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BULLYING: UMA AGRESSÃO PARA TODA A VIDA

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Academic year: 2021

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BULLYING: UMA AGRESSÃO PARA TODA A VIDA

Luis Gustavo ESSE1

RESUMO: Este artigo aborda sobre o bullying e sua influência negativa na sociedade, cuja qual o direito se vê na necessidade de saná-la, através de medidas que visam ou não a punição do agressor. Atualmente o conceito de bullying vem sendo restrito ao âmbito escolar, porém a sociedade não deve se esquecer que a pratica de bullying ocorre também outros setores da sociedade, devendo lutar contra esta prática, para que ela seja combatida com mesmo esforço que vem sendo feito com o combate ao racismo.

Palavras-chave: Bullying. Dignidade da Pessoa Humana. Exclusão Social. Violência nas Escolas. Danos Morais.

1 INTRODUÇÃO

Não há dúvidas de que o bullying é um ato que pode desencadear uma serie de outros males em função de sua prática, e é por esse motivo que o Direito deve se preocupar com esta atitude, que pode causar danos tanto na esfera física, quanto psicológica de um individuo. Se esta atitude agride a pessoa humana, logo esta conduta não está de acordo com os Direitos Humanos, por pregar a intolerância e o desrespeito, ferindo assim condutas elementares para que todos possam viver bem em uma sociedade.

A definição mais clara de bullying mais fortemente difundida nos dias atuais prevê que pode ser considerado como bullying, todos os atos de violência física ou psicológica, intencionais e praticados de forma repetida, contra um individuo, normalmente incapaz de se defender contra os atos em relação ao seu agressor. Vale ressaltar que o bullying pode ser praticado por mais de um agressor simultaneamente contra a mesma vítima, impossibilitando ainda mais a defesa da vítima. Desta forma, temos diversas agressões contra um dos direitos primordiais de qualquer individuo, o direito a liberdade, que está sendo privado da vitima pelo seu agressor. Não apenas o direito à liberdade está sendo ferido com o bullying, mas sim

1 Discente do 1º ano do curso de Direito das Faculdades Integradas “Antonio Eufrásio de Toledo” de

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sua dignidade, sua moral, que resultam em um ataque direto a sua autoconfiança, tornando este individuo, que foi vitima do bullying, um ser rancoroso, inseguro, que pode resultar no desenvolvimento de um quadro depressivo ou fobia social no individuo. Quando o bullying chega ao ponto de causar transtornos psicológicos em um individuo, é necessário recorrer à ajuda médica especializada para controlar esses males, para evitar que o grau se agrave e faça com que o individuo atente contra sua vida ou contra a vida de outras pessoas ao seu redor.

É importante ressaltar que a vítima de bullying, tende a se tornar o agressor de amanhã, da mesma forma que o agressor pode se tornar a vítima do futuro. Esta conduta, apesar de parecer já estar enraizada em nosso cotidiano, pode ser notada facilmente e refletida, desde ato simples até atos de grande relevância, que pode ou não deixar marcas no individuo, depende dos danos que irá causar na vítima. Desta forma podemos considerar que toda atitude responsável por humilhar um individuo, em um círculo social, dificultando sua inclusão e o respeito pelos demais membros deste grupo, e que isto cause danos à vítima, pode ser considerado bullying.

Logo, se baseando nesses princípios o trote universitário, de caráter violento, é considerado um bullying. A sociedade brasileira ainda não possui um conceito certo formado sobre o bullying, o que acaba induzindo muitos ao erro, ao pensar que esta atitude é apenas praticada por adolescentes em ambiente escolar. O bullying pode ocorrer em qualquer local, bastando apenas que um indivíduo tenha uma diferença em relação aos demais, e que esta diferença possa ser utilizada pelo agressor, para atingi-lo. No caso do trote universitário de caráter violento, as vítimas são os calouros e os agressores são os veteranos, o que deixa bem claro que as vitimas deste trote, muitas delas, serão os agressores de amanhã, deixando bem nítido o sentimento de vingança do calouro de ontem ao praticar o trote violento no calouro de amanhã, quando ele for veterano.

Seja qual for à esfera da sociedade em que o bullying é praticado, ele deve ser combatido, afinal ele agride o individuo de tal forma que as conseqüências poderão ser sentidas pelo resto da vida, causando a este um dano irreparável a sua pessoa, o que possibilitará alimentar, sentimentos que apenas auxiliarão pra proliferação desta conduta. Neste caso combater o bullying é muito mais que preservar a dignidade da pessoa humana, mas preservar vidas e promover o bem estar social, para que todos possam viver em harmonia, fazendo valer o primeiro

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artigo, da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Todos os seres humanos

nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.

2 O BULLYING E O DIREITO

Em sociedades de países desenvolvidos, o conceito social sobre o que vem ser o bullying e suas conseqüências, vem sendo discutido desde meados da década de 80, e a sociedade, junto com o poder público, vem buscando medidas para sanar este mal que tanto prejudica a sociedade, seja qual for à cultura. O país que mais se mostra preocupado em buscar soluções para esta prática, são os Estados Unidos da América, porém isto não quer dizer que a prática do bullying esteja restrita apenas a este país, muito pelo contrário, hoje todos os países que apresentam forte processo de globalização apresentam o bullying em seu cotidiano. Olhando sobre um ângulo mais superficial, o bullying e as atitudes racistas parecem ter muitas semelhanças, afinal se em um você tem a discriminação contra determinado grupo étnico, no outro, você tem discriminação com todo aquele que tenha alguma diferença, não necessariamente racial, mas muitas vezes física ou psicológica. Sob este ângulo podemos analisar que ambos são formas de racismo, porém um é reconhecido como uma atitude criminosa na legislação e o outro não, porém isto vem mudando, com o surgimento dos primeiros atos jurídicos anti-bullying, mas parece que o bullying não vem reduzindo, mas sim se apresentando como uma espécie de mal do começo do século XXI.

Porém o bullying que mais chama atenção das autoridades no mundo inteiro é o bullying escolar. Recentemente notícias chocam a sociedade, pela barbaridade dos crimes cometidos, quase sempre por alunos que chegam armados nas escolas e matam colegas e funcionários. Crimes desta natureza, em que um estudante se dirige ao local onde estuda, matam colegas e funcionários e depois põem fim a própria vida, vem se tornando comuns em diversas partes do mundo, como uma conseqüência notável de que o bullying agride a auto-estima da pessoa, prejudicando diretamente seu estado emocional que tende a buscar uma solução para os problemas. Baseando-se nesses princípios o Bullying, assim como a

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pedofilia, permite traçar um perfil comum do agressor e das modalidades de bullying existentes, que apontam que o agressor, costuma ser autoritário e pratica o bullying para dominar determinada pessoa e intimidá-la ou faz uso desta prática porque foi vitima desta anteriormente e mantém vivo seu desejo de vingança.

2.1 O BULLYING NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Os prejuízos causados pelo bullying já são bem conhecidos pela sociedade norte-americana, afinal, os Estados Unidos da América, foi um dos primeiros países do mundo a prestar maior atenção nesta prática que causavam transtornos fortes nas vitimas, pelo fato destes transtornos abalarem diretamente a auto-estima do individuo. A legislação federal americana ainda não tomou um parecer quanto ao bullying, se este deve ser considerado crime ou não, porém três estados americanos (Washington, Massachusetts e Florida) já consideram como crime esta conduta. No caso da Florida, é considerado bullying somente se a atitude ocorrer envolvendo adolescentes em uma instituição escolar, caso os autores ou o local do ocorrido seja outro, este é considerado assédio moral. Nos outros dois estados americanos, o conceito de bullying ainda se encontra muito preso ao âmbito escolar, porém apresentam legislações mais claras sobre o assunto, mas ainda pouco preocupadas com as outras formas de bullying como: o bullying nas instituições militares, na internet, no local de trabalho, na política e na vizinhança; isto nos faz acreditar que não é somente no Brasil, mas ainda em muitos legisladores do mundo todo, o conceito de bullying ainda está em formação.

2.2 O BULLYING NO BRASIL

No Brasil, até poucos anos atrás, era desconhecido pela sociedade brasileira, o bullying e seus efeitos. A prática do bullying no Brasil vem de tempos, mas durante muitos anos foi tratada como algo normal, típico da natureza humana, assim como outros tipos de crime, que passaram a chamar atenção da sociedade

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nos últimos anos. É em função deste longo período em que o Brasil tratou o bullying como uma atitude normal, não buscando verificar seus efeitos na sociedade, fez com que o bullying não fosse considerado crime em nosso país, porém costuma ser punido conforme o resultado final que ocorreu através desta conduta.

Assim como nos Estados Unidos da América, no Brasil também não há um conceito único e formal sobre o bullying e se este deve ser considerado ou não crime. Algumas atitudes individuais, como a realizada pelo Estado de Santa Catarina, prevê o combate ao bullying com atividades interdisciplinares nas escolas públicas e privada e cria um conceito pioneiro do que vem ser o bullying, com a Lei estadual nº. 14.651/2009, em seus art. 2º e 3º, que pode ser lido na íntegra abaixo:

Art. 2º O bullying pode ser evidenciado através de atitudes de intimidação, humilhação e discriminação, entre as quais:

I - insultos pessoais; II - apelidos pejorativos; III - ataques físicos;

IV - grafitagens depreciativas;

V - expressões ameaçadoras e preconceituosas; VI - isolamento social;

VII - ameaças; e VIII - pilhérias.

Art. 3º O bullying pode ser classificado de acordo com as ações praticadas:

I - verbal: apelidar, xingar, insultar;

II - moral: difamar, disseminar rumores, caluniar; III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar;

IV - psicológico: ignorar, excluir, perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, tiranizar, chantagear e manipular;

V - material: destroçar, estragar, furtar, roubar os pertences; VI - físico: empurrar, socar, chutar, beliscar, bater; e

VII - virtual: divulgar imagens, criar comunidades, enviar mensagens, invadir a privacidade.

Além do pioneirismo catarinense, a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados aprovou, no dia 10 de março de 2010, um projeto de lei que traz a obrigatoriedade de as escolas públicas e privadas adotarem medidas de prevenção e de combate ao bullying. O projeto prevê que, de forma não muito diferente do que previsto pelo Estado de Santa Catarina, que o bullying consiste na prática de atos de violência física ou psíquica de modo intencional e repetitivo, exercida por um indivíduo ou por grupos de indivíduos, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de constranger, intimidar, agredir,

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causar dor, angústia ou humilhação na vítima, porém como no caso norte-americano, o legislativo brasileiro, ainda se encontra preso quanto ao bullying escolar, esquecendo das demais modalidades de bullying, dentre elas o cyberbullying, que vem crescendo fortemente nos últimos anos, graças a proliferação do acesso à internet, mas que as conseqüências, como qualquer crime virtual, é no mundo real. Atualmente o cyberbullying vem preocupando as autoridades, principalmente as que visam o combate ao bullying, pois muitos estão utilizando-se da Internet para realizar essas práticas e como sempre estas são muito freqüentes no âmbito escolar, as principais vitimas do cyberbullying atualmente são os professores ou os alunos que esses consideram como exemplo.

3 CONCLUSÃO

O Brasil vem dando passos largos quanto à defesa da integridade das vítimas de bullying. Esta necessidade de defesa que o estado brasileiro adotou a poucos anos, já vem apresentando resultados que impressionam a sociedade e que diz aos legisladores brasileiros, de que os tempos mudaram e é preciso se adaptar aos novos tempos. Recentemente, um juiz no Estado de Minas Gerais, condenou a família do agressor a indenizar a vitima de bullying, numa quantia de oito mil reais, a decisão, como era de se esperar, foi polêmica, mas o juiz a fundamentou como danos morais, e entregou a responsabilidade de indenização aos pais, pelo fato do agressor ser menor de idade.

São esses pequenos avanços na estrutura legal brasileira, que enchem de esperança milhares de brasileiros que foram ou são vitimas de bullying e que sonham com um ambiente social menos hostil, para que ele possa dar o melhor de si e ser alguém mais produtivo na escola ou local de trabalho. Mas somente quem viveu ou presenciou a prática de bullying com indignação, sabe que ainda se tem muito a ser feito, mas se alegra ao saber que as autoridades estão prestando atenção naquilo que a poucos anos atrás era visto como normal, e foi este “normal”, eu foi responsável pela morte de milhares de pessoas, da dependência química de muitas pessoas, pessoas estas que apenas desejavam ser aceitas pelos demais.

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O bullying poderia ser tranquilamente considerado uma modalidade expandida do racismo, pois no caso do bullying não temos um individuo sendo discriminado pelo seu grupo étnico necessariamente, mas sim pela diferença que possui, seja qual diferença for. Porém no Brasil, enquanto o bullying não for considerado crime, muitas de suas práticas irão competir à esfera civil, diferentemente do que ocorre em alguns estados americanos, porém a maioridade penal brasileira inviabiliza considerar o bullying como crime, pois aos dezoito anos, a maioria dos estudantes brasileiros já concluiu ou estão concluindo o terceiro ano do ensino médio em educação regular. Sendo assim, os condenados por bullying seriam condenados por ato inflacionário, o que a população certamente não deseja.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ESTADO DE SANTA CATARINA. Lei nº. 14.651, de 12 de janeiro de 2009. Dispõe sobre a instituição do Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária nas escolas públicas e privadas do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 2009.

CABRAL. Bruno Fontenele. A prática de “bullying” no Direito brasileiro e norte-americano. Disponível em: http://www.inclusive.org.br/?p=16534, acesso em 21 de Julho de 2010.

G1. Juiz de MG condena estudante a indenizar colega por bullying. Juiz de MG condena estudante a indenizar colega por bullying. Pais de adolescente terão de pagar R$ 8 mil. Cabe recurso da decisão de primeira instância. Disponível em: http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2010/05/juiz-de-mg-condena-estudante-indenizar-colega-por-bullying.html, acessado em: 22 de Julho de 2010 – publicado em: 19 de Maio de 2010.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de Dezembro de 1948. Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, 1948.

VIEIRA SEGUNDO. Luiz Carlos Furquim. Trote Universitário: O bullying nas universidades. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/noticias/2107078/trote-universitario-o-bullying-nas-universidades-luiz-carlos-furquim-vieira-segundo, acesso em 22 de Julho de 2010.

WIKIPÉDIA. Bullying. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bullying, acesso em: 21 de Julho de 2010.

Referências

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