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O encontro do rural com o urbano: um estudo da vivência dos moradores no Cabo de Santo Agostinho 1 Carlos Santos 2

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1 O encontro do rural com o urbano: um estudo da vivência dos moradores no Cabo de Santo Agostinho1

Carlos Santos2 wendell_santo@yahoo.com.br

Modalidade do Trabalho: Resultado de Pesquisa

Eixo Temático: Trabalho na Contemporaneidade, Questão Social e Serviço Social

Palavra-chave: Desenvolvimento, Impactos Socioambientais, Turismo.

Introdução

Este artigo faz parte do projeto “Do rural ao urbano: a conversão do uso da terra na Zona da Mata Sul de Pernambuco”, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisas e Estudos em Gênero, Raça, Meio Ambiente e Planejamento de Políticas Públicas – GRAPP/UFPE.

Procura identificar os impactos socioambientais provocados pelo desenvolvimento do município na sua população tradicional (pescadores, pequenos agricultores), através das transformações que ocorreram na estrutura econômica do municipio, por meio dos vários investimentos econômicos, entre os quais prevalece o Complexo Portuário de Suape, para que o chamado “desenvolvimento” chegasse à região.

Com este “desenvolvimento” observa-se os impactos no meio ambiente e na população, que tinha características rurais e passa a ser urbana com a industrialização do município, mudando desta forma sua forma de organização social. Neste ponto concorda- se com Lefebvre (2004) ao afirmar que quando nasce uma sociedade da industrialização, isto é, uma sociedade constituída por um processo que domina e absorve a produção agrícola essa passa a ser chamada de sociedade urbana.

O meio ambiente também sofre alterações com a chegada do capital que não leva em consideração os impactos socioambientais como a degradação do solo, poluição do ar, da água e o uso excessivo dos recursos naturais, e a população existente no entorno , com o único objetivo maximizar o lucro.

Carvalho (2002) salienta que o termo desenvolvimento possui diferentes significados. Segundo o autor, tem predominado a idéia de desenvolvimento igual a crescimento econômico, e a partir da mesma, a prevalência dos fatores econômicos, sobre os demais indicadores. A respeito desta questão, Singer (1932) afirma que o

1 Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. El Trabajo Social en la coyuntura latinoamericana: desafíos para su formación, articulación y acción profesional. Universidad Católica Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009.

2 Estudante de Graduação do curso de Serviço Social na Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. Bolsista de Iniciação Científica/CNPq. Membro do GRAPP/UFPE.

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2 desenvolvimento, entendido como econômico, é um processo histórico cuja dimensão consiste numa completa transformação da estrutura de produção existente.

Partindo destes conceitos, inseri-se a idéia de desenvolvimento no município do Cabo de Santo Agostinho que, desde sua formação, teve sua economia centrada no desenvolvimento da monocultura da cana-de-açúcar até os anos de 1950. Após este período a região começa a receber os primeiros incentivos para a diversificação econômica com a criação em 1979 do Distrito Industrial do Cabo. Ao entender o desenvolvimento como um processo de acumulação de capital impulsionado pelo avanço tecnológico (CARVALHO, 2002 apud FURTADO, 1996), o Governo do Estado através de decretos começa a desapropriação de terras para a chegada de novos investimentos (SILVA, 2007).

O município do Cabo de Santo Agostinho que faz parte da região metropolitana do Recife, situado na Zona da Mata Sul de Pernambuco, está à margem da BR-101, da PE- 60 e do ramal da Rede Ferroviária do Nordeste que liga o Recife aos estados de Alagoas e Sergipe. Trata-se de um espaço estratégico para entrada e saída de mercadorias.

O Cabo apresenta um grau de urbanização superior a 80% e possui cerca de 60%

do seu território ocupado pela plantação de cana de açúcar, o que lhe dá características rurais. Segundo ZUQUIM (2007), o município não possuia infraestrutura urbana para acompanhar o ritmo de crescimento urbano-industrial, preconizado pelos projetos de intervenção do Estado. O espaço do município aparecia apenas como suporte para o Estado, mas ele estava cheio de seres humanos e de organizações sociais, o chamado, por Milton Santos, de meio ecológico e as infraestruturas. O elemento “natural era o meio ecológico” e compreender sua natureza como um conjunto de complexos territoriais que constituem a base física do trabalho humano, e que as infraestruturas são o trabalho humano materializado e geografizado na forma de casas, plantações e caminhos (SANTOS, 1985) não era realidade do Estado.

Com a chegada de vários investimentos, os impactos socioambientais começam a aparecer. Segundo o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), a definição de impacto ambiental em sua resolução n° 1/86 é, “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas”, ou seja, que causa problemas tanto no ambiente quanto na população. No entanto a definição que sintetiza a idéia de impactos é a de Franco (2000 apud TOMMASI) que a concebe como efeitos das ações humanas sobre os ecossistemas e sobre a própria sociedade e sua economia.

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3 A urbanização acelerada e desordenada da área do município tem como resultado principal a expulsão em massa da população que saiu de seu lugar de origem e passou a aglomerar-se nas periferias da cidade, nas encostas com altas declividades, manguezais, alagados e outras áreas impróprias para assentamento humano (SILVA, 2007). Neste processo tem- se um acrescimo de novas obras dos homens, a criação de um novo meio a partir daquele que já existia: o que se costuma chamar de ‘natureza primeira’ já é

‘natureza segunda’” no novo centro urbano. O processo de urbanização pelo qual passou a cidade intensificou a proliferação de bolsões de pobreza e seus desdobramentos nas manifestações da questão social. Com isso, aumenta o numero de desempregados, da exclusão social e da violência em um meio ecologico modificado pelo meio técnico (SANTOS, 1985).

Na realidade do município do Cabo de Santo Agostinho dois eventos contribuíram com o processo de urbanização: o turismo e o Complexo Industrial e Portuário de Suape.

O turismo, dentro dos moldes atuais, iniciou-se na segunda metade do século XIX.

No entanto, a atividade estende suas raízes pela história da humanidade. Algumas formas de turismo existem desde as mais antigas civilizações, somente a partir do século XX, e mais precisamente a partir da década de 50, que ele evoluiu, projetando-se como um dos mais importantes setores econômicos do Mundo (LAGE; MILONE, 2000; RUSCHMAN, 1997). A definição de turismo segundo Donald Lundberg (1974 é, “atividade de transporte, alimentação e entretenimento, com grande componente econômico e profundas implicações sociais”.

No município do Cabo de Santo Agostinho, o turismo que vem crescendo é voltado para o litoral, que tem uma extensão de 24 km e belas praias como Enseada dos Corais, Calhetas e Gaibu. Suas praias são muito procuradas pelos turistas das mais diversas regiões do país e de outros países.

A ocupação da orla começa na década de 1970 com a chegada dos loteamentos de veraneio. A partir da década de 1980 a ocupação destes loteamentos ocorre em ritmo acelerado, envolvendo aterro de mangue, destruição de dunas e privatização de trechos da praia através de muros, rampas e outras construções que impedem o acesso da população local aos recursos naturais públicos (CPRH, 1997). Com o passar do tempo, mantém-se o ritmo das ocupações de veraneio, ocorrendo o surgimento de novos loteamentos, o que exige a implantação de infra-estrutura e equipamentos de apoio ao turismo como rodovias asfaltadas, hotéis, resorts, marinas, além de condomínios fechados que surgem como alternativas de investimento na área (SILVA, 2007).

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4 Segundo Fonteles (2004), produzindo um espaço turístico, o homem socializa a natureza, que se transforma em outra natureza, e esta modificação normalmente compromete a qualidade de vida local a médio, a longo e até em curto prazo. No caso em estudo, as modificações trazidas pela indústria do entreterimento ocasionaram a exploração excessiva do ambiente natural, a qual tem ameaçado a estabilidade dos seus sistemas de sustentação (desfiguração do solo, perda de florestas, poluição da água e do ar, etc.), o que afeta qualidade de vida das comunidades tradicionais do município.

Na visão de Ruschmann (1997), o turismo constitui-se num enorme gerador de riquezas e ao mesmo tempo uma força de agressão à natureza, às culturas, aos territórios e às sociedades, e ressalta ainda o caráter econômico desta atividade que não permite considerá-la “boa” ou “má”, nem mesmo como uma atividade que de um lado poderia respeitar a natureza ou de outro, destruí-la.

O turismo atribui um novo valor aos espaços, tornado-os lugares turísticos. “Ele promove, transforma o lugar em mercadoria e estabelece o valor de uso dos bens culturais. [...] Espaços turistificam-se no momento em que são reorganizados no sentido de satisfazer os desejos de uma clientela que vem de fora” 3.

Lançando-se um novo olhar sobre o turismo e seus atores, criam-se territórios eminentes turísticos com pouca ou nenhuma integração das populações tradicionais, marginalizadas com relação ao uso dos recursos. A natureza, espaço público de bem comum, é transformada em espaço privado, desrespeitando a legislação ambiental existente e comprometendo os ecossistemas, lugares e populações são comercializados como atrativos para serem consumidos. Sabendo-se que o modelo de desenvolvimento predominante nas sociedades contemporâneas privilegia a busca pelo lucro fácil e em curto prazo, não importando tanto os impactos socioambientais (Idem).

Conforme Cruz (1999 apud SILVA, 2007) por causa de um planejamento inadequado e da falta de participação da comunidade no processo de elaboração e execução das políticas para o turismo, a maior parte dos efeitos do turismo sobre o litoral tem sido negativa, ressaltando-se a eliminação de plantas e habitat de animais, contaminação da água, decréscimo das qualidades estéticas do cenário, contaminação arquitetônica, negação dos direitos sociais, particularmente o direito de acesso aos recursos naturais para a auto-suficiência, dentre outras problemáticas da manifestação dos conflitos socioambientais.

3 ALMEIDA, Maria Geralda de. Turistificação: os novos atores e imagens do litoral cearense. In VI Encontro Regional de Estudos Geográficos. p.29

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5 No que ser refere ao Complexo Industrial e Portuário de Suape, este foi criado em 1979, pelo Governo do Estado de Pernambuco. O Plano Diretor para a implantação do Complexo Industrial integra uma extensa área para indústria e serviços de apoio a um porto marítimo. Para sua construção foi necessário a desapropriação de terras de vários agricultores, e a sua implantação afetou o meio ambiente, tanto no interior quanto no seu entorno, assim como as atividades praticadas pelas comunidades tradicionais (CPRH, 1997). O crescimento urbanístico do município, devido à procura por vagas de emprego, ocorreu sem planejamento e adequação. As infra-estruturas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e captação de lixo apresentaram-se insuficiente.

Com toda essa dinâmica de investimentos para diversificação econômica, mudanças sociais e na estrutura ambiental, o município do Cabo tem sua estrutura rural alterada para características urbanas, ocorrendo assim o encontro do urbano com o rural.

Para Gehlen (2005), as ligações e as interações entre o rural e o urbano têm-se tornado um componente importante e intenso para o sistema de produção e de subsistência em muitas áreas, formando uma paisagem que não é nem urbana, nem rural, mais tem ambas as características, especialmente nas áreas que circundam os centros urbanos ou ao longo das estradas que levam a estes centros. Somando-se a isto muitas das populações rurais dependem dos centros urbanos para acesso à escola, a hospital, a crédito, a extensão rural, equipamentos agrícolas e serviços de governo.

Neste contexto, o rural é associado ao atraso, à baixa densidade populacional, ao isolamento, à falta ou precariedade de infra-estrutura. Já, o urbano, representa o progresso, desenvolvimento, modernidade, dinamicidade, concentração de serviços, infra- estruturas, comércio, indústria; ou seja, elementos representativos do desenvolvimento.

Desta forma, a realidade sócio-espacial e ambiental torna-se cada vez mais complexa. Os espaços rurais e urbanos não podem ser compreendidos separados um do outro, visto que são realidades que não existiriam isoladamente. Tais espaços se relacionam e se interpenetram.

Portanto, a pesquisa vem demonstrando que o município do Cabo de Santo Agostinho é um espaço que contém elevado número de recursos naturais e por isso torna-se lugar de vários conflitos e transformações, sofre fortes implicações devido ao acelerado incentivo do processo de industrialização, urbanização e da atividade turística provocando impactos no meio ambiente e na população local (SILVA, 2007).

Referências:

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6 CARVALHO, Vilson Sérgio de. Educação ambiental e desenvolvimento comunitário.

Rio de Janeiro, ed WAK, 2002.

FRANCO, M. A. R. Planejamento ambiental para a cidade sustentável. São Paulo, Ed.

FURB, 2ª edição, 2000.

FONTELES, José Osmar. Turismo e impactos socioambientais. São Paulo: Aleph, 2004.

FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico - Col. Leitura. RJ: Paz e Terra, 1996 (1974).

GEHLEN, V. R. F. – Do rural ao urbano: a conversão do uso da terra na Zona da Mata Sul Pernambuco. Projeto de pesquisa, 2005.

LAGE, Beatriz Helena Gelas; MILONE, Paulo César. Economia do turismo. Campinas, SP: Papirus, 1991 (Coleção Turismo). 122p.

LEFEBVRE, Henri. A revolução Urbana – Belo Horizonte. Ed. UFMG, 1999.

RAMOS, M. H. A; MELO, A. S. S. A; RAMOS F. S.. A implantação de uma refinaria de petróleo em SUAPE-PE: Uma avaliação dos impactos sócio-econômico-ambientais a partir da interpretação de Agendas 21 Locais. Disponível em: www.ecoeco.org.br.

RUSCHMANN, Dóris Van de Meene. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. 3. ed. Campinas: Papirus, 1997. (Coleção Turismo). 199p.

SILVA, Laurileide Barbosa da. Conflitos Socioambientais na praia de Gaibu: a influência do turismo na apropriação do espaço e seus efeitos na luta pela efetivação dos direitos sociais. Dissertação de Mestrado. Recife: UFPE, 2007.

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7 SINGER, Paul Israel. Desenvolvimento econômico e evolução urbana: análise da evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. São Paulo, ed Nacional – 1932.

TOMMASI, Luiz Roberto. Estudo de impacto ambiental - São Paulo;

CETESB/Terragraph Artes e Informática; 1994.

ZUQUIM, Maria de Lourdes. Os caminhos do rural: uma questão agrária e ambiental – Sã Paulo: Ed Senac São Paulo, 2007.

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