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Excelentíssimo Senhor Ministro ROBERTO BARROSO, Relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 709

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Academic year: 2021

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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

Excelentíssimo Senhor Ministro ROBERTO BARROSO, Relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 709

O ADVOGADO-GERAL DAUNIÃO, com fundamento no artigo 103, inciso

I, da Constituição Federal, bem como na Lei nº 9.882, de 3 de dezembro de 1999, vem, perante essa Suprema Corte, expor e requerer ao eminente Ministro Relator a apreciação de uma questão de alta indagação surgida nos últimos dias, com potencial de comprometer gravemente a utilidade do presente processo.

A presente arguição foi ajuizada há cerca de um ano pela Articulação dos Povos Indígenas APIB, sob a alegação de descaso com a tutela da saúde dos povos indígenas, que teria se intensificado no curso da pandemia, a ponto de ameaçar a própria subsistência dessas comunidades e de seu modo de vida. A APIB destacou, de maneira especial, que o índice de letalidade da Covid-19 entre povos indígenas seria duas vezes maior do que o encontrado no restante da população, e que os indígenas seriam altamente vulneráveis às infecções respiratórias em geral.

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Concedendo referendo a uma decisão liminar da lavra do Ministro Relator, o Plenário do Supremo Tribunal Federal acolheu as alegações de risco iminente para a saúde indígena, salientando três premissas jurídicas que seriam

(i) os princípios da precaução e da prevenção, no que respeita à proteção à vida e à saúde; (ii) a necessidade de diálogo institucional entre o Judiciário e o Poder Executivo, em matéria de políticas públicas decorrentes da Constituição; e (iii) a imprescindibilidade de diálogo intercultural, em toda questão que envolva os direitos de povos indígenas

Com base nesses pilares, foram determinadas à União diversas providências com o objetivo de garantir aos índios não apenas o seu isolamento territorial, como também um auxílio sanitário apropriado, garantido, entre outros meios, pela aplicação de protocolos de segurança rigorosos.

Entre as medidas já implementadas pela União com o objetivo de cumprir o acórdão desse Supremo Tribunal Federal, destacam-se a consolidação de um Plano de Barreiras Sanitárias, com coordenação do Gabinete de Segurança Institucional, da Presidência da República; a concepção de um Plano Geral de Enfrentamento da Covid-19 para Povos Indígenas, coordenado pelo Ministério da Justiça, em que há previsão de aplicação de rígidos protocolos para ingresso em TI´s; e, mais recentemente, a execução de um Plano de Isolamento de Invasores de terras indígenas.

Apesar dos inúmeros contratempos experimentados na efetivação do direito à saúde indígena, do alto custo financeiro, operacional e humano envolvido na entrega dessas prestações em localidades extremas do território brasileiro, um satisfatório nível de êxito foi atingido.

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As barreiras sanitárias foram efetivamente instaladas, os serviços de assistência médica têm sido garantidos e, o mais importante, a campanha de vacinação da população indígena progrediu de maneira notável1, em parte como

consequência da decisão do Ministério da Saúde de situar esse grupo como prioritário no Plano Nacional de Imunização.

Não obstante toda a energia aplicada pelo Estado brasileiro como um todo na precaução e na prevenção do alastramento da Covid-19 entre povos indígenas, tornou-se notório (Nota Técnica nº 66/2021-SESAI/NUJUR/SESAI/MS, doc. anexo) que a própria APIB, requerente da arguição, tem utilizado diversos róximos dias há indicação de que venha a ser entre 22 e 28 de agosto de 2021 na capital federal.

A mobilização em questão corresponde à campanha #LutaPelaVida, e

agenda anti-indígena , na defesa das terras e dos direitos indígenas.

Há, nos comunicados públicos de chamamento de apoio, a indicação de que os indígenas viriam a Brasília vacinados e providos de equipamentos de proteção individual, elementos que, presumidamente, poderiam garantir a integridade dos adeptos presentes na mobilização.

Não há dúvida alguma, eminente Ministro Relator, que, conforme estabelecido em precedentes dessa Suprema C tanto a liberdade de expressão quanto a participação política em uma Democracia representativa

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somente se fortalecem em um ambiente de total visibilidade e possibilidade de exposição crítica das mais variadas opiniões sobre os governantes

Min. ALEXANDRE DEMORAES, DJe de 06/03/2019).

Sabe-se que a Constituição Federal, em seu artigo 5º, incisos XV e XVI, assegura a "livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo

qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens" e prescreve que "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente".

Elementares como sejam os direitos fundamentais acima mencionados, eles estão tal como os direitos fundamentais em geral sujeitos a contingências de colisão com outros paradigmas da mesma estatura, o que atrai a necessidade de que o seu exercício venha a ser sempre ponderado contextualmente, inclusive, se necessário, com recurso à jurisdição constitucional.

É público e notório que a pandemia causada pela Covid-19 ainda inspira uma atitude geral de precaução, prevenção e cuidado. Isso decorre não apenas de decisão do Plenário desse Supremo Tribunal Federal, como de justificativas técnico-científicas. Há diversos elementos de risco que devem ser considerados na ponderação entre a liberdade de manifestação presencial e a necessidade de preservação da subsistência de uma população que, como a própria APIB reconhece, é epidemiologicamente vulnerável.

No tocante à situação epidemiológica das populações indígenas, o Departamento de Atenção à Saúde Indígena DASI, em Ofício Circular

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encaminhado aos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas e CASAI Nacionais2,

reconheceu a potencialidade da gravidade e infectividade ampliada das novas variantes.

Assim, o DASI também chamou atenção para necessidade de manutenção e/ou reforço de todas as medidas de controle para Covid-19 indicadas pelo Ministério da Saúde nos territórios indígenas, com ênfase nas ações não farmacológicas, tais como: distanciamento social, etiqueta respiratória e de higienização das mãos, uso de máscaras e isolamento de casos suspeitos e confirmados.

Ademais, a Secretaria Especial de Saúde Indígena, por meio do Informe Técnico nº 08/2021 (em anexo) veiculou aos DSEI a diretiva de que os indígenas sejam orientados a evitar todas as viagens não essenciais, em particular para áreas com incidência das novas variantes do SARS-CoV-2 no Brasil.

Desnecessário frisar que a eventual disseminação de contágio nas populações indígenas, em decorrência da manifestação agendada para os dias 22 a 28 de agosto de 2021, pode vir a comprometer gravemente todo o planejamento realizado no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 709, bem como todos os esforços e recursos empregados pela Administração Pública federal no sentido de prevenir e conter os riscos de infecção dos povos tradicionais pela Covid-19.

Ademais, ao retornarem às respectivas comunidades, os indígenas participantes do evento colocarão em situação de vulnerabilidade mais de 756 mil

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pessoas que ocupam mais de 6.000 aldeias em todo o território nacional, incluindo as comunidades indígenas de recente contato.

Destarte, diante das sinceras dúvidas quanto à sustentabilidade sanitária das mobilizações programadas, seria razoável a adoção de providências para se evitar o agravamento de prejuízos à saúde pública e à integridade dos próprios povos indígenas.

Por essa razão, e tendo em vista a manifestação indígena agendada para os dias 22 a 28 de agosto de 2021 no Distrito Federal, o Advogado-Geral da União requer a Vossa Excelência, com toda a deferência de estilo, que delibere sobre a possibilidade de determinar à arguente que adie a manifestação planejada para uma data futura e mais prudente, em um momento de maior segurança epidemiológica.

Subsidiariamente, caso se entenda pela viabilidade da sequência das manifestações agendadas para os dias 22 a 28 de agosto de 2021, pede-se que pelo menos se exija o cumprimento de protocolos rigorosos de circulação dos participantes, com necessidade, inclusive, de observância de quarentena mandatória no retorno às TI´s, com vistas a preservar o êxito até aqui alcançado com as medidas de prevenção, bem como a mitigar a transmissibilidade da doença.

Nessa última hipótese, postula-se que seja solicitado aos organizadores do evento o compartilhamento de informações detalhadas sobre:

(i) o planejamento do evento, número de participantes, etnias e terras indígenas correspondentes e apoio oferecido pela organização do ato;

(ii) implementação de quarentena e demais medidas sanitárias que serão adotadas na chegada e durante a mobilização;

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(iii) como se dará o retorno dos indígenas até as suas Comunidades, inclusive com a identificação dos hotéis que serão utilizados para a quarentena de retorno, bem como sobre a alimentação, testagem e apoio que será garantido pelos organizadores do evento aos possíveis infectados pela Covid-19. Nesses termos, pede deferimento.

Brasília, 20 de agosto de 2021.

BRUNO BIANCO LEAL Advogado-Geral da União

IZABEL VINCHON NOGUEIRA DE ANDRADE Secretária-Geral de Contencioso

Rol de documentos anexos:

1. Nota Técnica nº 66/2021-SESAI/NUJUR/SESAI/MS;

2. Material de Divulgação, Ofício Circular nº

120/2021/COGASI/DASI/SESAI/MS e Informe Técnico nº 08/2021 da Secretaria Especial de Saúde Indígena;

3. Ofício nº 1710/2021/SESAI/GAB/SESAI/MS ao MPF; 4. Ofício nº 438/2021/SESAI/NUJUR/SESAI/MS ao GSI; 5. Nota Técnica nº 718/2021-CGPNI/DEIDT/SVS/MS.

Referências

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