• Nenhum resultado encontrado

LIXO NA PRAIA DE ITAPUÃ (SALVADOR-BAHIA): ESTUDO COMPARATIVO ENTRE FINAIS DE SEMANA E DIAS ÚTEIS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "LIXO NA PRAIA DE ITAPUÃ (SALVADOR-BAHIA): ESTUDO COMPARATIVO ENTRE FINAIS DE SEMANA E DIAS ÚTEIS"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

LIXO NA PRAIA DE ITAPUÃ (SALVADOR-BAHIA): ESTUDO COMPARATIVO ENTRE FINAIS DE SEMANA E DIAS ÚTEIS

Walter Ramos Pinto Cerqueira

Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas, Museu de Zoologia, Divisão de Invertebrados Aquáticos. Avenida Transnordestina, s/n°. Feira de Santana, BA. CEP: 44.031-460.

INTRODUÇÃO:

A poluição litorânea certamente é um dos principais problemas que afetam a biodiversidade dos ecossistemas costeiros e dentre as fontes de poluição podemos destacar o lixo produzido por banhistas nas praias. Segundo Morosine et al. (1999) “Destaca-se dentre as causas que contribui para a queda da qualidade ambiental da zona litorânea, o mal hábito dos banhistas descartarem o lixo nas areias e nos recurso hídricos litorâneos, comprometendo a qualidade sanitária e em especial a beleza cênica da paisagem”.

A praia de Itapuã, localizada na cidade de Salvador, Bahia, é uma das mais frequentadas pela população baiana e também por turistas, em função do bairro de Itapuã ficar conhecido internacionalmente através de diversas composições de Dorival Caymmi. Segundo Gama et al. (2011) “Nas últimas décadas, o bairro de Itapoã vem sofrendo uma grande explosão demográfica, passando de 23.782 habitantes, em 1980, para 88.600 habitantes, em 2000, com um incremento de 372,6%, segundo dados do IBGE, representando um aumento muito superior ao da cidade como um todo, que, neste mesmo período, cresceu cerca de 162%”. Além deste crescimento observado por Gama e colaboradores para os moradores do local, soma-se a isso a presença de turistas que se hospedam em diversos hotéis e pousadas do bairro e que frequentam a praia de Itapuã.

A frequência de banhistas nas praias não é homogênea ao longo da semana. Independente de altas ou baixas estações o número de pessoas nas praias sempre é maior nos finais de semana quando comparado aos dias úteis. Com base nesta premissa podemos levantar a hipótese de que a quantidade de lixo descartada nas praias nos finais de semana é maior do que nos dias úteis. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo comparar a abundância e composição do lixo descartado nas areias da praia de Itapuã nos finais de semana e nos dias úteis.

(2)

MATERIAL E MÉTODOS:

Os trabalhos de campo foram realizados durante o mês de setembro de 2015. Foram traçados 5 perfis perpendiculares à linha da maré, com distância de 20 metros entre cada perfil, entre 6 e 7 horas da manhã (antes da realização da limpeza das praias pela prefeitura) nos domingos (para avaliar o lixo produzido no sábado), segundas-feiras (para avaliar o lixo produzido no domingo) e nas quartas-feiras (para avaliar o lixo produzido nas terças-feiras, um dia útil onde normalmente poucos banhistas vão à praia). A observação do lixo foi feita caminhando ao longo de cada transecto, observando um metro a direita e um metro a esquerda ao longo da caminhada, sendo todo o lixo observado fotografado, anotado e quantificado os dados anotados em prancheta. O lixo foi classificado de acordo com o Anexo H da NBR 10004:2004 da ABNT. Os valores médios do lixo quantificado em cada dia foram submetidos ao teste de ANOVA para constatar se houve diferença estatística significativa entre a abundância do lixo observado nos finais de semana e nos dias úteis.

RESULTADOS:

Foram encontrados os seguintes resíduos na praia de Itapuã: restos de alimentos (A001), sucata de materiais ferrosos (A004), sucata de materiais não ferrosos (A005), resíduo de papel e papelão (A006), resíduos de plástico polimerizado (A007), resíduos de borracha (A008), resíduos de madeira (A009), resíduos de materiais têxteis (A010), resíduos de minerais não metálicos (A011) e bagaço de cana (A024). Os resíduos mais abundantes foram sacos plásticos, pratos de plástico e isopor, restos de comida diversos, latas de cerveja e de refrigerante, cocos e canudos (Figura 01). A abundância média total do lixo observado nas manhãs de domingo foi de 520 itens, nas manhãs de segunda 580 itens e nas manhãs de quarta-feira 230 itens. O teste de ANOVA mostrou não haver diferença estatística significativa entre a abundância total do lixo observado nas manhãs de domingo e segunda, no entanto houve diferença estatística significativa (p < 0,05) ao se comparar a abundância do lixo destes dias com os de quarta-feira nas quatro semanas de observação (Figura 2).

(3)

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Figura 01: Abundância média dos principais resíduos

sólidos na Praia de Itapuã observada ao longo do estudo

0 50 100 150 200 250

Semana 1 Semana 2 Semana 3 Semana 4

Figura 02: Abundância média dos resíduos sólidos na Praia

de Itapuã observada nos dias de coleta. As letras "a" e "b"

não diferiram significativamente. A letra "c" diferiu

estatisticamente de "a" e de "b" com p < 0,05

Domingo Segunda Quarta a a a a b b b b c c c c

(4)

DISCUSSÃO

O lixo nas praias é um problema global, pois além do lixo produzido in loco, muitos resíduos orgânicos sólidos podem ser lançados em um local e ser levados pelas corretes para outros bem distantes. Um exemplo disso consiste no fato de muitas embalagens estrangeiras já terem sido encontradas em praias da Bahia, como relatado no estudo realizado por Santos (2005) que encontrou várias embalagens estrangeiras entre Imbassaí e Praia do Forte na Costa dos Coqueiros na Bahia. No presente estudo realizado na Praia de Itapuã não encontramos nenhuma embalagem estrangeira, sendo as garrafas pet, sacos plásticos e latas de cerveja e refrigerante de marcas comercializadas em Salvador, indicando que o lixo encontrado nesta praia é realmente oriundo dos banhistas que frequentam a praia. Os tipos de resíduos sólidos encontrados na praia de Itapuã pertencem às mesmas categorias de lixo observadas em outras praias do nordeste brasileiro a exemplo da praia da Boa Viagem no Recife em Pernambuco (Silva et al. 2008) e das praias da Ponta Negra, Areia Preta, Artistas e do Meio em Natal, Rio Grande do Norte (Araújo et al. 2011). Tal similaridade é explicada em função destes resíduos sólidos serem consumidos em grandes quantidades por banhistas, tais como água mineral vendidas em garrafas pet, alimentos servidos em pratos e copos descartáveis, cervejas e refrigerantes vendidos em latas, cascas de cocos cuja água é consumida, canudos de plástico para beber a água de coco e refrigerantes, restos de alimentos orgânicos como bagaço de cana, pedaços de carne de boi e frango, frutas, restos de acarajé e outros alimentos que são consumidos etc.

De acordo com os dados publicados por Silva et al. (2009) a maioria dos frequentadores da praia de Itapuã pertencem à classe C, sendo pessoas de baixa renda. Gama et al (2011) identificaram que a população que frequenta a praia de Itapuã situa-se na faixa etária entre 18 e 40 anos e que são moradores da própria capital ou região metropolitana. Com relação ao nível de escolaridade, Gama et al (op. cit.) constataram que 22% dos 163 entrevistados em seu trabalho possuem ensino superior completo, 8% superior incompleto e 43% ensino médio completo. De acordo com os dados publicados por estes autores observamos que os frequentadores da praia de Itapuã possuem uma educação escolar bastante

(5)

razoável, então, o que levaria estas pessoas à ter a falta de educação ambiental para descartar o lixo produzido em suas visitas à praia direto na areia? Será que falta o ensino de educação ambiental nas escolas de ensino fundamental e médio de Salvador? Caso os conteúdos de educação ambiental sejam trabalhados, será que isto está sendo feito de forma correta? O que levaria uma pessoa de nível superior a descartar o lixo produzido na areia? Falta de educação ambiental ou falta de estrutura da praia de Itapuã para o descarte adequado do lixo?

Ainda de acordo com o trabalho publicado por Gama e colaboradores apesar dos usuários serem os principais responsáveis pela sujeira das praias, os mesmos se incomodam com a praia suja. No entanto, na percepção da maioria dos entrevistados, a maior preocupação reside na transmissão de doenças e aspectos estéticos da praia, sendo os impactos sobre a biodiversidade relevados a segundo plano segundo os autores que realizaram este estudo.

Observamos algumas lixeiras para coleta de lixo na praia de Itapuã ao longo do nosso trabalho, mas as mesmas estavam sempre cheias de lixo e a sua quantidade (observamos apenas seis) e distância destas lixeiras, associadas à falta de conscientização de boa parcela dos banhistas certamente são variáveis que contribuem para a poluição da praia.

CONCLUSÕES:

O impacto ambiental existente na praia de Itapuã com relação à produção e descarte errado de lixo nos finais de semana é muito mais intenso do que nos dias úteis, apesar de nestes dias a praia também sofrer com a poluição. É fundamental a adoção de campanhas socioeducativas por parte dos governantes para acabar com este problema.

Os dados que obtivemos com esta pesquisa servem justamente para nortear campanhas que venham a ser desenvolvidas pelo governo e/ ou organizações não governamentais, as quais devem ser desenvolvidas nos finais de semana para atingir a maior parte da população que visita a praia de Itapuã.

(6)

REFERÊNCIAS

A.B.N. T. ABNT NBR 10004:2004. Resíduos sólidos – classificação. 71 pp. 2004 ARAÚJO M. C. B.; Sarah, M. S.; Rufener, M. C.; Aires, C. F.; Santiago, A. S. lixo em praias de natal (RN): identificação e análise das principais fontes. XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011

GAMA, M. A.; NASCIMENTO, D. E. S.; RIBEIRO C. L.; RIBEIRO, R. F.; FAZOLATO, C. P.; SANTANA NETO, S. P.; SILVA, I. R. Percepção dos usuários sobre lixo costeiro na praia de Itapoã, Salvador, Bahia. XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011

MOROSINE, M.F.M; AQUINO, M. T. B; ESPÍNOLA, A. L. Q. Lixo nas praias, um problema ambiental. Congresso de Engenharia Ambiental, 20. p 3845-3849. 2009. SANTOS, I.R. Praia local, lixo global. Revista O Conteiner, p. 32-33, 2005

SILVA, J.S; BARBOSA, S, C; COSTA, M. F. Flag Items as a Tool for Monitoring Solid Wastes from Users on Urban Beaches. Journal of Coastal Research: Volume 24, Issue 4: pp. 890 – 898. 2008

SILVA, I. R.; SOUZA FILHO, J. R.; BARBOSA, M.; REBOUÇAS, F.; MACHADO, R. S. Diagnóstico Ambiental e Avaliação da Capacidade de Suporte das Praias do Bairro de Itapoã, Salvador, Bahia. Revista Sociedade e Natureza, 21 (1): 71-84. 2009.

Referências

Documentos relacionados

Todavia, há poucos trabalhos sobre interferência de herbicidas no crescimento da cultura; portanto, visando avaliar os efeitos de amicarbazone e diuron + paraquat, estes foram

cada amostra, obtidos na deteção de S. pneumoniae por PCR em tempo real, assim como o respetivo resultado qualitativo obtido em cultura. Cada ponto representado nos gráficos 3-1

Appendix 1 – Water Supply, Wastewater Management and Municipal Waste systems. Source: ERSAR

Ainda considerando a procedência dessas crianças, notou-se também que aquelas oriundas de instituição pública e com diagnóstico nutricional de obesidade ou sobrepeso

No Power BI as tabelas são independentes uma da outra, o que significa que uma conexão deve ser criada para que a interface seja interativa entre todas as tabelas de dados.. Para

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem

A mãe do Roberto, antes de sair – tem sempre alguma coisa para fazer, o seu curso de Italiano, a inauguração de uma exposição, um encontro no clube de ténis –, faz- -lhe

118.. Não foi nossa pretensão, em nenhum momento deste estudo, esgotar as possibilidades de análise. Também não objetivamos buscar a generalização ou certeza