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A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO-MORADIA POPULAR NA

CIDADE DO RIO GRANDE:O BAIRRO PARQUE MARINHA

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ELlSÂNGELA DE FELlPPE RODRIGUES'

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(Trapezinov, apud Santos, 1996)

RESUMO

Neste artigo, enfocamos a produção social do bairro Parque Marinha,

localizado na cidade do Rio Grande, sul do estado gaúcho. Na análise da

construção deste espaço-moradia popular, procuramos articular os

condicionamentos econômicos locais e a política habitacional levada a

cabo pelo Estado. Por outro lado, procuramos apreender a emergência da

Associação dos Moradores deste bairro, a sua relação com a comunidade

e a sua postura diante da ação de novos agentes sociais populares

responsáveis pela transformação deste espaço-moradia.

PALAVRAS-CHAVES: Espaço-moradia, associativismo, participação

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1 - INTRODUÇÃO

o

conjunto habitacional Parque Marinha, entregue aos mutuários em 16 de março de 1984, situado no município do Rio Grande, sul do estado gaúcho, junto à BR-392 (estrada Rio Grande-Pelotas), entre o Parque Residencial Jardim do Sol e o bairro Parque São Pedro (estrada Rio Grande-Cassino), constitui-se em um dos bairros mais populosos da cidade, contando com uma população em torno de 11 .839 habitantes 1

. Para compreender a gênese do bairro devemos analisar a política habitacional das Companhias Habitacionais - Cohabs (1964)-implantada para atender a demanda por moradia no Brasil.

• Professora de Geografia graduada pela FURG; Mestranda em Geografia pela UFRGS.

1 Dado obtido na Secretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura Municipal do Rio

Grande. Este número corresponde ao Censo oficial realizado em 1991. Estimativa de

crescimento ao ano de 1,5%. Não estavam disponíveis dados mais atuais.

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OCEANOATLÂNTICO

• Parque Marinha

•Outros Bairros

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-FONTE: SALVATORI, et aI., adaptado por Carlos Edmundo Torres. 2001.

2 - POLÍTICA HABIT ACIONAL DO ESTADO: A EXPERIÊNCIA DAS

COHABS

No Brasil, durante o período de governo militar, os governos levaram a cabo uma política desenvolvimentista pautada no crescimento acelerado do país. Grande parte do capital provinha de empréstimos internacionais, através do FMI (Fundo Monetário Internacional), outra parte destes recursos eram obtidos internamente, como por exemplo através da utilização do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

130 Biblos, Rio Grande, 14: 129-139,2002.

Estes montantes foram aplicados em obras de infra-estrutura urbana, tais como: saneamento básico, transporte, pavimentação, usinas hidrelétricas, entre outras. Nesse sentido, o Estado empregou uma política responsável pela remodelagem da arquitetura urbana, apoiando e investindo em empresas públicas e principalmente privadas fornecedoras de equipamentos para obras de infra-estrutura.

Dentro deste contexto, o Estado instituiu o BNH (Banco Nacional de Habitação), que tinha por objetivo redimensionar os investimentos, fomentando principalmente uma política habitacional destinada às camadas populares e à construção de obras para saneamento básico.

Segundo Maricato (1987), o BNH orientou investimentos de apoio aos conjuntos habitacionais, no entanto, parte significativa destas obras estavam desligadas das demandas de moradia e saneamento. Este órgão financiou a realização de grandes obras ligadas a projetos de caráter inter-regional e nacional. O setor mais beneficiado foi o das empresas de construção pesada, no qual figuravam, principalmente, empresas internacionais que forneciam equipamentos às obras de grande porte, ligadas a projetos de pólos econômicos.

Mesmo quando o BNH direcionou recursos financeiros para a construção de conjuntos habitacionais populares, sua proposta não foi bem-sucedida, devido ao baixo poder aquisitivo das camadas populares, agravado pela conjuntura inflacionária. Tais circunstâncias produziram um quadro de alto índice de inadimplência.

O abatimento nos custos da prestação propagandeado pelo BNH devia-se ao uso de material de ~aixa qualidade na construção das moradias, tais como: painéis de gesso, materiais inferiores das aberturas externas, janelas e portas e carpete (forração). Tais expedientes eram combinados a estoques de terras adquiridas em áreas periféricas da cidade, por preços abaixo do mercado.

A princípio tem-se a idéia de que o regime autoritário estava preocupado com a questão habitacional vivenciada pelas classes populares; na verdade as Cohabs (Companhia de Habitação) estavam inseridas na lógica da produção capitalista de moradia. Era auferida no valor das prestações pagas a remuneração destinada à própria Cohabs, à empresa construtora e aos serviços públicos, isto sem mencionar que parte da moradia já era paga pelo trabalhador através da drenagem do FGTS na construção habltacional. Além disso vale a pena ressaltar que a grande maioria dos projetos de moradia deste sistema destinava-se a atender a demanda das classes médias em detrimento dos setores populares. Assim, grande parte das massas trabalhadoras ficaram excluídas da tão sonhada casa própria.

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3 -

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A PRODUÇÃO DE UM ESPAÇO HABIT ACIONAL NA CIDADE DO

RIO GRANDE: O BAIRRO PARQUE MARINHA

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Segundo Salvatori et aI. (1989), o crescimento da cidade do Rio Grande processa-se por dois vetores de expansão: ao longo da estrada dos Carreiros, local de moradia das camadas mais pobres, e da rodovia Rio Grande-Cassino, caracterizada, até a estrada Rio Grande-Pelotas, por terrenos de grandes dimensões, mais valorizados, de ocupação mais lenta e ou estocados por empresas anteriormente à criação do Distrito Industrial. Para as referidas autoras, o Plano Diretor de 1987 visava integrar espacialmente a cidade através da melhoria de serviços urbanos e incentivar a ocupação de terrenos ociosos. Apesar deste objetivo, ainda permanecem espaços vazios, como o terreno da Aliança da Bahia. Outro aspecto a ser destacado diz respeito ao fato de que não

existe no Plano Diretor a preocupação com a cidade

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ile g a l, as áreas ocupadas, principalmente, pela população de baixa renda.

Durante a década de 70, o país vivia a então chamada Segunda Revolução Industrial (Cano 1995). A cidade do Rio Grande também acompanhou este processo, experimentando um relativo crescimento econômico, através de investimentos voltados à modernização e expansão do Setor Portuário - Superporto, construção de um distrito industrial em torno da nova área portuária, instalação de. indústrias químicas e grandes terminais marítimos. Afirma Salvatori et aI., referido-se a esta conjuntura desenvolvimentista na cidade do Rio Grande:

A ampliação da área portuária em grande terminal marítimo ... exigindo

mão-de-obra qualificada. Como conseqüência natural da política dos

distritos industriais, em voga no início dos anos 70, ficou destinada a

área do retroporto par? o distrito industrial ... Foram executadas grandes

obras de iníra-estrutura de terminais graneleiros, de carnes, de

fertilizantes, de petróleo, de indústrias de fertilizantes ... (Salvatori et aI., 1989, p . 48)

Nesse contexto de retomada da urbanização da cidade do Rio Grande, a implantação dos conjuntos habitacionais Cohabs atendiamàs novas demandas geradas pela reestruturação do espaço produtivo. A localização das referidas Cohabs não fugiu à tendência do processo de urbanização de Rio Grande. Assim, os conjuntos habitacionais se espraiam em torno das estradas dos Carreiros e Pelotas-Rio Grande, acompanhando o crescimento da cidade.

De acordo com as expectativas governamentais, o setor produtivo da cidade deveria alcançar novos patamares de crescimento, isto

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graças à reestruturação do setor portuário e atração de indústrias. Atendendo a este projeto, o bairro Parque Marinha seria destinado a suprir e reproduzir a mão-de-obra necessária à incrementação do setor secundário na cidade.

Como a cidade não logrou atingir as metas de crescimento econômico e, ao contrário do que se esperava, teve sua participação no produto interno bruto gaúcho (no que se refere ao setor secundário) reduzido a menos da metade do computado no início da década de 80, o bairro acabou assumindo um perfil diverso daquele projetado (Projeto RS 2010, 1988, p. 60).

Conforme Felippe (1997), aquilo que deveria ser um bairro operário acabou sendo ocupado por alguns trabalhadores do setor secundário, muitos do setor de serviços e comércio, funcionários públicos, autônomos, pequenos comerciantes, militares de baixa patente, subempregados e desempregados (amostragem realizada pela pesquisadora em 1997).

Em relação à construção do bairro Parque Marinha, o Estado exerceu um papel viabilizador, por intermédio da ação da Cohab, adotando, neste caso, medidas comuns a esse processo, por um lado comprando terras mais baratas em áreas rurais (abril de1982), doutro lado transformando-as em terra urbana (dezembro de 1985), revalorizando a área circundante ao bairro e dando seqüência ao crescimento horizontal da cidade.

FIGURA - fachada e planta baixa das casas de um dormitório do bairro

Parque Marinha. As respectivas fachadas e planta foram construídas pela

Empreiteira Gus, Livonius. Obtido junto à Divisão de Arquivo da Secretaria de

Coordenação e Planejamento da Prefeitura do Rio Grande. É interessante

mencionar que não existem os cortes, plantas e fachadas dos demais tipos de

casas que caracterizam este bairro, no caso as moradias de dois e três

dormitórios.

F A C H A D A F R O N T A L

Biblos, Rio Grande, 14: 129·139, 2002.

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Para a construção do referido bairro, o Estado contratou as empresas

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E m p r e it e ir a E n g e n h a r ia e C o n s t r u ç õ e s L y d a G u s L iv o n iu s ,

responsável pela produção dos prédios, e S u lt e p a , que ficou incumbida das obras de infra-estrutura. Essas empresas contrataram cerca de 350 operários ( A g o r a , 24 ago. 1982, p. 3). A referida empreiteira encarregou-se da implantação das instalações internas, portanto fornecendo a compactação do terreno, as tubulações hidráulicas e elétricas, entre outros itens enquanto outras empresas (CEEE, Sultepa e Corsan) ficaram responsáveis pelo fornecimento de serviços e instalações de infra-estrutura do bairro.

As casas são consideradas sem estilo arquitetõnico. Uma característica marcante e perceptível é a homogeneização e a simplicidade das moradias. Na verdade, não havia preocupação em criar ou seguir um estilo arquitetõnico, mas sim em reproduzir em larga escala com o mínimo de custos.

No processo de construção foi utilizado o chamado método de cura térmica, assim referido:

... para evitar o problema de umidade, a firma usa de um processo de

cura térmica, em que se utilizam de uma churrasqueira colocada no

interior da concretagem, cobrindo após com lonas para que o calor se

concentre e não permita a passagem de umidade, o que só é retirado no dia seguinte, na hora da desforma, que ocorre em 24 horas (Agora, 24 ago. 1982, p. 3).

Na produção das moradias, a priorização do fator tempo com vistas a garantir o cumprimento do contrato levou os construtores a adotar medidas inusitadas, para apressar a desforma das casas. Este processo consistia em atear fogo no interior das casas, e para isso os construtores utilizavam-se a queima de material inflamável depositado no interior de tonéis.

O uso de materiais de baixa qualidade, aliado

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à padronização e a diminuição no tempo de construção das casas, não representou

nenhuma intenção em baratear os conjuntos habitacionais (para suprir a demanda por moradia, já que este tipo de moradia estava estruturado em moldes capitalistas, não resolvendo o problema habitacional enfrentado pela classe social trabalhadora.

4 -

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ASSOCIATIVISMO, DEMANDAS E ÓRGÃOS PÚBLICOS

Neste espaço-moradia são experimentadas uma série de práticas por parte da comunidade que vão desde o controle até formas de resistência.

134 Biblos. Rio Grande. 1 4 : 1 2 9 · 1 3 9 . 2 0 0 2 .

Já no início da formação do bairro, no final de 1982, surgiram polêmicas devido a denúncias da existência de práticas clientelistas. Em pleno período eleitoral, parte da oposição no legislativo municipal denunciou que candidatos governistas estavam utilizando as moradias do referido bairro em troca de votos e apoio político para suas candidaturas2

. Desta forma, as necessidades da coletividade se tornam alvo fácil de práticas tradicionais.

Com o surgimento da associação do bairro, em 1984, os moradores passaram a contar com uma entidade capaz de promover a articulação local e a busca do atendimento de demandas coletivas. A Associação dos Moradores do Parque Marinha se autodefine como:

E n t id a d e m á x im a d e r e p r e s e n t a ç ã o , d e f e s a e c o o r d e n a ç ã o d o s m o r a d o r e s d o P a r q u e M a r in h a , r e p r e s e n t a d a e m ju í z o o u p e r a n t e t e r c e ir o s p o r s e u p r e s id e n t e o u r e p r e s e n t a n t e le g a l. Entre os deveres

previstos em seu estatuto destaca-se o de colaborar com os poderes públicos no desenvolvimento do bairro.

Entre as principais reivindicações da Associação feitas junto à prefeitura está a implantação de praças, iluminação, manutenção do sistema de esgotos, policiamento, postos de saúde e locais para prática de esportes. A construção destas áreas de lazer, manutenção dos serviços de água, luz, esgotos e a demanda por novos serviços como posto de saúde são encaminhadas pela associação, que busca suprir os anseios e necessidades da comunidade junto ao poder público.

A associação representa u~ dos principais canais de diálogo entre a comunidade do bairro e o poder público em sua esfera local. Entretanto, tal relação entre a entidade e o poder é marcada pela presença de práticas políticas consideradas tradicionais, com destaque para o clientelismo e assistencialismo. Ao analisarmos as atas de reuniões da associação, percebemos que em troca de atendimento de certas reivindicações da comunidade, ocorre por parte das lideranças da entidade a exaltação das ações praticadas por políticos locais. Estes políticos recebem em troca de suas doações e serviços o apoio da entidade, que costuma destacar e mesmo conceder um lugar especial a seus colaboradores em suas atividades e eventos.

Assim, ocorre que muitas vezes as lideranças comunitárias assumem o papel de clientes à espera da boa vontade de políticos tradicionais. Comprovando o que expomos, podemos citar a ata n.º 5, do dia 17/6/95, demonstrando a gratidão da diretoria para com um político local, ex-vereador, o qual doou 2000 tijolos e 10 sacos de

2A g o r a , 2 6 n o v o 1 9 8 2 . p . 1 .

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cimento para a construção da sede da associação. Além do clientelismo, também encontram acolhida na entidade as práticas consideradas assistencialistas. Neste sentido, destacamos a doação de gêneros alimentícios, como leite, feijão, sacolão (ata n.º 5 de reunião da associação, 1993).

Atualmente a comunidade do bairro vem vivenciando uma crise habitacional que atinge a sociedade brasileira. Na atual conjuntura recessiva, com nuances mais perversas sobre a cidade do Rio Grande que vem sofrendo desde a década de 80 um processo de desindustrialização, a moradia torna-se um bem de difícil acesso para uma população jovem, na sua maioria originária do próprio bairro e adjacências. No bojo desta crise, a comunidade em questão está sendo capaz de gerar movimentos de resistência que principiam a questionar a atual estrutura fundiária urbana e avançam sobre outras questões relacionadas ao direito

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à cidade e à vida. Este é o caso do Movimento de Moradia gestado neste bairro, atualmente constituído por aproximadamente cerca de 100 famílias de ocupantes de terrenos públicos.

É interessante ressaltar que todo este processo ocorreu sem a menor participação da associação do bairro. A entidade, que deveria ser um fórum para a discussão desta tão premente questão, manteve-se silenciosa ou, em alguns momentos, optou por endossar as ações da administração pública.

Claro que a associação desempenha um papel importante, como reivindicar melhorias para a comunidade, tais como ampliação dos horários de transporte público e posto de saúde, reivindicação também de melhorias no saneamento básico, calçamento, iluminação pública, além de promover eventos sociais (pagode, carnaval, bingo). Entretanto, em relação ao problema habitacional evidencia-se um distanciamento das lideranças da associação. Verifica-se, através da análise das atas da associação, que as poucas falas das lideranças sobre as ocupações coadunam-se com as falas do poder público.

Num dos poucos momentos em que foi discutida a questão das ocupações dos terrenos no bairro na associação, ficou claro que o poder público local procurava retomar os terrenos ocupados (ata n." 2 de reunião da associação, 1997).

O vínculo estabelecido entre a associação e o poder público local, através da ação de lideranças locais que se colocam na dependência de políticos tradicionais, acaba gerando uma prática de subserviência das lideranças. Por outro lado, a forma como se desenvolvem estas relações privam a comunidade local de participar e garantir· uma maior

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representatividade.

Devido a esta condição de dependência da entidade em relação ao poder público local, somente projetos aprovados e quase sempre encaminhados pelo poder público para a comunidade do bairro encontram acolhida nesta entidade. A associação encontra-se, assim, privada de uma prática política mais autônoma e ao mesmo tempo mais representativa das demandas locais.

5 -

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no que foi exposto, podemos encaminhar algumas considerações relevantes para a compreensão da gênese do bairrõ, de suas relações com os demais espaços urbanos e com o poder público.

O bairro Parque Marinha, apesar de ter sido projetado para atender a mão-de-obra necessária à incrementação do setor secundário na cidade, acabou desempenhando um outro papel, devido ao fato de a cidade não ter atingido sua expectativa de crescimento econômico. Assim, diferentes camadas populares atuantes nos diversos setores econômicos, muitas das quais desempregadas ou subempregadas, configuram um espaço social que foge ao idealizado pelo poder público.

Ao longo da trajetória do bairro foi consolidada a associação de moradores, entidade representativa da comunidade, a qual servia de intermédio entre a comunidade >-.eo poder público local, buscando satisfazer as necessidades dos agentes locais.

Algumas das práticas mantidas pela associação de caráter assistencialista e a sua utilização por alguns políticos tradicionais, que visam apenas manter-se no poder, acabam enfraquecendo esta forma de mobilização e representação popular que deveria ser um espaço de cidadania construído no cotidiano localmente vivido pela comunidade.

O silêncio da entidade para com a demanda habitacional vivenciada pelos próprios moradores do bairro, e principalmente a falta de solidariedade para com o Movimento pela Moradia, gerada a partir desta tensão, demonstram os limites concretos das práticas comunitárias levadas a cabo pela associação.

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Ata nQ 1 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1993.

Ata nQ2 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1993.

Ata nQ 3 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1993.

Ata nº4 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1993.

Ata nQ5 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1993.

Ata nQ6 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1993.

Ata nQ7 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1993.

Ata nQ 1 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1995.

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Ata nQ 5 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1995.

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Ata nº2 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1997.

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Ata nº5 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1997.

Ata nº 198 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1997.

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Ata nº203 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1998.

Ata nº204 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1998.

Ata nº205 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1998.

Ata nQ206 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1998.

Ata nº207 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1998.

Ata nº208 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1998.

Ata nQ 209 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1998.

Ata nº 210 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1999.

Ata nº211 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1999.

Ata nº210 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1999.

Ata nº211 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1999.

Ata nº212 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1999.

Ata nº213 da Associação de Moradores do Bairro Parque Marinha. 1999.

11- Jornais

A g o r a , Rio Grande, 24 ago. 1982, p. 3." C a s a s P o p u la r e s d o P a r q u e M a r in h a "

A g o r a , Rio Grande, 26 novo de 1982, p. 1. " D is t r ib u iç ã o d e c a s a s g e r a p o lê m ic a n a C â m a r a . "

11I- Documentação referente às COHABS e ao bairro parque marinha obtida junto à

divisão de arquivo de coordenação e planejamento da prefeitura do rio grande.

Referências

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