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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS CAMPUS MOSSORÓ GRADUAÇÃO EM DIREITO

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

CAMPUS MOSSORÓ GRADUAÇÃO EM DIREITO

A CONSTRUÇÃO DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA) NAS MEDIDAS DE INTERNAÇÃO NO CEDUC EM MOSSORÓ - RIO

GRANDE DO NORTE

BRUNA SALDANHA VIEIRA ALVES DE FREITAS

MOSSORÓ

2017

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BRUNA SALDANHA VIEIRA ALVES DE FREITAS

A CONSTRUÇÃO DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA) NAS MEDIDAS DE INTERNAÇÃO NO CEDUC EM MOSSORÓ - RIO

GRANDE DO NORTE

Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semiárido como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Direito Orientador: Ramon Rebouças Nolasco de Oliveira

MOSSORÓ

2017

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© Todos os direitos estão reservados a Universidade Federal Rural do Semi-Árido. O conteúdo desta obra é de inteira

responsabilidade do (a) autor (a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis que regulamentam a Propriedade Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e Direitos Autorais: Lei n°

9.610/1998. O conteúdo desta obra tomar-se-á de domínio público após a data de defesa e homologação da sua respectiva ata. A mesma poderá servir de base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu (a) respectivo (a) autor (a) sejam devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográficos.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA), sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (SUTIC) sob orientação dos bibliotecários da instituição para ser adaptado às necessidades dos alunos dos Cursos de Graduação e Programas de Pós-Graduação da Universidade.

F862c Freitas, Bruna Saldanha Vieira Alves de.

A CONSTRUÇÃO DO PLANO INDIVIDUAL DE

ATENDIMENTO (PIA) NAS MEDIDAS DE INTERNAÇÃO NO CEDUC EM MOSSORÓ - RIO GRANDE DO NORTE / Bruna Saldanha Vieira Alves de Freitas. - 2017.

85 f. : il.

Orientador: Ramon Rebouças Nolasco de Oliveira.

Monografia (graduação) - Universidade Federal Rural do Semi-árido, Curso de Direito, 2017.

1. Direitos da Criança e dos Adolescentes. 2.

Plano Individual de Atendimento. 3. Política Pública da Socioeducação. 4. Centro Educacional (CEDUC) do Município de Mossoró/RN. I. Oliveira, Ramon Rebouças Nolasco de , orient. II. Título.

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BRUNA SALDANHA VIEIRA ALVES DE FREITAS

A CONSTRUÇÃO DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA) NAS MEDIDAS DE INTERNAÇÃO NO CEDUC EM MOSSORÓ - RIO

GRANDE DO NORTE

Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semiárido como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Direito Mossoró/RN 17 de maio de 2017

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Prof. Doutor Ramon Rebouças Nolasco de Oliveira Universidade Rural do Semi-Árido

______________________________________________

Prof. Mestre Daniel Alves Pessôa Universidade Rural do Semi-Árido

______________________________________________

Prof. Mestre Oona de Oliveira Caju

Universidade Rural do Semi-Árido

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, agradeço a Deus, o meu grande Amigo que esteve comigo, não somente, em minha caminhada acadêmica, mas em todos os momentos de minha vida. Foi Ele quem tornou tudo possível, sem Ele nada teria acontecido.

Agradeço ao meu pai, Narcélio, por toda sabedoria e simplicidade, sempre me lembrando que “os que semeiam em lágrimas segarão com alegria”. Sem o seu carinho, amor e esforço não teria conseguido passar por esta etapa.

Agradeço a minha mãe, Rosania, mulher forte e generosa, por todo o amor, amizade, dedicação e incentivos, por me ensinar que o “não” que a vida nos dá é motivo para continuarmos, afinal estamos sempre tentando.

Ao meu marido, Eduardo, por todo cuidado, carinho, amor, e, especialmente, paciência, pois era em você que eu buscava amparo quando estava precisando de ajuda com a construção deste trabalho.

Aos meus familiares, em especial, meus irmãos Igor e Núbia, meus sobrinhos Josué e Agatha, por todo o incentivo e apoio para concluir esta etapa da graduação.

À turma, todos contribuíram de diferentes formas para a conclusão desta jornada, especialmente, Lurdinha, Mariana, e à amiga Carol, pelo companheirismo e por todas as aventuras de morar juntas.

Ao professor e orientador Ramon, que me inspirou a estar escrevendo sobre o tema desta pesquisa, sendo uma referência de educador, sempre se mostrando atencioso e disponível para sanar as dúvidas que surgiram ao longo do trabalho e trazendo ensinamentos os quais carregarei pelas outras etapas que se seguem.

Aos professores Daniel e Oona, membros da banca examinadora, pela atenção e disponibilidade dispensadas, bem como pelas contribuições na jornada acadêmica, especialmente, em relação à defesa dos Direitos Humanos.

Às entrevistadas integrantes do corpo técnico, pela paciência e prestatividade durante

as entrevistas e pela contribuição que trouxeram para este trabalho.

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RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo verificar como tem sido a elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) nas medidas de internação no CEDUC em Mossoró, Rio Grande do Norte, considerando os parâmetros normativos vigentes. Para tanto, realizou-se um estudo sobre a responsabilidade penal juvenil, percorrendo as legislações em vigor no Brasil desde seu período de Colônia. Em seguida, estudou-se o surgimento da Doutrina da Proteção Integral, tendo como fundamento o artigo 227 da Constituição Federal de 1998, com sua formulação normativa pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e suas repercussões nos direitos infanto-juvenis. Em ato contínuo, analisou-se o contexto de surgimento da Lei 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), primando pela definição do PIA dentro do cenário de execução da medida de internação. Posteriormente, foram apresentados os aspectos relevantes para construção do PIA, destacando os conceitos de unidade de atendimento e de equipe técnica interprofissional. Para isso, foram utilizadas como referências as obras de autores como Mário Luiz Ramidoff, João Batista da Costa, Paulo de Tarso Vannuchi, Carmem Silveira de Oliveira, Eva Maria Lakatos, Christian Laville, Jean Dionne, dentre outros. Além disso, foram utilizadas legislações pertinentes à temática de proteção à criança e ao adolescente, bem como artigos científicos provenientes de pesquisadores, como Flávio Américo Frasseto, Maria de Lourdes Trassi Teixeira, Selma Sauerbronn. Em seguida, buscou-se conhecer a realidade da elaboração dos PIAs no Centro Educacional (CEDUC) de Mossoró, Rio Grande do Norte, verificando como tem sido construído empiricamente este instrumento dentro desta unidade de atendimento. Para tanto, foram realizadas visitas ao CEDUC em Mossoró, de modo a colher informações e impressões acerca do objeto desta pesquisa, valendo-se de entrevista semiestruturada com a equipe técnica, bem como do estudo de alguns PIAs de adolescentes da unidade em análise. À vista disso, perceberam-se algumas deficiências na elaboração do PIA no CEDUC Mossoró/RN, bem como discrepâncias, especialmente, em relação à Lei 12.594/2012 e à Portaria nº 270/15- GP da FUNDAC/RN. Por fim, foram apresentadas algumas sugestões de melhoria para aplicação do PIA dentro da política pública da socioeducação.

Palavras-chave: Direitos da Criança e dos Adolescentes. Plano Individual de Atendimento (PIA). Política Pública da Socioeducação. Centro Educacional (CEDUC) do Município de Mossoró/RN.

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ABSTRACT

The present study had as objective to verify how has been the elaboration of the Individual Plan of Attendance (IPA) in the measures of internment in the CEDUC in Mossoró, Rio Grande do Norte, considering the normative parameters in force. In order to do so, was made a historical approach taken on juvenile criminal responsibility, following the legislation in force in Colonial Brazil. The emergence of doctrine of integral protection was then studied, based on Article 227 of the Federal Constitution of 1998. Subsequently,the appearance of the Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) was explored and its repercussions on the rights of children and adolescents. Then, the context of the appearance of Law 12,594 / 2012 (National System of Socio-Educational Assistance) was analyzed, focusing on the definition of the IPA within the scenario of implementation of the measure of internment. Subsequently, the aspects relevant to the construction of the PIA were presented, highlighting the concepts of service unit and multi-professions team. For that, the works of the authors Mário Luiz Ramidoff, João Batista da Costa, Paulo de Tarso Vannuchi, Carmem Silveira de Oliveira, Eva Maria Lakatos, Christian Laville, Jean Dionne, among others, were used as references. In addition, legislation relevant to the topic of child and adolescent protection were used, as well as scientific articles from researchers such as Flávio Américo Frasseto, Maria de Lourdes Trassi Teixeira, Selma Sauerbronn and others. Then, the reality of the preparation of PIAs in the Centro de Educação de Mossoró (CEDUC), Rio Grande do Nortewas sought to know, verifying how this instrument has been empirically constructed within this service unit.

Therefore, visits were made to the CEDUC in Mossoró, in order to gather information and impressions about the object of this research, using a semi-structured interview with the technical team, as well as the study of some PIAs of adolescents of the unit under analysis. In view of this, there were some deficiencies in the preparation of the PIA in the Mossoró/RN CEDUC, as well as discrepancies, especially in relation to Law 12,594/2012 and to FUNDAC/RN Ordinance no. 270/15-GP. Finally, some suggestions for improving the application of the PIA within the public policy of socio-education were presented.

Keywords: Rights of Children and Adolescents. Plano Individual de Atendimento (PIA).

Public Policy of Socioeducation. Centro Educacional (CEDUC) of Municipality of Mossoró /

RN.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...10

2. DEFINIÇÃO DA IMPORTÂNCIA DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA) NA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE INTERNAÇÃO ...13

2.1 A evolução da responsabilidade penal juvenil no Brasil, perpassando pela legislação em vigor no Brasil Colônia e chegando à Doutrina da Proteção Integral com a consequente elaboração do ECA (Lei 8.069/90) ...13

2.1.1 Apontamentos históricos sobre um período de “codificações”...14

2.1.2 O surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a “nova perspectiva” dos direitos infanto-juvenis...18

2.2 A execução das medidas socioeducativas e o surgimento da Lei 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), dando destaque aos desdobramentos do Plano Individual de Atendimento (PIA) no cumprimento da medida de internação...22

3. A CONSTRUÇÃO DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA) NO PROCESSO DE EXECUÇÃO DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO ...30

3.1 Aspectos de destaque para construção do Plano Individual de Atendimento (PIA)..30

3.2Unidades de Atendimento ...35

3.3 Equipe Técnica Interprofissional ...41

4. TÉCNICAS PARA A COLETA DE INFORMAÇÕES SOBRE A ELABORAÇÃO DO PIA NO CEDUC EM MOSSORÓ, RIO GRANDE DO NORTE ...46

4.1 Análise das entrevistas: transcrições e críticas ...47

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...67

REFERÊNCIAS ...73

ANEXO I ...77

(10)

ϭϬ

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa destinou-se a entender a relevância do Plano Individual de Atendimento (PIA) na execução da medida de internação e, em seguida, analisar como tem ocorrido a construção deste instrumento na unidade do CEDUC (Centro Educacional) Mossoró, Rio Grande do Norte.

É de fundamental importância saber que o PIA visa precipuamente permitir a individualização da medida aplicada ao adolescente em conflito com a lei, propiciando, com sua construção, traçar o perfil do adolescente que está cumprindo a medida, possibilitando identificar suas aptidões e necessidades, devendo ser resultado de um trabalho conjunto entre a equipe técnica, a família e o socioeducando. Portanto, o PIA, atualmente, representa um dos instrumentos mais eficazes na garantia de direitos individuais e sociais dos adolescentes que estão cumprindo medida de internação.

O interesse de pesquisar sobre o tema surgiu de visitas feitas a uma unidade socioeducativa em Fortaleza, no Ceará. No contato com um adolescente que estava cumprindo medida de internação, percebeu-se que este tinha o sonho de cuidar de cavalos.

Segundo este jovem, o seu desejo não havia sido compartilhado com a equipe técnica. Será que a equipe não dispôs tempo suficiente na oitiva do jovem? Ou não houve aplicação do método adequado? Tal dúvida é causa de grande irresignação, já que implica na suspeita de haver outros jovens com sua individualidade sufocada. Por conseguinte, se tal suspeita for algo concreto, implicará na inobservância das reais capacidades dos adolescentes, impedindo, assim, perspectivas futuras para além da unidade de atendimento.

Além disso, participei do Projeto de Extensão “Direitos Humanos na Prática”

(PEDHP), da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), possibilitando contato com os processos judiciais dos adolescentes que estavam cumprindo medida de internação no CEDUC/RN. Nesse projeto, há a divisão por grupos de atuação, em que um dos eixos faz a oitiva dos jovens que estão privados de sua liberdade, elaborando relatórios, que auxiliam, juntamente, com o PIA, a compreender o desenvolvimento dos adolescentes que estão cumprindo medida internação no CEDUC em Mossoró/RN.

Os desejos, aptidões e capacidades dos adolescentes que estão cumprindo a medida

de internação precisam ser descobertos. Diante disso, verifica-se a necessidade latente da

individualização do jovem durante execução da política pública de atendimento ao acusado ou

autor de ato infracional.

(11)

ϭϭ

A pesquisa irá contribuir para um estudo mais preciso sobre a execução das políticas públicas de atendimento ao adolescente em conflito com a lei, tendo vista que o PIA representa um instrumento que permite ao socioeducando se aproximar das garantias constantes na Constituição Federal de 1988, da Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e Adolescente), da Lei 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), bem como do Regimento Interno das unidades, trazido pela Portaria Nº 270/15-GP da Fundação Estadual da Criança e Adolescente (FUNDAC, Rio Grande do Norte) e nas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores (Regras de Beijing), adotadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução 40/33, de 29 de Novembro de 1985, dentre outros documentos que promovem a garantia de direitos destes adolescentes.

Voltando-se para uma realidade mais próxima, esta pesquisa tem como problema analisar: como se processa a elaboração do PIA nas medidas de internação no CEDUC em Mossoró – Rio Grande do Norte?

Com o problema formulado, busca-se verificar como tem sido a elaboração do PIA nas medidas de internação no CEDUC em Mossoró, Rio Grande do Norte, considerando os parâmetros normativos vigentes. Diante disso, almeja-se uma definição do PIA na execução das medidas de internação, trazendo conceitos fundamentais para essa compreensão. Em seguida, objetiva-se compreender a construção do PIA no processo de execução das medidas de internação. Ulteriormente, verifica-se, empiricamente, como ocorre a construção do PIA no CEDUC Mossoró/RN. Posteriormente, faz-se uma análise crítica sobre a construção do plano individual de atendimento na unidade de internação em análise, bem como se apresentam possíveis soluções de melhoria para a política pública da socioeducação relacionadas ao PIA.

Para alcançar os objetivos desta pesquisa, utilizou-se referencial teórico,

bibliográfico e pesquisa empírica. Nos capítulos primeiro e segundo, empregou-se

metodologia fundada em revisão bibliográfica e documental, utilizando, para tanto, de uma

análise teórica de obras de renomados autores, como Jean Dionne, Christian Laville, João

Batista da Costa Saraiva, Mario Luiz Ramidoff, Eva Maria Lakatos, dentre outros. Além

disso, foram utilizadas legislações pertinentes à temática de proteção a criança e adolescente,

bem como artigos científicos provenientes de pesquisadores, como Flávio Américo Frasseto,

Maria de Lourdes Trassi Teixeira, Thiago Almeida Oliveira, Selma Sauerbronn e outros. Em

relação à pesquisa de campo, realizou-se mediante coleta de dados, entrevistas

semiestruturadas com a equipe técnica da unidade de atendimento objeto desta pesquisa.

(12)

ϭϮ

A presente pesquisa apresenta três capítulos, além desta introdução. No primeiro capítulo, buscou-se definir o PIA dentro do processo de execução da medida de internação.

Nesse sentido, foi feito um estudo sobre a responsabilidade penal dos jovens, perpassando por um período de “codificações” brasileiras, chegando até o surgimento da Doutrina da Proteção Integral e a consequente elaboração da Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e Adolescente), tendo fundamento na Constituição Federal de 1988. Em seguida, será estudada a aparição da Lei 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) e sua contribuição para a política pública da socioeducação, com os eventuais desdobramentos para o PIA.

No segundo capítulo, discute-se sobre os aspectos relevantes na construção do PIA, destacando os conceitos de unidade de atendimento e equipe técnica.

No terceiro capítulo, a pesquisa fez um recorte, analisando como tem ocorrido a elaboração do PIA no CEDUC em Mossoró, Rio Grande do Norte, utilizando-se de entrevistas semiestruturadas com a equipe técnica que elabora o PIA na unidade de atendimento em análise, pretendendo extrair suas impressões sobre a construção do plano individual. Ademais, foi feitas análise de alguns processos judiciais de adolescentes do CEDUC/RN.

Por último, após pesquisa de campo, são tecidas considerações, críticas e sugestões

para elaboração do PIA no CEDUC em Mossoró, fazendo um contraponto desta construção

em relação, especialmente, à Lei 12.594/2012, ao ECA e à Portaria Nº 270/15-GP da

Fundação Estadual da Criança e Adolescente (FUNDAC, RIO GRANDE DO NORTE),

considerando todo o aparato teórico para a compressão da temática.

(13)

ϭϯ

2 DEFINIÇÃO DA IMPORTÂNCIA DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA) NA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE INTERNAÇÃO

O Plano Individual de Atendimento (PIA) compõe a política pública da socioeducação, sendo um instrumento que auxilia na boa execução da medida socioeducativa.

Portando, para chegarmos a uma definição mais completa deste objeto, faz-se necessário compreender o contexto normativo e legal de seu surgimento, especialmente observando o progresso da legislação brasileira, no que diz respeito aos direitos da criança e do adolescente.

Em seguida, é importante mencionar que a visão que se tem, atualmente, da política de atendimento à criança e ao adolescente é resultante de uma série de conquistas relacionadas aos direitos infanto-juvenis, que perpassam por um período de “codificações”, marcado pela Doutrina da Situação Irregular, sendo, posteriormente, substituído pela Doutrina da Proteção Integral, em consonância com a Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, com a Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e a Lei 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

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A posteriori , verificou-se a deficiência do Estatuto no que diz respeito à aplicação das medidas socioeducativas e, assim, perceberemos a primordialidade da Lei 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) para concretização dos direitos do adolescente que está conflito com a lei, ao passo que se constata que a lei do Sinase veio regulamentar a execução da medida socioeducativa.

Portanto, dentro deste processo de regulamentação, temos o Plano Individual de Atendimento (PIA) como um instrumento utilizado para aperfeiçoamento dos princípios, regras e critérios a serem seguidos no processo de execução das medidas socioeducativas, representando uma das maiores conquistas de direitos, dentro da política de atendimento ao adolescente em conflito com a lei, conforme se observará a seguir.

2.1A evolução da responsabilidade penal juvenil no Brasil, perpassando pela legislação em vigor no Brasil Colônia e chegando à Doutrina da Proteção Integral com a consequente elaboração do ECA (Lei 8.069/90).

Neste momento, será feito um percurso histórico, resgatando as principais legislações

brasileiras, objetivando verificar a evolução da responsabilidade penal no Brasil. Na análise

deste período de “codificações”, será dado destaque às Ordenações Filipinasde 1830, ao

Código Republicano de 1830, ao Código Republicano de 1980, ao Código Mello Mattos

(Decreto n° 17.943-A de 12 de outubro de 1927), Código de 1979. Em seguida, dá-se

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ϭϰ

notoriedade a Doutrina da Proteção Integral que desaguou na elaboração da Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, tendo bastante repercussão nos direitos dos adolescentes que estão cumprindo medida de internação.

2.1.1 Apontamentos históricos sobre um período de “codificações”

Os direitos da criança e do adolescente, em sua concepção hodierna, foram resultantes de uma série de acontecimentos históricos que conduziram à ideação da Doutrina da Proteção Integral, sendo esta um produto de maturação do pensamento das relações envolvendo adultos, crianças e adolescentes, enquanto sujeitos de direitos à proteção integral, estando para tanto em perfeita sintonia com o art.227 da Constituição Federal de 1988.

Para compreensão da Doutrina da Proteção Integral e sua influência na elaboração do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), bem como na análise do influxo desta doutrina na evolução da legislação brasileira sobre a responsabilidade penal do adolescente, à medida em que se observa as alterações do Código Penal em vigor. Ao tratar da responsabilização penal, João Batista da Costa Saraiva faz alusão às Ordenações Filipinas, que vigoraram no Brasil até o ano 1830, conforme se verifica a seguir:

Em síntese: no início do século XIX, quando Dom João VI aportou no Brasil, a imputabilidade penal iniciava-se aos sete anos, eximindo-se o menor da pena de morte e concedendo-lhe redução da pena. Entre dezessete e vinte e um anos havia um sistema de “jovem adulto”, o qual poderia ser até mesmo condenado à morte, ou, dependendo de certas circunstâncias, ter sua pena diminuída. A imputabilidade penal plena ficava para os maiores de vinte e um anos, a quem se cominava, inclusive, a morte em certos delitos.Enquanto no Brasil a legislação vigorante era essa, confirmando a expressão de John Stuart Mill, que serve de mote a este trabalho, na Inglaterra se construía o embrião do Direito da Infância. Era editada a primeira normativa de combate ao trabalho infantil, conhecida como Carta dos Aprendizes, de 1802, ato que limitava a jornada de trabalho à criança trabalhadora ao máximo de doze horas diárias e proibia o trabalho noturno. (SARAIVA, 2013, p.26).

Prosseguindo na análise das codificações e sua influência na imputabilidade penal, observa-se o surgimento do Código Republicano de 1830, que trouxe novo critério para análise da responsabilidade penal:

A imputabilidade penal que no início do século se dava aos sete anos, e pelo Código Penal do Império de 1830, passou para um critério biopsicológico baseado no

“discernimento” entre sete e quatorze anos, evoluiu no Código Republicano de 1890: Irresponsável penalmente seria o menor com idade até nove anos (art. 27, § 1º).(SARAIVA, 2013, p.26).

Portanto, verifica-se que, de acordo com pensamento de Saraiva (2013, p.28), o

Código Republicano de 1980 também utiliza o critério “biopsicológico”, em que se

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ϭϱ

sobrepesam o discernimento para a imputabilidade, ficando o maior de nove anos e o menor de quatorze anos sujeito a uma avaliação do Juiz sobre o grau de ciência do individuo sobre o ato praticado. Contudo, a imputabilidade plena ficaria adstrita aos quatorze anos de idade, assim como era no Código do Império.

Segundo o pensamento de Sposato (2011), até o período do Código Republicano de 1980, prevalecia a etapa Penal Indiferenciada do Direito Penal Juvenil, ficando bastante evidente a não diferenciação das sanções jurídicas penais impostas aos adultos e aos “menores de idade”, em que a execução da pena de “menores de idade” era realizada no mesmo estabelecimento dos adultos. Tal etapa foi superada com o surgimento de justiça especializada, que permitiu uma particularização do Direito.

Paralelamente àquele período de codificação na legislação penal brasileira, aconteciam, em âmbito mundial, intensas lutas por Direitos Humanos, especialmente, no tocante à ampliação de direitos da criança e do adolescente, sendo notável o caso de Marie Anne, que aconteceu no século XIX, na cidade Nova Iorque, nos Estados Unidos da América:

O relato das agressões sofridas pela criança ganhou notoriedade no ano de 1896, na cidade de Nova Iorque, e chegou aos tribunais. No entanto, em fins do século XIX, não existia no sistema judiciário americano uma entidade destinada à proteção e defesa dos direitos da criança. Dessa forma, Marie Anne foi defendida pela Sociedade Protetora dos Animais, sob a tese de que até mesmo os animais devem ser livres de um cotidiano de agressões, tratamentos violentos e degradantes. Ou seja, no argumento da defesa, o ser humano e, mais precisamente as crianças, devem ter o direito ao não castigo físico e degradante. Este episódio pode ser tomado como o símbolo do início de uma nova era. (VANNUCHI; OLIVEIRA, p.17)

Após o emblemático caso de Marie Anne, foram criados Tribunais infanto-juvenis em vários países do mundo, direicionados a realizar julgamento de crimes cometidos contra a criança e o adolescente. Com relação ao Brasil, Vannuchi e Oliveira (2010, p.21) entendem que, no período compreendido entre 1889 e 1929, existiram várias modificações no cenário político, econômico e social, à medida que se aumentava a preocupação com a criminalidade infantil e juvenil.

Ainda, segundo Vannuchi e Oliveira (2010, p.21), as adversidades envolvendo criança e adolescente no Brasil passaram a ser analisadas a partir de uma junção entre Assistência e Justiça, sendo gerado, nesse mesmo contexto, o primeiro Juizado de Menores e depois, no ano de 1927, foi criado o primeiro Código de Menores.

O Código Mello Mattos (Decreto n° 17.943-A de 12 de outubro de 1927) tinha com

base a Doutrina da Situação Irregular, que, no entendimento de Saraiva (2013, p.31), permitiu

uma distinção clara entre o tratamento dado à criança e ao adulto. Contudo, tal doutrina

apresentou um grave problema ao associar carência e delinquência. O Código de 1927 dizia,

(16)

ϭϲ

em seu artigo 1°, que “o menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinqüente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de assistência e proteção contidas neste Código.” (BRASIL, 1927, art.1°).

No entendimento de Sposato (2011, p.33), o Código de Menores de 1927 trouxe dois grupos de menores que seriam os “abandonados” e os “delinquentes”, não sendo feita distinção entre ambos no momento em que o juiz de menores aplicava a medida. O artigo 26 do Código de Menores de 1927 trouxe uma série de situações para identificação do “menor abandonado”. Dentre estas circunstâncias, o inciso I considerava abandonados os menores de 18 anos “que não tenham habitação certa, nem meios de subsistência, por serem seus pais falecidos, desaparecidos ou desconhecidos ou por não terem tutor ou pessoa sob cuja, guarda vivam”. (BRASIL, 1927, art.26).

Em relação à repercussão do Código de Menores de 1927, percebe-se o desenrolar de sua influência no Estado do Rio Grande do Norte, conforme se verifica a seguir:

No que diz respeito ao tratamento direcionado aos “menores”, “abandonados”,

“delinquentes” e “socialmente desajustados”, como eram classificados no período de regência do Código de Menores Mello Matos, já funcionava no Estado do Rio Grande do Norte, em cooperação de modo regular e permanente o Juizado de Menores, o Departamento Estadual da Criança que dava “assistência” ao público Infantojuvenil, (criado e regulamentado pelo Decreto nº 2.977, de 15 de fevereiro de 1957). Este era diretamente subordinado à Secretaria de Estado da Saúde e Assistência Social, cabendo-lhe a orientação e coordenação das atividades estaduais voltadas à proteção e assistência à maternidade, à infância e à adolescência. Entre outras competências, tinha a incumbência de reorganizar, superintender, fiscalizar e manter os serviços que já existiam, sendo eles: Abrigo Juiz Melo Matos, Casa de Menores Mário Negócio e Instituto Padre João Maria; os dois primeiros destinados ao público masculino e o último, ao público feminino(RIO GRANDE DO NORTE, 2014, p.10, grifo meu)

À vista disso, a Doutrina da Situação Irregular presente no Código de Menores de 1927 representa um grave problema, pois, na intelecção de Sposato (2011, p.25) a categoria

“de menor” permitiu que houvesse uma ligação entre as crianças e adolescentes pobres e a criminalidade, estando estes, preferencialmente, na mira do Estado. O controle das crianças e adolescentes desprovidas de recursos financeiros deixa de ser exercido pela família e escola e passa a ser uma atribuição dos tribunais. Portanto, “com base no sistema de proteção e assistência e nas disposições do Código de Menores, submetia qualquer criança, por sua simples condição de pobreza, à ação da Justiça e da Assistência.” (SPOSATO, 2011, p.25)

No contexto internacional, houve várias discussões sobre a condição da criança e do

adolescente, resultando na elaboração do Código de Menores de 1979, havendo, de acordo

com a visão de Sposato (2011), um avanço com relação à distinção entre o jurídico e o social,

(17)

ϭϳ

entendendo que o problema das crianças e adolescentes era essencialmente assistencial, contudo, a solução dada aos conflitos continuava sendo punitiva.

O contexto de surgimento do Código de Menores de 1979 era da ditadura militar, sendo tomadas medidas repressivas que fortaleceram as mediadas de institucionalização das crianças e adolescentes:

É neste cenário sociopolítico que é aprovada a Lei n° 4.513, de 01 de dezembro de 1964, responsável pela criação da Política Nacional de Bem-Estar do Menor, estabelecendo uma gestão centralizadora e vertical. O órgão nacional gestor de referida política passa a ser a Funabem (Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor) em substituição à antiga SAM; no âmbito estadual, os seus órgãos executores estaduais as Febem’s (Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor).

Até a promulgação de novo Código de Menores – Lei n° 6.697, de 10 de outubro de 1979, algumas normas esparsas e medidas de natureza administrativa são adotadas até que se alcança em plenitude a consagração da Doutrina da Situação Irregular, mediante o caráter tutelar da legislação e a ideia de criminalização da pobreza.

(SPOSATO, 2011, p.31).

Portanto, verifica-se que o Código de 1979 veio ratificar a Doutrina da Situação Irregular, sendo afirmado por Saraiva (2013, p.38) que, “por esta ideologia, ‘os menores’

tornam-se interesse do direito especial quando apresentam uma ‘patologia social’, a chamada situação irregular, ou seja, quando não se ajustam ao padrão estabelecido.” O autor aprofunda o tema ao sustentar que:

A declaração de situação irregular tanto pode derivar de sua conduta pessoal (caso de infrações por ele praticadas ou de ‘desvio de conduta’), como da família (maus- tratos) ou da própria sociedade (abandono). Haveria uma situação irregular, uma

‘moléstia social’, sem distinguir, com clareza, situações decorrentes da conduta do jovem ou daqueles que o cercam. (SARAIVA, 2013, p. 38).

Ainda com relação à Doutrina da Situação Irregular, Vannuchi e Oliveira (2010, p.16) asseguram que o “Direito do Menor” tinha como base a exclusão e lidava com a criança e o adolescente como “menor”, considerando que estavam em “situação irregular”, sendo necessária uma norma jurídica para apresentar uma solução eficaz no tratamento e atenção destinados ao adolescente e à criança que se encontrava em situação irregular.

Ademais, como se verificará a seguir, o surgimento do Estatuto da Criança e do

Adolescente,em 1990, inaugura uma nova fase no transcorrer dos eventos históricos, ao

permitir a aparição de uma nova doutrina que passou a conduzir os direitos da criança e do

adolescente a um nível mais profundo de reconhecimento e proteção.

(18)

ϭϴ

2.1.2 O surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a “nova perspectiva”

dos direitos infanto-juvenis

O surgimento da Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), de acordo como Vannuch e Oliveira (2010), ocorreu em um período de redemocratização no Brasil, já que o país havia passado por um longo período de Ditadura Militar, havendo, neste cenário, bastante entusiasmo, por parte da sociedade, na tentativa de fazer cessar as violações em relação aos direitos das crianças e adolescentes, tendo vista os vários casos de denúncia de torturas existente no sistema da Fundação Estadual do Bem-Estar (FEBEM). Aquele embate social possibilitou novas conquistas na luta por direitos da criança e adolescente.

À vista disso, percebe-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente tornou possível uma evolução com relação aos diretos infanto-juvenis, ratificando a substituição da Doutrina da Situação Irregular pela Doutrina da Proteção Integral, mudando, radicalmente, a visão sobre a criança e o adolescente.

Tal inovação doutrinária tem fundamento na própria Constituição de 1988, que traz, na inteligência do artigo 227, uma proteção especial destinada à criança, ao adolescente e ao jovem, propiciando a estes “[...] com absoluta prioridade o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária [...] (BRASIL, 1988), elevando a criança e o adolescente à categoria de sujeito de direito.

Diante disso, Vannuchi e Oliveira (2010, p.17) esclarecem que pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) passou-se a entender a criança e o adolescente como sujeitos de direito que se encontram em um processo peculiar de desenvolvimento e, sob essa nova perspectiva, é que se objetiva eliminar a exclusão à qual estes sujeitos estavam condicionados.

É sob essa nova concepção de direitos que a história mostra como a legislação progrediu no trato com as crianças e adolescentes, passando a respeitar e a assumir a sua condição de ser humano, puramente, pelo fato existencial. Tal pensamento é aprofundado por Vannuchi e Oliveira:

Hoje se reconhece que crianças e adolescentes têm direitos, pelo simples fato de existirem e merecerem respeito, como pessoas, independentemente de sua origem, raça, etnia, sexo, orientação sexual, idade, condição física, social e econômica. Mas isso só passou a ser entendido há pouco tempo. Historicamente, o debate sobre os direitos das crianças esteve subordinado às discussões em torno da família ou dos direitos das mulheres. Por séculos, as crianças foram consideradas como uma

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ϭϵ

extensão ou “propriedade” de suas famílias, sem qualquer norma que as protegesse de abusos e violências. (VANNUCHI; OLIVEIRA 2010, p.17).

Portanto, a aparição do Estatuto da Criança e do Adolescente permitiu, segundo os dizeres de Ramidoff (2007, p.41), a instalação de um “novo regime jurídico-legal” se projetando, especialmente, na Constituição Federal de 1988, que, por sua vez, sofreu bastante influência da Declaração Universal dos Direitos da Criança, produzida pela ONU, em 20 de novembro de 1959, e da Convenção sobre os Direitos da Criança, que entrou em vigor, no Brasil, em 23 de outubro de 1990.

A Constituição Federal de 1988 foi a grande propulsora da Doutrina da Proteção Integral, à medida em que se verifica, em seus artigos 227 e 228, a absoluta prioridade e proteção especial concedida à criança e ao adolescente. Essa ideia de proteção especial direcionada à criança e ao adolescente é compartilhada por João Batista da Costa:

O Princípio da Prioridade Absoluta, erigido como preceito fundante da ordem jurídica, estabelece a primazia deste direito no artigo 227 da Constituição Federal.

Tal princípio está reafirmado no art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Neste dispositivo estão lançados os fundamentos do chamado Sistema Primário de Garantias, estabelecendo as diretrizes para uma Política Pública que priorize crianças e adolescentes, reconhecidos em sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento. (SARAIVA, 2013, p.56).

A Constituição Federal segue proferindo em seu artigo 227, §3º, sobre a abrangência desta proteção especial destinada ao adolescente e à criança. Diante disso, verifica-se a necessidade de garantir uma proteção integral à criança e ao adolescente pregada pela Constituição de 1988, bem como pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em conformidade com os dizeres Thiago Almeida, o qual afirma que “segundo a nova ordem constitucional vigente, crianças e adolescentes titularizam direitos fundamentais, a saber:

vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura [...]” (OLIVEIRA, et al ,

2010, p. 10).

Nessa conjuntura é de suma importância mencionar que a Lei 8.069/1990 definiu, em seu artigo 2°, o adolescente como aquela pessoa “entre doze e dezoito anos de idade”

(BRASIL, 1990, artigo 2°). Os autores Silveira e Bernardi apresentam que a adolescência

“como etapa geracional de desenvolvimento requer atenção especial à sua multidimensionalidade e características que merece uma atenção diferenciada e integral.”

(SILVEIRA; BERNARDI, 2016, p.2).

Nesse seguimento, as Regras Mínimas Das Nações Unidas para a Administração da

Justiça de Menores – Regras de Beijing (1985, p.1), afirmam em seu prefácio, o seguinte:

(20)

ϮϬ

Reconhecendo que os jovens, por se encontrarem ainda numa etapa inicial do desenvolvimento humano, requerem uma atenção e uma assistência especiais, com vista ao seu desenvolvimento físico, mental e social, e uma proteção legal em condições de paz, liberdade, dignidade e segurança. (REGRAS DE BEIJING, 1985, p.1).

À vista disso, é relevante perceber como se daria a associação da fase da adolescência com a Lei:

A compreensão da adolescência e sua relação com a Lei, haja vista este caráter diferenciado, deve vir norteada pela exata percepção do que consiste esta peculiar condição de pessoa em desenvolvimento e a correspondente responsabilidade penal juvenil que disso decorre, sem concessões; seja ao paternalismo ingênuo, que somente enxerga o adolescente infrator como vítima de um sistema excludente, em uma leitura apenas tutelar; seja ao retribucionismo hipócrita, que vê no adolescente infrator o algoz da sociedade, somente conceituando-o como vitimizador, em uma leitura pelo prisma do Direito Penal Máximo. (SARAIVA, 2013, p.47)

O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, em conformidade com a Constituição de 1988 e com Regras Mínimas Das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores – Regras de Beijing, confirmam a condição da criança e do adolescente, enquanto sujeito de direitos e obrigações. Segundo Vannuchi e Oliveira (2010, p.13-14), a Lei 8.069/1990 traz grandes alterações com relação ao que se entendia por criança e adolescente, rememorando, assim, a já mencionada condição de desenvolvimento em que se encontra a criança e o adolescente, devendo ser assegurada a proteção integral.

O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 representou uma grande conquista em se tratando dos direitos da criança e do adolescente, permitindo uma grande inovação na legislação na proteção dos direitos infanto-juvenis, conforme se verifica a seguir:

A constituição do chamado Sistema de Garantia dos Direitos é uma das novidades apresentadas pelo marco legal brasileiro, provavelmente único no mundo até os dias atuais. A centralidade na política de atendimento afirmada no Estatuto também estimulou a criação de mecanismos inéditos de defesa dos direitos da criança e do adolescente, como os Conselhos de Direitos, Centros de Defesa, a Frente Parlamentar da Criança e a Rede de Jornalistas Amigos da Criança, entre outros.

Nessa perspectiva, vale ressaltar a criação, em 12 de outubro de 1991, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), órgão do Estado brasileiro, de composição paritária, de caráter deliberativo, formulador e controlador das ações de promoção, proteção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, incumbindo-se de zelar pela efetivação das políticas sociais públicas destinadas à criança e ao adolescente. (VANNUCHI; OLIVEIRA 2010, p.24-25).

O progresso na instalação dos direitos da criança e do adolescente possibilitou a

criação de vários órgãos responsáveis pela promoção e garantia desses direitos, sendo

fundamental que houvesse uma comunicação entre as instituições de defesa, formando um

sistema. Diante da importância da temática, a Resolução n° 113, de 19 de abril de 2006 do

(21)

Ϯϭ

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) tem como objetivo alinhar “os parâmetros para a institucionalização e fortalecimento do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.” (BRASIL, 2006). A referida Resolução do CONANDA prossegue trazendo uma definição para o Sistema:

Art. 1º O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente constitui-se na articulação e integração das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos níveis Federal, Estadual, Distrital e Municipal. (BRASIL, 2006, art. 1°).

Segundo Vannuchi e Oliveira (2010), o Sistema de Garantias de Direitos da Criança e do Adolescente atua sobre três eixos: “a) Promoção e Universalização de Direitos em um Contexto Desigualdade, b) Proteção e Defesa no Enfrentamento das Violações dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes e c) Controle da Efetivação dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.” (VANNUCHI; OLIVEIRA, 2010, p.34). O eixo de Promoção dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente será desenvolvido, segundo a Resolução 113 do CONANDA, da seguinte forma:

Art. 14. O eixo estratégico da promoção dos direitos humanos de crianças e adolescentes operacionaliza-se através do desenvolvimento da política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, prevista no artigo 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que integra o ‚âmbito maior da política de promoção e proteção dos direitos humanos. (BRASIL, 2006, art. 14).

No Eixo de Defesa e Proteção, tem-se a medida socioeducativa aplicada ao adolescente que comete ato infracional. A principal inovação trazida neste eixo foi diferenciar as medidas protetivas das medidas socioeducativas, conforme se verifica a seguir:

O eixo Proteção e Defesa tem como principal atribuição enfrentar as ameaças e as violações dos direitos de crianças e adolescentes, buscando impedir a continuidade dessa violação. O atendimento de alguns casos exige a aplicação de medidas protetivas e jurídicas para garantia dos direitos das crianças e adolescentes, como nas situações de trabalho infantil ou de violência sexual. Além disto, também atua no acompanhamento de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, por autoria de ato infracional, garantindo a eles o devido processo legal. Essa distinção entre medidas protetivas e socioeducativas foi inaugurada pelo Estatuto e significou um avanço na superação do modelo utilizado na antiga Febem e dos grandes internatos em que crianças e adolescentes, vítimas da violência e aqueles em conflito com a lei, conviviam nas mesmas unidades. (VANNUCHI; OLIVEIR, 2010, p.67)

Em relação ao Eixo Controle da Efetivação dos Direitos Humanos, Vannuchi e

Oliveira (2010) relatam que sua atuação ocorre, juntamente, com os outros eixos, que

compõem o Sistema de Garantias de Direitos da Criança e do Adolescente. É neste eixo que

há uma participação efetiva da sociedade civil, que em conjunto com os outros sujeitos do

(22)

ϮϮ

Sistema, contando com o auxilio, especialmente, das instâncias colegiadas, consegue promover ações em defesa da efetivação dos direitos da criança e do adolescente. Sobre os agentes responsáveis pelo Eixo Controle da Efetivação dos Direitos Humanos, têm-se os seguintes participantes:

Os principais atores deste eixo são, especialmente, os Conselhos dos Direitos em todas as esferas de governo. Também se destacam os fóruns, redes, sindicatos, centros de pesquisa, grupos religiosos e outras instâncias públicas não institucionais de articulação da sociedade civil. Estes espaços participativos atuam em duas direções: a) na “cobrança” do funcionamento do Sistema de Garantia, apresentando as demandas da sociedade aos atores e órgãos responsáveis e b) na proposição de políticas públicas, formulando propostas a serem encaminhadas aos atores e órgãos responsáveis .(VANNUCHI; OLIVEIR, 2010, p.100).

O Estatuto da Criança e do Adolescente, mediante um Sistema de Garantias de Direitos, com seus mencionados eixos de atuação, configurou, portanto, um cenário com mecanismos para assegurar a conquista dos direitos da criança e do adolescente, ratificando um conjunto de garantias que contemplam o direito à vida, à saúde, à educação, à convivência familiar e comunitária, dentre outras garantias.

Contudo, de acordo com os dizeres de Vannuchi e Oliveira (2010), ainda restam muitos desafios com relação à efetivação dos Direitos Humanos, em se tratando das medidas aplicadas aos adolescentes que estão em conflito com a lei.

Diante disso, Frassetto (2012) segue afirmando que, a despeito das conquistas trazidas pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), em relação ao cumprimento das medidas socioeducativas, houve poucos avanços práticos, já que, passados mais de 20 anos da vigência do ECA, as medidas de internação estão sendo cumpridas em “unidades superlotadas, centralizadas, insalubres – tristes condições desnudadas por pesquisas e matérias jornalísticas eventuais – mas, sobretudo, por recorrentes episódios de rebeliões e mortes nas instituições.”(FRASSETO, 2012, p.20).

Portanto, é inegável o grande avanço em relação aos direitos da criança e do adolescente trazidos pela Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e Adolescente), permitindo aos que se encontram em condição peculiar de desenvolvimento, enquanto sujeitos de direitos, uma proteção integral.

Um ponto de progresso trazido pela Lei 8.069/1990 foi possibilitar uma clara

distinção entre medidas protetivas e medidas socioeducativas, conforme já mencionado por

Vannuchi e Oliveira (2010). Contudo, ainda há objeções encontradas, por exemplo, em

relação à efetivação das garantias individuais e processuais próprias dos adolescentes que está

cumprindo medida socioeducativa, de acordo com as determinações constantes nos artigos

(23)

Ϯϯ

106 ao 111 do ECA. Diante disso, serão feitos apontamentos sobre a Lei 12.594/2012, que objetiva regular o processo de execução das medidas socioeducativas.

2.2 A execução das medidas socioeducativas e o surgimento da Lei 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), dando destaque aos desdobramentos do Plano Individual de Atendimento (PIA) no cumprimento da medida de internação.

Dentro do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), há várias medidas aplicadas ao adolescente que comete determinados atos classificados no Código Penal como crime ou na Lei das Contravenções Penais como contravenção, conforme previsão do artigo 103da Lei 8.069/1990 – os chamados atos infracionais.

Em seguida, é importante saber quais são as medidas possíveis de serem aplicadas em caso de cometimento de ato infracional pelo adolescente, permitindo ao jovem um tratamento diferenciado em relação ao adulto, tendo em vista o fato de o artigo 228 da Constituição de 1988 considerar penalmente inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos, estando sujeitos à legislação especial. Portando, havendo a perpetração de condutas tipificadas como crime ou contravençãor, por pessoa com mais de 12 (doze) anos e menor de 18 (dezoito) de idade, será aplicado ao adolescente a determinação constante na Lei 8.069/1990:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. (BRASIL, 1990).

Dentre as medidas apresentadas no artigo 112, da Lei 8.069/1990, a internação em estabelecimento educacional, somente ocorre nas hipóteses previstas em lei:

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. (BRASIL, 1990).

Portanto, a medida de internação deverá obedecer aos princípios da excepcionalidade e brevidade, conforme os quais, segundo o Sinase (2006), as medidas socioeducativas, especialmente a de internação, deverão ser aplicadas somente quando for inevitável, seguindo estritamente os preceitos da lei e sob o menor tempo possível. Além disso, mesmo que a medida socioeducativa resulte em privação de liberdade, sua duração não pode extrapolar os limites da responsabilização resultante da decisão adotadas pelo juiz.

Ademais, é relevante dizer que, diante da aplicação das medidas socioeducativas, a

Constituição Federal de 1988 apresenta, de forma bem rigorosa, em seu artigo 227, § 3, inciso

(24)

Ϯϰ

V, a necessidade de se obedecer às diretrizes da “[...] brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade”. (BRASIL, 1988). Além disso, o ECA traz em seu artigo 111 uma série de direitos para o adolescente que está cumprindo a medida socioeducativa.

Apesar de a Lei 8.069/1990 prever garantias para o adolescente que está submetido às medidas socioeducativas, ainda há uma precariedade em relação ao processo de execução dessas medidas. Portanto, verifica-se que deficiências normativas têm causado falhas durante o processo execução da política pública da socioeducação, havendo necessidade de suprir as carências da lei, bem como melhorar a implementação das disposições constantes no ECA, especialmente, no diz respeito às previsões relativas ao atendimento de adolescentes que está ou esteve em conflito com a lei. Este tema é aprofundado por Frassetto (2012, p.23-24), ao tratar das carências constantes no Estatuto, afirmando o seguinte:

Faltava, ainda, melhorar o marco normativo regulatório do processo judicial de execução das medidas, garantindo mais objetividade na relação entre o juiz, profissionais do programa e os adolescentes. A forma lacônica como o Estatuto tratou a fase executória das medidas, com efeito, permitiu que se consolidassem, no campo de atendimento, práticas amplamente discricionárias que, além do prejuízo à segurança jurídica (para adolescentes e programas), operava na contramão dos ideais de Justiça, equidade e proporcionalidade essenciais a uma intervenção que se pretenda, minimamente, educativa. (FRASSETTO, 2012, p. 23-24).

Visando melhorar as condições do adolescente que estava cumprindo medida de internação, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2010, lançou o Programa Justiça ao Jovem, vinculado ao Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (DMF/CNJ). Tal programa objetiva analisar possíveis irregularidades durante a execução das medidas socioeducativas, especialmente com relação às medidas de internação.

Diante disso, o Programa Justiça ao Jovem visitou todos os estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, pretendendo realizar relatórios que demonstrassem a situação de cada unidade de cumprimento de medidas socioeducativas e, posteriormente, tais documentos seriam enviados aos órgãos que integram o Sistema de Garantias Infanto-Juvenis. Durantes as visitas feitas nas unidades, foram constatadas muitas irregularidades, relatando situações desumanas, ferindo o princípio da dignidade humana dos adolescentes que estavam cumprindo a medida de internação.

Em relatório, feito em 11 de fevereiro de 2011 sobre as unidades do estado Rio

Grande do Norte, fizeram-se as seguintes constatações sobre o CEDUC Pitimbu, que se

localizava em Parnamirim/RN, sugerindo-se, posteriormente o fechamento da unidade:

(25)

Ϯϱ

Finalmente, cumpre descrever as condições do CEDUC PITIMBU, de Parnamirim.

Esta unidade destoa em muito de qualquer outra no Estado do Rio Grande do Norte.

Suas instalações são inadequadas e estão deterioradas, o ambiente é sujo, escuro e úmido. Conforme se verifica nas fotografias que instruem o relatório em anexo, há fezes humanas jogadas pelas paredes e teto e lixo acumulado; foi relatado que o odor é repugnante. Os adolescentes narram agressões por parte de policiais militares que realizam a segurança da unidade. Não há freqüência regular à escola que oferece apenas ensino de nível fundamental. .A equipe que realizou a visita expôs que o corpo técnico, de modo geral, demonstra falta de cuidados e dedicação ao trabalho, sem qualquer compromisso com o bem estar dos adolescentes. (BRASIL, 2011, p.5- 6).

É nessa conjuntura que surge a Lei 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) na tentativa suprir as insuficiências no cumprimento das mediadas socioeducativas, possibilitando uma maior funcionalidade ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Desse modo, o próprio artigo 1° da Lei 12.594/2012 afirma que “institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e regulamenta a execução das medidas destinadas a adolescente que pratique ato infracional.” (BRASIL, 2012). A situação dos asdolescente que esta sofrendo privação de liberdade, é bastante delicada, havendo necessiadade de que a referida lei traga instrumentos que garatam a proteção dos direitos individuais e sociais destes indivíduos que já têm temporariamente suprimido seu direito a liberdade.

Nesse seguimento, o site da FUNDAC/RN traz a informação de que o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), criado pela Lei 12.594/2012, é a política pública que veio regulamentar a execução das medidas socioeducativas, tendo utilizado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Resolução 119/06 do CONANDA como fundamentos. Além disso, o Sinase busca definir critérios para orientação do oportuno cumprimento das medidas, nos conformes da lei, garantindo a responsabilização e a assistência educativa do adolescente. Nesse sentido, o processo de execução da medida socieducativa deve caminhar no sentido de coadunar a reponsabilização do jovem aos elementos socioeducativos.

Logo, a FUNDAC/RN define o Sinase como uma política pública, a qual foi

conceituada, por Selma Sauerbronn (2006, p.26) “como o campo do conhecimento que busca,

ao mesmo tempo, ‘colocar o governo em ação’ e/ou analisar essa ação (variável

independente) [...]”, visando essas atitudes do governo garantir o cumprimento dos direitos

dos que estão submetidos às medidas socioeducativas.

(26)

Ϯϲ

Mesmo antes de a Lei 12.594/2012 estabelecer o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), a Resolução 119/06 CONANDA já afirmava, em seu artigo 3°, que

“o Sinase é um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução de medidas socioeducativas.”

;

CONANDA, Res. 119, 2006).

Dentro do Sistema de Garantias de Direitos destinado aos adolescentes que estão cumprindo medida socioeducativa, o art. 35, inciso I a IX, da Lei 12.594/2012 traz um rol de princípios que deverão ser seguidos, durante o processo de execução das medidas:

Art. 35. A execução das medidas socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios: I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto; II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos;

III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas; IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida; V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o respeito ao que dispõe oart. 122 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente; VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos da medida; VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou

status

; e IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo socioeducativo. (BRASIL, 2012, grifo nosso).

Portanto, verifica-se que a Lei 12.594/2012 inovou o ordenamento jurídico, em se tratando dos direitos da criança e do adolescente, ao dar prioridade à utilização de práticas restaurativas. Sobre este tema, a Resolução 2002/12 da Organização das Nações Unidas (ONU) faz as seguintes considerações:

Processo restaurativo significa qualquer processo no qual a vítima e o ofensor, e, quando apropriado, quaisquer outros indivíduos ou membros da comunidade afetados por um crime, participam ativamente na resolução das questões oriundas do crime, geralmente com a ajuda de um facilitador. Os processos restaurativos podem incluir a mediação, a conciliação, a reunião familiar ou comunitária (conferencing) e círculos decisórios (sentencingcircles). (ONU, res. 2002/12. 2002).

Diante disso, pela Resolução 2002/12 da ONU se que a adoção de práticas restaurativas no processo de execução das medidas socieducativas é relevante, ao passoa que permite uma reconstrução das relações anteriores aos cometimentos do ato infracional, por meio de uma atuação mais direta, do adolescente, do ofendido e da comunidade.

Dentre os aspectos mais importantes da Lei 12.594/2012, dá-se destaque aos

objetivos das medidas socioeducativas, constantes no artigo 1°:

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Ϯϳ

§ 2o Entendem-se por medidas socioeducativas as previstas no art. 112 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), as quais têm por objetivos: I - a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; II - a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e III - a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei. (BRASIL, 2012, grifo nosso).

Em análise aos objetivos supracitados da Lei 12.594/2012, Frasseto (2012) afirma que há um perigo de inexatidão no tocante às definições conceituais. Contudo, a indicação dos objetivos, neste caso, mostrou-se como uma ferramenta importante para interpretação da lei, bem como veio auxiliar desde o planejamento mais amplo, até o atendimento particular de cada adolescente.

Portanto, verifica-se que os objetivos definidos na Lei 12.594/2012 visam direcionar o atendimento socioeducativo. Em relação artigo 1°, § 2°, inciso II, Frasseto (2012) afirma que a legislação deixa claro a peculiaridade positiva da medida, mediante a promoção de direitos. Em tal inciso, fica evidente a necessidade da integração social do adolescente, não abrindo espaço para atos discricionários, por seus aplicadores, tendo em vista que no mesmo dispositivo, é possível perceber a finalidade da garantia de direitos individuais e sociais, sendo este um norteador objetivo.

Frasseto (2012) prossegue afirmando que a alusão à garantia de direitos, por meio do cumprimento do Plano Individual de Atendimento (PIA), representa outro elemento restritivo a possíveis discrionariedades por parte do programa ou magistrado, no momento de aplicar a medida socioeducativa, tendo vista que o PIA, necessariamente, contará com a participação do socioeducando na sua elaboração.

Diante disso, busca-se aprofundar o estudo do PIA, considerando que representa o instrumento de maior relevância no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, tendo em vista sua finalidade de orientar o melhor caminho a ser seguido durante a execução da medida socioeducativa. Com a construção do PIA, busca-se garantir a ressocialização, dando condições para a integração social do adolescente:

O PIA deve orientar a proposta socioeducativa no sentido do desenvolvimento pessoal e social do adolescente, deve incluir ações que favoreçam a construção de sua identidade, a elaboração de um projeto de vida articulado à construção de seu pertencimento a uma comunidade, do respeito ao outro e à diversidade humana.

Pode contribuir para a inclusão e a circulação do adolescente na cidade e para o seu acesso aos valores de convivência – solidariedade, dignidade, respeito - e cidadania.

(FUCHS; TEIXEIRA;MEZENCIO, 2015, p.17).

(28)

Ϯϴ

Segundo Alencar (2014) o Plano Individual de Atendimento deve ser elaborada por um a equipe técnica, devendo ter a participação efetiva do adolescente. Tal instrumento será encaminhado aos responsáveis pelo Sistema Judiciário, em alguns casos poderá ser aperfeiçoado pelo Defensor Público, Advogado ou Promotor de Justiça. Diante disso, Alencar diz que o PIA:

Trata-se do planejamento da permanência do/da adolescente durante o cumprimento da medida socioeducativa, tendo como questão fundamental a participação ativa do/da maior interessado/da (adolescente) no sucesso do processo. (ALENCAR

In

:

PAIVA; SOUZA; RODRIGUES, 2014, p.54)

As Orientações Pedagógicas do Si afirmam que o PIA “do ponto de vista teórico- metodológico é um instrumento pedagógico fundamental para garantir a equidade no processo de cumprimento da medida socioeducativa.” (FUCHS; TEIXEIRA; MEZENCIO, 2015, p.17).

Além disso, faz-se menção a três objetivos principais do PIA:

Garantir uma abordagem individual do adolescente considerando que cada um deles tem uma história singular (sua biografia), um presente e uma perspectiva de futuro particular que o identifica como pessoa e cidadão único; Pactuar com o adolescente e sua família e/ou responsável metas e compromissos viáveis que possam auxiliar a organizar o seu presente e criar perspectivas de futuro desvinculados da prática de ato infracional; Estabelecer, para o técnico ou orientador de referência, indicadores objetivos (as metas pactuadas) para o acompanhamento do adolescente durante o período de cumprimento da medida. (FUCHS; TEIXEIRA; MEZENCIO, 2015, p. 9, grifo nosso).

Nesse ínterim, percebemos a relevância do PIA, enquanto instrumento de garantia da individualização da medida de socioeducação, resguardando, assim, o cumprimento do princípio constitucional da individualização da sanção aplicada (art. 5°, inciso XLV da Constituição Federal de 1988), levando em consideração as condições pessoais de cada adolescente, além de guiar o atendimento integral. Embora o excerto a seguir diga respeito à regras direcionadas a fase de julgamento pelo cometimento do ato infracional, importa relatar tal trecho das Regras de Beijing, tendo vista sua relevância para compreender a importância que Doutrina da Proteção Integral confere à individualidade do adolescente, suas relações familiares e comunitárias:

Em relação aos Delinqüentes juvenis deve ter-se em conta não só a gravidade da infração, mas também as circunstâncias pessoais. As circunstâncias individuais do Delinqüente (tais como a condição social, a situação familiar, o dano causado pela infração ou outros fatores em que intervenham circunstâncias pessoais) devem influenciar a proporcionalidade da decisão (por exemplo, tendo em conta o esforço do Delinqüente para indenizar a vítima ou o seu desejo de encetar uma vida sã e útil). (REGRAS DE BEIJING, 1985, p.7).

Referências

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