sensações corpóreas aflitivas e penosas, tendo o mesmo efeito que a doença orgânica sobre o investimento da libido.

“O doente hipocondríaco, também retira seu interesse e sua libido em relação ao mundo exterior e os concentra no órgão que o preocupa e que o faz sofrer. “

 o investimento libidinal narcísico de uma parte do corpo não é encontrada apenas na hipocondria, mas também na neurose:

"a cada uma dessas modificações da erogenidade nos órgãos corresponde uma modificação paralela do investimento da libido no ego". 68

(26)

 Uma terceira maneira pela qual podemos abordar o estudo do narcisismo é através da observação da vida erótica dos seres humanos:

– escolha objetal do tipo anaclítico – na escolha ulterior de objetos amorosos adotam como modelo seus cuidadores (pai, mãe, substitutos).

– escolha objetal do tipo narcísica - na escolha ulterior dos objetos amorosos elas adotaram como modelo a si mesmas.

“Nessa observação [escolha narcisista], temos o mais forte dos motivos que nos levaram a adotar a hipótese do narcisismo.”

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(27)

 Freud apresenta um breve sumário dos caminhos que levam à escolha de um objeto. Uma pessoa pode amar:

(1) Em conformidade com o tipo narcisista:

(a) o que ela própria é (isto é, ela mesma), (b) o que ela própria foi,

(c) o que ela própria gostaria de ser,

(d) alguém que foi uma vez parte dela mesma.

(2) Em conformidade com o tipo anaclítico (de ligação):

(a) a mulher que a alimenta, (b) o homem que a protege,

(c) e a sucessão de substitutos que tomam o seu lugar. 70

(28)

“Dizemos que um ser humano tem originalmente dois objetos sexuais – ele próprio e a mulher que cuida dele – e ao fazê-lo estamos postulando a existência de um narcisismo primário em todos, o qual, em alguns casos, pode manifestar-se de forma dominante em sua escolha objetal.”

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(29)

Narcisismo primário?

 O narcisismo primário quer designar a situação inicial, em que a libido investiu no próprio sujeito.

 Significa, também, o processo pelo qual o sujeito assume a imagem do seu corpo próprio como sua, e se identifica com ela (eu sou essa imagem).

 O narcisismo primário promove a constituição de uma imagem de si unificada, perfeita e inteira que suscita e mantém o indispensável "amor-próprio", necessário a toda sobrevivência física e mental.

 A constituição do narcisismo primário ultrapassa o auto- erotismo para fornecer a integração de uma figura positiva e diferenciada do outro.

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(30)

 Foi sobre o ponto até hoje confuso da localização cronológica do narcisismo primário e de sua relação com a constituição do eu que se fundamentou a concepção lacaniana do estádio do espelho desenvolvida em 1949.

 Para Jacques Lacan, o narcisismo primário constitui-se no momento em que a criança capta sua imagem no espelho, imagem esta que, por sua vez é baseada na do outro, mais particularmente na imagem da mãe, constitutiva do eu.

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(31)

Estádio do espelho

Expressão criada por Jacques Lacan, em 1936, para designar um momento psíquico da evolução humana, situado entre os 6 e os 18 meses, durante o qual a criança antecipa o domínio sob e a sua unidade corporal através de uma identificação com a imagem do semelhante e da percepção da sua própria imagem num espelho.

É uma experiência em que a criança percepciona a image que vê no espelho. No início, a aparência é a de um desconhecido, mas aos poucos ela vai intuindo como sendo a sua, já que se apercebe que o espelho é uma superfície lisa e fria e, por isso, não pode ser outro bebé, acabando por se reconhecer como sendo ela própria.

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(32)

 Na teoria freudiana, antes da introdução do conceito de narcisismo em 1914, o eu:

 era compreendido como massa ideacional consciente cujo principal objetivo é conservar a vida e reunir o conjunto de forças que, no psiquismo, se opõe a sexualidade.

 Para Freud, o “eu” não é inato e resulta de uma nova ação psíquica. Essa nova ação psíquica é o narcisismo primário.

 O narcisismo primário é contemporâneo da constituição do eu.

 Assim, enquanto as pulsões auto-eróticas estão presentes desde o início, o Eu tem que ser

desenvolvido. 75

(33)

 O narcisismo primário corresponde ao investimento inicial do eu pela libido que, neste ato, constitui-se como libido narcísica.

 Para Freud, anteiror ao narcisismo não há investimento objetal possível.

 Não há relação de objeto que não pressuponha o narcisismo (o que se evidencia pela impossibilidade de que haja relação eu-objeto antes da constituição do eu).

 A libido objetal corresponde ao investimento dos objetos externos pela libido.

 O narcisismo secundário refere-se à todas as situações em que ocorre um refluxo da libido objetal sobre o Ego.

 Ou seja, o retorno para o Ego da libido que investia os

objetos exteriores. 76

(34)

• O Ego permanece sempre parcialmente investido e os investimentos objetais ficam ligados a ele. segundo a imagem clássica, como os pseudópodos de uma ameba ficam ligados à região do núcleo.

• Há como que uma espécie de balanço entre o que se chama, desde então, de libido do Ego e libido de objeto.

"Quanto mais uma cresce mais a outra se empobre

• Freud estabelece que:

• "O Ego deve ser considerado como um grande reservatório de libido, de onde ela é enviada para os objetos, e que está sempre pronto para absorver a libido que reflui a partir dos objetos". 77

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Rênferência Bibliográfica

Freud, Sigmund (1914). Sobre o narcisismo uma introdução. Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud. Imago, 1980, v. XII.

(36)

Narcisismo das pequenas diferenças TABU DA VIRGINDADE (1918 [1917])

(CONTRIBUIÇÃO À PSICOLOGIA DO AMOR)

precisamente as pequenas diferenças em pessoas que, quanto ao resto, são semelhantes, que formam a base dos sentimentos de estranheza e hostilidade entre eles. Seria tentador desenvolver essa idéia e derivar desse `narcisismo das pequenas diferenças’ a hostilidade que em cada relação humana observamos lutar vitoriosamente contra os sentimentos de companheirismo e sobrepujar o mandamento de que todos os homens devem amar ao seu próximo.

(37)

Narcisismo das pequenas diferenças

... essa [inclinação para a agressividade] característica indestrutível da natureza humana seguirá a civilização. Sem ela [os homens] não se sentem confortáveis. A vantagem que um grupo cultural, comparativamente pequeno, oferece, concedendo a esse instinto um escoadouro sob a forma de hostilidade contra intrusos, não é nada desprezível. É sempre possível unir um considerável número de pessoas no amor, enquanto sobrarem outras pessoas para receberem as manifestações de sua agressividade. Em outra ocasião, examinei o fenômeno no qual são precisamente comunidades com territórios adjacentes, e mutuamente relacionadas também sob outros aspectos, que se empenham em rixas constantes, ridicularizando-se umas às outras, como os espanhóis e os portugueses por exemplo, os alemães do Norte e os alemães do Sul, os ingleses e os escoceses, e assim por diante. Dei a esse fenômeno o nome de ‘narcisismo das pequenas diferenças’.

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Narcisismo das pequenas diferenças

Freud, S. (1930). “Mal-estar na civilização”, in Obras completas. São Paulo: Imago.

o narcisismo das pequenas diferenças cria uma heterogeneidade intergrupal e, ao mesmo tempo, uma homogeneidade intragrupal.

Freud desenvolva suas reflexões sobre a intolerância à alteridade como expressão da vontade de assegurar a coesão do idêntico a Si.

Freud utilizou a noção de narcisismo das pequenas diferenças para refletir sobre a tolerância/intolerância, no plano individual e coletivo.

o fenômeno de intolerância à diferença do outro

(39)

Psicologia de Massa e Análise do Ego (1921)

Freud procura compreender neste trabalho os fenômenos de coesão social:

se os indivíduos ganham em coesão e em

segurança dentro de um grupo, por que então eles perdem sua liberdade de pensar e sua capacidade de julgamento?

Por que os grupos são mais intolerantes, mais irracionais e imorais que os indivíduos que os compõem?

Por que as inibições caem por terra de modo a desencadear ódios e rivalidades mortais? 82

(40)

Na primeira parte do trabalho, Freud realiza uma revisão da obra de alguns autores e destaca seus pontos principais:

Gustave Lê Bon, Psicologia das Multidões (1895):

William McDougall, em The group mind (1921),

Freud julga que Lê Bon esboça um quadro apenas descritivo da psicologia de grupo e sobre Mcdougal, cconsidera sua explicação sobre o tema insuficiente e insatisfatória.

83

(41)

Como se estabelece a coesão de um grupo. Como explicaria a exaltação dos afetos e a inibição de

pensamento que caracterizam a psicologia de grupo?

Recorrendo à noção de libido, Freud sugere a hipótese de que

são as relações amorosas (em termos neutros: as ligações sentimentais) que constituem a essência de sentimentos que soldam os grupos.

Em outras palavras, pode-se atribuir ao amor a força que mantém a coesão de um grupo e faz com que o indivíduo abandone sua singularidade e se deixe influenciar pelos outros. 84

(42)

Assim, nos grupos,

cada indivíduo isolado está ligado libidinalmente, de um lado, ao líder, de outro, aos indivíduos do grupo.

Freud considera que não só o amor como também o ódio constitui um fator de unidade do grupo, a hostilidade manifesta-se através da intolerância:

No fundo, toda religião é igualmente uma religião de amor por todos aqueles que ela engloba, e todas tendem à crueldade e à intolerância em relação àqueles que não pertencem a ela.

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(43)

Além do amor como fator de coesão, Freud indica que a identificação constitui-se como outro fator capaz de criar uma ligação afetiva dentro de um grupo.

Um capítulo inteiro da Psicologia das massas e análise do eu (1921) é dedicado à identificação.

Identificação é o processo pelo qual um individuo assimila um aspecto, uma propriedade, um atribudo do outro e se transforma, total ou parciamente, segundo o modelo dessa pessoa.

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Freud considera que é a identificação do indivíduo com o líder e a identificação entre os membros do grupo que criam a coesão de um grupo, e a perda dessa ligação afetiva é a causa de sua dissolução.

Para Freud, a ligação ao líder é também uma ligação fundada na idealização, de modo que o indivíduo, atraído por esse ideal, vê sua personalidade prestes a desaparecer, a ponto de que o "ideal do ego" representado pelo líder do grupo assume o lugar do "ego" de cada indivíduo.

Neste texto, o conceito de Ideal do Eu designa os valors morais e éticos que constituem um ideal ao qual o sujeito aspira.

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(45)

O ideal do Eu seria um modelo ao qual o indivíduo procura se conformar. resultante das identificações com os pais, como os seus substitutos e com os ideais coletivos.

A noção de ideal do eu permite a Freud explicar a fascinação amorosa a dependência para com o hipnotizador e a submissão ao lider. Nestes casos a pessoa é colocada pelo individuo no lugar do seu ideal do eu.

“Certos individuos puseram um só e mesmo objeto no lugar do seu ideal do eu, e em consequência disso identificarma-se uns com os outros no seu eu

88

(46)

De que forma o estudo dos fenômenos dos grupos pode esclarecer sobre o funcionamento do indivíduo?

Cada individuo faz parte de vários grupos, está ligado por identificação de vários lados e construiu o seu ideal do eu segundo os mais divrsos modelos.

Assim, a identificação pode ser definida como o método pelo qual o indivíduo assume as características de outras pessoas e torna-as uma parte integrante de sua personalidade.

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A criança se identifica com os pais porque eles parecem ser onipotentes, pelo menos durante os anos da infância inicial.

À medida que as crianças crescem, encontram outras pessoas com as quais se identificar, pessoas cujas realizações estão mais de acordo com seus atuais desejos. Cada período tende a ter suas figuras de identificação características.

Não é necessário que uma pessoa se identifique com outra em todos os aspectos. Geralmente selecionamos e incorporamos apenas as características que acreditamos que vão nos ajudar a atingir um objetivo desejado.

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A identificação também é um método pelo qual podemos recuperar um objeto perdido. Quando nos identificamos com uma pessoa amada que morreu ou de quem nos separamos, a pessoa perdida é reencarnada como uma característica incorporada da personalidade.

Também podemos nos identificar com alguém por medo. A criança se identifica com as proibições dos pais a fim de evitar o castigo. Esse tipo de identificação é a base para a formação do superego.

A identificação refer-se a uma aquisição mais ou menos permanente da personalidade

91

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A estrutura final da personalidade representa um acúmulo de numerosas identificações feitas em vários períodos da vida da pessoa, embora a mãe e o pai provavelmente sejam as figuras de identificação mais fortes na vida de qualquer pessoa.

A identificação designa o processo central pelo qual o indivíduo se constitui e se transforma, assimilando ou se apropriando, em momentos- chave de sua evolução, dos aspectos, atributos ou traços dos seres humanos que o cercam.

Deste modo, o conceito de identificação é essencial na teoria freudiana do desenvolvimento

psicossexual do indivíduo. 92

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ESBOÇO DE PSICANÁLISE (1940 [1938])

O objetivo deste trabalho breve é reunir os princípios da Psicanálise e enunciá-los, por assim dizer, dogmaticamente, sob a forma mais concisa e nos termos mais inequívocos. Sua intenção, naturalmente, não é compelir à crença ou despertar convicção.

Os ensinamentos da Psicanálise baseiam-se em número incalculável de observações e experiências, e somente alguém que tenha repetido estas observações em si próprio e em outras pessoas acha-se em posição de chegar a um julgamento próprio sobre ela.

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PARTE I - [A MENTE E O SEU FUNCIONAMENTO]

CAPÍTULO I - O APARELHO PSÍQUICO

Duas hipóteses:

Presumimos que a vida mental é função de um aparelho ao qual atribuímos as características de ser extenso no espaço e de ser constituído por diversas partes.

Chegamos ao conhecimento deste aparelho psíquico pelo estudo do desenvolvimento individual dos seres humanos.

À mais antiga destas localidades ou áreas de ação psíquica damos o nome de id.

(52)

O id contém tudo o que é herdado, constitucional;

as pulsões, que se originam da organização somática e que [no id] encontram uma primeira expressão psíquica, sob formas que nos são desconhecidas.

À segunda região de nossa mente demos o nome de ego.

O ego corresponde a uma uma parte do id que sofreu um desenvolvimento, sob a influência do mundo externo, atua como intermediária entre o id e o mundo externo.

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Características do ego:

tem sob seu comando o movimento voluntário.

tem a tarefa de autopreservação.

Função de percepção, atenção, memória, juizo,

Evitar estímulos excessivamente intensos, promover a adaptação.

Produzir modificações convenientes no mundo externo.

Controlar (tentar) as exigências das pulsões, decidindo se devem ou não ser satisfeitas, adiando essa satisfação para ocasiões e circunstâncias favoráveis no mundo externo ou suprimindo inteiramente as suas excitações.

Esforça para obter prazer e busca evitar o desprazer.

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O Supergo - O longo período da infância, durante o qual o ser humano em crescimento vive na dependência dos pais, deixa atrás de si, como um precipitado, a formação, no ego, de um agente especial no qual se prolonga a influência parental.

Constitui uma terceira força que o ego tem de levar em conta.

Esta influência parental, naturalmente, inclui em sua operação não somente a personalidade dos próprios pais, mas também a família, as tradições raciais e nacionais por eles transmitidas, bem como as exigências do milieu social imediato que representam.

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O superego, ao longo do desenvolvimento de um indivíduo, recebe contribuições de sucessores e substitutos posteriores aos pais, tais como professores e modelos, na vida pública, de ideais sociais admirados.

Uma ação por parte do ego deve conciliar

simultaneamente as exigências do id, do superego e da realidade.

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Com toda a sua diferença fundamental, o id e o superego possuem algo comum:

representam as influências do passado - o id, a influência da hereditariedade; o superego, a influência, essencialmente, do que é retirado de outras pessoas,

O ego é principalmente determinado pela própria experiência do indivíduo, isto é, por eventos acidentais e contemporâneos.

Pode-se supor que este quadro esquemático geral de um aparelho psíquico aplique-se também aos animais superiores que se assemelham mentalmente ao homem.

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Segunda Tópica do aparelho psíquico Id ou Isso

Ego ou Eu

Supergo ou Supereu

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O Isso (Id)

George Grodeck – usou o termo “Es” (cuja tradução para o latim seria “Id”) para fazer referência a uma espécie de força vital que condicionaria toda a nossa existência.

O termo Id, conceituado por Freud a partir do pronome da terceira pessoa do singular (Es), designa “o que há de não pessoal no nosso ser”.

O id (isso) é concebido como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de ordem inconsciente.

O id constitui o pólo pulsional da

personalidade. 101

(59)

As características atribuídas ao sistema Ics na primeira tópica são de um modo geral atribuídas ao Id na segunda tópica.

Se na primeira tópica o conceito de Inconsciente é utilizado em forma substantiva para designar um “lugar” do aparelho psíquico,

Na segunda tópica, o termo inconsciente é usado na sua forma descritiva (adjetiva) e relaciona-se ao conjunto de conteúdos não presentes no campo atual da consciência.

102

(60)

Do ponto de vista “econômico”, o id é, para Freud, o reservatório inicial da energia psíquica.

Do ponto de vista “dinâmico”, ele abriga e interage com as funções do ego e com o superego, com os quais quase sempre entra em conflito.

Do ponto de vista “funcional”, ele é regido pelo princípio do prazer; logo pelo processo primário.

Não há razão no Id. A racionalidade é um modo de funcionamento psíquico a ser conquistado pelo ser humano.

103

(61)

Ego ou Eu

É um termo empregado na filosofia e na psicologia para designar a pessoa humana como consciente de si e objeto do pensamento.

Na teoria freudiana, esse termo designou na primeira tópica a sede da consciência. Mas na segunda tópica o ego tornou-se em grande parte, inconsciente.

Assim, na segunda tópica, o ego é mais vasto do que o sistema pré-consciente/consciente, na medida em que as suas operações defensivas são em grande parte inconscientes.

104

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Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para com as reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e exigências da realidade.

Do ponto de vista dinâmico, o ego representa, no conflito neurótico, o pólo defensivo da personalidade;

ativa uma série de mecanismos de defesa, estes motivados pela percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia).

Do ponto de vista econômico, o ego surge como um fator de ligação dos processos psíquicos.

105

(63)

Contudo, embora se situe como mediador, encarregado dos interesses da totalidade da pessoa, a sua autonomia é apenas relativa.

Freud compara o ego com um empregado diante de três patrões (id, superego, realidade).

o ego é ameaçado por três perigos:

- um proveniente do mundo exterior,

- o outro da libido do id e

- o terceiro da severidade do superego.

106

(64)

A teoria psicanalítica procura explicar a gênese do ego em dois registros distintos:

vendo o ego como um aparelho adaptativo,

diferenciado a partir do contato do id com a realidade exterior,

- O ego constitui-se por uma diferenciação de uma parte do id por influência do mundo exterior.

- O mundo externo impõe à criança proibições que provocam o recalcamento e a busca de uma satisfação substitutiva para as pulsões.

- O princípio de realidade substitui o princípio de prazer.

o ego é definido como o produto de identificações que levam à formação no seio da pessoa de um objeto de

amor investido pelo id. 107

(65)

Superego ou Supereu

Essa entidade fora objeto de uma primeira elaboração em 1914, na “Introdução ao narcisismo”.

Freud dava então o nome de ideal do eu a uma função do eu.

Nesse momento, o ideal do eu é concebido como herdeiro do narcisismo primário.

Depois, em 1921, em Psicologia das massas e análise do eu, a função transformara-se numa instância, conservando o mesmo nome.

Na perspectiva inaugurada em 1921, a ênfase é colocada na problemática da identificação.

1923 agora aparece um novo termo, o supereu, considerado equivalente ou sinônimo do ideal do eu.

108

(66)

Na 33a. conferência de introdução à psicanálise, Freud define o Superego como um censor, por delegação das instâncias sociais, junto ao ego.

Freud considera dois tempos na formação do superego e de suas funções:

1. Num primeiro tempo, o superego é representado pela autoridade parental que dirige evolução infantil, alternando as provas de amor com as punições.

2. Num segundo tempo, as proibições externas são internalizadas. Esse é o momento em que o superego vem substituir a instância parental por intermédio de uma identificação.

o superego é um caso bem-sucedido de identificação

com a instância parental. 109

(67)

o supereu é concebido como o

“representante das exigências éticas do homem”.

Freud sublinhou também que o superego não se constrói segundo o modelo dos pais, mas segundo o que é constituído pelo superego dos pais.

A transmissão dos valores e das tradições perpetua-se, dessa maneira, por intermédio dos superegos, de uma geração para outra.

110

(68)

2a. Tópica do Aparelho Psíquico

REALIDADE ID

SUPEREGO

EU

Polo Pulsional

Princípio de prazer

Príncipio de realidade

Polo defensivo presonalidade Ética

Imperativos Morais Crítica

111

Referências

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