Adriana Koide
Ilustrações de Paulo R. Masserani
Segredos
de criança
Segredos
de criança
Copyright © 2013
Adriana Koide
Projeto Editorial
Magali Berggren Comelato
Projeto Gráfico Paula Leite Ilustrações Paulo R. Masserani Revisão Renata Tavares
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ K85s
Koide, Adriana
Segredos de criança / Adriana Koide ; ilustrações Paulo R. Masserani. - 1. ed. - Americana, SP : Adonis, 2013.
52 p. : il. ; 24 cm. ISBN 978-85-7913-151-6
1. Conto infantojuvenil brasileiro. I. Masserani, Paulo. II. Título. 13-05467 CDD: 028.5
CDU: 087.5
Todos os direitos desta edição reservados à Gráfica e Editora Adonis. Rua do Acetato, 189 - Distrito Industrial Abdo Najar
CEP: 13474-763 - Americana/SP, Tel. (19) 3471.5608
www.editoraadonis.com.br contato@editoraadonis.com.br
“Para a criança adulta que tenho como filho, Para o adulto menino que tenho como esposo, Para a eterna criança que todos trazem consigo.” Para meus avós e bisavós: “Os laços que nos unem são mais fortes e maiores do que os
Sumário
Prefácio ... 07
Sol de verão com aroma de café ... 09
Barulho de chuva ... 13
Definitivamente: o medo não era do lobisomem 17 Um dia de azar ou de sorte? ... 23
Curiosidade x sabedoria ... 27
Segredos e acidentes ... 31
Imaginação ou criatividade? ... 37
Pães e travessuras ... 41
Um sentimento chamado remorso ... 45
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Prefácio
Para início de conversa...
Não preciso fechar os olhos para lembrar perfeita-mente. Vejo tudo com detalhes, como se assistisse a um filme, com outra pessoa no papel principal. Será que esta história realmente é minha? Acredito que parte dela foi vivenciada por mim, mas, assim como os filhos que geramos, as histórias são criadas para o mundo e não para ficar presas a quem as traz à vida.
Penso que é por essa razão que as histórias vêm sendo compartilhadas desde os primórdios da huma-nidade. Elas são divididas para serem multiplicadas. Em casa, na rua, no parque, na escola... Escola! Quer melhor lugar para ouvir histórias? Histórias de números e cálculos, de língua nativa ou estrangeira, de aspectos geográficos, histórias de gente como a gente. Isso mesmo, história de gente que resolveu contar suas histórias e acabou fazendo HISTÓRIA!
Contar sua própria história não é um bicho de sete cabeças, pelo contrário, é muito fácil. Basta apenas se lembrar de algo que lhe traga inspiração e dar asas à imaginação, sem se esquecer dos pormenores, pois são eles que trazem a realidade para os sonhos, e vice--versa. Que tal conhecer um pouco da minha história, para você criar coragem e começar a contar ou escrever a sua? É só abrir o livro! Vamos lá?
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Sol de verão com aroma de café
Apesar de o dia estar com um sol lindo e radiante, o ar estava abafado. As sombras das árvores eram frondosas e convidativas. Brincávamos sorrateiramente embaixo da mangueira do quintal. Como sempre, a Duda estava nos observando de sua varanda, e nós reclamávamos da falta de privacidade.
Por que nos olha tanto? O que será que ela pensa? — Vai ver está com vontade de brincar conosco...
— O filho dela, o Branco, já está ficando “marrom” de sujeira. Em vez de cuidar do moleque ela fica olhando para a gente...
— Não liga para ela e volta para nossa conversa!
E quando a brincadeira estava na melhor parte, ouvimos uma voz vinda lá de casa, interrompendo a diversão:
— Andriana!
Eu não escrevi errado não. Era assim mesmo que a Vó Justina me chamava. Ela tinha mania de colocar N em lugares inusitados.
— Que pena! Acabou a brincadeira...
Guardamos todos os brinquedos no saco, ajeitamos a bagunça e cada uma foi para sua casa.
— Oi, Vó?!
— Andriana, sua avó está lhe chamando. — Qual Vó?
Esqueci de dizer: eu tinha duas avós, a Isabel e a Justina. Na verdade uma era avó e a outra era bisavó,
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mas chamávamos as duas de “Vó”. Era divertido! Quando queríamos confundir as duas era só chamarmos uma e olharmos correndo para a outra: Não é a senhora, é a outra Vó...
— Se não sou eu, só pode ser sua avó Isabel, ora. — Oi, Vó?!
Ela estava sentada na máquina de costura, fazendo uma colcha de retalhos.
— Recolha as roupas do varal, pois vai chover. Descasque os milhos para os porcos e triture os grãos para as galinhas. Depois moa o café, antes de tomar seu banho.
— Sim, senhora...
Pensei comigo: Com esse sol todo? Só se a água da chuva estiver evaporada no sol. Não há uma única nuvem no céu!
Não queria ter obrigações, gostava de ficar brin-cando. Mas fui, reclamando para mim mesma, pois já tinha levado uma bronca do tio Rafa por responder para as avós. Elas estavam velhinhas e não mereciam ouvir desaforos. Mas o que eram desaforos? Achava que era qualquer coisa que eu falasse depois de uma ordem de faça isso, faça aquilo, exceto o “sim, senhora” ou o “é para já”.
Por que nunca me ordenavam: vá brincar o dia inteiro? Às vezes eu pensava que só tinha tantas obrigações porque minha mãe havia falecido.
Filosofando, descasquei e debulhei meio balaio de milho. Era suficiente para aquele dia.
Lavei as mãos, e limpei o moedor de café com um pano seco e limpo. Tirei o café torrado de uma lata com
tampa e coloquei-o com cuidado no moedor. Girei a mani-vela e segundos depois o café saía moído do outro lado. O cheiro era bom, apesar de eu odiar o sabor do café passado. Terminei de moer, fechei a vasilha onde havia caído o pó e deixei-a do lado do fogão, bem próximo de um balde cheio de café em grãos.
— Eca! — pensei comigo.
Meu avô dizia que o grão de café era doce, mas que não devia ser comido. Um dia ele mostrou por quê: abriu um grãozinho vermelho e dois bichinhos iguais ao bicho de goiaba saíram de lá. Fiquei com muito nojo. Minha avó Isabel limpava e torrava o café que havia sido colhido, peneirado e secado no terreirão, e ainda assim eu imagi-nava que o pó preto que saía do moinho nada mais era do que milhões de bichinhos de goiaba torrados e tritu-rados. Até hoje não tomo café! Aprecio o aroma exalado, mas o sabor não me agrada.
Acabei de limpar o moedor e ouvi minha avó dizendo para eu tomar banho logo, antes que a tempestade chegasse e ficássemos sem energia.
Parei um pouco para tomar fôlego, sentei nos degraus da entrada, fechei os olhos e senti a brisa morna em meu rosto. O calor intenso, mas não sufocante, carregado com sua luminosidade que me atingia mesmo de olhos fechados, o cheiro característico de fazenda, o cantar dos pássaros, tudo isso me aguçava os sentidos. A sensação era muito boa.