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PARECER. cumprir o disposto no artigo 71.º/3 do CRP.

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P.º n.º R.P. 156/2011 SJC-CT Objecto do recurso hierárquico. Registo provisório. Recusa parcial. Operações bancárias. Especificidades quanto à natureza e regime do crédito e seus acessórios. Juro remuneratório. Hipoteca voluntária. Requalificação do registo no âmbito do processo de rectificação.

PARECER

1. Pela ap. …, de 2011/05/10 (registo online), foi pedido o registo de hipoteca voluntária sobre o prédio n.º …, freguesia de …, concelho de …, com base em declaração unilateral formalizada por escritura pública pela qual ..., titular definitivamente inscrito, constitui a favor da instituição bancária … hipoteca voluntária para garantia das obrigações assumidas ou a assumir pela sociedade ..., LDA por via do contrato de abertura de crédito em conta corrente até ao limite de 150 000 euros, do juro à taxa nominal anual de 15%, acrescido de 4% em caso de mora e a título de cláusula penal, perfazendo o montante máximo assegurado de 235 500 euros.

2. O registo, qualificado pela Sra. ajudante no uso de competência delegada, foi efectuado como provisório por dúvidas com fundamento nos artigos 559.º-A e 1146.º do Código Civil, considerando-se ter sido ultrapassada a taxa legal permitida.

3. Em 2011/06/08 e após a notificação da aludida provisoriedade por dúvidas1, a Sra. Conservadora, invocando os artigos 16.º e 120.º e seguintes do Código do Registo Predial, e considerando existir erro de qualificação, emite um despacho a determinar a conversão oficiosa do registo, porém, com redução da taxa do juro remuneratório para o limite de 11%, tendo em conta os artigos 559.º-A e 1146.º do Código Civil e que «a taxa de juro anual para o 1.º semestre de 2011 e para as pessoas colectivas é de 8%», recusando a inscrição na parte excedente, ou seja, quanto aos 4% de juro remuneratório estipulados acima do limite legal.

4. Na sequência deste despacho, manualmente exarado no print do comprovativo do pedido (online), é anotada na ficha de registo a dita recusa parcial, com prolação de despacho de qualificação de conteúdo idêntico ao mencionado no ponto anterior, seguindo-se a conversão oficiosa da inscrição, com a redução do juro remuneratório para

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11%, e, em 2011/06/13, a notificação do despacho de recusa, contendo a menção expressa de revogação do despacho anterior, ao apresentante.

5. É por referência à provisoriedade por dúvidas e ao défice de fundamentação do despacho respectivo que vem interposto o presente recurso hierárquico (ap. …, de 2011/06/24), sem deixar, todavia, de se considerar a redução da taxa de juro efectuada (ponto 8. do requerimento), aduzindo-se, em síntese, que não foi atendida a qualidade de instituição de crédito do sujeito activo, nem a natureza bancária da operação de crédito, e que se suscitou, mal, o preceituado no artigo 1146.º do Código Civil, quando era de aplicar o regime que resulta do Decreto-Lei n.º 344/78, de 17 de Novembro, e suas alterações, e do Aviso do Banco de Portugal n.º 3/93, de 20 de Maio.

6. Dada a revogação da provisoriedade por dúvidas, o despacho proferido ao abrigo do disposto no artigo 142.º-A/1 do Código do Registo Predial (CRP) é de sustentação da recusa parcial da inscrição quanto ao juro excedente de 4%, porém, diante da argumentação expendida pela recorrente, o fundamento da recusa é agora deslocado para a divergência que se vê existir entre o juro remuneratório fixado no contrato de abertura de crédito (7,583%) e o juro remuneratório garantido pela hipoteca voluntária (15%), daí se extraindo a usura a que se refere o artigo 1146.º do Código Civil (CC).

Questão prévia

1. Começamos por notar que as vicissitudes deste pedido de registo nada têm de comum com o desenho procedimental traçado no Código do Registo Predial, e que nem o tempo, nem o modo de interferência no acto de qualificação repercutem a previsão de quaisquer normas, sejam as que se referem à impugnação das decisões (artigos 140.º e seguintes do CRP), sejam a que regulam o âmbito material e os termos da rectificação do registo (artigos 120.º e seguintes do CRP).

1.1. É que, para além da possibilidade de reparação ou de sustentação prevista no artigo 142.º-A/1 do CRP, não vemos a que outra disposição legal se pode ancorar a apreciação, por parte do delegante, da decisão de recusa da prática do acto de registo nos termos requeridos, ou a que iniciativa legalmente conferida se pode apegar uma revogação

avulsa do acto de qualificação, quando se sabe que, fora do esquema da impugnação

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em que afectem a validade ou a exactidão do registo, este, sim, passível de ser integrado no quadro de valores negativos a que se referem os artigos 16.º e 18.º do CRP.

1.2. Na verdade, se o decisor se resolve por um registo provisório ou por uma recusa e, em conformidade, profere despacho que notifica ao interessado, esgotar-se-á por aí o seu poder de apreciação do caso concreto (pedido de registo), e é ao interessado que compete suscitar o erro de apreciação através dos meios impugnatórios ao seu dispor;

1.3. Mas se em vez da recusa ou da provisoriedade, o registo é feito como definitivo e é nesta forma (registo definitivo) que radica a ilegalidade da decisão, só o valor negativo do próprio registo executado (artigos 16.º ou 18.º do CRP) poderá ser atacado, devendo operar então as regras de legitimidade e de iniciativa e os meios processuais reclamados pelo vício registal em causa, atento o disposto nos artigos 17.º e 121.º do CRP.

2. Por isso se compreende mal, no caso dos autos, a iniciativa de revogação da decisão de provisoriedade por dúvidas a coberto da rectificação do registo regulada nos artigos 120.º e seguintes do CRP, posto que este processo se destina a corrigir erros ou inexactidões do registo e não o erro na apreciação do pedido; mesmo quando o vício do registo resulta de erro na qualificação, é aquele que se corrige ou elimina, por via judicial ou por meios intra-sistemáticos, não esta que se modifica (através de um retrocesso

processual, tendente a apagar da ficha de registo o resultado da qualificação efectuada, e

de uma nova apreciação do mérito do pedido).

2.1. Ao que tudo indica, a rectificação levada a cabo foi tratada como um caso de dispensa de consentimento dos interessados, provavelmente no pressuposto de que a recusa parcial, fundada nas mesmas deficiências que ditaram a provisoriedade por dúvidas da inscrição, seria até mais vantajosa para o interessado, dado ficar desde logo assegurada a inscrição definitiva quanto a parte do montante máximo coberto pela hipoteca voluntária.

2.2. Daí ter sido imediatamente cumprida aquela decisão de rectificação, antes de decorrido o prazo para impugnar a provisoriedade por dúvidas, sem averbar a pendência de rectificação e sem aguardar a notificação do despacho ou o prazo de impugnação a que alude o artigo 131.º do CRP, criando-se, assim, nas tábuas e no processo de registo, o enredo em tabela.

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objecto de impugnação, nos termos dos artigos 140.º do CRP, sob pena de falhar a destrinça entre o que é competência exclusiva dos tribunais (processo de rectificação) e o que, de acordo com a vontade do interessado, pode ser objecto de apreciação hierárquica (processo de registo)2.

2.4. Já vimos que o recurso é imediatamente dirigido à decisão de efectuar o registo como provisório por dúvidas, mas a fundamentação alinhada não deixa de se opor às mesmas razões aduzidas no despacho de recusa parcial, estando suficientemente patenteado no requerimento respectivo que nenhuma das qualificações (provisoriedade por dúvidas ou recusa parcial) serve à recorrente e o que se pretende é apenas a feitura do registo como definitivo cobrindo o juro remuneratório de 15% declarado na escritura pública de constituição de hipoteca.

2.5. Uma vez que falha competência à entidade ad quem para dar sem efeito a decisão tomada no processo de rectificação; porque à recorrente interessa fundamentalmente que o registo se faça nos termos requeridos; porque o recurso foi interposto após a notificação da recusa parcial e nele se faz referência à redução de juros efectuada após a requalificação, e posto que é realmente de um único pedido de registo, de um só facto jurídico e da aplicação das mesmas regras de direito que se trata, não custa aqui seguir um princípio de plenitude da tutela impugnatória e de economia processual, e identificar o objecto da impugnação com a qualificação minguante do registo a pretexto da usura do juro remuneratório fixado.

***

É, pois, com esta delimitação do objecto do recurso que passamos a emitir parecer.

Apreciação do mérito

1. Dado que o único problema de fundo suscitado nos autos se prende com o montante do juro remuneratório coberto pela garantia real (hipoteca voluntária), importa, antes de mais, compulsar os termos da escritura pública na parte que se refere ao fundamento da hipoteca voluntária e aos acessórios do crédito.

1.1. Declara-se, na mencionada escritura pública, que a hipoteca é constituída para garantia do pagamento da quantia de 150 000 euros que … (instituição bancária) empresta à sociedade …, Lda., através de abertura de crédito em conta corrente, à taxa

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de juro de 7,583%, nos termos e condições fixados em contrato celebrado por documento particular na mesma data, e do juro à taxa nominal anual de 15%, pelo período de três anos, acrescidos de 4% a título de cláusula penal, sendo o montante máximo assegurado de 235 500 euros;

1.2. O que permite concluir que estamos diante de uma hipoteca (constituída por terceiro) destinada a garantir o reembolso de uma quantidade de dinheiro que uma instituição bancária disponibiliza ao seu cliente (sociedade comercial), podendo este

sacar diversas vezes sobre o crédito, solvendo as parcelas de que não necessite, numa

conta corrente3, e que, portanto, o fundamento desta hipoteca radica numa operação

bancária nominada (artigo 362.º do Código Comercial) e legalmente atípica, porém, sujeita às regras específicas constantes do Decreto-Lei n.º 344/78, de 17 de Novembro, com as alterações introduzidas pelo Lei n.º 83/96, de 6 de Maio, e pelo Decreto-Lei n.º 204/87, de 16 de Maio;

1.3. Sendo que, relativamente a juros remuneratórios, continuamos a ver aplicado, de modo generalizado, o Aviso do Banco de Portugal 3/93, de 20 de Maio, determinando que “são livremente estabelecidas pelas instituições de crédito e sociedades financeiras as taxas de juro das suas operações, salvo nos casos em que sejam fixadas por diploma legal”4.

1.3.1. Do que se extrai, portanto, uma liberalização praticamente integral da taxa de

juro bancária5 e, de harmonia com o princípio da liberdade contratual, a possibilidade de

variabilidade da taxa de juro remuneratório e de fixação de um limite máximo deste acessório do crédito para efeitos de garantia, valendo quanto ao juro moratório a regra fixada no artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 344/78, que não permite exceder a sobretaxa de 2% em caso de mora, ou quatro pontos percentuais acima da taxa de juro remuneratório, quando as partes estipulem uma cláusula penal moratória.

1.5. Donde, em face da natureza do credor (instituição bancária) e da qualidade da obrigação garantida (abertura de crédito em conta corrente) cabe distinguir as operações bancárias das operações comerciais em geral6, bem como os juros bancários dos juros comerciais e dos juros civis;

3

Assim, Menezes Cordeiro, Manual de Direito Bancário, 4.ª edição, 2010, p. 641.

4

Cfr., entre outros, o Acórdão do STJ de 27/05/2003 (processo 03A1017).

5

Entre outros, Menezes Cordeiro, Manual…, cit., p. 635, e Menezes Leitão, Direito das Obrigações III, 4.ª edição, pp. 416/417.

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1.6. E cabe, também, a distinção entre juros remuneratórios e juros moratórios ou indemnizatórios, porquanto se sabe que estes se prendem com a mora ou o incumprimento da obrigação e aqueles representam o rendimento de uma obrigação de

capital ou a compensação que o obrigado deve pela utilização temporária de certo capital7.

2. Ora o que se verifica no título trazido a registo é que a hipoteca é constituída para garantia da obrigação decorrente do contrato de abertura de crédito em conta corrente; que o juro compensatório fica coberto pela hipoteca voluntária até ao montante máximo de 15% (TAN)8; e que a cláusula penal não excede os 4% legalmente admitidos;

2.1. Pelo que a recusa parcial da inscrição quanto ao juro remuneratório na parte que excede a taxa de 8% fixada no Aviso n.º 2284/2011, de 2011/01/03 (emitido pela Direcção-Geral do Tesouro e Finanças em conformidade com a Portaria n.º597/2005, de 19 de Julho), acrescida de 4% (artigo 1146.º do CC) acaba por ser o resultado de uma amálgama de regimes9, quando o entendimento dominante na doutrina e na jurisprudência aponta para a mencionada liberalização do juro bancário e para a supervisão e controlo a cargo do Banco de Portugal.

2.2. E nem a divergência, intempestivamente aduzida no despacho de sustentação, que se diz existir entre o juro de 7,583% contratado e o juro de 15% por que se constitui a hipoteca voluntária é, para nós, motivo de qualificação minguante, posto ter de se admitir o acordo sobre a variabilidade dos juros10, ponto é que, para efeitos de garantia e segundo o princípio da especialidade, se declare o juro máximo que a hipoteca pode garantir11.

7

Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, vol. I, 10.ª edição, p. 870.

8

De acordo com o Decreto-Lei n.º 133/2009, de 2 de Junho, que visa a protecção do consumidor no crédito ao consumo e de cujo âmbito se exclui a operação bancária em apreço, a taxa anual nominal corresponde à taxa de juro expressa numa percentagem fixa ou variável aplicada numa base anual ao montante do crédito utilizado.

Será esclarecedora a necessidade de se introduzir neste diploma a proibição de juros elevados, sob pena de usura, parecendo que nela se inscreve precisamente um regime de excepção (à liberalização dos juros), atentos os interesses em causa.

9

Não é, no entanto, inédita a interpretação, como se comprova a partir do artigo de Carlos Gabriel da Silva Loureiro, Usura nas Operações de Crédito, Revista de Estudos Politécnicos, 2007, vol. V, n.º 8, disponível na Internet.

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Salienta-se a remissão feita na escritura pública para as “demais condições contratuais”, permitindo alvitrar a referida variabilidade da taxa de juro.

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Pelo exposto, propomos a procedência do recurso e firmamos as seguintes

CONCLUSÕES

I – O crédito bancário dispõe de regras específicas que afastam o regime previsto nos artigos 559.º-A e 1146.º do Código Civil, para os juros civis, e no artigo 102.º do Código Comercial, para os juros comerciais, e que, salvo disposição legal em contrário, permitem às instituições bancárias fixar livremente as taxas de juro das suas operações.

II – O princípio da especialidade demanda que no registo figure a taxa de juro remuneratório garantida pela hipoteca (artigo 96.º do Código do Registo Predial), a qual pode corresponder ao limite máximo do juro variável convencionado pelas partes, de harmonia com o princípio geral da autonomia privada e dentro dos condicionalismos legalmente previstos.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 14 de Dezembro de 2011. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, António Manuel Fernandes Lopes, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, João Guimarães Gomes de Bastos, José Ascenso Nunes da Maia.

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FICHA – P.º R.P. 156/2011 SJC-CT

SÚMULA DAS QUESTÕES TRATADAS

 Requalificação do registo no âmbito do processo de rectificação – sentido e alcance

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